Segunda, 18 de maio de 2020

(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4)

6ª Semana da Páscoa.

“E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo” Jo 15,27.

“Testemunhar é trair-se. Há em nós muitos sinais que revelam a todos, inclusive a nós mesmos, quem somos e por que somos assim. Pensemos nas impressões digitais, no DNA, nos olhos e, agora, em nossa forma de andar. Mas também nas formas de falar, no sotaque e até nas expressões que uma pessoa usa. Exemplo disso é a palavra cartucho, que no sul do Rio Grande do Sul significa uma flor, o lírio. Por tudo isso é muito fácil uma pessoa trair-se. Pergunta-se, pois: O cristão, ele também se trai? Através das suas palavras e atos é possível revelar a sua fé? Ora, Jesus, até sem falar, revela pelo seu aspecto que decisivamente ia para Jerusalém. Como, então, seria possível um cristão não revelar que está junto com Jesus, o Cristo, caminhando com a cruz? É uma impossibilidade lógica, mas é uma possibilidade real. E é uma possibilidade pessoal. Quantas e quantas vezes deixamos de falar e de agir em situações que exigiam a nossa atitude? Agimos como se o mal fosse banal (usando aqui uma expressão de Hannah Arendt ao definir os crimes do nazismo). De fato, o mal é banal por causa do nosso pecado de origem. E é, com certeza, por isso que mascaramos tão bem a nossa fé. Talvez até a sufoquemos. Mas não é isso que Jesus quer. Ele quer uma fé ativa, mexeriqueira, que não para quieta, porque o Espírito da Verdade testemunha de Cristo e nós testemunhamos dele porque estamos com Ele. Não nos quer como espiões que entram quietos e saem calados. Ele nos quer testemunhas. Ele não deseja que traiamos a nossa fé, mas que nos traiamos por causa da nossa fé. – Senhor, pedimos a tua misericórdia infinita para o fato de nem sempre estarmos prontos a testemunhar a nossa fé. Muitas vezes ficamos calados e, assim, calamos o teu Espírito em nós. Concede, Senhor, que a fé se torne concreta em atos e palavras e, se possível for, até mesmo em pensamentos. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São João I, papa e mártir. Nascido na Toscana, João sucedeu o papa Hormisda a 15 de agosto de 523. Quando o filho de Constâncio se tornou papa, há apenas cinco anos Hormisda e o imperador Justino, tio de Justiniano, tinham feito cessar o cisma entre Roma e Constantinopla, estourado em 884 pelo Henoticon do imperador Zenão, que havia tentado um impossível compromisso entre católicos e monofisitas (Monofisismo é o ponto de vista cristológico que defende que, depois da união do divino e do humano na encarnação histórica, Jesus Cristo, como encarnação do Filho ou Verbo de Deus, teria apenas uma única "natureza", a divina, e não uma síntese de ambas). Como a jogada obtivera também interessantes resultados políticos e os godos eram arianos (por extensão, a designação "arianos" -não o termo "árias"- passou a referir-se a vários povos originários das estepes da Ásia Central - os Indo-europeus - que se espalharam pela Europa e pelas regiões já referidas, a partir do final do neolítico. O nome ariano vem do sânscrito arya, que significa nobre), lá pelo fim de 524, Justino publicou um edito com o qual ordenava o fechamento das igrejas arianas de Constantinopla e a exclusão dos hereges de toda função civil e militar. Teodorico então obrigou o papa João I a ir a Constantinopla para solicitar do imperador a revogação do decreto: as manifestações de atenção foram excepcionais: 15.000 saíram-lhe ao encontro com círios e cruzes e o papa presidiu as solenes funções do Natal e da Páscoa. Justino aderiu ao pedido de restituir aos arianos as igrejas confiscadas, mas insistiu na privação dos direitos dos arianos convertidos ao catolicismo que novamente se tornassem arianos. Foi o suficiente para o suspeito Teodorico mandar matar Boécio e Símaco. Lançado na prisão em Ravena, o papa João I ali morreu aos dezoito de maio de 526.

Pe. João Bosco Vieira Leite