Quarta, 01 de novembro de 2023

(Rm 8,26-30; Sl 12[13]; Lc 13,22-30) 30ª Semana do Tempo Comum.

“E assim há últimos que serão primeiros e primeiros que serão os últimos” Lc 13,30.

“O Reino de Deus é o único lugar em que não existem cargos ou lugares reservados; existe, sim, lugares de privilégio; mas esses lugares não estão reservados para quem os compra, mas para quem os merece. Os lugares de privilégio no Reino não se conseguem com dinheiro; e, no entanto, são os pobres e humildes de coração os que com maior facilidade tem acesso a eles. Nem mesmo a eles se chega pela ciência ou sabedoria humana, erudição, cultura, pelo conhecimento humano, que nos facilitam e mesmo possibilitam o conhecimento de Deus, que é verdadeira Sabedoria, como dom do Espírito Santo; tampouco se chega aos primeiros postos no Reino de Deus pelas influências, pelo poder, pelos altos escalões de mando, por postos honoríficos ou hierárquicos. Esta afirmação feita por Jesus neste texto: Há últimos que serão os primeiros, e há primeiros que serão os últimos’ (v. 30), era um provérbio amplamente conhecido pelos ouvintes de Jesus e que podia ser aplicado a diversos contextos; por isso, talvez, o provérbio seja repetido várias vezes no evangelho. Estas palavras têm aplicação exata para todos os homens: não basta terem sido chamados à fé, ou terem recebido uma vocação especial, para terem a certeza de conseguir o céu. Muitos que foram favorecidos, esfriam, e muitos que foram pecadores convertem-se e passam à frente dos outros... Ter recebido a graça da fé ou a vocação para o apostolado, a ninguém pode servir de garantia de salvação” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 31 de outubro de 2023

(Rm 8,18-25; Sl 125[126]; Lc 13,18-21) 30ª Semana do Tempo Comum.

“Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança” Rm 8,25.

“Cedo ou tarde, todos precisaremos nos firmar sobre algo que vá além da realidade da vida humana, ou seja, precisaremos de esperança. Nos escritos paulinos, a esperança se constitui um tema significativo. Das 52 vezes que o termo aprece no Novo Testamento, 35 estão nas cartas do apóstolo. Para ele, a esperança é o que sustenta a vida cristã. E é sobre essa esperança que ele escreve neste contexto (Rm 8,18-25). Trata-se de uma esperança para toda a criação que sofre com as consequências do pecado, mas que, por fim, desfrutará de uma vida nova. E a grande esperança é essa: somos salvos por meio da fé na esperança. O teólogo Oscar Cullmann nos ajuda a compreender um pouco mais na perspectiva do ‘já e ainda não’. O que isso quer dizer? Significa que fomos salvos no passado, em nosso encontro com Cristo; significa que estamos sendo santificados dia após dia. Entretanto, há algo maior que nos espera, algo incomparável e que vai além das nossas expectativas. Trata-se da salvação final, o alvo da vida cristã: essa é nossa esperança; algo que já temos, mas que ainda não vemos, contudo com perseverança esperamos! No grego do Novo Testamento, a esperança (elpís) não carrega em si qualquer incerteza. É algo certo, mas que ainda não se realizou. É uma expectativa confiante da eterna salvação. É isso que Paulo está nos lembrando ao afirmar algo com a certeza da sua chegada. Por isso, não devemos desistir, muito menos perder a esperança. E Paulo ainda adverte como alcançamos tal êxito: por meio da perseverança, termo que às vezes é traduzido por paciência. Perseverança é habilidade de permanecer firme mesmo sob uma grande pressão para desistir de um alvo. A mensagem cristã é ‘não desista!’ Sigamos em frente na esperança que está firmada nas promessas de Cristo e na sua Palavra. – Senhor, não permita que as situações da vida nos façam perder a esperança. Mantém-nos firmes até o dia final! Em nome de Cristo, amém! (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de outubro de 2023

(Rm 8,12-17; Sl 67[68]; Lc 13,10-17) 30ª Semana do Tempo Comum.   

“Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” Rm 8,14.

“O texto que hoje nos é proposto faz parte de um capítulo em que Paulo reflete sobre a vida nova que Deus oferece ao batizado e que Paulo chama ‘a vida no Espírito’. Paulo procura, de forma especial, mostrar que os cristãos, libertos da Lei, do pecado e da morte de Jesus Cristo, deixaram a vida velha da ‘carne’ (que é viver em oposição a Deus, numa vida de egoísmo, de autossuficiência, de orgulho, de fechamento) para viverem a vida nova do Espírito (que é viver em relação com Deus, escutando as suas propostas e sugestões, na obediência aos projetos de Deus e na doação da própria vida aos irmãos). O pensamento teológico de Paulo atinge, neste capítulo, um dos seus pontos culminantes, pois todos os grandes temas paulinos (o projeto salvador de Deus em favor dos seres humanos; a ação libertadora de Cristo, através da sua vida de doação, da sua morte e ressurreição; a nova vida que faz dos crentes homens novos e os torna filhos de Deus se cruzam aqui). Contrapondo-se ao egoísmo, a ação do Espírito cria um novo tipo de relacionamento dos seres humanos entre si e com Deus: a relação de família. Agora podemos chamar Deus de Pai, pois somos seus filhos. E isso é a base para as relações sociais recompostas: o clima de família se alastra, porque todos são irmãos. A herança prometida por Deus aos ‘que são guiados pelo Espírito’ consiste em participar do Reino. Mas isso implica a seriedade de um testemunho como o de Jesus Cristo. Na experiência trinitária, Paulo nos recorda com maestria que ‘todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus’. Nós nos tornamos filhos de Deus adotivos, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo. O Espírito nos torna livres, como disse Paulo. O Espírito é cheio de dinamismo e nos impulsiona a viver na liberdade criativa da Trindade. – Pai, há momentos na minha vida que não consigo descortinar a sua presença. Aumenta a minha fé na sua bondade e na compreensão do seu amor que nunca desiste de nós teus filhos e filhas (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

30º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ex 22,20-26; Sl 17[18]; 1Ts 1,5-10; Mt 22,34-40)

1. Novamente os fariseus estão cerceando Jesus com suas perguntas. Desta vez sobre o maior dos mandamentos da Lei. A primeira parte da resposta de Jesus seria suficiente, mas ele acrescenta um outro, semelhante ao primeiro que reúne ao amor a Deus o amor ao próximo, resumindo, assim, toda Lei e os profetas.

2. Sobre o amor a Deus, temos uma certa noção. Perseguimos, por assim dizer, estar à altura desse amor. Com relação ao próximo, Jesus nos coloca como diante de um espelho ao qual não podemos mentir; facilmente podemos perceber se amamos ou não ao próximo.

3. Mateus traduz de maneira clara: ‘Aquilo que você gostaria que fizessem a você, é aquilo que você deve fazer ao outro’ (cf. Mt 7,12). E não aquilo que o outro te fizer, faça você a ele. Isso seria a lei do ‘olho por olho, dente por dente’.

4. Quanta coisa mudaria, na família e na sociedade, se buscássemos praticar esta que vem chamada ‘regra de ouro’ da moral! Para isso, bastaria perguntar-nos em cada situação: como gostaria que ele agisse comigo, se fosse eu em seu lugar e ele no meu? 

5. Jesus considerava o amor ao próximo como o ‘seu mandamento’. Muitos identificam o inteiro cristianismo com o preceito do amor ao próximo, e não estão completamente errados. Mas precisamos ir um pouco além da superfície das coisas.

6. Quando se fala do amor ao próximo, o pensamento que nos vem são as obras de caridade, marcadas pelas necessidades humanas que se resumem em ajudar ao outro. Isto é um efeito do amor, mas não é ainda amor. Antes da beneficência vem a benevolência, antes de fazer o bem, vem o querer bem. 

7. Paulo diz que a caridade deve ser sem fingimento. De fato, se pode fazer a caridade por vários motivos, que nada tem a ver com o amor: para ‘parecer bem na fita’, para se passar por benfeitor, para ganhar o paraíso, por peso de consciência. Paulo dirá: “O amor tem paciência, o amor é serviçal, não é ciumento, não se pavoneia, não se incha de orgulho, nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse...” (cf. 1Cor 13,4-7).

8. Paulo nos fala de uma disposição interior que é necessário nutrir em relação ao outro. Não se trata de contrapor o amor de coração e a caridade de fato, achando que basta ter boa disposição interior para justificar a falta de uma caridade efetiva e concreta.

9. Essa caridade do coração ou interior é a caridade que todos podem exercitar. Não é uma caridade que alguns – os ricos e sãos – podem dar aos outros – e os pobres e doentes – só recebem. Todos podem fazê-la e recebê-la. Se trata de começar a olhar com olhos novos as situações e as pessoas com quem nos encontramos e vivemos.

10. Que olhar é esse? Aquele com que gostaríamos que Deus olhasse a nós! Olhar de benevolência, de compressão, de perdão... Não deveria ser assim tão difícil tal olhar. Diante do sofrimento, da doença, da morte, deveríamos naturalmente manifestar piedade uns aos outros, enternecer-nos e solidarizar-nos entre nós nesta breve existência.

11. Quando isto nos ocorre, as relações mudam: caem por terra todas as prevenções e hostilidades que nos impedem de amar certas pessoas. Começamos a enxergar a realidade, para além das máscaras, de uma pobre criatura humana que sofre por suas fraquezas e limites, igual a você, igual a todos. 

12. Se diz que João, o evangelista, o mais longevo dos apóstolos, em todas as reuniões que fazia repetia: ‘Filhinhos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus!’. Quando questionado por tanta repetição, ele respondia: ‘Porque este é o preceito do Senhor e se o colocamos em prática, colocamos em prática todo o evangelho’.

13. Todos nós sonhamos com um mundo reconciliado e em paz, onde cada pessoa vem reconhecida em sua dignidade e o seu lugar na vida. Mas este mundo nunca se realizará em escala universal, se antes não se realizar no coração das pessoas. É inútil que busque fora de mim, se antes não busca instaurar dentro de mim e de minha família. 

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de outubro de 2023

(Ef 2,19-22; Sl 18[19ª]; Lc 6,12-19) Santos Simão e Judas Tadeu, apóstolos.

“É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para forma um templo santo no Senhor” Ef 2,21.

“Paulo fala a pagãos de nascimento e lhes anuncia a Boa-Nova que derruba as muralhas que separam os povos. Convida-os a uma nova forma de viver, na reconciliação que faz de todos um só povo diante de Deus, conduzidos pelo Espírito. Essa construção a ser erguida, esse Templo do Senhor é a vida feita espaço de acolhimento para todos, como queria Jesus, alicerce, pedra principal dessa obra. Unidos com Cristo, somos construídos, junto com os outros, para nos tornarmos uma casa onde Deus habita por meio do seu Espírito. Na casa de Deus, neste templo santo da comunidade, ninguém deveria sentir-se estrangeiro ou apenas hóspede, mas todos devemos viver a alegria fraterna de sermos família no Senhor. Quando não construímos em Cristo, ainda que usemos seu nome, o resultado é casa dividida, lugar onde o irmão nunca está seguro. Nossas construções mal feitas, sobre a discórdia, o orgulho pessoal, a competitividade e a exclusão de muitos, serão tristes sinais para o povo que procura o abrigo do carinho amigo de Deus, a graça e a paz da fraternidade. Por isso, bom será que cada um examine como constrói. S. Pedro também nos adverte: ‘vocês, como pedras vivas, deixem que Deus os use na construção de um templo espiritual onde vocês servirão como sacerdotes consagrados a Deus’ (1Pd 2,5). Se Cristo for a pedra fundamental do edifício da nossa vida, seremos, sim, templo santo no Senhor, construção que se ergue bem ajustada. – Senhor Jesus, fica conosco, acompanha nossos passos. Ajuda-nos a construir dentro de teu projeto fraterno a grande casa de Deus onde os irmãos se sentem família e se tornam sinal do teu amor maior. Sê tu a rocha firme, o alicerce de nossa vida. Amém (Luiz Demetrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de outubro de 2023

(Rm 7,18-25; Sl 118[119]; Lc 12,54-59) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado,

procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho” Lc 12,58a.

“Jesus demonstra a seus inimigos o fato de que sabem descobrir os tempos e as estações pelos diversos sinais da natureza. Os ouvintes de Jesus, gente do campo ou do mar, sabiam muito bem predizer o bom ou o mau tempo pela experiência do céu ou pela observação dos fenômenos da própria natureza. Mas não sabem chegar ao conhecimento do Reino de Deus, interpretando os sinais dos tempos. Por isso, exorta-os a descobrir na história os sinais de Deus, a fim de ir descobrindo, por esses sinais, a história da salvação. São coisas diferentes: conhecer os sinais dos tempos e saber interpretá-los como sinais da salvação; se chegasse a este último, ver-se-ia o homem obrigado a uma conversão verdadeira, a uma mudança radical de conduta; e o homem tem medo dessa mudança, dessa conversão. A figura do homem que vai ao juiz é equivalente à situação do todo homem diante de Deus. O homem deverá apresentar-se diante de Deus, para prestar-lhe conta dos seus atos, de toda a sua vida; mas ser-lhe-á mais conveniente fazer previamente as pazes com ele pela conversão sincera, pelo profundo arrependimento, a fim de que intervindo a misericórdia de Deus, ao conceder o perdão, não tenha de intervir a justiça. Peça sempre a Deus que purifique seu coração de seus pecados; repita com frequência o ato de contrição e faça com frequência e sem pressa o ato de amor a Deus, que limpará e purificará de sua consciência todas as suas culpas” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 26 de outubro de 2023

(Rm 6,19-23; Sl 01; Lc 12,49-53) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso! Devo receber um batismo

e como estou ansioso até que isso se cumpra!” Lc 12,49-50.

“O texto evangélico contém algumas afirmações de difícil interpretação. Entre elas a declaração de Jesus de ter vindo trazer fogo à Terra, e seu desejo de vê-lo inflamar. Que fogo é esse, que ainda não se propagou? Recorrendo à pregação dos antigos profetas, é possível relacionar as palavras de Jesus com o juízo final, em que os eleitos serão purificados, e os ímpios, exterminados. Neste caso, o Mestre haveria de realizar as esperanças escatológicas do povo de Israel: ver a história purificada de toda maldade. O fogo de Pentecostes, dom do Ressuscitado à Igreja, poderia ser identificado com a antecipação dos últimos dias. A realização do desejo de Jesus exigia dele passar para uma prova terrível. Só em pensar nela, ficava angustiado. Por isso, desejava vê-la superada o mais rápido possível. Trata-se de um batismo, que não é o de João, recebido no início do seu ministério. Neste batismo, ele se mostrou solidário com o povo pecador, em busca de conversão, em vista do futuro. Agora, deverá passar por um outro batismo, por uma nova prova em vista da purificação do seu povo. Sem dúvida, o Mestre se referia à paixão e morte de cruz que se aproximavam. Elas teriam a função de purificar a humanidade de seus pecados, como um fogo abrasador, de modo a antecipar o juízo final de Deus sobre a história humana. A maldade estava finalmente condenada. – Pai, que o batismo de Jesus, por sua morte de cruz, purifique-me de todo pecado e de toda maldade, como um fogo ardente, abrindo o meu coração totalmente para ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de outubro de 2023

  (Rm 6,12-18; Sl 123[124]; Lc 12,39-48) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Não ofereçais mais vossos membros ao pecado como armas de iniquidade. Pelo contrário, oferecei-vos a Deus como pessoas vivas, isto é, como pessoas que passaram da morte à vida, e ponde vossos membros a serviço de Deus como armas de justiça” Rm 6,13.

“Paulo tira as conclusões do que afirmou na primeira parte do capítulo (cf. Rm 6,1-11): por meio do Batismo, os crentes são associados ao acontecimento pascal de Cristo, libertados do domínio do pecado e habilitados a caminhar numa novidade de vida. Do indicativo da salvação passa agora ao imperativo ético, por meio do qual os crentes são interpelados a explicitar, na própria vida, o estatuto de que foram gratuitamente beneficiados. [Compreender a Palavra]: Paulo tinha declarado os crentes ‘mortos para o pecado’, pois foram alcançados por um acontecimento de graça, o Batismo, que os tornou participantes da Páscoa de Cristo (cf. Rm 6,2-4). Agora torna claro que esse acontecimento de graça não atua de forma mágica nos indivíduos, mas coloca em movimento o dinamismo responsável. Embora ‘mortos para o pecado’, os crentes devem fazer que o pecado ‘não reine’ nos seus ‘corpos’ e nos seus ‘membros’ (vv. 12-13). Estes termos denotam a exterioridade da pessoa, biblicamente considerada como uma unidade, um sujeito que se exprime através da sua atuação. Os crentes são assim chamados a fazer transparecer, com opções responsáveis e contínuas, o seu estatuto, colocando-se ao serviço da justiça e fazendo da vontade de Deus o centro profundo do seu agir e das suas opções” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de outubro de 2023

(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39[40]; Lc 12,35-38) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Porém, onde se multiplicou o pecado, aí superabundou a graça”. Rm 5,20.

“Hoje, Paulo recorda o evento que, a seu parecer, determina e justifica a fragilidade universal, a pobreza radical de todos nós diante de Deus e das exigências da sua vontade: o pecado original. A catequese de Paulo é simples e clara, graças à contraposição de Adão, por causa do qual entrou o pecado no mundo (cf. v. 12) e de Jesus, por causa do qual entrou a graça de Deus no mundo. Paulo repete este conceito nos poucos versículos do nosso texto (cf. Rm 5,12.15b.19-19.20b-21). Assim nos leva a centrar-nos, cada vez mais, no mistério da morte e da ressurreição de Jesus, que mudou o coração dos seres humanos e o rumo da história, uma vez que trouxe definitivamente ao mundo a graça de Deus. A morte física, a que não podemos escapar, é imagem da morte espiritual. Com a Lei ficou explícito em que consiste o pecado. Com Jesus, a Lei foi superada e, sem ela, o pecado já não é levado em conta. Isso acontece porque a graça de Deus foi derramada sobre todos nós, pecadores, redimindo-nos do pecado. Se o pecado de Adão trouxe a morte, a fidelidade de Jesus Cristo trouxe a vida definitiva. Se a rebeldia do ser humano diante do Criador trouxe a condenação para todos, o dom gratuito de Jesus Cristo para todos trouxe a justificação. Se a transgressão do ser humano é fonte de morte, a graça de Deus, por meio de Jesus, é fonte de vida plena. A graça nos reconcilia com Deus e resgata a nossa integridade. Pela graça é-nos dada a vida eterna. Essa certeza nos torna aberto para acolher o perdão gratuito de Deus e nos incentiva a mergulhar sempre mais em sua graça. Deus nos criou por amor e também por amor nos liberta do mal e da morte. O ato de expiação de Jesus, o novo Adão, anulou definitivamente o poder do pecado. – Pai santo, o que te agrada não é a morte do pecador, mas que se converta e viva. Converte-me e converte meus irmãos para que, buscando o único necessário, nos consagremos inteiramente ao louvor da tua glória (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 23 de outubro de 2023

 (Rm 4,20-25; Sl Lc 1; Lc 12,13-21) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer?’ Não tenho onde guardar a colheita’” Lc 12, 17.

“Um outro modo de aconselhar um novo comportamento é praticado por Lucas ao contar parábolas. Nas parábolas, trata-se muitas vezes da questão: ‘O que devo fazer?’ É a pergunta que tanto o fazendeiro rico (Lc 12,17) como o gerente astuto se colocam (16,3). Nessas parábolas trata-se da questão de qual é maneira certa de lidar com a propriedade. Para Lucas, o grego, isso é assunto importante. Lucas é o evangelista dos pobres. Como nenhum outro evangelista, ele gira em torno de temas como pobreza e riqueza, propriedade e renúncia, comunhão de bens e obrigação social. O próprio Lucas nasceu provavelmente numa família de classe média abastada. Mas ele tem evidentemente uma forte consciência social. Para ele é importante a mensagem de que os cristãos não devem se apegar às suas posses, mas repartir com os pobres o que possuem. Quem ajunta riqueza só para si mesmo não entendeu a intenção de Jesus, nem sabe do mistério da vida humana, cujo limite é a morte. Quem toma a sério sua existência humana sabe que não poderá ajuntar aqui nenhum tesouro permanente. A riqueza material se desfaz com a morte. Por isso, trata-se de ficar rico diante de Deus. Isso, porém, acontece pelo amor, que se expressa concretamente na partilha das posses. De Sêneca a Hofmannsthal, do livro de Sirácida a Luciano de Samosata foram contadas histórias semelhantes à do fazendeiro rico (Lc 12,13-21). Em Luciano, o agiota Gnifão, já no subterrâneo da morte, fica sabendo como ‘seu dinheiro, penosamente ganho, em pouco tempo é esbanjado pelo libertino Rodócoris’ (Heininger, p.116). O tema da distribuição da renda é hoje tão moderno como naquele tempo. Os cristãos não deveriam entregar-se a cobiça, como os especuladores das bolsas; deveriam tornar-se ricos diante de Deus (Lc 12,21). A verdadeira riqueza está dentro de nós. O tesouro está na nossa alma. É o amor; e o amor é a substância fluida. Porém, somente fluirá quando também o dinheiro fluir; isto é, quando repartirmos os nossos bens” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 
Pe. João Bosco Vieira Leite 

29º Domingo do Tempo Comum – Ano A

 (Is 45,1.4-6; Sl 95[96]; 1Ts 1,1-5; Mt 22,15-21)

1. O Evangelho de hoje termina com uma daquelas frases lapidares de Jesus que deixaram um sinal profundo na história: “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.

2. Estamos em mais uma dessas situações em que dois grupos rivais se unem contra Jesus. Os fariseus eram nacionalistas, contrários ao domínio romano, os herodianos, por sua vez, colaboracionistas e apoiavam o poder romano. Assim, ou Jesus se posicionava a favor do povo ou dos romanos.

3. Jesus manda tudo pelos ares com uma resposta que põe o problema num nível infinitamente mais profundo e universal. Não é mais ou Cesar ou Deus, mas um e outro, cada um em seu plano. Se seus adversários trazem consigo uma moeda romana, admitem implicitamente que algo lhes é favorável do poder imperial.

4. Os hebreus concebiam o futuro Reino de Deus instaurado pelo Messias como uma teocracia, isto é, um governo diretamente de Deus sobre toda terra e todos os povos. Mas Jesus deixa transparecer que o Reino de Deus não é deste ou daquele modo, mas que em sua amplitude pode coexistir com qualquer outro regime, seja do tipo sacro ou laico.

5. Porém, Cesar e Deus não são colocados sobre um mesmo plano, porque Cesar depende de Deus e deve prestar conta a Ele. As Escrituras deixam isso bem claro. Não estamos divididos entre duas pertenças; não somos constritos a servir a ‘dois patrões’. O cristão é livre para obedecer ao estado, mas também de resistir a esse quando se coloca contra Deus e sua lei.

6. Paulo deixa claro em sua carta aos Romanos (13,1ss) o dever de obediência ao governo em voga, mesmo este não sendo favorável aos cristãos. Pagar impostos para um cristão, e mesmo para qualquer pessoa honesta, é um dever de justiça. Em contrapartida, o estado deve prover os serviços necessários aos cidadãos.

7. Durante os três primeiros séculos da era cristã, não houve participação ativa dos cristãos na política. Estes viviam dispersos e mais ocupados com a expansão do cristianismo. Será em 313, com o edito de Constantino que os cristãos vieram não somente a ser tolerados e com o tempo também detentores de poder.

8. A liberdade para a vivência do cristianismo é alcançada em todos os setores, mas traz consigo vários riscos graves: intolerância, abuso de poder, abandono da simplicidade e radicalidade evangélica, etc. É nessa época que muitos cristãos começam a deixar as cidades e se refugiarem em lugares desertos, dando origem ao monaquismo. 

9. Sabemos, ao longo do tempo, dos inconvenientes desse abraço estreito entre Cesar e Deus, entre religião e política, e o descrédito que acaba repercutindo na missão da Igreja, os ressentimentos e os obstáculos para a evangelização.

10. Hoje, os cristãos vivem espalhados em todas as realidades e componentes políticos da sociedade, com a possibilidade de serem, de maneira bastante discreta, mas eficaz, ‘sal da terra’ e ‘fermento na massa’. Nesta situação, a colaboração dos cristãos se faz necessária na construção de uma sociedade justa e pacífica e sobretudo em torno de valores comuns, como a família, a defesa da vida, a solidariedade com os mais pobres, a paz.

11. A grandeza de um político se mede sobretudo pela sua capacidade de saber deixar em segundo plano os interesses pessoais. ‘Político’, vem de pólis, aquele que está a serviço da cidade, do estado, não da sua família e dos seus próprios interesses. Sabemos onde reside a raiz de vários problemas em nossa sociedade.

12. Contribuímos com a restauração de nossa sociedade política não somente com o voto, mas também com a oração. Na 1ª Carta a Timóteo (2,1ss), Paulo recomendava a oração por todos que estão no poder, para que tenhamos uma vida calma e tranquila com toda piedade e dignidade. Será que nós lembramos de incluir essa classe em nossas orações?  


Pe. João Bosco Vieira Leite
              

Sábado, 21 de outubro de 2023

(Rm 4,13.16-18; Sl 104[105]; Lc 12,8-12) 28ª Semana do Tempo Comum.

“Pois nessa hora o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer” Lc 12,12.

“Jesus procurou inculcar nos seus discípulos uma confiança total na ação do Espírito Santo. Tal confiança seria necessária, em vista dos desafios que iriam encontrar no exercício da missão, e da consequente exigência de uma corajosa confissão da fé. O Espírito Santo ajudá-los-ia a encontrar a palavra correta, quando fossem levados aos tribunais. Movidos por esta força divina, estariam em condições de testemunhar, com ousadia, a própria fé. A esta palavra de conforto segue uma outra, de séria advertência. Ai do discípulo que fraquejar e, numa hora de aperto, renegar sua fé, por não estar aberto à ação do Espírito. Suas perspectivas de discípulo infiel serão sombrias e preocupantes: O Filho do Homem irá renega-lo, quando comparecer diante de Deus. Tratando-se de recusa a deixar-se mover pelo Espírito Santo, seu gesto será considerado blasfêmia contra ele. E para este pecado não se prevê perdão. Quem conhece Jesus apenas em sua dimensão humana, não chegando a aderir a ele pela fé e tornar-se seu discípulo, e até mesmo vir a falar contra ele, poderá ser perdoado. Tudo se passa diversamente com que é discípulo, que chegou a reconhecer a messianidade de Jesus e sua íntima união com o Espírito Santo, por meio do qual opera milagres. Se disser algo contra Jesus, terá também proferido uma blasfêmia contra o Espírito Santo que age nele. Portanto, renegar Jesus é também renegar o Espírito; deixar-se instruir pelo Espírito é predispor-se para dar testemunho corajoso de Jesus. – Pai, seja eu instruído pelo Espírito Santo, para estar sempre pronto a dar testemunho corajoso de minha fé em teu Filho Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de outubro de 2023

(Rm 4,1-8; Sl 31[32]; Lc 12,1-7) 28ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, o que diz a Escritura? ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’” Rm 4,3.

“No capítulo 4 da Carta aos Romanos, Paulo dá início a uma argumentação bíblica toda centrada na figura de Abraão, na qual pretende demonstrar que o seu ‘evangelho de justificação’ não é uma adulteração da Escritura, mas pelo contrário, a sua confirmação (Rm 3,21b, ‘justiça de Deus atestada pela Lei e pelos profetas’). Abraão é por excelência o modelo do crente que, abrindo-se à fé, recebeu o dom da justiça. [Compreender a Palavra:] Abraão, ‘antepassado’ segundo a carne (v. 1) de todo o povo hebreu, é uma figura emblemática. Pois bem, precisamente a sua história revela que a atuação de Deus foi sempre guiada por aquela gratuidade que se manifestou de modo maravilhoso na figura de Cristo. Com efeito, Abraão foi chamado a acreditar na promessa divina de ter uma descendência, mesmo quando ela parecia humanamente absurda (cf. Gn 15,6 citado no v. 3). A atitude do Patriarca manifesta sinais análogos à do suplicante do Sl 31,1-2 (citado nos vv. 7-8), o qual confessa a possibilidade do perdão do seu pecado. Em ambos os casos, de fato, encontramos o exemplo de crentes que não confiaram nas próprias forças (Abraão e a sua esposa eram velhos; o pecador está em pecado), mas foram perdoados completamente pela ação divina. A ‘fé’ consiste em confiar totalmente, em reconhecer a insuficiência das próprias obras diante do Senhor para abrir-se ao seu agir em nós” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de outubro de 2023

(Rm 3,21-30; Sl 129[130]; Lc 11,47-54) 28ª Semana do Tempo Comum.

“Todos pecaram e estão privados da glória de Deus, e a justificação se dá gratuitamente, por sua graça, realizada em Jesus Cristo” Rm 23-24.

“Hoje, Paulo volta-se para o mundo religioso judaico. O povo escolhido recebera a Lei como dom capaz de revelar o rosto e o coração de Deus. A Lei mosaica também acabou por revelar que todos os seres humanos são pecadores. Mas a realidade do pecado não impede a realização do projeto de Deus. Pelo contrário: diante do pecado, Deus sente-se como provocado a reafirmar o seu projeto de salvação em favor de todos. Assim, na plenitude dos tempos, enviou o seu Filho Jesus como mediador da nova Aliança, como ponte entre Deus e os seres humanos, como Redentor de todos. Jesus está, verdadeiramente, no centro da história da salvação, do anseio religioso de todos os povos, da história de cada pessoa. Paulo procura ilustrar esta verdade com alguns aspectos pessoais, que permanecerão ligados à reflexão teológica. Mas é a fé, e só a fé, que coloca Jesus no centro. É por isso que, segundo o ensinamento de Paulo, a fé em Jesus, que é a nova lei, enxerta diretamente na justiça de Deus, alcançando-nos a salvação. Paulo continua a refletir sobre a condição humana. Infelizmente, nós, pessoas do século XXI, não nos espantamos com o quadro pintado em tons escuros pelo apóstolo. Estamos demasiado habituados a ver esse mal entrar pela casa adentro através da televisão e de outros meios de comunicação social, e até verifica-lo nas nossas próprias famílias, no nosso bairro, na nossa terra... No começo do novo milênio, quando todos nos julgamos evoluídos, cultos, civilizados, assistimos a formas de crueldade e violência impensáveis há apenas algumas décadas... E todos admitimos precisar da misericórdia de Deus, sem a qual não conseguimos tornar-nos justos e agradar a Deus. – Senhor Jesus, que eu aprenda através da escuta da Palavra, na contemplação dos teus mistérios, na oração, amar aos irmãos por vezes difícil (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de outubro de 2023

(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) São Lucas, evangelista e missionário.

“Só Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, porque me é útil para o ministério” 2Tm 4,11.

“Um escrito do século II, que estudos recentes consideram historicamente verídico, sintetiza do seguinte modo o perfil deste santo evangelista: ‘Lucas, um sírio de Antioquia, médico de profissão, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu são Paulo até a confissão (martírio) deste. Serviu irrepreensivelmente ao Senhor, jamais tomou mulher, nem teve filhos. Morreu aos 84 anos, na Boécia, cheio do Espírito Santo’. Das notas de viagem, isto é, dos Atos dos Apóstolos, no qual Lucas fala na primeira pessoa, aprendemos todas as notícias que a ele dizem respeito, além de breves acenos nas cartas de são Paulo – o apóstolo ao qual, mais do que qualquer outro, estava ligado por fraterna amizade. ‘Saúda-vos Lucas, médico amado’, lê-se na Carta aos Colossenses. A profissão de médico pressupõe uma boa cultura. Realmente, em seus escritos se revela um homem culto, com inclinações artísticas e bons dotes literários. Com são Paulo realizou a segunda viagem missionária de Tróade a Filipos, por volta do ano 50. Em Filipos deteve-se um par de anos para consolidar o trabalho do apóstolo, após o qual voltou a Jerusalém. Foi de novo companheiro de viagem de são Paulo e compartilhou com ele a prisão em Roma. Os cristãos orientais atribuem ao ‘médico pintor’, Lucas, numerosos quadros representando a Virgem. Em seu evangelho, escrito em grego fluente e límpido, Lucas traça a biografia da Virgem e fala da infância de Jesus. Revela-nos os íntimos segredos da Anunciação, da Visitação e do Natal, fazendo-nos entender que conheceu pessoalmente a Virgem, a ponto de alguns exegetas considerarem que tenha sido Maria quem lhe transcreveu o Magnificat. É Lucas mesmo quem afirma ter feito pesquisas e pedido informações sobre fatos relativos à vida de Jesus junto àqueles que deles foram testemunhas. Só Maria podia ser testemunha da Anunciação e dos fatos que se seguiram. Lucas conhecia os evangelhos de Mateus e Marcos quando começou a escrever o seu, antes do ano 70. Julgava que ao primeiro faltava uma certa ordem no desenvolvimento dos fatos e considerava o segundo demais conciso. Como diligente estudioso, Lucas, depois de ter documentado escrupulosamente as notícias da vida de Jesus ‘desde o início’, quis narrá-la novamente de forma ordenada, de modo que os fatos e ensinamentos progredissem ‘pari passu’ como a realidade. Deu prova da mesma agradável fluência narrativa na redação dos Atos dos Apóstolos. Três cidades se ufanam de conservar suas relíquias: Constantinopla, Pádua e Veneza” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 17 de outubro de 2023

(Rm 1,16-25; Sl 18[19ª]; Lc 17,37-41) 28ª Semana do Tempo Comum.

“Eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força salvadora de Deus para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego” Rm 1,16.

“Paulo se dirige aos cristãos de Roma, colocando Jesus e seu Evangelho em linha de continuidade com as promessas de Deus na história do povo judeu. É que Jesus se apresenta dentro de uma situação cultural concreta, bem definida; faz parte da tradição do povo de Israel, que é também o povo ao qual o próprio Paulo pertence. Mas Paulo não aprisiona o Evangelho nos estreitos limites da tradição religiosa na qual foi educado. Ele declara que tem muito a agradecer a gregos e bárbaros, a sábios e ignorantes, que o ajudaram de algum modo a compreender e expressar com mais profundidade sua própria fé. Por isso é capaz de superar as barreiras de sua cultura e anunciar o Evangelho a judeus e não-judeus, descobrindo que Deus não é propriedade particular de um grupo. Deus quer salvar a todos. Nem se poderia esperar outra coisa. Para que o outro creia é preciso antes de mais nada que seja acolhido e respeitado. E não será surpresa encontrar muitos que se tornam ateus porque rejeitaram um Deus muito estreito, muito pouco generoso, apresentado por gente que crê, mas não se abre ao largo horizonte do Pai de todos. Paulo nos faz refletir como anunciamos o Evangelho e que imagem transmitimos da salvação que Jesus nos trouxe e que é para todos. Para muitos de nossos irmãos a única mensagem da salvação que lhes chega é a que transmitimos com nossa palavra e com o exemplo de nossa vida. – Dá-nos, Jesus, a graça de anunciar teu Evangelho com generosidade e abertura para todos. Não nos deixes ser pedra de tropeço para o irmão que busca, a seu modo, a resposta às aspirações profundas que são um apelo do Pai. Amém” (Luiz Demetrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de outubro 2023

(Rm 1,1-7; Sl 97[98]; Lc 11,29-32) 28ª Semana do Tempo Comum.

“É por ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos, para a glória de seu nome” Rm 1,5.

“Um aspecto importante em nossa caminhada de fé é a compreensão de que os cristãos têm, ao mesmo tempo, um grande privilégio e uma grande responsabilidade com relação ao Evangelho. Na carta destinada aos cristãos romanos, Paulo enfatiza que nossa salvação e nosso ministério se dão por meio da graça (favor imerecido, recebido como um dom de Deus). Antes, a desobediência de Adão causou separação entre Deus e o ser humano. Porém, agora, por meio da obediência da fé, em Cristo, temos a reconciliação com Deus. Não se trata de uma fé dogmática; pelo contrário, é uma fé que se resume na confiança em Cristo e no viver de acordo com o Evangelho. Cientes dessa realidade somos, então, chamados por Deus e enviados para anunciar as boas-novas. E aí está a nossa responsabilidade: compartilhar com a humanidade o que Deus fez por nós. Somos testemunhas desse evangelho e mensageiros dessa notícia no contexto em que Deus nos colocou. Três aspectos nos servem de lição: 1) Devemos reconhecer que o chamado ao ministério advém do Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 1,4). É por Ele, através dele e por meio dele que recebemos e cumprimos nossa missão; 2) Devemos entender que o propósito do ministério é glorificar o nome de Jesus Cristo. Ele é a razão principal, Ele é o centro. Fora dele não há razão para exercermos nossas funções pastorais; 3) Devemos realizar a missão que Cristo nos confiou para promover a obediência das nações e dos lugares por meio da fé. Assim como aconteceu em Roma (Rm 1,6), é necessário que o Evangelho alcance o mundo hoje e a fé em Cristo cubra a terra. – Senhor, dá-nos a sabedoria para entender que fomos chamados por ti, para que nossa vida, nossas palavras e nossas ações sejam para glorificar o teu nome e, assim, levar pessoas de todas as nações a crerem em Cristo e a Ele serem obedientes! (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

28º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 25,6-10; Sl 22[23]; Fl 4,12-14.19-20; Mt 22,1-14)

1. Esta parábola, como outras que escutamos, tem, antes de tudo, uma aplicação histórica precisa. Os convidados de direito eram os hebreus que haviam esperados séculos pelo advento no Reino messiânico, aqui representado pela festa de casamento, enquanto os convidados ao improviso são os excluídos de um tempo (publicanos, pecadores) e sobretudo os convertidos do paganismo. São os chamados operários da última hora.

2. Mas dessa vez vamos deixar de lado o sentido histórico imediato da parábola e busquemos recolher o seu núcleo perenemente atual. Concentremos a nossa atenção nos motivos de recusa que os primeiros convidados apresentam para não irem à festa.

3. Mateus nos diz que os convidados não deram a menor atenção: se ocuparam e até agiram com violência. Lucas nos traz mais detalhes dessa mesma narrativa: um havia comprado um campo e precisa vê-lo; o outro havia comprado cinco juntas de boi e precisava testá-los; outro havia acabado de se casar e assim vão se justificando.

4. O que é comum a esses personagens? Os três têm alguma coisa urgente para fazer, algo que não pode esperar, que reclama sua presença. O que representa a festa de casamento: os bens messiânicos, a salvação trazida por Cristo, a possibilidade da vida eterna. A festa de casamento representa a única coisa importante: “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?”

5. O erro dos convidados consiste em trocar o importante pelo urgente, o essencial pelo contingente. Esse é um risco muito presente em nossa vida, não só sob o plano religioso, mas também humano. É bom refletir um pouco sobre o mesmo. Particularmente no plano religioso.

6. Trocar o importante pelo urgente no plano espiritual significa remandar continuamente o cumprimento dos deveres religiosos, cada vez que se apresenta qualquer coisa de urgente a ser feita. Quantas vezes não já remandamos a nossa missa dominical por algumas dessas urgências... A missa pode esperar... Não está no topo da lista...

7. Para outros vem a vida de oração. Mesmo sabendo que precisam de um tempo de qualidade para essa, mas tem sempre algo que toma esse tempo. O problema é que de coisas urgentes, ou supostamente urgente, temos um monte e assim terminamos por remandar nossos deveres espirituais por preocupações materiais.

8. O próprio Lucas nos oferece um bom exemplo: Jesus chega na casa de Marta e Maria. Marta se vê às voltas com os cuidados da casa e Maria não deixa escapar a preciosa presença de Jesus. Quando Marta lamenta a falta de ajuda da irmã a resposta de Jesus vem como um bisturi mostrando a diferença entre o importante e o urgente.

9. Uma só coisa é absolutamente importante e necessária na vida: ganhar Deus e com ele a vida eterna; negligenciar isto por pequenos afazeres, mesmo que urgentes, é uma insensatez, é perder o todo. Na vida podemos fracassar de muitos modos: como esposo ou esposa, como pai ou mãe, como trabalhador, como artista..., mas são todos fracassos relativos.

10. Alguém pode falhar em todos esses campos e mesmo assim ser alguém digno de estima. Alguns santos foram um fracasso na vida. Mas quando se trata de Deus, o fracasso aqui é radical, sem retorno.

11. No campo humano propriamente dito, na vida de cada dia, é importante dedicar tempo à família, estar com os filhos, dialogar com esses e com o cônjuge. Visitar os pais idosos, estejam em casa ou numa casa de repouso. Visitar um conhecido enfermo, expressando nossa solidariedade... Cuidar da própria saúde... não são coisas que devam ser adiadas.

12. Assim podemos ver como o Evangelho, indiretamente, é também escola de vida; nos ensina a estabelecer prioridades a buscar o essencial. Não deixe o importante pelo urgente, nos lembra a parábola. Essa festa de casamento que nos fala o texto se renova a cada domingo em nossa celebração... oxalá estejamos atentos às desculpas que vamos arranjar...   

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 14 de outubro de 2023

(Jl 4,12-21; Sl 96[97]; Lc 11,27-28) 27ª Semana do Tempo Comum.

“Povos e mais povos no vale da Decisão: o dia do Senhor está próximo no vale da Decisão” Jl 4,14.

“O tema deste texto é o dia iminente do Senhor: ‘O dia do Senhor está próximo’ (v. 14). Todos os povos serão reunidos no ‘Vale do Josafá’ (v. 12), isto é, no vale em que o Senhor pronunciará o Seu juízo. A expressão não indica um local geográfico, mas o teatro colorido do Juízo Final. O texto é do gênero apocalíptico. Nesse dia também Jerusalém e Sião não será já um local geográfico, e Israel estará no local onde se reconhecer que ‘Eu sou o Senhor, vosso Deus’ (v. 17). [Compreender a Palavra]: ‘O dia do Senhor está próximo’ (v. 14; cf. Jl 1,15): as nuvens de gafanhotos que, como um exército, tapam o horizonte, recordam o cenário do Juízo no fim dos tempos. Então o Templo de Jerusalém representará o trono do tribunal de Deus. O dia do Senhor, que na primeira parte do Livro de Joel constituía uma espada de Dâmocles também sobre Judá e Jerusalém, representa agora a intervenção definitiva de Deus na História, na qual estarão asseguradas graça e salvação a Israel, e condenação e desventura aos povos opressores. Israel pode escapar ao juízo geral dos povos através da conversão. Sião será salva do ataque dos inimigos, tornando-se para sempre a morada do Senhor. Também a Igreja de Jesus Cristo pode esperar, juntamente com Israel, numa vitória definitiva de Deus sobre os poderes do mal que atuam no tempo. Nós, cristãos, esperamo-lo, porque essas forças já foram submetidas definitivamente a Cristo morto na Cruz” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de outubro de 2023

(Jl 1,13-15; 2,1-2; Sl 9A[9]; Lc 11,15-26) 27ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa” Lc 11,23.

“Contemplamos, comovidos, como Jesus é ridiculamente culpado de expulsar demônios. Não faltou quem interpretasse, de maneira maldosa, os milagres de Jesus. Um indivíduo não identificado, sem argumentos para negar a obra miraculosa de Jesus, murmurou que se tratava de um possível pacto com belzebu, o chefe dos demônios. É difícil imaginar um bem maior, expulsar, afastar das almas o diabo, o instigador do mal e, ao mesmo tempo, escutar a acusação mais grave de fazê-lo, precisamente, pelo poder do próprio diabo. É realmente uma incriminação gratuita, que manifesta muita cegueira e inveja por parte dos acusadores do Senhor. Hoje em dia, também, sem perceber, eliminamos de raiz o direito que os outros têm a discordar, a serem diferentes e a terem suas próprias posições contrárias e, incluso, opostas às nossas. O Mestre se deu ao trabalho de rebater apenas a primeira acusação. Mostrou-se absurdo acusá-lo de estar em conluio com belzebu. Vence-se os demônios por um poder que lhe vem dos próprios demônios, então o reino de satanás está dividido, sem possibilidade de se sustentar. O segundo argumento toca a explicação dos exorcismos na vida dos acusadores. Jesus pede que lhe expliquem por que força seus exorcistas (vossos filhos) mostram-se poderosos contra os demônios. Quem vive fechado em um dogmatismo político, cultural ou ideológico, facilmente menospreza ao que discorda, desqualificando todo seu projeto e negando-lhe competência e, inclusive, honestidade. Em tal caso, o adversário político ou ideológico transforma-se no inimigo pessoal. O confronto degenera em insulto e agressividade. O clima de intolerância e mútua exclusão violenta pode, então, nos conduzir à tentação de eliminar de alguma maneira a quem se nos apresenta como inimigo. – Pai, afasta de meu coração todos os preconceitos que me impedem de acolher Jesus Cristo como teu enviado para trazer ao mundo a salvação e a libertação (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite