Quinta, 01 de setembro de 2022

(1Cor 3,18-23; Sl 23[24]; Lc 5,1-11) 

22ª Semana do Tempo Comum.

“Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”

Lc 5,11.

“A cena evangélica apresenta os discípulos exemplarmente obedientes a Jesus. Cumprindo a ordem recebida, Simão afasta sua barca da terra, pois dela o Mestre quer pregar às multidões que estão na margem do lago de Genesaré. Em seguida, Jesus ordena que ele conduza a barca mais para dentro do lago e lance a rede. Pedro obedece, embora, sabendo não ser aquele o melhor tempo para pescaria. ‘Pela tua palavra, vou lançar as redes’, é como adere à ordem recebida. Resultado: uma pesca espetacular! Por fim, o discípulo é convidado a se tornar ‘pescador de homens’. Ele e seus companheiros, deixando tudo, põem-se a seguir Jesus. A atitude dos primeiros discípulos é paradigma daqueles que haveriam de ser discípulos, através dos tempos. Deles exige uma grande proximidade do Mestre e muita atenção às suas palavras. Além disso, o discípulo estará sempre pronto a obedecer. A ordem pode não ser fácil de ser cumprida, por exemplo, a ruptura com a família para seguir Jesus. O discípulo deixa-se guiar pelo Mestre, colocando a própria vida nas mãos dele. E esta entrega é feita sem temor, pois sabe a quem se confia. Cabe-lhe, somente, ser dócil em cumprir o que lhe é ordenado. – Espírito de obediência reverente, que eu saiba abrir mão de meus projetos, para me deixar guiar, sem temor, pelo Senhor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 31 de agosto de 2022

(1Cor 3,1-9; Sl 32[33]; Lc 4,38-44) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males os levaram a Jesus.

Jesus colocava as mãos em cada um deles e os curava” Lc 4,40.

“A vida aqui na terra tem um prazo de validade, que achamos extremamente curto, e esse prazo já curto se corta pela metade ou mesmo até no próprio início com acidentes ou graves doenças. Por esse motivo, ao longo da história, curandeiros se passam por médicos e não poucos médicos amariam ser curandeiros. Aumentar o prazo de validade ou, pelo menos, eliminar aquilo que poderia diminuí-lo é, assim, uma busca permanente da humanidade. Jesus, portanto, fazendo curas, acendeu o explosivo rastilho da esperança no mundo em que a doença encontrava aliados operantemente fiéis na miséria do povo e nas limitações da medicina da época. E qual o porquê dessa atividade? Em primeiro lugar deu provas de que Ele era o Messias prometido. Aqui estava um poder contrapondo-se à dor, à dissolução e à morte. Em segundo lugar estava demonstrando a força do amor. De fato, Jesus tinha compaixão daquelas multidões e não somente pena. E a lição para nós cristãos? Bom, a lição da fé: Jesus é o encarnado Filho de Deus, que veio para nos livrar das dores e da morte. E essa lição primeira é, sem dúvida alguma, a essencial, a definitiva, a ‘sine qua non’ em todo o nosso relacionamento com Deus. E, como acontece em todos os ramos do saber, a lição definitiva também tem seus desdobramentos. Sendo assim, temos a lição do amor e, nesse caso, uma lição não apenas imaginária, mas sobretudo espiritual porque é o Espírito Santo que nos leva à prática do amor, à busca da cura do nosso próximo. – Senhor Deus todo poderoso, abre nossos olhos para a responsabilidade social e política em relação ao nosso povo tão carente em recursos para lhe dar alívio e, se possível, cura de seus permanentes males. Em nome do grande curador e ressuscitador: Jesus. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 30 de agosto de 2022

(1Cor 2,10-16; Sl 144[145]; Lc 4,31-37) 

22ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus o ameaçou, dizendo: ‘Cala-te e sai dele!’ Então o demônio lançou o homem no chão,

saiu dele e não lhe fez mal nenhum” Lc 4,35.

“A desarticulação dos esquemas do espírito mau fazia parte do ministério de Jesus. Vítima das forças demoníacas, o ser humano via-se privado de sua dignidade e reduzido à condição de inimigo de Deus. A libertação tornava-se uma exigência premente. Em todas as circunstâncias em que se defrontou com alguém subjugado pelo espírito mau, Jesus não se furtou em socorrê-lo. Assim aconteceu com homem possuído por um espírito impuro, encontrado na sinagoga de Cafarnaum. Não deixa de ser contraditória a presença de um possesso na assembleia litúrgica sinagogal, em dia de sábado. Tem-se a impressão de que ele foi lá só para defrontar com o ‘Santo de Deus’. Foi a maneira como se dirigiu a Jesus. O demônio constatou a inexistência de pontos em comum entre ele e Jesus. Aliás, pensou que este nada teria a ver com ele. Enganou-se! Ele está na mira do ‘Santo de Deus’ para ser arruinado e ser obrigado e pôr fim à opressão imposta aos seres humanos. Estava chegando ao fim sua liberdade de ação. Doravante, iria defrontar-se com o Messias, o qual se colocaria sempre na defesa da pessoa que estivesse fragilizada por sua ação maligna. O Mestre agiu com severidade, servindo-se da autoridade e do poder recebido do Pai. E o homem, livre da opressão demoníaca, pode finalmente associar-se à assembleia cultual. – Espírito que desarticula o poder do mal, liberta todos os que vivem subjugados pelas forças malignas e, assim, impedidos de reconhecer o amor de Deus, manifestado em Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 29 de agosto de 2022

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) 

Martírio de São João Batista.

“Com efeito, eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze,

contra todo o mundo, gente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra” Jr 1,18.

“Nós vemos esta grande figura, esta força na paixão, na resistência contra os poderosos. Interroguemo-nos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão reta e tão coerente, empregue totalmente por Deus e para preparar o caminho para Jesus? A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio condutor de toda a sua existência. João é o dom divino longamente invocado pelos seus pais, Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,13|); uma dádiva grande, humanamente inesperada, porque ambos eram de idade avançada e Isabel era estéril (cf. Lc 1,7); mas a Deus nada é impossível (cf. Lc 1,36). O anúncio deste nascimento verifica-se precisamente no contexto da oração, no templo de Jerusalém; aliás, acontece quando Zacarias recebe o grande privilégio de entrar no lugar mais sagrado do templo para fazer a oferta do incenso ao Senhor (cf. Lc 1,8-20). Também o nascimento de João Batista é marcado pela oração: o cântico de alegria, de louvor e de ação de graças que Zacarias eleva ao Senhor e que nós recitamos todas as manhãs nas Laudes, o ‘Benedictus’, exalta a obra de Deus na História e indica profeticamente a missão do filho João: preceder o Filho de Deus que se fez carne, para lhe preparar as estradas (cf. Lc 1,67-79). Toda a existência do precursor de Jesus é alimentada pela relação com Deus, de modo particular o período transcorrido em regiões desertas que são lugares de tentação, mas também lugares onde o homem sente a própria pobreza, porque desprovido de apoio e certezas materiais, e compreende que o único ponto de referência sólido permanece o próprio Deus. Mas João Batista não é apenas um homem de oração, do contato permanente com Deus, mas também um guia para esta relação. Citando a oração que Jesus nos ensina aos discípulos, o ‘Pai-Nosso’, o evangelista Lucas anota que o pedido é formulado pelos discípulos com estas palavras: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou seus discípulos’ (cf. Lc 11,1)” (Bento XVI – “Um Caminho de Fé Antigo e Sempre Novo” -  Editora Molokai). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

22º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67[68]; Hb 12,18-19.22-24; Lc 14,1.7-14)

1. Convidar Jesus para uma refeição em casa de um fariseu é sempre um risco, como percebemos nas narrativas do Evangelho e hoje não é diferente. Jesus acaba por intervir e provocar algumas reflexões.

2. Nosso texto omite os vv. de 2-6 onde, logo ao chegar, sem pedir permissão, Jesus cura um hidrópico. O que poderia ser tomado como um presente, vira um gesto escandaloso, pois é sábado, dia de repouso absoluto. Jesus reivindica para si a liberdade de intervir a favor do ser humano. Testemunha que Deus é o Deus da graça.

3. Num segundo momento, ainda mais observado pelos que o cercam, é Ele quem observa o comportamento dos próprios judeus. Vê uma corrida pelos primeiros lugares à mesa e lhes mostra a inconveniência de tal comportamento. Tenhamos presente que as autoridades religiosas de sua época reivindicavam abertamente honras, privilégios e precedências.

4. Jesus contesta tal comportamento vaidoso e litigioso. E inverte toda essa lógica baseada na hierarquia humana para lembrar que quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado.

5. Mas Jesus não pensa em fixar uma regra de comportamento para certas ocasiões, ainda que a comunidade cristã deva refletir sobre certos comportamentos. Ele está pensando em nossa atitude diante de Deus, para criticar uma prática religiosa que leva a uma espécie de auto justificação ou segurança que admite direitos diante de Deus.

6. O ser humano deve colocar-se diante de Deus numa atitude de humildade, ou seja, de verdade. Não deve construir para si um pedestal com as próprias virtudes. Se um homem se torna ridículo quando tenta colocar-se acima dos demais, imagine diante de Deus.

7. Maria nos ensinava a dinâmica da humildade e da pobreza no domingo anterior. Nada lhe é devido. Tudo é graça, é dom e vai acolhido no reconhecimento da bondade de Deus, cantava a Virgem. Pobre de quem se arrisca a brincar de grande diante de Deus; arrisca-se a voltar de mãos vazias...

8. Num terceiro momento Jesus volta a rir dessa escolha dos convidados. Tudo gente que conta. Faltam os pobres, os doentes, os desgraçados, os últimos, os excluídos. Um esquecimento imperdoável. No ambiente judaico a exclusão social encontrava quase que automaticamente uma exclusão religiosa.

9. Jesus revoluciona com sua visão de quem deveríamos privilegiar. Parece sentir falta de seus amigos habituais naquele ambiente, talvez se sinta estranho e só.

10. Não se trata de organizar, vez em quando, uma festa beneficente, um jantar para os pobres, que de repente pode ganhar a atenção da mídia. É uma questão de mentalidade, de orientação radical em nossas relações com o próximo.

11. A opção pelos pobres, por aqueles que não contam, não pode ser feita por astúcia ou hábil demagogia, e isto está tão presente nesse período eleitoral. Mas significa abraçar verdadeiramente sua causa sem correr o risco de instrumentalizá-lo. Numa perspectiva clara do como queremos ser acolhidos no banquete dos bem-aventurados.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 27 de agosto de 2022

(1Cor 1,26-31; Sl 32[33]; Mt 25,14-30) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“Mas aquele que havia recebido um só saiu, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão”

Mt 25,18.

“A Parábola nos explica perfeitamente por que o terceiro servo escondeu o seu talento na terra. Ele se sentiu preterido e discriminado em relação aos outros servos. Recebeu menos do que eles. Ele se compara com eles e recusa a sua vida porque não foi tão bem aquinhoado como os seus semelhantes. O segundo motivo que o faz enterrar o seu talento é a imagem que tem de Deus: ‘Eu sabia que és homem rigoroso; colhes onde não semeaste, ajuntas o que não espalhaste; amedrontado, fui esconder o teu talento na terra’ (25,24s). O terceiro servo tem diante dos olhos a imagem de um Deus que julga e castiga, a imagem de um senhor severo, que não admite nem um erro sequer. E ele tem medo desse Deus. Jesus pretende dizer aos seus ouvintes: ‘Se você tiver uma imagem tão negativa de Deus, se você imagina que Deus é um contador severo e um Deus arbitrário que colhe onde não semeou, então a sua vida será já agora um choro e ranger de dentes. E se você tiver medo de Deus, esse medo paralisará e o impedirá de viver. Uma imagem doentia de Deus faz de você um doente’. O terceiro motivo pelo qual o último servo esconde o seu talento é o pensamento centrado na segurança. Como ele se sente prejudicado, não quer de modo algum perder o que tem. Não quer cometer nenhum erro para não se expor à crítica. Mas justamente porque não quer cometer nenhum erro, faz tudo errado. Justamente por querer controlar tudo, perde o controle sobre a sua vida. Ele, que quer ficar agarrado ao seu talento, acaba perdendo o seu talento e a si mesmo” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sexta, 26 de agosto de 2022

(1Cor 1,17-25; Sl 32[33]; Mt 25,1-13) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos céus é como a história das jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo” Mt 25,1.

“Esta parábola de Jesus, relatada por Mateus, sobre as dez jovens foram ao encontro do noivo, com suas lâmpadas, algumas com a reserva de óleo necessária e outras sem, faz-nos meditar sobre alguns pontos. Vejamos: o noivo e o casamento são o objetivo. Para nós, cristãos, o reino dos céus é o objetivo maior. Esta vida nos é dada como graça. E nós a vivemos num lapso de tempo. Logo, logo, como uma lâmpada, ela se apaga. E, então? Temos a nossa reserva de óleo? Ou melhor, estamos preparados para a vida eterna? Se usamos a graça da vida apenas para nos preocuparmos com as coisas fúteis e transitórias, ao transpor o umbral da morte, decerto, como na parábola, o Senhor haverá de nos dizer: ‘Não vos conheço’. Na verdade, Ele nos conhece e nos ama. Seu coração e seus braços estão sempre prontos a acolher-nos. Mas temos de compreender que o mesmo tratamento não pode ser dado a comportamentos diferenciados. Temos de nos conscientizar da necessidade de aproveitar da beleza que a vida nos oferece, procurando aprender sempre mais e desenvolvendo as virtudes, aparando as arestas de nosso caráter. Vamos ao encontro do Noivo Amado! Mas, vamos preparadas! Com as lâmpadas na mão, o Amor, a Fé, a Esperança e a Caridade. E a reserva de óleo, que não as deixará apegarem-se. Coração aberto, cheio de compaixão, piedade, complacência, bondade. Aí, então, o Reino dos Céus e o Noivo haverão de nos receber da mesma forma. Não nos esqueçamos, pois, de prepararmo-nos, durante toda a jornada, e estejamos, sempre, com a nossa reserva de óleo bem cheia, para que as nossas lâmpadas jamais se apaguem, pois a caminhada na escuridão é difícil, triste e cria fantasmas aterradores em nossas almas... – Senhor Jesus, fazei com que nunca nos esqueçamos da transitoriedade desta vida e coloquemos sempre no Reino Eterno todas as nossas esperanças. Amém (Maria Luiza Silveira Teles – Graças a Deus [1995] – Vozes). Setembro.   

Pe. João Bosco Vieira Leite       

Quinta, 25 de agosto de 2022

(1Cor 1,1-9; Sl 144[145]; Mt 24,42-51) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor” Mt 24,42.

“No tempo de Jesus havia um forte movimento escatológico. Muitos tinham a convicção de que o desfecho do mundo estaria próximo. Disto decorriam as advertências que apontavam para diversas posturas. Estrategicamente Jesus aderiu em parte a este movimento, valorizando os apelos positivos que ele continha, de alerta para os sinais dos tempos, e de vigilância a ser mantida sempre em alerta. De fato, na síntese inicial de sua pregação, constam ingredientes tipicamente escatológicos, apontando para a plenitude dos tempos e a proximidade do Reino de Deus. Daí o apelo contido no versículo que estamos refletindo: ‘Vigiai, pois não sabeis o dia em que chegará o Senhor’. É interessante perceber que este apelo parte da semelhança com os dias de Noé. Como no tempo de Noé, quando todos ‘comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento’, de repente veio o dilúvio, e os arrastou a todos, assim vai ser na vinda do Filho do Homem. O dilúvio aconteceu dentro da normalidade da convivência humana. Assim vai acontecer também com o fim dos tempos. O mundo continuará sua normalidade. Deus não vai interromper os caminhos da história, mesmo que pareçam tão aleatórios, como o raio que cai sobre a cabeça de alguém. Aí mora a advertência maior que Jesus nos faz. O confronto com Deus, o seu julgamento, acontece na normalidade do nosso cotidiano. Não haverá aviso prévio. O Senhor virá ‘na hora em que menos esperais’. A surpresa de Deus não é marcar um dia especial para o fim do mundo. Pois é todo dia que o Senhor vem, é todo dia que o seu Reino está agora ao nosso alcance. É só questão de estarmos atentos, e perceber sua presença de amor, no cotidiano de nossa vida. – Senhor, à luz da vossa Palavra, compreendemos melhor o valor do tempo que nos concedeis, na brevidade de nossos anos. Ajudado por vossa graça, quero estar atento e andar nos vossos caminhos, hoje e sempre. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite       

Quarta, 24 de agosto de 2022

 (Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) 

São Bartolomeu.

“Filipe encontrou-se com Natanael e lhe disse: ‘Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei

e também os profetas: Jesus de Nazaré, o filho de José’” Jo 1,45.

“É o relato da vocação dos primeiros discípulos. A cena se dá nas proximidades do Jordão. João Batista viu Jesus, e falou aos discípulos: ‘Eis o Cordeiro de Deus’. Os dois se dirigiram ao encontro de Jesus, e passaram a seguir o Mestre. Eram André e João. No dia seguinte, André foi convidar o seu irmão Pedro. E já a caminho da Galileia, Jesus chama Felipe, que por sua vez chama Natanael. Aí se encaixa o episódio de hoje, o diálogo entre Felipe e Natanael. Encontrando-se com Natanael, Felipe foi logo descrevendo a identidade do Mestre. Destaca seus predicados messiânicos, invocando o testemunho de Moisés e dos Profetas. Ao mesmo tempo dá suas coordenadas humanas: filho de José, de Nazaré. Natanael reage, não questionando o testemunho de Moisés e dos Profetas. Mas colocando em questão a precedência humana: ‘De Nazaré pode vir alguma coisa de bom?’ A resposta de Felipe foi a mesma de Jesus no dia anterior: ‘Venha e veja’! Dá para tirar muitas lições práticas. Cristo começou sua atividade messiânica congregando discípulos ao seu redor. Não ficou um dia sozinho. Ele permitia que as pessoas se aproximassem. E deixava todos a vontade para ir convidando outros. André convidou Pedro. Felipe convidou Natanael. Jesus sinaliza para a sua realidade humana, sendo simples e acolhedor, não discriminando ninguém. Chamou um cobrador de impostos, chamou zelotas, chamou pescadores. Humano com os humanos. Não tinha dificuldade de convivência. O desafio maior seria conciliar esta dimensão muito humana, com a missão messiânica, atestada por Moisés e os Profetas. Ela acabaria sendo avalizada pela maneira humana como Jesus cumpriu sua missão profética. Um Messias simples, autêntico, mas dedicado inteiramente à sua missão. – Senhor Jesus, como os primeiros discípulos, também queremos vos seguir. Obrigado por nos aceitar como somos. Transformai-nos por vossa graça. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de agosto de 2022

(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) 

Santa Rosa de Lima.

“O reino dos céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas” Mt 13,45.

“Nesta parábola, o único aspecto que muda é o cenário; agora é um negociante, um comerciante de pérolas preciosas e raras. Ambas as pérolas têm uma meta comum, uma mesma finalidade. O negociante não poupa viagens nem incômodos para adquirir a pérola preciosa encontrada. O ensinamento doutrinal desta parábola é semelhante ao da parábola anterior: a solicitude pelo Reino. É preciso deixar tudo que é terreno para conseguir o quer é divino. A atitude do comerciante, que vende tudo e se desapega de tudo para conseguir a pérola encontrada, é o ensinamento formal da parábola. Chegamos, pois, a uma condição essencial para a aquisição do Reino: o desprendimento diligente e alegre das riquezas e de todo bem terreno: amarras que atam e impedem o Reino de Deus em nós. O Reino exige renúncia total. A renúncia à matéria tem seu prêmio: a posse de Deus. – Vivência: Guarde em sua alma a graça do Senhor. É essa a pérola preciosa com a qual você poderá obter o Reino dos céus. Com que ímpeto buscaríamos o tesouro do Reino, se conhecêssemos seu verdadeiro valor! Lembre-se que você não poderá rechear seu coração com nada deste mundo. Só Deus é capaz de atender-lhe plenamente os desejos e aquietar-lhe as ansiedades. ‘Nosso coração está inquieto – dizia Santo Agostinho – e não terá paz enquanto não descansar em ti’. Olhe como sinceridade examine-se com vagar se você vive em paz, contente, satisfeito em sua intimidade; e se não estiver assim, analise se é porque Deus não está em seu interior, ou se ele aí está, é porque não existe a devida profundidade de amor e de entrega” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).  

Pe. João Bosco Vieira Leite       

Segunda, 22 de agosto de 2022

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) 

Nossa Senhora Rainha.

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’” Lc 1,28.

“Em 1954, no encerramento do ano mariano, por ocasião do centenário do dogma da Imaculada, Pio XII decidiu instituir a festa da realeza de Maria. Foi de fato o reconhecimento de um movimento iniciado e desenvolvido neste século: o desejo da festa formulado no Congresso mariano de Lião em 1906, suscitou, com efeito, renovado impulso a partir da festa de ‘Cristo Rei’, querida por Pio XI, em 1925. A ênfase da realeza de Maria, promovida naquele período, seja em nível de devoção seja de reflexão teológica gozou assim de respeitável expressão na encíclica de Pio XII, ‘Ad caeli Reginam’ (AAS 1954, pp. 625-640), na qual estão expostos os motivos históricos e teológicos subjacentes à adoção da festa, fixada para o dia 31 de maio. Na ocasião, o papa recoroou com as próprias mãos o ícone da ‘Salus populi romani’ venerada na S. Maria Maior. A reforma do Calendário lhe conferiu o grau de memória, transferindo-a para o dia 22 de agosto, oitava da Assunção, a fim de tornar mais evidente a conexão entre a festa da Assunção e a realeza de Maria (cf. MC, n. 6; LG n. 59). [...] À semelhança do Reino do Filho, também o da Rainha Mãe ‘não é deste mundo’ (cf. Jo 18,36): o poderio régio de Maria se refere à ordem espiritual da graça, segue a lógica evangélica do serviço de amor. Viva na glória, Maria não renuncia à sua materna solicitude em favor da humanidade: elevada ao lado de Cristo acima dos anjos, ela reina gloriosa e intercede por todos os homens, como advogada de graça e rainha de misericórdia (cf. a oração para coroação da imagem da B. V. M.). A busca da intercessão materna de Maria pelos orantes a fim de participarem um dia do Reino dos céus é o segundo aspecto que sobressai nas orações (cf. coleta e após a comunhão) ”. (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Assunção de Nossa Senhora – Missa do dia

(Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44[45]; 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-56)*

1. Acompanhamos em nosso Evangelho o cântico de Nossa Senhora, e entre as tantas coisas bonitas que aí são ditas, é surpreendente esse reconhecimento que faz de si mesma: “doravante todas as gerações me chamarão bendita”. Sua profecia se concretiza mais uma vez aqui e agora.

2. Louvando a Maria, a Igreja não inventou algo ‘ao lado’ da Escritura: respondeu, ao longo dos séculos, a esta profecia feita por Maria naquela hora de graça. E estas palavras de Maria não eram somente pessoais, talvez arbitrárias. Elas estão em comunhão com que o que Isabel acabara de dizer: “Bem-aventurada aquela que acreditou”.

3. Na realidade, as duas mulheres estão sob a ação do Espírito Santo. E a Igreja, também venerando Maria, responde a uma ordem do mesmo Espírito Santo, faz aquilo que deve fazer.

4. Nós não louvamos a Deus suficientemente se não reconhecemos a sua luz simples e multiforme que se manifesta precisamente na sua variedade e riqueza no rosto dos santos, que constituem o verdadeiro espelho da sua luz. Mas sobretudo naquela que é a ‘Santa’ e que se tornou a sua morada na terra.

5. Quando contemplamos o rosto de Maria, podemos ver mais do que outras maneiras a beleza de Deus, a sua bondade e a sua misericórdia. Podemos realmente sentir a luz divina neste rosto.

6. “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. Nós podemos louvar Maria, venerar Maria, porque é ‘bem-aventurada’, é bendita para sempre. Este é o contexto desta solenidade. É bem-aventurada porque está unida a Deus, vive com Deus e em Deus. Ela aqui foi morada para o céu, por isso o céu se faz morada para ela.

7. Lucas resgata em sua narrativa a imagem da arca da 1ª leitura da missa de ontem, para nos ajudar a compreender que Maria é a verdadeira Arca da Aliança, que o mistério do Templo, a morada de Deus aqui na Terra, foi completada em Maria. Maria torna-se a sua tenda.

8. Deste modo, como morada de Deus na Terra, nela já está preparada a sua morada eterna. E é nisto que consiste todo o conteúdo do dogma da Assunção de Maria à Glória do céu de corpo e alma. Por isso ela é bem-aventurada.

9. Mas Maria não nos convida apenas à admiração, à veneração, mas também nos orienta, nos indica o caminho da vida e nos mostra como podemos nos tornar bem-aventurados, como podemos encontrar a vereda da felicidade.

10. Como nos diz Isabel, o primeiro e fundamental ato para se tornar morada de Deus e para assim encontrar a felicidade definitiva é crer, é a fé, a fé em Deus, naquele Deus que se manifestou em Jesus Cristo e que se faz sentir na palavra divina da Sagrada Escritura.

11. Acreditar constitui a orientação fundamental da nossa vida. Apegando-me a Deus, unindo-me a Ele, posso encontrar o lugar onde viver e o modo como viver. Crer não é apenas um tipo de pensamento, uma ideia; é um agir, um estilo de vida. Assim a Virgem acreditou.

12. Acreditou que o futuro pertence a Deus, está nas suas mãos. Que Ele vence. E quem vence não é o dragão, tão forte, de que fala a 1ª leitura, nessa representação de todos os poderes e violências do mundo. O amor vence, e não o ódio; no final é a paz que vence.

13. Nossa Senhora da Vitória, nos diz outro título mariano ligado a essa festa. Demos graças a Deus por esta consolação, mas vejamos também esta consolação como um compromisso para nós, em vista de nos colocarmos do lado do bem e da paz. Que a Virgem nos ajude à vitória da paz hoje, nesse frágil momento que atravessa nosso mundo. ‘Rainha da paz, roga por nós’. Amém.

* Pontos tomados da reflexão do papa Bento XVI.  

Pe. João Bosco Vieira Leite       


Sábado, 20 de agosto de 2022

(Ez 43,1-7; Sl 84[85]; Mt 23,1-12) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam” Mt 23,3.

“Interpretando, nos dias de hoje, o capítulo 23 e as invectivas contra os fariseus, devemos ter em conta a intenção de Mateus, que visava ao bem da comunidade cristã. Mateus introduz o discurso de Jesus com as palavras: ‘Então Jesus dirigiu-se às multidões e a seus discípulos’ (23,1). Isso significa que as palavras de Jesus são dirigidas à comunidade cristã e não aos escribas e fariseus. Mateus não escreveu o capítulo 23 ‘porque tivesse a intenção de terminar com um julgamento especialmente negativo sobre os fariseus, o que ele queria mesmo era levar os seus leitores cristãos a um determinado comportamento’ (Limbeck, 256). A intenção dele não era falar mal dos fariseus de seu tempo, e sim chamar a atenção para um perigo que ronda a comunidade religiosa: o risco de esconder-se atrás de normas e regras, o risco do abuso espiritual, de exercer o poder sobre outros sob um pretexto religioso, o risco de usar a moralização para desviar a atenção das fraquezas humanas, de colocar nas costas dos outros fardos que nem mesmo nós conseguimos carregar. Vemos que essas tendências ‘farisaicas’ acabaram prevalecendo em várias épocas da história da Igreja. É o fosso desagradável entre a pretensão e a realidade. Surgiram muitos moralistas que pregavam suplícios infernais aos outros, mas eles próprios não viviam segundo as regras que impunham aos demais. Acho o capítulo 23 extremamente moderno porque mostra o perigo do abuso espiritual que é hoje tão frequente, sobretudo em grupos espirituais, em círculos fundamentalistas e em comunidades facciosas” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de agosto de 2022

(Ez 37,1-14; Sl 106[107]; Mt 22,34-40) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração,

de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!’” Mt 22,37.

“O panorama religioso do tempo de Jesus era bem diversificado. Havia os sacerdotes do templo, os saduceus, os fariseus, que se apresentavam ora como escribas, ora como doutores da lei. Para explicar esta diversidade havia motivos de ordem religiosa, como o rigor em cumprir a Lei de Deus, que caracterizava os fariseus. Mas havia também motivos de ordem ideológica. Os saduceus representavam os proprietários. Eles justificavam suas posses como sendo sinais da bênção de Deus. Estes não acreditavam na ressurreição, como nos conta o Evangelho. Pelo visto, a discordância a respeito do ensinamento de Jesus era maior com os saduceus do que com os fariseus. Foi para um deles que Jesus um dia afirmou: ‘Você não está longe do Reino de Deus’. Mas ele não disse isto a nenhum saduceu! No episódio de hoje entram em cena os fariseus, já cientes de que Jesus tinha feito calar os saduceus. Pois bem, um dos fariseus, sempre preocupado coma Lei de Deus, perguntou a Jesus qual seria, em sua opinião, o maior mandamento. Mesmo sendo uma resposta já manjada, desta vez Jesus aceitou repeti-la. Sem dúvida, ‘o primeiro mandamento’ era o amor a Deus. Mas a surpresa era outra. Jesus fez questão de vincular o mandamento do amor a Deus com o amor ao próximo. Em outras palavras, Jesus reconhece que existe, sim, o primeiro. Mas existe um segundo mandamento, tão indispensável quanto o primeiro. Até porque pelo amor ao próximo provamos nosso amor a Deus. A novidade do Evangelho é fazer esta vinculação especial entre o amor a Deus e o amor ao próximo. ‘Como pode alguém amar a Deus que não vê, se não amar ao próximo que vê’, adverte-nos a Apóstolo Tiago! – Senhor, colocastes-vos ao nosso alcance, na pessoa do nosso próximo. No rosto do irmão, queremos reconhecer vossa presença, que nos envolve em vosso amor. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de agosto de 2022

(Ez 36,23-28; Sl 50[51]; Mt 22,1-14) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e anciãos do povo, dizendo:

‘O Reino dos céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho” Mt 22,1-2.

“Martinho Lutero não gostava de pregar sobre a festa nupcial do rei. Dizia tratar-se de um ‘evangelho terrível’ (Luz III, 249). Como é que o Deus enfurecido, que manda lançar um dos convivas nas trevas pode ser o Pai de Jesus Cristo? E realmente, essa parábola não nos deixa em paz. Ela põe em andamento um processo de reflexão, de reconsideração, de transformação interior. Os linguistas afirmam que uma parábola é um ato de linguagem. Na medida em que nos envolvemos com a parábola, essa desencadeia um processo dentro de nós que muda a nossa visão da vida e transforma a imagem que temos de Deus e do ser humano. Podemos interpretar essa parábola de diversas maneiras. A mais comum é a interpretação teleológica. O rei que convida para o banquete de casamento de seu filho é Deus que envia seu filho Jesus para a terra, para celebrar as núpcias com a humanidade. Os servos que chamam os convidados são os profetas, mas também os mensageiros da fé cristã. Para os ouvintes judeus, era um acinte não atender a um convite dessa natureza, porque era uma grande honra ser convidado para festa de casamento do filho do rei. O convite é feito com muita antecedência. Os servos lembram a convocação feita há tempo e avisam que está tudo pronto para a festa: o tempo chegou. Deus tem paciência. Novamente envia os seus servos, procurando convencer os convidados com a descrição do banquete e dos prazeres culinários que os aguardam. Mas estes não se importam. Aqui não se trata dos judeus em geral nem dos fariseus. A recusa vem dos homens que não seguem o chamado dos profetas e dos mensageiros da fé cristã, porque estão mais interessados em outros assuntos: propriedades (o próprio campo), negócios, sucesso. Parece um exagero que alguns dos convidados até matem os servos. Mas aqui se trata de uma alusão ao assassínio de profetas, um fato recorrente na história de Israel. Quantos profetas foram mortos porque, exigindo em nome de Deus que as pessoas se convertessem, incomodavam-nas em sua autossatisfação. O fato de o rei enviar seu exército para matar os assassinos parece destoar do contexto dos preparativos para um casamento, mas provavelmente, trata-se de uma referência à destruição de Jerusalém que, para Mateus, é um castigo pela rejeição de Jesus. O rei envia os seus servos mais uma vez. Agora ele os manda às saídas das estradas e até aos confins do reino para convidar a todos, bons e maus. Isso significa que na igreja pode haver bons e maus. Não existe nenhuma condição social ou moral para entrar no Reino dos céus. Estão todos convidados, sem exceção” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de agosto de 2022

(Ez 34,1-11; Sl 22[23]; Mt 20,1-16) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para sua vinha” Mt 20,1.

“Jesus descreve uma situação usual no mundo do trabalho da Palestina. Um proprietário procura mão-de-obra temporária para sua vinha. Naquela época, muitas fazendas contratavam trabalhadores diaristas para o manejo do campo. Eram mais baratos que os escravos. O dia de trabalho começa cedo, e o proprietário sabe onde encontrar os operários de que precisa. Ele chama aqueles que estão na praça do mercado para trabalhar na sua vinha. Combina com eles a diária de uma moeda de prata. Era o salário usual por um dia de trabalho. É normal que, pela terceira hora, ou seja, às nove, o proprietário vá novamente à praça para contratar operários. No entanto, é totalmente fora do comum que o dono da vinha saia outra vez na undécima hora à procura de operários. Falta, então, exatamente uma hora para o encerramento dos trabalhos. O valor econômico de tal contratação é nulo. E, além de tudo, Mateus descreve detalhes do procedimento de contratação dessa undécima hora. Ele mostra assim que é nesse ponto que se situa o verdadeiro enfoque da parábola. Só com esses operários o proprietário entabula uma conversa: ‘Por que ficastes aí o dia inteiro sem trabalho?’. E eles respondem: ‘Porque ninguém nos contratou’ (20,7). Jesus sabe criar um ar de suspense. Ele aumenta a expectativa dos ouvintes, começando com o pagamento daqueles que foram contratados por último. O proprietário lhes paga uma moeda de prata. É um bom salário, ainda mais considerando que não tinha combinado nenhum valor com eles. Mas esse salário desperta a ganância dos operários da primeira hora. Apesar de terem concordado em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata, passam a esperar mais. Ficam resmungando, porque eles também recebem só uma moeda. Em vez de ficarem satisfeitos, comparam o seu salário com o dos operários que trabalham menos. A sua reação está cheia de simbolismo, e o leitor percebe que Mateus coloca essas palavras na boca dos cristãos esforçados que se queixam porque Jesus chama também os pecadores, aceitando na comunidade cristã pessoas que nada têm a apresentar. ‘Estes chegaram por último, só trabalharam uma hora, e tu os tratas como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor intenso’ (20,12). Essas palavras exprimem aquilo que sensibiliza os cristãos e a sua maneira de entender a vida. Eles não se mostram gratos por terem conseguido trabalho e a vida estar bem encaminhada; não, eles se comparam aos outros. Em vez de olhar com gratidão para aquilo que receberam, ficam olhando para os presentes que Deus distribui também para os outros. A comparação torna as pessoas invejosas e cegas para aquilo que lhes é devido e que é bom para elas. E os cristãos entendem a sua vida como um peso e uma luta no calor do dia. Não têm olhos para o prazer do trabalho, o sucesso, a safra que podem colher e desfrutar. Só veem o fardo, a faina, as dificuldades que a vida lhes reserva” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).      

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de agosto de 2022

(Ez 28,1-10; Sl Dt 32; Mt 19,23-30) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: ‘Vê! Nós deixamos tudo e te seguimos. O que havemos de receber?’”

Mt 19,27.

“Com certeza os olhos de Jesus marejaram-se de lágrimas ao ver afastar-se aquele jovem a quem tinha convidado para segui-lo; por isso Jesus, com tristeza, se expressa com um grafismo oriental hiperbólico: ‘É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha...’ (v. 24), expressão que não se deve tomar ao pé da letra, como é obvio, mas era um provérbio ou refrão popular, uma expressão hiperbólica muito corrente entre os rabinos, para significar a dificuldade de uma coisa; e Jesus utiliza-se dela, por ser muito conhecida na linguagem popular e para esclarecer o grave obstáculo que são as riquezas para  a salvação. Segundo a crença popular judaica, a riqueza era um dos prêmios que Deus concedia à justiça; em contraposição está a expressão claramente paradoxal de Jesus... O significado dessas palavras não é que os ricos não possam salvar-se, mas que os ricos que põem a confiança no dinheiro, que tenham atração desordenada pelo dinheiro, dificilmente se salvarão, uma vez que a atração desordenada os impulsionará a cometer injustiças e atitudes prováveis em franca oposição com os princípios da salvação. Ao ouvirem os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas, os apóstolos, que eram pobres, e mesmo o pouco que tinham haviam abandonado para seguir Jesus, perguntaram-lhe: ‘Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?’ (v. 27). Jesus respondeu-lhes dizendo qual será a recompensa, mas alternando a ordem marcada pelos apóstolos; eles expõem que deixaram tudo e por isso esperam recompensa; Jesus, por sua vez, estabelece que abandonaram tudo para segui-lo e que por esse seguimento alcançarão o prêmio. Abandonar as riquezas não é mais que uma condição para seguir o Mestre; a perfeição consiste em segui-lo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de agosto de 2022

(Ez 24,15-24; Sl Dt 32; Mt 19,16-22) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Se tu queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens,

dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’” Mt 19,21.

“O jovem rico, preocupado com a salvação eterna, tropeçou numa exigência colocada por Jesus, tendo em vista alcançar a perfeição: desfazer-se de todos os haveres, dar aos pobres a quantia arrecadada, e tornou-se seu discípulo. Em que sentido este é um caminho de perfeição? A mera submissão aos mandamentos era insuficiente para demonstrar uma autêntica ruptura com o egoísmo, único empecilho para se chegar à salvação. Em muitos casos, os mandamentos eram cumpridos exteriormente, não abrindo o coração humano para a solidariedade. Por isso, Jesus desafiou o jovem a dar mostras cabais de seu desejo de trilhar os caminhos da santidade. A prova proposta pelo Mestre era suficiente para mostrar como Deus e o próximo eram o absoluto no coração daquele jovem. O absoluto de Deus seria patenteado na capacidade de mostrar-se livre diante dos bens, a ponto de desfazer-se deles. Só quem tem o coração centrado em Deus, é capaz de um gesto deste porte. O absoluto do próximo, identificado com os pobres, manifesta-se na solidariedade com quem nada possui, vive na indigência, dependente da solidariedade alheia. O caminho para perfeição passa pela liberdade de coração, em relação aos bens deste mundo, para buscar Deus e solidarizar-se com os mais pobres. É assim que se chega à vida terna. Mas o jovem rico se recusou a percorrer o caminho. – Espírito de liberdade e solidariedade, que o apego aos bens deste mundo não me impeça de trilhar o caminho da perfeição indicado por Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

20º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Jr 38,4-6.8-10; Sl 39[40]; Hb 12,1-4; Lc 12,49-53)

1. As leituras de hoje giram em torno da temática daquele que é incompreendido, mau acolhido e até perseguido por causa de sua fidelidade a Deus. Vemos isso claramente na 1ª leitura, onde o profeta Jeremias vem atirado numa cisterna para afundar na lama, por expressar o que pensa e o que Deus lhe inspira.

2. Também está na 2ª leitura, lembrando que Jesus sofreu uma forte oposição por parte dos pecadores. E o próprio evangelho, nos versículos seguintes, Jesus faz alusão a incompreensão dos seus contemporâneos, que sabem julgar os aspectos meteorológicos e atmosféricos, mas não veem nele, em suas palavras e obras, o Messias prometido.

3. O coroamento dessa realidade vem complementada pelo salmo para nos dizer que o justo não é abandonado à própria sorte: luta, sofre, é tentado a desesperar-se, até mesmo morre, mas ao fim é salvo pela mão de Deus e triunfa sobre seus inimigos.

4. Mas no evangelho, duas frases nos chamam a atenção e merecem um comentário. Primeiramente essa afirmação de Jesus sobre o fogo e o batismo que deve receber. Se as tomamos separadamente podem ter vários significados, mas Jesus está falando de sua paixão, o batismo de sangue, e da experiência do Espírito Santo, também uma forma de batismo purificador.

5. A segunda afirmação que nos chama a atenção é essa afirmação de que não veio trazer a paz, mas a divisão. Algo que nos surpreende pois parece entrar em contraste com todo o espírito do evangelho e com aquela promessa de paz que Jesus fará aos próprios apóstolos: ‘Deixo-vos minha paz, minha paz vos dou’ (Jo 14,27).

6. Jesus não está em contradição consigo mesmo. A paz que Ele nos doa está no íntimo da consciência que nos liberta dessa desordem provocada pelo pecado; na relação com o próprio Deus, pois nos restitui a sua amizade e nos guia a viver a sua vontade; também em relação ao próximo, quando aprendemos a amá-lo.

7. Mas também é verdade que Jesus nos traz a divisão em tríplice sentido: primeiramente dentro de nós, porque a verdade que nos anuncia não nos deixa em paz, provoca uma laceração: uma parte de mim quer aderir à sua Palavra, mas a outra resiste e se rebela.

8. Jesus provoca divisão também no sentido em que propõe aos seres humanos escolhas fundamentais de vida; há quem aceita e compartilha, e quem simplesmente rejeita. Isso ocorre dentro do ambiente familiar, do trabalho e até da amizade. Não podemos fazer de conta que esta não existe, nem estamos dispensados de tomar posição quando as circunstâncias o pedem.

9. Por fim, essa divisão pode ser entendida como aquela do fogo sobre o metal para retirar-lhe as impurezas. Jesus veio realizar uma clara separação entre luz e treva, verdade e erro, entre o que é justo e o que não é, entre o bem e o mal.

10. Diante d’Ele não se pode ficar indiferente; é necessária uma escolha: ou com Ele ou contra Ele. E quem o escolhe não pode aceitar a ambiguidade e viver de maneira hipócrita.

11. Peçamos ao Senhor a graça dessa luta contra o pecado, que nos lembra a 2ª leitura; de não nos cansar nessa luta contra as forças do mal que permeiam nossa história, mesmo em meio as incompreensões, para sermos fiéis a Cristo, conscientes de que Deus não abandona aqueles que a Ele se confiam e buscam viver na Sua presença.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 13 de agosto de 2022

(Ez 18,1-10.13.30-32; Sl 50[51]; Mt 19,13-15) 

19ª Semana do Tempo Comum.

“Levaram crianças a Jesus, para que impusesse as mãos sobre elas e fizesse uma oração.

Os discípulos, porém, as repreendiam” Mt 19,13.

“A atitude de Jesus de acolher as criancinhas, que eram apresentadas para que lhes impusesse as mãos e rezasse por elas, foi chocante para os discípulos. Estes a repeliam. A reação deles não foi motivada pelo receio de que estivessem esperando de Jesus um gesto mágico, nem eram movidos por ciúme ou impaciência. Simplesmente, eram ainda incapazes de compreender o verdadeiro sentido do ministério de Jesus. A atitude do Mestre deveria ser bem considerada, para dela tirar as devidas lições. O gesto de impor as mãos sobre as criancinhas aconteceu quando Jesus estava a caminho de Jerusalém, onde se consumaria o seu ministério. Momento terrivelmente sério de sua vida! No entanto, pelo caminho, mostrava-se sempre pronto a deter-se para acolher os humildes, os doentes e quem carecia de sua misericórdia. Embora a situação fosse grave, os pequeninos continuavam a ocupar o mesmo lugar no seu coração. Gestos semelhante deveriam fazer os seus discípulos. Contrariando a mentalidade de seu tempo, Jesus repudiava a marginalização à qual as criancinhas eram relegadas. As que lhe foram apresentadas, tornaram-se símbolo das crianças de todos os tempos e lugares, as quais deverão ser tidas como modelo de atitude existencial dos discípulos do Reino. Estes devem primar pela humildade e pequenez diante de Deus, rejeitando toda atitude soberba e orgulhosa. – Espírito de pequenez diante de Deus, leva-me a ser humilde como as criancinhas, desprovido de soberba e de orgulho que me induzem a marginalizar o meu próximo (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 12 de agosto de 2022

(Ez 16,1-15.60.63; Sl Is 12; Mt 19,3-12) 

19ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe” Mt 19,6b.

“Eis uma afirmação categórica da indissolubilidade do vínculo matrimonial. O Senhor Jesus revalidou a dignidade do matrimônio, proclamou sua indissolubilidade e rejeitou a teoria do repúdio, não importando a tolerância de Moisés a um povo de baixo nível moral; a vontade de Deus está suficientemente clara. O amor que os esposos prometem um ao outro é um amor para sempre; de outra forma não seria um verdadeiro e sincero amor. A volubilidade humana é uma ameaça à continuidade do amor. A intervenção de Deus na união dos esposos é garantia da indissolubilidade do sacramento. Essa união é obra da criação e é formalmente determinada na lei, é obra de Deus, na qual o homem não pode interferir. A unidade e a indissolubilidade do matrimônio são duas qualidades estabelecidas por Deus que nem a própria Igreja pode dissolver. Alguns pensam que a Igreja é demasiado teimosa por defender essas duas qualidades e que, se cedesse neste ponto, seria mais bem-vista e ainda teria muito mais adeptos. A Igreja não é obstinada; é fiel ao preceito de Deus. e a Igreja não pode deixar de ser fiel. Por isso, defendeu sempre, mesmo nos tempos de maior relaxamento de costumes, a unidade e a indissolubilidade do matrimônio. O matrimônio tem sua cruz e, com certeza, ocasionalmente, é cruz muito pesada; se tudo isso se vê com olhos excessivamente carnais, será muito pesado; porém, se se olhar tudo com os olhos do espírito e sobretudo se vê no matrimônio um sacramento ao qual Paulo denomina ‘mistério grande’ (Efésios 5,32), então, descobrir-se-ão nele riquezas espirituais de sentido profundo com referência ao Reino” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 11 de agosto de 2022

(Ez 12,1-12; Sl 77[78]; Mt 18,21—19,1) 

19ª Semana do Tempo Comum.                           

“Porque o Reino dos céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados” Mt 18,23.

Mateus mostra o que Jesus entende por perdão, contando a parábola do devedor implacável e do servo mau (18,23-35). A parábola ganha a sua força da confrontação entre a dívida grande que o primeiro devedor, certamente um preposto romano ou grego, tinha como o rei, e a dívida minúscula do outro. O primeiro devedor deve 10.000 talentos, o que corresponde mais ou menos a 40 milhões de dólares, em comparação com os 66 dólares que o outro deve. Isso significa que o outro devia 600 mil vezes menos. 10.000 eram a maior quantia que se podia imaginar naquela época. A soma de todos os impostos da Galileia mal chegava a 200 talentos. Em outras palavras, o primeiro devedor nunca terá condições de pagar a sua dívida, nem mesmo por meio da prisão por dívidas que naquele tempo era a prática usual entre os romanos e persas. Jesus nos compara a esse devedor. Deus tem piedade de nós e perdoa toda a nossa dívida. Mas nós somos mesquinhos e impiedosos quando um irmão nos deve um pouquinho apenas. Mas quem, diante de um perdão tão generosos, se mostra impiedoso para com aquele que pecou contra ele, será entregue aos verdugos. Jesus chama o segundo devedor de ‘companheiro’ do primeiro. Trata-se de uma pessoa que está no mesmo serviço que nós, ou seja, conosco faz parte da mesma comunidade cristã. Jesus nos admoesta: ‘Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar o seu irmão do fundo do coração’” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 10 de agosto de 2022

(2Cor 9,6-10; Sl 111[112]; Jo 12,24-26) 

São Lourenço, diácono e mártir.

“Dê cada um conforme tiver decidido o seu coração, sem pesar nem constrangimento,

pois Deus ‘ama quem dá com alegria’” 2Cor 9,7.

“Um agricultor deve conhecer o tempo, a terra, as sementes e o manejo da plantação e da colheita para que obtenha bom resultado no final. Assim também deve ser o ser humano a respeito de suas ações. Deve-se conhecer o tempo certo para falar e agir, deve conhecer a terra onde estas palavras serão plantadas, pois estas terras são formadas por sentimentos, de conhecer a semente/palavra que será plantada, para que não seja injusto ou incoerente com o que precisa ser dito/plantado; também é preciso conhecer os manejos para que as consequências não sejam desastrosas e acabem gerando maus frutos e más relações. Infelizmente, a agricultura do coração humano caiu no esquecimento de muitos e não se consegue fazer uma colheita de qualidade de valores humanos. O que isto tem a ver com o versículo de hoje? Tem a ver que só podemos dar, ou oferecer aquilo que cultivamos em nós. Se cultivamos o amor, oferecemos amor, se cultivamos verdade, oferecemos verdade; se cultivamos perdão, oferecemos perdão; se cultivamos amizade, respeito, coerência, compreensão, justiça, com certeza ofereceremos o que temos de melhor e sem constrangimento e medo, pois sabemos que o que oferecemos é o que temos de melhor qualidade. – Deus de amor, sua presença em nossa vida é fecunda e verdadeira, louvado e bendito seja por se nos doar em Jesus e por vir em ações transformadoras pelo Espírito Santo (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 9 de agosto de 2022

(Ez 2,8—3,4; Sl 118[119]; Mt 18,1-5.10.12-14) 

19ª Semana do Tempo Comum.

“Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar

a face do meu Pai que está nos céus” Mt 18,10.

Como desprezar uma vida? Como desprezar um filho de Deus? Como desprezar quem tem os mesmos desejos de vida e de amor? Como desprezar quem tem no coração os mesmos sentimentos de paz e felicidade? São muitos os pequeninos de hoje em dia, como eram muitos no tempo de Jesus. Sempre a sociedade, pela sua ganância e sede de poder, exclui grande parte da sociedade, para que poucos possam gozar de tudo. São muitos os pequeninos que não tem voz nem vez. Que estão à margem da participação social. Muitos são os excluídos do processo da vida e do direito de viver dignamente. Quem de nós não baixa o olhar diante do pobre, do deficiente, do doente, do beberrão? Quem de nós não privilegia quem está mais limpo e mais bem apresentado? E todos possuem a veste da vida de Deus! Todos possuem o mesmo destino. Todos nascem para a eternidade, para a vida plena! E são cortados desse direito pela ganância e orgulho de poucos que comandam o mundo político, econômico, religiosos, ideológico e social. Os anjos dessas criaturas humanas, diz Jesus, estão junto ao Pai. Quer dizer, os pequeninos têm o direito ao Reino do Pai. Todos são filhos do mesmo Pai. Todos têm o direito ao Reino da vida plena. E nós, que temos um olhar egoísta, fechamos os olhos perante o mundo dos pequeninos, que são olhados por Deus com o mesmo olhar de amor, com que olha todos os outros, que se acham mais pessoas humanas, que os excluídos. Para Deus não há excluídos. Todos são amados do mesmo jeito. Todos são convidados a participar do banquete da Vida Plena. – Senhor Deus, não quero sentir-me excluído. Já vivi essa situação, e é triste. Que aprenda com isso a não excluir ninguém de minha vida. Que eu veja em cada rosto, um rosto amado pelo vosso amor, que é eterno e terno para cada filho. Que possa sentir-se presente em cada pequenino desse mundo! Amém” (Wilson João Sperandio – Graças a Deus [1995] – Vozes).      

Pe. João Bosco Vieira Leite