Sexta, 01 de março de 2024

(Gn 37,3-4.12-13.17-28; Sl 104[105]; Mt 21,33-43.45-46) 2ª Semana da Quaresma.

“Disseram entre si: ‘Aí vem o sonhador!’” Gn 37,19.

“A seção conclusiva do Livro do Gênesis (caps. 37-50) narra os acontecimentos da descendência de Jacó (cf. Gn 37,2). Embora não possa ser esquecido o papel de Judá, do qual provém a tribo destinada à realeza, um lugar de primeira importância está reservado a José e à sua sabedoria. Nas várias tradições ele aparece como o homem que interpreta os sonhos, graças ao poder divino (cf. Gn 40,8; 41,16.38), mas também o homem hábil no governo do Egito, e que vive com as peripécias dos seus irmãos (cf. Gn 42,9; 44,5-15). [Compreender a Palavra:] O texto narra a história de José, filho de Jacó e da sua esposa preferida Raquel, quando os irmãos invejosos do seu papel na família e dos seus sonhos procuram eliminá-lo. Ruben faz de modo que José não seja morto, para poder mandá-lo para junto do pai, mas não pode impedir que os irmãos o vendam a uns mercadores de passagem. Estes, por sua vez, levam-no para o Egito. José, tornado pela sua sabedoria colaborador estreito do faraó do Egito, em vez de se vingar, será aquele que abastecerá de alimentos os seus irmãos durante uma terrível carestia. A narração inteira põe em evidência a ação de Deus, o qual guia invisivelmente os acontecimentos humanos e sujeita aos Seus desígnios inclusive os projetos malvados dos homens. José é conduzido para o Egito pela Providência divina para se tornar instrumento de salvação da sua família e do seu povo” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 29 de fevereiro de 2024

(Jr 17,5-10; Sl 01; Lc 16,19-31) 2ª Semana da Quaresma.

“Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico” Lc 16,20.

“O excesso de riqueza faz o coração humano tornar-se insensível ao sofrimento alheio. O pecado, neste caso, consiste em não se dar conta de que existem outras pessoas cuja sobrevivência depende de um gesto generoso e solidário. Jesus buscou abrir o coração dos discípulos para a sensibilidade e a misericórdia. A parábola do homem rico, sem misericórdia, sublinha o destino reservado a quem vive em função de desfrutar os bens deste mundo. Naquela mesa farta, havia lugar apenas para o rico e seus convidados. A preocupação de apresentar-se com roupas luxuosas desviava sua atenção do pobre que jazia à sua porta. Entre o homem rico e o pobre Lázaro, havia pessoas encarregadas de mantê-los devidamente separados. Por isso, o pobre não podia nem mesmo comer o refugo da mesa do rico. Todavia, essa situação se inverteu na hora da morte. O prazer do rico tornou-se sofrimento, e o sofrimento do pobre consolação. A tranquilidade do rico converteu-se em tribulação, e a tribulação do pobre, em felicidade. A segurança do rico mudou-se em desespero, e a insegurança do pobre, em salvação. Os discípulos de Jesus devem precaver-se contra a tendência de fechar os olhos para quem jaz na sarjeta do mundo, fazendo-se solidários com os Lázaros sentados à sua porta. – Senhor Jesus, cria em mim um coração sensível, capaz de fazer-se solidário com quem jaz à minha porta, esmolando um pouco de amor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de fevereiro de 2024

(Jr 18,18-20; Sl 30[31]; Mt 20,17-28) 2ª Semana da Quaresma.

“disseram eles: ‘Vinde para conspirarmos juntos contra Jeremias; um sacerdote não deixará morrer a lei;

nem um sábio, o conselho; nem um profeta, a palavra” Mt 20,18a.

“Este livro profético contém algumas seções conhecidas por ‘confissões de Jeremias’ (cf. Jr 11,18-23; 12,1-6; 15,10.15-20, etc.), uma espécie de reflexão sobre a vocação do profeta, amiúde amarga pelas contradições e o custo que o chamamento de Deus comporta. A passagem biográfica seguinte está perfeitamente em linha com a pregação de Jeremias: o profeta, agitado no seu íntimo pelas manobras urdidas pelos inimigos por causa da palavra anunciada, dirige-se a Deus. [Compreender a Palavra:] Na página profética da liturgia de hoje opõem-se as contradições que sacodem o espírito de Jeremias. Ele encarna a figura do justo perseguido que recebe o ‘mal’ em troca do ‘bem’ feito (v. 20). A sua pregação é rejeitada, inclusive os inimigos pensam poder dispensar a sua palavra, iludindo-se conhecer a todo o momento a vontade de Deus através das funções dos sacerdotes, dos sábios e dos profetas. Perante os inimigos que lhe tecem armadilhas fatais (vv. 8b.20) e o perseguem pelas próprias palavras, Jeremias invoca a proteção do Senhor. Recorda a Deus o tempo em que intercedia por quantos agora são seus inimigos e não hesita em invocar um castigo pelas más ações, urdidas contra ele: ‘Não deixes impune a injustiça, nem tires da tua lembrança os seus pecados’ (Cf. Jr 18,23)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de fevereiro de 2024

 (Is 1,10.16-20; Sl 49[50]; Mt 23,1-12) 2ª Semana da Quaresma.

“Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é o vosso Guia, Cristo” Mt 23,10.

“No Evangelho da missa de hoje, o Senhor descreve na sua crua realidade como os escribas e os fariseus ‘se sentaram na cátedra de Moisés’ e, preocupados somente consigo próprio, abandonaram os que lhes haviam sido confiados, as pessoas simples que andavam ‘maltratadas e abatidas como ovelhas sem pastor’ (Mt 9,36). Só lhes interessavam os primeiros lugares nos banquetes, os seus filactérios e as suas franjas, os cumprimentos nas praças e que os chamassem de mestres (cf. Mt 23,1-12). Haviam sido constituídos como ‘sal e luz’ do povo de Israel, e tinham deixado o povo sem sal e sem luz. Eles próprios estavam às escuras. Tinham trocado a glória de Deus pela sua própria glória: ‘Fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens’. A soberba pessoal e a busca da vanglória tinham feito com que perdessem a humildade e o espírito de serviço que caracteriza os que desejam seguir o Senhor. Cristo previne os discípulos: ‘Vós, porém, não vos façais chamar mestres... O maior dentre vós seja vosso servo’ (cf. Mt 23,8-11). E Ele mesmo mostrou constantemente o caminho: ‘Pois quem é o maior: aquele que está sentado à mesa ou aquele que serve? Não é aquele que está sentado à mesa? No entanto, eu estou no meio de vós como aquele que serve’ (Lc 22,27). Sem humildade e espírito de serviço, não é possível viver a caridade. Sem humildade, não há santidade, pois Jesus não quer ao seu serviço amigo de peito inchado: ‘Os instrumentos de Deus são sempre humildes’ (São João Crisóstomo). Na ação apostólica e nos pequenos serviços que prestamos aos outros, não há lugar nem motivo algum para a autocomplacência ou para a altanaria, pois quem verdadeiramente faz as coisas é o Senhor. Sem a graça, de nada serviriam os maiores esforços: ‘Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ senão sob a ação do Espírito Santo’ (1Cor 12,13). Somente a graça pode potenciar os nossos talentos e levar-nos a realizar obras que estão claramente acima das nossas possibilidades. E Deus ‘resiste aos soberbos e dá sua graça aos humildes’ (Tg 4,6). Devemos estar vigilantes, porque a pior ambição é a de procurarmos a nossa excelência, como fizeram os escribas e os fariseus; a de nos procuramos a nós mesmos nas coisas que fazemos ou projetamos. ‘Arremete (a soberba) por todos os flancos, e o seu vencedor encontra-a em tudo que o circunda’ (Cassiano). Se não formos humildes, podemos desgraçar a vida dos que nos rodeiam, porque a soberba infecciona tudo. Onde há um soberbo, tudo acaba por ser vítima da sua autossuficiência: a família, os amigos, o lugar de trabalho... O soberbo exigirá que o tratem com atenções especiais, porque se julga diferente, e será necessário tomar muito cuidado para evitar ferir a sua suscetibilidade... a sua atitude dogmática nas conversas, as suas intervenções irônicas – não interessa que os outros fiquem mal, desde que ele fique bem –, a sua tendência para cortar conversas que surgiram naturalmente etc., são manifestações de algo mais profundo: um grande egoísmo que se apodera das pessoas quando situam o horizonte da vida em si mesmas. Estes momentos de oração podem servir-nos para examinar na presença do Senhor como é nosso relacionamento com os outros e se está repleto de um humilde espírito de serviço” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 6 – Quadrante).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de fevereiro de 2024

(Dn 9,4-10; Sl 78[79]; Lc 6,36-38) 2ª Semana da Quaresma.

“Porque, com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos” Lc 6,38b.

“Naturalmente, todos tendemos a ter duas medidas: uma para nós e nossos atos, outra que aplicamos aos outros e, se com nós mesmos somos folgados, condescendentes e hábeis em encontrar explicações ou justificação, toda a benevolência que temos ao julgar nossas ações convertemo-la em severidade, ao julgar as ações dos outros. A misericórdia é necessária para julgar. Cada um julga segundo a medida de seu coração, critica conforme enxerga. Assim, ao julgar, somos julgados; ao condenar, somos condenados. Perdoar cristãmente significa esquecer o agravo recebido e não tê-lo mais presente para nada. Deus nos perdoa, se perdoamos; procuremos, pois, cuidar de nossa salvação e perdoar misericordiosamente. Todo aquele que ocupar alto posto na sociedade, tem que pensar que o importante não é brilhar, mas servir amando, ou se preferir: amar servindo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo da Quaresma – Ano B

(Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 115[116B]; Rm 8,31-34; Mc 9,2-10)

1. Um dia, num monte, identificado como Tabor pela tradição, a realidade divina de Jesus, escondida em sua humanidade, foi como que liberada, e Jesus aparece, ao externo, aquilo que na realidade Ele é: a luz do mundo. Nessa atmosfera de paz e felicidade, vem em Pedro o desejo de permanecer.

2. Mas tudo é interrompido ou clarificado por uma voz que revela quem é Jesus e nos manda escutá-lo. Com esta palavra, Deus dá à humanidade Jesus Cristo como seu único e definitivo Mestre. Se esse ‘escutai-o’ tem o peso da autoridade divina, mais ainda tem o de Seu amor pela humanidade.

3. Escutar Jesus, de fato não é só dever e obediência, mas é graça, privilégio, dom. Ele é a verdade: seguindo-o, não podemos enganar-nos; é amor: não busca outra coisa senão a nossa felicidade. É sobre essa escuta, que hoje, novamente, vamos refletir.

4. Somos cientes que estamos inclusos nesse mandamento e automaticamente nos perguntamos: Onde fala Jesus hoje, para podermos escutá-lo?

5. Jesus nos fala, antes de tudo, através da nossa consciência. Nos fala quando ela nos reprova alguma coisa de mal que fizemos ou mesmo quando nos encoraja ao bem que devemos fazer. Ele nos fala por seu Espírito. A consciência faz ecoar a voz de Deus em nós.

6. Mas ela só não basta. É fácil fazê-la dizer o que nos agrada escutar. Ela pode ser deformada ou mesmo calada pelo nosso egoísmo. Ela precisa ser iluminada e sustentada pelo Evangelho e pelo ensinamento da Igreja.

7. O Evangelho é o lugar por excelência que Jesus nos fala hoje. Muitos já fizeram essa experiência em sua vida. Mesmo tomados por tantas distrações, em momentos de crise, a palavra do Evangelho é a única que está à altura do nosso problema e tem algo a nos dizer. Todas as outras palavras soam vazias e nos deixam sós, presos aos nossos problemas. 

8. Graças ao seu Evangelho, Jesus fala e é escutado, muitas vezes até por quem não é seu discípulo. A dinâmica da ‘não-violência’ adotada por Gandhi foi inspirada nas Bem-aventuranças, revela ele mesmo em sua correspondência a Tolstoy, o escritor russo. O próprio Engels, revolucionário alemão, reconhece no Evangelho a fonte inspiradora de alguns dos princípios mais validos da sua doutrina social.

9. Essas situações são exceções. O lugar ordinário da fala de Jesus é a própria Igreja, através da sua tradição e do magistério dos sucessores dos apóstolos. A Igreja nos assegura a autêntica interpretação do Evangelho, por isso devemos buscar conhecer a sua doutrina, em primeira mão e não pela interpretação que faz os meios de comunicação, por vezes distorcida e redutiva.

10. É falando dessa atitude de escuta que é preciso lembrar também onde Ele não nos fala: através de magos, adivinhos, cartomantes, horóscopos, mensagens extraterrestes, mesas espíritas e ocultismo. O Antigo Testamento sempre nos lembra que Deus abomina tais práticas pagãs (Dt 18,10-12).

11. Escutar verdadeiramente a Jesus significa direcionar, pela fé, a quem devemos escutar. Há um só mediador entre Deus e o ser humano. Em Cristo encontramos todas as respostas. Quando diminui a verdadeira fé, aumenta a superstição.

12. Em muitos, particularmente nos jovens, se cria uma espécie de mentalidade de que o sucesso na vida não depende do esforço, da aplicação no estudo e constância no trabalho, mas de fatores externos, imponderáveis; a ponto de buscar certos poderes em vantagem própria. E o pior é quando induz a pensar que para o bem ou para o mal, a responsabilidade não é nossa, mas das estrelas...

13. Devemos estar atentos a esse campo de revelações privadas, mensagens celestes, aparições e vozes de várias naturezas. Não estou dizendo que Jesus ou a Virgem não possam falar através desses meios. O fizeram no passado e podem fazê-lo ainda hoje. Mas é preciso estar atentos àqueles que falam a partir de certas fantasias ou que especulam sobre a boa fé do povo. É preciso buscar garantias, particularmente o parecer da própria Igreja.

14. São João da Cruz nos diz que, em Jesus, Deus já disse tudo. Quem pede novas revelações ou respostas O ofende, como se ainda não tivesse explicado claramente. Escutá-lo é ler o Evangelho. Desçamos também nós do nosso pequeno Tabor, levando no coração esse convite que Deus nos faz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”   

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 24 de fevereiro de 2024

 

(Dt 26,16-19; Sl 118[119]; Mt 5,43-48) 1ª Semana da Quaresma.

“E o Senhor te escolheu, hoje, para que sejas para ele um povo particular, como te prometeu,

a fim de observares à sua voz” Dt 26,18.

“O final do capítulo 26 do Deuteronômio constitui a conclusão do segundo discurso de Moisés, que tinha começado em Dt 5,1, depois de nos últimos versículos do capítulo 4 ter sido traçado o contexto histórico-geográfico em que ia ser colocado. Neste longo discurso são lembrados muitos dos prodígios que JHWH realizou em favor do seu Povo e proclamadas as numerosíssimas normas que determinam o caráter especial de Israel, enquanto povo pertencente ao Senhor. [Compreender a Palavra:] Para compreender a leitura de hoje é necessário coloca-la no seu contexto. De fato, estes versículos seguem-se a um pequeno texto de enormíssima importância: os versículos 5 a 9 do capítulo 26 do Livro do Deuteronômio. São poucas linhas que contêm a profissão de fé pronunciada pelo israelita piedoso na altura que oferecia as primícias das colheitas ao Senhor. A importância deste ‘credo’ é de tal ordem que muitos estudiosos veem precisamente nessas palavras o núcleo original e fundamental do inteiro Livro do Deuteronômio. Aquilo que preceda a leitura de hoje é por conseguinte uma proclamação e uma contemplação de tudo que JHWH fez em favor do seu Povo. Ele fez de um homem, velho e sem filhos, o fundador de uma grande nação e interveio depois com poder para libertar essa multidão de hebreus da opressão dos egípcios e dar-lhes uma terra maravilhosa. Este é o ponto de partida. Todas as leis e normas que depois JHWH dá ao seu Povo marcam a linha principal para que os israelitas possam continuar a viver nessa liberdade que o Senhor lhes ofereceu. Não se trata de um código opressivo, mas da indicação de um caminho a seguir. Se Israel for fiel, continuará a fazer experiência da grandeza e da força do seu Deus, compreenderá cada vez mais o que significa ser Sua propriedade, ser um povo eleito, escolhido para uma relação absolutamente particular com Deus. Isto dar-lhe-á glória, renome e esplendor diante de todos os povos (cf. v. 19). É importante sublinhar a pedagogia de Deus: não pede nada ao seu Povo antes de ter feito maravilhas em favor dele, antes de lhe ter feito experimentar a Sua bondade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

    

Sexta, 23 de fevereiro de 2024

(Ez 18,21-28; Sl 129[130]; Mt 5,20-26) 1ª Semana da Quaresma.

“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus,

vós não entrareis no Reino dos Céus” Mt 5,20.

“A vida cristã comporta uma forte dose de originalidade. Não que os cristãos sejam chamados a fazer coisas extravagantes, diferentes do que se exige das demais pessoas. Já os primeiros discípulos de Jesus foram convidados a ter um estilo de vida superior àqueles dos fariseus. Que tipo de superioridade é esta? Os evangelhos referem-se, de maneira negativa, a uma ala do farisaísmo, em que os indivíduos eram exibidos e exagerados, agindo sempre para serem vistos e louvados por seus concidadãos. Cuidavam da aparência, sem se preocupar com a autenticidade de seu agir. É o que chamamos de hipocrisia! O caminho da superioridade cristã consistia na compreensão, cada vez mais exigente, da vontade de Deus expressa no Decálogo. Por exemplo, o mandamento da Lei de Deus ensinava a não matar. Numa visão superficial, bastaria não tirar a vida física do outro para que alguém se considerasse em dia com o mandamento. Jesus, porém, entreviu outras maneiras de matar o próximo. A irritação contra alguém e o chama-lo de imbecil ou louco são formas de desrespeito ao mandamento. Dito de outro modo: o outro não tem vez na minha vida; de certo modo, está morto para mim. A versão cristã do mandamento exige a busca constante de reconciliação. Este é o pré-requisito da relação com Deus. - Senhor Jesus, mostra-me o caminho da fidelidade à tua vontade, para que eu tenha perspectivas novas de viver o amor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 22 de fevereiro de 2024

(1Pd 5,1-4; Sl 22[23]; Mt 16,13-19) Cátedra de São Pedro.

“Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo que tu ligares na terra será ligado nos céus;

tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” Mt 16,19.

“O Senhor disse a Simão Pedro: ‘Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos’ (Lc 22,32). O termo ‘cátedra’ significa materialmente a cadeira em que se sentam os mestres, neste caso os bispos. Mas já os Santos Padres utilizavam a expressão como símbolo da autoridade dos bispos, especialmente da Sede de Pedro, isto é, de Roma. São Cipriano, no século III, dizia: ‘Confere-se o primado a Pedro para mostrar que a Igreja de Cristo é uma e uma a Cátedra’, quer dizer, magistério e o governo. E para sublinhar ainda mais a unidade, acrescentava: ‘Deus é uno, uno é o Senhor, uma é a Igreja e uma a Cátedra fundada por Cristo’ (São Cipriano). Como símbolo de que Pedro tinha estabelecido a sua sede em Roma, o povo romano tinha grande apreço por uma verdadeira cadeira de madeira onde, conforme uma tradição imemorial, o Príncipe dos Apóstolos se tinha sentado. São Dâmaso, no século IV, mandou coloca-la no batistério do Vaticano, construído por ele. Durante muitos séculos esteve bem visível e foi venerada pelos peregrinos de toda cristandade que iam a Roma. Quando se construiu a atual Basílica de São Pedro, achou-se conveniente guarda-la como relíquia. Hoje, pode se ver no fundo da ábside, como imagem principal, a chamada ‘glória de Bernini’, um grande relicário onde se conserva a cadeira do Apóstolo coberta de bronze e ouro; sobre ela, o Espírito Santo irradia sua assistência. Entre as festas que se encontram no calendário anterior ao século IV, as primeiras da Igreja, conta-se a de hoje, com o título ‘Natale Petri de Cathedra’, ou seja, o dia da instituição do Pontificado de Pedro. Com esta festa, quis-se realçar o episcopado do Príncipe dos Apóstolos, o seu poder hierárquico e o seu magistério na urbe de Roma e em todo o orbe. Se bem que fosse um costume antigo comemorar a sagração dos bispos e o dia da tomada de posse nas respectivas dioceses, essas comemorações realizavam-se somente na própria diocese. Somente à de Pedro foi dado o nome de ‘Cátedra’, e foi a única que se celebrou, desde os primeiros séculos, em toda a cristandade. Santo Agostinho, num sermão para a festa deste dia, comenta: ‘A festividade que hoje celebramos recebeu dos nossos antepassados o nome de ‘Cátedra’, com o que se recorda que foi entregue ao primeiro dos Apóstolos a Cátedra do episcopado’. Para nós, a festa é mais uma ocasião de recordarmos a obediência e o amor que devemos àquele que faz as vezes de Cristo na terra” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 6 – Quadrante).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de fevereiro de 2024

(Jn 3,1-10; Sl 50[51]; Lc 11,29-32) 1ª Semana da Quaresma.

“Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão do vosso amor, purificai-me!

Lavai-me todo inteiro do pecado e apagai completamente a minha culpa!” Sl 50

“A Quaresma é um tempo oportuno para nos esmerarmos no modo de receber o sacramento da Penitência, esse encontro com Cristo presente no sacerdote, encontro sempre único e diferente. Cristo acolhe-nos como Bom Pastor, cura-nos, limpa-nos, fortalece-nos. Cumpre-se neste sacramento o que o Senhor prometera pela voz do profeta: ‘Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, eu mesmo as farei repousar. Procurarei a ovelha perdida; reconduzirei a desgarrada; tratarei da que estiver ferida; curarei a que estiver doente e guardarei a que estiver gorda e robusta’ (Ez 34,15-16). Quando nos aproximamos deste sacramento, devemos pensar sobretudo em Cristo. Ele deve ser o centro do ato sacramental. E a glória e o amor de Deus devem contar mais do que os pecados que tenhamos cometido. Trata-se de olhar muito mais para Jesus do que para nós mesmos; para a sua bondade mais do que para nossa miséria, pois a vida interior é um diálogo de amor em que Deus é sempre o ponto de referência. O filho pródigo – que é o que nós somos quando resolvemos confessar-nos – empreende o caminho de volta abalado pela triste situação de pecado em que se encontra: ‘Não sou digno de ser chamado teu filho’; mas, à medida que se aproxima da casa paterna, vai reconhecendo comovidamente todas as coisas do seu lar, do lar de sempre, e, por último, vê ao longe a figura inconfundível de seu pai, que se dirige ao seu encontro. Isso é o importante: o encontro. Cada confissão contrita é ‘um aproximar-se da santidade de Deus, um reencontro coma verdade interior, obscurecida e transtornada pelo pecado, um libertar-se no mais profundo de si próprio e, por isso, um reconquistar a alegria perdida, a alegria de ser salvo, que a maioria dos homens do nosso tempo deixou de saborear’ (João Paulo II). Devemos sentir desejo de encontrar-nos pessoalmente com o Senhor o quanto antes – como o desejariam os seus discípulos quando se ausentavam por uns dias –, para descarregarmos n’Ele toda a dor experimentada ao verificarmos as nossas fraquezas, os erros, as imperfeições e os pecados cometidos tanto ao realizarmos os nossos deveres profissionais como no relacionamento familiar e social, na atividade apostólica e na própria vida de piedade. Este esforço por colocar Cristo no centro de nossas confissões é muito importante para não cairmos na rotina, para tirarmos do fundo da alma tudo aquilo que mais nos pesa e que somente virá à tona à luz do amor de Deus. ‘Lembrai-vos, Senhor, de vossa misericórdia e a vossa bondade são eternas’” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 2 – Quadrante).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de fevereiro de 2024

 

(Is 55,10-11; Sl 33[34]; Mt 6,7-15) 1ª Semana da Quaresma.

“Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santifica seja o teu nome...” Mt 6,9

“A determinação de Jesus chegou a deixar-nos o modelo de nossa oração, de sorte que, para dirigir-nos ao Deus, não é mais preciso procurar inventar termos, nem frases, imagens ou ideias. Ele próprio ensina-nos a dizer: ‘Pai nosso’: não exatamente meu ou seu, mas de todos. De Cristo em primeiro lugar e de todos os homens, pois todos somos filhos de Deus por Cristo e em Cristo. Chamar a Deus de Pai já não é para nós uma ousadia, um atrevimento; é sim a expressão dos sentimentos filiais que nutrimos para com ele, e esta atitude filial nos foi ensinada pelo próprio Jesus. O Pai nosso é a oração cristã por excelência, é a mais íntima ressonância da paternidade de Deus no fundo de nossa alma. ‘Que estais no céu’: o nosso Pai comum está nos céus, isto é, em todos os lugares, pois onde Deus está, aí está o céu; está em nossa vida com todas as alternativas, de maneira que nada nos pode suceder sem que estejamos protegidos pelo Pai, sustentados pelo Pai, amados pelo Pai. ‘Santificado seja o vosso nome’: é a revelação definitiva de Deus aos homens, mas essa revelação fará com que todos nós humanos reconheçamos a Deus e lhe ofereçamos o amor de nosso coração. ‘Venha a nós o vosso reino’: o Reino de Deus que pedimos é o Reino que Jesus veio instaurar e que é Reino de justiça, de verdade, de amor e de paz, e isto é o que pedimos no Pai nosso, ao pedirmos que venha a nós o seu Reino. ‘Seja feita a vossa vontade’: a vontade de Deus é a que justifica, a que ordena as coisas, a que santifica os homens; porque o homem será tanto mais santo, quanto mais fiel se mostre à vontade do Pai celestial. ‘O pão nosso de cada ia nos dai hoje’: sob o nome de pão entende-se tudo o que é necessário para a subsistência; com isto, pedimos a Deus o sustento indispensável e tudo aquilo que necessitamos para poder levar uma vida honrada e humana. E não será demasiado recordar que os Santos Padres da Igreja aplicaram esse pedido ao alimento da fé. Ao pão da Palavra de Deus e ao pão eucarístico. ‘Perdoai-nos a nossas ofensas’: nossas ofensas, nossos pecados, tudo com que possamos ofender a ele diretamente, ou a ele em nossos irmãos. E para inclinar mais a vontade de Deus para nosso perdão, acrescentamos: ‘Assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido’: é a cláusula ou condição que nós mesmos colocamos, para conseguir nosso perdão. ‘E não nos deixeis cair em tentação’: não pedimos para livrar-nos das tentações, que às vezes poderão ser até convenientes ou mesmo necessárias, e sim que não caiamos nelas. ‘Mas livra-nos do mal’: afastai de nós quanto nos possa induzir ao mal, não permitais que nos atinjam as sugestões do mal” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de fevereiro do 2024

 

(Lv 19,1-2.11-18; Sl 18[19]; Mt 25,31-46) 1ª Semana da Quaresma.

“Pois eu estava com fome e me deste de comer; eu estava com sede e me deste de beber;

eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes;

eu estava doente e cuidaste de mim, eu estava na prisão e me foste visitar” Mt 25,34-36.

“A questão da salvação acompanha a vida de fé do cristão. Também a preocupação com a perdição. Queremos a salvação, a vida com Deus e em Deus. Tememos nos perder, longe de Deus, dos outros e de nós próprios. E tanto salvação quanto perdição, no olhar do cristão, parecem ser sempre realidades que levam em consideração o relacionamento com o próximo. Não são caminhos possíveis de serem caminhados de modo individual. São caminhos, atitudes comunitárias, assim como nos ensina a fé cristã. Com todo sentido, salvar-se, coma prática do amor, é ter verdadeira saúde. Contudo, esta relação saudável com Deus, com o Deus anunciado por Jesus, o Deus cristão, corre sempre o perigo de se tornar uma relação doente. Isto acontece quando, da gratuidade de nossa prática caritativa, passamos para uma relação de troca com Deus. Ao falar da herança prometida, Jesus insiste neste aspecto: ao fazer o bem necessário, nada de desviar a atenção para outros interesses, mesmo que seja para o próprio Deus. Esta mentalidade, que é uma atitude muito concreta, transforma a caridade numa espécie de investimento. O elogio de Jesus aos ‘benditos do Pai’ destaca, na sutileza de suas palavras, este aspecto: fizeram o bem sem saber que estavam fazendo ao próprio Deus! Deste ‘sem saber’ depende a verdadeira saúde de nossa vida espiritual, pois revela a autenticidade de um amor desinteressado e todo doação. Sem saber, receberão. A vida cristã é uma tarefa diária deste ‘não saber’. Sem privilégios, sem exclusivismos. – Neste dia, Senhor, permita que eu possa, surpreso, descobrir sua presença nos acontecimentos mais normais e cotidianos da vida. Sem saber, que eu faça o bem. E também sem esperar, nem saber, quem sabe ouça de ti: ‘Vide, tomai posse do Reino a vós prometido. Pois, durante sua vida, mesmo sem saber, cuidaste do próprio Deus na pessoa de cada ser humano’. Amém (Adriano Freixo Pinto – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite


I Domingo da Quaresma

(Gn 9, 8-15; Sl24/25; 1Pd 3,18-22; Mc 1,12-15)

01. Já conhecemos bem essa narrativa da tentação de Jesus e a interpretação das mesmas. Vamos deixar de lado, por um momento satanás e suas tentações e concentrar-nos sobre essa informação inicial de que o Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto.

02. Aqui está um apelo importante ao início dessa quaresma. Antes de iniciar sua missão propriamente dita após o batismo, Jesus obedece ao impulso do Espírito Santo e se retira ao deserto onde permanece por quarenta dias, jejuando, rezando, meditando, lutando. Tudo isso em profunda solidão e silêncio.

03. Esse ato de Jesus foi imitado ao longo da história da Igreja por vários homens e mulheres. E foi esse retirar-se que deu origem aos chamados padres do deserto, que depois dariam origem aos mosteiros que contribuíram de um modo decisivo no desenvolvimento cultural e agrícola da Europa com seu programa: reza e trabalha.

04. Mas o chamado a seguir a Jesus no deserto não diz respeito somente aos eremitas ou monges que escolheram o espaço do deserto. Nos deveríamos ao menos procurar um tempo de deserto. Um tempo de vazio e silêncio em torno a nós, reencontrar a vida do nosso coração, subtrair-se ao barulho e às solicitações externas, para entrar em contato com as fontes mais profundas do nosso ser.

05. Esse é o significado positivo do deserto - diferente daquele de um lugar árido, sem vida, sem comunicação. Muitas vezes Deus convidou seu povo ao deserto e não era necessariamente um lugar geográfico.

06. A quaresma é a ocasião que a Igreja oferece a todos, indistintamente, para fazer um tempo de deserto no ambiente mesmo em que vivem. Vivida bem, esse é uma espécie de cura de desintoxicação da alma. Se não existisse uma quaresma seria necessário inventá-la.

07. Em nosso planeta não temos só a poluição do dióxido de carbono; existe a intoxicação por excesso de barulho e de luzes. Estamos todos meio embriagados por tudo isso.

08. Não somente os que creem sentem necessidade de um tempo de recolhimento e de solidão, mas toda pessoa consciente de ter um espírito, uma alma, ou ao menos uma liberdade para cuidar e defender. Também o espírito tem direito a férias.

09. Esse ser humano que envia sondas até a periferia do sistema solar, pode, muitas vezes, ignorar aquilo que está em seu coração. Evadir, distrair-se, divertir-se: são todas palavras que indicam um sair de si mesmo, um subtrair-se à realidade. Os jovens são os mais expostos a embriagar-se dessas coisas.

10. Não podendo ir ao deserto geográfico, é necessário fazer um deserto dentro de nós. Mas como? A tradição cristã nos responde com uma palavra: jejum. Não compreendamos aqui tão somente a questão alimentar que conserva toda sua validade e é altamente recomendável, quando é feito com espírito de sacrifício, para mortificar a gula e ter qualquer coisa para partilhar com quem tem fome, e não unicamente para manter a forma.

11. Mais necessário que o jejum dos alimentos é o jejum do rumor, do barulho, e sobretudo das imagens. Vivemos em uma civilização da imagem; nos tornamos uma civilização devoradora de imagens. Através das novas mídias, da realidade mesma, deixamos entrar várias imagens em nós. 

12. Muitas são maléficas, veiculam violência e malícia, atiçando os piores instintos que carregamos dentro. São confeccionadas para seduzir. Mas o pior é que dão uma ideia falsa ou irreal da vida, com todas as consequências que derivam do impacto com a realidade. Muito se pretende que a vida ofereça tudo que a publicidade apresenta.

13. Se não criarmos um filtro, um barramento, reduziremos em breve tempo a nossa fantasia e a nossa alma a um depósito de lixo. Muitas coisas que nos entram pelos olhos fermentam dentro de nós. É necessário um controle também sobre o que deixamos entrar pelo olhar. 

14. Entre os jejuns alternativos está também o da palavra má, que não se limitam aos palavrões. Há palavras que tolhem, que são negativas, que colocam sistematicamente em evidência o lado frágil do outro, palavras sarcásticas, irônicas. Na vida em família ou de uma comunidade, estas palavras têm o poder de fechar a pessoa em si mesma, de congelar, de criar amargura e ressentimento.

15. E poderíamos nos alongar nessa reflexão, mas voltando ao início, precisamos fazer um pouco de deserto em torno a nós, fugir um pouco das ocupações e dos pensamentos tumultuados que nos assaltam. Atendamos a voz do Espírito. Que Ele nos conduza, nos assista nessa luta contra o mal e nos prepare para celebrar a Páscoa renovados espiritualmente.

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 17 de fevereiro de 2024

(Is 58,9-14; Sl 85[86]; Lc 5,27-32) Depois das Cinzas.

“Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: ‘Segue-me’” Lc 5,27.

“Levi está no lugar em que trabalhava. Ele e a família viviam do fruto do seu trabalho. Mas acontece o chamado de Jesus Cristo; soa em seus ouvidos e no coração a palavra do Mestre: ‘Segue-me’. E aquela palavra soou no coração de Levi como um convite e como uma ordem; e a palavra mudou totalmente a vida de Levi: ‘Deixando tudo, levantou-se e o seguiu’. Deixou tudo: deixou trabalho, deixou toda a vida anterior e começou a viver nova vida em companhia de Jesus e, por isso, converteu-se num apóstolo do Senhor. Pense que a escolha que Jesus fez a Levi, para que fosse seu apóstolo, foi uma escolha completamente gratuita. A profissão que Levi exercia era considerada desonrosa e imoral. Jesus não se fixa nisso e chama Levi para ser seu apóstolo. A palavra de Jesus transforma Levi em homem novo, com vida nova, com novos valores, com novos horizontes. A palavra de Jesus, que é o evangelho, também deve mudar sua vida; porque você também foi escolhido e chamado pelo Senhor Jesus, para ser um apóstolo. Você deve adaptar sua vida ao evangelho, evangelizar-se a si mesmo e evangelizar o ambiente no qual você se desenvolve, e isto ainda que sua vida passada não tenha sido totalmente correta” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de fevereiro de 2024

(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) depois das Cinzas.

“Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo,

tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição?” Is 58,6.

“Numa época histórica que segue de perto o regresso de Israel do Exílio, o profeta (um discípulo do Segundo Isaías) deve falar ao povo, mostrar-lhe as suas culpas e sobretudo a duplicidade dos seus corações no cumprimento das suas práticas religiosas. O profeta condena o jejum formalista, o que não tem em nenhum conta a vida do próximo e ostenta uma atitude que não corresponde a uma verdadeira disposição penitencial. A isso contrapõe o verdadeiro jejum exigido pelo Senhor. [Compreender a Palavra:] De entre as práticas penitenciais hebraicas, com o passar do tempo o jejum assumiu um papel cada vez mais importante. Prescrito no início só na Festa da Expiação, tornou-se depois um modo para comemorar aniversários de luto e para implorar a misericórdia divina em momentos de particular dificuldade. Como qualquer outra prática religiosa, também esta esteve exposta ao risco constante de transforma-se em algo puramente exterior que não afetava de verdade o coração do homem. O fato de culto e vida poderem avançar em caminhos paralelos que nunca se encontram foi um dos temas mais caros aos profetas, e este texto de Isaías é um dos exemplos mais evidentes. O profeta descreve o verdadeiro jejum segundo Deus e denuncia o que é praticado pelo povo. JHWH não quer um jejum formalista que não tem em conta a vida do outro – e muito menos a justiça – (vv. 1-3a). Nada valem as ações que excluem o amor do próximo (vv. 3b-5). O jejum verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com o faminto (vv. 6-7). Só a rejeição da hipocrisia e o apego ao bem abrem caminho a uma verdadeira relação com o Senhor, capaz de prestar ouvidos a quantos O procuram e até de sarar todas as feridas (vv. 8-9a). Não é possível procurarmos de verdade o Senhor se desviamos o olhar dos irmãos ou, pior ainda, se os exploramos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 15 de fevereiro de 2024

(Dt 30,15-20; Sl 01; Lc 9,22-25) Depois das Cinzas.

“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” Lc 9,22.

“Desde que começou a acolher discípulos ao redor de si, Jesus jamais teve a intenção de criar falsas esperanças nos corações deles. Suas palavras e ações davam pistas para compreensão de sua identidade. Mesmo assim, os discípulos corriam o risco de fazer uma falsa imagem de Jesus e nutrir expectativas infundadas a seu respeito. O modo de o Mestre falar e agir despertava a aversão em alguns grupos religiosos de sua época. Estes não podiam suportar que Jesus estivesse tão próximo de Deus e se relacionasse com ele, de maneira tão familiar. A formação teológica, que receberam, não comportava um fato deste gênero. Para eles, por ser Santo, Deus mantinha-se suficientemente afastado dos seres humanos. Era um ser inacessível. Jesus não se intimidava pela imagem que esses grupos religiosos tinham a seu respeito. Pelo contrário, seguiu em frente, agindo com toda liberdade, apesar da animosidade de seus inimigos crescer em intensidade. O Pai confiara uma missão e ele a cumpria a qualquer custo. Foi, então, que Jesus começou a alertar seus discípulos para o destino que o esperava: sofrer muito, ser rejeitado, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Quem se dispusesse a se tornar discípulo, deveria estar disposto a percorrer o mesmo caminho. – Senhor Jesus, ajuda-me a carregar, com coragem e perseverança, todos os dias de minha vida, a cruz que aceitei por teu amor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de fevereiro de 2024

(Jl 2,12-18; Sl 50[51]; 2Cor 5,20—6,2; Mt 6,1-6.16-18) Cinzas.

“Pois ele diz: ‘No momento favorável eu te ouvi eu te ouvi, e no dia da salvação eu te socorri’.

É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” 2Cor 6,2.

“O Apóstolo São Paulo mostra um dos aspectos decisivos do seu ministério: ser o embaixador daquele Deus que pede para poder reconciliar-se com todos os homens, no ‘hoje’ que marca as suas vidas: é ‘agora’ o tempo favorável. Esta reconciliação dá-se graças a Jesus Cristo: Este, embora não tenha conhecido o pecado, foi tratado como ‘pecado’ em nosso favor. [Compreender a Palavra:] Hoje, quarta-feira de Cinzas, no momento em que a Igreja convida os Cristãos a iniciar um tempo de jejum e penitência, ecoam as palavras de São Paulo que anuncia o que acontece antes do esforço do homem e que constitui o significado mais profundo do Tempo que estamos a começar a viver. Com efeito, não se trata de quarenta dias nos quais os cristãos se esforçam, com suas boas obras, de ganhar a salvação. Com paixão e veemência o Apóstolo suplica a quem o ouve que se deixe reconciliar com Deus. É esta a origem e o sentido de tudo: é o próprio Deus que em Jesus quer reconciliar todos Consigo, quer mostrar o Seu rosto amável a cada homem e a cada mulher que vivem na terra. Existe um desígnio de amor que Jesus levou a cabo morrendo na Cruz por amor de cada um de nós. Mas existe também um risco: que não nos apercebamos de nada, que deixamos cair no vazio a graça de Deus. Para que isso não aconteça, Ele oferece-nos um tempo especial no qual podemos parar para contemplarmos o Seu amor. Desta contemplação poderá brotar a nossa conversão” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de fevereiro de 2024

(Tg 1,12-18; Sl 93[94]; Mc 8,14-21) 6ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus os advertiu: ‘Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus

e com o fermento de Herodes” Mc 8,15.

“Jesus procurava precaver seus discípulos contra certas posturas farisaicas, indignas de um discípulo do Reino. Algumas correntes do farisaísmo haviam tomado rumos que Jesus desaprovava. Eles eram vítimas de vedetismo, fazendo suas ações para terem o reconhecimento popular. Padeciam também da hipocrisia, pois seu exterior não correspondia ao seu interior. Por isso eram falsos quando davam demonstração de piedade. Tinham um apego exagerado às Escrituras, que eram interpretadas a seu bel-prazer, mesmo falseando-lhes o sentido. Nutriam profundo desprezo por quem não era ‘perfeito’ como eles, e acabavam formando um grupo hermético de pretensos puros e santos. Os discípulos de Jesus também corriam o risco de serem contaminados por este mau espírito, o fermento dos fariseus. Era preciso estar atento. Outra mentalidade contra a qual era preciso precaver-se foi designada como o ‘fermento de Herodes’. Esse rei era conhecido por sua megalomania, crueldade, impiedade, tirania e arrogância. Todas essas atitudes indignas dos discípulos do Reino, embora estes possam ser tentados a se deixar arrastar por elas. A conduta do discípulo deve estar permeada pelo ‘fermento de Jesus’. É olhando o Mestre que os discípulos saberão como ser fiéis à própria fé. – Senhor Jesus, guarda-me do fermento do mundo, que pode contaminar meu coração, impedindo-me de ser fermento por ti e pelo teu Espírito” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 12 de fevereiro de 2024

(Tg 1,1-11; Sl 118[119]; Mc 8,11-13) 6ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Jesus deu um suspiro profundo e disse: ‘Por que esta gente pede um sinal? Em verdade vos digo,

a esta gente não será dado nenhum sinal’” Mc 8,12.

“Suspirou profundamente, poque aquela geração reclamava um sinal, quando na realidade tinham diante de si não um sinal, mas a realidade que o sinal significa. Poderíamos questionar-nos se neste exato momento Jesus não está também dando um sofrido suspiro porque nós, os consagrados a ele, os comprometidos com ele, os chamados à construção de seu Reino, não damos, ao mundo que nos circunda, o sinal do que somos, do que devemos ser. Se o mundo moderno é ateu, não é porque rejeite Deus em si, mas porque recusa a falsa imagem de Deus que nós lhe representamos, imagem que não pode deixar de recusar, por ser falsa, e como tal não convincente para ninguém” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).    

Pe. João Bosco Vieira Leite