Quarta, 31 de outubro de 2018


(Ef 6,1-9; Sl 144[145]; Lc 13,22-30) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“E assim há últimos que serão primeiros e primeiros que serão últimos” Lc 13,30.

“Jesus dirigiu seu anúncio primeiramente aos judeus, mas estes não o acolheram, preferindo continuar em sua interpretação da lei ou em sua tradição. Quando o evangelho se firmou e eles constataram sua autenticidade e tentaram participar, não conseguiram: ‘digo-vos que não sei donde sois’ (v. 27). Desse modo, aqueles que eram os últimos ou estavam fora passaram para o primeiro lugar. E os que pareciam ser os primeiros se tornaram os últimos. Lucas não fala da salvação em sentido absoluto, mas da pregação de Cristo que, destinada aos judeus, foi, entretanto, mais acolhida pelos pagãos. O contraste entre ‘fora’ e ‘dentro’ tornou-se entre ‘últimos’ e ‘primeiros’. Não está dito que os ‘últimos’ não possam ser admitidos, embora com atraso, nas fileiras do reino. Se não na primeira, na segunda mesa do banquete. A porta está fechada, mas apenas simbolicamente como um risco constante de o homem perder o caminho do reino. Não está nas intenções do evangelista excluir alguém da conquista da salvação. Como verdadeiro amigo, Jesus nos previne: nem todos seremos reconhecidos por ele, embora o desejemos. Pela porta entrarão somente aqueles que nesta vida aceitarem passar por outra porta, a ‘porta estreita’, como a chamou Jesus. É a porta da cruz, Jesus reconhecerá só aqueles que o amam. É a lógica do amor. É a regra de nosso relacionamento com Deus. – Senhor, quero carregar por vosso amor a minha cruz. E, passando pela porta estreita, chegar ao vosso reino. Amém” (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin –Graças a Deus (1995) – Vozes). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 30 de outubro de 2018


(Ef 5,21-33; Sl 127[128]; Lc 13,18-21) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado” Lc 13,21.

“Jesus, a caminho de Jerusalém, conta duas pequenas parábolas para dispor os discípulos para a experiência que haveria de fazer. Põem diante de nossos olhos uma das características próprias do Reino de Deus: é algo quer cresce lentamente. Estabelece-se o contraste entre o início do Reino, na humildade e na perda, e seu fim grandioso – como um grão de mostarda –, mas que chega a ser grande a ponto de oferecer refúgio às aves do céu. Só quem foi alertado para esta dinâmica divina será capaz de superar o desânimo e a decepção do momento. Com essa parábola Jesus exortou à paciência, à fortaleza, à esperança. Essas virtudes são particularmente necessárias àqueles que se dedicam à propagação do Reino de Deus. É necessário saber esperar que a semente plantada, com a graça de Deus e com a cooperação humana, vá crescendo, aprofundando suas raízes na boa terra e elevando-se pouco a pouco até converter-se em árvore. O Reino de Deus, prossegue Jesus, é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, era suficiente para fermentá-la e torná-la apta para a fabricação do pão. Só é necessário que o fermento esteja dentro da massa, que chegue ao povo. Também é necessário dar tempo para que a levedura realize seu labor. Com o Reino dá-se algo semelhante. Por trás desta dinâmica está o dedo de Deus, que capacita um punhado de pessoas pequenas e frágeis, um grupo inexpressivo para se tornar mediação de propagação do Reino, de modo a fermentar toda a história humana. – Espírito de esperança em Deus, ensina-me a perceber a ação divina fermentando a história humana por meio de pessoas frágeis e humildes  (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 29 de outubro de 2018


(Ef 4,32—5,8; Sl 01; Lc 13,10-17) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“O Senhor lhe respondeu: ‘Hipócritas! Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado’?” Lc 13,15.

“O chefe da sinagoga ficou encolerizado porque Jesus curou a mulher encurvada em dia de sábado. Mas não teve a coragem de repreender Jesus. Dirigiu-se ao povo, pedindo que viesse se curar durante a semana, e não aos sábados. Jesus enfrenta o chefe e assume a questão. E vai logo desmascarando a hipocrisia que encobria o falso zelo religioso. Pois se até o boi ou o jumento podiam ser soltos em dia de sábado para matarem a sede, como é que uma pessoa humana não podia ser libertada do seu mal em dia de sábado? Foi uma dura batalha que ele sustentou contra o legalismo religioso. Bateu firme contra os preconceitos que tornavam a religião um peso para o povo, impedindo-o de respirar com liberdade. Defendeu o direito dos discípulos de colherem espigas para matarem sua fome em dia de sábado. Curou o homem de mão aleijada, e provocou o debate do sentido do sábado antes de curar o hidrópico na sinagoga. E sentenciou com clareza: ‘o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado’. No mesmo sentido fulminou a estreiteza dos fariseus que o viam comendo junto com os pecadores, desafiando-os a compreenderem o projeto de Deus: ‘eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. É decididamente a serviço da vida e da dignidade das pessoas que se posiciona o Evangelho de Cristo. Este é a verdadeira religião que agrada a Deus. ‘Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância’. A partir desta convicção somos convidados a repensar o sentido da nossa fé e de nossas práticas religiosas. – Senhor Jesus, tua palavra e teu exemplo me libertam. Quero também me colocar com firmeza e esperança a serviço da vida. Ajuda-me com a força do teu Espírito. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus (1995) – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

30º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(Jr 31,7-9; Sl 125[126]; Hb 5,1-6; Mc 10,46-52).

1. Nossa liturgia se abre com esse trecho do ‘Livro da Consolação’ do profeta Jeremias, onde Deus aparece indo ao encontro dos exilados que retornam. Aclama-se a Deus por sua generosidade e cuidado com os mais frágeis, realçando sua paternidade e ao mesmo tempo a capacidade de criar novos começos, canta o salmo.

2. A 2ª leitura segue em sua reflexão sobre o sacerdócio do Antigo Testamento, entre o sagrado e o humano, e o chamado divino. Cristo abraça todas essas realidades, mas diferentemente dos outros, seu sacerdócio é eterno, em Sua oferta contínua pelo bem da humanidade.

3. A caminhada de Jesus com seus discípulos chega ao fim com esse episódio do cego, que sinaliza como se dá o verdadeiro seguimento à Sua pessoa. No centro da narrativa está Bartimeu, cego e mendigo, que uma vez tendo recuperado a visão, deixa de pedir esmola e passa a seguir a Jesus.

4. Há um pequeno retrato do caminho da fé que brota dessa narrativa. Ele ouve falar que Jesus vai passar. Ele expressa o seu desejo de maneira acentuada, mas deverá vencer toda uma barreira que se lhe impõe para fazer sua voz chegar a Jesus.

5. Todo caminho de fé começa com a escuta da Palavra e com tomar posição perante a mesma. Do clamor do cego recolhemos a oração necessária. Toda relação autêntica com Deus precisa dessa base. Quanto aos obstáculos, quem crê em Jesus e quer segui-lo deve preparar-se para enfrentar obstáculos.

6. Ele é escutado e convidado pelo próprio Jesus. Ele dá um salto, lançando fora o manto, seu único bem, mas também um empecilho para o seu caminhar. No diálogo com Jesus, Bartimeu o reconhece como Mestre, dando um tom pessoal ao seu relacionamento com Ele, reconhecendo-o como Senhor de sua vida. Recupera e vista e passa a seguir a Jesus.

7. É pela oração confiante e perseverante que se chega ao coração de Deus. A resposta virá, como veio para Bartimeu, que não pensou duas vezes, libertando-se de tudo aquilo que tinha atrapalhado sua relação com Deus. Ele quer uma visão, uma instrução a cerca de como viver seu discipulado. Comumente queremos uma solução.

8. O tema da cegueira, dentro da Sagrada Escritura serve como paradigma da caminhada de fé de cada discípulo. Vimos o jovem rico, o pedido de João e Tiago e as diversas falhas apontadas no modo de caminhar e seguir a Jesus por parte dos discípulos em meio a multidão anônima.

9. Eis um convite para uma séria decisão pela pessoa de Jesus em meio a toda confusão e dificuldades que nos cercam. Que não nos falte o sentido de gratidão por esse seu ‘passar’ em nossa vida, em nosso caminho, dando-nos uma outra visão do nosso existir.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 27 de outubro de 2018


(Ef 4,7-16; Sl 121[122]; Lc 13,1-9) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus lhes respondeu: ‘Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo’” Lc 13,2-3.

“Converter-se e produzir fruto: essa dupla exigência se desprende com força da controvérsia e da parábola transmitida por Lucas. O que se vive não é indiferente a Deus. Ele não pode aceitar a facilidade e a desordem. Aos olhos de Deus, o ser humano está sempre chamado a tornar-se mais do que é. Deus espera o máximo, assim como o vinhateiro não estará plenamente satisfeito enquanto sua vinha ou a sua figueira não derem tudo o que podem dar: ‘senão, tu cortarás’. Converter-se deixar o evangelho entrar em sua vida e invadir aos poucos todo o seu espaço disponível, mesmo a custa de reversões e renúncias difíceis, confiando na lei paradoxal do ‘quem perde ganha’ (Lc 9,24). Produzir fruto: chegar ao ponto em que a lógica evangélica se encarne e desenvolva toda a sua fecundidade graças à transformação efetiva das maneiras de ver e de viver. Esse ideal e essas exigências, a pregação do Evangelho, devem, hoje como sempre, ser lembrados sem cessar, no seguimento de Jesus e como o mesmo vigor que ele. O Evangelho é uma Boa Nova, mas uma boa nova que custa. Nesse ponto, não se poderia transigir sem trair. Porém, como lembra a segunda parte da parábola da figueira (Lc 13,8-9), não se deveria, ao proclamar bem alto sua exigência, esquecer a novidade do Evangelho e limitar-se só à etapa anterior, por grande que seja, da pregação do Batista. É que a exigência não vem sozinha. Deus chama, mas Deus dá, e se preciso pode tomar a dianteira: ‘Deixe-me cavar em torno e adubar; talvez produza frutos...’ Se, passando em Jericó, João Batista tivesse visto Zaqueu trepado no sicômoro, só teria sabido proclamar a exigência: ‘Zaqueu, vou passar de novo e, se até lá te converteres, ficarei em tua casa’. Jesus porém se adianta e de repente fala de um dom que antecipa: ‘Zaqueu, desce depressa, hoje mesmo devo ficar em tua casa’. Assim antecipada, a exigência seguirá: a conversão virá responder ao dom: ‘Zaqueu de pé, disse ao Senhor: ‘Senhor, eis que dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo’ (Lc 19,8). Proclamar a exigência, mas inseparavelmente do dom. Não consistira nisso, desde Jesus, a evangelização, a ponto de que se uma ou o outro fosse deixado de lado a evangelização ficaria desfigurada, exatamente como se em Lucas 13 a parábola terminasse no v. 7?” (Michel Gougues – As Parábolas de Lucas – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de outubro de 2018


(Ef 4,1-6; Sl 23[24]; Lc 12,54-59) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?” Lc 12,56.

“Antes de partir para o céu, Jesus prometeu a seus Apóstolos o Espírito. O Espírito, ademais, Jesus havia prometido a todos os futuros cristãos. Mas o Espírito que é para todos é dado a cada qual de acordo com a sua própria responsabilidade: vocês conhecem a confidência de Cristo: ‘Ele vos dirá tudo o que é preciso fazer, tudo que é necessário dizer’. Cada pessoa não tem as mesmas coisas a dizer, as mesmas coisas a fazer. E o Espírito é dado segundo a responsabilidade própria de cada um. Não devemos crer que o Espírito seja algo mecânico que nos entrega soluções prontas... Não, não é dessa maneira que o Espírito é dado. O Espírito nos ajuda em todos os acontecimentos, em tudo que se passa... a fazer referência ao Evangelho, ao que Cristo disse. O Papa João XXIII falava de ‘sinais dos tempos’: os acontecimentos percebidos sob a luz do Espírito e explicados por meio do Evangelho são sinais dos tempos! Importa interpretá-los segundo e Evangelho, na Igreja. A apreciação não se impõe automaticamente: é preciso que me deixe convencer na oração, na contemplação. E depois, quando eu houver discernido, devo ainda repartir meu discernimento pela comunidade dos cristãos; pois não sou eu só que testemunho o Evangelho de Jesus Cristo, todos os cristãos estão comigo. Não é suficiente ter discernido só, pelo Evangelho, a presença do Espírito na vida, em tal acontecimento; é preciso ainda ver os cristãos, ajuda-los, eles também, a fazer a mesma caminhada, a mesma reflexão. Anunciar o Evangelho será sempre difícil: quando Agostinho, Ambrósio, Atanásio o anunciaram, eles tiveram também contraditores... Ter-se-ia a tentação, algumas vezes, de abandonar, de deixar tudo, digamos o termo, de ‘demissionar-se’ diante da responsabilidade; não se deve fazer isso. Vejam Nosso Senhor no deserto: o Espírito impeliu-O ao deserto; ele lhe propôs tentações, as de livrar-se disso, de passar de lado. Seu combate foi de prosseguir sem compromisso, o do Pai, para os homens. Foi este combate espiritual que Ele levou ao deserto: aproveitou o silêncio e a oração para ‘purificar’ (se assim posso dizer) as proposições que lhe eram feitas: o poder, o dinheiro, os bens; Ele purificou isto, a fim de se comprometer para sempre. Eu tenho meu deserto também, meu escritório, a Igreja, onde, também eu, só com Deus, me encontro...” (Cardeal Marty – Leituras do Povo de Deus (Fazer referência ao Evangelho) – Editora Beneditina – Salvador – Ba).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 25 de Outubro de 2018


(Ef 3,14-21; Sl 32[33]; Lc 12,49-53) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso! Devo receber um batismo e como estou ansioso até que isso se cumpra!” Lc 12,49-50.

“Hoje, o Evangelho nos apresenta Jesus como uma pessoa de grandes desejos: ‘Fogo eu vim lançar sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!’ (Lc 12,49). Que fogo é esse que ainda não se propagou? Recorrendo à pregação dos antigos profetas, é possível relacionar as palavras de Jesus com o juízo final. O Mestre já queria ver o mundo arder em caridade e em virtude. Nada menos! Tem que passar pela prova de um batismo, quer dizer, da cruz, e já queria tê-lo passado. Naturalmente! Jesus tem planos e tem pressa em vê-los realizados. Poderíamos dizer que é pressa de uma santa impaciência. Também nós temos ideias e projetos, e queríamos vê-los realizados rapidamente. O tempo estorva-nos. ‘Como que angustio até que isso se cumpra’. A realização do desejo de Jesus exigia dele passar para uma prova terrível. Só em pensar nela, ficava angustiado. Por isso, desejava vê-la superada o mais rápido possível. Trata-se de um batismo, que não é o de João, recebido no início do seu ministério. Neste batismo, ele se mostrou solidário com o povo pecador, em busca de conversão, em vista do perdão futuro. Agora deverá passar por outro batismo, por uma nova prova em vista da purificação do seu povo. É a pressão da vida, a inquietude experimentada pelas pessoas que têm grandes projetos. Por outro lado, quem não tem desejo é um covarde, um morto. E, além disso, é um triste, um amargurado que costuma desabafar criticando os que trabalham. São as pessoas com desejos que se mexem ou originam movimento à sua volta, as que avançam e fazem avançar. Os santos aspiram ao máximo. Não se assustaram diante do esforço e da pressão. Mexeram-se. – Pai, que o batismo de Jesus, por sua morte de cruz, purifique-me de todo pecado e de toda maldade, como um fogo ardente, abrindo o meu coração totalmente para ti  (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de outubro de 2018


(Ef 3,2-12; Sl 12,39-48; Lc 12,39-48) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” Lc 12,48b.

“Existem textos na Bíblia que impressionam pela firmeza com que exigem responsabilidade daqueles que o leem. Parece-nos que este é mais um caso (cf. Lc 12,39-48). Após ouvir um questionamento de Pedro (v. 41), Jesus discorre sobre como deveria ser o procedimento de seus servos na missão que lhes confiara. Devemos lembrar que esse texto não se refere à a salvação; trata-se da obediência dos servos em relação ao trabalho e a afirmação de Jesus é que para os fiéis haverá honra (v. 37) e para os infiéis, castigo (v. 46). Jesus deixa claro que o nível da exigência é sempre proporcional aos recursos que o servo recebeu para cumprir sua missão. Há uma missão que foi confiada e que, pela qual, devemos atender com uma vida de fidelidade e prudência (v. 42). Há, porém, uma advertência especial aos apóstolos e seus sucessores, afinal ‘será pedido muito de quem recebe muito; e, daquele a quem muito é dado, mais será pedido’ (v. 48b). Em todas as circunstâncias devemos ter a certeza de que privilégios maiores trazem tentações maiores e, por conseguinte, responsabilidades maiores (Tg 3,1). Essa é uma forma equilibrada da retribuição divina com base na justiça: cada um recebe pelo que fez, e a ignorância não é desculpa para eximir-se da responsabilidade. Que grande desafio! Devemos lembrar, dia após dia, que quanto maior a nossa fidelidade, mais oportunidade e responsabilidades nos serão confiadas e, quanto mais conhecermos a vontade do Senhor, mais somos chamados a trabalhar eficazmente. Em um mundo em que a infidelidade está bem presente, a fidelidade do servo de Deus se confirma por meio de uma vida cristã genuína, administrando bem as riquezas espirituais que Ele colocou sob nosso cuidado para o benefício de tantas outras pessoas que necessitam. – Senhor, ajuda-nos a conhecer a tua boa e agradável vontade cada dia mais, para que vivamos em plena fidelidade a ti. Amém!”  (Iracy Dourado Hoffmann – Meditações para o dia a dia (2017) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de outubro de 2018


(Ef, 2,12-22; Sl 84[85]; Lc 12,35-38) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando o seu Senhor voltar de uma festa de casamento para lhe abrirem imediatamente a porta, logo que ele chegar e bater” Lc 12,35-36.

“Era outrora uma fonte de perplexidade para os crentes ver que os maus triunfam lá onde os servos de Deus parecem malograr. O mesmo acontece no tempo do Evangelho. E, contudo, a Igreja tem este privilégio especial que nenhuma outra sociedade religiosa possui, de saber que, tendo sido fundada por ocasião da primeira vinda do Cristo, ela não desaparecerá antes da sua volta. Entretanto, no curso desta geração, parece que ela sucumbe e que os inimigos triunfam. Os reinos se fundam e depois desaparecem; as nações se estendem e depois se limitam; as dinastias começam e acabam; as sociedades, as instituições, as seitas se fazem e desfazem. Eles têm seu tempo, mas a Igreja é eterna. E, no entanto, em seu tempo, elas parecem ter uma grande importância. Vemos hoje numerosas escolas de pensamento, de seitas e partidos, que crescem e se desenvolvem, enquanto que a Igreja parece pobre e impotente... Vemos formas imperfeitas de cristianismo mais florescente do que a Igreja católica. Vemos a Igreja escrava do Poder parecer mais próspera do que a Igreja livre, e as diversas seitas mais dinâmicas do que a Igreja mesma. Vemos os instigadores do que chamamos ‘heresias’ e os agentes de divisão realizarem o que a Igreja não faz ou não pode fazer. Vemos sociedades separadas da Igreja enviar missões aos pagãos e chegar a convertê-los. Quando consideramos tais fatos, os que são expostos à tentação têm necessidade duma fé especial para ficar fiéis aos antigos costumes da Igreja e para ficar insensíveis aos sofismas e aos êxitos do mundo que os rodeia. Quanto a nós, peçamos a Deus que nos instrua, e digamos: ‘O teu Reino se torna visível quando vamos aonde nos envias e cremos na força das ações modestas. Dá-nos a confiança e nós creremos que o impossível neste mundo é possível para ti, porque és o Deus das promessas’” (Card. Newman – Parece que ela sucumbe (Sobre a Igreja) – Editora Beneditina Ltda. – Salvador – BA).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de outubro de 2018


(Ef 2,1-10; Sl 99[100]; Lc 12,13-21) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“E disse-lhes: ‘Atenção! Tomais cuidado contra todo tipo de ganância, porque mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” Lc 12,15.

“Dois irmãos procuraram Jesus para constituí-lo juiz da repartição da herança. Em sua resposta, Jesus faz questão de dizer que não tinha a incumbência, que infelizmente precisa existir na sociedade: julgar a razão dos que disputam entre si por causa dos bens a repartir. Não era esta a sua missão. Mas ele vai na raiz do problema: a ganância. E aproveita a oportunidade para então se dirigir a todos, como observa o evangelho. E faz questão de ressaltar que ‘qualquer tipo de ganância’ é perigosa. Indo mais a fundo, Jesus coloca a questão verdadeira que precisa sempre guiar nossos critérios: a vida humana. Ela não depende da quantidade de bens que possamos ter. A vida! Esta  realidade grande e profunda, a serviço da qual tudo precisa estar subordinado. Se os bens se colocam a serviço da vida, recebem valor e participam de sua dignidade. Se, ao contrário, se sobrepõem à vida, se tornam perversos e acabam arruinando a própria vida. Além do mais, a vida, tão preciosa, continua sendo tão frágil, que só pode estar garantida pelas mãos onipotentes de Deus. Só nele repousa nossa vida. E mesmo quando as circunstâncias trágicas podem estraçalhar nosso corpo, nossa vida continua segura nas mãos de Deus. A ganância, porém, entulha o coração com ambições que sufocam e abafam a vida. – Senhor, livrai-me da ganância que sufoca a vida. Abençoai os pobres que sabem partilhar. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus (1995) – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

29º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(Is 53,10-11; Sl 32[33]; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45)

1. Ouvindo esses poucos versículos do profeta Isaias, temos uma recordação do tempo quaresmal e seus textos relacionados com a paixão de Cristo. É novamente esse anúncio de sua paixão que escutaremos no evangelho, mas com que sentido?

2. O sentido da contemplação da dor de Cristo, na Sua fidelidade ao Pai, como serviço de salvação à humanidade. Assim seus discípulos devem entender que o seguimento passa por essa entrega confiante a Deus, iluminada pelo salmo que segue como resposta orante.

3. O autor da Carta aos Hebreus compara o sacerdócio de Cristo com os que o precederam no Antigo Testamento para concluir sua excelência na ausência de pecado em Jesus, que vivendo perfeita comunhão com Deus, alcança misericórdia para todos nós.

4. Mesmo não sendo um pecador, Jesus conviveu com a humanidade e é capaz de compreender quem somos; por isso podemos nos aproximar sem temor do trono da graça em meio às vicissitudes da vida.

5. Para entendermos a colocação de Jesus aos discípulos sobre a dimensão do serviço, precisamos compreender que Ele acabara de anunciar, pela terceira vez a sua paixão, quando, os filhos de Zebedeu, O surpreende com tal pedido. Eles representam a totalidade dos discípulos que não entenderam sua missão e proposta.

6. Ao acolher o desejo de João e Tiago, coloca-o numa perspectiva mais elevada, aquela do amor oblativo, que os convida a uma fidelidade na entrega de si mesmos, como fez Jesus, mas adverte-os que o seu reinado em nada se compara com o modo humano de pensar.

7. Para seguir Jesus, não basta uma disposição interior, regida pelas próprias forças, mas uma contemplação contínua de Sua pessoa como força inspiradora, capaz de uma entrega pessoal pela mesma causa que Ele abraçou: o ser humano.

8. O Evangelho quer lembrar que ninguém, ou mesmo a comunidade cristã, está isento da tentação da procura de uma imagem idealizada de si mesmo ou de ter poder sobre alguém ou alguma coisa. Isso requer uma autocrítica capaz de romper com essa competição que invade as relações e que obscurece muitos projetos comunitários.

9.  Jesus não ‘doura a pílula’, comprometer-se com Ele não é fácil, por isso se requer uma opção livre, consciente e generosa de si.

10. “A comunidade de Jesus, quando é autêntica, não pode deixar de ser alternativa aos esquemas mundanos do poder, e só quando é assim é que consegue testemunhar o seu Senhor, Aquele que, possuindo todos os poderes e glória, Se entregou até à morte, como servidor da Humanidade” (Giuseppe Casarim – Lecionário Comentado – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de outubro de 2018


(Ef 1,15-23; Sl 8; Lc 12,8-12) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Mas aquele que me renegar diante dos homens, o filho do homem também dará testemunho dele diante dos anjos de Deus”. Lc 12,9.

“Hoje ressoam outra vez as palavras de Jesus convidando-nos a reconhecê-lo diante dos seres humanos. Jesus procurou inculcar nos seus discípulos uma confiança total na ação do Espírito Santo. Tal confiança seria necessária, em vista dos desafios que iriam encontrar no exercício da missão, e da consequente exigência de uma corajosa confissão de fé. Ajudá-los-ia a encontrar a palavra correta, quando fossem levados aos tribunais. Movidos por esta força divina, estariam em condições de testemunhar, com ousadia a própria fé. Porém, Jesus os adverte seriamente: Ai do discípulo que fraquejar e, numa hora de aperto, renegar sua fé, por não estar aberto à ação do Espírito. Suas perspectivas de discípulo infiel serão sombrias e preocupantes: o Filho do Homem irá renega-lo quando comparecer diante de Deus. Tratando-se de recusa a deixar-se mover pelo Espírito Santo, seu gesto seria considerado blasfêmia contra Ele. E para este pecado não se prevê perdão. Quem conhece Jesus apenas em sua dimensão humana, não chegando a aderir a Ele pela fé e tornar-se seu discípulo, e até mesmo vir a falar contra Ele, poderá ser perdoado. Tudo se passa diversamente com quem é discípulo, que chegou a reconhecer a messianidade de Jesus e sua íntima união com o Espírito Santo, por meio do qual opera milagres. Portanto, renegar Jesus é também renegar o Espírito: deixar-se instruir pelo Espírito é predispor-se para dar testemunho corajoso de Jesus. Estamos num tempo, em que na vida pública reivindicamos a laicidade, obrigando os crentes a manifestar a sua fé somente no âmbito privado. Quando um cristão diz alguma coisa publicamente, porém seja cheia de sentido comum, incomoda, somente porque vem de quem vem, como se nós não tivéssemos direito – como todo o mundo! – a dizer o que pensamos. Por mais que lhes incomode, não podemos deixar de anunciar o Evangelho. – Pai, que eu seja instruído pelo Espírito Santo para estar sempre pronto a dar testemunho corajoso de minha fé em teu Filho Jesus (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de outubro de 2018


(Ef 1,11-14; Sl 32[33]; Lc 12,1-7) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada de oculto que não venha a ser conhecido” Lc 12,2.

“Atualmente, as novas tecnologias permitem que as pessoas sejam ‘vigiadas’ quase o tempo todo, tornando quase impossível se esconder. E a nossa realidade interior? Conseguimos escondê-la como por vezes queremos? No texto acima Jesus responde que não! Ao perceber que a multidão o esperava (cf. Lc 12,1-7), Jesus faz um alerta particular aos discípulos: eles precisavam ter cuidado com o fermento dos fariseus, que era hipocrisia (12,1). No Novo Testamento, de maneira figurada, os escritores referem-se ao fermento para expressar uma influência que corrompe (1Cor 5,6), como se fosse um poder secreto, quase sempre mau, que se alastra e danifica as pessoas. Em outra ocasião, Jesus advertira que o fermento dos fariseus era a doutrina (Mc 6,12); aqui, Jesus diz que é a hipocrisia. Ambos são indissociáveis: o ensino equivocado pode levar a hipocrisia. Assim, a atitude daqueles religiosos operava como um fermento, espalhando-se e prejudicando as pessoas por meio de ensinamentos falsos. Entretanto, logo tal realidade seria exposta, nada ficaria encoberto. Os falsos servos de Deus seriam revelados como impostores e a hipocrisia se manteria oculta. A hipocrisia se evidencia como a falta de coerência entre o discurso e a prática. É como aparentar algo de piedade quando convém e, às escondidas, viver um enredo diferente. Porém, ninguém mantém uma aparência sempre. Com o tempo, a falsidade é descoberta, pois Deus traz à luz os mais profundos segredos. Para o cristão, a vida deve ser um testemunho. De fato, é fácil criticar os fariseus e os hipócritas; o difícil é cada um resistir à tentação de demonstrar uma aparência de piedade à multidão quando nosso coração está distante da verdade de Deus. Que Deus nos ajude na superação de nossas contradições! – Senhor, que a nossa vida seja uma expressão da verdade e que consigamos vencer as ilusões que nosso ego por vezes busca. Amém!” (Iracy Dourado Hoffmann – Meditações para o dia a dia (2017) – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de outubro de 2018


(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) 
São Lucas, Evangelista.

“Em qualquer casa em que entrardes, dizei, primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará a vós” Lc 10,5-6.

“São palavras que Jesus disse aos setenta e dois, quando os enviou em missão. Deviam ir dois a dois. E deviam partir desarmados e desprovidos, como cordeiros no meio de lobos, sem levar bolsa, nem sandálias, nem sacola. Só deviam, isto sim, levar a paz, para oferecer gratuitamente a quem quisesse recebe-la. O Evangelho de Cristo não se impõem por força humana. Ele precisa ser transmitido pelo testemunho de quem o vive, no respeito à liberdade de quem o recebe. Por isto, a própria maneira como os discípulos deviam ir já fazia parte do Evangelho que estavam levando. A única insistência do pregador é a paz, que pode ser comunicada quando encontra a porta aberta, e que nunca é perdida por quem transmite. O Evangelho não tem compromisso com metas estabelecidas, com planos de conquista, com estratégias de convencimento. Ele permanece gratuito, na integridade como Cristo o viveu e o transmitiu aos discípulos que se deixaram por ele cativar. Mas o Evangelho não sairá nunca mais do coração de quem soube experimentar a paz que ele comunica. Seu selo é a paz de espírito, de quem descobriu o tesouro que não será roubado, de quem experimentou a certeza de ter seu nome escrito no céu. De quem sente o olhar profundo do amor de Deus pousando sobre ele. Quem fez esta descoberta sairá pelo mundo anunciando a Boa-Nova. E não perderá nunca a paz que invadiu o seu coração. – Obrigado, Senhor, pela paz profunda que vosso amor me garante. Que ela possa um dia ser partilhada por todos. Amém”.   (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus (1995) – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 17 de outubro de 2018


(Gl 5,18-25; Sl 01; Lc 11,42-46) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus” Lc 12,42.

Da Comissão espanhola de Justiça e Paz: “A Igreja, fiel transmissora da mensagem de justiça e de paz do Evangelho, é claro que deve sentir mais que ninguém a urgente necessidade de confirmar suas palavras com o testemunho e o exemplo de seus fatos. Isto exige dela que, na vida e no comportamento de todos os seus membros, bem como em suas estruturas humanas, mostre ao mundo a face da justiça e da paz. A história passada e atual da Igreja contém provas claras do caminho que ainda resta percorrer a fim de alcançar satisfatoriamente o nível da justiça e de paz que lhe impõe a mensagem evangélica. Também neste aspecto humano e cristãos deve-se dizer que a Igreja necessita sempre de reforma. Como comunidade de crentes em Cristo, deve revisar as relações de justiça entre seus membros, afim de salvaguardar os direitos humanos que correspondem a cada um, fugindo tanto da tentação de autoritarismo como da revolta, de pretender ter monopólio da verdade em assuntos opináveis, tanto de uma parte como da outra, de procura impor de modo abusivo os próprios critérios sem deixar lugar para o diálogo fraterno, de limitar arbitrariamente a liberdade alheia, e menosprezar o valor da opinião pública em seu seio, de deixar de cumprir os deveres da justiça na ordem econômica e social que ela exige em nome do Evangelho, de romper a concórdia e a paz por falta de mútua compreensão e humildade. Enquanto proclama os princípios que afetam a justiça e a paz e se esforça por aplica-los aos fatos reais do mundo em que vive imersa e dela mesma, deve assumir também o risco de denunciar profeticamente a injustiça, onde quer que essa se encontre ou pretenda instalar-se, mesmo quando ao fazê-lo concite contra ela, contra os membros de sua hierarquia ou de seu laicado, a crítica, a incompreensão e até o desprezo e a perseguição dos poderosos da terra. Está obrigada a afirmar sua liberdade, assegurando-a contra todo enfeudamento que provém da aceitação de privilégios, de honra, de posição ou dinheiro, que o mundo lhe ofereça. Deve evangelizar, como Cristo, os pobres, tornando-se pobre com eles. A paz na Igreja, como no mundo, exige um trabalho esforçado, árduo e constante, pela justiça. Trabalhar pela justiça é, portanto, para os crentes em Cristo, um imperativo do Reino de Deus (Mt 5,10). É o mesmo imperativo também para todo aquele que ama o homem e a sociedade e que, por isso, forma parte dos ‘homens de boa vontade’ de que fala a Palavra de Deus. Trabalho duro e fatigante. Arriscado inclusive, quando deve enfrentar de algum modo situações de injustiça. Mas só quem se presta a este trabalho pode aspirar à paz autêntica e, em definitivo, à plena posse da mesma em Deus. O trabalho pela justiça – como condição para consecução da paz – deve começar pela conversão pessoal ao espírito de paz, e pela decidida vontade de fazer desaparecer de cada um tudo aquilo que em nossa ação é causa de injustiças num âmbito maior ou menor da sociedade, quer seja doméstica, profissional, regional, nacional ou internacional (Dia Mundial da Paz de 1972. Sedoc. Ed. Vozes. Setembro 1973/349-350)” – (Leituras do Povo de Deus – Editora Beneditina Ltda – Salvador – Bahia).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de outubro de 2018


(Gl 5,1-6; Sl 118[119]; Lc 11,37-41) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“O Senhor disse ao fariseu: ‘Vós, fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades” Lc 11,39.

Conhecendo um pouco os fariseus: “Os fariseus eram um grupo formado por letrados, muito familiarizados com as tradições e costumes de Israel. Muitos deles exercitavam tarefas de caráter administrativo ou burocrático sobretudo em Jerusalém: provavelmente ganhavam a vida como escribas, educadores, juízes e oficiais subordinados às classes governantes. Não sabemos quase nada sobre sua organização interna. Sentiam-se unidos por um conjunto de crenças e práticas que os identificava diante do povo. Não constituem, no entanto, um bloco homogêneo. Há entre eles desacordos e diferentes pontos de vista. [...] A primeira preocupação do movimento fariseu era assegurar a resposta fiel de Israel ao Deus santo que lhes dera a lei, que os distinguia de todos os povos da terra. Daí seu desvelo em aprofundar-se no estudo da Torá e seu cuidado em cumprir estritamente todas as prescrições, em especial as que reforçavam a identidade do povo santo de Deus: o sábado, o pagamento dos dízimos para o templo ou a pureza ritual. Além da lei escrita de Moisés, consideravam obrigatórias as chamadas ‘tradições dos pais’, que favoreciam um cumprimento mais atualizado da Torá. Preocupados com a santidade de Israel, os setores mais radicais pretendiam obrigar todo o povo a cumprir regras de pureza que só obrigavam os sacerdotes no exercício de sua tarefa cultual no templo” (José Antonio Pagola – Jesus: Aproximação Histórica – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 15 de outubro de 2018


(Gl 4,22-24.26-27.31—5,1; Sl 112[113]; Lc 11,29-32) 
28ª Semana do Tempo Comum.

Hoje a Igreja faz memória de Santa Teresa de Jesus, uma referência para os que buscam a sua união com Deus através de uma vida de oração e muitas vezes se vêm em grande dificuldade de lidar com a mesma. Essa carmelita, além de tantas outras virtudes com as quais Deus a revestiu, lutou por muito tempo para manter-se concentrada em Deus. Lhes ofereço esse comentário:

“Não desanimemos se, apesar de tudo, a oração nos custa, se temos distrações, se parece que não obtemos muito fruto. O desalento é, em muitas ocasiões, a maior dificuldade para perseverarmos na oração. Santa Teresa também nos relata as suas lutas e as suas dificuldades: ‘Durante alguns anos, muitíssimas vezes, mais me ocupava em desejar que terminasse o tempo que fixara para ter oração e em escutar se o relógio dava as horas, do que em outras coisas boas; e fartas vezes não sei que penitência grave se me apresentaria que eu não a acometesse de melhor vontade do que recolher-me a orar mentalmente’. Se procurarmos afastar as distrações e nos empenharmos em buscar mais o Deus dos consolos do que os consolos de Deus, como sublinharam tantos autores espirituais, a nossa oração terminará sempre cheia de frutos. Muitas vezes, será até um grande bem não experimentarmos nenhum consolo sensível, para assim procurarmos Jesus com maior retidão de intenção e unirmo-nos mais intimamente a Ele. Às vezes, essa aridez que se experimenta na oração não é uma prova de Deus, mas resultado de uma verdadeira falta de interesse em falar com Ele, de falta de preparação interior, de falta de generosidade em dominar a imaginação... Temos de saber retificar com generosidade e prontidão. ‘Em todo caso, quem se empenha seriamente deve saber que virão tempos em que lhe parecerá vaguear por um deserto e em que, apesar de todos os seus esforços, não ‘sentirá’ nada de Deus. Deve saber que ninguém que leve a sério a oração consegue estar totalmente livre dessas provas. Mas não deve identificar imediatamente esta experiência, comum a todos os cristãos que rezam, com a noite escura de tipo místico. De qualquer modo, nesse período, deve esforçar-se firmemente por persistir na oração; ainda que tenha a impressão de uma certa ‘artificialidade’, deve saber que se trata na verdade de algo completamente diverso: é precisamente então que a oração constitui uma expressão da fidelidade a Deus, em cuja presença quer permanecer apesar de não ser recompensado por nenhuma consolação subjetiva’ (Sagrada Congregação para doutrina da Fé, Sobre alguns aspectos da meditação cristã). Agora, como nos tempos conturbados de Santa Teresa, ‘é precisa muita oração’, pois ‘é grande neste momento a sua necessidade’ (Sta. Teresa – Carta 184,6). A Igreja, a sociedade, as famílias e as nossas almas precisam dela. A oração permitir-nos-á vencer todas as dificuldades e unir-nos-á a Jesus, que nos espera diariamente no trabalho, nos nossos deveres familiares..., e de maneira particular nesse tempo que dedicamos somente a Ele” (Francisco Fernadez-Carvajal – Falar com Deus– Quadrante).  
  
Pe. João Bosco Vieira Leite

28º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30).

1. Mais um trecho do Livro da Sabedoria abre a nossa liturgia da Palavra, parte de um longo elogio que se faz à Sabedoria, vista como algo superior a qualquer bem que possamos imaginar ou desejar. Ela é a companheira ideal de quem desejar viver com responsabilidade neste mundo.

2. Ela é um dom divino e uma vez acolhida, torna-se um dinamismo interior que nos capacita a saber escolher o bem nas diversas circunstâncias. É esse elemento de ‘escolha’ que nos liga ao evangelho mais à frente.

3. O salmista também busca sabedoria, ‘contar bem os seus dias’, pois compreende os limites humanos, por isso se coloca nesse diálogo com o seu Criador sem qualquer ressentimento e desejoso de redescobrir o sentido da vida.

4. Fonte de sabedoria é a Palavra de Deus, nos lembra o autor da 2ª leitura. Com imagens resgatadas do Antigo Testamento, ele afirma que ela é capaz de sondar a alma humana até a sua profundidade; daí a metáfora da espada, para dizer que ela é capaz de alcançar o coração humano, o íntimo de sua liberdade.

5. A proposta do nosso autor é que o ser humano possa assumir com seriedade a condição da fé e discernir a presença da Palavra de Deus na própria vida. Não esqueçamos que essa passagem se encontra no contexto temático da reflexão sobre o sacerdócio de Cristo, ele é o último e decisivo apelo de Deus à conversão.

6. Caminhando com Jesus, os discípulos vão aprofundando o sentido do seguimento da Sua pessoa. O encontro com o jovem rico serve de elemento para a reflexão sobre o sentido dos bens materiais e como estes podem atrapalhar a compreensão do amor gratuito e livre de Deus.

7. No Antigo Testamento se vive essa dualidade que valoriza a riqueza como bênção de Deus e da engenhosidade humana, ao mesmo tempo que critica a riqueza acumulada injustamente.

8. Os evangelhos fazem um juízo desconfiado ou claramente negativo perante as riquezas pelo risco da idolatria do ter, da cobiça, da injustiça para com os mais necessitados. 

9. As comunidades cristãs tiveram que buscar o justo equilíbrio entre o trabalho e o consequente lucro como um aspecto necessário para a dignidade da vida cristã, lembrados que a finalidade dos bens materiais é sempre a de um serviço ao próprio caminho espiritual pela partilha e atenção aos mais necessitados.

10. Jesus deixa claro que àquele que tem fé, restará sempre uma interrogação de fundo de toda a vida, incluindo a questão moral. O seguimento deve ser resultado de uma experiência de amor a Cristo, em cujo olhar nos encontramos.

11. “Somente da sequela de Cristo podem brotar a luz e a força necessárias para uma justa relação com os bens materiais. O relacionamento com Jesus é caracterizado por alguns elementos: a prioridade dada à escuta da Palavra; a convicção de que os nossos bens não são apenas para nós próprios, embora os tenhamos adquirido honestamente, mas devem servir para a partilha; finalmente, cada um deve responder radicalmente à chamada que Deus lhe faz. Nem todos os cristãos são chamados, como o rico do Evangelho, a renunciar a todos os bens, mas todos são convidados ao seguimento de Jesus e ao serviço do próximo, porque este é o único caminho de vida e de felicidade” (Giuseppe Casarim – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite