Quarta, 01 de dezembro de 2021

(Is 25,6-10; Sl 22[23]; Mt 15,29-37) 

1ª Semana do Advento.

“Todos comeram e ficaram satisfeitos; e encheram sete cestos com os pedaços que sobraram” Mt 15,37.

“Como será que é ter fome? Nós até sentimos fome, mas logo procuramos algo para comer. Mas como será que é sentir fome e não ter nada para comer? Achamos que não, mas milhões de pessoas no mundo passam fome e esperam por um milagre. E nada! Crianças morrem de inanição, e ninguém por perto para aplacar a fome. Este é o mundo desigual em que vivemos, onde alguns têm muito e muitos têm pouco. Onde poucos se solidarizam com a necessidade dos outros, onde aqueles que mais têm mais querem. Esta foi a segunda multiplicação de pães e peixes, um milagre de Jesus para saciar a fome daquela multidão que estava ali para ouvi-lo (cf. Mt 15,29-37). E o mestre alimentou a todos com a Palavra e com a comida. É impossível dissociar uma coisa da outra. As pessoas têm fome da Palavra, mas, quando bate a fome de comida, não há nada que segure. Por isso, pensar em evangelizar sem olhar para as necessidades do povo não vai nos levar muito longe. Existe uma frase que diz: ‘Mente sana, corpore sano’. O ser humano não é dissociado de corpo e alma. Por isso, o nosso olhar deve estar voltado para o todo. Preocupamo-nos com a alma, mas não dá para descuidar do corpo. Um completa o outro. O milagre de Jesus hoje deveria acontecer através de nós. Deus espera de nós um olhar para o próximo e suas necessidades básicas. Quantas vezes neste ano você esteve perto de ajudar desabrigados por tragédias naturais, mas acabou não se mexendo. Jesus nos ensina a praticar o bem, principalmente quando somos abençoados e temos tudo aquilo que é necessário tanto para o corpo quanto para a alma. Minha ideia era começar esta devoção falando que precisaríamos de alguns milagres de Jesus ainda hoje. Mas o texto me levou a concluir que milagres acontecem todos os dias, e partem do coração daqueles que aprenderam a repartir. – Obrigado, Senhor, por tudo o que recebemos, pelo milagre da vida, pela alma e pelo corpo. Ajuda-nos a retribuir, a responder ao teu amor com amor ao próximo. Amém (Douglas Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 30 de novembro de 2021

(Rm 10,9-19; Sl 18[19A]; Mt 4,18-22) 

Santo André, apóstolo.                   

“É crendo no coração que se alcança a justiça e é confessando a fé com a boca que se consegue a salvação” Rm 10,10.

“Neste texto, Paulo põe em relevo aquilo que une judeus e gregos: a mesma fé em Jesus Cristo e na proposta de salvação que Ele traz. Deus preparou tudo o que podia para conduzir o seu povo Israel à salvação. O Evangelho da salvação é acessível a todos sem distinção, e está pronto para ser acolhido, a fim de libertar o ser humano e conduzi-lo para uma nova vida. O conteúdo fundamental é: Jesus é o Senhor da vida, porque Deus o ressuscitou dos mortos. E esse anúncio supõe que o cristão acredite em Jesus, dê sua adesão a Ele e o testemunhe na vida prática, aderindo à comunidade de irmãos, ‘justificados’ pela bondade e pelo amor de Deus. Esse povo, preparado para o encontro com Deus, não compreendeu sua Palavra. Faltando apenas aquilo que dependia da disposição de Israel: a fé. Portanto, o orgulho e a autossuficiência aparecem como algo que fecha aos seres humanos o caminho para Deus. Os orgulhosos e autossuficientes correspondem aos ‘ricos’ das bem-aventuranças: são os que estão instalados nas suas certezas, no seu comodismo, no seu egoísmo e não estão disponíveis para se deixar desafiar por Deus e para acolher, em cada instante, a novidade do amor de Deus. Como nos situamos face a isto? A nossa religião é um cumprir escrupulosamente as regras para assegurar o ‘lugarzinho no céu’, ou é um aderir na fé à pessoa de Jesus e à proposta gratuita de salvação que, através dele, Deus nos faz? Quando nos reunimos em assembleia e proclamamos Jesus como o nosso ‘Senhor’, somos uma verdadeira comunidade de irmãos, sem ‘judeu nem grego’, ou continuamos a ser uma comunidade dividida, com amigos e inimigos, ricos e pobres, negros e brancos, santos e pecadores, superiores e inferiores? – Pai, concede-nos a graça de abrir o nosso coração a ti, acolhendo na fé a salvação que ofereces em teu Filho e nosso Salvador Jesus Cristo (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 29 de novembro de 2021

(Is 2,1-5; Sl 121[122]; Mt 8,5-11) 

1ª Semana do Advento.

“O oficial disse: ‘Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa.

Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado’” Mt 8,8.

“A exclamação do oficial romano – ‘Senhor, eu não sou digno de que entres em mina casa’ – expressa a condição de todo cristãos, diante da iminente vinda do Senhor: somos todos indignos. A dignidade constrói-se pelo engajamento na luta por construir um mundo de amor e de justiça, compatível com o projeto de Deus, proclamado por Jesus. Resulta de um esforço gigantesco de neutralizar as consequências do egoísmo no coração humano, de forma que este recupere o primado da misericórdia e do perdão. Expressa-se num modo de proceder modelado no proceder de Jesus. A preparação para receber o Senhor acontece em meio às tensões da vida e às múltiplas solicitações provindas do mau espírito. Sob o impacto dessas pressões, o discípulo precisa estar pronto, quando o Senhor chegar. Daí a necessidade de um contínuo discernimento, para saber por onde ir e como caminhar, sem se desviar da meta. Caso contrário, correrá o risco de trilhar o caminho errado. Contudo, a consciência da própria indignidade não pode descambar para um estado de autodesvalorização, cujo efeito seria bloquear toda a iniciativa para superar as próprias limitações. Preparando-nos para acolher o Senhor, o pecador deve saber-se amado e valorizado por Deus, que o predispõe para abrir-se à ação da graça. – Espírito que predispõe para acolher o Senhor, que eu tome consciência de ser pecador, mas amado por Deus, o qual, com sua graça, me torna digno de acolher o Messias que vem (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).      

 Pe. João Bosco Vieira Leite

1º Domingo do Advento – Ano C

(Jr 33,14-16; Sl 24[25]; 1Ts 3,12—4,2; Lc 21,25-28.34-36).

1. Com o Advento se inaugura o novo ano, segundo o nosso calendário litúrgico. Este tempo concentrado em 4 domingos de preparação ao Natal, teve uma estruturação um pouco incerta, acabando por tomar como referência a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, particularmente no seu aspecto penitencial. ‘Quaresma de Natal’.

2. Com o tempo se percebeu a necessidade de retirar esse aspecto excessivamente quaresmal e resgatar os aspectos da alegre espera, da esperança em si e da serenidade. Sem com isso privar esse tempo das características reflexivas, de oração e purificação.

3. Nesses últimos tempos, a religiosidade popular entendeu essa dimensão fundamental da alegria do Advento, privilegiando, em sua prática devocional, a novena do Natal. Mas há um aspecto que não pode ser esquecido. Aquele do desejo. O Messias veio sobre a terra depois de ser desejado por séculos, nos lembra a 1ª leitura.

4. Assim, ao início de mais um ano, somos colocados nesse período de espera também desse evento definitivo, a chegada de Alguém, e somos convidados a expressar esse desejo de sua vinda. Como está na própria origem da palavra ‘adventus’, na linguagem civil da chegada de alguém importante. 

5. O paradoxo está no fato de esperarmos Aquele que, historicamente, já veio, como nos indica o Evangelho. E Aquele que virá, espera ser acolhido, que se crie espaço para Ele, que lhe prestemos atenção, nos insinua a 2ª leitura. O esforço de Paulo, em suas cartas, era, de certo modo, de despertar, trazer à luz, o cristão que há em cada batizado.

6. Esse personagem importante que vem não vem para receber homenagens formais, cumprir uma visita de cortesia, trocar umas ideias. Mas para uma mudança radical de mentalidade, de coisas. Acolhe-lo significa aceitar seu projeto de transformação que se chama ‘salvação’.

7. Mas o nosso evangelho coloca essa perspectiva de espera numa dimensão apocalíptica judaica, do retorno do Senhor com glória e com poder, despertando a ideia de juízo. Sim, também devemos ter esse olhar para o futuro.

8. Assim, esses dois eventos – a vinda de Cristo na carne e o seu retorno como juiz – são vistas numa mesma perspectiva de eventos salvíficos onde Cristo aparece como libertador.

9. Mas essa espera final não traz o selo do medo, ao contrário, a recomendação é: ‘Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima’. Acolhendo o Cristo na sua vinda misericordiosa, seremos acolhidos por Ele no seu retorno como juiz.

10. Se trata de avizinhar-nos, na esperança, ao Deus que se faz próximo na fragilidade da sua encarnação, acolher o seu perdão, sua paz, sua libertação. Só assim o ‘dia do Senhor’ não nos causará medo. Se trata de vigiar, estar desperto, deixar-se a cada dia inquietar-se em sua Palavra. Viver o tempo presente em seu caráter de decisão.

11. Pensando bem, não é somente nós que vivemos o Advento. Deus também o vive, esperando que o ser humano se decida. Ele veio ao nosso encontro, encurtou distâncias. Mas parece que permanecemos em nossas posições, em nossa imperturbável segurança. Se não quisermos que esse dia ‘caia de repente sobre nossas cabeças’, é necessário aceitar, hoje, essa aproximação de Deus.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 27 de novembro de 2021

(Dn 7,15-27; Sl Dn 3; Lc 21,34-36) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra” Lc 21,34-35.

“Muito importante esta advertência do divino Mestre: ‘estais atentos, para que o vosso coração não fique insensível!’ De fato, para que serve um coração insensível? Ter coração insensível é o mesmo que não ter coração. O coração é o eterno manancial da poesia – essa vibratilidade generalizada que dá sentido, cor, tom, sabor e alma a todas as atividades humanas. Uma vida sem poesia é como uma poesia sem vida: ambas são prosaicas. Para a Bíblia, o coração representa todo o nosso ser interior: nossa inteligência, nossa consciência, nossa afetividade. Daí a constante preocupação de Deus, já no Antigo Testamento, com o coração humano – que é a única coisa que Ele quer de nós: ‘Dá-me, ó filho, teu coração’ (Pr 23,26). Todavia, Ele não quer um coração duro e insensível. Muito ao contrário: ‘Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne’ (Ez 36,26). Um coração de pedra não sente o pulsar da natureza, as palpitações da vida, os toques da graça.... Não se comove com o drama da fome, da solidão, da dúvida, do desemprego, da injustiça, que massacra milhões de seres humanos. O coração de pedra é o verdadeiro assassino da humanidade. Sem coração, até os brutos se tornam mais brutos. Que o diga a mãe do ‘menino da porteira’: - ‘Quem matou meu filho, seu moço, foi um boi sem coração!’ O Pai diria: Quem matou meu Filho foi um mundo sem coração! – Senhor Jesus, no meio em que vivemos quantas coisas podem petrificar o nosso coração: a ganância, o egoísmo, o orgulho, o hedonismo.... Entretanto, para recuperá-lo há uma coisa só: o amor. Mas aquele amor que vos levou a morrer com o coração aberto para que ninguém mais viva com o coração fechado. Amém” (Geraldo de Araújo Lima – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sexta, 26 de novembro de 2021

(Dn 7,2-14; Sl Dn 3; Lc 21,29-33) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” Lc 21,33.

“Estamos quase chegando ao último mês do ano. Como os dias passam rápido! Nem tivemos tempo de fazer tudo o que foi planejado lá no início do ano. Nosso mundo realmente é um mundo líquido. O tempo passa. Tudo passa e nós não conseguimos segurar, assim como a água que escorre pela mão. Para muitos, a substância está nas coisas materiais, no consumo, no prazer, na busca por algo que nem sabemos bem o que é. Como mudar e pensar numa virada de ano que nos ajude a mudar estes conceitos? Na aproximação do Advento temos diante de nós textos escatológicos, que falam sobre o fim. E encontramos dicas importantes para fixar em nossa vida valores que realmente interessam. A base está na Palavra de Deus. Se tudo passa e nós não encontramos uma rocha firme para construir a nossa casa, eis aqui a base que tantos necessitam, mas não se dão conta. Se você está planejando um futuro melhor, quem sabe a grande mudança seja construir a sua vida, alicerçada na verdade que liberta. Vamos projetar dias melhores com leituras bíblicas diárias e com muita oração. Aqui descobrimos que existe algo que não passa: ‘as minhas palavras’, palavras de Jesus. Para quem busca substância, para quem deseja se aprofundar e viver uma vida santificada, o caminho tão procurado está aqui. Para quem tem sede da Palavra, aqui está a fonte. Admiro pessoas e famílias que conseguem construir suas vidas alicerçadas em Jesus. Ele aponta o caminho, corrige erros, equilibra o nosso dia a dia, traz-nos esperanças e definitivamente transforma o nosso ser. Que esta seja a primeira mudança, dentre tantas outras que precisam ser feitas. Não deixe para mudar a vida lá na virada do ano, comece agora. Quando deixamos para depois o tempo passa, e assim se vão também nossas melhores intenções. Portanto, tome a atitude correta hoje. – Deus e Pai, obrigado pela riqueza, pela profundidade das tuas palavras. Que este seja o nosso alicerce para uma vida sempre contigo. Ajuda-nos a planejar a nossa vida com este mapa. Amém (Douglas Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 25 de novembro de 2021

(Dn 6,12-28; Sl Dn 3; Lc 21,20-28) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça,

porque a vossa libertação está próxima” Lc 21,28.

“A descrição evangélica do fim do mundo reúne uma variedade de elementos. Seu objetivo é motivar a esperança e a perseverança no coração do discípulo. O pano de fundo do relato é a destruição de Jerusalém pelas tropas romanas e a narração dos sinais cósmicos, de caráter apocalíptico, postos em relação com a vinda de Jesus, como juiz libertador. As vicissitudes causadas pela invasão romana são expressas na fuga apressada para os montes, em busca de esconderijo, na matança da qual o povo foi vítima, e no cativeiro que foi imposto aos judeus. A situação das mulheres grávidas foi particularmente delicada, por não poderem fugir com a pressa exigida pela situação. A destruição de Jerusalém teve um sabor de fim do mundo. De fato, era como se o mundo tivesse vindo a baixo. Segundo os textos proféticos, a intervenção salvífica de Deus, na história humana, seria acompanhada de fenômenos cósmicos aterradores. E o universo inteiro seria abalado pelo poder absoluto de Deus. Neste contexto, é descrita a visão de Jesus, o Filho do Homem, manifestando-se como juiz de toda a humanidade. Jesus é o penhor da libertação do ser humano, e deve ser esperado com vigilância e fidelidade. Não importa quando isto aconteça. Importa sim, que o discípulo não esteja desprevenido. Vigilância e fidelidade acontecem quando se pratica a misericórdia. -  Senhor Jesus, que eu esteja vigilante e fiel à tua espera, pois vens como libertador (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de novembro de 2021

(Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28; Sl Dn 3; Lc 21,12-19) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” Lc 21,19.

“O futuro dos discípulos do Reino descortina-se num horizonte de perseguições, falsos testemunhos, prisões e até de morte. Essa seria a sorte de Jesus. Não poderia ser diferente a de quem, como ele, assumiu idêntico projeto de fidelidade ao Reino. Exige-se, do discípulo, coragem e perseverança. O discípulo corajoso não teme diante da perspectiva de ser levado perante reis e governadores, por causa de sua fé. E saberá desemprenhar sua missão de servidor do Reino até as últimas consequências. O discípulo perseverante não fica a meio caminho, nem se deixa vencer pelo desânimo ou cansaço. Sua fé está solidamente fundada, que arrisca tudo para atingir sua meta: a comunhão definitiva com o Pai. Fator de segurança é a promessa de Jesus: colocar na boca do discípulo corajoso e perseverante as palavras necessárias para se defender diante das calúnias e dos falsos testemunhos. Ele pode se despreocupar, porque lhe será dada uma sabedoria, de origem divina, a qual ninguém será capaz de contradizer. Portanto, o discípulo goza de contínua assistência do Espírito Santo, do qual lhe vem a força para resistir, mesmo à pressão de seus entes queridos. Desta forma, dará testemunho do senhorio de Deus em sua vida e será sinal do Reino para seus próprios perseguidores. – Senhor Jesus, faze-me perseverar na fé e no serviço aos irmãos, mesmo em meio a tribulações, de modo que eu seja uma testemunha autêntica do Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de novembro de 2021

(Dn 2,31-45; Sl Dn 3; Lc 21,5-11) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Vós admirais estas coisas? Dias virão que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” Lc 21,6.

“A importância do templo de Jerusalém não impressionava Jesus. As belas pedras e os ex-votos que o adornavam, não passavam de exterioridade. Seu fim se aproximava. A pregação de Jesus contra o templo situava-se na tradição dos antigos profetas de Israel, que o desmitificaram, anunciando-lhes a destruição. O templo podia vir a baixo, pois havia perdido sua finalidade, passando a acobertar as injustiças cometidas contra o povo. O Deus de Israel fora substituído pelos ídolos. Não tinha sentido acobertar com a capa da fé uma idolatrai desenfreada, com sérias consequências para vida do povo pobre. A situação não era muito diferente no tempo de Jesus. O templo e o sacerdócio estavam sob o domínio de uma aristocracia pouco preocupada com os pobres do país. O templo não era mais a casa do Deus verdadeiro, e sim, de falsos deuses que não questionavam a injustiça cometida contra os indefesos, nem a marginalização em que se encontrava grande parte da população. Eram os deuses dos privilegiados e beneficiados pelo sistema. Portanto, não era o Deus do Reino anunciado por Jesus. A destruição do templo eliminaria a falsa segurança religiosa de muita gente. E evitaria que se servissem do nome de Deus para acobertar maldades cometidas em nome da fé. É blasfêmia fazer o Deus verdadeiro compactuar com a injustiça. – Senhor Jesus, destrói todas as falsas seguranças religiosas às quais, porventura, eu esteja apegado, e faze-me acolher as exigências do Deus verdadeiro (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de novembro de 2021

(Dn 1,1-6.8-20; Sl Dn 3; Lc 21,1-4) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais. A vós louvor, honra e glória eternamente” Sl Dn 3,52.

“O livro de Daniel relata acontecimentos dos tempos difíceis de deportação e escravidão do povo de Deus. Tempos em que só na fé em Deus e na fidelidade à lei – a exemplo dos quatro jovens – é que os israelitas encontravam força para superar dificuldades. Na passagem bíblica (Dn 3,46-52) encontramos os jovens lançados na fornalha ardente pelos empregados do rei, que não concordavam com seus princípios religiosos. As labaredas chegavam até o alto da fornalha, mas o anjo do Senhor havia descido para perto de Azarias e seus companheiros. O fundo da fornalha ficou como bafejado por um vento refrescante. O fogo não queimou os jovens, e eles, na fornalha, se puseram a louvar, glorificar e bendizer a Deus: ‘Bendito sejas tu, Senhor Deus dos nosso pais! Louvado sejas e bem exaltado para sempre!’ O cântico dos jovens na fornalha é um hino de louvor, no qual eles bendizem o nome e a realeza do Deus que habita no templo e no céu. Todas as criaturas são convidadas a louvar o Senhor juntamente com eles: o firmamento, os fenômenos naturais, os homens, até os animais, os seres terrestres. É um convite à reflexão sobre a mais típica e verdadeira relação entre nós e Deus, e Ele conosco: relação de amizade e recíproca doação que, no pano do amor, constitui a essência da religião revelada. – Senhor, que os cristãos de hoje encontrem em toda parte a liberdade para vos louvar e se mantenham fiéis ao vosso amor. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Cristo, Rei do Universo - 2021

(Dn 7,13-14; Sl 92[93; Ap 1,5-8; Jo 18,33-37).

1. Ouvindo esse evangelho, tentamos imaginar a cara de Pilatos, esse indivíduo ambíguo, medíocre, indeciso, oportunista. Tinha diante de si este homem fraco, que não respondia às sutis acusações dos chefes políticos-religiosos, enquanto uma multidão continuava agitada do lado de fora.

2. Estamos diante de um homem livre, embora amarrado, que se deixa transportar, como um pacote, de um tribunal ao outro, e de um funcionário-juiz, preso em seus interesses, preocupações pela carreira, no desejo de tornar-se, ao menos por uma vez, um pouco popular.  Difícil estabelecer quem é juiz e quem é o acusado.

3. O interrogatório resulta bastante embaraçante, particularmente para Pilatos. Pois ninguém podia ser rei dos judeus, apenas tetrarca, que é o título dado por Roma, que apenas tolerava essa insistência em chamar de ‘rei’ o representante romano, essa figura quase decorativa.

4. A pergunta de Pilatos traz certa ironia. Jesus mantém-se sereno e, como de costume, responde à pergunta colocando uma outra. Pilatos levemente se descontrola. Não tem nada a ver com os problemas dos judeus, apenas o interroga como um possível desordeiro capaz de provocar uma insurreição. 

5. Quando Pilatos lhe devolve a pergunta, nem Jesus responde nem ninguém da multidão. De fato, não havia feito nenhum mal. Mas para nós tem uma pessoa pior do que aquela que faz o mal. É uma pessoa que pretenda nos ensinar um ‘bem’ diferente daquele que entendemos. Que revele a inconsistência e a insuficiência do nosso ‘bem’.

6. Algo se revela estranho naquela multidão que se faz indulgente a Barrabás. A este ‘rei’ não podemos perdoar o ‘bem’. Havia a Lei, bastava observa-la de maneira escrupulosa. Mas aí vem Ele e diz: ‘Mas eu vos digo...’. Desestabiliza seus ouvintes, convidados a ir além, num horizonte onde o amor é sem medida...

7. A verdade de Jesus desestabiliza nossa escala de valores e nossas cômodas classificações de justos e pecadores, amigos e inimigos. Nós e os outros... Um ‘rei’ agita o habitual e ainda por cima nos diz que o próprio Deus veio habitar entre nós. E nós estávamos bem com Ele lá no céu. Esse Deus sobre a terra é terrivelmente incômodo.

8. É por esse conjunto de revelações que Jesus está sendo condenado. Pilatos não vai insistir. É Jesus quem deixa claro de que reino ele está falando. Ele não é deste mundo. E difícil aceitar um reino que se baseia no amor e não na força, na fragilidade e não no poder. Um reino que às vezes nem coincide com a nossa Igreja. 

9. Um reino diferente, não baseado na grandeza e cujo sucesso não é aparente. Onde não há questões de honras, privilégios, carreiras. Um reino onde só se entra fazendo-se criança. Algo humilhante.

10. É nessa desconstrução que Jesus nos apresenta seu Reino. Ele vem na contramão das nossas ambições, do nosso desejo de sentir-nos importantes. E esse rei parece não se importar que seus súditos possam diminuir. Para Ele é uma questão da verdade. ‘Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz’.

11. É com esta imagem que encerramos esse ano de Marcos, tentando responder à pergunta sobre quem é Jesus. A solenidade de hoje deixa em aberto a resposta de que modo O reconhecemos como Rei de nossa vida. Quais critérios por Ele ensinados realmente fazem parte do nosso testemunho de vida?            

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de novembro de 2021

(1Mc 6,1-13; Sl 9A[9]; Lc 20,27-40) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” Lc 20,28.

“Os saduceus achavam impossível a ressurreição dos mortos. Quanto à moral, eram relaxados; quanto à religião, conservadores. Para eles, apenas a Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia eram aceitos como divinos e inspirados. Controlavam as atividades do Templo, especialmente a enorme circulação de dinheiro, e o comércio. Aliaram-se aos dominadores romanos como forma de garantir bem-estar. E pensando em desmoralizar Jesus, fazendo-o passar por tolo, pensavam em enredá-lo numa grande pergunta impossível de ser respondida e, assim, acusa-lo de pregar uma doutrina sem fundamento. Com isso, queriam desautorizá-lo como Mestre. Pela via do absurdo, tendo por base a chamado Lei do Levirato, prescrita pelo Deuteronômio, inventaram o caso de uma mulher que tinha se casado com sete irmãos. Ela seria esposa de quem, na hipótese de haver ressurreição? Os saduceus queriam medir a outra vida com os critérios desta e, assim, não dava certo. Ao acompanhar a resposta de Jesus, deviam superar a ideia de que a procriação humana continua no céu, onde as pessoas vivem uma felicidade perfeita, sem as vicissitudes humanas. Deviam ler com mais atenção a parte da Bíblia à qual estavam apegados e verificar que ela fala de um Deus dos vivos e não dos mortos. Jesus vai direto à razão de nossa esperança na ressurreição. Ela depende de Deus, não de nós. Ela será obra de Deus, não nossa. ‘Para Deus todos vivem’. Deviam deixar de lado um modo de pensar falso e sofisticado, sem fundamento. Pois, se Deus vive e é Deus dos vivos, aqueles aos quais Ele ama haverão de viver, igualmente, para sempre. Nós acreditamos no poder de Deus que nos fará viver de novo e garante que nos dará outra vida melhor ainda. Tal é o fundamento da ressurreição dos mortos. – Pai, Deus da vida e Deus dos vivos, queres todos os seres humanos em comunhão contigo. Ajuda-me a viver, já nesta vida, esta comunhão eterna (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de novembro de 2021

(1Mc 4,36-37.52-59; Sl 1Cr 29; Lc 45-48) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus entrou no templo e começou a expulsar os vendedores” Lc 19,45.

“Jesus não se conteve, quando se deparou com o estado em que se encontrava o templo de Jerusalém. Na mentalidade da época, o templo era o lugar escolhido por Deus para habitar no meio do seu povo. Era o preço do encontro do Pai com seus filhos. Portanto, lugar da comunhão fraterna, da justiça, do respeito aos pobres e aos fracos, que são os preferidos de Deus. Este ideal grandioso, porém, chocava-se com a realidade. O templo tornara-se um amplo mercado onde fazia câmbio de dinheiro para facilitar a vida dos peregrinos estrangeiros e se comerciava os diversos tipos de animais usados para o sacrifício. Toda essa intensa atividade visava a ganância do lucro, dificilmente obtido por motivo de pura caridade. Assim, a injustiça e a exploração eram praticadas na própria casa de Deus. Os pobres e ingênuos peregrinos eram espoliados, sob os olhos do Pai. A boa-fé do povo transformava-se em joguete nas mãos de pessoas inescrupulosas. E tudo isso com a benévola anuência da classe sacerdotal, que tirava partido da situação. A realidade do templo estava em aberta contradição com o ideal do Reino de Deus pregado por Jesus. Daí o furor que se apossou de seu coração e o gesto profético de expulsar os profanadores da casa de Deus, que devia ser espaço do amor. – Senhor Jesus, não permitas que eu permaneça insensível, vendo a casa de Deus – o coração humano – ser profanado pela injustiça (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de novembro de 2021

(1Mc 2,15-29; Sl 49[50]; Lc 19,41-44) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. E disse: ‘Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz! Agora, porém, isso está escondido aos teus olhos’”

Lc19,41-42.

“Certa vez recebi em minha casa a visita de um grande amigo meu. Enquanto tomávamos um chimarrão, de repente lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Não era por causa da água quente do chimarrão que ele começou a chorar. Ele chorou lembrando sua filha que se afastar de Deus e que seguia uma filosofia que acreditava na reencarnação e que não tinha Jesus como o seu Salvador. Ele chorou, preocupado com a salvação da filha que amava demais. Chorar foi o que Jesus fez ao contemplar a cidade de Jerusalém. Ele chorou porque sabia o que estava reservado aos seus moradores que, em sua grande maioria, não havia aceito Jesus como Messias e o Salvador prometido. Jesus, certamente, hoje também não se alegra com todos aqueles que têm desprezado por rejeitarem seus ensinamentos. Embora Ele não queira o mal dessas pessoas, embora Ele deseje que elas se arrependam e creiam no Evangelho, Ele chora sabendo o que lhes acontecerá por lhe fecharem o coração. Por isso é que nós, os que cremos, não podemos deixar de falar do seu amor, de como Ele pagou o preço de nossa salvação na cruz do Gólgota, de como Ele espera que os que hoje o rejeitam venham a se arrepender e nele crer para poderem fazer parte do seu Reino Eterno, o Céu. Continuemos a testemunhar. Alguém poderá vir a crer o que fará Jesus chorar, mas de alegria. Amém. – Senhor Jesus, continua ao nosso lado para que nos mantenhamos fiéis na fé em ti até o fim de nossas vidas. Permita que a fé que temos se mantenha forte através do estudo de tua Palavra. Permita também que cada um de nós, movido elo teu amor, continue a falar de teu amor para que mais gente venha a crer e te fazer chorar de alegria. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de novembro de 2021

(2Mc 7,1.20-31; Sl 16[17]; Lc 19,11-28) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“O homem disse: ‘Servo mau, eu te julgo pela tua própria boca. Tu sabias que eu sou um homem severo, que recebo o que não dei e colho o que não semeei” Lc 19,22.

“Na parábola que Jesus contou (Lc 19,11-28) há um nobre que deve partir para receber a investidura do reino e depois voltar. Neste meio tempo, confia a seus servos somas de dinheiro (cem moedas de prata) para que negociem como quiserem. É o primeiro quadro. No segundo, entram em cena seus concidadãos que hostilizam sua candidatura e mandam delegação à autoridade central para que lhe retirem a confiança e o encargo. Não o conseguem, e o senhor recebe a investidura. De volta, vai se entender antes com os ‘empregados’ aos quais confiou parte de seus tesouros e, depois, com os inimigos que se opuseram à sua eleição. Com uns e outros instaura severa prestação de contas (juízo). O recurso aos servos indica que o Senhor deseja pôr outros a par da sua administração: dos riscos e das possíveis vantagens. O comportamento dos servos é desigual. Há quem compreendeu a importância da tarefa e quem não a compreendeu. A cada um fora entregue uma soma. O primeiro a decuplicou, o segundo quintuplicou. O último, que nem movimentou a soma, ficou sem nada. Os protagonistas do episódio com Jesus (o senhor que parte para a investidura), com os concidadãos, entre os quais os discípulos (os empregados), com os inimigos (seus habituais adversários). O soberano, que de longe convoca o ‘senhor’ para tomar posse do reino, é Deus. – Senhor Deus, doador de todos os bens, tornai-nos responsáveis diante dos favores que nos concedeis, e ensinai-nos a empregar em favor dos irmãos o que generosamente nos dais. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de novembro de 2021

(2Mc 6,18-31; Sl 03; Lc 19,1-10) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, o Filho do Homem veio procurar o salvar o que estava perdido” Lc 19,10.

“O encontro com Zaqueu com Jesus mostra como a conversão acontece em etapas. Seu desejo de ver Jesus de perto é o primeiro passo e consiste no desejo de conhecer Jesus. No caso de Zaqueu, o Evangelho não esclarece os motivos deste anseio. Talvez tivesse brotado de uma simples curiosidade, sem ser uma verdadeira disposição de ânimo para se deixar questionar por ele. O segundo passo exige a superação de todos os obstáculos. Sendo odiado pelo povo e não podendo encontrar lugar em nenhuma casa da rua principal da cidade, e também por ser de baixa estatura, tomou a iniciativa de subir numa árvore, de onde pudesse ter uma visão privilegiada de Jesus. Este gesto pode ser revelador de algo mais profundo. Sabemos, apenas, ter sido tão forte que nada deteve o homem até vê-lo realizado. O terceiro passo comporta deixar-se amar por Jesus, sem restrições nem desconfiança, abrindo-lhe as portas do coração de Zaqueu. Desceu depressa da árvore, para receber Jesus em sua casa, com alegria, ainda que não se sinta digno dessa visita. Acolhendo Jesus, acolhia a salvação. O quarto passo é uma mudança radical de vida para adequar-se às exigências do Reino. Isto não se faz com palavras ou com boas intenções, mas com gestos concretos. O primeiro sinal de que a salvação entrara naquele coração foi sua disposição de desapegar-se do dinheiro desonesto e mostrar-se solidário com os pobres, a ressarcir, quatro vezes mais, aquilo que havia roubado, e termina com uma vontade de fazer justiça, corrigir os pecados que cometeu. – Pai, faze-me puro de coração como Zaqueu, abrindo-o para acolher a salvação e manifestá-la com gestos concretos de amor (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de novembro de 2021

(1Mc 1,10-15.41-43.54-57.62-64; Sl 118[119]; Lc 18,35-43) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“’O que queres que eu faça por ti?’ O cego respondeu: ‘Senhor, eu quero enxergar de novo’” Lc 18,41.

“Jesus, na sinagoga de Nazaré, ao fazer a leitura do Profeta Isaias identificou-se com o Messias, ungido pelo Espírito do Senhor, para ‘anunciar aos cegos a recuperação da vista’. Todo o seu ministério consistiu em ajudar a humanidade a superar a cegueira de que era vítima. O homem cego, sentado à beira do caminho de Jericó, padecia de cegueira física, não, porém, de cegueira espiritual. Seu interesse em saber quem estava passando era mais que simples curiosidade. Deu mostras de intuir estar passando exatamente a pessoa com quem queria se encontrar: Jesus de Nazaré. Por isso, quando lhe deram a notícia desejada, pôs-se a gritar, sem se importar com quem o intimidava a se calar, pois não podia deixar escapar a chance há tanto tempo esperada. Sua súplica, manifestada com franca simplicidade perante Cristo: ‘Senhor, quero ver de novo!’ dá-nos toda uma lição de fé, que pode ser a de todo discípulo. Sim, o discípulo exige a libertação de toda cegueira. Cegueira do egoísmo, que impede de reconhecer o semelhante como quem merece afeição. Cegueira da idolatria, que leva o ser humano a trocar Deus pela criatura e deixar-se tiranizar por ela. Cegueira do pecado, com suas mais diversas manifestações, cujo resultado é desumanização da pessoa, reduzindo-a à mais terrível escravidão. O desejo do cego – ver – recebeu dupla resposta. Por um lado, o homem viu-se curado da deficiência física, tendo recuperado a visão. Por outro, abriram-se-lhe também os olhos da fé. Daí a constatação de Jesus: ‘A tua fé te salvou!’ E como manifestação disto, o ex-cego tronou-se seguidor de Jesus, louvando a Deus pelas maravilhas operadas em seu favor. Levou, igualmente, a multidão e dar glória a Deus. – Senhor, curai minha cegueira para que eu possa discernir, com clareza, os caminhos do Reino, e andar por eles, com determinação e segurança (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

33º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dn 12,1-3; Sl 15[16]; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32)

1. A página do evangelho de hoje é tirada do ‘discurso escatológico’ que ocupa o capítulo 13 da narrativa de Marcos. Provavelmente Jesus não pronunciou o discurso como nos é apresentado. Ele contém palavras e sentenças muitos diversas em seu estilo. Coube a Marcos reunir esses vários elementos.

2. Tendo presente a situação da comunidade para qual escreve, tenta responder a algumas exigências específicas. Mas do que trata a escatologia? Ela nos propõe um discurso sobre as realidades últimas, definitivas. Juntamente com e gênero apocalíptico, lança um olhar para as coisas que estão para além da história.

3. A história tem dois protagonistas, na compreensão bíblica: Deus e o ser humano. O profeta que fala em nome de Deus, revela o Seu plano que se dá no momento presente. Se ele se refere ao futuro, é apenas para conferir sentido ao presente, sustentar a esperança dos seus ouvintes e recordar-lhes a meta do caminho: o Reino de Deus que se dá e que virá. 

4. Mas a história atravessa momentos de crise e dramaticidade que parecem contradizer os desígnios de Deus e se deseja ‘ver’ melhor esse fim dos tempos. É aqui que aparece o gênero apocalíptico, na origem da palavra, se ‘retira o véu’ que esconde o fim.

5. Mas isso não quer dizer que o profeta veja o fim com precisão: para decifrar o presente, ele se apoia no passado para infundir esperança. Então sobre que base se sustenta a fé e tais visões? Na fidelidade divina. O gênero apocalíptico utiliza um código de imagens grandiosas e terríveis. São esses elementos que se misturam em nosso evangelho.

6. Mas todas essas imagens apocalípticas servem apenas de moldura para o quadro. A mensagem central não se confunde com esses elementos, ainda que o autor se sirva dos mesmos. Para Marcos interessa uma atitude de vigilância e compromisso histórico.

7. A impressão que temos é que ele nos projeta para o futuro somente para reconduzir-nos ao hoje, para fazer-nos concentrar ainda mais nossa atenção no presente. O foco do seu discurso é o retorno do próprio Jesus no fim dos tempos e está voltado para a comunhão definitiva entre os eleitos e seu Senhor.

8. Aqui se trata dos que se mantiveram fiéis no período da prova e da grande tribulação. Aqui não interessa aqueles que se colocaram fora da proposta de Jesus. A luz se concentra sobre a família de Deus.

9. O evangelho quer sublinhar o triunfo do Filho do Homem. Um triunfo que nas circunstâncias atuais da história é colocado em dúvida, parece um tanto incerto. Pois a comunidade vive perseguições, condenações. Mas eis que tudo repentinamente se inverte: aquele que foi humilhado e condenado, aparece como juiz da história.

10. O retorno do Filho do Homem em poder e glória não significa que Deus, ao fim, abandonará a estrada do amor para substitui-la pela da força, pois assim a cruz não estaria mais no centro da história da salvação. O triunfo do Filho do homem é vitória da cruz, a demonstração de que o amor é forte e vitorioso.

11. Nosso evangelho termina com um forte convite a espera vigilante, que excluem a impaciência e o sono, tanto a fuga para o futuro quanto o permanecer aprisionado no horizonte do presente, tanto o temor como o relaxamento. A questão não é o quando, mas o fazer-se encontrar pronto.

12. O que interessa não é saber como acontecerão essas coisas, mas como deve comportar-se o cristão em sua espera. Os sinais são muitos, imprecisos e até confusos em meio aos fatos da história. O discípulo deve saber recolher e interpretar à luz de Jesus e do seu evangelho.  Em cada acontecimento do presente se joga com o futuro.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 13 de novembro de 2021

(Sb 18,14-16; 19,6-9; Sl 104[105]; Lc 18,1-8) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”

Lc 18,7.

“Para ensinar que é preciso rezar sempre e não desanimar, Jesus contou a parábola do juiz iníquo e da viúva, onde a viúva é símbolo da pessoa desamparada. Ela consegue, no entanto, a custo de sua perseverança, ser atendida pelo mau juiz. Diante da insistência da mulher, diz o juiz: ‘Embora não tema a Deus nem respeite os homens, todavia, porque esta viúva me aborrece, vou fazer-lhe justiça’. E Jesus acrescentou: ‘Ouvi o que diz este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos eleitos que clamam por ele dia e noite, mesmo quando os fizer esperar? Digo-vos que em breve lhes fará justiça’. Mas o Senhor acrescenta que, para isso, é preciso fé: ‘Quando vier o filho do homem, encontrará fé na terra?’ Só nos é possível caminhar bem nesta vida à luz da fé. Quando esta nos falta, paramos. Voltamos a pensar que as coisas deste mundo sejam capazes de nos dar alegria, e de criar espaços de liberdade capazes de encher-nos o coração. Sentimo-nos então satisfeitos e deixamos a oração e já não somos os ‘eleitos que clamam dia e noite’ para recuperar a liberdade de amar e ser amado com paz e abertura de coração, com confiança e bondade, com generosidade e alegria. Ensina-nos também esta parábola que Jesus dá preferência aos que são realmente pobres, àqueles a quem um mundo injusto privou de dignidade e de possibilidade de vida, conforme a imagem da viúva. – Senhor Jesus, tornai-nos mais solidários com nosso irmãos e irmãs mais necessitados. Estaremos assim edificando um mundo novo para vós. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 12 de novembro de 2021

(Sb 13,1-9; Sl 18ª[19]; Lc 17,26-37) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Quem procura ganhar a sua vida vai perde-la, e quem a perde vai conservá-la” Lc 17,33.

“Você acredita que Jesus um dia voltará para o julgamento final? Você tem se preocupado com este fato que é tratado várias vezes na Bíblia? Por acaso hoje você já havia pensado nisso? Muitos cristãos só de vez em quando meditam sobre este assunto. E se os cristãos nem sempre pensam nisso, se eles não vivem na expectativa do retorno de Jesus, muito menos não cristãos irão se ocupar com isso. Pois Jesus, no contexto bíblico de hoje, fala sobre seu retorno, que acontecerá quando menos as pessoas estiverem pensando nele. Sim, ele virá de modo repentino, e para muitos será tarde porque não mais terão a chance de se arrepender e crer. É dentro desse contexto, de sua volta, que Jesus fala de quem pensa em salvar sua vida, quem estiver ligado no que o mundo lhe oferece e dá, na verdade vai perde-la, enquanto que aqueles que colocam valor nas coisas divinas, que não se preocupam em preservar bens terrenos mais do que os valores espirituais, mesmo que venham a perder a vida, hão de conservá-la, pois quem nele crê, mesmo que venha a morrer, viverá novamente, e para sempre, no céu. Eu não sei quando Jesus voltará. Ninguém pode precisar com exatidão o dia. no entanto, os sinais de seu retorno estão aí. Lembremos somente alguns: ouve-se falar de guerras e de rumores de guerra, terremotos, maremotos, fome, esfriamento do verdadeiro amor. Além disso, o número dos cristãos tende a diminuir quando os tempos do fim chegarem. Então? Existem ou não sinais? Por isso, mantenhamo-nos antenados e orando para que no retorno dele sejamos encontrados por Ele fiéis na fé. Amém. – Senhor Jesus, eu creio na tua promessa de retorno. Eu continuo a orar que teu Reino venha. Mantém-me firme nesta fé até o fim. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 11 de novembro de 2021

(Sb 7,22—8,1; Sl 118[119]; Lc 17,20-25) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus” Lc 17,20a.

“No tempo de Jesus, havia uma verdadeira febre de fim de mundo. Discutia-se, com vivo interesse, a questão de quando o Reino de Deus haveria de chegar. A dominação romana, na Palestina, fazia crescer ainda mais o desejo de tempos novos, sem opressão e perseguição, onde a vida do povo fosse regida somente por Deus. A Festa da Páscoa era uma ocasião excelente para fazer reacender a esperança da libertação. Jesus recusou-se, de maneira taxativa, a deixar-se levar por estas correntes escatológicas que queriam submeter o Reino de Deus a seus programas, descurando a verdadeira ação de Deus na história humana. O apelo de Jesus orientou-se para responsabilidade humana de preparar-se, com toda a liberdade e seriedade, para o encontro com o Senhor. Isso não se faz correndo, de cá para lá, em busca de fatos extraordinários ou de figuras messiânicas, identificando-os como sinais premonitórios da consumação do Reino. Tudo isso se tornava desnecessário, porque o Reino já tinha despontado no meio do povo, na pessoa de Jesus, o Filho do Homem. Observando as palavras e gestos de Jesus era possível confrontar-se com uma história humana onde Deus exercia o senhorio absoluto. E todo aquele que tivesse a coragem de deixa-lo ser o Senhor de sua vida, tornar-se-ia a personificação do Reino, como Jesus. – Senhor Jesus, que eu seja como tu, personificação do Reino na História, deixando Deus ser o Senhor absoluto da minha vida (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 10 de novembro de 2021

(Sb 6,1-11; Sl 81[82]; Lc 17,11-19) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” Lc 17,18.

“O reconhecimento e gratidão são sentimentos nobres de quem sabe acolher como dom os benefícios recebidos de Deus. Apesar de serem tantas as pessoas beneficiadas por seus milagres, Jesus estava atento para este aspecto. Não lhe passava despercebida a reação de quem se via curado por obra de seu amor misericordioso. Por ocasião da cura de dez leprosos, só um teve a gentileza de voltar para agradecer a Jesus. E era um samaritano, portanto, um estrangeiro, na mentalidade dos judeus. A gratidão brotou de um excluído e desprezado como pagão. Só ele foi capaz de glorificar a Deus, cujo Reino se fez presente em sua vida pela ação de Jesus. O gesto de adoração do samaritano, prostrado com o rosto em terra, aos pés do Mestre, demonstrou a consolidação de sua fé naquele, a quem recorrera com tanta confiança. E foi salvo pela fé. O que se passou com os outros nove curados? Por que não voltaram para agradecer o dom da cura, que lhes permitiu reconquistar o direito de cidadania? Talvez, se tivessem esquecido de quem havia recebido um dom totalmente gratuito, ou pensassem que Jesus havia feito simplesmente sua obrigação. Logo, não era necessário voltar para agradecer-lhe. É a ingratidão de quem, sendo agraciado com os benefícios divinos, permanece fechado aos apelos do Reino de Deus. – Senhor Jesus, quero ter um coração agradecido, que saiba reconhecer tantos benefícios que eu, sem mérito algum, recebo, cada dia, de ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 09 de novembro de 2021

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) 

Dedicação da Basílica de Latrão.

“Então os judeus perguntaram a Jesus: ‘Que sinal nos mostras para agir assim?’” Jo 2,18.

“Os quatro evangelistas se fazem eco do gesto provocativo de Jesus expulsando do Templo ‘vendedores’ de animais e ‘cambistas’ de dinheiro. Não pode suportar ver a casa de seu Pai cheia de gente que vive do culto. A Deus não se compra com ‘sacrifícios’. Mas João, o último evangelista, acrescenta um diálogo com os judeus, no qual Jesus afirma de maneira solene que, despois da destruição do Templo, Ele ‘o levantará em três dias’. Ninguém conseguiu entender o que Ele dizia. Por isso o evangelista acrescenta: ‘Jesus falava do templo de seu corpo’. Não esqueçamos que João está escrevendo seu Evangelho quando o Templo de Jerusalém já estava destruído há vinte ou trinta anos. Muitos judeus se sentem órfãos. O Templo era o coração de sua religião. Como poderão sobreviver sem a presença de Deus no meio de seu povo? O evangelista faz os seguidores de Jesus lembrar que eles não hão de sentir nostalgia do velho Templo. Jesus, ‘destruído’ pelas autoridades religiosas, mas ‘ressuscitado’ pelo Pai, é o ‘novo Templo’. Não é uma metáfora atrevida. É uma realidade que há de marcar para sempre a relação dos cristãos com Deus. Para aqueles que veem em Jesus o novo Templo, onde Deus habita, tudo é diferente. Para encontrar-se com Ele não basta entrar numa igreja. É necessário aproximar-se de Jesus, entrar em seu projeto, seguir seus passos, viver com seu espírito. Neste novo Templo que é Jesus, para adorar a Deus não basta o incenso, as aclamações nem as liturgias solenes. Os verdadeiros adoradores são aqueles que vivem diante de Deus ‘em espírito e em verdade’. A verdadeira adoração consiste em viver com o ‘Espírito’ de Jesus na ‘verdade’ do Evangelho. Sem isto, o culto é ‘adoração vazia’. As portas deste novo Templo que é Jesus estão abertas a todos. Ninguém está excluído. Podem entrar nele os pecadores, os impuros e inclusive os pagãos. O Deus que habita em Jesus é de todos e para todos. Neste Templo não se faz nenhuma discriminação. Não há espaços diferentes para homens e mulheres. Não há raças eleitas, nem povos excluídos. Os únicos preferidos são os necessitados de amor e de vida” (José Antonio Pagola – “O Caminho Aberto por Jesus” – Vozes). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 08 de novembro de 2021

(Sb 1,1-7; Sl 138[139]; Lc 17,1-6) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Se ele se converter, perdoa-lhe” Lc 17,3b.

“O Evangelho de Lucas traz algumas preciosas instruções para viver o discipulado de Jesus. Neste pequeno texto, chama a atenção para os desvios de rota que inevitavelmente surgirão no caminho: muitos são os que deixarão de abraçar os valores do Reino como a justiça, a solidariedade, a fraternidade, o perdão... Muitos perderão de vista o projeto do Reino, escandalizando aos pequenos, isto é, àqueles que ainda não amadureceram na fé e, portanto, vivem sujeitos a abandonar o seguimento. Para os que escandalizam os pequenos, Jesus é taxativo: ‘melhor que atassem uma pedra ao pescoço e se atirassem ao mar’ (cf. Lc 17,2). Todavia, não os deixa atirados à sua sorte, pois recomenda aos irmãos que estejam vigilantes, para busca-los e oferecer-lhes o perdão. Vigilância unida à misericórdia, sempre, para com os que por fraqueza, negligência, má vontade, apegos e falta de fé se afastam do redil do Bom Pastor. Vigilância e misericórdia, o permanente horizonte para o perdão e o renascimento para uma vida nova. Perdoar, sempre! O texto termina com o pedido dos apóstolos: ‘aumenta nossa fé’. Aos apóstolos lhes falta uma fé amadurecida, adulta, pois se dão conta de que sua fé, vivida desde sua infância, no seio de Israel, é muito pequena diante da grandeza do projeto de Jesus. Doravante vão necessitar uma fé ardente, que lhes queime o peito, uma fé viva e centrada no essencial, que lhes faça viver entregues ao que realmente vale a pena. Sem esta fé, oferecida como dom e graça, como presente precioso, os apóstolos nada poderiam fazer pelo Reino. A tarefa a que eram chamados era por demais exigente, mas eles se dão conta de que, sem a humildade e sem a retidão do coração, nada poderia fazer. – Senhor, aumenta a nossa fé! Ajuda-nos com a luz do teu Espírito para que, alimentados pela tua Palavra, aprendamos a viver segundo o teu estilo de vida, seguindo os teus passos (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Dia de Todos os Santos

(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12).

1. A festa de todos os Santos, apesar das gravuras sempre nos apresentarem santos conhecidos ou canonizados, nos traz o selo do anonimato. “Quem são esses, vestidos com roupas brancas?” (Símbolo daquilo que se tornou puro). De onde vieram? São perguntas que também nos fazemos.

2. Estes que não foram canonizados oficialmente pela Igreja e nem encontram lugar no calendário, são pessoas humildes, comuns, que viveram em meio a nós, por quem passamos bem de perto várias vezes, e que agora vivem na luz de Deus.

3. É a festa da santidade de todos os dias, da santidade que endossa os traços de uma existência comum. Gente que não fez estrada a golpes de milagres, mas que realizaram o sensacional milagre de uma fidelidade silenciosa e cotidiana ao evangelho.

4. Desta multidão que ninguém consegue contar, gostaria de extrair um traço, entre muitos que Jesus nos apresenta nas bem-aventuranças, que é possível a todos. Gostaria de me fixar na mansidão. Os santos são necessariamente mansos, ainda que nem se apercebam. Essa é a sua força.

5. Certamente as bem-aventuras têm como ponto de partida essa pobreza de espírito que faz o manso, que está naqueles que choram, que são misericordiosos, puros de coração, que têm fome de justiça... em todas elas não deixa de existir uma força.

6. Jesus nos diz que são os violentos que conquistam o Reino do céu, pois o ser cristão não tem nada de passividade, de inerte. Jesus beatifica a humildade ou mansidão, e ela não tem nada a ver com certa imagem adocicada e superficial que muitas vezes construímos.

7. Nossa mentalidade não aprecia muito essa virtude que está ligada à temperança, ao domínio de si, à moderação, ao silêncio, à mansidão. Justamente porque exige atitudes de extremo rigor e exigência no confronto consigo mesmo. Impõe de andar contra a corrente.

8. O humilde tem uma força tranquila, mas em qualquer momento essa mansidão pode transformar-se em violência. E ela nos impressiona porque é pura; não é feita de orgulho, de amor próprio, de prestígio pessoal. Percebemos isso facilmente no próprio Jesus, que se definiu ‘manso e humilde coração’.

9. A busca do manso é pelo essencial. A mansidão é praticada, antes de tudo, consigo mesmo. É preciso aprender a aceitar-se, com paciência, assim como Deus nos aceita e nos trata com infinita paciência. E assim aprende a pratica-la com os outros.

10. Nos é dito que os mansos possuirão a terra. Possuir a terra em herança, na linguagem bíblica, é símbolo da plenitude, da felicidade, da segurança, da paz. Sim, é na terra que o Reino de Deus se realiza. Esse lugar que aparentemente pertence aos ricos, afortunados, que têm sucesso, que demonstram força.

11. Na realidade, esse Reino de Deus, aqui, sobre a terra, tem como verdadeiros dominadores os mansos. Forte é quem renunciou à força, que não entra em competição com os outros... nem contendas, não pretende tirar nada de ninguém, pois já conseguiu o título, a posse maior: são felizes...

12. Se olharmos bem ao nosso redor, podemos perceber o que verdadeiramente conta nessa vida, como a santidade é levada ou vivida, por tantos homens e mulheres que conhecemos e o que significa para elas a felicidade. É um olhar sobre o significado da santidade que hoje celebramos.

 Pe. João Bosco Vieira Leite