(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4)
6ª Semana da Páscoa.
“E vós também dareis
testemunho, porque estais comigo desde o começo” Jo 15,27.
“Testemunhar é
trair-se. Há em nós muitos sinais que revelam a todos, inclusive a nós mesmos,
quem somos e por que somos assim. Pensemos nas impressões digitais, no DNA, nos
olhos e, agora, em nossa forma de andar. Mas também nas formas de falar, no
sotaque e até nas expressões que uma pessoa usa. Exemplo disso é a palavra
cartucho, que no sul do Rio Grande do Sul significa uma flor, o lírio. Por tudo
isso é muito fácil uma pessoa trair-se. Pergunta-se, pois: O cristão, ele
também se trai? Através das suas palavras e atos é possível revelar a sua fé?
Ora, Jesus, até sem falar, revela pelo seu aspecto que decisivamente ia para
Jerusalém. Como, então, seria possível um cristão não revelar que está junto
com Jesus, o Cristo, caminhando com a cruz? É uma impossibilidade lógica, mas é
uma possibilidade real. E é uma possibilidade pessoal. Quantas e quantas vezes
deixamos de falar e de agir em situações que exigiam a nossa atitude? Agimos
como se o mal fosse banal (usando aqui uma expressão de Hannah Arendt ao definir
os crimes do nazismo). De fato, o mal é banal por causa do nosso pecado de
origem. E é, com certeza, por isso que mascaramos tão bem a nossa fé. Talvez
até a sufoquemos. Mas não é isso que Jesus quer. Ele quer uma fé ativa,
mexeriqueira, que não para quieta, porque o Espírito da Verdade testemunha de
Cristo e nós testemunhamos dele porque estamos com Ele. Não nos quer como
espiões que entram quietos e saem calados. Ele nos quer testemunhas. Ele não
deseja que traiamos a nossa fé, mas que nos traiamos por causa da nossa fé.
– Senhor, pedimos a tua misericórdia infinita para o fato de nem sempre
estarmos prontos a testemunhar a nossa fé. Muitas vezes ficamos calados e,
assim, calamos o teu Espírito em nós. Concede, Senhor, que a fé se torne
concreta em atos e palavras e, se possível for, até mesmo em pensamentos. Amém” (Martinho
Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).
Santo do Dia:
São João I, papa e mártir. Nascido na
Toscana, João sucedeu o papa Hormisda a 15 de agosto de 523. Quando o filho de
Constâncio se tornou papa, há apenas cinco anos Hormisda e o imperador Justino,
tio de Justiniano, tinham feito cessar o cisma entre Roma e Constantinopla,
estourado em 884 pelo Henoticon do imperador Zenão, que havia tentado um
impossível compromisso entre católicos e monofisitas (Monofisismo é o ponto de vista cristológico que defende que, depois da
união do divino e do humano na encarnação histórica, Jesus Cristo, como
encarnação do Filho ou Verbo de Deus, teria apenas uma única
"natureza", a divina, e não uma síntese de ambas). Como a jogada
obtivera também interessantes resultados políticos e os godos eram arianos (por
extensão, a designação "arianos" -não o termo
"árias"- passou a referir-se a vários povos originários das estepes
da Ásia Central - os Indo-europeus - que se espalharam pela Europa e pelas
regiões já referidas, a partir do final do neolítico. O nome ariano vem
do sânscrito arya, que significa nobre), lá pelo fim
de 524, Justino publicou um edito com o qual ordenava o fechamento das igrejas
arianas de Constantinopla e a
exclusão dos hereges de toda função civil e militar. Teodorico então obrigou o
papa João I a ir a Constantinopla para solicitar do imperador a revogação do
decreto: as manifestações de atenção foram excepcionais: 15.000 saíram-lhe ao
encontro com círios e cruzes e o papa presidiu as solenes funções do Natal e da
Páscoa. Justino aderiu ao pedido de restituir aos arianos as igrejas
confiscadas, mas insistiu na privação dos direitos dos arianos convertidos ao
catolicismo que novamente se tornassem arianos. Foi o suficiente para o
suspeito Teodorico mandar matar Boécio e Símaco. Lançado na prisão em Ravena, o
papa João I ali morreu aos dezoito de maio de 526.
Pe. João Bosco Vieira Leite