Sábado, 30 de novembro de 2019


(Rm 10,9-18; Sl 18 (19A); Mt 4,18-22) 
Santo André, apóstolo.

“Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores” Mt 4,18.

“Jesus vai começar suas conquistas. Já pregou o seu Evangelho; já as multidões se comprimem para escutar sua palavra. Ninguém ainda se prendeu a ele, e entre tantos ouvintes, ele ainda não ganhou um só discípulo. Também não recebe ele indiferentemente a todos aqueles que se apresentam para segui-lo. Há uns que ele rejeita, uns que aprova, uns que ele adia. Ele tem seus tempos destinados, suas pessoas escolhidas. Lança as suas redes sobre o mar do século, mar imenso, mar profundo, mar tempestuoso e eternamente agitado. Ele quer pescar homens no mundo; mas, embora turva essa água, ele não pesca às cegas. Conhece aqueles que lhe pertencem: olha, considera, escolhe. É hoje a escolha de importância; porque ele vai tomar aqueles pelos quais resolveu tomar os outros; numa palavra, ele vai escolher os seus apóstolos. Jesus não rejeita os grandes, nem os poderosos nem os sábios: ‘Ele não os rejeita, ele os adia’ (S. Agostinho). Enquanto isso, vinde, ó pecadores; vinde, ó santo par de irmãos, André e Simão. Não sois nada, não tendes nada. Não há nada em vós que mereça ser procurado. Há somente uma vasta capacidade a encher... Sois vazios de tudo e, principalmente, vazios de vós mesmos. Vinde receber, vinde encher-vos nesta fonte infinita” (Bossuet – Panegírico de S. André – Editora Beneditina Ltda.).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de novembro de 2019


(Dn 7,2-14; Dn 3; Lc 21,29-33) 
34ª Semana do Tempo Comum.

"Jesus contou-lhes uma parábola: ‘Olhai a figueira e todas as árvores. Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto’” Lc 21,29-30.

“A figueira, a videira e a oliveira eram as árvores mais familiares ao judeu bíblico. Tanto era o prestígio que gozavam que foram justamente as três as convidadas a reinar sobre as outras árvores, no famoso apólogo de Joatão (Jz 9,7-15). E todas recusaram o convite exatamente por estarem satisfeitas com os saborosos frutos que produziam e o sucesso que obtinham. ‘Observai a figueira...’ Melhor: vejamo-nos na figueira! Naquela figueira que aborreceu o proprietário da vinha (o Pai) por não produzir frutos três anos consecutivos; a cuja volta o chacareiro (Jesus), após três anos de pregação, cavou os fundamentos da sua doutrina; colocou o adubo dos seus sacramentos e derramou as águas de Pentecostes... Se com todo esse cuidado ainda não der frutos, será cortada; seremos cortados (Lc 13,6-9). Vejamo-nos naquela figueira que foi amaldiçoada e secou por só ter produzido as folhas da futilidade e da hipocrisia, e não os frutos da justiça e do amor (Mt 21,18-22). Vejamo-nos naquela figueira, ornada com o fruto do Espírito e adornada com as folhas da paz, e cuja sombra Jesus pôde enxergar ‘o verdadeiro israelita’ (o autêntico cristão), em quem não há maldade (Jo 1,45-50). Vejamo-nos naquela figueira onde despontam os brotos das lições da história, dos insistentes convites da graça, dos constantes apelos da vida, dos desafiantes sinais dos tempos! ‘Observai a figueira...’ Ou melhor: leiamos a figueira: nela se condensa o tríplice livro da natureza, da vida e da Bíblia! – Senhor, abri os olhos do nosso coração e da nossa mente para que possamos captar sempre os sinais que constantemente emitis através dos acontecimentos da natureza e da vida. Elas são o grande sacramento da vossa presença no nosso meio. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de novembro de 2019


(Dn 6,12-28; Sl Dn 3; Lc 21,20-28) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima” Lc 21,28.

“Segundo vários interpretes da Bíblia, o contexto bíblico de hoje retrata duas situações diferentes: a destruição de Jerusalém, que aconteceu em 70 d.C., e o fim dos tempos, quando Cristo retornará e acontecerá o julgamento final que separará eternamente os cristãos dos descrentes. As coisas antecederão o retorno de Cristo são, em certo sentido, chocantes: sinais no sol, lua, estrelas e terra, angústia entre as pessoas por causa do bramido do mar e das ondas, gente desmaiando de terror (Lc 21,25-26).  Contudo, apesar disso, os cristãos que estiverem vivos então, ao invés de pavor sentirão alívio. E por que? Porque saberão através dos sinais que a vinda de Cristo está chegando, vinda que para eles será sinônimo de libertação. Sim, quando o nosso Salvador retornar, os que nele estiverem crendo serão finalmente libertos de todo e qualquer sofrimento e não mais estarão sujeitos a desprezo e perseguições por causa de sua fé, porque serão levados para junto de Deus, na vida eterna. Que você e eu prossigamos nossa vida com ânimo, erguendo as nossas cabeças, sem termos vergonha do que cremos. Sim, lembremo-nos de que a libertação final, a cada dia que passa, está mais próxima. Por isso, continuemos a orar com confiança: Venha o vosso Reino. Amém. – Senhor, dá-nos a capacidade para que possamos identificar os sinais da tua vinda. Que eles, ao invés de nos apavorarem, nos auxiliem dando-nos o consolo de que, com a tua volta, estaremos libertos para sempre do pecado e de suas consequências maléficas. Em teu nome o pedimos. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 27 de novembro de 2019


(Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28; Sl Dn 3; Lc 21,12-19) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Mas vós não perdereis um só fio de cabelo de vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” Lc 21,81-19.

“Jesus adverte seus discípulos a respeito das provações que os aguardariam. Pois o testemunho de seu nome atrairia de tal forma a ira dos inimigos, estes lançariam mão de toda sorte de maldade contra os seguidores do mestre. Não seria fácil a vida dos discípulos. Passariam pelas mesmas perseguições e sofrimentos tidos por Jesus como sinais premonitórios do fim. Prisões, acusações na sinagoga, morte e ódio era o que lhes aguardava. Até mesmo na perseguição por parte dos próprios familiares. Tudo isso por causa da fidelidade ao Mestre Jesus condenado a morrer na cruz. Não obstante isso, nos momentos mais difíceis os discípulos receberiam a ajuda divina, de forma que não precisariam preparar a própria defesa. Receberiam, também, uma sabedoria tão sublime, capaz de leva-los a convencer seus adversários. As advertências de Cristo não eram para prevenir os discípulos, eram para deixá-los tranquilos, porque Ele próprio se encarregaria de providenciar sua defesa. Era preciso, pois, avivar neles a chama da perseverança. Tarefa desafiadora. Além da perseverança, os discípulos necessitarão de uma grande fé em Deus. ‘Nem um só cabelo cairá de vossa cabeça’ – garante Jesus ao grupo de discípulos, facilmente contamináveis pelo medo. A fé em Cristo leva à identificação com o que ele trouxe de mais característico: a força irresistível do perdão. A luta, afinal de contas, é do Mestre. Os discípulos são unicamente mediadores. O Pai os protege, preservando-os do mal, porque é o Senhor. Ninguém como Deus tem nas mãos a vida dos discípulos, e, por conseguinte, tem o poder de livrá-los do mal. – Espírito que me livra do mal, não permitas que eu sucumba às forças do egoísmo e do mal, mesmo tendo de suportar sofrimentos e perseguições (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de novembro de 2019


(Dn 2,31-45; Sl Dn 3; Lc 21,5-11) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo:
‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente’” Lc 21,8.

“Eu que estou escrevendo a mensagem que você está lendo, ao longo de minha vida somente vi uma pessoa afirmar ser Jesus. Esta pessoa, ainda hoje, aparece de vez em quando em alguns programas da TV brasileira. Jesus, já há quase 2.000 anos atrás, chamou a atenção dos seus seguidores para o fato de que falsos Cristos haveriam de vir e que, por isso, eles deveriam cuidar para não serem enganados. Hoje, falsos profetas ainda surgem por aí. Como podemos identificá-los? Pela sua falta de fidelidade ao que a Bíblia Sagrada ensina, razão pela qual nós somos sempre de novo incentivados ao estudo da Palavra de Deus. Lembro-me que, no ano de 1999, muitas pessoas temiam a chegada do ano 2000. E por quê? Porque se dizia que, segundo as previsões de Nostradamus, que nunca afirmou ser Jesus, o mundo então acabaria. O medo que isso provocou no coração de muitos fez com que muitos se suicidassem. Não nos deixemos enganar por nenhum falso Cristo ou por alguém que queira afirmar que tal dia terminará o mundo. Sigamos confiando no Salvador Jesus e examinando os seus ensinamentos contidos na Bíblia. Assim, com a ajuda dele, seguiremos firmes até o fim, sem nos desviarmos dele. Amém. – Senhor, agradeço-te, de coração, que posso examinar a tua Palavra que é uma ‘lâmpada para os meus pés e uma luz para os meus caminhos’. Permita que eu continue a ter prazer no seu estudo. Ajuda-me para que recebendo de ti, através dela, fortalecimento para minha fé, eu continue seguindo sem ser enganado por nenhum falso profeta. Ouve-me, por amor de ti mesmo. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 25 de novembro de 2019


(Dn 1,1-6.8-20; Sl Dn 3; Lc 21,1-4) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus ergueu os olhos e viu pessoas ricas depositando ofertas no tesouro do templo” Lc 21,1.

“Digo-vos, pois, ó ricos do século, que errais em tratar os pobres com desprezo tão injuriosos: para que o saibais, se quiséssemos subir à origem das coisas, acharíamos talvez que eles não teriam menos direito do que vós aos bens que possuis. A natureza, ou melhor, para falar mais cristãmente, Deus, o Pai comum dos homens, deu desde o começo um direito igual a todos os seus filhos sobre todas as coisas de que tenham necessidade para a conservação da sua vida. Nenhum de nós pode se vangloriar de ter recebido da natureza maiores vantagens que os outros. Mas o insaciável de desejo de acumular não permitiu que essa bela fraternidade pudesse durar muito tempo no mundo. Foi preciso ver à partilha e à prosperidade, que produziu todas as querelas e todos os processos; daí nasceu essa palavra ‘meu’ e ‘teu’, essa palavra tão fria, diz o admirável S. João Crisóstomo; daí essa grande diversidade de condições, uns vivendo na abundância de todas as coisas, os outros definhando numa extrema indigência. Por esta razão, muitos dos santos Padres, considerando a origem das coisas e essa liberdade da natureza para com todos os homens, não hesitaram em afirmar que era de algum modo frustrar os pobres do que lhes pertence, o negar-lhe aquilo que é supérfluo” (Bossuet – Sermão para a festa de S. Francisco de Assis – Editora Beneditina Ltda.)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Cristo Rei do Universo – Ano C


(2Sm 5,1-3; Sl 121[122]; Cl 1,12-20; Lc 23,35-43)

1. Encerramos o nosso ano litúrgico com a solenidade de Cristo Rei e a atenção da liturgia da Palavra nos orienta para a compreensão do papel real de Jesus. Primeiro, como herdeiro de Davi na compreensão e missão daquele que vem para apascentar o povo de Israel. Assim a 1ª leitura quer iluminar o evangelho.

2. Davi, que reinava tão somente sobre a tribo de Judá, agora é acolhido como rei de todo o Israel. No texto ele é reconhecido como membro da família, ‘somos ossos de tua carne’, Deus o escolheu. Não é difícil perceber que tudo isso tem a ver com Cristo.

3. A 2ª leitura nos permitiu escutar um antigo hino sobre o primado de Jesus, provavelmente de língua aramaica que Paulo incrustou na sua carta, convidando-nos à ação de graças, onde faz alusão ao Batismo enquanto acontecimento libertador que nos leva a tomar parte da herança dos santos; depois segue trazendo uma série de títulos cristológicos que celebra a superioridade absoluta de Cristo.

4. Pode nos parecer estranho que no Evangelho a cena que Lucas nos oferece seja a crucifixão, mas é justamente aí que Jesus é reconhecido como ‘rei’, pois foi condenado à morte de cruz por ter afirmado ser ‘rei’; é este também o motivo da zombaria, e da condenação conforme o letreiro de Pilatos em sua provocação aos judeus.

5. Justamente ali Ele se comporta como um rei, com uma promessa segura e real para o malfeitor arrependido. Ele reina salvando. Somente Lucas nos traz essa cena de caráter penitencial. Repete-se aqui a cena do publicano no Templo. O hoje da salvação tão presente em Lucas se repete.

6. É obvio que a realeza e Jesus não tem nada a ver com os esquemas humanos, mesmo tendo aceitado o título de Messias e Rei, ele se entendia de modo diferente. Os judeus não compreenderam, os romanos equivocaram-se.

7. Lucas deixa clara a inocência de Jesus, trabalhando a imagem do inocente que faz a vontade de Deus e por isso é justificado, apesar da aparente derrota. O autor menciona por três vezes o ‘salvar-se a si mesmo’, que é a lógica do mundo, mas referindo-se a Jesus soa como uma blasfêmia.

8. O drama está precisamente nisto: Cristo reina dando-se a si mesmo, perdendo a sua vida para que o mundo possa viver. Ele inverte a lógica do possuir e propõe a mentalidade da doação generosa de si.

9. Para Lucas, que insiste no tema da conversão, não precisamos ter pena de Jesus, nem compaixão pelas suas dores; a melhor atitude é a consciência dos próprios pecados, arrepender-se deles e tirar da cruz de Jesus a coragem e a força para mudar de vida.

10. Assim ele elabora nessa cena uma catequese sobre o perdão e a salvação para os cristãos e ao mesmo tempo deixa entender expressamente que a salvação é possível para todos, pois o reinado de Cristo alarga a aliança de Davi a todos os povos e constitui com seu sangue a possibilidade real de reconciliação com Deus Pai.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de novembro de 2019


(1Mc 6,1-13; Sl 9A[9]; Lc 20,27-40) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Mas o pobre não será sempre esquecido, nem é vã a esperança dos humildes” Sl 9,19.

“O salmo 9 tem caráter sapiencial: a oração brota da contemplação da bondade de Deus e da consideração da miséria e da maldade humana. A tradição cristã considera este salmo como uma profecia da morte e ressurreição de Cristo, da tomada de posse do seu reino, da destruição de todos os seus inimigos e de sua vinda final. Com a primeira parte do salmo os cristãos agradecem ao Senhor pelos inúmeros prodígios operados em seu favor e alimentam a confiança naquele que está à direita de Deus mas não abandona a quem passa por tribulações e o procura. Com a segunda parte do salmo, a assembleia dos cristãos invoca a volta do Senhor, enquanto o Maligno faz suas últimas tentativas para criar a ilusão de que no mundo tudo está sob seu poder, e que se pode impunemente cometer qualquer violência e oprimir os pobres. A realidade da história da salvação revive neste salmo um de seus aspectos mais característicos: é a história dos pobres e dos humildes perseguidos, é a história da paciência de Deus e a história da fé que se purifica na prova e na luta. Este salmo desperta em nós a esperança do Senhor e a expectativa de sua vinda. Sabemos até que ponto Deus conhece nossas ansiedades, pois, em Jesus Cristo, delas participou. A oração que o Senhor nos sugere no salmo ele mesmo recitou por nós após ter sido atingido pelas nossas desventuras. – Ouvi, Senhor, o anseio dos pequeninos; que o pobre não seja abandonado e jamais seja frustrada a esperança dos humildes. Amém” (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite  

Sexta, 22 de novembro de 2019


(1Mc 4,36-37.52-59; Sl 1Cr 29; Lc 19,45-48) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“E disse: ‘Está escrito: ‘Minha casa será casa de oração’. No entanto, vós fizeste dela um antro de ladrões’”
Lc 19,46.

“Jerusalém era a meta da longa marcha de Jesus. Aí, o Templo constituía seu ponto-final. A situação em que se encontrava o Templo de Jerusalém fez Jesus relembrar as palavras dos profetas do passado a respeito de sua função e da corrupção que se abateu sobre ele. O Profeta Isaias havia anunciado a finalidade do Templo como ‘Casa de oração para todos os povos’, por conseguinte, lugar de encontro dos filhos com o Pai, e não só de Israel, mas também dos povos espalhados por toda a extensão da terra. O Mestre decepcionou-se com que viu: sendo ‘casa de oração’, não se justifica o comércio instalado no Templo. O Templo fora transformado num antro de exploradores inescrupulosos, que se serviam do espaço sagrado para enriquecer, lançando mão dos mais vis artifícios de exploração; o ideal de serviço desaparecera, dando lugar à exploração; a sacralidade do Templo foi violada pelo afã de fazer comércio. Na mais total impunidade, e com a cobertura dos sacerdotes, davam a impressão de estar prestando um grande serviço aos peregrinos. Situação, porém, insuportável para Jesus! Por conseguinte, o culto prestado a Deus pelos peregrinos de boa-fé desenrolava-se em meio a toda sorte de vilipêndio dos seus sentimentos mais sagrados. A atitude firme de Jesus, que chegou às raias da indignação – a expulsão dos vendedores e compradores teve a finalidade de fazer o Templo recobrar sua verdadeira função – ser casa de oração, portanto, lugar de encontro com a verdadeira imagem do Pai e reabastecimento espiritual. Enquanto ‘casa’, seria o espaço do encontro dos filhos de Deus. Uma vez purificado, o Templo tornou-se lugar privilegiado da pregação de Jesus. Ao ouvi-lo, o povo ficava extasiado e se apinhava ao seu redor. – Pai, dá-me a mesma coragem de teu Filho Jesus para combater toda sorte de maldade e de egoísmo que se abate sobre teu templo santo, a pessoa humana (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de novembro de 2019


(Zc 2,14-17; Lc 1; Mt 12,46-50) 
Apresentação de Nossa Senhora.

“Jesus perguntou àquele que tinha falado: ‘Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?’” Mt 12,46-50.

“O evangelho de Mt 12,46-50 proposto pelo Lecionário para a memória do dia 21 de novembro, sugere a perspectiva justa para olharmos a pessoa de Maria, captando-lhe a tônica que caracterizou sua vida inteira, ou seja, a vocação a ser a ouvinte atenta e a serva jubilosa da palavra de Deus feita carne. Se à primeira vista o texto de Mateus pudesse causar suspeita de que Jesus tenha querido ignorar a sua mãe e seus parentes (“A tua mãe, os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e te procuram” [...] “Quem é minha mãe e meus irmãos?”), uma consideração mais atenta, em vez, nos ajuda a compreender que o discurso de Jesus ultrapassa intencionalmente o parentesco da carne para proclamar unicamente o de quem escuta e cumpre a vontade de Deus. Não ficamos sabendo qual foi a reação ou a interpretação dos ouvintes com relação às palavras de Jesus: ‘Eis a minha mãe e os meus irmãos! Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe’. Como sempre, é bem provável que muitos não entenderam, outros equivocaram, poucos compreenderam ‘o mistério’. Tem-se a impressão de ver Maria, a Mãe, abaixar a cabeça e velar o rosto com discrição: não porém para esconder a vergonha por não ser recebida pelo Filho, mas antes porque tornou-se mais intensa para ela, ao ouvir aquelas palavras, a lembrança da Anunciação, quando a sua extraordinária maternidade começou a existir justamente pela sua disponibilidade de fé a ‘cumprir a vontade de Deus’. Maria certamente não equivocou as palavras de Jesus, mas sentiu-as como confirmação da bem-aventurança que Isabel lhe dirigiu (Lc 1,45), bem-aventurança que preenche de indizível grandeza a sua humilde vida. Esta convicção é expressa também pela Igreja que, na aclamação ao evangelho, chave para sua interpretação, canta: cumpriu-se em ti a palavra do Senhor’”  (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de novembro de 2019


(2Mc 7,1.20-31; Sl 16[17]; Lc 19,11-28) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Ele respondeu: ‘Eu vos digo, a todo aquele que já possui será dado mais ainda;
mas àquele que nada tem será tirado até mesmo o que tem’” Lc 19,26.

“A parábola que Jesus contou mostra o que Ele aguarda que os seus seguidores façam no período de sua ausência entre nós e o dia de sua volta, a saber: que usem os dons que dele receberam para que seu Reino cresça. Dons, cada um de nós tem. Tem gente que tem o dom de liderar, outros de cantar, outros de tocar algum instrumento de louvor, outros de manter a igreja em ordem e limpa, outros de ensinar, e por aí vai. Todos os dons devem cooperar numa coisa: na pregação do Evangelho que faz com que a igreja cresça pela ação do Espírito Santo. A pergunta que precisa ser feita para todos nós é esta: Estamos usando os dons que Deus nos tem confiado? Temos empenhado todo o nosso esforço para que a Igreja de fato cresça em número? Estamos realmente fazendo o melhor que podemos para que mais gente conheça a Jesus e venha a crer nele? Jesus um dia voltará e pedirá prestação de contas. O que acontecerá conosco? Seremos abençoados ou Ele tirará tudo de nós por não termos administrado de modo correto o que Ele nos confiou? A parábola de hoje mostra-nos que Deus, embora seja amor, também é justo juiz. Mantenhamo-nos, pois, fiéis, usando os dons recebidos de maneira sábia para que seu Reino cresça enquanto Ele não retorna. Amém. – Perdoai-me, Senhor, porque nem sempre tenho sido fiel no que diz respeito aos dons que me deste para administrar. Auxilia-me, com tua Palavra, para que eu permaneça alerta e me esforce a fazer tua vontade com amor. Permita que eu tenha alegria e prazer em te servir, respondendo com meu serviço ao teu amor que em Cristo me perdoa e salva. Ouve-me, por causa de Jesus. Amém” (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de novembro de 2019


(2Mc 6,18-31; Sl 03; Lc 19,1-10) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Quão numerosos, Ó Senhor, os que me atacam; quanta gente se levanta contra mim!
Muitos dizem, comentando a meu respeito: ‘Ele não acha a salvação junto de Deus!’” Sl 03,2-3.

“É confortante saber que Davi tinha dias como os meus – dias (às vezes muitos) em que tudo dá errado. No caso dele era muito mais que um pneu furado ou um arquivo corrompido no computador. O próprio filho de Davi, Absalão, se levantou em revolta militar contra ele. Absalão chamou alguns dos melhores oficiais de Davi e prometeu-lhes uma fatia maior do orçamento de defesa, caso se juntassem a ele. Então, Davi começou a fugir. Provavelmente doeu saber que seu próprio filho estava tentando tomar o reino, mas o que doía mais ainda era a acusação de que a mão de Deus não estava mais sobre a vida de Davi. Lá estava, em um anúncio de página inteira do jornal  ‘Jerusalém hoje’, assinado por inúmeros cidadãos proeminentes: ‘Deus não ajudará mais a Davi. Absalão é o novo rei escolhido por Deus!’. Agora, enquanto se deparava com o exército pronto para atacar o remanescente de seu exército, Davi orou. Ele pediu a Deus exatamente o que seus inimigos disseram que Deus não lhe daria: ajuda. Davi, o guerreiro, percebeu que a ajuda não viria apenas dos escudos carregados por seus guerreiros. Deus era seu escudo era aquele que levantava a cabeça de Davi. Ele fugiu da cidade com a cabeça coberta de vergonha. Curvar a cabeça diante de outro rei era um sinal de submissão e derrota. Mas Deus levantaria a cabeça de Davi diante de seus inimigos. Davi pôde até mesmo dormir um pouco na noite antes da grande batalha – não porque seus soldados o cercavam, mas porque o Senhor o sustentava. No dia seguinte, quando a batalha terminou, o exército de Absalão se dispersou e Absalão, seu filho, estava morto. - Que inimigos você tem enfrentado? Inimigos no trabalho que estão atacando sua integridade? Inimigos espirituais atacando sua fé e confiança em Deus? Inimigos pessoais tentando assumir o controle de sua vida? Salmo 3 é seu salmo. Ore como Davi orou. Admito que pedir a Deus que quebre os dentes de seu inimigo pode não ser apropriado, mas você pode pedir-lhe que remova o veneno das palavras do seu adversário. Pode ser que Deus não o esbofeteie no rosto, como Davi orou, mas Deus pode frustrar o ataque de seu inimigo. Se você orar e confiar como Davi orou e confiou, talvez consiga dormir hoje à noite como Davi dormiu” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de novembro de 2019


(1Mc 1,10-15.41-43.54-57.62-64; Sl 119[119]; Lc 18,35-43) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse: ‘Enxerga, pois, de novo. A Tua fé te salvou’” Lc 18,42

“A Deus que se revela mediante o Filho encarnado, Jesus Cristo, ‘deve-se a obediência da fé pela qual o homem livremente se entrega todo a Deus prestando ao Deus revelador um obséquio pleno do intelecto e da vontade e dando voluntário assentimento à revelação feita por Ele” (DV 5). Deus vem a nós, para que cheguemos até Ele: falou-nos e nós escutamos a sua Palavra; manifestou-se-nos e nós o reconhecemos: atrai-nos a si e nós nos deixamos atrair num abandono consciente e confiante. Este é, em substância, o misterioso movimento da fé. A iniciativa divina na história da humanidade e na vida de cada homem concretiza-se numa oferta de salvação, que é um convite a viver, não já como estranhos e solitários, mas abandonando-se a Ele numa comunhão de pensamentos, sentimentos e obras. A fé, portanto, é um livre dom de Deus. É um dom que, acolhido, torna-se no homem semente de que nasce a ‘nova criatura’. Mediante o seu ato de fé o homem se compromete numa decisão, livre, mas radical, que o leva a desenvolver ‘as suas faculdades de admiração, de intuição, contemplação, juízo e adoração, até ratificar conscientemente a fé que recebeu como dom’ (CEI, Il Rinnovamento della Catechesi, n. 41). Este dom que Deus nos oferece por intermédio de Jesus no Espírito, não é simples confiança no progresso e no futuro da humanidade; não se reduz a admitir a veracidade das afirmações, que o conhecimento pessoal e direto não pôde constatar; não é uma crença que brote dos sentimentos e neles se fundamente nem uma certeza prática em face de situações que não encontram justificação no plano teórico; nem, finalmente, uma experiência vital incomunicável. A fé é um mistério, no sentido bíblico da palavra: uma realidade nova e transcendente, isto é, sobrenatural, criada por uma intervenção pessoal e exclusiva de Deus, que, só Ele, é capaz de penetrar nos mais secretos dinamismos de nosso ‘eu’ pessoal, inteligência, vontade, sentimentos, aí implantando, no respeito da liberdade humana, uma semente de transformação progressiva e radical, que se torna ‘o princípio vital da nova existência sobrenatural do cristão’ (Paulo VI, em L´Osservatore Romano, 9/4/1970). Lua e fermento, a fé é um impulso vital e original, que expõe o homem aos riscos exaltantes e às experiências mais imprevisíveis: ‘Aquele que, movido pelo Espírito, se torna atento e dócil à palavra de Deus, segue um itinerário de conversão a Ele, de abandono à sua vontade, de conformação a Cristo, de solidariedade na Igreja, de vida nova no mundo. É um itinerário que pode comportar, ao mesmo tempo, a alegria do encontro e a contínua exigência de ulterior procura; a compunção pela infidelidade e a coragem para recomeçar; a paz da descoberta e a ânsia de novos conhecimentos; a certeza da verdade e a constante necessidade de nova luz’ (Il Rinnovamento della Catechesi, n. 7)” (Conferência Episcopal Italiana – Sedoc – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

33º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ml 3,19-20a; Sl 97[98]; 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19)

1. Depois de meditarmos sobre o nosso fim, no fim de mais um ano litúrgico, lançamos um olhar sobre o fim dessa história que fazemos juntos. Já é uma ponte para o tempo do Advento que se aproxima, sobre vinda de Cristo na história e no fim dos tempos.

2. O texto de abertura tem sabor apocalíptico. É o último dos doze profetas que nos fala sobre “o dia do Senhor”. Uma linguagem tradicional para nos falar do fim dos tempos e do consequente juízo de Deus sobre a nossa história. A metáfora do fogo transita entre a purificação do metal e o fim da palha em cinzas.

3. Assim o texto nos diz que haverá uma diferença entre o ímpio e o fiel. Algo que ficará claro no momento final. O salmo acentua essa vinda final e o consequente julgamento.

4. Quase ao fim de sua carta aos Tessalonicenses, Paulo adverte sobre o comportamento de alguns que, esperando “O dia do Senhor” resolveram cruzar os braços. Ele não só fala do seu perfil apostólico exemplar, trabalhando até o último momento. É assim que se espera a vinda do Senhor no movimento da vida.

5. Também Lucas insere uma narrativa de caráter apocalíptico/escatológico ao final do ministério público de Jesus. Ele tem como pano de fundo a admiração pela beleza do Templo. Jesus reage com um oráculo profético desse monumento religioso/nacional. Atiçando assim a curiosidade dos ouvintes.

6. Jesus não dá uma resposta direta nem tampouco faz uma ameaça, mas um convite a uma espera vigilante e ao mesmo tempo um encorajamento para as situações difíceis que virão, lembrando que a nossa história está nas mãos de Deus. É preciso compreender o sentido da História e da vida.

7. Jesus adverte contra os falsos pregadores, e isso exige discernimento, em crise em nossos tempos com relação aos ensinamentos de Cristo. Ele alerta sobre as perturbações históricas (guerras, revoltas, terremotos, fome e epidemias), elas não significam um fim imediato.

8. O pior será a perseguição contra os que creem n’Ele, e aqui Lucas insere, de maneira indireta, o fato da paixão próxima de Jesus. Ela também faz parte desse projeto salvífico de Deus. Lucas deve ter acompanhado muitos desses fatos, particularmente acompanhando Paulo em seu ministério.

9. Jesus não vê de modo negativo. Será o momento de testemunhar e Ele mesmo estará com seus discípulos. Ele sabe que os conflitos começam no próprio seio familiar e podem se estender às várias circunstâncias da vida.

10. A Palavra ouvida nos convida mais uma vez a sermos constantes, perseverantes. Que saibamos resistir às pressões do mundo sobre a nossa fé. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de novembro de 2019


(Sb 18,14-16; 19,6-9; Sl 104[105]; Lc 18,1-8) 
32ª Semana do Tempo Comum.

“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra meu adversário!’” Lc 18,2-3.

“No capítulo 18 Lucas continua seus ensinamentos sobre a oração. Como pendant, ele traz uma parábola em que uma mulher é a figura central. Isso corresponde à sua tendência, em todos os assuntos importantes, de dizer alguma coisa tanto do lado da mulher como do homem. Também sobre a oração Lucas só sabe falar adequadamente trazendo exemplos do mundo masculino e do mundo feminino. No capítulo 11, Lucas entendia a oração como realização do amor divino; no capítulo 18, ele fala sobre a oração na situação angustiante antes da vinda do Filho do Homem. A mulher, ameaçada como viúva por um adversário, simboliza a comunidade cristã ameaçada, que se dirige sem resultado à autoridade estatal. Pois o juiz não teme a Deus, e não tem consideração por nenhum ser humano. A viúva, porém, pode ser interpretada também como significando qualquer pessoa humana. Então ela simboliza a situação pessoal de quem é ameaçado por inimigos, de quem é lesado pelos outros sem saber se defender. A mulher que perdeu o marido é, pois, uma imagem de pessoas em situação melindrosa, indefesas, expostas às emoções causadas pelo seu ambiente. Não têm proteção, tudo o que é negativo ao seu redor as atinge. A mulher, desde sempre, é também imagem da alma, do interior do ser humano, daquilo que faz adivinhar a sua dignidade divina. Os inimigos são as exigências da vida, que nos impedem de viver, são as nossas fraquezas, que nos dão trabalho, e as feridas que a vida nos infligiu. O juiz, que não se incomoda nem com Deus nem com os homens, simboliza o superego, a instância interior que gostaria de nos rebaixar, que não se interessa pelo nosso bem-estar. Para ele só valem normas e princípios. A alma deve ficar quieta, contentando-se com o que encontrará à sua frente. Embora aparentemente fraca, a mulher luta para si mesma. Sempre de novo ela procura o juiz e o intima: ‘Faze-me justiça contra meus adversários!’ (Lc 18,3). O juiz fica monologando – novamente o recurso estilístico das comédias gregas -: “Não temo a Deus, e aos homens não respeito; mas vou fazer justiça a esta viúva, pois ela não me deixa em paz. Senão, ela ainda acaba me batendo na cara’ (Lc 18,5). A palavra grega significa literalmente ‘Bater no olho, contundindo-o’ (Heininger, p. 202). O ouvinte talvez sorria porque este poderoso juiz tem medo da viúva fraca, de ela machucar o olho. Mas é exatamente com esse monólogo do juiz que Lucas convence o leitor a confiar no aparentemente tão fraco recurso da oração, que tem mais poder do que todos os aparentemente poderosos. Na oração o ser humano alcança o seu direito. Ele tem direito de viver, direito de ser ajudado, direito de viver dignamente. Na oração podemos experienciar que ninguém tem poder sobre nós. Interpretando a viúva como imagem da alma, isso significa: na oração experimentamos que a alma tem mais direitos do que as vozes do superego, que gostariam de nos manter pequenos. Na oração a alma floresce, cria asas. E entramos em contato com o nosso verdadeiro ‘eu’, com a imagem original de Deus em nós. O mundo não pode perturbar e muito menos destruir a imagem de Deus em nossa alma” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

Pe.  João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de novembro de 2019


(Sb 13,1-9; Sl 18A[19]; Lc 17,26-37) 
32ª Semana do Tempo Comum.

“O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do homem for revelado” Lc 17,30.

“Quando falamos do ‘futuro de Jesus Cristo’ entendemos aquilo que geralmente é designado como ‘Parusia de Cristo’ ou ‘Retorno de Cristo’. O termo ‘parusia’ não significa propriamente o retorno de alguém que se afastou, mas ‘chegada iminente’. ‘Parusia’ também pode significar ‘presença’, não uma presença que amanhã passou, mas uma presença a que se deve estar presente hoje e amanhã, a ‘presença do que vem a nós, por assim dizer um futuro que vem chegando’. A Parusia de Cristo é algo diferente de uma realidade experimentada e dada neste instante. Sempre traz algo de novo em comparação com o que é experimentado agora. Por isso, não é totalmente separada da realidade que agora é experimentada e deve ser vivida, mas age como futuro realmente ausente através das esperanças que suscita, fazendo nascer resistência ao presente. O ‘eschaton’ da Parusia de Cristo através da promessa escatológica torna histórico qualquer presente experimentado, pela ruptura com o passado e pela irrupção do futuro... A esperança cristã espera do futuro de Cristo não só a manifestação, o descobrimento, mas também o cumprimento final e perfeito. Aquilo que através da Cruz e da Ressurreição de Cristo foi prometido para os seus e para o mundo deve ser finalmente cumprido. O que traz, então, o futuro de Cristo? Não simples repetição nem simples manifestação de sua história, mas alguma coisa que até agora não aconteceu com Cristo. A esperança cristã não se orienta para outro a não ser para o Cristo já vindo, mas dele ela espera algo de novo, algo que até agora não aconteceu: espera o cumprimento e a realização da justiça de Deus prometida em todas as coisas, espera o cumprimento e a realização da ressurreição dos mortos, prometida em sua própria Ressurreição, o cumprimento e a realização do senhorio do Crucificado sobre tudo e que foi prometido na sua exaltação... Se os cristãos conhecem o Redentor e esperam pelo futuro da redenção em seu nome, então a irredenção deste mundo de morte não é para eles um mundo de aparências sem importância, à maneira platônica, onde o que importa é simplesmente a demonstração e a manifestação da redenção já operada. É certo que o Alfa e o Ômega são a mesma coisa no que se refere à pessoa: ‘Eu sou o Alfa e o Ômega’ (Ap 1,8). Mas não são a mesma coisa no que se refere à realidade do evento, pois ainda ‘ainda não apareceu o que seremos’ (1Jo 3,2), e ‘o primeiro’ ainda não passou, nem ‘tudo’ já se tronou novo. Portanto, é necessário esperar do futuro algo de novo. Entretanto, se este futuro é esperado como o ‘futuro de Jesus Cristo’, ele não é esperado de alguém novo ou diferente. Aquilo que o futuro traz se tornou, através do evento  crístico da ressurreição do Crucificado, ‘de uma vez para sempre’ possível de ser esperado com confiança. A fé em Jesus como o Cristo não é o fim da esperança, mas a certeza da esperança (Hb 11,1). A fé em Cristo é o ‘prius’, mas a esperança detém o primado” (J. Moltmann – Teologia da Esperança – Ed. Herder).    

  Pe. João Bosco Vieira Leite