Quarta, 01 de março de 2023

(Jn 3,1-10; Sl 50[51]; Lc 11,29-32) 1ª Semana da Quaresma.

“Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho Homem para esta geração” Lc 11,30.

“Também muitos cristãos da atualidade, da mesma maneira como queriam os israelitas que viviam no tempo de Jesus, desejariam ardentemente ver algum sinal visível e maravilhoso para poder seguir Jesus, acreditando nele. Mas a verdade é que em tal circunstância não teriam acreditado em Jesus, mas sim no sinal prodigioso que tivessem presenciado. A Jesus somente se deve seguir pela fé no escuro, mas também com o mérito da fé que somente enxerga através da escuridão ou por enigmas, conforme afirmou São Paulo. Jesus é o sinal de contradição para os homens de todos os tempos: uns o denigrem e outros o perseguem ou simplesmente o desconhecem, e outros o adoram como o Filho de Deus, amam-no e o seguem como a seu Redentor e Mestre de sua vida. Para os verdadeiros crentes, Jesus é o sinal da salvação. Ele é o enviado do Pai para salvar a humanidade e, como diz o apóstolo, em nenhum outro nome nos foi dada a salvação, e sim no nome de Jesus (ver Atos 4,12). O nome de Jesus significa ‘Deus salva’. Porém, ao acrescentar que Jesus é ‘sinal de contradição’, recorda-se que Jesus será para uns, para aqueles que o reconheceram, aceitaram e amaram, causa de salvação; porém, para aqueles que o desconheceram, não o seguiram, não o aceitaram em sua vida, seu próprio ato de rejeição foi e será causa de perdição. Em Jesus está a vida, e de sua vida participam todos os que são predestinados pelo Pai. Ele mesmo já nos advertira que ele é a videira e nós os sarmentos e que somente unidos a ele poderemos dar frutos de graça e de santidade. Por sua vez, medite você bem este parágrafo de São João, no evangelho, tomando as palavras do discurso de Jesus: ‘Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dará fruto; porque sem mim nada podeis fazer’ (João 15,4-5) ” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de fevereiro de 2023

(Is 55,10-11; Sl 33[34]; Mt 6,7-15) 1ª Semana da Quaresma.

“Assim a palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi ao enviá-la” Is 55,11.

“Durante o Tempo da Quaresma a Igreja convida os seus filhos para um encontro mais frequente e constante com a Palavra de Deus. O breve texto do Segundo Isaías, que se lê na liturgia de hoje, é uma das descrições mais sugestivas que encontramos da Escritura acerca das características da Palavra que Deus dirige ao homem. Estamos no Médio Oriente, numa terra em que a água é um bem precioso e na qual é experiência de todos os dias o fato de, onde ela chega, o deserto literalmente floresce e pode transformar-se num pomar. O autor utiliza por isso uma imagem ligada ao mundo da natureza para sublinhar o que é claro desde as primeiras páginas da Bíblia: a Palavra de Deus não é somente uma Palavra que comunica verdades, conteúdos, que informa acerca de alguma coisa, mas é uma Palavra que realiza aquilo que diz, que cumpre o que anuncia e, sobretudo, que gera vida. Deus cria tudo o que existe ‘dizendo’ simplesmente. É belíssima a expressão do salmo 33(32) que afirma: ‘O Céu foi feito com a Palavra do Senhor’. No Novo Testamento são muitas as passagens (pensamos sobretudo nos Atos dos Apóstolos) em que é evidente como o acolhimento da Palavra anunciada provoca a mudança de vida, conversão, transformação nos que escutam, suscita a fé. ‘A fé depende da pregação’ (Rm 10,17), afirma convictamente São Paulo. Não esqueçamos depois que a Palavra definitiva do Pai para a humanidade é o seu Filho Jesus Cristo, Verbo feito carne (Jo 1,14). É acolhendo-O que a nossa vida pode ser lida numa chave completamente diferente e encontrar nova linfa. Quando, durante a liturgia, se proclama a Palavra, é o próprio Cristo que continua a transmitir as palavras de Deus na linguagem dos homens. É o momento privilegiado para o encontro com Ele” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de fevereiro de 2023

(Lv 19,1-2.11-18; Sl 18[19]; Mt 25,31-46) 1ª Semana da Quaresma.

“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos,

então se assentará em seu trono glorioso” Mt 25,31.

“’Mas bah, tchê! Tu acreditas mesmo que Jesus um dia virá? Já faz tempo que isso foi prometido, e até agora nada. Tem que ser meio doido das ideias para acreditar nisso...’. Não foi uma vez que, nos tempos em que fui pastor na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, ouvi afirmações como esta. Ainda hoje, volta e meia, pessoas com quem falo afirmam não acreditar na volta de Jesus. A Bíblia Sagrada, que para nós é a Palavra de Deus, afirma que Jesus voltará. Contudo, ela não revela, em momento algum, quando isso irá ocorrer. No Evangelho de Marcos (13,32) está escrito que a respeito do dia ou da hora ninguém sabe, a não ser o próprio Pai. Mas Ele virá e então haverá de separar os cristãos dos descrentes para a vida e morte eterna. O que acabo de afirmar é duro; contudo, não é mentira, é real. E se você e eu cremos em Jesus de fato como o nosso Salvador, o nosso modo de agir certamente o demonstrará. De que forma? Bem, Jesus virá a nós, os seus verdadeiros discípulos, que a prova disso estará naquilo que fizemos ao nosso próximo, a saber, que damos de beber ao sedento, que damos de comer ao faminto, que vestimos o que estava sem roupa, que abrigamos o estrangeiro, que visitamos o doente e aquele que estava preso (leia Mt 25,31-46). Que você e eu, que cremos em Jesus, sigamos sendo discípulos e amando o nosso próximo como a nós mesmos. Amém. – Senhor Jesus, obrigado por me amares tanto ao ponto de dares tua vida para me salvar. Fortalece a minha fé e ajuda-me a amar o meu próximo, demonstrando deste modo que sou teu seguidor. Que eu não feche meus olhos para as necessidades dele, mas que eu o ame assim como eu amo a mim próprio. Amém” (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). Março.

Pe. João Bosco Vieira Leite

1º Domingo da Quaresma – Ano A

(Gn 2,7-9; 3,1-7; Sl 50[51]; Rm 5,12-19; Mt 4,1-11)

1. Na quarta-feira, recordávamos na introdução da nossa celebração das Cinzas que a quaresma é considerada um dos tempos fortes do Ano Litúrgico. ‘Forte’ porque grande é o mistério que nos vem recordado, a morte e a ressurreição de Cristo; forte também pelo esforço maior que é pedido a cada fiel na sua luta contra o mal e na sua solidariedade com os necessitados.

2. Neste primeiro domingo da Quaresma, podemos contemplar a Jesus como aquele que liberta a humanidade das forças demoníacas, da angústia e do medo do demônio. O evangelho nos diz que ele foi conduzido pelo Espírito para ser tentado pelo demônio.

3. E assim temos os dois protagonistas da nossa história: Jesus e o diabo. O demônio, o satanismo e outros fenômenos conexos são hoje de grande atualidade, e inquietam não pouco a nossa sociedade. O nosso mundo tecnológico e industrializado pulula de magos, feiticeiros, ocultismo, espiritismo, horóscopo, amuletos, de seitas satânicas. Expulsamos o demônio da fé, e ele reaparece revestido de superstições...

4. Sempre nos perguntamos: existe o demônio? A palavra demônio indica uma realidade pessoal dotada de inteligência e vontade, ou é simplesmente um símbolo, um modo de dizer para indicar a soma do mal moral no mundo, um inconsciente coletivo, uma alienação coletiva e por aí vai?

5. Muitos intelectuais não creem no demônio como uma realidade pessoal. Alguns pensadores e escritores tomam seriamente a sua existência. Um deles escreveu que “a grande astúcia do demônio é fazer crer que ele não existe” (Baudelaire). Mas o evangelho insiste em sua existência em várias situações de libertação na ação de Jesus.

6. Essas ações de Jesus não são a prova principal, pois na interpretação desses fatos havia fatores como doenças que eram interpretadas como ação do demônio, como por exemplo a epilepsia, que sabemos não ter nada a ver.

7. A prova verdadeira está na vida dos santos. Na vida desses, satanás foi obrigado e se revelar, a colocar-se contra a luz. A tentação de Jesus no deserto é a prova. Muitos santos lutaram na vida com o príncipe das trevas. Eles não são ‘dom quixotes’ lutando contra moinhos de vento. Eram pessoas concretas e de sã condição psicológica.

8. São Francisco, certa vez confidenciou a um companheiro: “Se os frades soubessem quantas e quais tribulações eu recebo do demônio, não haveria um que não se colocasse a chorar por mim”. Ao demônio não interessa o que se escreve sobre ele, se existe ou não, mas pessoas que se decidem seriamente por Deus. 

9. É normal e coerente que quem não crê no diabo, não creia em Deus. O trágico seria alguém que não crê em Deus, mas acredita no diabo. Mas o que diz a nossa fé cristã sobre ele? A coisa mais importante não é afirmar ou provar que o demônio existe, mas saber que Cristo venceu o demônio (cf. Hb 2,14-15).

10. A rigor, nem mesmo deveríamos dizer que acreditamos no demônio, pois crer significa ter confiança e nós não temos confiança nele. Apenas sabemos de sua existência. Se lhe é concedido poder sobre o ser humano, é porque alguns têm a possibilidade de, em liberdade, fazer uma escolha de campo, e na sua autossuficiência, não precisam de um Redentor.

11. Por fim: Como ajustar-se na prática, num campo como esse, onde reina tanta confusão e falta de seriedade? Não é algo simples. Há quem se iluda em atribuir diretamente ao demônio o próprio erro, sem tomar seriamente as responsabilidades e afrontar as raízes do mal que está em si. Como Eva, dizemos que a culpa é da serpente...

12. Não posso aqui entrar em vários outros aspectos que dizem respeito a esse assunto. Uma coisa é certa, o demônio não está para exibir-se. Ele age discretamente, e isso exige de nós discernimento dos espíritos. A quem ande expulsando demônio ‘a três por quatro’. Não existe exorcismo, se verdadeiro, fácil. A Igreja entende que algumas situações exigem análise rigorosa e ação de quem é encarregado de tal ministério.

13. Esses tempos novos da internet exige uma atenção redobrada dos pais. Há pessoas e jogos que induzem nossos adolescentes a práticas e ritos opacos, que geram traumas e danos ao equilíbrio psíquico. A todos nós, é preciso manter nossa atenção no próprio Jesus. Não devemos ter medo. É Ele que liberto nos liberta. E com Ele caminhamos para a Páscoa. 

 

Campanha da Fraternidade 2023 – Fraternidade e Fome

“Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16)

 

CF = Campanha da Fraternidade

 

Apresentação

 

                A CF é o modo brasileiro de celebrar a Quaresma. Ela não esgota a Quaresma. Dá-lhe, porém, o tom, mostrando, a partir de uma situação bem específica, o que o pecado pode fazer quando não o enfrentamos. Por isso, cada ano, recebemos um convite para viver a Quaresma à luz da CF e viver a CF em espírito de conversão pessoal, comunitária e social.

                Este ano, com o tema “Fraternidade e Fome”, somos convocados a considerar a fome como referência para nossa reflexão e nosso propósito de conversão. Temos, sem dúvida, fome de Deus. Desejamos estar com Ele e poder participar de seu amor e de sua misericórdia. Temos fome de paz, fraternidade, verdade, concórdia e tudo mais que efetivamente nos humaniza.

                A fome, bem sabemos, é um ato de preservação. É sinal para que não distraiamos quando nosso organismo sente falta do necessário para viver. O que ocorre, porém, quando o alimento não chega ao ser humano? O que faz uma sociedade ter filhos e filhas a quem, embora busquem, chamem, gritem e chorem, não chega o alimento? Por isso, a fome é também um desafio social, humanitário, uma situação que não se pode deixar de enfrentar, pois a fome de uns – a fome de uma só pessoa! – onera a todos nós, onera a sociedade inteira. Cada ser humano que não encontra o necessário para se alimentar é, em si, um questionamento a respeito dos rumos que estamos dando a nós mesmos e à nossa sociedade. A fome é um dos retratos mais cruéis da desigualdade.

                E o Brasil sente fome. Milhões de brasileiros e brasileiras experimentam a triste e humilhante situação de não poder se alimentar nem dar aos seus filhos e filhas o alimento indispensável a cada dia. Por isso a CNBB apresenta, pela terceira vez, o tema da fome para a CF (1975, 1985 e 2023). (Extraído do Texto Base).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de fevereiro de 2023

(Is 58,9-14; Sl 85[86]; Lc 5,27-32) Depois das Cinzas.

“[...] se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado,

nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia” Is 58,10.

“Este texto de Isaías continua leitura de ontem. Depois do tema do jejum, o autor enfrenta um novo argumento relativo ao culto, um outro contexto em que é possível divisar o verdadeiro significado de uma prática religiosa: o respeito pelo sábado. [...] O discípulo do Segundo Isaías prossegue o seu convite para uma religiosidade verdadeira e concreta. O profeta anuncia que Deus escuta e cura aquele que está apegado ao bem, que não oprime e toma o próximo ao seu cuidado (vv. 9b-11). [...] No centro da atenção está depois o ‘sábado’, o dia consagrado ao Senhor. Como o jejum devia ter uma profunda conotação de abertura ao próximo, assim o sábado deve ser ocasião para uma autêntica relação com Deus. Deve evitar-se, nesse dia, toda a atividade profana, sobretudo todo o comércio (vv. 13-14). Se o sábado for realmente observado como um dia de delícias, o próprio Senhor será a delícia dos Seus fiéis” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 24 de fevereiro de 2023

(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) Depois das Cinzas.

“Disse-lhes Jesus: ‘Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles?

Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão’” Mt 9,15.

“Os discípulos de João, atrelados aos dos fariseus, ficavam incomodados com o comportamento dos discípulos de Jesus, no tocante à prática do jejum. Ao supervalorizar este ato de piedade, imaginavam estar dando mostras de santidade e de seriedade de vida. Não acontecendo o mesmo com o grupo de Jesus, concluíam faltar-lhes profundidade. Quiçá os considerassem levianos e desregrados. Estas considerações não chegaram a influenciar a pedagogia de Jesus, no trato com os discípulos. Servindo-se da metáfora da festa de casamento, estabeleceu uma clara distinção entre o tempo de alegrar-se e o tempo de jejuar. O primeiro correspondia ao tempo de sua presença, qual um noivo, junto dos que escolhera para estar consigo. Seria o tempo de festejar, comemorar, desfrutar de uma presença tão querida. O segundo diz respeito ao tempo da sua ausência, a ser consumada por meio da morte de cruz. Figurativamente, seria o tempo da ausência do noivo, no qual todos se preparam para sua chegada, e se privam de alimentos, em vista do banquete que será oferecido. Portanto, os discípulos não jejuavam simplesmente pelo fato de terem ainda junto de si. O tempo em que o esposo lhes seria tirado estava se aproximando. Aí, sim, o jejum seria uma exigência, em vista de preparar-se para acolher a segunda vinda do Senhor. – Pai, desejo preparar-me bem para celebrar a Páscoa, tempo de reencontro com o Ressuscitado. Que o jejum me predisponha, do melhor modo possível, para este momento (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 23 de fevereiro de 2023

(Dt 30,15-20; Sl 01; Lc 9,22-25) Depois da Cinzas.

“Depois Jesus disse a todos: ‘Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me”

Lc 9,23.

“A Quaresma é tempo de renovação cristã, de retomar o caminho iniciado por nosso batismo, seguindo Jesus Cristo; é a época própria para a reflexão de nossa realidade cristã. Jesus é taxativo ao enunciar-nos as condições requeridas por ele para aqueles que querem segui-lo. A negação de si mesmo é o princípio de tudo que vem depois. Nós temos de desaparecer para nós mesmos, negar-nos a nós mesmos quer dizer não levar em grande consideração nossas preferências, opiniões e inclinações, para seguir melhor o que agrada a Jesus, o que faculta os interesses espirituais de Jesus, que não são outros senão a salvação do homem e de todo o mundo. Em segundo lugar, Jesus exige de nós que tomemos nossa ‘cruz’, e que façamos isso não apenas uma vez, mas ‘cada dia’; porque cada dia aparecem inúmeras oportunidades de sofrimento, de renúncia própria, de contrariar nosso modo de ser, para que, ao desaparecermos nós, vá aparecendo mais e mais Jesus, com sua vida e seu espírito” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 22 de fevereiro de 2023

(Jl 2,12-18; Sl 50[51]; 2Cor 5,20—6,2; Mt 6,1-6.16-18) Cinzas.

“Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” Jl 1,12-13.

“Nos primeiros dois capítulos do profeta Joel fala-se de um flagelo terrível que atingiu o povo: uma invasão de gafanhotos. Esse acontecimento é interpretado como uma antecipação do ‘dia do Senhor’ – tema muito caro à tradição profética (cf. Jl 1,15-16; 2,10-11; Ml 3,2.23) – que se apresenta com perturbações cósmicas terríveis. Ao mesmo tempo a experiência da calamidade leva a uma liturgia de luto e de penitência. No texto que hoje a Igreja nos propõe para meditação é o próprio Senhor que exige uma pronta resposta de conversão (v. 12): o verbo ‘converte-vos’ (v. 12); ‘rasgai os vossos corações’ (v. 13). Todos os membros do povo de Deus são chamados indiscriminadamente à oração para implorarmos o perdão. [...] Nas assembleias litúrgicas que hoje se reúnem para iniciar a caminha penitencial da Quaresma com o rito solene e austero da imposição das cinzas, cumpre-se uma vez mais a palavra profética que nelas se proclama: um povo que se reúne para pedir perdão a Deus e para elevar até Ele as suas súplicas. Um povo que deseja acolher o convite a ‘converter-se’, a ‘rasgar o coração e não os vestidos’; um povo que se deixa ferir pela palavra forte de Deus, mas que sabe que pode regressar porque quem o chama é um Senhor ‘clemente e compassivo, paciente e misericordioso’. É interessante notar que nos versículos 17-18 o argumento no qual se baseia para provocar a misericórdia de JHWH é o mesmo que se encontra na oração de Moisés em Ex 32,11-12 (cf. também Sl 42,4.11 79,10; Mq 7,10; Ml 2,17): que ninguém possa dizer que Deus não intervém em favor dos Seus filhos. Convida-se Deus a mostrar o Seu ciúme, isto é, o Seu excesso de amor que se manifesta também na compaixão pelo seu Povo. Hoje, portanto, esta palavra é anunciada e cumpre-se ao mesmo tempo: Deus chama, o povo reúne-se; o Santo convida à conversão, o povo jejua e pede perdão; o Pai concede uma bênção, um tempo favorável (cf. segunda leitura) e os filhos lembram-Lho, para que também eles se tornem conscientes de que são Sua propriedade especial entre todos os povos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 21 de fevereiro de 2023

(Eclo 2,1-13; Sl 36[37]; Mc 9,30-37) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: ‘Se alguém quiser ser o primeiro,

que seja o último de todos e aquele que serve a todos!’” Mc 9,35.

“Servir é trabalhar em favor de alguém. Servir é abdicar de si mesmo para favorecer o outro em suas necessidades. Servir é ir ao encontro, esvaziar-se e impregnar-se do outro. Servir é oferenda da vontade, do tempo, da habilidade. Jesus se encarna no seio de Maria, vem ao mundo na fragilidade de uma criança, passa boa parte de sua vida ajudando sua família. Ao iniciar seu ministério, caminha por entre o povo, despojado de tudo e chama para sua companhia os simples. Em toda sua trajetória dá o exemplo, em não exigir absolutamente nada que não tenha experimentado. Dentre os muitos seguidores, doze homens o acompanham bem de perto, desfrutando de seu precioso ensinamento, participando de sua missão e testemunhando bem de perto seu serviço. No entanto, discutem entre si quem é o maior. Com toda a sinceridade, estamos preparados para ser o último e o servo de todos? Estamos preparados para renunciar cargos e títulos? Estamos preparados para praticarmos o amor ao próximo e o escondimento? Ou queremos servir para ter destaque, para ter influência, para mostrar a todo mundo que somos bons, generosos, como nos dedicamos e, quase sempre, as pessoas não nos dão o valor necessário? Será que estamos preparados para viver a experiência de ‘ser ninguém’ no meio dos excluídos? Será que conseguimos sair do nosso pedestal para nos misturarmos anonimamente entre os que nada podem nos restituir de valor material ou ampliar nosso status? Temos que ter uma visão crítica, questionarmo-nos constantemente se não estamos aderindo ao Evangelho apenas naquilo que nos interessa, de forma parcial. Se não for assim, é melhor voltar e recomeçar, literalmente, nascendo de novo, como criança, em simplicidade e humildade. – Senhor, que meu serviço seja simples e despretensioso; que nele transpareça somente a gratuidade do amor a ti e ao outro! Amém! (Patrícia de Morais Mendes de Sousa – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de fevereiro 2023

(Eclo 1,1-10; Sl 92[93]; Mc 9,14-29) 

7ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse: ‘Se podes!.... Tudo é possível para quem tem fé’” Mc 9,23

“Foi incessante a luta de Jesus contra a incredulidade de seus contemporâneos. Até mesmo os discípulos, chamados para estar com ele e compartilhar sua missão, davam mostras de possuir uma fé demasiado superficial. Sem falar dos adversários, sempre atentos para colhê-lo em alguma falha. O Evangelho refere à irritação de Jesus diante da insuportável falta de fé dos que chamou de ‘raça incrédula’. Ele se perguntava até quando seria capaz de suportá-los! A quem se referia? Sem dúvida alguma, aos mestres da Lei e a muita gente da multidão que assistia a cena. Não seria impertinente incluir os discípulos e o pai do menino epilético nessa categoria. Quiçá tivessem Jesus na categoria de um mago ambulante, operador de milagres, e gostavam de vê-lo atuando. A fé em Jesus, porém, consistia em reconhece-lo como instrumento escolhido por Deus para realizar seus prodígios em benefício da humanidade, e assim, implantar o Reino na História. O cristão sabe que o poder taumatúrgico de Jesus foi-lhe dado pelo Pai para reconduzir a humanidade para si. O Mestre não era um milagreiro qualquer. Antes, seus milagres comportavam responsabilidade para quem deles se beneficiava. Somente quem pensava assim estava em condições de recebê-los. Por isso o pai do menino só foi atendido quando mostrou ter fé verdadeira em Jesus -  Pai, reforça minha fé, de modo a me predispor a ser beneficiado por teu filho Jesus, por meio do qual tua misericórdia chega até mim (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

7º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Lv 19,1-2.17-18; Sl 102[103]; 1Cor 3,16-23; Mt 5,38-48)

1. As palavras de Jesus parecem cancelar a antiga Lei de Talião que dizia: ‘aquilo que o outro te fez, você fará a ele’, para nos dizer: ‘Aquilo que Deus fez a ti, faz tu aos outros’. ‘Como Deus te perdoou, perdoa também’. Depois nos fala de amar o inimigo e rezar pelos que nos perseguem.

2. Nos perguntamos: é possível colocar em prática uma exigência como essa? Respondemos sem meios termos: Não, não é humanamente possível. Mas nos perguntaríamos também: Jesus nos pediria o impossível? Certamente que não. A resposta é que Jesus não nos dá só o mandamento, mas nos dá a graça, a capacidade de vive-lo.

3. Se Ele não nos desse os meios, sua palavra restaria letra morta, ou no dizer de Paulo, ‘letra que mata’. Sim, mata no sentido que seriamos esmagados por uma exigência que nunca seriamos capazes de satisfazer. Como alguém que coloca diante de uma criança uma tonelada de qualquer coisa e lhe ordena erguê-lo.

4. O que Jesus propõe é o que ele mesmo viveu, se o contemplamos pregado na cruz, em sua dor pede ao Pai que perdoe, pois não sabem o que fazem. Se Deus escutou sempre as orações de Seu Filho, não deve ter deixado no vazio este seu pedido. No paraíso de Jesus não está só o ‘bom ladrão’. A misericórdia de Cristo transcende nossa compreensão.

5. Mas o fato de Jesus perdoar os inimigos na cruz não é suficiente para dar-nos a força e a capacidade de amar os inimigos. Jesus deu em Pentecostes e no nosso batismo o seu Espírito. Nos comunicou as suas mesmas disposições, infundindo em nós, com a caridade, a sua mesma capacidade de amar a todos, mesmo os inimigos.

6. Jesus não nos ordena simplesmente ‘fazer’, mas ele mesmo faz conosco e em nós. Não estamos mais sob a Lei, como diz são Paulo, mas sob a graça. O que se pede ao ser humano é acolher essa graça e colaborar com ela. Se não podemos pedir ao menino que levante uma tonelada, podemos pedir que aperte o botão que acionará o mecanismo capaz de fazê-lo.

7. Santo Agostinho, diante de certos desafios da Palavra, rezava: “Senhor, dá-me o que me pedes e pede o que quiseres”. Diante de uma ofensa, uma hostilidade, não podemos pedir à nossa natureza de não provar a rebelião e saudar ao ofensor numa outra ocasião como se nada tivesse acontecido.

8. Podemos pedir, com a oração, ao Espírito de Cristo de fazê-lo em nós e conosco. Aqui não é importante o que se sente, mas o que se quer; a vontade profunda, não o instinto. Se queres perdoar, seriamente, esse já se deu dentro de ti. Esse exercício da vontade foi vivido por muitos dos discípulos de Jesus, desde santo Estevão nos Atos dos Apóstolos, aos santos de nossos dias.

9. Há quem se pergunte: que seria da convivência humana se todos dessem a outra face como sugere Jesus? Não seria o triunfo da injustiça? A questão é que a prática do ‘olho por olho’, e todos nós o sabemos, vem provando infinitas lutas. Pensemos no Médio Oriente, entre hebreus e palestinos e nem precisamos ir tão longe para ver os resultados de tal prática.

10. Permanece entre nós esse espírito de amargura, de hostilidade e não respeito ao adversário. Esse clima não polui só a vida pública, mas também as relações familiares, parentes, amigos ou mesmo as nossas comunidades de fé. No diálogo ecumênico entre cristãos de diversas confissões sempre somos recordados que aquilo que nos une é mais forte do que aquilo que nos separa. 

11. Existem pessoas, até no meio político, que não têm a necessidade de humilhar seus adversários; a estas basta levar adiante com decisão, seus ideais. É sinal de fraqueza não conseguir expor suas ideias sem atacar os outros. Não se trata de dar razão ao adversário, mas de respeitá-lo como pessoas, e, para um cristão, também amá-lo. É preciso que desejemos ser mais: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?...”

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de fevereiro de 2023

(Hb 11,1-7; Sl 144[145]; Mc 9,2-13) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha.

E transfigurou-se” Mc 9,2.

“O prenúncio da paixão, feito por Jesus, deixou confuso o coração dos discípulos. Não conseguiam ligar a perspectiva de sofrimento e morte ao ideal de Messias exaltado que aguardavam. Sem dúvida, uma ponta de suspeita deve ter tomado conta deles: ‘será que Jesus é mesmo o Messias esperado?’ A transfiguração mostra a outra face da moeda: o aspecto glorioso de Jesus. Portanto, apresenta-se aos discípulos o desafio de combinar na pessoa do Mestre as duas dimensões. Sua existência era feita de sofrimento e glória, paixão e exaltação. Não dava para fixar-se num só aspecto. A glória de Jesus manifestava-se por meio de diversos elementos da cena da transfiguração: a luminosidade resplandecente, as vestes incomparavelmente brancas, a nuvem que envolveu a todos, a presença de Moisés e Elias. Sobretudo, a voz celeste não deixava dúvidas sobre a identidade de Jesus: ele era o Filho amado de Deus, seu maior título de glória. Apesar de ser filho glorioso de Deus Pai, Jesus não estaria isento de passar pela provação da cruz. A dificuldade de fazer os discípulos entenderem esta realidade em nada alterou o projeto do Mestre. Só depois da Ressurreição é que conseguiriam compreender o fato de brilhar a glória na vida de um Crucificado por fidelidade a Deus. – Pai, faze-me contemplar o brilho de tua glória em cada discípulo de teu Filho que se entrega ao serviço do Reino, com total generosidade, mesmo devendo enfrentar a morte (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 17 de fevereiro de 2023

(Gn 11,1-9; Sl 32[33]; Mc 8,34—9,1) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Desçamos e confundamos a sua língua, de modo que não se entendam uns aos outros” Gn 11,7.

“Aplicando a toda a Humanidade um episódio que na sua origem pode ter tido dimensões locais (porventura a derrocada do império babilônico cerca de 1600-1500 e depois ainda em 539 a.C., depois do seu renascimento com Nabucodonosor), o autor sagrado quer fazer refletir sobre as consequências a nível planetário do desejo humano de construir para si um futuro indestrutível (vv. 1-4). A intervenção de Deus (5-9) não é uma maldição para a Humanidade, mas antes a recuperação do projeto divino original: ver os povos, na sua diversidade, viver no respeito recíproco. Desde sempre as pessoas procuraram modelos de vida que dessem coesão a projetos e iniciativas comuns. Se é vivida como convivência entre as diferenças, a unidade corresponde àquele ‘projeto shalom = felicidade’ que Deus desde sempre deseja para todos os seus filhos e filhas. Mas pode acontecer que os seres humanos (ou uma parte deles) pretendam alcançar, mediante o desfrute da técnica (está subtendida naquele ‘vamos fabricar tijolos’), uma unidade política e cultural (simbolizada pela torre da cidade) que elimina todas as diferenças (simbolizadas pelas diversas línguas faladas) e que, sobretudo, procure atribuir-se uma dimensão ‘divina’ ou de suplantar inclusive a Deus e os valores espirituais (vv. 3-4). Isto não corresponde ao projeto do Criador como apresentado no ‘mapa das nações’ (cf. Gn 10). Então o Senhor encontra um modo de colocar um limite aos desejos humanos, que arriscam destruir a Humanidade; e ao mesmo tempo restabelecer relações corretas de respeito entre os vários grupos e povos. Deste modo, Deus compromete-Se a acabar com qualquer globalização que seja imposição de projetos culturais, econômicos e políticos que anulam as diferenças entre as pessoas” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).       

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 16 de fevereiro de 2023

(Gn 9,1-13; Sl 101[102]; Mc 8,27-33) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Então ele perguntou: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Pedro respondeu: ‘Tu és o Messias’” Mc 8,29.

“É a confissão de Pedro: é aceitação de Cristo como o Filho do Deus vivo. Pedro toma posição definitiva diante de Cristo. É também a condição que exige de nós. É preciso que meditemos em profundidade o que Cristo implica para nossa vida; nós também precisamos adotar, diante de Cristo, uma posição definitiva e total. Mesmo que Pedro aceite o Senhor, não o aceita de modo pleno e definitivo. Existe um desvio em Pedro e nos outros discípulos: sabem que Jesus é o Cristo, o Ungido, o Messias, o Filho do Deus vivo; no entanto, Pedro e os discípulos, admitindo a messianidade de Jesus e sua origem divina, ignoram como deve agir Jesus, o Messias, para levar a cumprimento sua missão messiânica de salvação” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 15 de fevereiro de 2023

(Tg 1,19-27; Sl 14[15]; Mc 8,22-26) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele.

Colocou as mãos sobre ele e perguntou: ‘Estás vendo alguma coisa?’” Mc 8,23.

“’Vês alguma coisa?’ Pode até ser que sim. Mas será que vemos a realidade em si? Platão já dizia que vemos apenas as sombras, pois a verdadeira realidade seria a do mundo das ideias. Filósofos mais recentes afirmam que podemos conhecer apenas o fenômeno e não a coisa em si. E, para não ficarmos tão-só nesse mundo intrincado dos filósofos, peguemos um microscópio e olhemos, por exemplo, o leite. Sob aquela plácida brancura apresentada aos nossos olhos nus, veremos um mundo quebrado e conturbado. Vemos de fato alguma coisa? Quando, pois, dizemos que um cego nada vê, na verdade afirmamos apenas que ele não tem as sensações dos fenômenos que nos enganam. Filosoficamente falando, sua perda não é grande coisa. Na vida prática, porém, a coisa é outra. E é o lado prático das coisas que Jesus leva em conta. Observa a dependência total daquele homem e resolve curá-lo. Mas, além do lado prático voltado para o dia-a-dia, Jesus abre os olhos daquele homem para verdadeira realidade, que é Deus. Não lhe apresenta uma ideia abstrata de um Deus longínquo, mas a experiência concreta do Deus em amor. Se, então, nessa babel de ideias e ideologias, sentidos e sentimentos em que nos encontramos, formos perguntados: ‘Vês alguma coisa?’ – talvez, mesmo sem vermos nada, respondamos que vemos tudo. Se, porém, o amor de Deus estiver em nós, mesmo não vendo nada, veremos em essência tudo – porque Deus é amor. – Senhor Jesus, cegos neste mundo confuso, nós nos perdemos com tantas coisas que vemos. Pega-nos pela mão e abre-nos os olhos para ti porque não és para nós apenas explicação, mas verdadeira vida. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 14 de fevereiro de 2023

(Gn 6,5-8; 7,1-5.10; Sl 28[29]; Mc 8,14-21) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus os advertiu: ‘Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus

e com o fermento de Herodes’” Mc 8,15.

“A contaminação dos discípulos através do fermento dos fariseus e de Herodes consistia numa espécie de materialismo que se apossava deles. Quando os discípulos deixaram tudo para seguir Jesus, optaram por colocar-se nas mãos da Providência. Não lhes tinha sido prometido recompensa de espécie alguma, nem o Mestre lhes havia garantido uma vida cômoda e tranquila. O discipulado basear-se-ia na total confiança em Deus e na recusa de construir a própria segurança com a posse dos bens materiais. Por conseguinte, a pobreza seria um traço característico do projeto de vida dos discípulos. O sinal de que algo estranho estava acontecendo com eles ficou patente quando, em plena travessia do lago, deram-se conta de não terem trazido pão suficiente para todos. E começaram a falar sobre isto, lamentando-se e se autocensurado, pois, ao desembarcarem, não teriam chance de comprar pão necessário para alimentar-se. Jesus os censurou, chamando-lhes a atenção para o tema da solidariedade e da partilha. Assim como multidões foram alimentadas, por causa da solidariedade de alguém que partilhou seus poucos pães e peixes, o mesmo iria acontecer com eles. O discípulo deve ser o primeiro a acreditar no milagre da partilha. É esta a maneira como o Pai costuma agir em favor deles. – Pai, reforça minha fé na tua providência paterna que se manifestou de tantos modos em minha vida, e livra-me de colocar minha esperança nas coisas deste mundo” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 13 de fevereiro de 2023

(Gn 4,1-15.25; Sl 49[50]; Mc 8,11-13) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“E o Senhor lhe disse: ‘Não! Mas aquele que matar Caim será punido sete vezes!’

O Senhor pôs, então, um sinal em Caim, para que ninguém, ao encontra-lo, o matasse” Mc 8,15.

“Perante esta história ‘não verdadeira’, mas que ‘diz a verdade’ acerca da complexidade e tragicidade das relações entre irmãos, mesmo no interior da própria família, podemos ficar perplexos por aquilo que o texto não conta nem específica (por que é que Deus escolhe Abel e a sua oferenda? Donde vem o mal?). Porventura é uma maneira para fazer compreender que também nas relações entre irmãos de sangue, nem tudo é assim tão claro como poderíamos pensar. O mais importante é tomarmos consciência de que o mal existe, está presente na vida de todos e está sempre pronto a assaltar-nos (‘o pecado está à tua porta; o seu instinto dirige-se para ti’). Além disso, Deus confia a cada um a responsabilidade de ser guarda do irmão (‘tu poderás dominar o mal’). Saber que Deus perdoa o que não tem perdão (o homicídio/fratricídio) induz à esperança de que o amor ao irmão, diferente por cultura e experiência religiosa, pode encontrar espaço nas relações humanas” (Giuseppe Casarin l– Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).          

Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ecl 15,16-21; Sl 118[119]; 1Cor 2,6-10; Mt 5,17-37)

1. O nosso longo evangelho de hoje traz uma série de comentários de Jesus sobre a Lei e os profetas, que bem conheciam seus ouvintes. Ele deixa claro que não veio tirar o seu valor, mas ampliar a sua compreensão. Vou limitar meu comentário à questão do divórcio apresentada por Jesus.

2. Comumente reduzimos a questão do divórcio ao aspecto jurídico e legal que finaliza uma relação e abre espaço a outra. Mas aqui Jesus leva essa problemática e as outras à sua raiz que é o coração. Se existe um adultério do coração, diz o nosso texto, então existe também o divórcio do coração.

3. Esse se consuma sem nenhum aspecto jurídico; basta o desafeto da própria esposa ou esposo para separação se instalar na intimidade conjugal, para viver sem amar ninguém ou ligar o próprio coração a uma outra pessoa. O muro da separação se ergue sem qualquer intervenção de advogados. Para o Evangelho, isto é uma forma de divórcio.

4. Sejamos sinceros: quantos não já vivem há anos essa forma prática de divórcio? Entre o casal já não há mais o desejo de perdoar-se, de reconciliar-se, quando a indiferença se estabelece ou certa hostilidade. O divórcio já se deu no coração. Não são mais uma só carne.

5. Se fala muito dos males do divórcio jurídico: mulheres condenadas à solidão, filhos psicologicamente comprometidos, por vezes obrigados a escolher entre o pai ou a mãe, ou sacudidos entre os dois genitores. Mas seriam esses danos menores para a sociedade e para os filhos do que entre aqueles que vivem o divórcio do coração?

6. Existem adolescentes problemáticos que são filhos de genitores que vivem sob o mesmo teto, no divórcio do coração, que brigam continuamente, se ofendem ou simplesmente se calam, reduzindo assim, o ciclo familiar a uma experiência infernal.

7. Talvez, pensamos, fosse melhor divorciar-se legalmente. Mas isso seria matar o doente, para curá-lo de uma doença grave. O remédio seria interromper o divórcio do coração, não o institucionalizar. “Que o homem não separe o que Deus uniu”, diz Jesus. Talvez aqui não se trate de algo externo aos dois. Mas que eles não se permitam. 

8. Sei que é difícil lutar com situações que se instalam, mas conheço matrimônios que recomeçaram pela dinâmica do perdão, de uma palavra de Deus que chega ao coração. Talvez sejam exceções. É mais fácil impedir que o divórcio do coração aconteça que mudá-lo quando este já se instalou.

9. É preciso estar atento aos contrastes, as incompreensões, as friezas quando estas vão surgindo. A causa primeira do divórcio do coração é o orgulho: o capricho de não querer ceder, de não pedir desculpa quando se erra. Antes, o não admitir nunca de ter errado.

10. O matrimônio nasce da humildade e não pode viver se não na humildade, como o peixe não consegue sobreviver fora do ambiente em que nasceu. Quando um homem se apaixona, ele se ajoelha e pede a sua amada em casamento. É um ato radical de humildade.

11. Aqui poderíamos destrinchar uma série de aspectos de uma relação, para que ela não acabe num divórcio do coração. “Não se vive um amor sem dor”, diz uma máxima do “Imitação de Cristo”. E isto vale também para o matrimônio. Não se mantém vivo um amor sem sacrifício e renúncias, se se pensa só em receber e nunca oferecer.

12. Os meios humanos, psicológicos, podem até ajudar, mas não bastam. É preciso ajuda do alto. O cultivo da oração, seja pessoal e entre os dois, ajuda a manter os corações mais próximos. E o que diz Jesus sobre as relações fraternas, vale também para o casal: “Se te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti...”. 

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 11 de fevereiro de 2023

(Gn 3,9-24; Sl 89[90]; Mc 8,1-10) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois pegou os sete pães e deu graças,

partiu-os e ia dando aos seus discípulos, para que os distribuísse” Mc 8,6.

“Um grande desafio em diferentes setores é a distribuição. Profissionais pensam e repensam a logística da distribuição. Em nosso país há uma desigual distribuição de renda, de forma que a diferença entre os ricos e os pobres é muito grande! O texto bíblico de hoje conta de quando Jesus multiplicou os pães e alimentou a multidão. Destaco a palavra distribuição; isto porque Jesus realizou o milagre, mas pediu que os discípulos ‘distribuíssem’ os pães. O mesmo versículo confirma o fato de que os discípulos cumpriram a ordem. Eles distribuíram ao povo!” O dilema da fome continua sobre o nosso mundo, crianças e adultos continuam a morrer de fome. Ateus e agnósticos criticam e acusam a fé cristã, perguntando: ‘Se Deus existe, por que tanta fome e miséria?’ Sabemos que as aflições e dificuldades sempre existirão por causa do pecado. Mas o texto de hoje nos faz refletir sobre o quanto estamos atentos ou talvez desatentos para distribuição. Pesquisadores estimam que hoje produzimos alimentos para suprir quatro vezes a população mundial. Isso nos indica que Deus tem providenciado o pão de cada dia. O problema está na distribuição! A situação se repete no convite à evangelização. O alimento espiritual vivo no seu perdão e graça é preciso ser distribuído. Mas é pontual, aqui, nos fixarmos na ajuda material, destacando-a como parte da missão holística de Deus. De nada adiante desejar a paz se não suprimos as necessidades básicas, pois a fé sem obra é morta. No milagre de Jesus nossa fé é que vivifica. O desafio é distribuir essa Vida! – Gracioso Deus. Obrigado pelo sustento de cada dia. Obrigado por seres o Mantenedor de Tudo! Continues nos auxiliando e alimentando. Sensibiliza-nos a fim de cuidarmos das necessidades uns dos outros. Em nome de Jesus. Amém” (Ismar Lambrecht Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de fevereiro de 2023

(Gn 3,1-8; Sl 31[32]; Mc 7,31-37) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Muito impressionados, diziam: ‘Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” Mc 7,37.

“O povo estava emocionado, extasiado. E poderia estar de outra forma após milagres e mais milagres realizados diante do seu nariz? Haverá, por acaso, alguma coisa que mexa mais com nossas emoções que ver uma pessoa deficiente a vida inteira sendo curada ao simples som dum ‘Abre-te’? Que o povo, portanto, se emocionasse, se extasiasse e se maravilhasse! Deus estava em seu meio realizando obras de amor e poder. Mas qual a real intenção de Jesus ao praticar tais milagres? Teólogos tradicionais teriam a resposta na orelha da dogmática ou, melhor dizendo, na ponta da língua: queria mostrar ao povo sua divindade. Mas, então, por que expressamente o proibia de propagar o acontecido? Não, não era intenção de Jesus ao curar. Sua real intenção era esta: repartir amor com os carentes dentre os carentes. É nisso que está o grande milagre de Cristo. Ressaltamos seu poder ou, então, a excepcionalidade do ato milagroso não chega ao ponto central, que é o seu amor. E é também aí que reside a corrente milagrosa de Cristo no decorrer da história. Como Igreja, isto é, como membros pessoais do corpo de Cristo, estamos integrados nessa corrente. Às vezes, o elo correspondente à nossa pessoa anda meio enferrujado ou cheio de limo jamais raspado interrompendo, assim, a descarga de amor que, saindo de Cristo, deve passar para todos os homens. Vejam só: em nossa omissão e comodismo acabamos personalizando o desmilagre do desamor. Mas (atentemos para esse ‘mas’), se nos conscientizamos de que a nossa fé é o milagre que vem do milagre do perdão de Cristo, vamos nós ter forças para barrar o milagre do amor que ele derrama sobre a humanidade sofrida? – Obrigado, Senhor, pelos repetidos milagres realizados em nosso favor. Faze de cada um de nós um elo ativo, elétrico, da corrente de amor com a qual desejas alcançar a todos os homens. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).      

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 09 de fevereiro de 2023

(Gn 2,18-25; Sl 127[128]; Mc 7,24-30) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele’” Gn 2,18.

“Porque é que o homem e a mulher se atraem reciprocamente, até darem início a uma relação absolutamente nova? Porque – responde o autor sagrado – cada um é para o outro aquele bem indispensável que rompe o círculo do isolamento, que leva à morte existencial (v. 18). Não é o relacionamento com os animais (vv. 19-20) mas o diálogo com que, como a mulher, é igual a ele por natureza e dignidade, que permite ao homem tomar consciência da sua própria identidade (homem) e acolher a outra na sua diversidade (mulher), respeitando-a porque é um dom do Criador (vv. 21-25). Na perspectiva bíblica cada pessoa realiza-se na medida em que vive de forma harmoniosa e correta as relações que dão sentido e tornam a vida bela. Depois de ter descrito a relação com Deus (Ele é o Criador) e com a Criação (deve ser cultivada e guardada), o autor sagrado examina a relação homem-mulher. Semelhante entre si por dignidade e natureza, um ajuda o outro a sair de si próprio mediante o diálogo para reconhecer a sua realidade e a do outro e acolherem-se reciprocamente como dom proveniente do Criador, verdadeiro Pai que cuida da felicidade dos seus filhos (v. 18). Ficam assim ultrapassados os mitos do homem caçador e da mulher sedutora. Enquanto diante de Deus cada pessoa se mantém à escuta, perante o outro o homem toma a palavra, ou seja, comunica a si mesmo e reconhece quem está diante de si (aqui a mulher, símbolo da alteridade mais radical para o homem). Tem início assim uma relação totalmente nova, porque supera os vínculos familiares de sangue. Inscrita na profundidade do coração de cada um, essa relação encontra depois expressão, mesmo jurídica, na instituição do Matrimônio” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).    

Pe. João Bosco Vieira Leite