Quinta, 01 de junho de 2023

(Eclo 42,15-26; Sl 32[33]; Mc 10,46-52) São Justino, mártir.  

“Então Jesus lhe perguntou: ‘O que queres que eu te faça’” Mc 10,51a.

“Em vez de curá-lo imediatamente, Jesus pergunta primeiro: ‘Que queres que eu faça por ti?’ (10,51). É um apelo à vontade dele. O cego deve pensar bem o que quer de Jesus. Como conselheiro espiritual me acontece com frequência que as pessoas simplesmente começam a falar de si. Mas em muitos casos fica difícil saber o que realmente querem de mim. Percebo, então, que esse tipo de conversa não leva a nada. Por isso pergunto nessa situação: ‘O que você quer de mim? Qual o ponto que você gostaria de abordar? Qual o problema que você gostaria de resolver?’ Aquele que está procurando ajuda precisa ter sobre aquilo que ele quer realmente. Por isso precisa refletir antes sobre a pergunta ‘O que queres de mim?’, para que fique claro o que espera do terapeuta e do sacerdote. Analisando seu querer, o paciente perceberá, em muitos casos, que está querendo o impossível. Ele se dará conta de que foi ao terapeuta ou ao conselheiro espiritual com a vaga ideia de que este certamente saberia o que é bom para ele. Assim, empurra toda a responsabilidade sobre o médico. Jesus, porém, apela à responsabilidade do cego, para que diga claramente o que quer. Tendo uma ideia clara a respeito daquilo que deseja concretamente do médico, este pode decidir livremente se está em condições de ajudar-lhe ou não. Pode ser que tenha de iniciar um diálogo com o doente, para tentar ajudá-lo a realizar seu objetivo. Pode fazer também com que o doente se lembre de seus primeiros recursos. Ou pode convidá-lo a formular melhor as expectativas que tem em relação ao médico ou terapeuta, quais as medidas que este, na sua opinião deveria tomar” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 31 de maio de 2023

(Sf 3,14-18; Sl Is 12; Lc 1,39-56) Visitação de Nossa Senhora.

“Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente, a uma cidade da Judeia”

Lc 1,39.

“A celebração eucarística começa com a seguinte antífona de entrada: ‘Vinde e escutai, todos que temeis a Deus: eu vos direi tudo o que o Senhor fez por mim’ (Sl 65,16). Posta nos lábios de Maria, ressoa como convite dirigido à assembleia a fim de que se disponha a escutar o seu testemunho de vida. A Virgem Mãe evangeliza hoje a Igreja em oração, como um dia evangelizou Isabel com sua visita. Nem sempre uma visita é portadora de alegria e comunhão. Depende de quem é o visitante, das suas motivações favoráveis ou não, das notícias que leva, dos presentes ou riquezas que oferece; depende também das disposições de quem lhe abra a porta. Com certeza a visita de Maria e Isabel é daquelas visitas que deixam a marca. Desse encontro, difusor de alegria orante que vibra no espírito de ambas mulheres, nos fala Lc 1,39-56. Isabel fica repleta do Espírito Santo, e Maria canta a salvação sem limites derramada pelo Todo-poderoso no coração dos humildes. Tratando-se do encontro de duas ‘mães’, também seus filhos são protagonistas. João estremece de alegria no ventre de Isabel. Jesus permanece em silêncio, mas assume o papel principal: é ele o visitante imprevisto, no entanto, esperado por séculos. Ele, a Palavra, fala por meio de Maria! Daí se deduz que a visita à prima Isabel não foi apenas gesto de cortesia, com o objetivo de prestar ajuda doméstica à parente idosa que espera um filho e, portanto, necessitada de uma mão jovem. Foi muito mais que isso!” (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 30 de maio de 2023

(Eclo 35,1-15; Sl 49[50]; Mc 10,28-31) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”

Mc 10,31.

Quem não quer ter certeza das recompensas que virão por ter deixado tudo e estar no seguimento do Senhor? Quem não gostaria de ter o céu por recompensa e encontrar um lugar privilegiado junto de Deus? Ter a certeza do prêmio eterno seria a mais absoluta realização humana. Seguir o Senhor não é a busca de um status social, mas sim uma recompensa espiritual. Muitos querem títulos e influência, mas Deus está mais no escondimento e na humildade. Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros. A lógica de Deus não bate com a lógica dos que gostam de levar vantagem em tudo, de serem referência, de conquistarem postos e benefícios. Para Deus o caminho da simplicidade e da humildade conquista o melhor lugar. Estar junto de Deus é estar oculto por detrás dos mais belos gestos de doação. Não somos nós que fazemos, somos apenas instrumentos nas mãos de Deus, e este é o verdadeiro lugar. Seguir o Senhor comporta renúncias e sacrifícios e isto tira toda a ostentação, orgulho e vaidades deste mundo. Todo aparato de ambição de cargos e autoidolatria. Os últimos são os que suportam qualquer sofrimento, perseguições, incompreensões, ódio e mesmo a morte. Seguir o Senhor é não ter e cultivar espaços de mando e poder, mas sim de serviço feito por amor. Os últimos não contam nada para os projetos do mundo; mas valem o que são diante de Deus e mais nada. A glória buscada não vem dos círculos humanos; a glória de Deus vem do que se é capaz de fazer para desaparecer e deixar apenas Deus transparecer. – Senhor, que eu possa dizer como João Batista, que sua presença cresça e que eu diminua. Que tudo o que sou e faço não manifeste a minha pessoa, mas a vossa graça agindo em mim. Quero ter em mim a certeza de que não sou nada, mas o meu lugar é o seu lugar. Amém!” (Patrícia de Moraes Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia 2017 - Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 29 de maio de 2023

(Gn 3,9-15.20; Sl 86[87]; Jo 19,25-34) Maria, Mãe da Igreja.

“Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena”

Jo 19,25.

“A cena descrita no Jo 19,25-27 nos transporta à hora suprema na qual se consuma o sacrifício da nossa salvação. Tudo fala de dom: dom oferecido e dom recebido. Doando-se ao Pai no Espírito Santo, Jesus doa sua Mãe ao discípulo: ‘Eis a tua Mãe’. Estas palavras constituem a grande revelação de que Cristo é o primogênito de muitos irmãos: Cristo e o discípulo amado (ou seja, a Igreja) são um ser vivo e, portanto, têm uma só e mesma Mãe. Aparece aqui descrito o nascimento da Igreja, formada pela indissolúvel união entre Cristo e seus discípulos: dentro dessa comunhão há a presença materna de Maria. A unidade e a comunhão entre Maria e os discípulos são expressas por ‘uma só casa’, a mesma casa para Maria e o discípulo de Jesus (cf. Jo 19,27)” (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Pentecostes – Missa do Dia

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3-7.12-13; Jo 20,19-23)

1. Certamente já nos ocorreu de ver pessoas empurrando um carro e um motorista tentando fazer o mesmo funcionar. Esses tentam imprimir certa velocidade para que o motor venha a funcionar. Com muita insistência e cansaço eis que inesperadamente ele volta a funcionar. Um alívio para todos.

2. Assim podemos também imaginar a vida cristã. Se vai adiante aos empurrões, com cansaço, sem grandes progressos. Esquecidos, muitas vezes, que temos a disposição um motor potentíssimo – a ‘força do alto’ – que espera só ser colocado em uso. A festa de Pentecostes quer nos ajudar a descobrir esse motor e como colocá-lo em ação.

3. Escutando a 1ª leitura e o evangelho podemos ter a impressão de uma aparente contradição. Lucas fala da vinda do Espírito em Pentecostes, uma festa judaica, cinquenta dias depois da ressurreição, João nos fala de um sopro do Espírito naquela mesma tarde do domingo de Páscoa. Temos dois Pentecostes diversos?

4. Em certo sentido sim; mas as duas narrativas não se excluem, mas se integram. São duas maneiras diferentes de apresentar a função do Espírito que são igualmente válidas. Lucas vê o Espírito Santo como princípio de unidade e universalidade da Igreja e como força para a missão, por isso temos pessoas de diversas nacionalidades.

5. Para João, o Espírito é o princípio de vida nova que brota da morte de Cristo, por isso acentua sua manifestação no dia mesmo da Páscoa. Poderíamos dizer que João nos diz de onde vem o Espírito: do lado aberto de Cristo; Lucas nos diz aonde nos leva o Espírito: até os confins da terra.

6. Mesmo os símbolos usados para falar do Espírito Santo são diferentes. Mas ambos nos remetem ao significado da palavra hebraica ruach: vento, sopro ou suspiro. Lucas prefere o vento que coloca em relevo a força do Espírito Santo. João conhece esse significado do vento, mas privilegia a dinâmica do sopro, numa referência ao hálito que deu vida a Adão.

7. Mas voltemos a essa festa judaica de Pentecostes onde Lucas situa a vinda do Espírito. Ela tem vários significados ou tradições atreladas, mas no tempo de Jesus ela estava ligada à entrega das tábuas da Lei no monte Sinai e a aliança estabelecida entre Deus e seu povo.

8. Assim, Lucas quer nos indicar que o Espírito Santo é a nova Lei espiritual que se origina da nova e eterna aliança realizada em Cristo. Uma lei escrita não mais em pedras, mas no coração. Diferentemente do temor que dominava a vivência da Aliança no Antigo Testamento, somos chamados a viver a nossa fé por íntima convicção e por atração. Deus é pai e não patrão.

9. Em 1967 um grupo de pessoas fez uma nova experiência de Pentecostes e deu início ao movimento de Renovação Carismática Católico, que nos ajuda a entender a diferença entre os dois modos de viver a fé.

10. Para concluir lembro de uma história que tem uma versão bastante cômica e adaptada pelo Pe. Leo, que nos fala de uma família de italianos que ao início do século XX viaja para os Estados Unidos levando consigo para a viagem pão e queijo, pois não tinham dinheiro para pagar o restaurante do navio. Com o passar dos dias e das semanas, o pão vai mofando e o queijo se estragando. O filho, a certa altura, já não suporta mais aquilo e começa a chorar. Os pais fazem um esforço e buscando o pouco dinheiro que tinham lhe dão para uma refeição no restaurante. O filho vai, come e volta aos seus pais todo em lágrimas. Os pais não entendem porque ele chora, já que teve a oportunidade de uma boa refeição. Ele lhes responde: “Choro porque uma refeição ao dia no restaurante já estava inclusa no bilhete de passagem, e nós ficamos comendo pão e queijo todo esse tempo”.

11. Muitos cristãos fazem a travessia da vida a ‘pão e queijo’, sem alegria, sem entusiasmo, quando poderia ter a cada dia, espiritualmente falando, todos os bens de Deus que estão ‘inclusos’ no ser cristão: a certeza do amor de Deus, a coragem que dá a sua palavra, a alegria que vem da experiência do Espírito e da comunhão com os irmãos, tudo resumido e oferecido a nós concretamente no banquete da Eucaristia.  

12. O segredo para experimentar esse ‘novo Pentecostes’ se chama desejo! É a faísca que acende o motor que falávamos ao início. O próprio Lucas nos diz que Deus está disposto a dar o Espírito Santo a quem o pedir (Lc 11,13). Peçamos, portanto, como insistentemente nos propõe a liturgia de hoje. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 27 de maio de 2023

(At 28,16-20.30-31; Sl 10[11]; Jo 21,20-25) 7ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘Se eu quero que ele permaneça até que venha, o que te importa isso? Tu, segue-me!’” Jo 21,22.

“Esse texto foi por muitos interpretado como uma promessa da parte de Jesus de que o Apóstolo João – a quem se atribuía a autoria do Evangelho de João – não morreria, mas permaneceria vivo até o seu retorno, inclusive criando uma tradição de que João não teria morrido. Mas o enfoque desse texto não é um comentário de Jesus, mas sim o mandamento: segue-me tu! O convite para seguir Jesus é maior que as condições para fazê-lo, é mais importante do que o que acontece ao redor. É central na fé e no discipulado. E mais: aqui, já no final do Evangelho de João, o convite para o seguimento significa seguimento na entrega total, no doar a vida pelo Reino. Jesus convida-os a seguirem no martírio. O quanto nós estamos dispostos a entregar a nossa vida ao projeto que acreditamos ser a realização de Deus? Ou deixamos que as coisas secundárias influenciem nosso caminhar, enfraquecendo nossa entrega e decisão. Como é frequente desviarmos de nossas obrigações focando na pessoa do outro, muitas vezes transferindo para o outro nossas frustrações, limites e fraquezas. Ou nos deixando guiar pela inveja que mina a vida fraterna. O convite ao seguimento é sempre chamado à conversão! – Senhor da vida e da realidade, Criador e Santificador de tudo, Tu és nosso sustento e nossa força, a razão e a recompensa da nossa jornada. Queremos construir uma vida totalmente voltada para ti, assumindo cada dia os valores do Reino, testemunhando nossa fé na prática da caridade e do amor fraterno. Ilumina nossa disposição, Senhor, para que não nos falte o empenho, e para que as nossas falhas não sejam definitivas, mas que sempre sejamos capazes de recomeçar quando necessário, sem perder a esperança que gera vida nova. Amém!” (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de maio de 2023

 (At 25,13-21; Sl 102[103]; Jo 21,15-19) 7ª Semana da Páscoa.

“E disse de novo a Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’ Pedro disse: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus disse-lhe: ‘Apascenta minhas ovelhas’” Jo 20,16

“Jesus chama à vocação de pastor. Apascentar não remete apenas para a imagem romântica do pastor descansando à sombra, de olho nas ovelhas que pastam tranquilamente. O pastor está junto com as ovelhas, tão junto e tanto tempo que elas o conhecem. Ao sair à procura de pastagens, permanecendo dias antes de voltar, o pastor encontra abrigo para as ovelhas, e permanece com elas. Elas o reconhecem pelo cheiro, pela proximidade, pela voz, sabe que ele as protege. Se aparece um animal selvagem, o pastor enfrenta, pois suas ovelhas são sua vida. Sua vida é protege-las, guia-las.... Apascentar é servir.... Quando Jesus pede a Pedro para ser pastor, Ele não faz de qualquer modo. Primeiro estabelece o fundamento necessário. Deixa claro aquilo da dá sentido e força para o serviço: ‘Tu me amas?’. Só quem ama pode servir assim, gratuitamente. E quem ama serve. Agora, apascentar a comunidade dos filhos de Deus tem ainda outro significado... Nenhum cristão tem vocação para marionete. A ovelha é aquela que ouve e segue o pastor porque confia, porque o conhece. Não porque não tenha escolha ou não se importe com isso. Obediência cristã está na linha da confiança, da adesão, da consciência. Nunca de uma cegueira alienada, de um rebanho indiferente que se deixa levar. A vocação de apascentar é também de colaborar para que as ovelhas cresçam em sua adesão livre ao Cristo, na comunidade, pessoalmente. O pastor conduz as ovelhas no caminho do amadurecimento, de verdadeiro crescimento espiritual. – Obrigado, Deus, por tantas pessoas que dedicam suas vidas ao cuidado da tua comunidade, ao cuidado da tua família. Como São José encontrou forças e condições para amparar a família de Nazaré, que cada um à frente do teu rebanho possa verdadeiramente cuidar, servir e amparar os que buscam a ti. Amém!” (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 25 de maio de 2023

(At 22,30; 23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 7ª Semana da Páscoa.   

“[...] para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós,

a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”. Jo 17,21.

“Quem está uno em si é capaz também de se unir aos outros. Mas por outro lado é verdadeiro também que só podemos encontrar a nossa singularidade quando descobrimos a nossa união com os outros, com Deus e com todo o universo. A união não é uma simples circunstância. É necessário procurá-la. Para Jesus, a unidade da Igreja não se resume na proclamação da doutrina pura que não admite dissenso. O que importa é que a Igreja não se afaste da palavra de Jesus, para que este lhe abra os olhos de modo que ela possa ver a realidade como ela é, ou seja, a glória de Deus que se manifesta na carne deste mundo. Na palavra de Jesus, a Igreja se descobre como sendo desse mundo, tendo parte, inclusive, em todos os conflitos que caracterizam esse mundo, as lutas de poder, as rivalidades, as ciumeiras e as intrigas; mas ao mesmo tempo ela está mergulhada no mundo de Deus. Estando no mundo ela não é, no entanto, desse mundo. Ela respira a liberdade de Deus. E essa liberdade é uma conquista constante em que o cristão individual se distancia do mundo de ódio e de alienação para mergulhar no âmbito divino do amor, da paz e da luz” (Anselm Grun – Jesus, porta para a vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de maio de 2023

 (At 20,28-38; Sl 67[68]; Jo 17,11-19) 7ª Semana da Páscoa.

“Quando eu estava com eles, guardava-os em teu nome, o nome que me deste. Eu guardei-os

e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para se cumprir a Escritura” Jo 17,12.

“Jesus não poupa seus discípulos das tribulações que o mundo lhes prepara. Melhor dizendo: o Mestre não lhes reserva um lugar especial, geograficamente separado, onde estejam imunes de tentações. A prova de sua fé acontece no confronto com o Maligno. É então que podem dar mostras da solidez ou da fragilidade de sua adesão ao Senhor. No colóquio com o Pai, Jesus alude ao fato da deserção de um discípulo, seduzido pelo Maligno: ‘Nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição’. Nesta dolorosa exceção, sente-se como que fracassado em sua missão. Todo seu ministério foi marcado por uma dedicação exemplar àqueles que o Pai lhe confiara. Guardava-os, com desvelo, para não se desviarem do caminho. Falava-lhes do Pai, revelando-lhes a sua face amorosa. Consagrou-os na verdade e os enviou para serem continuadores de sua missão. Entretanto, além de não tê-los segregado, também não os privou da liberdade. Assim, ficou aberto o espaço para a infidelidade e a deserção. Alguém deu mais atenção ao mundo que à palavra do Mestre. Foi o que fez Judas, o ‘filho da perdição’. Foi-lhe franqueada a salvação. Ele, porém, a rejeitou. A perseverança dos discípulos é obra do Espírito, força divina que os move a resistir diante das sugestões do Maligno. Quem é cauteloso sabe como precaver-se! – Pai, reforça minha fidelidade a Jesus, de maneira que o Maligno não prevaleça sobre mim. Protege-me contra a maldade do mundo, consagrando-me na verdade (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de maio de 2023

 (At 20,17-27; Sl 67[68]; Jo 17,1-11) 7ª Semana da Páscoa.

“Manifestei o teu nome aos homens que tu me deste no meio do mundo. Eram teus e tu os confiastes a mim,

e eles guardaram a tua palavra” Jo 17,6.

“Após o sermão proferido aos seguidores, Jesus ora. E que oração! Estava para ser preso e crucificado, mas não choraminga, não se volta contra o mundo mau nem pede para ser libertado das garras da morte. Sua oração era só intercessão, louvor, agradecimento. Que exemplo! Mas a oração também inclui algo muito importante sobre os discípulos. Jesus diz que havia revelado o nome de Deus aos discípulos. Isso é verdade. Mas quem não sabe o nome de Deus? Ora, o Nome de Deus é Deus mesmo, ou Senhor, Javé ou vários outros que a Escritura hebraica nos apresenta. Não seria necessário que um ser viesse do céu apenas para fazer essa revelação. No entanto, Jesus a fez. E por quê? Porque para Ele revelar o nome não era um dado puramente formal. Implicava, acima de tudo isto: desvendar a natureza amorosa de Deus; por isso, o nome que Jesus mais usava em relação a Deus era ‘Pai’ e o Pai-nosso acabou se tornando a sua oração-modelo. Mas Jesus diz mais: eles eram teus e Tu os destes a mim. Eles eram de Deus porque eram crentes no Antigo Testamento, ou porque Deus os havia escolhido desde a Antiguidade? Não podemos ser taxativo quanto a uma ou outra possibilidade, mas escolho a segunda opção, pois a predestinação para o bem, ou seja, para a salvação eterna, é um fato que ocorre em conexão com a Palavra. Sem a Palavra não se pode falar em predestinação, já que predestinação é evangelho e o Evangelho está contido na Palavra. Ora, o final do texto nos diz que eles guardaram a sua Palavra. Se, então, eles guardaram a Palavra, isso nada mais indica a não ser isso: a íntima conexão entre predestinação e Palavra. Separa-las é perverte-las. Pois bem, tudo o que Jesus pediu e afirmou naquela oração. Ele o fez também em relação a nós: nós também somos de Deus e fomos dados a Jesus, pois estamos na Palavra de Deus. – Senhor Jesus, com toda a nossa fraqueza guardamos a Palavra, que não é só do Pai, mas também tua. Ajuda-nos a guardá-la com o zelo. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de maio de 2023

 (At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29-33) 7ª Semana da Páscoa.

“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações.

Mas tende coragem! Eu venci o mundo!” Jo 16,33.

“Com estas palavras encerra Jesus seu discurso antes da Paixão, e com estas palavras abre agora o evangelista João o relato da Paixão do Senhor. Com elas, Jesus adverte a todos aqueles que haverão de ser seus discípulos sobre a necessidade do sofrimento; dá-lhes, porém, uma palavra de encorajamento para que não desfaleçam em meio às tribulações e propõe-se a si mesmo como exemplo para todos. Se somos discípulos de Jesus, será imprescindível que estejamos dispostos ao sofrimento, pois todos temos de carregar a cruz, como a carregou o Mestre. Sofremos por nossos defeitos, que em não poucas ocasiões nos doerão e nos humilharão; farão com que suportemos o próximo, as enfermidades, os desgostos, os dissabores e as moléstias do trabalho e da vida diária, as humilhações na relação com os outros e em centenas ou milhares de outras ocasiões. Sofremos dores no corpo e penares na alma, sofremos em nós mesmos e nas pessoas que amamos; sofremos da parte de Deus, que nos quer provar e purificar, e da parte do demônio que quer levar-nos a perder a paciência e a rebelar-nos contra a providência de Deus. Pois bem, por muito dolorosos que sejam nossos sofrimentos, Jesus Cristo sofreu mais que nós e está junto de nós, sobretudo quanto sofremos. Se tivéssemos isso presente, nossos sofrimentos seriam suportáveis, porque as penas repartidas com Jesus Cristo aliviam-se e se suavizam. Pelo contrário, se pretendemos levar a cruz sozinhos, fica muito pesada e difícil de suportar. Em meio aos nossos sofrimentos, quaisquer que sejam eles, não nos separemos do Senhor e não esqueçamos de procurar sua companhia. Cristo venceu a dor, você também tem de vencê-la, e vence-a aprendendo a vê-la em Cristo crucificado; quem aprendeu a unir sua dor pessoal À dor redentora de Cristo, esse é o que venceu a dor, porque lhe deu um sentido de redenção de si mesmo e dos outros homens” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Ascensão do Senhor – Ano A

  (At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mt 28,16-20)

1. Lendo os textos dos evangelhos que tratam da Ascensão de Jesus, percebe-se uma aparente contradição nas orientações de Jesus aos seus discípulos. Enquanto no texto de hoje ele diz aos discípulos ‘ide’, Lucas registra uma outra orientação: os discípulos devem ‘permanecer’ em Jerusalém até receberem o Espírito Santo.

2. E assim Lucas registra essa permanência na cidade na 1ª leitura. Certamente Jesus deve tê-los enviados a proclamar Boa Nova, mas deve ter reavaliado os riscos da empreitada, podemos pensar assim, e estes esperaram a força do alto, pois sem o Espírito Santo, a mensagem poderia soar falsa, pouco credível.

3. Antes de iniciar sua missão, os apóstolos precisaram de um tempo de oração, contemplação. É preciso ‘ir’ e ao mesmo tempo ‘permanecer’. Um cristão sem um mínimo de vida de oração é alguém que anuncia a si mesmo.

4. Esse paradoxo de ‘permanecer e ir’ não é algo que diz respeito tão somente a existência individual. Isso deve caracterizar a vida da Igreja de toda comunidade cristã, de cada grupo. A vida cristã é, por essência, comunitária, mas é também comunicativa. Assim podemos entender a expressão do Papa Francisco ao falar-nos de uma Igreja em saída.

5. Sem essa saída, a Igreja não faria outra coisa senão girar em torno de si mesma: seus próprios problemas, seus direitos, suas coisas, seu próprio prestígio, etc. Pode faltar-lhe a vida, tornar-se tão somente um coágulo, ao invés de ser um fermento na massa, como pensava Jesus.

6. Uma comunidade fechada sobre si mesma se reduz a um gueto e termina por envolver-se em preocupações banais, e entrincheirar-se em atitude defensiva.

7. Há muito a existência cristã se encontra diante de um duplo risco. Perder-se num projeto com relação a Deus e ao transcendente, que deixa de fora quase todo o espaço de uma autêntica relação com os irmãos. Ou mesmo o oposto de consumar-se num ativismo frenético e obsessivo do que deve ‘fazer’.

8. Estes dois perigos opostos veem superados somente com uma visão completa e unitária da vida eclesial, onde o ‘permanecer’ é em função de uma precisa e dolorosa responsabilidade para com o outro. E ‘sair’ se torna a manifestação obrigatória daquilo que se possui em profundidade. Em resumo: ‘ser’. Mas também ‘ser para’.

9. Se nos preocupamos quase exclusivamente do nosso jardim pessoal ou do grupo, o mundo permanece um deserto. Uma Igreja precisa, diz um autor, de escadas para o Alto, sem a qual se torna vazia e será uma simples organização. Precisa de pontes que a liguem com as realidades em torno e com os outros.

10. Um Igreja que tenha escadas e pontes suficientes não é uma comunidade excepcional. É simplesmente uma comunidade que quer ser fiel Àquele que lhe assegurou: ‘Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo’. Aquele que um dia ‘desceu’ até nós para convidar-nos a olhar para o alto, mas também nos exortou a não perder de vista essa terra... 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de maio de 2023

(At 18,23-28; Sl 46[47]; Jo 16,23-28) 6ª Semana da Páscoa.

“Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai” Jo 16,28.

“A existência de Jesus pode ser definida como uma longa caminhada cujo ponto de partida e de chegada é o Pai. Saiu de junto do Pai e veio ao mundo. Ao concluir sua missão, regressou para junto dele, e, com ele, está em perfeita comunhão. Jesus veio da parte do Pai, na condição de enviado. Este é um dado fundamental de sua identidade e de sua ação. Caso contrário, toda a sua aspiração não teria sentido, e suas palavras cairiam no vazio. Suas palavras e seu testemunho tinham valor em vista de sua condição de Filho de Deus. O mundo foi a meta da vinda de Jesus. Afinal, ele veio para salvar o mundo de seus pecados, fazendo jorrar vida abundante onde imperava a morte. Veio para fazer brilhar a luz da verdade libertadora onde imperavam as trevas do pecado. Uma vez concluída a sua missão, o Filho de Deus deveria voltar para junto do Pai. Ele agiu como todo enviado em missão, que volta e presta contas a quem o enviou. Jesus tem consciência de ter cumprido fielmente a missão recebida. Por sua fidelidade, tornar-se-á o grande intercessor dos discípulos junto do Pai. Doravante, eles deverão dirigir-se ao Pai, invocando o nome de Jesus, para serem sempre atendidos. – Pai, dá-me um coração que saiba reconhecer e agradecer tudo quanto teu Filho fez para salvar a humanidade pecadora. E que seja ele o meu eterno intercessor junto de ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de maio de 2023

  (At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23) 6ª Semana da Páscoa.

“Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente, e o vosso coração se alegrará,

e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” Jo 16,22.

“Naquelas horas densas e tensas, nas quais foram pronunciadas as palavras mais profundas da humanidade e nas quais também se armou um trágico véu de despedida, os discípulos se mostravam compreensivelmente abalados, tristes. Tristes psicologicamente. Tristes espiritualmente. Tivessem eles a fortaleza da fé, que depois teriam, a tristeza seria apenas psicológica. Mas a fé lhes ruía, o futuro ia-se-lhes embora. Nada mais lhes restaria senão a lembrança de um mestre bondoso, sábio, com poder de realizar milagres – que lhes seria tirado muito provavelmente pela própria morte. O que ficaria dele senão palavras profundas e incompreensíveis, naquele momento, pelo menos? Tristeza, pois, era o que mais se esperava. É por isso que Jesus lhe diz: ‘[...] mas eu vos verei de novo’. Poderia ser apenas slogan. Poderia ser um consolo vazio. No entanto, era uma promessa válida garantida por um homem de valor. Afinal, quem era esse Jesus? Não era Ele o filho unigênito do Pai? Não era o cordeiro de Deus? Não era aquele que em três dias iria ressuscitar? Era. E com certeza os discípulos até se lembravam de uma ou de outra expressão, pois a memória não se apaga de uma hora para outra. Mas a memória, se não vem escorada por uma fé inabalável, logo desmorona e fica exposta ao mau tempo das coisas inúteis quando não ao próprio esquecimento. Por isso, a nota de aviso: ‘[...] eu vos verei de novo’. Se os discípulos creram, ou não creram, ou se creram numa profundidade menor que o próprio Jesus pretendia, o texto não deixa claro. Mas uma coisa é certa: nós, hoje, também estamos longe de Cristo. A espera deles foi de apenas três dias. E a nossa? – Senhor Jesus, aguardamos tua vinda como a suprema libertação das nossas dúvidas e angústias. Enquanto não vens, socorre-nos com a presença do teu Santo Espírito. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de maio de 2023

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 6ª Semana da Páscoa.

“E, como tinham a mesma profissão – eram fabricantes de tendas –, Paulo passou a morar com eles

e trabalhavam juntos” At 18,3.

“O Apóstolo Paulo trabalha para se sustentar, mas não renuncia de modo nenhum à única razão da sua vida: proclamar que Jesus é o Cristo. Lucas anota-o três vezes em poucas linhas: ‘Todos os sábados, Paulo falava na sinagoga, procurando convencer tanto judeus como gregos’ (v. 4); ‘Paulo consagrou-se totalmente à pregação, afirmando aos judeus que Jesus era o Messias’ (v. 5); ‘Paulo demorou-se ali ano e meio, a ensinar aos coríntios a Palavra de Deus’ (At 18,11). A perspectiva é clara: Paulo dedica-se por inteiro à Palavra, anunciando Jesus a quem ainda O ignora. Trata-se de uma primeira apresentação sumária e essencial, com a finalidade de converter. Mas encontra também tempo para a apresentação mais sistemática, aprofundada (‘ensinava’). E o ensinamento requer o esforço de persuasão, ‘procurando convencer’: as palavras do Apóstolo não são frias e distintas, mas sentidas e vividas, palavras têm a força do testemunho e não só do raciocínio. Ele discute, confronta-se, avalia os prós e os contras, apresenta razões, cita as Escrituras, rebate as objeções. A parte central da pregação de Paulo é sempre o mesmo: ‘Jesus é o Messias’ (cf. v. 5)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de maio de 2023

(At 17,15.22—18,1; Sl 148; Jo 16,12-15) 6ª Semana da Páscoa.

“Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à plena verdade” Jo 16,13.

“Novamente o Senhor Jesus repete aos apóstolos a promessa de que lhes enviará o Espírito Santo que deverá complementar a obra que o próprio Jesus tinha iniciado neles. O Espírito abrirá à Igreja de Jesus novos horizontes, novos campos, novas realidades e conduzi-la-á em meio a borrascas e tormentas, a inseguranças e fracassos, a cárceres e martírios. A história da Igreja não pode explicar-se sem a assistência peculiaríssima do Espírito Santo, que em não poucas ocasiões torna visível sua proteção. É também o Espírito Santo aquele que vai descobrindo à sua Igreja as intimidades da realidade divina, que atua nas almas verdadeiramente espirituais. Com efeito, as almas de elevado voo nas regiões da vida espiritual sempre foram almas muito dóceis ao Espírito Santo, que com suas inspirações foi-lhes dando a conhecer os segredos do amor e com suas moções as impulsionou a uma correspondência fiel às exigências da graça. Deixe-se guiar também pelo Espírito de Deus, não afogue em si mesmo (a) esses impulsos. Em determinadas ocasiões você sentirá a voz do Espírito; seja em uma comunhão recebida com mais atenção do que comumente você a faz, e na qual você se colocou em diálogo amoroso com o Senhor sacramentado; seja uma meditação demorada e calma, na qual você foi analisado sua situação espiritual diante do evangelho; seja em alguma leitura de algum tema de espiritualidade, ou na conversa com um amigo, ou no intercâmbio de experiência religiosa com seu grupo de irmãos cristãos; seja em centenas de outras ocasiões, você poderá sentir em sua intimidade o desejo de uma vida mais perfeita, mais cristã, mais apostólica. É o Espírito que a/o está inspirando; não se faça de surdo (a), não recuse o Espírito. Escrevendo São Paulo aos cristãos da Igreja de Éfeso, advertia-os de que, em particular, deviam evitar certas palavras, que, por serem contra o amor, vão contra o Espírito Santo, ao qual deviam todo respeito, e assim lhes dizia: ‘Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem. Não contristei o Espírito Santo de Deus, com qual estais selados para o dia da redenção’ (Efésios 4,29-30)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de maio de 2023

(At 16,22-34; Sl 137[138]; Jo 16,5-11) 6ª Semana da Páscoa.

“Mas, porque vos disse isso, a tristeza encheu os vossos corações” Jo 16,6.

“Os corações dos apóstolos ‘encheram-se de tristeza’ porque escutaram que Jesus ia-se para o Pai e deixava-os, privando-os de sua presença física da qual tinham fruído até então. É verdade: é mais importante a presença espiritual que Jesus lhes prometia, ao enviar-lhes o Espírito Santo; mas era muito legítima a alegria que Jesus dava a seus apóstolos com sua presença física, da qual agora os privava; era, pois, também legítima a tristeza dos apóstolos. Em sua vida espiritual haverá momentos, nos quais você sentirá a presença de Deus em sua alma; isso plenificará você com alegria e paz profundas. Mas quando o Senhor o privar desses consolos e alegrias e, em troca, permitir que cheguem os momentos de aridez espiritual, nos quais você não sinta mais que sua pequenez e miséria, não desanime por isso, mas implore, ao invés, a vinda do Espírito Santo. Vivência – Jesus é o centro de nossa vida espiritual. Todas as nossas obras hão de ser encaminhadas para que seja glorificado o nome de Jesus em nós. O Pai e o Espírito Santo glorificam Jesus e dão-nos com isso uma norma para nossa vida. O lema é como que a síntese de nossa vida deve ser o que foi exposto pelas palavras com que se encerra a oração eucarística da Missa: ‘Por Cristo, com Cristo e em Cristo’. Tudo por Jesus, tudo com Jesus e tudo em Jesus, para que tudo redunde na maior glória do Pai. Jesus não se afaste nunca nem de seu pensamento, nem de seu coração, para que assim sua vida não se afaste de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de maio de 2023

  (At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4) 6ª Semana do Tempo Comum.

“Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai,

ele dará testemunho de mim” Jo 15,26.

“Uma das funções do Espírito da Verdade é a de dar testemunho de Jesus. Sua ação em favor dos discípulos consiste em convencê-los da veracidade da pessoa e dos ensinamentos do Mestre. O conteúdo do seu testemunho será o próprio Jesus. Tal testemunho faz-se perceptível na própria ação dos discípulos. Pelo fato de o Espírito manter sempre viva no coração deles a imagem de Jesus, estão em condições de mostrar a todos a verdade do Filho de Deus, que veio armar sua tenda no meio da humanidade carente de salvação. A ação do Espírito da Verdade predispõe os discípulos a enfrentar a perversidade do mundo, sem se intimidarem. Afinal, a missão deles consistirá em levar a luz de Cristo para quem caminha nas trevas do erro e da mentira. Move-os a esperança de que a humanidade marcada pelo pecado acolha a palavra de Jesus para ser salva. O testemunho do Espírito supõe do discípulo total discernimento e docilidade para acolhê-lo, pois ele o recebe em meio a hostilidade que, muitas vezes, o impedem de captar com clareza a moção do bom Espírito. Por outro lado, o mau espírito, encarnado nos adversários, busca inculcar-lhe dúvidas a respeito da pessoa de Jesus, e da credibilidade de suas palavras. Só com muito discernimento e disposição para deixar-se guiar pelo Espírito, é possível manter-se fiel a Jesus. – Pai, que o testemunho do Espírito cale fundo no meu coração e seja acolhido com discernimento e docilidade, de modo a consolidar minha fé no Senhor Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo da Páscoa – Ano A

 (At 8,5-8.14-17; Sl 65[66]; 1Pd 3,15-18; Jo 14,15-21)  

1. “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Para entender essa expressão de Jesus que abre o nosso evangelho, é preciso evitar uma interpretação redutiva do termo ‘mandamento’. Não se trata somente de normas, leis, prescrições, proibições.

2. É necessário superar uma visão meramente legalística e jurídica, para atribuir ao termo ‘mandamento’ o sentido mais amplo de ‘ensinamentos’. Aqui se trata do ensinamento de Jesus em seu complexo. Não uma lista de rígidas disposições legislativas, mas uma mensagem. Não um código, mas um Evangelho.

3. É justamente esse evangelho que vem ‘acolhido’ como Palavra de Deus, e vai ‘observado’, ou seja, deve tornar-se princípio inspirador da conduta pessoal. Não numa ótica de medo, mas numa perspectiva de liberdade e de amor. O problema aqui não é sentir-se bem porque os próprios comportamentos resultam dentro da ‘regra’. É necessário entrar no dinamismo do amor.

4. Percebam a dinâmica da Palavra: ‘Se me amais, guardareis meus mandamentos’; ‘Quem acolhe os meus mandamentos e os observa, esse me ama’; ‘’Quem me ama será amado por meu Pai’. Por essas frases percebemos que a vida cristã não é uma obrigação que se leva, um peso que se sustenta, um jugo opressor.

5. Trata-se de um convite a inserir-se em uma comunhão de vida, uma lógica de amor. O cristão é, essencialmente, um que se sabe amado. A partir dessa consciência, a nossa resposta se traduz na observância não de mandamentos, mas de um único mandamento, aquele que resume todo o ensinamento de Jesus, que constitui a síntese do Evangelho: o amor a Deus e ao próximo.

6. No Novo Testamento, o amor a Deus vem indicado com o termo ‘ágape’. Cristo nos informa que o comportamento de Deus com relação ao ser humano, não é colocado sob o sinal da justiça distributiva, mas do ágape. Ou seja, não estamos no campo da retribuição, mas do amor que doa, que se dá. 

7. O amor divino é espontâneo, gratuito, isto é, sem motivo exterior, indiferente aos valores. É inútil buscar a causa do amor de Deus nas qualidades humanas. O motivo do amor de Deus reside exclusivamente em Deus. Ele ama porque a sua natureza é amor, e basta.

8. Cristo nos revela esse amor nessa sua busca pelos que estão perdidos, frequentando a casa de pecadores, uma conduta reprovada pela Lei da época, mas que revela um amor que não se deixa determinar pelo valor do objeto, mas somente pela natureza divina. O amor humano é ‘motivado’. O amor divino é sem motivo. É espontâneo, é grátis. Seria terrível para nós saber que Deus nos ama porque somos bons, e enquanto somos bons...

9. É o amor criativo, pois amando confere valor ao objeto do seu amor. Deus não me ama pelas minhas qualidades ou méritos. Eu me torno precioso porque Ele me ama. O ágape é princípio criativo de valores. Por isso é também um amor preferencial, cada um tem um valor absoluto.

10. O amor de Deus cria comunhão. O amor não se conforma com a separação, com a divisão. Não espera que se mova o outro. É Deus mesmo que após toda a infidelidade humana, toma a iniciativa e vem ao encontro do ser humano. Um amor assim sempre espera uma resposta da nossa parte.

11. Em sua 1ª Carta (4,11), João afirma que Deus nos ama e que por isso devemos amar-nos uns aos outros. Ele não diz que devemos amar a Deus porque Deus nos ama. A nossa resposta vai transferida para as nossas relações. Para o próximo. Podemos ter a ilusão de amar a Deus, de permanecer no abstrato, na zona vaga dos sentimentos, nos contentarmos com as palavras.

12. O único instrumento que pode medir a intensidade do nosso amor a Deus é justamente a caridade para com o outro. Instrumento de precisão. E não somente nós podemos controlar, mas os outros estão em constante verificação se amamos de fato a Deus. Se assim não fosse viveríamos na mentira. Acrescenta João em sua carta: ‘Se alguém diz que ama a Deus e odeia seu irmão, é um mentiroso’ (1Jo 4,19). 

13. Concluamos com outro trecho que João nos apresenta na 2ª Carta e que se refere ao nosso evangelho: “E agora, Senhora, eu te peço – não te escrevo com isso um mandamento novo, mas o que temos desde o começo –, amemo-nos uns aos outros; nisto consiste o amor: em caminharmos conforme seus mandamentos. Tal é o mandamento que escutastes desde o começo, para caminhardes nele” (2Jo 5-6).    


Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 13 de maio de 2023

(At 16,1-10; Sl 99[100]; Jo 15,18-21) 

5ª Semana da Páscoa.

“Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim” Jo 15,18.

“Ao mútuo amor dos apóstolos, que Jesus lhes exige, agora o Senhor opõe o ódio, que o mundo desatará contra eles. A sorte que lhes cabe será idêntica à do Mestre, e o mundo perseguirá Jesus neles. O mundo odiou Jesus Cristo e odiará sempre os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo. Aquele que quiser praticar a virtude deve contar com o ódio dos maus, e esse ódio é um sinal para saber se verdadeiramente seguimos a Cristo. Se o mundo nos ama, examinemos nossa conduta; algo haverá nela que seja agradável aos olhos do mundo. Jesus Cristo entende por mundo os que seguem o espírito mundano e materialista oposto ao espírito sobrenatural e evangélico. O mundo detestará especialmente os cristãos comprometidos, os apóstolos, porque a missão do apóstolo é precisamente arrancar as almas das garras do mundo. O apóstolo deve procurar com sua pregação, com sua palavra e com seu exemplo dirigir os homens pelo caminho do bem e pela prática da virtude. O apóstolo trabalha e sacrifica-se para dilatar as fileiras dos verdadeiros filhos de Deus, dos discípulos de Cristo; é natural que o mundo o deteste. É perda de tempo querer angariar o carinho e as simpatias de todos; por melhor que seja um sacerdote, por muito que trabalhe um apóstolo, encontrará sempre, juntamente com a veneração e o carinho dos bons, o ódio dos maus, que o demônio encarregar-se-á de atiçar, para opor-se, o mais possível, ao fruto de seu apostolado. Mas não nos preocupemos; antes de nos detestarem odiaram a Cristo, e com ódio mais acirrados e mais rancoroso do que o que a contra nós desatam. Jesus Cristo pôde dizer a seus inimigos, quando procuravam apedrejá-lo: ‘Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais?’ (João 10,32). Assim deve ser nossa conduta e assim o desejo de fazer o bem a todos, seguindo o exemplo de Jesus Cristo: que se cumpra em nós a mesma sentença da Escritura, ‘odiaram-me sem motivo’. Porque, se apesar disso, odeiam-nos e nos perseguem, seremos bem-aventurados, por termos sofrido perseguição pela justiça; e o ódio e o aborrecimento dos maus seria então para nós sinal de predestinação” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 12 de maio de 2023

(At 15,22-31; Sl 56[57]; Jo 15,12-17) 

5ª Semana da Páscoa.

“Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” Jo 15,9.

“O mandamento que Jesus deixou aos seus discípulos, por ocasião de sua partida para o Pai, consiste no amor mútuo, a exemplo do que ele mesmo praticara. Como foi este amor? Foi um amor livre e gratuito. Jesus amou os discípulos, acolhendo livremente a iniciativa do Pai, em cujas mãos entregara sua vida. Seu amor foi gratuito. Não dependeu do reconhecimento dos discípulos para se tornar efetivo. Apesar das infidelidades, da dureza de coração e dos contínuos mal-entendidos, o amor de Jesus por eles se manteve inalterado. Foi, também, um amor oblativo. Doou-se aos discípulos, partilhando com eles tudo quanto possuía – seus conhecimentos, sua missão, sua filiação divina –, sem nada reter. Toda a existência de Jesus pode ser definida como uma total doação. Foi um amor radical. Jesus não ficou a meio-caminho, nem colocou limites à sua disposição de amar. Por isso, dispôs-se a dar a maior prova de amor que consiste em entregar a própria vida em favor do próximo. Sua morte de cruz deixou patente a radicalidade de seu amor pela humanidade. Foi, enfim, um amor divino e humano. Os gestos de amor de Jesus eram a encarnação do amor de Deus pela humanidade. Contemplando sua maneira de amar, chega-se a compreender como o Pai nos ama. – Pai, seja o amor de Jesus minha única fonte de inspiração para pôr em prática o mandamento do amor mútuo. Que eu me esforce por amar, como tu ama! (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 11 de maio de 2023

(At 15,7-21; Sl 95[96]; Jo 15,9-11) 

5ª Semana da Páscoa.

“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” Jo 15,9.

“Amor-comunhão. Esse é o modo de ser de Deus. Amor-ágape, disponível, doação. Não só a essência de Deus é Amor, mas também sua mensagem. A grande Boa Notícia ao mundo – de que Deus participa da vida dos seres humanos, ama todos os homens e mulheres, e toda a criação, a ponto de dar seu Filho à humanidade. Esse é o amor que transforma. É difícil encontrar Amor em nossa vida? Muitas pessoas passam a vida toda envolvida pelo Amor e nem percebem. Nem valorizam. Não se trata de romantismo, mas de relacionamentos verdadeiros, amizades, familiares, companheirismo que denota doação, serviço e verdadeiro amor. O cristão deveria ser aquele que pulsa nesse ritmo, que transparece a dinâmica do amor-serviço e da ação. Toda a humanidade é envolvida pelo Amor de Deus, Amor pleno, total. Nós é que criamos bloqueios para não senti-lo, não corresponder a esse Amor, pois isso exige muito de nós. Mas, por vezes, até nos damos conta de quanto somos amados. E esses momentos são realmente transformadores. Essa experiência de profunda imersão no amor de Deus pode surgir naturalmente, fruto de nossa caminhada e de uma vida bem vivida; ou pode aparecer como uma graça, um benefício em momento de muita necessidade; ou até como amparo confortador de nosso Deus num momento de grande e profunda tristeza e perda. Fato é que essa consciência tão grande de que somos amados sempre faz com que queiramos mais amar também, faz-nos mais generosos, mais misericordiosos e compassivos. Faz-nos pessoas melhores. Experimentar o Amor de Deus não é tão raro assim, visto que Ele ama incondicionalmente. Permanecer nesse Amor exige mais de nós, pois é continuar querendo amar mais, continuar cada vez mais generoso, cada vez uma pessoa melhor. – Que nunca nos afastemos de ti, Senhor. Antes, aprendamos a renunciar a nosso egoísmo, em favor, sempre, do irmão, reconhecendo o teu rosto no que sofre, no que luta, no que ama, no que vive. Amém!" (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 10 de maio de 2023

(At 15,1-6; Sl 121[122]; Jo 15,1-8) 

5ª Semana da Páscoa.

“Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei” Jo 15,3.

“Há no ser humano uma sujeira que lhe adere, uma sujeira imperceptível que lhe dirige os atos e mesmo os pensamentos, uma sujeira tão comum que leva o ser humano a acreditar que lhe seja ela natural, e tão natural que ele tem até o direito de a manifestar. Nos tempos atuais, essa dita sujeira nem é mais olhada como tal. Observem, por exemplo, os programas religiosos televisivos. Quantos deles falam na dita cuja: o pecado? Quantos acentuam a culpa herdada, essa que destrói o livre-arbítrio e leva o ser humano a sempre se afastar da graça de Deus mesmo quando procuram a Deus com todo o seu desespero? Pois bem, essa tal sujeira, a saber, o pecado, não se lava com boas intenções nem com sofrimentos. Ela é limpa pela Palavra de Deus e por uma palavra toda especial: o Verbo (‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus’ – Jo 1,1). Se, pois, Jesus é o Verbo, ao pregar. Ele se prega a si mesmo – tanto ao anunciar a vontade do Pai quanto a estar colado na cruz. Era por isso, e só por isso, que os discípulos estavam limpos e aptos a praticar as boas obras que o Pai lhes havia determinado, pois só aquele que permanece na videira (cf. Jesus em Jo 15,5) produzirá muito fruto. E Ele ainda acrescenta: ‘[...] sem mim nada podeis fazer’. A limpeza, portanto, é o perdão e sua aceitação, definida como fé. Na cruz temos a expressão máxima do perdão; na fé, a máxima expressão da humildade que surge da humilhação de sermos declarados pecadores, isto é, sujos espiritualmente e indignos de realizar qualquer coisa boa – mesmo que o queiramos fazer com todas as nossas forças. Lembremo-nos, porém: Cristo morreu por nós. Cristo nos limpou. Isso nos alegra. – Tua Palavra nos limpa. Por isso, eu, pecador com lascas de sujeira pelo corpo e pela alma, ao olhar pela viseira da cruz, vejo-me totalmente limpo, mas ao olhar pela viseira do meu próprio eu, vejo-me como sujo e indigno. Mas sei que me olhas sempre pela viseira da cruz. Por isso, pela fé, sei que estou limpo. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 09 de maio de 2023

(At 14,19-28; Sl 144[145]; Jo 14,27-31) 

5ª Semana do Tempo Pascal.

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo.

Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” Jo 14,27.

“Jesus prometeu-nos a sua paz e no-la dá, mas claramente nos adverte que não devemos confundir a paz que ele nos dá com a paz que o mundo dá. Com efeito, a alegria e a paz do mundo são passageiras: um sorriso, uma gargalhada, uma festa com baile e música, copiosa bebedeira, muito ruído até altas horas da manhã; tudo isso e coisas semelhantes, que vemos na vida mundana, podem ocultar grandes e profundas tristezas e comumente não é difícil que produzam dilaceradoras desilusões. A paz que Cristo dá é, ao invés, uma paz muito mais íntima, profunda, paz da alma que depressa transborda para o exterior, mas que se manifesta não alvoroçadamente, mas de mansinho. Aquele que tem Cristo vive em paz, pois pensamento algum é tão agradável ao coração como pensar que Cristo nos ama e está presente em nós. Daí que o cristianismo, que tem Cristo, não tem motivo para deixar-se levar pela tristeza, ainda nos momentos difíceis da vida, pois nada existe na vida que nos possa separar de Cristo; sempre será enriquecido o nosso coração com a segurança certa do prêmio, que temos de receber no céu. Vivência: Não pense que a tristeza agrada a Deus; os salmos repetem-nos com insistência evidente: ‘’servir ao Senhor com alegria’, ‘a música é boa’, ‘louvai o Senhor com instrumentos de música’, ‘servi ao Senhor com o coração transbordante de alegria’. A alegria também é um meio de evangelização; não apresente jamais a mensagem do Senhor como algo acabrunhante e entristecedor, mas com o exultante júbilo daquele que vive um Deus que é a felicidade dos eleitos e que preenche de infinita paz e alegria os que o aceitam e a ele se entregam” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 08 de maio de 2023

(At 14,5-18; Sl 113B[115]; Jo 14,21-26) 

5ª Semana da Páscoa.

“Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai,

e eu o amarei e me manifestarei a ele” Jo 14,21.

“Às vezes, ao pensarmos em Deus, em religião, em fé, surgem em nossa mente um monte de leis e regras, do que se pode ou não fazer... Mandamentos entendidos como aquilo que ‘manda’ em nossa vida, e não como as indicações de um caminho, como devem ser. Quando o mestre da lei questiona Jesus para colocá-lo à prova, sobre qual o maior mandamento (Mt 22), Jesus responde com simplicidade e clareza. De um Deus que é Amor, que simplesmente ama, o único mandamento essencial é justamente amar. Amar com todas as forças, com toda a vontade, com todo o entendimento. Amar esse Deus que é Amor, e amar àqueles que Ele ama. Talvez hoje quase se tenha perdido o verdadeiro valor da palavra amor, para a poesia, o romantismo, a literatura... e o servir, na prática, nem sempre é muito romântico. ‘Dar o braço a torcer’ e se reaproximar, pedir perdão, não importando quem está certo ou errado, apenas valorizando o dom do outro acima de tudo. É assim que Deus ama. Assim que somos chamados a amar. Essa grande Boa-nova de um Deus que, antes, ama, depois ama mais ainda, e sempre continua amando, realmente transforma a vida daqueles que conhecem e querem seguir o Cristo. O amor não nutre discórdia, inveja, mas é paciente e caridoso, quer servir antes de tudo, e proteger e se aproximar... revela o próprio Deus. Que essas escolhas, essas atitudes mostrem Deus em nossa vida. Proclamá-lo não é apenas gritar ou levar bandeiras, mas escolher a misericórdia, a compaixão, a caridade. Ter atitudes assim revelam o próprio Deus, revelam o que dá sentido e valor à vida. – Pai, ensina-nos a amar. Que nossas mãos estejam sempre estendidas a quem necessita. Que nosso rosto nunca se feche à miséria do irmão, mas se reconheça e se encontre na comunhão de nossa humanidade. Que o serviço por amor seja nossa força e nunca nosso fardo. Que sejamos mais como Tu, Pai, que vive e reina e ama para sempre! Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Páscoa – Ano A

 (At 6,1-7; Sl 32[33]; 1Pd 2,4-9; Jo 14,1-12)

1. O trecho que acabamos de escutar faz parte do ‘discurso de despedida’ ou ‘testamento de Jesus’. Os discípulos vêm jogados sem cerimônias diante de uma realidade inevitável: a partida já próxima do Mestre. O Verbo ‘vou’ retorna com cruel insistência, quase como que a varrer qualquer resíduo de ilusão.

2. Se fala de coração, casa, lugar, caminho.... Palavras que fazem parte do nosso vocabulário cotidiano. E que, na boca de Jesus, nos últimos instantes de sua vida terrena, assumem um significado particular.

3. O Mestre se preocupa em exorcizar dos próprios amigos o medo, imunizar os seus corações da ‘perturbação’. Para este fim, ele esclarece que a sua partida não é uma separação definitiva, algo irremediável. Se trata de um distanciamento que não determina uma ausência, um vazio, mas uma presença diferente, escondida.

4. Ele vai, mas para preceder. Para tomar posse de uma morada definitiva, de um lugar para eles. Ao final do discurso percebemos que ele não vai em direção a um lugar impreciso, mas a uma Pessoa: ‘Vou para o Pai’. Este é o ponto de chegada e não é inacessível aos discípulos. Através desse caminho que é Cristo, eles são encaminhados para a casa do Pai.

5. Jesus deixa claro que Deus não é um desconhecido. Já tiveram a possibilidade de contemplar o seu rosto: ‘Quem me vê, vê o Pai”. Poderíamos dizer que para combater a perturbação no coração dos discípulos, Jesus, mais que garantir o seu retorno, deixa uma espécie de fenda, um espaço luminoso por onde sempre poderão entrever, da morada terrestre, o ‘lugar’ onde está Jesus.

6. Há um autor que indica a ‘beleza’ como essa fenda que nos permite entrever o invisível. E belo não é somente aquilo que agrada, mais que ser uma festa para os olhos, o belo nutre o espírito e o ilumina. Dostoievski afirmava com segurança: ‘A beleza salvará o mundo’. Não sei quantas pessoas religiosas, hoje, concordariam com essa afirmação.

7. A beleza é um atributo, um Nome divino, mesmo que esquecido. No Gênesis, ao falar da sinfonia da Criação, ao fim de cada dia vem o refrão: ‘viu que era belo’ ou ‘bom’. Essa é a primeira beleza, degustada pelo ser humano. Na Bíblia há um termo que retorna com frequência para indicar Deus: sua glória. Trata-se, na realidade do esplendor da divindade, dessa irradiação luminosa da vida divina. 

8. Na Encarnação, reaparece a beleza de Deus sobre a terra. Ele não se faz apenas sentir. Se faz ver. Em Jesus ele toma um rosto, um ícone, como nos ensina a arte oriental: é possível conhecer Deus através da beleza. Em Jesus contemplamos esse rosto humano de Deus. À sua luz, toda a criação se torna um sacramento de Deus.

9. Nós temos a possibilidade de vislumbrar, contemplar, através do sensível, o invisível. Em Cristo, grande curador, restaurador da imagem original, o nosso rosto reencontra o esplendor da origem, a inocência da beleza primitiva. Na visão bíblica, a verdade e o belo, em simbiose viva, caracterizam a integralidade do ser e faz brotar a beleza.

10. Não consideramos aqui a beleza como aparência, um vão ornamento. Mas sim como manifestação do esplendor de Deus. Portanto, não fechemos essa fenda. Privando-nos desse ‘olhar’ sobre o outro mundo, aquele de Deus, não conseguiremos mais orientar-nos nesse mundo, que se tornaria tão somente hostil e insuportável. É para esse olhar que Jesus convida seus discípulos e a nós.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 06 de maio de 2023

(At 13,44-52; Sl 97[98]; Jo 14,7-14) 4ª Semana da Páscoa.

“Se vós me conheceis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes” Jo 14,7.

“O conhecimento já foi utilizado pelo ser humano de modos muito diversos. Foi sinal de devoção e reverência, objeto de cobiça e destruição, uma arma em muitas ocasiões. Cada vez mais se percebe, entretanto, que conhecer não deve ser igual a dominar. O conhecimento da natureza não se torna um aval para sua exploração desumana e manipulação irresponsável. Conhecimento é aproximação, experiência comum. O conhecimento de Deus também passou por fases ruins em sua história. Um pretenso conhecimento de Deus já foi motivo ou desculpa para muitas ações desumanizantes. E pior: um falso senso das coisas de Deus já foi desculpa para exclusão e condenação em nome de Deus.... Conhecimento de Deus só se dá pela própria graça de Deus agindo. Não nos é possível abarcar a imensidão do ser divino. Qualquer pretensão de limitação da ação de Deus é arrogância. Ninguém é capaz de definir a ponto de apontar num dizer taxativo: isso é coisa de Deus, e isso não é. Deus sempre nos surpreende! Todavia, Ele se nos revela de modo bastante coerente. Escolhe um caminho rumo à humanidade, para se mostrar de modo que possamos conhecê-lo....  Para se revelar o mais plenamente, o que Ele faz? Irrompe dos céus numa carruagem de fogo e esplendor? Não! Ele assume aquilo que tanto nos assusta.... Assume nossa fragilidade! Deus, para se tornar o mais acessível ao humano, faz-se ser humano. Assume nossa fraqueza. Faz-se um de nós. Jesus Cristo é a chave para o conhecimento de Deus por tudo o que sua caminhada e pregação apontam: sempre pautado pelos critérios da misericórdia, caridade e compaixão. É assim que conhecemos Deus. – Dá-nos, Senhor, amar tanto o vosso Filho que, mais do que falar dele, possamos imitar o que Ele fez. Permita-nos experimentar cada vez mais sua presença no irmão e reconhece-lo cada vez mais em nossa vida. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 05 de maio de 2023

(At 13,26-33; Sl 02; Jo 14,1-6) 4ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim’” Jo 14,6.

“Algumas viagens são para se chegar a um destino. Nessas viagens, o caminho é um mero coadjuvante, que deve ser vencido: quanto antes, melhor a jornada. Chegar ao destino, nesses casos, é o prêmio buscado, bem diferente do caminho, às vezes tortuoso, solitário e pesado. Essa jornada solitária, cujo caminho é algo como um mal necessário, não é o caminho em nossa fé. O caminho que leva a Deus em hipótese alguma resguarda uma recompensa unicamente ao final do caminhar sacrificante... Isso seria muito mecânico, frio, um itinerário desprovido de vida e mesmo de sentido. A jornada que aponta para Deus só começa com esse vislumbre que perpassa cada passo. Os magos, seguindo a estrela de Belém, já seguiam em companhia de Deus.... Eles já sentiam isso. Deus não é um pote de ouro no fim do arco-íris, ou um baú que enriquecerá o que o encontrar e somente quando encontrar o ‘x’ do mapa. Deus é quem motiva e mesmo possibilita a jornada. E acompanha cada passo. Esse caminhar acompanhado por Deus é a descoberta da verdade da vida: de que nunca estamos sós ou abandonados, ou à nossa própria sorte. Essa verdade fundamental é que compõe o próprio caminho que é nossa vida. Essa descoberta realmente transformadora, de que Deus não é um burocrata distante, preocupado com o saldo de nossas ações, mas Alguém que realmente se importa, que participa e que caminha conosco! Essa descoberta, essa nova possibilidade.... Nele somos filhos, somos caminhantes convidados e amparados. – Pai, ensina-nos a caminhar juntos! Nossa vida, nossos sonhos, nossa força, tudo vem de ti. E tudo ruma a ti. E contigo é que podemos seguir. Toma nossa vida em ação de graças e permita que a compaixão aflore, a misericórdia seja nossa marca e a caridade nossa guia. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 04 de maio de 2023

(At 13,13-25; Sl 88[89]; Jo 13,16-20) 4ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, o servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que enviou” Jo 13,16.

Os discípulos relutavam em aceitar que o Mestre Jesus lhes lavasse os pés. Este gesto foi interpretado como uma quebra de hierarquia e esvaziamento da autoridade. É que eles pensavam a sociedade organizada em camadas sociais, sobrepostas segundo a importância de cada uma, num sistema de precedências e privilégios. Jesus recusou-se a pactuar com esta mentalidade, oferecendo-lhes pistas para compreenderem a realidade de maneira diferente. Ele parte do princípio que ‘o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou’. Isto vale tanto para o Mestre quanto para os discípulos. Entretanto, trata-se de saber que o senhor é aquele que enviou Jesus, segundo a afirmação do Mestre. Sem dúvida, ele está falando do Pai, que fez de Jesus servo e enviado, e que acolhe também os discípulos do Filho como servos e os envia em missão. Se é possível falar em hierarquia, convém saber que só existe uma, a que sobrepõe Deus ao ser humano, o Criador à sua criatura. Além desta, qualquer tentativa de classificar as pessoas em mais ou em menos importantes será sem cabimento. Quem se imagina superior aos demais está usurpando o lugar de Deus. Só ele é o Senhor; todos nós somos irmãos e irmãs. Nesta perspectiva, o gesto de humildade de Jesus é perfeitamente compreensível. Ele agiu como servo, por ser servo. E, como ele, todos devem agir, pois também são servos. Portanto, o gesto de Jesus só é incompreensível para quem não pensa como Deus. – Pai, inculca no meu coração a certeza de que só tu és Senhor, e que entre os seres humanos deve reinar igualdade e solidariedade, sem opressão (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 03 de maio de 2023

(1Cor 15,1-8; Sl 18[19]; Jo 14,6-14) Santos Filipe e Tiago Menor.

“Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!’. Jo 14,8.

“Há uma outra ocasião, especialmente evidenciada, em que também entra em cena Filipe. Durante a Última Ceia, tendo Jesus afirmado que conhecer a Ele significava também conhecer o Pai (cf. Jo 14:7), Felipe perguntou com certa ingenuidade: ‘Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta para nós’ (Jo 14:8). Jesus respondeu com um tom de benévola reprimenda: ‘Faz tanto tempo que estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que você diz: ‘Mostra-nos o Pai?’ Você não acredita que eu estou no Pai e o Pai está em mim? .... Acreditem em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditem nisso, ao menos por causa destas obras’ (Jo 14:9-11). Estas palavras estão entre as mais inspiradas do Evangelho de João. Contêm uma revelação pura e verdadeira. Ao final do prólogo de seu Evangelho, João afirma: ‘Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai’ (Jo 1:18). Esta declaração, que é do Evangelista, é retomada e confirmada pelo próprio Jesus. Mas com um novo matiz. Com efeito, enquanto o Prólogo de João fala de uma intervenção explicativa de Jesus através das palavras de seu ensinamento, na resposta a Felipe, Jesus faz referência à sua própria pessoa como tal, dando a entender que é possível compreender isto não só no meio do que diz, mas, também, por meio do que simplesmente é. Utilizando o paradoxo da Encarnação, podemos afirmar que Deus concedeu-se um rosto humano, aquele de Jesus, e em consequência, a partir de então, se realmente queremos conhecer o rosto de Deus, só precisamos contemplar o rosto de Jesus. Em seu rosto vemos realmente quem é Deus e como é Deus! O Evangelista não nos diz se Felipe entendeu plenamente a frase de Jesus. O certo é que lhe dedicou completamente a sua própria vida. Segundo alguns relatos posteriores (Atos de Felipe e outros), o nosso apóstolo evangelizou primeiro a Grécia e depois a Frígia, e ali morreu, em Hierápolis, com um suplício que foi descrito como crucificação ou lapidação. Queremos encerrar nossa reflexão evidenciando o objetivo que deve ter a nossa vida: encontrar Jesus como Felipe encontrou, tentando ver nele o próprio Deus, o Pai Celeste. Se não fizermos este esforço, só veremos projetada a nossa imagem como um espelho e estaremos cada vez mais sozinhos! Em troca, Felipe nos ensina a deixar-nos conquistar por Jesus, a estar com ele e a convidar também os outros a compartilhar esta indispensável companhia. E vendo e encontrando a Deus, encontraremos a verdadeira vida” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 02 de maio de 2023

(At 11,19-26; Sl 86[87]; Jo 10,22-30) 4ª Semana da Páscoa.

“Os judeus rodeavam-no e disseram: ‘Até quando nos deixarás em dúvida?

Se tu és o Messias, dize-nos abertamente’” Jo 10,24.

“Muitas vezes Jesus havia dito aos judeus que ele era o Filho de Deus; de muitas formas diferentes havia demonstrado e provado o que afirmava; com numerosos milagres realizados à vista de todos tinha confirmado suas palavras e em não poucas ocasiões tinha-lhes demonstrado que as profecias do Antigo Testamento tinham-se cumprido nele. Porém os judeus resistiam a crer nele, a aceitar suas palavras e, não sabendo e não conseguindo contradizê-lo, voltam a interroga-lo: ‘Se tu és o Cristo, dize-nos claramente’ (v. 24), isto é, não com a linguagem enigmática das parábolas. De maneira premente, os judeus propõem a Jesus a questão messiânica, que mais tarde, antes da Paixão, o sumo sacerdote há de propor-lhe. As declarações anteriores de Jesus designavam-no com bastante clareza como enviado de Deus; mas para crer em Jesus, é preciso estar intimamente em sintonia com ele; como ele mesmo diz: ‘tem de ser de cima’, de Deus, da verdade. A fé supõe uma afinidade espiritual com a verdade; de outra forma não se entendem as palavras de Jesus; o homem materialista e o sensual, que só se preocupam com seus bens temporais e seu bem-estar, não estão dispostos a chegar a conhecer a divindade de Jesus, por mais provas que se lhe apresentem” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite