Terça, 01 de dezembro de 2020

(Is 11,1-10; Sl 71[72]; Lc 10,21-24) 

1ª Semana do Advento.

“O lobo e o cordeiro viverão juntos, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito, o bezerro e o leão

comerão juntos, e até mesmo uma criança poderá tangê-los” Is 11,6.

“Sonhamos com um mundo melhor. Sonhamos com a perfeição. Mas, num mundo imperfeito, cheio de pecado, parece-nos utopia visualizar o mundo profetizado pelo Profeta Isaias no texto de hoje. É o texto dos contrastes, das diferenças, dos impossíveis. Mas como para Deus nada é impossível, que tal vivenciarmos um mundo perfeito como este? O tronco ou a raiz é a geração de Jessé ou Davi. O rebento ou a flor de Cristo. Agora, assim como não é provável, muito antes inacreditável, que de um tronco seco e de uma raiz pobre brotasse um ramo bonito e uma linda flor, do mesmo modo não era de esperar que a Virgem Maria fosse mãe de semelhante filho. O Deus dos impossíveis surge novamente para nos mostrar que, por mais utópico que possa ser, é possível pensar num mundo melhor, numa aproximação maior com as pessoas que vivem ao nosso redor, numa reconciliação com aqueles que consideramos tão diferentes de nós. Tudo é possível. Hoje, num mundo do ‘politicamente correto’, aprendemos que somos diferentes, únicos, mas criaturas de um mesmo Pai. O que nos falta ainda é aprender a conviver com essas diferenças e respeitá-las. Num mundo em que se mata por diferenças religiosas, é preciso que o Espírito do Senhor repouse sobre todos para que se aprenda a respeitar, ou pelo menos tolerar. Caro(a) amigo (a), hoje aprendemos que é possível conviver. É possível amar até os inimigos, como Jesus nos ensinou. Para isto, precisamos abri mão de nossos conceitos ou ‘pré-conceitos’, e entender que somos diferentes, mas isto não nos impede de viver com paz no coração. Falta nos colocarmos no lugar do outro, independente da condição social ou mesmo intelectual. E isto é possível porque também Jesus se colocou no nosso lugar e sofreu pelos nossos pecados. – Senhor Jesus, que o Espírito do Senhor repouse também sobre cada um de nós para que o mundo se transforme a cada novo dia. Amém (Dougla Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de novembro de 2020

(Rm 10,9-18; Sl 18[19ª]; Mt 4,18-22) 

Santo André.

“Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar. Pois eram pescadores” Mt 4,18.

“André era irmão de Simão Pedro e como ele era pescador em Cafarnaum, para onde tinham migrado ambos da cidade natal de Betsaida. Jesus, - é demonstrado pelas profissões exercidas pelos doze apóstolos – deu preferência aos pescadores, embora no meio do colégio apostólico os agricultores estivessem representados por Tiago Menor e seu irmão Judas Tadeu, e os comerciantes e homens de negócio estão honrados com a presença de Mateus. Dos Doze, o primeiro a ser tirado das tranquilas e fecundas águas do lago de Tiberíades para receber o título de pescador de homens, foi justamente André, seguido logo de João. Os dois primeiros chamados haviam já respondido ao apelo do Batista, cujo grito os havia arrancado da pacífica vida do dia-a-dia para prepara-los para iminente chegada do Messias. Quando o austero profeta lhe indicou Jesus, André e João se aproximaram dele e com emocionante simplicidade limitaram-se a perguntar-lhe: ‘Onde moras?’, sinal evidente de que em seu coração já havia feito a escolha. André foi também o primeiro a recrutar novos discípulos para o Mestre: ‘André encontrou primeiro seu irmão Simão e lhe disse: ‘Achamos o Messias’. E o conduziu a Jesus’. Por isso André ocupa um lugar eminente no elenco dos apóstolos: os evangelistas Mateus e Lucas colocam-no no segundo lugar, logo depois de Pedro. O Evangelho menciona o apóstolo André outras vezes: na multiplicação dos pães, quando apresenta o menino com alguns pães de cevada e poucos peixinhos; quando se faz intermediário do desejo dos forasteiros vindos a Jerusalém para serem apresentados a Cristo, e quando, com a sua pergunta, provoca a predição por Jesus da destruição de Jerusalém. Após a Ascensão, a Escritura cala por completo o seu nome. Os numerosos escritos apócrifos que procuram preencher de qualquer modo esse silêncio são cheios de fábulas para merecer crédito. A única notícia provável é que André tenha anunciado a Boa Nova em uma região de bárbaros, a selvagem Sícia, na Rússia meridional, como refere o historiador Eusébio. Também a respeito do seu martírio não há informações certas. A morte na cruz (uma cruz de braços iguais) é referida por uma Paixão apócrifa. Igual incerteza têm as suas relíquias, transportadas de Patrasso, provável lugar do seu martírio, para Constantinopla, depois para Amalfi. A cabeça, trazida a Roma em 1462, foi restituída à Grécia por Paulo VI. Antiga é a data da sua festa, lembrada a 30 de novembro já por são Gregório Nanzianzeno” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

1º Domingo do Advento – Ano B

(Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7; Sl 79[80]; 1Cor 1,3-9; Mc 13,33-37)

1. Iniciamos o novo ano litúrgico e o evangelista Marcos será o nosso companheiro de viagem nessa trajetória que fazemos para Deus na escuta e na abertura à Sua Palavra. O nosso autor é mencionado nos Atos dos Apóstolos ao lado de Pedro (12,12), a quem acompanhou em seu ministério público, por isso ele ficou conhecido como ‘discípulo e intérprete de Pedro’. Não foi apóstolo nem testemunha ocular do que relata.

2. O Evangelho de Marcos é o mais breve e o mais próximo da figura de Jesus e dos fatos por ele narrado. Seu escrito remonta ao ano 50. Marcos se interessa mais pelas ações de Jesus do que pelos seus discursos. Mostrar Jesus como Messias e Filho de Deus é a finalidade do seu Evangelho.

3. Um evangelho muito simples, diferente dos demais em seu estilo por se tratar de uma recopilação a partir de dados recolhidos, mas não se limita a pura biografia. Mas vamos ao que interessa na liturgia da Palavra desse domingo primeiro de nossa caminhada litúrgica.

4. Como já havia dito, o tema da vigilância é retomado ao início desse novo ano, na preparação para o Natal. Começamos nesse clima de oração com o nosso autor da 1ª leitura. É velando que situamo-nos entre a primeira vinda e a espera da volta definitiva proposta pelo evangelho.

5. Toda a vida cristã deve ser um perene advento de vigilância e oração contra as tentações diárias que nos desviam dessa comunhão com Deus. Vigilância e oração são virtudes irmãs e inseparáveis que se apoiam mutuamente. A oração sustenta a fé e a esperança.

6. Aguardamos essa segunda vinda em atitude dinâmica, trabalhando pelo Reino neste tempo de graça que o presente em que vivemos, o agora retratado na 2ª leitura e reforçado pelo evangelho. Este ‘advento’/vinda do Senhor se dá nos acontecimentos pessoais, familiares, eclesiais e sociais de cada dia.

7. A parábola de Marcos põe forte acento sobre a atitude de vigilância, citando as quatro vigílias nas quais se dividia a noite romana, para nos dizer que somente uma atenção contínua nos pode ajudar a vencer a sonolência e o cansaço durante a espera.

8. A parábola pode insinuar diferentes atribuições, mas ela se dirige a todos os cristãos, cada um no setor onde lhe foi confiada uma responsabilidade pessoal ou comunitária.

9. A espera pelo Senhor não deve produzir angústia ou ansiedade, pois é feita na confiança, excluindo todo temor. Deus é nosso Pai e nos convida a participar da vida do seu Filho. De fato, esperamos o que já possuímos pela fé, que é o fundamento da esperança que reaviva o amor.

10. É verdade que vez ou outra se abate sobre nós a ‘ausência’ de Deus. Às vezes a vida nos é pesada e nas horas tristes buscamos apoio nos outros, mesmo percebendo ao nosso redor, certa indiferença religiosa, ambiguidade e confusão de valores.

11. Tudo isto constitui uma prova, uma noite escura, em que somos recordados da necessidade de, em nossa oração, reencontrarmo-nos com o Deus que vem sempre ao encontro de quem o busca de coração sincero.

12. A dinâmica do Advento não tem seu ponto final na celebração do Natal, mas continua sua viagem até a volta definitiva do Senhor, sem desinteressar-nos do mundo presente. Que ele nos encontre vigilantes na fé, na oração da vida, com as mãos e o coração ocupados em fazer o nosso melhor. 

 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de novembro de 2020

(Ap 22,1-7; Sl 94[95]; Lc 21,34-36) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem” Lc 21,36.

“Soldados, nos quarteis, guardas de condomínios, são escalados em turnos diferentes para vigiar e dar segurança aos integrantes da corporação militar e aos moradores do local. A vida de muitos depende da eficiência do seu trabalho de vigiar. Vigiai e orai, é o conselho que Jesus deixa a cada um de nós no que diz respeito ao seu retorno. Para que não nos descuidemos e sejamos pegos desprevenidos, é preciso que cuidemos com o nosso viver. Não, não é proibido beber, fazer uma festa. O que Jesus não quer é que o beber e o comer nos levem a viver despreocupadamente, em festa, sem estarmos atentos ao nosso fim terreno ou ao seu retorno. Vigiemos, portanto, para não sermos afastados da fé em Jesus. Existem tantos caminhos alternativos, fáceis de serem trilhados, e que, ao fim, não nos levarão a Deus, mas nos afastarão dele. Sim, vigiemos para nãos sermos enganados e afastados de nosso Senhor. E oremos. Sim, falemos com Deus, quando pudermos, agradecendo pelo que Ele fez através de Jesus, seu Filho amado. E falemos também, pedindo que Ele nos ajude e a todos os demais cristãos para que perseveremos todos, juntos, na fé até o fim. Que Jesus, quando voltar, nos encontre de pé, na fé. Então passaremos à vida que aguardamos ao seu lado para sempre, no céu. Amém. – Senhor, agradecemos-te que em muitas das mensagens deste mês temos sido alertados para o retorno de teu Filho Jesus. Não sabemos quando isto acontecerá. Conhecemos, porém, os sinais de sua proximidade. Anima-nos para que continuemos vigilantes e em oração. Por amor de ti o pedimos. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sexta, 27 de novembro de 2020

(Ap 20,1-4.11—21,2; Sl 83[84]; Lc 21,29-33) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto” Lc 21,31.

“O contexto indicado para hoje, Lc 21,29-31, trata com o que haveria de ocorrer em breve, a saber, a destruição de Jerusalém. Deduzimos isto do fato de que Cristo afirmou que essas coisas aconteceriam antes que morressem todos que naquela ocasião estavam vivos. Contudo, quando Jesus afirma que o Reino de Deus estaria próximo, Ele torna a falar do fim dos tempos. Você poderia perguntar: Próximo? Já se passaram quase 1945 anos desde que Jerusalém foi destruída? Bem, a resposta que temos para dar é a mesma ainda: para Deus, que está fora do tempo, mil anos são como um dia e um dia como mil anos. Na eternidade, a dimensão do tempo será outra daquela que hoje temos. Na eternidade não envelheceremos, não ficaremos enfermos nem tão pouco morreremos. Por enquanto, não temos todas as explicações. Quando, porém, estivermos com Ele, face a face, não mais haverá segredos e tudo será revelado. Continuemos a confiar na Palavra revelada por Deus, naquilo que temos escrito na Bíblia Sagrada. Deixemos que ela, pelo poder do Espírito Santo, nos oriente e continue sendo uma lâmpada para os nossos pés e uma luz para os nossos caminhos. Seguramente ela nos levará ao Reino de Deus que, segundo nossa contagem de tempo, pode estar distante ou mais próximo do que imaginamos. Amém. – Pai nosso, por vezes me parece demorado o retorno de teu Filho Jesus. Permita que teu Espírito Santo mantenha em meu coração a fé em ti e nas tuas promessas que a tua Palavra contém. Fica comigo e com os teus filhos para que um dia estejamos contigo, na eternidade. Amém” (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 26 de novembro de 2020

(Ap 18,1-2.21-23; 19,1-3.9; Sl 99[100]; Lc 21,20-28) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça,

porque a vossa libertação está próxima” Lc 21,28.

“Os evangelhos falam do fim dos tempos – fim do mundo da injustiça – com uma linguagem que provoca medo. É como se tudo estivesse para acontecer logo, urgindo de cada pessoa atitudes decididas e imediatas. A linguagem da narração, de certa forma, descreve a destruição de Jerusalém. Por isso se recomenda fugir para a montanha, a fim de se esconder, e não entrar na cidade sitiada, para evitar cair nas mãos dos inimigos. A fuga das mulheres grávidas e das mães de recém-nascidos é a mais penosa. Por isso, a situação delas será angustiante. Entrando na cidade, o que fará o exército inimigo? Matará, aprisionará e destruirá. Infeliz de quem for confrontado com tal situação! Enquanto as pessoas de fé inconsistente, diante dos indícios do fim, desfalecerão de medo, o discípulo do Reino manterá a cabeça erguida, por saber tratar-se da hora de Deus. A hora da libertação! – Pai, como discípulo do Reino, ajuda-me a manter a cabeça erguida e sem medo, sabendo que, a cada instante, tua libertação se aproxima da humanidade” (Jaldemir Vitório – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano A] – Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 25 de novembro de 2020

(Ap 15,1-4; Sl 97[98]; Lc 21,12-19) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Antes que essas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogaas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome” Lc 21,12.

“Disse Jesus a seus discípulos que eles seriam julgados pelos outros e nem sempre bem julgados (cf. Lc 21,12). Pelo fato de serem bons e misericordiosos, generoso e pacíficos, encontrariam sempre oposição e hostilidade da parte daqueles que não querem vê-los como mensageiros de Deus. Jesus chega a dizer-lhes: ‘Sereis entregues até mesmo pelos pais e irmãos, por parentes e amigos... sereis odiados por causa do meu nome, mas, pela paciência, salvareis vossas vidas’. As palavras de Jesus são também para os cristãos de hoje que não devem temer o juízo dos homens quando estes lhes condenam a fé, a religiosidade e a prática moral. Não se devem deixar influenciar pelo julgamento daqueles que preferem uma vida cristã menos corajosa, menos explícita, menos firme em suas opções. O cristão não pode temer ironias, contradições, oposições, perseguições. O que lhe interessa é o julgamento de Deus, que é sempre justo e misericordioso. Tendo sempre vivido à luz da bondade de Deus, o cristão não pode esquecer a misericórdia divina, que é para ele fonte de perdão e de paz. É o juízo de Deus que preocupa o cristão e não o dos homens, muito menos o dos que não creem. Há diferenças entre o juízo de Deus e dos homens. Este, em geral, nos torna pusilânimes, medrosos, conformistas e sem caráter. O pensamento do juízo de Deus é salutar e nos abre à santidade. – Senhor Deus, fazei que vivamos nossa vida não influenciados pelo julgamento dos outros, mas pelo vosso, que é perfeito e santo. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 24 de novembro de 2020

(Ap 14,14-19; Sl 95[96]; Lc 21,5-11) 

34ª Semana Tempo Comum.

“Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” Lc 21,6.

“No tempo de Jesus havia uma presença muito forte do movimento escatológico, que chamava a atenção para a proximidade do final da história. O discurso sobre o fim do mundo revela a fragilidade das realidades humanas. A contestação de Jesus a respeito da destruição do Templo de Jerusalém expressa o destino das realidades humanas: ‘Não ficará pedra sobre pedra’. O fim de tudo é a sua ruína. O Templo era símbolo da relação de Deus com o povo escolhido. Experiência dolorosa, que será acompanhada de tentativas de engano: muitos se apresentarão como messias, anunciando a chegada do fim. Guerras e revoluções, terremotos e epidemias, prodígios e sinais no céu se revelarão, também, essa chegada. Mas, ao contrário do que diziam os falsos profetas, Jesus afirma que ‘não será o fim’, pois o fim de uma instituição não significa o fim do mundo e nem o fim da relação entre Deus e os seres humanos. Jesus aproveitava esta expectativa, como fim de alertar para a importância de interpretar bem os sinais dos tempos, que alertavam para o cumprimento das promessas de Deus. O Mestre assegura isso, com a linguagem apocalíptica da época. Não lhe interessa, porém, inculcar em seus ouvintes os sentimentos dos quais esta linguagem estava carregada. Ele quer tão somente conscientizar a comunidade acerca da importância de dedicar-se às coisas impossíveis de serem destruídas: a fé e o amor. Quando tudo tiver chegado ao fim, apenas estas duas realidades subsistirão. Só elas podem oferecer segurança e levar o discípulo a superar o medo terrificante que o confronto com a escatologia provoca. A beleza sólida da fé e do amor permanecerão, mesmo quando tudo o mais se tiver reduzido a escombros. Isto porque são obras de Deus. – Pai, livra-me de centrar minha vida no que é possível de destruição, e faze-me testemunhar a fé e praticar o amor ao próximo (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 23 de novembro de 2020

(Ap 14,1-5; Sl 23[24]; Lc 21,1-4) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Pois todos eles depositaram, como oferta feita a Deus, aquilo que lhe sobrava. Mas a viúva, na sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver” Lc 21,4.

“No átrio das mulheres, encontrava-se a oficina do tesouro do templo, com seus treze cofres para que se depositassem as esmolas; as oferendas voluntárias davam-se primeiro nas mãos de um sacerdote, que as lançava em um cofre particular e, assim, podia-se ver o que cada um dava. Os outros doadores, por muito que oferecessem, não deram tanto como a pobre viúva, pois eles deram do ‘que lhes sobra, esta (...) deu (...) tudo que lhe restava para seu sustento’ (v. 4). É esta a atitude que Jesus louvava: a disposição do espírito da viúva; e por isso propõe-na como modelo para os outros. Lembre-se que a esmola é um meio de purificação da própria consciência pelos pecados cometidos. A esmola é, pois, uma boa ação. Não obstante, se a esmola for dada com intuito de aparecer ou com a intenção de chamara a atenção e merecer os louvores dos homens, já não se trata de virtude que tem mérito diante de Deus; o mérito da esmola depende do amor com o qual se oferece e não da quantidade do que é oferecido; quanto maior for o amor, maior será o mérito da esmola. O cristão deverá preocupar-se com seu futuro e com o futuro dos seus, contudo não deverá fazê-lo ansiosamente, mas sempre tendo presente a amorosa Providência do Pai celestial. O cristão, para todas as coisas e em todas as horas, somente deverá procurar apoio em Deus e em sua palavra; palavra que nunca pode falhar e que de fato nunca falha para com seus filhos. Vemos aqui outro ensinamento: Deus não se fixa tanto na quantidade do que lhe oferecemos, mas na intensidade do amor que lhe apresentamos. O que pesa na oferenda a Deus é o coração, não a simples materialidade de uma oferenda, como era o caso da ostentação das oferendas farisaicas. Por isso, ele não olha para o que lhe oferecemos, mas sim para o amor com que lhe oferecemos, como Jesus não fixou seu olhar na quantidade que a pobre viúva ofereceu, mas na generosidade de sua doação, de seu coração, que se entregou totalmente. É bom que os leigos cristãos se recordem da obrigação de manter o culto. Em nada melhor se pode empregar o dinheiro que em procurar a glória de Deus e em atender às necessidades do culto; é isso uma obrigação e é uma norma, da qual não se pode esquecer – Vivência: O óbolo da viúva pode fazê-lo(a) refletir que até o presente, na maioria dos casos, quando você se pôs a orar ao Senhor, foi para pedir-lhe algo; e em muito poucas ocasiões, para dar-lhe algo. Não pense que a Deus nada se pode dar, porque ele já possui tudo, nem mesmo pense que você é tão pobre que nada possa dar; ambas as posições são inexatas. Ofereça também ao Senhor a entrega diária de sua atividade, colocando-a sob auspício divino e a serviço dos homens; não se esqueça do que diz Jesus: ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizeste isto a um destes pequeninos, foi a mim que o fizeste’ (Mateus 25,40). Reveja, pois, o tradicional costume cristão do oferecimento diário de sua atividade, e veja não só se você a realiza, mas com que espírito você a realiza” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave- Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Jesus Cristo, rei do universo – Ano A

(Ez 34,11-12.15-17; Sl 22[23]; 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46)

1. Esses últimos domingos nos serviram para despertar a consciência de que um dia nos encontraremos com Deus e que, numa atitude de vigilância constante, vivemos o tempo presente, fazendo o nosso melhor com a graça ou dom que de Deus recebemos.

2. Numa última imagem desse tempo comum, contemplamos a Cristo como rei, pastor e juiz, ao final da história. Paulo nos lembra que esse estar diante de Deus faz parte da nossa condição de ressuscitados em Cristo a quem foi entregue o senhorio universal.

3. Mas o que sobressai em nossa liturgia da Palavra é a imagem do pastor, que guia seu povo e cuida. Diferentemente das parábolas anteriores, esta não se dirige tão somente aos cristãos, mas a todos os povos, cristãos, pagãos, crentes e ateus.

4. Talvez tenha sido essa parábola que tenha levado São João da Cruz a afirmar que ‘No entardecer da vida seremos julgados pelo amor’. Seremos julgados pela dinâmica do amor que imprimimos em nossa vida nas nossas relações. Mas não nos escapa essa identificação de Cristo com os pobres, marginais e sofredores.

5. Não há nada de triunfalista nessa imagem. Sua soberania não tem a ver com as relações de poderio de nosso mundo que confunde autoridade e poder com domínio e não com serviço.

6. Temos aqui elencadas as obras de misericórdia, que não têm a intenção de serem exaustivas e menos ainda exclusivas, outras realidades nos foram deixadas pelo próprio Jesus ao longo do evangelho: fé, conversão, bem-aventuranças, graça, amizade com Deus, atitudes interiores, culto religioso, conduta moral, mandamentos, por exemplo.

7. Tudo isso se concentra ou se engloba no mandamento do amor a Deus e ao próximo, como nos foi dito. Porque amar é cumprir toda a lei, nos diz Paulo (Rm 13,10).

8. A parábola fala da surpresa dos personagens, nos recordando que qualquer homem ou mulher que busque viver o amor e praticar a justiça é herdeiro do Reino de Deus, mesmo que não seja cristão. Como sempre fez Jesus, ele rompe o círculo fechado do próximo. Isso nos leva a compreensão da nova encíclica papal.

9. Não são as ideologias nem as palavras que salvam ou condenam, mas as obras. Na realidade, o juízo já acontece entre nós, pois o Reino de Deus está presente entre nós, mesmo não se dando de modo pleno. A parábola nos lembra que no nosso dia a dia vamos deixando claro com a nossa vida o amor ou a falta dele.

10. A sensibilidade e a solidariedade efetivas perante a dor alheia são, pois, a medida exata do nosso cristianismo. Quando nos reunimos para celebrar a eucaristia, o nosso culto deve refletir o culto da nossa vida, e vice-versa, porque implicam-se mutuamente.

11. No nosso ato penitencial no início da eucaristia temos de fazer o exame do amor, antes de apresentar nossa oferenda no altar. Este exame do amor é a vigilância cristã. Ver como longínquo o juízo final é um erro, porque já está presente. Por isso afirmamos a cada domingo que cremos que ‘Ele virá a julgar os vivos e os mortos’.

“Bendito sejas, Pai, porque constituíste Cristo ressuscitado como Senhor e Rei da criação, como Juiz dos vivos e dos mortos. Tu és o Deus santo, Tu és luz, amor, ternura e misericórdia; e nós somos treva, egoísmo, dureza, frieza e violência. Não obstante, Tu nos queres como filhos, tal como somos, mas mandas que nos amemos uns aos outros como Cristo nos amou. Custa-nos muito, Senhor, ver Jesus nos pobres, nos marginais, nos rudes, antipáticos, mal educados. Faz-nos ver neles a face de Cristo sofredor. Incendeia os nossos corações com o fogo da tua palavra e dá-nos o teu Espírito de amor para que nos transforme por completo e para que, amando a todos, passemos no teu exame final. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 21 de novembro de 2020

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 

Apresentação de Nossa Senhora.

“Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para a habitar no meio de ti, diz o Senhor” Zc 2,14.

“A memória da apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria tem uma importância, não só porque é nela que é comemorado um dos mistérios da vida daquela que Deus escolheu como Mãe do seu Filho e como Mãe da Igreja, nem só porque nesta apresentação de Cristo ao Pai celeste, ou melhor, de todos os cristãos, mas também porque ela constitui um gesto concreto de ecumenismo, de diálogo com os nossos irmãos do Oriente. Isto salta aos olhos seja pela nota de comentário dos redatores do novo calendário, seja pela nota da Liturgia das Horas, que diz: ‘Neste dia da dedicação (543) da Igreja de Santa Maria Nova, construída junto ao templo de Jerusalém, celebramos juntamente com os cristãos do Oriente aquela dedicação que Maria fez a Deus de si mesmo desde a infância, movida pelo Espírito Santo, de cuja graça tinha sido repleta na sua Imaculada Conceição’. O fato da apresentação de Maria no Templo, como se sabe, não foi contado por nenhum livro sagrado, enquanto vem proposto com fartura de detalhes pelos apócrifos, isto é, por aqueles escritos muito antigos e por muitos aspectos parecidos com os livros da Bíblia, que, todavia, a Igreja sempre deixou de considerar como inspirados por Deus e, portanto, como Sagrada Escritura. Ora, segundo esses apócrifos, a apresentação de Maria ao templo não foi sem solenidade: tanto no momento da sua oferta como durante o tempo de sua permanência no Templo verificaram-se alguns fatos prodigiosos: Maria, conforme a promessa feita pelos seus pais, foi conduzida ao Templo aos três anos, acompanhada por um grande número de meninas hebreias que seguravam tochas acesas, com a presença das autoridades de Jerusalém e entre cantos angélicos. Para subir ao Templo havia 15 degraus, que Maria subiu sozinha, embora fosse tão pequena. Os apócrifos dizem ainda que Maria no Templo se alimentava com a comida extraordinária trazida diretamente pelos anjos e que ela não residia com as outras meninas. Na realidade a apresentação de Maria deve ter sido muito modesta e ao mesmo tempo gloriosa. Foi de fato através deste serviço ao Senhor no Templo, que Maria preparou o seu corpo, mas sobretudo sua alma, para receber o Filho de Deus, realizando em si mesma a palavra de Cristo: ‘Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática’” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de novembro de 2020

(Ap 10,8-11; Sl 118[119]; Lc 19,45-48) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar” Lc 19,48.

“Que Jesus acolhe o pecador arrependido e que ele não discrimina ninguém não são duas coisas que ministros religiosos nos lembram a todo momento? Mas, por acaso, somos lembrados, de vez em quando, que o mesmo Jesus, que é amor, foi duro com as pessoas que fizeram do Templo de Jerusalém um covil de ladrões em razão dos negócios que ali faziam? Pois este é o contexto bíblico de hoje. Jesus expulsa do Templo aqueles que o transformaram numa feira, onde se trocava dinheiro estrangeiro com o que era usado em Israel, onde se vendiam animais que depois eram sacrificados pelos sacerdotes como parte do culto de então. Sim, Jesus é amor. Ele de fato acolhe todo tipo de gente, até os maiores pecadores, quando estes, arrependidos, chegam a Ele, com fé, e lhe pedem perdão. Mas os que não se arrependem, com os que não aceitam os seus ensinos e rejeitam a sua salvação, Ele usa a dureza da Lei. Assim como expulsou aqueles vendedores do Templo. Ele expulsará da sua presença os que rejeitam o seu Evangelho. Naquela ocasião, por causa da ação de Jesus, os sacerdotes, os escribas e os principais do povo, quiseram mata-lo; contudo, não sabiam como fazê-lo porque o povo ficava arrebatado quando Jesus falava. Que este texto nos lembre que estamos vivendo o tempo que Ele concede para que os incrédulos se arrependam e creiam, e para que nós busquemos forças para perseverarmos firmes na fé até o fim. Quando Ele voltar, nós, os cristãos, seremos convidados a entrar no gozo da vida eterna. Contudo, Ele será duro com os que o rejeitaram, e os expulsará de sua presença para sempre. – Senhor Jesus, eu sei que mereço, por causa dos meus pecados, a tua condenação. Peço-te, porém, que me acolhas em teus braços amorosos porque estou arrependido e confio que és meu Salvador. Ajuda para que muitos, que hoje ainda te rejeitam, arrependam-se, creiam e recebam teu perdão. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de novembro de 2020

(Ap 5,1-10; Sl 149; Lc 19,41-44) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar” Lc 19,41.

“Em sua última viagem a Jerusalém, Jesus, acompanhado de seus discípulos, após ter contornado o monte das Oliveiras, aproxima-se da cidade santa. A capital do judaísmo se estende, com todo seu esplendor, diante de seus olhos. Em pouco tempo se tornaria um cúmulo de ruínas. É um triste pressentimento que invade o ânimo do Salvador até as lágrimas. O pranto de Jesus diante de Jerusalém revela sua realidade de homem e cidadão. Sua missão levou-o a chocar-se com seus compatriotas, mas seu sentimento e seu amor pátrio tornaram-se igualmente feridos na previsão dos danos que estavam se acumulando sobre a cidade santa, o templo, o povo. A pertença à nação eleita, a alegria de ser da família de Abraão, eram experiências que faziam parte também da vida de Jesus. Ele deve anunciar o julgamento de Deus sobre a nação, mas o faz a contragosto, com pesar, com nó na garganta, não exultando de alegria, mas chorando pelo castigo que cai sobre os pecadores. O sofrimento de Jesus tem motivos não só pessoais, humanos, mas também religiosos. O povo de Jerusalém não sabe ou não quer compreender o ‘dia’ de Jesus, isto é, a visita que pretende fazer à sua cidade. Na tradição profética, Javé tinha seus ‘dias’ e o seu ‘dia’, mas se tratava de um dia de condenação tanto para os gentios como para os judeus. Jesus não veio para punir, mas para salvar, para trazer a paz, não a guerra. Israel se afastou de Deus, o havia esquecido e ofendido. Jesus vinha restabelecer as boas relações entre eles. – Senhor, tornai-nos mais sensíveis ao sofrimento de nosso povo. Amém” (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de novembro de 2020

(Ap 4,1-11; Sl 150; Lc 19,11-28) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém,

e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo” Lc 19,11.

“A parábola oferece pistas para compreender o que está para acontecer com Jesus. O tempo de sua ausência é oferecido aos discípulos como oportunidade para fazerem frutificar os dons recebidos de Deus. Servindo-se da Parábola dos Talentos, Jesus tentou incutir-lhes uma nova visão da história: antes de chegar o fim, os discípulos teriam pela frente uma longa estrada a percorrer: seria o tempo de fazer frutificar os dons recebidos de Deus, por meio da vivência da caridade. Só depois dar-se-ia o encontro com o Senhor. Esta maneira de entender a história é altamente positiva. Leva o discípulo a engajar-se na prática do amor, sem se deixar impressionar com a segunda vinda do Senhor. Cabe-lhe aplicar-se com todo o empenho, de forma a produzir o máximo possível de frutos, quando chegar o Senhor. Os sensatos e responsáveis irão, logo, fazê-los multiplicar. Os medrosos permanecerão bloqueados e seus dons estarão fadados à esterilidade. Neste sentido, saberá aproveitar cada momento da sua existência para fazer o bem. E terá sensatez suficiente para não cruzar os braços, nem se deixar intimidar diante dos obstáculos que terá de enfrentar. Além disso, os inimigos de Jesus, contrários à sua condição de Messias, iriam perseguir a comunidade dos discípulos. Todavia, ao voltar, revestido de poder real para realizar o juízo, o Mestre retribuirá a cada um conforme se tiver comportado. A prudência aconselha, pois, o caminho da fidelidade ao Messias Jesus. O discípulo prudente sabe que o Senhor não aceitará desculpas para justificar o comodismo e o medo. Quem deixar perder os talentos recebidos receberá o merecido castigo. – Pai, faze de mim um discípulo fiel de Jesus, a quem deverei prestar contas do bom uso dos dons que me concedeu. Que eu aplique cada momento de minha vida para fazer o bem, e assim, os dons que recebi do Senhor se multipliquem em gestos de misericórdia” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de novembro de 2020

(Ap 3,1-6.14-22; Sl 14[15]; Lc 19,1-10) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Zaqueu ficou de pé e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e,

se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais’” Lc 19,8.

“O episódio de Zaqueu repropõe um dos temas fundamentais do evangelho: a preferência de Jesus, e, portanto, de Deus, pelos pecadores. Zaqueu gozava de boa posição social (‘chefe dos publicanos’) e econômica (‘era rico’). Está, porém, preocupado com sua crise religiosa. Embora rico e bem colocado na sociedade, está insatisfeito consigo mesmo. A resolução de pôr-se à procura de Jesus revela sua inquietação. Os detalhes da narrativa de seu encontro com o Mestre, o esforço para vê-lo, e colocar-se no alto da árvore, sujeitando-se ao ridículo, o convite para a refeição em sua casa, tudo isso manifesta seu interesse por uma mudança de vida. A acolhida que Zaqueu proporciona a Jesus não é apenas formal; envolve toda a sua pessoa. Converter-se não significa só chegar a uma confissão oral dos próprios erros, mas requer uma retratação efetiva dos mesmos. Zaqueu faz sua confissão a Jesus, que agora se torna o seu ‘senhor’, no lugar de todos os ‘senhores’ aos quais tinha servido. Diante dele, propõe reordenar sua conduta, reparando erros passados. E porque as injustiças pesam, em última análise, sobre os que se encontram no último degrau da escada social – os pobres –, ele lhes dará o de que os privou: a metade do seu patrimônio. O que roubou, restituirá segundo a lei em vigor; quatro vezes mais. A justiça social é o primeiro, autêntico fruto de conversão. – Senhor Jesus que viestes salvar o que estava perdido, fazei que chegue até nós a salvação que levastes à casa de Zaqueu. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de novembro de 2020

(Ap 1,1-4; 2,1-5; Sl 01; Lc 18,35-43) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“No mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus.

Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus” Lc 18,43.

“A cidade de Jericó que recebeu a visita de Jesus é aquela mesma cujas muralhas caíram quando o povo de Israel a rodeou, liderado por Josué, o sucessor de Moisés, quando voltava do cativeiro egípcio. Ele não vinha caminhando sozinho; provavelmente estavam ao seu lado os discípulos e romeiros que iam à cidade de Jerusalém que distava dali cerca de 27Km. Um cego, que estava sentado junto ao caminho, ouviu o barulho do movimento e perguntou o que estava acontecendo. Alguém lhe informou que era Jesus, de Nazaré, que estava passando. E ele então, imediatamente, passou a clamar, dizendo: ‘Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!’ (Lc 18,38). Os que estavam caminhando com Jesus o repreenderam. Ele, porém, gritava cada vez mais alto por ajuda. E quando ele é trazido à presença de Jesus que lhe pede o que gostaria, ele diz: ‘Que eu veja!’ (Lc 18,41). Diante desse pedido, Jesus afirma: ‘Vê, a tua fé te salvou’ (Lc 18,42). E o cego, curado, passou a seguir a Jesus, glorificando a Deus. Os milagres de Jesus servem para nós, cristãos, como prova do seu poder, de sua atividade. Eles, já nos tempos em que andou visível por Israel, faziam com que o povo cresse nele. E é a Ele, Jesus, Deus Todo-poderoso com o Pai e o Espírito Santo que nós confiamos nossas vidas, corpo e alma. Ele é digno desta confiança. E por já nos haver curado dar-lhes glórias, isto é, honra e louvor também. – Senhor Jesus, meu bondoso salvador. Eu te agradeço que me curaste da cegueira espiritual e me fizeste ver a salvação que me conquistaste, salvação que se tornou minha pela fé que Deus Espírito Santo criou em mim. Ajuda-me para que eu dê testemunho de teu amor a fim de que mais pessoas deixem de ser cegas espirituais e tenham a salvação. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

33º Domingo do Tempo Comum – Ano A

 (Pr 31-10-13.19-20.30-31; Sl 127[128]; 1Ts 5,1-6; Mt 25, 14-30)

1. Se no domingo anterior a liturgia nos propôs o tema da vigilância, a este tema se acrescenta hoje o de uma vigilância produtiva e laboriosidade solícita, conforme nos sugere a 1ª leitura e o evangelho.

2. A parábola tem como destinatário a comunidade cristã e cada cristão pessoalmente. Na interpretação comum, o senhor desses empregados é Jesus, sua ausência seria a Ascenção, o regresso, sua segunda vinda e nós seriamos os empregados em contínua operosidade em nossa existência.

3. Se Deus recompensa a fidelidade criativa de quem se arrisca para servir a Ele e aos irmãos, também condena o pecado de omissão que o terceiro empregado personifica. Mas este faz parecer que cumpriu as regras, em seu espírito legalista e ainda se atreve a censurar o seu patrão como capitalista e explorador.

4. Seu modo de falar com o patrão/Deus deixa entrever que ele desconhece os dons de Deus e seu amor pela humanidade, que culminam na paixão e cruz de Jesus.

5. Talento, dom de Deus, é tudo que temos, pessoalmente, na ordem temporal e espiritual, tudo o que está dentro e fora de nós. A vida, primeiramente, toda a criação, a sociedade e a fraternidade a serem construídas, a inteligência, a família, uma carreira... os valores da vocação cristã e os dons de Deus.

6. A parábola deixa entrever que os dons e talentos não são para uso privado e exclusivo, de tudo somos meros administradores, por isso nos será pedido conta do rendimento.

7. Tanto o evangelho como a 1ª leitura valorizam o trabalho humano na sua dimensão pessoal familiar, profissional e social. Em nossa consciência cristã, sabemos que em tudo isso servimos a Deus. A vigilância cristã chama-nos com urgência à fidelidade criativa, como quem espera a vinda do seu Senhor, lembra-nos a 2ª leitura.

8. O evangelho nos provoca com esse olhar para o terceiro empregado, pois nele somos retratados com maior ou menor intensidade de luz. Trata-se do pecado de omissão, que muitas vezes não nos damos conta. Levados por uma apatia, preguiça, comodidade, medo, psicose de segurança...

9. A liturgia nos recorda que nosso seguimento de Jesus tem que ser produtivo, caso contrário ficaremos desqualificados. Deus reparte os seus dons como quer e conforme a capacidade de cada um, mas a todos pede igual dedicação pessoal e plena vontade de servir o reino.

10. Em qualquer setor da atividade humana a filosofia do conservar e não perder é insuficiente. Por isso, temos de assumir o risco de investir os nossos talentos na construção do reino de Deus na nossa vida pessoal, de família, trabalho e sociedade. O contrário é renunciar a ser pessoa e cristão, é enterrar-se na vida, pôr os valores em conservas.

“Obrigado, Senhor Jesus, porque confiastes em nós, entregando-nos os talentos e a responsabilidade do teu reino. Com a parábola de hoje chamas a nossa atenção para a mediocridade e os nossos pecados de omissão. Concede-nos que tenhamos muito amor para receber deTi mais amor. Acompanha-nos, Senhor, com o teu Espírito de criatividade fecunda para que, fazendo render os talentos que Tu nos deste para o serviço do reinado de Deus e dos irmãos, mereçamos na tua vinda gloriosa escutar dos teus lábios as palavras dirigidas ao servidor responsável e fiel: Entra tu também na alegria do banquete do teu Senhor. Assim seja” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de novembro de 2020

(3Jo 5-8; Sl 111[112]; Lc 18,1-8) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”

Lc 18,7.

“Jesus exorta-nos a orar. Ilustra seu ensinamento, a respeito do dever de orar sem jamais desanimar, com a parábola da viúva corajosa, disposta a fazer valer os direitos contra tudo e contra todos, querendo instruir os discípulos a rezar sempre, sem desanimar jamais. Qual é a imagem de Deus e a imagem do ser humano orante, presente na parábola? De acordo com a tradição bíblica, Deus é o defensor dos pobres e injustiçados, seus eleitos. Ele ouve a prece de quem é tratado injustamente e jamais rejeita a súplica do órfão e da viúva quando extravasam suas queixas. O grito dos pobres atravessa as nuvens e o Altíssimo não descansa enquanto não intervém em favor deles. Deus está sempre pronto para defender a causa do humilde e do indefeso. Coloca-se a favor dos fracos e assume a causa deles. Embora sua justiça tarde em manifestar-se, ela se manifestará na certa. O orante é, fundamentalmente, indigente, privado de qualquer apoio externo. Sabe o que espera de Deus e tem plena certeza que obterá. Posicionando-se contra todas as forças adversas, o orante vai em frente, sem deixar a sua fé esmorecer. Pelo contrário, Deus rejeita a oração dos injustos e prepotentes, cujas mãos estão manchadas de sangue e só são usadas para oprimir e massacrar. E, se voltam para Deus, é só para falar com soberba e arrogância. Resultado: sua oração jamais obterá o beneplácito divino! Para a comunidade perseguida, a parábola era um incentivo para seguir adiante, embora a intervenção divina tardasse a acontecer. Se um juiz iníquo acabou sendo movido pela insistência de uma pobre viúva, quanto mais o pai misericordioso se deixará mover pelo clamor dos seus filhos queridos. No momento oportuno a justiça será feita. – Espírito de perseverança na oração, dá-me um coração de pobre, que põe toda a sua confiança no Senhor, esperando dele auxílio e proteção (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de novembro de 2020

(2Jo 4-9; Sl 118[119]; Lc 17,26-37) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Os discípulos perguntaram: ‘Senhor, onde acontecerá isso?’ Jesus respondeu:

‘Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os abutres’”. Lc 17,37.

“Os apóstolos desejam saber o lugar do julgamento final. A resposta de Jesus significa que isto não lhes deve causar preocupação, pois todos serão levados à presença do juiz. Assim como os abutres procuram cadáveres, os anjos irão, no dia do juízo, buscar os homens, onde quer que se encontrem, para comparecerem diante do Senhor Jesus. As palavras de Jesus se referem ao dia do filho do homem, ‘dia da vingança’, conforme a linguagem bíblica (Lc 17,34). O castigo será, como sempre, de maneira desigual, mas será grave. A população será desfalcada de uma metade (‘um será tomado e outro deixado’ – v. 34-36). A conclusão (v. 37) torna mais grave o anúncio. Os apóstolos, curiosos, querem saber onde e como se efetuará o castigo, mas a resposta de Jesus generaliza sua extensão. O provérbio ao qual ele recorre – ‘onde estiver o cadáver, ali se juntarão os abutres’ – não é animador. Como os corpos inertes dos animais não escapam aos abutres, assim os malvados não escaparão ao filho do homem que vem à frente dos exércitos estrangeiros que invadirão a terra de Israel e punirão ‘em nome de Deus’ a nação rebelde. Este trecho do Evangelho nos convida à vigilância. Diz, a propósito da manifestação de Jesus, que será inesperada. Afirma que, naquele momento, continuarão os homens a fazer o que sempre fizeram e, subitamente, virá o Senhor. Jesus, entretanto, não disse isto para deixar-nos num clima de suspense ou de medo, mas para convidar-nos a manter os corações abertos para ele. – Senhor, meu coração está aberto para vós. Vinde, Senhor Jesus. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de novembro de 2020

(Fm 7-20; Sl 145[146]; Lc 17,20-25) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós’” Lc 17,20b-21.

“O contexto bíblico da passagem que você acabou de ler mostra-nos que Jesus estava sendo interrogado pelos fariseus a respeito de quando viria o Reino de Deus. Os fariseus eram um grupo de pessoas que se dedicava ao estudo da Torá, palavra que pode significar lei, como também instrução ou doutrina, cujo conteúdo encontra-se nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, escrito pelo profeta Moisés. Diante da pergunta é que Jesus afirma que o Reino de Deus não vem de forma ostensiva, que ele já estava no meio deles. Em Lc 11,20 Jesus já dissera a um outro grupo que o fato de ele expulsar demônios pelo poder de Deus era sinal de que o Reino de Deus já havia chegado até eles. É verdade, aqui Jesus não mostrou como ele era criado, mas ao lermos outras passagens do Novo Testamento vemos que o Reino de Deus deve-se à ação transformadora do Espírito Santo através da pregação do Evangelho e da administração do Sacramento do Batismo. Nós, cristãos, pertencemos ao Reino de Deus. Tornamo-nos parte dele pelo Santo Batismo, quando crianças, ou quando já maiores, alguém nos testemunhou que Jesus nos salvou ao morrer na cruz e ressuscitar ao terceiro dia. Sim, o Reino de Deus está no meio de nós. Onde dois ou três se reunirem em nome de Jesus, ali Deus está presente. Por isso, sejamos sempre agradecidos porque o Reino de Deus veio até nós pelo testemunho de imigrantes cristãos. E cada um de nós, que dele faz parte, seja sempre testemunha, com palavras e ações, do Evangelho de Cristo para que mais pessoas sejam por ele atingidas e venham a fazer parte de seu Reino. Amém. – Amado Salvador, eu te agradeço que teu Reino está entre nós. Ele se estabeleceu pela pregação do Evangelho e pela administração dos Santos Sacramentos. Ajuda-nos para que o mesmo se mantenha entre nós. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de novembro de 2020

(Tt 3,1-7; Sl 22[23]; Lc 17,11-19)

32ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus lhe perguntou: ‘Não foram os dez os curados? E os outros nove, onde estão?’” Lc 17,17.

“Quanta compaixão tem o Senhor para com os marginalizados de todos os tempos! E que belíssima esta narração do evangelista que enaltece a importância da gratidão, do agradecimento simples e sensível a um bem recebido (cf. Lc 17,11-19). Foram dez os curados, mas os outros ‘nove’, que certamente também se deram conta de que tinham sido curados, estavam preocupados em validar sua cura junto aos sacerdotes no Templo. Estavam apressados em buscar o testemunho da lei para se sentirem confirmados em sua cura para se integrarem na sociedade que os rejeitava; esqueceram-se de que os curara e lhes devolvera a saúde. A ânsia de voltarem a ser pessoas curadas do mal da lepra e permitir-lhes a inclusão na sociedade, os leva apressados a buscar a legitimação do acontecimento. Mas, um deles, o que era samaritano, se esquece da recomendação do Senhor e volta correndo para junto daquele que lhe devolvera não só a saúde, mas lhe oferecera o dom maior: a salvação pela fé! E o samaritano, tão agradecido pelo bem recebido, prostra-se com o rosto em terra, louvando a Deus, certo de que a obra nele realizada era um dom perfeito, carregado de significados para quem verdadeiramente tem fé. Atravessamos tempos difíceis e quase não acreditamos mais no que possa ser gratuito; acostumamo-nos com a dureza da vida e perdemos muito da sensibilidade para admirarmos a beleza, para nos maravilharmos diante das coisas simples e pequenas; não nos assombramos mais diante de pequenos gestos de amizade e de ternura. Com tal frieza calculada, tornamo-nos insensíveis e perdemos a alegria, o otimismo, deixamos escapar a esperança das nossas mãos, como um pássaro acuado e solitário... – Dai-nos a graça, Senhor, de nos encantarmos diante da beleza da vida, das maravilhas criadas por vossa bondade e misericórdia e coloca em nossos lábios, sempre, um hino de louvor e agradecimento (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de novembro de 2020

(Tt 2,1-8.11-14; Sl 36[37]; Lc 17,7-10) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandarem, dizei: ‘Somos servos inúteis;

fizemos o que devíamos fazer’” Lc 17,10.

“É difícil supor que alguém que cumpriu suas tarefas diante de Deus não tenha conseguido mais aproximação e amizade com ele. O comportamento de Deus com o homem é como o do amigo que pode ser molestado todas as horas, também de noite (Lc 11,5), o do bom pastor (15,3-7), o pai do filho do pródigo (15,11-32). Pode-se, entretanto, concluir que, por sermos servos inúteis, o que recebemos em troca de Deus não nos é devido em termos contratuais, a rigor de justiça, mas de graça ou pela graça. A fé é dom de Deus. Assim ensinou Jesus aos apóstolos (v. 9). A parábola do servo inútil confirma essa verdade. Por tudo aquilo que o homem realiza, o que recebe não é em proporção com o que fez. É sempre doação da bondade e misericórdia de Deus. O texto é um incentivo à prática da humildade e da gratidão. Corrige, ao mesmo tempo, nossos errôneos julgamentos e transforma nossa mentalidade. É com humildade que o homem aceita esta renovação da mente, recordando que, para ele, o deixar-se renovar, converter-se, é a maior humildade e o mais importante sacrifício. Considerando-nos ‘servos inúteis’ Jesus não nos quer humilhar. Ensina-nos que ‘servir a Deus’ é ordem da vida. O serviço de Deus, embora nada a ele acrescente, nos é permitido para nosso bem. É por sua bondade que ele nos chama a tomar parte em seus projetos. – Senhor, ensina-nos a vos servir sem nada pretender. Dai-nos a humildade do servo inútil, e que tudo que fizermos seja conforme vossa bondade e justiça. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 09 de novembro de 2020

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) 

Dedicação da Basílica do Latrão.

“E disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai isto daqui! Não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio!’”

Jo 2,16.

“Perguntou ainda o prefeito Rústico: ‘Onde vos reunis?’ Justino respondeu: ‘Onde cada um pode e prefere; você pensa que todos nós nos reunimos num único lugar, mas não é assim, porque o Deus dos cristãos, que é invisível, não se circunscreve a um lugar, mas enche o céu a e a terra e é venerado e glorificado em qualquer parte pelos seus fiéis’ (Atas do martírio de são Justino e companheiros). Na sua franca resposta o grande apologista, são Justino, repetia diante do juiz aquilo que Jesus havia dito à samaritana: ‘Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’ (Jo 4,21-24). A festa de hoje, da dedicação da basílica do SS. Salvador ou de São João de Latrão, não está de modo algum em contradição com o testemunho de são Justino e com a palavra de Cristo. Salvos o dever e o direito da oração sempre e em toda parte, é também verdade que desde os tempos apostólicos, a Igreja, enquanto grupo de pessoas, teve necessidade de alguns lugares onde reunir-se para orar, proclamando a palavra de Deus e renovando o sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, concretizando suas palavras: ‘Tomai e comei todos; tomai e bebei todos; fazei isto em minha memória’. Inicialmente essas reuniões eram feitas em casas particulares, também porque a Igreja não tinha reconhecimento nenhum. Mas este veio sem muita demora. Há um singular episódio do início do século III, quando Alexandre Severo deu razão à comunidade cristã e um processo contra os hospedeiros, que reclamavam contra a transformação de uma hospedaria em lugar de culto cristão. A basílica lateranense foi fundada pelo papa Melquíades (311-314) nas propriedades doadas para este fim por Constantino, ao lado do palácio lateranense, até então residência imperial e depois residência pontifícia. Surgia assim a igreja-mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo, destruída e reconstruída muitas vezes. Foram celebrados nela ou no antigo Palácio Lateranense nada menos que cinco Concílios nos anos de 1123, 1139, 1179, 1215, e 1512. ‘Mas o templo verdadeiro e vivo de Deus devemos ser nós’, diz são Cesário de Arles” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite