Terça, 01 de março de 2022

(1Pd 1,10-16; Sl 97[98]; Mc 10,28-31) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“Respondeu Jesus: ‘Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições –, e, no mundo futuro, a vida eterna” Mc 10,29-30.

“Em 1974, quando fui para o Recife, Pernambuco, a fim de exercer ali meu pastorado, estranhei bastante um fato: mesmo sendo ali a sede episcopal do mundialmente famoso D. Hélder Câmara, não se ouvia nem se lia sobre ele nenhuma reportagem, nenhum artigo, nenhuma citação. Era como se ele, para os meios de comunicação, sequer existisse. Era perseguição? Evidentemente que sim. Só que essa perseguição não se dirigia contra o cristianismo oficial, pois igrejas das mais diversas denominações abriram suas portas, faziam suas campanhas, realizavam festas e tudo mais que lhes fosse próprio. A perseguição, ainda que velada, só se fazia contra quem ousasse encarnar o espírito de Cristo, ou seja, contra quem lutasse pela sorte dos oprimidos. E hoje, a mesma perseguição, velada, ainda se faz contra, por exemplo, a Teologia da Libertação, condenada na mídia a um voto de absoluto silêncio. Cristo, porém, anima seus seguidores a resistir, pois ele tem uma mensagem de perdão e libertação que deve superar todos os obstáculos não importando se são de ordem pessoal, institucional ou de outra qualquer. Talvez soframos com isso e percamos laços de amizade ou até mesmo de parentesco. Mas que importa? Além da suprema compensação de já estarmos na companhia de Cristo, teremos ainda a de contarmos com verdadeiros amigos e companheiros. – Teu amor, Jesus, nos dá forças para rompermos barreiras e lutar a favor do oprimido. Não nos deixes desanimar: o oprimido, com o qual te identificas, precisa de nós. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de fevereiro de 2022

(1Pd 1,3-9; Sl 110[111]; Mc 10,17-27) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: ‘Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”

Mc 10,23.

“Por que será que Jesus adota uma posição tão pouco aristocrática, tão pouco executiva, tão pouco pós-moderna? O que é que ele tinha contra propriedades? A bem da verdade, nada, absolutamente nada. Pelo menos, ele nunca falou nada nem contra os campos, nem contra as plantações de trigo nem contra casas e edifícios. Jesus tinha sérias restrições não quanto às propriedades, mas quanto às pessoas que as possuíam. Por quê? Por causa do enriquecimento ilícito e até mesmo violento de muitos grandes proprietários. Isso se deu na Palestina e se deu igualmente na colonização do Brasil e do restante da América. E se pensarmos na escravidão, na exploração da mão de obra barata, no sistema financeiro que beneficia o capital e menospreza o trabalho? Será que pessoas assim estão mesmo no reino de Deus? E ainda que se admita a posse honesta, legal e ética de propriedades (isso, a meu ver, é plenamente possível), fica a pergunta: estaria tal pessoa disposta a um uso amoroso (não-comercial) de seus bens? O caso do jovem rico narrado na Bíblia mostra que ao menos esse não. Foi, aliás, o comportamento dele que levou Jesus a dizer as palavras sobre as quais meditamos. Se o Mestre generalizou, foi exatamente porque esse era e seria o tipo de comportamento padrão do ser humano em suas relação às riquezas. Nesse caso, como alguém, possuidor de bens e já de antemão disposto a não mexer neles, vai querer participar dum reino cuja consequência básica é a ética do amor e da doação? Difícil. Difícil, mas não impossível. Na morte de Jesus, por exemplo, dois homens ricos, Nicodemos e José de Arimateia, arriscaram suas vidas e, consequentemente suas riquezas também, ao dar testemunho do seu amor a Cristo. É que, havendo fé, as riquezas e propriedades deixam de ser empecilhos para serem bênçãos. Se, pois, entre nós houver quem tenha muitas propriedades, use-as com sabedoria e amor. – Ó Deus, obrigado pelos bens que tenho. Enche-me com o teu amor para eu usá-los em benefício do meu próximo. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

8º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Eclo 27,5-8; Sl 91[92]; 1Cor 15,54-58; Lc 6,39-45)

1. Em alguns de nós, o instinto de julgar tem raízes profundas. Ousaria dizer que todos nascemos equipados para tal ação. Mas muitos amadureceram a consciência de que, se deixar levar por tal tendência é uma estupidez e que há outras mais importantes a se fazer na vida. 

2. Como se isso não bastasse, temos algumas intervenções do Evangelho a esse respeito, inibindo o gosto por essa ação perigosa. “Não julgueis e não sereis julgados; pois com a mesma com medires os outros sereis medidos” (cf. Mt 7,1-2).

3. Apesar dessas advertências, alguns cultivam esta vocação e encontram abundantes motivos para exercitá-la, de modo contínuo, como um tribunal ambulante, muitas vezes de modo implacável, contumaz e presunçoso.

4. Alguns agem ao estilo ‘rolo compressor’. Nenhum obstáculo o para - uma dúvida, uma hesitação, um mínimo de compreensão ou respeito – Tudo vem tratado de maneira uniforme. Só sabe julgar, acusar, denunciar, suspeitar, desqualificar, sentenciar, censurar, condenar.... e por aí vai.

5. Comumente isso é feito à revelia. Aquele que é condenado deve estar ausente. Melhor assim. Comumente os ‘tribunais ambulantes’ não suportam um ‘face a face’. Sua caridade fraterna consiste em demolir o outro, num processo indolor, pelo simples fato da ausência do imputado.  

6. Para um tipo de tribunal desse funcionar, é necessária uma boa dose de presunção. Presunção de quem se apropria de uma função que Deus reserva a si. Presunção de quem pretende afrontar o mistério profundo de uma pessoa servindo-se de instrumentos inadequados.

7. A ridícula presunção de quem mostra o cisco no olho do irmão e não percebe a trave sem medida que vive em seus olhos. Que pode julgar tudo e todos, mesmo sem competência. Mas ai de quem, a sua volta, ousa levantar uma mínima acusação contra ele. São pessoas profundamente sensíveis...

8. Mesmo se tratando de uma doença grave, ela não é incurável. Muitas terapias são capazes de ajudar nesse processo. Mas algumas receitas são antigas e acessíveis a todos.

9. Quando sentares no teu tribunal, recorda, simplesmente que você pode estar errado. Pode não estar de acordo com o que diz o Evangelho, primeiramente. Para um cristão, as relações com o próximo se baseiam em ‘ser com’ ou ‘ser para’, nunca ‘acima’ ou ‘contra’.

10. É possível fazer em seu quarto, a sós, aquele exame de consciência, recordando aquelas situações desagradáveis vividas, e pode ser acompanhada do exercício de uma mão fechada que bate no peito e diz: ‘minha culpa... minha tão grande culpa...’. Pode rezar em latim, se achar melhor: ‘mea culpa..’.

11. Uma ginástica que quer reeducar a consciência. Um exercício que cria uma espécie de reflexo condicionado que nos leva a sentir-nos pessoalmente responsável por certas coisas que não foram bem. É preciso muita ginástica para curar em nós essa ‘síndrome de julgamento’, e melhorar as coisas em torno a nós.

12. É verdade, o instinto de julgar em nós é muito forte, é não há como retirá-lo de nós, mas talvez possamos redirecioná-lo a nós mesmos, nossos defeitos, nossas traves. Pouparemos a Deus o trabalho de julgar-nos quando estivermos em sua presença... deixando-lhe tão somente pronunciar a sentença do perdão.

13. No nosso tribunal ambulante e permanente tem lugar para o Crucificado? Será que O observamos e absorvemos? Experimentemos deixa-lo sentar-se conosco.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de fevereiro de 2022

(Tg 5,13-20; Sl 140[141]; Mc 10,13-16) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: ‘Deixai vir a mim as crianças.

Não a proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas” Mc 10,14.

“Criancinhas são as mais doces obras de Deus. Quem não gosta de ver aquelas carinhas pequenininhas nos encarando com toda a seriedade possível para perguntar: ‘Quem é esse sujeito que me olha com esse jeito de bobo?’ Para depois se abrirem num sorriso lindo, calmo e todo cheio de graça? E Deus as ama bastante não só quando são bonitas e robustas mas também quando são fracas e doentes. Mas há também quem não goste delas. Afinal, dão trabalho. É preciso cuidar delas, lavá-las, alimentá-las e desvelar-se em preocupações quando ficam doentes. Além do mais, é preciso educa-las. E como é difícil fazer isso. Mas também, por que cargas d’água nossa vida social tem que contar com tantas regrinhas e truques? Juntando, pois, tudo isso dá para entender por que as mães levam seus filhos a Deus, orgulhosas, naturalmente, de seus pimpolhos e desejosas de que Deus lhes dê uma bênção extraordinária – e por que os discípulos, fiéis guardiões do Mestre contra a iminente praga das criancinhas, se interpõem para impedi-las. Jesus, no entanto, se aborrece coma ação dos que dizem seus guarda-costas e manda vir as criancinhas. Pensando consigo mesmo, talvez dissesse: ‘Tu também não foste criancinha? E também não precisaste dos cuidados e das bênçãos do Pai? E, com toda certeza, apelando para o amor infinito que se comprimia em seu peito humano, alegrou-se com a oportunidade de mostrar que o reino de Deus, anunciado através de profetas quase coléricos e discutido friamente por teólogos sisudos, pertencia também a todos aqueles projetinhos de gente. – Ó doce Jesus, que amaste as criancinhas de outrora, ama também as criancinhas de hoje, sobretudo as dilaceradas pela fome, doença e desamor. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de fevereiro de 2022

(Tg 5,9-12; Sl 102[103]; Mc 10,1-12) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” Mc 10,8-9.

“O que segura uma relação não é apenas estar junto. O que segura uma relação não são apenas ambições materiais e outras vantagens. O que segura uma relação é ter um projeto comum, um valor maior, um amor maior, que dá sentido a corpo, mente, alma e coração, enfim, uma corporeidade entendida aqui como carne. Não basta morar junto: é preciso ser uma só carne. Deus uniu vidas e projetos de vida. Não existe apenas uma casa, mas a morada do amor entre casal com consanguinidades biológica e afetiva. Não existe apenas uma moradia de pessoas, mas um lugar de construir histórias. Não existe apenas um grupo de pessoas se abrigando juntas, isto seria pensão, mas não lar. O ser humano não pode separar o que Deus uniu. Deus uniu o diferente de cada um para criar unidade; uniu o material para arrumar o modo de viver; uniu os sonhos das pessoas para crescerem além do espaço físico e patrimonial. Deus uniu os dois para serem muitos. Família não é só um grupo social, mas o jeito que Deus encontrou para mostrar o sentido mais forte de relacionamento sob um teto, uma experiência tão abençoada que Ele mesmo quis ter uma família. Não separe o ser humano o espelho trinitário de união divina que é a família. Não separe o ser humano o modelo de comunidade de amor, ‘célula mater’ do ideal de grupo humano, que é a família. Não separe o ser humano o modelo de grupo humano que Deus viu que era bom e quis ter um para Ele, a ponto de encarnar-se na Sagrada Família. Não separe o ser humano, com brigas e tensões, um lugar tão necessário para que a humanidade não enfraqueça o seu modo de viver. – Senhor, a exemplo da Sagrada Família, que todas as famílias saibam ser um espelho do teu modo de entrar na história do mundo. Quiseste morar junto sendo Filho, Pai, Mãe e Espírito de Amor. Que nossas famílias sejam um modelo da Família Divina, uma verdadeira unidade no amor. Amém! (Patrícia de Morais Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de fevereiro de 2022

(Tg 5,1-6; Sl 48[49]; Mc 9,41-50) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“Quem vos der a beber um copo de água, por que sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa” Mc 9,41.

“Recompensa é coisa boa. Quem não gosta? A criança comporta-se bem e ganha dos pais o prometido brinquedo. O aluno esforça-se e obtém a esperada nota. O trabalhador faz a sua parte e consegue, ou pelo menos acha que consegue, o merecido salário. Tudo, ou quase tudo, se move pelo estímulo recompensa. Por isso, até um grupo de psicólogos estabeleceu uma teoria (behaviorismo, reflexos condicionados, etc.) que nada mais é que a aplicação sistemática da recompensa. No aspecto religioso, as coisas são muito diferentes. O estímulo recompensa pode ser adiado para o fim da vida para uma outra vida numa possível reencarnação ou para a vida eterna – mas nunca deixa de ser prometido. O próprio cristianismo não é estranho a essa ideia. ‘Faze isto e viverás’; ‘Tive fome e me deste de comer’ – são apenas algumas afirmativas pinçadas que falam de recompensa. O cristianismo não é estranho à ideia, mas a aprofunda. Faz dela não um mero sistema de toma-lá-dá-cá, mas a coloca no coração gracioso de Deus. No fundo, é o próprio Deus recompensando as obras que ele faz através de seus filhos, como disse o Apóstolo: ‘Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim’ (Gl 2,19.20). É nessa profundidade da comunhão de Deus, portanto, que entram o simples copo de água e sua recompensa. Jesus não está olhando para coisas extraordinárias, mas tão-somente para as pequenas coisas feitas em seu nome. – Senhor Jesus, somos insensíveis às boas coisas feitas a nós. Não vemos ali a tua graça atuando. Por outro lado, como somos inativos apesar da tua graça querer arrancar-nos da inatividade. Dá-nos arrependimento, fé e amor. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de fevereiro de 2022

(Tg 4,13-17; Sl 48[49]; Mc 9,38-40) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não é contra nós é a nosso favor” Mc 9,38-40.

“Esta afirmação de São Marcos pareceria estar em contradição com a afirmação de São Mateus e São Lucas, os quais escrevem mais claramente: ‘Quem não está contra mim’ (Mateus 12,30; Lucas 11,23). A contradição não é senão aparente; a variante introduzida por São Mateus e São Lucas corresponde a temáticas diferentes. ‘Aquele que não é contra nós é a nosso favor’ (v. 40); parece que esta frase era como se fosse um provérbio popular, por certo de estilo oriental, e consequentemente um tanto extremada na expressão. Jesus corrige o zelo imprudente de seus discípulos, e isto porque, às vezes, nossa visão se mostra demasiadamente curta e por isso confundimos os interesses de Cristo com os nossos; confundimos e misturamos o zelo com o ‘ciúme’: somos zelosos não tanto pela glória de Deus, e sim de nós mesmos. Às vezes é a inveja, muito dissimulada, camuflada com falso zelo; tal qual aconteceu entre os apóstolos. Quando o que importa é a luta contra o mal, não tem a menor importância nem o campo onde se realiza nem quem a realiza. Sentir-se em segundo plano, saber que se é postergado, obscurecido pelos outros, que brilham e que nos deixam esquecidos, é doloroso para a nossa natureza. Deixar que outros brilhem, enquanto nós permanecemos na penumbra, não invejá-los, não os abandonar, não falar mal deles, não lhes negar apoio... Realmente não é fácil buscar o apostolado, sem levar em consideração o apóstolo. Quanta palha misturada com o bom trigo! Porém haverá de chegar o dia no qual os anjos de Deus separarão a palha e armazenarão o trigo; que pena tão grande, se tivermos a desilusão de ver na grande quantidade de nossas ações apostólicas, somente se tenha podido resgatar alguns poucos grãos de bom trigo! Vivência: Teremos mais respeito para com os que não são cristãos e aceitaremos os valores humanos, que possamos descobrir neles; por fim, tudo o que haja de bom e verdadeiro entre os não-cristãos, a Igreja julga-o como uma preparação para o evangelho e outorgado por quem ilumina todos os homens, para que no fim tenham a vida” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave- Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de fevereiro de 2022

(1Pd 5,1-4; Sl 22[23]; Mt 16,13-19) 

Cátedra de São Pedro.

“Sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós; cuidai dele não por torpe ganância, mas livremente”

1Pd 5,2.

“Uma das expressões de espiritualidade presente nas virtudes é o cuidar, conduzir, apascentar. A história salvífica é conduzida por aqueles que têm a vivência e prática do ser pastor. É maravilhoso tomar conta de um rebanho que pertence a um grande senhor. Procurar o melhor lugar onde estão as pastagens mais viçosas, ir junto, conduzir caminhando, conhecer o balido das ovelhas, suas necessidades, ser guia e alimentador. É maravilhoso exercer a vontade bem trabalhada no amor, na vigilância, vencer o sono e o cansaço, correr riscos, enfrentar lobos famintos, correr atrás da ovelha extraviada, cuidar de cada uma e do rebanho todo. Mas tudo isto sem remuneração ou lucro, mas pela simples alegria de conquistar a confiança do rebanho e do senhor do rebanho. A recompensa do pastor é ver o rebanho protegido e saciado. No pastor está a confiança do senhor que entrega o seu rebanho para que ele leve às pastagens, apriscos e lugares de relva e água. Nele está a confiança das ovelhas que se deixam levar, que escutam o ritmo de seus passos, confiam em sua voz decidida e delicada nos caminhos para saciar sede e fome. Na flauta e na fala que reúne e chama ovelhas pelo nome se manifesta a vontade boa, a generosidade, a disponibilidade, a prontidão de ânimo. Que grandeza de alma nestes que de uma prática concreta chegam a ser convocados pelo Senhor para apascentar seu rebanho! Que prontidão de alma dos pastores que jamais abandonaram o rebanho no seu todo e a ovelhinha mais frágil! Quem conduz o mais simples e necessitado das criaturas, está pronto para uma missão radiosa de indicar à humanidade um caminho de sobrevivência. – Senhor, que eu tenha alma, mente, coração e sentimentos de um pastor, para que possa cuidar da vida humana e da vida de todos os seres. Amém! (Patrícia de Morais Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de fevereiro de 2022

(Tg 3,13-18; Sl 18[19B); Mc 9,14-29) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“’Se podes fazer alguma coisa, tem piedade de nós e ajuda-nos’. Jesus disse: ‘Se podes!...

Tudo é possível para quem tem fé’” Mc 9,22b-23.

“Sofrimento é a coisa por natureza insuportável. E mais insuportável ainda quando ele sucede em pessoas que amamos, num filho, por exemplo. Quantos pais não andam de sul a norte à procura de tratamento, da cura, do milagre, esmerilhando nessas andanças toda a sua fortuna até a última faísca. O dinheiro, tão importante nessas horas, é plenamente descartável. Mais vale a saúde do filho. Quando, porém, a solução se aproxima, bate o desespero e o sofrimento incrementado por mais outra conta nessa fieira de fracassos. Por isso, Jesus retoma a deixa da dúvida, o ‘Se... podes...’ para transformá-la na certeza total: ‘Se podes! ...tudo é possível para quem crê’. Como tais palavras, Jesus não estava apontando para uma panaceia, pois a fé, tomada em si mesma, carece de conteúdo, não é nada. Ela só é alguma coisa quando correlacionada com Deus, ou seja, quando se transforma na ponte que liga a bondade e misericórdia de Deus às nossas mais profundas carências. Aí, sim, é que a fé se torna valiosa e poderosa. No caso, pois, do pai do menino epilético endemoninhado Jesus queria dizer fundamentalmente duas coisas: 1ª – Ele, Jesus, tinha de fato poder para curar. 2ª – o pai devia confiar nesse poder. O que, porém, Jesus realmente mais queria era isto: estabelecer um vínculo de amor e confiança com aquele homem. Em relação a nós, outra coisa não quer Jesus senão a criação, manutenção e aperfeiçoamento desse vínculo, que os evangelhos chamam de fé. É assim que Ele quer salvar-nos. – Senhor Jesus, às vezes minha fé está tão aguada e sem graça, é como se estivesse perdido sem conteúdo e orientação. Peço-te, por isso, que me enchas com a tua presença, pois só tendo a ti é que posso falar realmente de fé. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

7º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23; Sl 102[103]; 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38)

1. ‘Quem é o meu próximo?’ Perguntava um doutor da Lei a Jesus (Lc 10,29). ‘E quem são os meus inimigos?’ Poderíamos nos perguntar. Se devo amar meus inimigos, tenho a obrigação de saber quem são eles. Devo conhece-los, olhar em seu rosto. Para poder amar, fazer-lhes o bem, bendizê-los, rezar por eles. 

2. Muita gente não ama os seus inimigos pelo simples motivo de não tê-los: ‘Eu não tenho inimigos!’ Tem gente muito orgulhosa em não reconhecer ‘inimigos’. Talvez se comportem como inimigo de alguém, mas rejeitam categoricamente admitir que o outro é seu inimigo.

3. Vamos elencar algumas categorias de inimigos, obviamente não de modo completo. Comecemos pelo ‘outro’, ou seja, o totalmente diferente de mim. Que não gosta das coisas que gosto, que não compartilha meu ponto de vista, meu gosto por um filme, uma partida de futebol, um romance, um personagem público... 

4. Existe o ‘Adversário’. Aquele que tem para comigo uma atitude hostil, desafiadora. Numa discussão, é sempre meu opositor. Tudo que faço, proponho, encontra sempre uma crítica da parte do mesmo. Se assumo uma posição, ele vai na contrária.

5. Sua vocação é combater minhas inciativas, ideias... Suas armas são a ironia, o sarcasmo, as provocações. Não me perdoa nada. Não deixa passar nada. É um muro compacto de hostilidade preconcebida.

6. Tem também o ‘Chato’‘inoportuno’, que tem o poder de me irritar e até exasperar. Aquele que se diverte e fazer-me perder tempo, que me chega em momentos inoportunos, por motivos fúteis. Pedante, insistente, invasor, petulante, indiscreto...

7. Me obriga a ouvir discursos intermináveis, piadas já conhecidas, seus pequenos dramas tomam proporções cósmicas. Não tem o menor respeito pelo meu tempo, meu cansaço, minhas preocupações. Às vezes temos a impressão de ler no seu olhar o prazer de ter-me como prisioneiro de suas resenhas... E ainda tem o cinismo de pedir desculpa de tomar o nosso tempo...    

8. Tem também o ‘espertinho’. O indivíduo que sabemos desleal. Que me compartilha um segredo para ver minha reação e interesse. Demonstra certa afabilidade, cordialidade, simpatia, para depois apunhala-lo pelas costas. Me diz uma coisa, pensa outra e faz uma terceira.

9. Ou mesmo aquele que me elogia de maneira exagerada, mas em minha ausência, me destrói com as críticas mais ferozes. Enfim, um clássico tipo em que não se pode confiar. Astuto, calculador.

10. E por último o ‘perseguidor’. Aquele que, de propósito, me faz o mal. Me calunia, é maledicente, invejoso. Que tem prazer em me humilhar e que não dá trégua com sua maldade. Fiquemos por aqui.

11. Que atitude devo ter diante de tais inimigos (e outros que aqui não foram reconhecidos)? Primeiro preciso reconhecê-los de maneira lúcida, honesta. Somente precisando o campo inimigo, posso precisar o campo do meu amor.

12. De fato, o amor cristão deve também combater em território inimigo, não pode permanecer parado ao lado do ‘próximo’. Ou seja, nunca deve aceitar essa situação de inimizade como definitiva. Não deixá-la cristalizar. Empenhar-se, antes, em envolve-la, removê-la, endereça-la a um outro sentido.

13. Nos vem sempre um desencorajamento, pois nos parece algo impossível. Jesus vem sempre nos lembrar que meu inimigo é alguém por quem Ele também deu sua vida. Um filme terminava com essa expressão: “Há trezentos metros de distância o inimigo é um alvo. A três metros é um ser humano”.

14. A palavra que nos é dirigida nos lembra que para além dos nossos conflitos, das nossas oposições, das nossas dilacerações, existe um terreno ‘sagrado’ sobre o qual – dolorosamente e pacientemente – é possível retomar uma relação fraterna. O fato de não aceitarmos a separação, a ruptura, o estado de inimizade, é já meio caminho andado em direção ao outro.    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de fevereiro de 2022

(Tg 3,1-10; Sl 11[12]; Mc 9,2-13) 

6ª Semana do Tempo Comum.     

“Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar” Mc 9,3.

“Se compararmos o estado de humilhação de Jesus com uma fechada noite invernal, podemos dizer, em contrapartida, que sua transfiguração foi o relâmpago suave que, por instantes ao menos, dissolveu a treva em brancura, brancura, brancura para compartilhar com seus mais íntimos seguidores a sua natureza divina. Jesus sofria e se angustiava como qualquer outro ser humano. E isso não nos deve surpreender, pois sua humanidade era absolutamente real e não um mero disfarce para sua divindade. E como essa, no estado de humilhação, estava oculta, Jesus se transformava num ser marcado pela fragilidade que se abate sobre qualquer um. Quando, então, sua divindade irrompe através desse pegajoso nevoeiro, todo o seu ser novamente se anima, e sua tarefa toma novo impulso. Os mortais comuns, por seu turno, precisavam também duma definição clara e insofismável sobre aquele profeta amigo visto por eles como Cristo. Por isso, não podiam entender por que, após curas tão maravilhosas, ele se encolhesse em meio à maré de críticas e ameaças. Verem, pois, o Cristo resplandecente inundado por aquele mar de brancura transcendental foi-lhes o marco decisivo para fazê-los ver no mestre e amigo o próprio Filho de Deus. Às vezes sentimos necessidade duma tal experiência. Afinal, somos tão seres humanos quanto foram Jesus e seus discípulos. Vê-lo transfigurado, no entanto, não podemos. Temos, em compensação, um consolo: ele prometeu estar conosco e está. – Senhor Jesus, alegramo-nos com tua transfiguração porque manifestaste glória e poder em meio à humilhação pela qual passavas. Louvado sejas. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de fevereiro de 2022

(Tg 2,14-24.26; Sl 111[112]; Mc 8,34—9,1) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Pois quem quiser salvar a sua vida vai perde-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim

e do Evangelho vai salvá-la” Mc 8,35.

“Com esse paradoxo, Jesus nos coloca numa sinuca sem solução, pois é da nossa natureza querermos salvar a nossa vida. Aliás, é até por esse motivo que nos tornamos cristãos. Não é, por exemplo, o que sempre ouvimos: ‘Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo’, ‘Quem crer e for batizado, será salvo’, ‘Deus amou tanto o mundo... para que todo aquele que crer nele, não pereça,  mas tenha vida eterna’? A questão real, certamente, não está no chamado de Jesus para salvação, mas na forma como essa se dá. O salvar a vida, salvar a pele, significa muitas vezes lutar apenas por interesses egoístas, interesses que para o cristão que vive pela fé, em comunhão com Deus, não deveriam mais existir. A prática, no entanto, em especial a nossa própria, nos mostra cristãos preocupados unicamente com sua vida, com seus interesses pessoais, que não se abrem para o próximo em amor e doação e que, fazendo o bem, só o fazem se tiverem garantido para si algum tipo de retorno. Essa, infelizmente, é a fotografia estampada em muitas de nossas carteiras de identidade (anti) cristã. A verdadeira fé em Cristo, ao contrário dessas, exibe a foto que o apóstolo Paulo estampava na sua carteira: ‘Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim’ (Gl 2,18-19). Essa carteira de identidade vem a ser também a de trabalho feito, mas não lembrado, registrado sim, mas apenas pelo nosso empregador (Mt 25,44-45). Como chegar a esse estágio? Por nossos próprios esforços, jamais. Quem o pode fazer é só o próprio Cristo e ele o faz à medida que nos certifica do seu amor e nos transforma através desse mesmo amor. – Senhor Jesus, livra-me do egoísmo, pelo qual sempre quero salvar a minha vida não me preocupando em absoluto com as dos outros. Para tanto, enche-me com teu amor transformador. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de fevereiro de 2022

(Tg 2,1-9; Sl 33[34]; Mc 8,27-33) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Então ele perguntou: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Pedro respondeu: ‘Tu és o Messias’” Mc 8,29.

“O texto escrito por Marcos vai tendo um encadeamento progressivo no que diz respeito à identidade de Jesus e tem seu ápice nessa afirmação de Pedro: ‘Tu és o Cristo’. Não obstante, verificamos que os discípulos ainda não têm uma compressão integral. Dessa forma, a declaração de Pedro ainda é imperfeita, pois corre o risco de ser entendida através da perspectiva de uma realeza temporal, como era esperada com a chegada do Messias. Isso fica bem claro quando Jesus pergunta: ‘Quem dizem os homens que eu sou?’, e a resposta dos discípulos é: ‘João batista, Elias ou um dos profetas’. Há a percepção de uma espécie de força divina em todas as personagens citadas por eles, e essa mesma expectativa é expressa por Pedro. Os discípulos estão impressionados com o poder e autoridade de Jesus, com sua santidade, e vão aos poucos associando o Mestre ao Messias. Assim, Jesus vê o título com reservas e proíbe os Doze de falar a alguém a seu respeito. Ao mesmo tempo, há uma revelação divina feita na afirmação de Pedro. É movido por uma força que o leva a proferi-la. Jesus tem como objetivo purificar a concepção messiânica que vigorava naquele momento. Ele vai mostrando que sim, Ele é o Messias, mas vem como descrito na profecia de Isaías, ele é o Servo Sofredor, aquele que ‘foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro’ (Is 53,7). Jesus vem para libertar o povo do jugo como Rei dos Reis. Ele ‘oferece a sua vida como sacrifício expiatório [...] e por meio dele o desígnio de Deus triunfará’ (Is 53,10). Sua missão é a de levar sobre si o pecado de muitos e interceder pelos sofredores. – Senhor, eu sei bem quem Tu és! És o Senhor do céu e da terra que revelaste esta força na mais transparente simplicidade. És a identidade do Pai e a concretização do Reino. Que, através de quem Tu és, eu encontre o mais puro ‘Eu sou!’ Amém (Patrícia de Morais Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de fevereiro de 2022

(Tg 1,19-27; Sl 14[15]; Mc 8,22-26) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele,

colocou as mãos sobre ele e perguntou: ‘Estas vendo alguma coisa?’” Mc 8,23.

“Em seguida, Jesus passa saliva nos olhos do cego e lhe impõe as mãos. Age como um médico que aplica uma pomada no doente. Ele mostra sua dedicação de forma física. Cospe sua saliva nos olhos do doente. Já vimos que esse procedimento de Jesus lembra um gesto maternal, para que no cego, assustado pela vida, possa aumentar a confiança. Impondo-lhe as mãos, Jesus espera que a saliva penetre nele, assim poderá acontecer uma espécie de troca entre ambos. Tendo por algum tempo colocado as mãos sobre os olhos fechados, ele as retira e pergunta ao doente se está vendo alguma coisa. ‘Percebo as pessoas, vejo-as como árvores, mas caminham’ (8,24). Trata-se, por enquanto, de uma cura parcial. O cego começa a enxergar, mas indistintamente. As pessoas ainda estão sem rosto. Ele vê que andam, as compara com árvores. Estão de pé como árvores, mas falta-lhes um contorno mais nítido. Ele não vê a pessoa, o rosto do ser humano (prosopon = aquilo que vejo), mas apenas o que fazem externamente. Jesus põe outra vez as mãos sobre os olhos do cego. Deixa fluir novamente sua força curativa para os olhos dele. O homem passa, então, a ver direito. Ou, como diz o texto grego com mais exatidão, ele ‘transvê’. É paradoxo que o homem passe a enxergar enquanto Jesus ainda tapa seus olhos com as mãos. Marcos talvez esteja falando de uma visão interior. Ao mesmo tempo deixa claro que a nova imposição das mãos faz com que o homem seja capaz de caminhar com as próprias pernas: agora ele pode ver o mundo com os próprios olhos e não através dos óculos que outros lhe tinham colocado. ‘Estava curado (recuperado, posto de pé) e via tudo distintamente’ (8,25). A palavra grega diz ‘brilhantemente, com a clareza do sol’. Agora o cego enxerga tudo claramente. Seus olhos participam da clareza do sol que a tudo ilumina. Na luz de Jesus, tudo se torna visível para ele, tudo fica compreensível. Conscientemente, Marcos colocou essa perícope antes da paixão de Jesus. Para que possamos compreendê-la, precisamos dos olhos da fé, olhos solares, que reconheçam o Filho de Deus até mesmo na hora do sofrimento. Nessa hora também precisamos de luz solar, para podermos experimentar nela proximidade curadora e libertadora de Deus. Muitas vezes, a terapia precisa de um tempo mais longo até a pessoa ter coragem de abrir realmente os olhos para ver tudo claramente. No início, tudo parece meio confuso. Conheço bem essa situação. Nem quero ver tudo com nitidez. Olho apenas ao meu redor e vejo as pessoas andarem por aí, mas não olho seu rosto. Procuro evitar o reconhecimento. Não quero ver nitidamente, para que não tenha de focalizar o outro, para que não precise entender-me com ele. Porque, nesse caso, ele transformaria minha vida. O primeiro olhar do cego serve apenas para orientação, não para entrar em contato. Mas só passamos a enxergar realmente quando estamos dispostos a olhar no rosto de um ser humano. É nesse momento que o contato nos transforma. Enquanto vejo apenas os contornos do outro, não quero mudar. Só vejo o necessário para seguir meu caminho. Os outros não me interessam realmente. Só posso encontrar o outro e fazer-lhe justiça quando o vejo nitidamente” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de fevereiro de 2022

(Tg 1,12-18; Sl 93[94]; Mc 8,14-21) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus os advertiu: ‘Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus

e com o fermento de Herodes’” Mc 8,15.

“A convivência diuturna com o Mestre não tornava seus discípulos imunes das más influências, especialmente, daquela dos fariseus. Estes tinham uma mentalidade contrária à de Jesus. Pelo modo como eles se apresentavam, havia o risco de contaminarem os discípulos. Certos componentes da mentalidade farisaica traziam em si o germe do pecado, que debilitava o ser humano, inclinando-se para o mundanismo. Disto ninguém estava isento, nem mesmo quem privava da intimidade com Jesus. Como os fariseus, os discípulos corriam o risco de ser hipócritas e insensíveis com os mais fracos e pequeninos, julgar-se superiores aos demais, praticar um tipo de religião manipuladora de Deus, ser exibicionista e buscar o louvor e o reconhecimento das pessoas. Esse tipo de comportamento não se coadunava com a proposta de Jesus. Contudo, muitos discípulos estavam sendo tentados a seguir este rumo, ou seja, deixar-se convencer pelos adversários do Mestre, fermentados por uma mentalidade incompatível com o Reino. Nem sempre o alerta de Jesus surtiu efeito. Aqui e acolá, os discípulos assumiram o modo de proceder farisaico. Infelizmente, o fermento do Reino parecia ser menos eficaz que o dos fariseus. O mau exemplo impunha-se! – Espírito de precaução, torna-me imune às más influências que me afastam do projeto de Jesus, levando-me a assumir comportamentos incompatíveis com o Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de fevereiro de 2022

(Tg 1,1-11; Sl 118[119]; Mc 8,11-13) 

6ª Semana do Tempo Comum.  

“Mas Jesus deu um suspiro profundo e disse: ‘Por que esta gente pede um sinal?

Em verdade eu vos digo, a esta gente não será dado nenhum sinal’” Mc 8,12.

“Os fariseus discutiam com o Senhor. Podemos imaginar que o Senhor sabia expor maravilhosamente sua doutrina e que sua palavra era clara, profunda e convincente. No entanto, os fariseus não a aceitaram. É que o Senhor não pode ser aceito com a mente, se antes não lhe tivermos aberto o coração... A fé não é tanto uma questão de conhecimento, mas sim de entrega; não tanto a luz da clarividência, mas sim uma generosa aceitação. Os judeus não ficaram convencidos. Por isso pediam o sinal que os movesse. Não lhes era suficiente a palavra que lhes entrava pelos ouvidos, e exigiram um sinal que lhes entrasse pelos olhos. Se estamos consagrados à pregação da palavra de Deus, também estamos para dar testemunho pela santidade de nossa vida. ‘A evangelização, isto é, o anúncio de Jesus Cristo, pregado pelo testemunho da vida e da palavra’, diz-nos o Concílio. Aos leigos adverte-se que ‘todos os cristãos são obrigados a manifestar com o exemplo de sua vida e o testemunho da palavra o homem novo de que se revestiram pelo batismo’. Aos sacerdotes também recorda o Concílio: ‘Estão obrigados a dar o testemunho da verdade e de vida...’. E aos religiosos diz: ‘Os religiosos, em razão de seu estado. Proporcionam um preclaro e inestimável testemunho de que o mundo não pode ser transformado, nem oferecido a Deus, sem o espírito das bem-aventuranças...’ Os judeus pediam um ‘sinal’. O mundo da atualidade também está pedindo ao cristão, ao sacerdote, ao religioso, que sejam verdadeiro sinal-sacramental de Jesus Cristo. Perguntemos, pois, à nossa própria consciência: Sou verdadeiro sinal de Cristo? O homem de hoje pode ver Cristo em mim? Em minha vida particular, em minha atuação pública ou profissional, transpareço o Senhor?” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave- Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Jr 17,5-8; Sl 01; 1Cor 15,12.16-20; Lc 6,17.20-26)

1. Há alguns domingos atrás escutávamos, na sinagoga de Nazaré, o discurso programático de Jesus que apontava para sua missão. Pois bem, as bem-aventuranças que acabamos de escutar retoma e desenvolve tal discurso. Uma boa notícia endereçada sobretudo aos pobres e infelizes.

2. Em contraste, quase o outro lado da moeda, brotam notícias ruins para os ricos, saciados e que alcançaram sucesso na vida. Duas observações de fundo podemos tirar.

3. Primeiro: Jesus anuncia a vinda do seu Reino como uma inversão da situação atual, restabelecendo o equilíbrio quebrado pelo egoísmo humano. Aquilo mesmo que proclama a Virgem no magnificat: ‘derrubou os poderosos dos seus tronos, e elevou os humildes. Sacia de bem os famintos, despede os ricos de mãos vazias’.

4. Segundo: Cristo não nos apresenta um código de leis, mas as bem-aventuranças. As bem-aventuras é um gênero característico da Bíblia. Ela não exprime um tímido desejo, ou votos de dúbia eficácia, ou mesmo uma vaga promessa. Mas se trata de uma forma de felicitação da parte de Deus.

5. Lucas nos traz 4 bem-aventuranças que dizem respeito aos pobres, os esfomeados, os aflitos e os perseguidos. Todos são pobres no sentido em que se encontram numa situação de infelicidade ou porque estão privados dos bens materiais ou mesmo porque veem sufocadas suas exigências fundamentais. E por que os pobres são declarados ‘felizes’?

6. Não estamos diante de uma consagração da pobreza, como se essa fosse uma condição ideal para acolher o Reino de Deus. Isso seria uma legitimação da injustiça e da avidez humana, que aqui vêem desmascaradas e condenadas nos quatro ‘ai de vós’ sucessivos.

7. Nem se está afirmando que os pobres são moralmente melhores que os ricos. Não há nenhuma condição social, e nenhum mérito da parte do ser humano que por si só o faça idôneo ao Reino de Deus. Este é um dom de Deus e não uma conquista do ser humano. O que se está em jogo nas bem-aventuranças é a ideia que se faz de Deus.

8. Nas bem-aventuranças transparece a imagem de um Deus misericordioso que coloca todo seu poder a serviço dos mais frágeis. Assim, evitemos de usar as bem-aventuranças num sentido de resignação, ou mesmo um pretexto ‘religioso’ para manter a ordem social injusta. As bem-aventuranças não devem servir para esmagar os pobres, mas para libertá-los. A pobreza resta como um mal que se luta sem trégua.

9. A mensagem de Cristo não se resume num amor à pobreza, mas aos pobres. O ideal não é a pobreza, mas o amor que se exprime no gesto de partilhar, de transformar os bens num sacramento de fraternidade. Caso contrário, seremos julgados pela atitude adotada diante dos que têm fome, sede, estão sem roupa, casa, doentes... (Mt 25).

10. A parte final faz um contraponto às quatro bem-aventuranças, chamadas de maldições. Mas é uma definição imprópria. Trata-se de uma constatação amarga de um fato que se reveste de um chamado à conversão. Para toda a comunidade cristã, essas duras palavras constituem um severo aviso sobre o perigo das riquezas. 

11. Perigo de não ver para além do horizonte presente e dos bens materiais. De fechar-se em si mesmo, nos próprios interesses sem se dar conta dos outros e suas necessidades. Os bens materiais tornam-se ídolos, ocupam o lugar de Deus. Satisfeito com o que se tem, não espera nada de Deus.

12. Infeliz, diz a 1ª leitura e o salmo. Uma vez tendo tudo, se fecha em seu mundo. Não percebe a música que vem de longe, nem a luz que bate em sua janela. Não percebe que a vida está para além. Sente-se seguro, sem saber que sua segurança é sinônimo de morte antecipada. Se morre no momento em que não se espera mais nada ou ninguém.      

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de fevereiro de 2022

(1Rs 12,26-32; 13,33-34; Sl 105[106]; Mc 8,1-10) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães e deu graças, partiu-os

e ia dando aos seus discípulos, para que os distribuíssem. E eles os distribuíram ao povo” Mc 8,6.

“Continuando o percurso de Jesus, observamos que ontem ele abriu os canais do entendimento e hoje alimenta quem escuta o seu chamado. O sete, número sagrado da realização, simboliza a verdadeira essência de Jesus ´Ele é o Pão da Vida, que traz a salvação, plenitude e abundância. A oração ocupa um espaço bastante significativo na vida de Jesus e tem como centro um Pai misericordioso, que sabe da necessidade de seus filhos muito antes que eles possam pedir qualquer coisa. Por isso, Jesus dá graças, ou seja, abençoa o pão, que reconhece como dom do Pai, evoca a ação criadora e vivificante de um Pai que só sabe ser generosidade, amor e benevolência para seus filhos. O amor multiplica, expande, amplia, transborda. Jesus olha com ternura a multidão que não tem o que comer, toma sete pães, dá graças, reparte, e de uma multidão de quatro mil pessoas saciadas, restam sete cestos de pão. Amor é partilha, comunhão, sofrer junto, doação, cuidado e proteção. A força do amor revela a presença de Deus, que se espalha e reina sobre todas as coisas, causando encantamento, felicidade. O amor se deixa transparecer no segredo maravilhoso, que está além do entendimento, mas que pode ser saboreado no gosto do pão. Cada palavra, interpelação, gesto, sinal, cura, milagre, presença, testemunho, vida, sentimento, obediência, gratidão, enfim, absolutamente tudo em Jesus revela o imenso amor do Pai a cada um de nós. Jesus é o rosto do amor e o amor vem ao encontro do ser humano para que ele possa viver a experiência do sagrado através de um caminho de fé. – Vem, Senhor, ao meu encontro. Multiplica em mim a capacidade de ser reflexo do seu amor, bondade e misericórdia. Que eu saiba escolher, cada dia, a atenção cuidadosa para com a vida saborear nela o mistério da partilha, afeto, comunhão, e da perfeição do Amor. Amém!” (Patrícia de Morais Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de fevereiro de 2022

(1Reis 11,29-32; 12,19; Sl 80[81]; Mc 7,31-37) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus afastou-se com o homem para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele”. Mc 7,33.

“Jesus põe os dedos nos ouvidos dele. Isso me faz lembrar diversas outras imagens: Jesus põe seu dedo na ferida, para que o doente se reconcilie com sua ferida. Ele tampa os ouvidos com os dedos para não ouvir aquilo que o machuca e o faz ficar doente; ele quer ouvir apenas a si mesmo, os desejos do seu coração, a própria voz no íntimo de sua lama. Os ouvidos são uma região muito sensível. Colocando neles os seus dedos, Jesus toca com carinho o ponto sensível do doente. É como se dissesse a ele: ‘Entre todas as palavras que tu escutas há também o desejo de relacionamento. Mesmo que alguém se dirija a ti aos berros, existe sempre a vontade de entrar em contato’. Jesus estabelece essa relação intensa com o doente colocando seus dedos em ambos os ouvidos. Assim se forma um circuito entre ele e o doente. É um circuito de relacionamento e de amor que deve desfazer o bloqueio do doente. Depois, Jesus molha a língua do homem com saliva. Na Antiguidade, a saliva era considerada um remédio. A saliva transmite também um toque maternal. A mãe coloca saliva no machucado da criança que está chorando e diz: ‘Está tudo bem gora’. Podemos imaginar também que Jesus dê um beijo no mudo, tocando-o com sua saliva. A saliva é uma coisa muito pessoal e íntima. Com ela passo ao outro algo do meu interior. Com esse gesto, Jesus cria um clima de confiança que ajuda a soltar a língua do doente. Emudecer pode significar não ter mais nada a dizer porque o relacionamento acabou, mas pode significar também não poder dizer mais nada justamente porque falta confiança, porque a pessoa tem medo de que suas palavras possam ser interpretadas de uma maneira errada. Colocando saliva na língua do outro, Jesus estabelece uma relação de amor, em que as palavras podem fluir livremente entre as pessoas, em que a confiança aumenta e desparece o medo de ser mal-entendido” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de fevereiro de 2022

(1Rs 11,4-13; Sl 105[106]; Mc 7,24-30) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus disse: ‘Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu da tua filha’” Mc 7,29.

“A narração simples deste evangelho, que nos descreve a cura da filha de uma mulher pagã, demonstra-nos as atitudes dignas de consideração e que o Evangelista quer pôr em destaque. O sinal milagroso da cura situa-se num lugar fora do território palestinense, como diz Marcos: ‘foi para a terra de Tiro’ (v.24), que fica ao norte da Palestina, além dos limites da Galileia, com o qual se valoriza a universalidade do oferecimento da salvação. É verdade que Jesus veio para proclamar a salvação primeiro aos filhos de Israel; mas essa preferência não quer significar exclusividade, e por isso não só os discípulos do Senhor logo se dispersaram por todo o mundo para evangeliza-lo, mas que nessa e em alguma outra ocasião o próprio Senhor Jesus pregou a boa nova fora dos limites palestinense. A segunda atitude digna de levar-se em consideração, neste relato, é a condição básica para seguir Jesus: a fé nele, o reconhecimento de seu poder. Por sua muita fé no poder e na bondade de Jesus, aquela mulher pagã mereceu ouvir a resposta de Jesus: ‘Por causa desta palavra, vai-te, que saiu o demônio de tua filha’ (v. 29). É digno de colocar em evidência o modo como faz a prece esta mulher tiro-fenícia; ela não pertencia ao povo de Israel; não sabia, pois, nem conhecia quem era Jesus, nem o que os profetas tinham anunciado a respeito dele; ela nunca havia ouvido falar do Reino de Deus, nem da promessa da salvação. Porém dirige-se ao Senhor e entabula com ele aquele diálogo oracional que, finalmente, conseguirá o que pede, por tê-lo pedido com tão boas disposições. A oração dessa mulher Cananéia reúne todas as condições de toda a oração perfeita. Por isso, consegue a cura da filha, uma vez que a oração bem-feita consegue sempre a graça de Deus. É a oração cheia de fé: a fé que não enfraquece diante das dificuldades que encontra. Insiste, tem fé no poder de Jesus para salvar todos os homens. É oração acompanhada de uma humildade profundíssima; contenta-se com as migalhas que caem da mesa, reconhece-se pecadora e compreende que não tem direito a que o Senhor a ouça. É oração confiante; confiou plenamente na misericórdia de Jesus que não a deixará ir-se embora com as mãos vazias. É oração perseverante; não se cansa de pedir, acompanha Jesus Cristo, insiste apesar de, pelo que parece, não restar já nenhuma esperança. É oração nascida da lama; é sua filha que está atormentada pelo demônio, e seu coração de mãe sofre com o mal da filha como se fosse seu próprio mal; por isso suplica a Jesus: - Tem piedade de mim. – Vivência: É preciso que se examine se você ora suficientemente ou se, ao invés, sua oração se reduz à recitação, mais ou menos mecânica, de algumas fórmulas que, por mais excelentes que sejam, não chegam a expressar tudo o que em um outro momento de sua vida você sente e necessita. Sua oração não deve ser exclusivamente oração de petição; você deve também orar com oração de louvor, com oração de ação de graças e com oração de entrega, pondo-se à disposição para que em você sempre e em tudo cumpra-se a vontade, o plano do Pai celestial” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave- Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 9 de fevereiro de 2022

(1Rs 10,1-10; Sl 36[37]; Mc 7,14-23) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus chamou a multidão para perto e disse: ‘Escutais todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele, vindo de fora, mas o que sai do seu interior” Mc 7,14-15.

“Jesus buscou recuperar a interioridade e a profundidade da prática da fé, contrapondo-se à exterioridade e superficialidade dos escribas e fariseus. Exortava seus discípulos a perceberem que a verdadeira contaminação do ser humano não provém do seu exterior, e sim, do coração. Assim, quem pretende apresentar-se puro diante de Deus, deve, antes, purificar seu íntimo de onde provém todo o mal. Esta purificação não consiste num gesto exterior, como seria um banho ou uma lavagem de mãos. Ela acontece quando a pessoa, sintonizada com Deus, elimina tudo o que pode perturbar sua relação com o próximo. Quem é puro pensa no bem de seu semelhante; respeita-lhe a vida, o corpo e a propriedade; é misericordioso no trato com ele; não age com dolo ou malícia. Estes são sinais inequívocos da pureza interior. Se isto não acontece, por mais que o indivíduo se lave com água, está cheio de impurezas e despreparado para realizar um culto agradável a Deus. As coisas materiais são indiferentes; não tem um poder mágico de contaminação. Portanto, os discípulos não devem dar atenção às insinuações dos fariseus. Não vale a pena buscar a pureza pelo caminho indicado por eles. – Espírito de pureza, limpa-me no mais íntimo do meu ser, no meu coração, de modo que eu possa mostrar-me puro no trato com meu semelhante (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 8 de fevereiro de 2022

(1Rs 8,22-23.27-30; Sl 83[84]; Mc 7,1-13) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens” Mc 7,8.

“Certa vez, ouvi um palestrante fazendo uma distinção entre crenças e fé. Ele dizia que crenças são as tradições, costumes, explicações humanas, rituais, maneiras de explicar o transcendental. Ele chamava de fé aquilo que autenticamente nos ligava a Deus. Obviamente trata-se de uma visão e de uma distinção interessante. Igualmente alguns costumam diferenciar e separar as várias religiosidades existentes. Dizem que todas as religiões podem ser separadas em apenas dois grupos. O primeiro que ensina que devemos acalmar a ira de Deus com obras e sacrifícios. Então uma série de rituais é criada, executada e acaba formando uma ‘tradição’ – como diz nosso texto bíblico. Jesus centraliza o mandamento de Deus no Amor.  E aqui estaria o segundo grupo de religiosidade, onde, ao contrário da primeira, a ênfase não estaria na ação humana, nos ritos, costumes e tradições humanas. A ênfase não estaria nas obras dos seres humanos, mas sim na obra de Deus que se fez humano para nos salvar e religar a Deus, o Pai, estabelecendo a religião da graça, o amor incondicional de Deus. ‘Pela graça sois salvos mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie’ (Ef 2,8-9). Jesus critica os fariseus de sua época e diz: ‘Deixando de lado o mandamento de Deus, vós vos apegais à tradição dos homens’ (Mc 7,8). A crítica é que eles estavam se apegando em coisas passageiras, humanas. A reflexão é: Em que nós nos apegamos? Em que estamos confiando? Nas nossas próprias obras e rituais? Ou em Jesus? Crê no Senhor Jesus serás salvo! – Querido Pai do Céu, muitas vezes confiamos e cremos em coisas da terra. Apegamo-nos a costumes e tradições e esquecemo-nos de ti e dos teus superiores ensinamentos. Perdoa-nos. Não nos deixe de lado. Dá-nos a tua sabedoria para seguirmos os teus preceitos, vivermos na tua paz (Ismar Lambrecht Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite