Sábado, 01 de abril de 2023

(Ez 37,21-28; Sl Jr 31; Jo 11,45-56) 

5ª Semana da Quaresma.

“Muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele” Jo 11,45.

“O testemunho de Jesus e a adesão que ele suscitava colocavam em risco a estrutura religiosa de sua época. O contexto religioso de rígido tradicionalismo, de hierarquias e privilégios, de conflitos de facções, de jogos de interesses tornava-se vulnerável diante da postura do Mestre. Não que Jesus fosse respaldado pelo prestígio de uma escola rabínica ou de famílias ou grupos importantes. O perigo consistia no fato de muitas pessoas darem crédito às suas palavras e aderirem ao grupo, sempre crescente, que se formava ao redor dele. As autoridades religiosas demonstravam ter uma preocupação política. O movimento de Jesus poderia ser entendido pelos romanos como uma provocação. E as consequências disto seriam trágicas para a nação. Se não fosse contido a tempo, haveria o perigo de ‘todos’ crerem nele, e os romanos virem a destruírem o templo e a nação. A solução apresentada por Caifás parecia ser bastante prudente: ‘É melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer!’. Acolhida esta sugestão, decretou-se a morte de Jesus. Com esta finalidade, iniciou-se verdadeira caçada para prendê-lo. Todavia, o motivo verdadeiro da condenação à morte foi de caráter religioso. Isto ficará patente no fato de Pilatos, autoridade romana, não se mostra interessado em condenar Jesus. A verdade é que a liderança religiosa já não podia mais suportar o comportamento do Mestre por ser religiosamente perigoso. – Pai, ajuda-me a compreender, sempre mais profundamente, o caminho para encontrar-me contigo, que Jesus nos ensinou. Livra-me, também, do apego aos esquemas já superados (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 31 de março de 2023

(Jr 20,10-13; Sl 17[18]; Jo 10,31-42) 

5ª Semana da Quaresma.

“Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim” Jo 10,37.

“Os judeus eram sumamente obstinados em não crer na divindade de Jesus, mesmo apesar do que ouviam e viam. Por isso, Jesus argumenta para eles com raciocínios visíveis de fácil entendimento, e assim lhes diz: ‘Sou o Filho de Deus. Se não faço as obras de meu Pai, não me creiais, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai’ (Jo 10,36-38). Os judeus tinham mais do que suficientes motivos para conhecer a verdade, pois bastava-lhes fixar-se nos milagres que Jesus fazia e no cumprimento das profecias do Antigo Testamento, que eles conheciam tão bem; no entanto mostravam-se duros de coração para receber a verdade. Jesus se refere às obras: ‘Crede nas minhas obras’ (v. 38). Os argumentos de Jesus não deixam margem a réplicas; por isso, os fariseus ficam enfurecidos, porque não têm como contradizê-lo. Jesus insiste com eles: olhem para suas obras, realizadas publicamente à vista e todos. Como os fariseus não podem negar as obras, encolerizam-se contra Jesus querem apedrejá-lo. É esta a prática seguida pelos inimigos de Jesus e da Igreja: não podem opor razões e, então, recorrem à perseguição. As perseguições servem para fortalecer uns, mas fazem com que outros fraquejem. A Igreja robusteceu-se, ao longo dos séculos, com os ataques de que foi vítima. Isto que sucede à Igreja em geral deve acontecer com cada cristão em particular. A contradição, longe de separar-nos de Deus, deve unir-nos mais a ele. A virtude prova-se na adversidade, que será permitida por Deus para nossa própria purificação. Este evangelho termina afirmando que Jesus dirigiu-se para o outro lado do Jordão e que ali ‘muitos creram nele’ (v. 42). Onde talvez menos se poderia esperar, o evangelho encontra boa acolhida. Por isso você não deve intimidar-se na divulgação do evangelho. Não pense que determinada pessoa ou determinado ambiente não são aptos nem adequados para receber o anúncio profético da salvação. Talvez onde menos você pensa, podem surgir as melhores disposições para que a semente da palavra de Deus possa germinar e dar fruto abundante” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 30 de março de 2023

(Gn 17,3-9; Sl 104[105]; Jo 8,51-59) 

5ª Semana da Quaresma.

“A ti e aos teus descendentes darei a terra em que vives como estrangeiro, todo o país de Canaã como propriedade para sempre. E eu serei o Deus dos teus descendentes” Gn 17,8.

“A sociedade bíblica antiga era uma sociedade de sobrevivência muito frágil e instável. O sonho de uma vida segura, de uma terra fértil, de uma família numerosa e compacta para enfrentar os vários problemas da vida, era comum a todos. Na época da composição deste texto, a experiência da dominação estrangeira tinha acentuado ainda mais nos hebreus o desejo da ‘pátria’ e o sentido de um ‘povo’; por isso recordando as origens de Israel, o texto coloca em evidência o tema da Terra Prometida e da descendência numerosa. A aliança que Deus tinha selado com Abraão é uma ligação estre promessa divina e esperança humana. Deus entra nos desejos e nos sonhos do homem e não os sufoca, antes os dilata e eleva. ‘Farei de ti [...] farei que tenhas [...] a ti e à tua descendência darei [...]’ (vv. 5-80). Deus promete e compromete-Se. É com Seu dom gratuito e com a Sua confiança que Ele suscita no homem a exigência de uma resposta correspondente: ‘Guardarás a minha aliança’ (v. 9). A aliança não é, em primeiro lugar, um fato jurídico que traça rigidamente direitos e deveres, mas uma relação de amor, um fluxo e refluxo de gratuidade e gratidão” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 29 de março de 2023

(Dn 3,14-20.24.49.91-92.95; Sl Dn 3; Jo 8,31-42) 

5ª Semana da Quaresma.

“Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado’” Jo 8,34.

“O pecado é sempre o domínio da concupiscência sobre o espírito, da paixão sobre a razão, da parte animal sobre a parte espiritual. Uma paixão desenfreada leva a cometer os maiores desatinos. A paixão não se desenvolve serenamente, nem tem força para determinar-se livremente; por isso, a escravidão do pecado é a maior das escravidões. Escreve Santo Agostinho: ‘Ó miserável escravidão a do pecado! Quando os homens servem a um amo que os tiraniza, buscam acomodação em outra parte; ainda que não fiquem livres por completo, basta-lhes mudar de amo; e, quando outra coisa não lhes é possível, abandonam seu amo e escapam, fugindo dos maus tratos. Mas que fará o pecador? Para onde fugirá? Aonde quer que vá, para lá o acompanhará seu pecado. A má consciência não pode fugir de si mesma, porque o pecado está expresso nela’. A verdadeira liberdade, a liberdade dos filhos de Deus, só se consegue com a vida da graça sobre o pecado. ‘Assim como o pecado reinou para a morte, assim também a graça reinará pela justiça para a vida eterna...’ (Romanos 5,21)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de março de 2023

(Nm 21,4-9; Sl 101[102]; Jo 8,21-30) 

5ª Semana da Quaresma.

“Disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados”

Jo 8,24.

“Este texto evangélico contém duas afirmações altamente polêmicas: ‘Se vocês não acreditarem que Eu sou, haverão de morrer nos seus pecados’; ‘Quando vocês levantarem o Filho do Homem, saberão que Eu sou’. Estas declarações ecoaram de maneira bem específica nos ouvidos dos interlocutores de Jesus. Para os fiéis de tradição judaica, a expressão Eu sou evocava o nome divino, revelado a Moisés pelo próprio Deus ao lhe confiar a missão de liderar a libertação do povo judeu da opressão egípcia. Por conseguinte, as palavras de Jesus soaram, para a sensibilidade judaica, como verdadeiras blasfêmias. O Mestre, porém, pensava de modo diferente e considerava pecado o fato de alguém não aceitá-lo na sua condição de Eu sou. De forma alguma, ele tinha a pretensão de ocupar o lugar de Deus. Ao afirmar Eu sou, visava revelar a sua radical comunhão com o Pai, até o limite de afirmar sua plena unidade com ele. O Pai a quem ele servia não era diferente do Deus da tradição de Israel. E mais, foi o Pai que o enviara com uma missão semelhante àquela confiada a Moisés, no passado. Como uma diferença, porém: tratava-se, agora, de promover uma libertação muito mais radical, do que aquela realizada pelo antigo líder. Assim, revelando sua identidade, Jesus revelava também a sua missão. Ele fora enviado pelo Pai para resgatar a humanidade da escravidão do pecado. – Pai, reforça minha fé em teu Filho Jesus, cuja morte nos resgata da escravidão do pecado e nos introduz no reino da fraternidade (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de março de 2023

(Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62 ou 41-62; Sl 22[23]; Jo 8,1-11) 

5ª Semana da Quaresma.

“Como persistissem em interroga-lo. Jesus ergueu-se e disse: ‘Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra’” Jo 8,7.

“Depois de uma noite em oração, em diálogo com o Pai, Jesus vai ao Templo, e, com a mesma naturalidade, segue o seu costume de instruir o povo. Certamente lhe enchia o coração de alegria falar ao povo sobre o Reino, sobretudo para devolver-lhe a esperança, para renovar-lhe a fé no Deus libertador. Nesta mesma hora, os que buscavam sempre um artifício para colocá-lo à prova, os mestres e os fariseus, apresenta-lhe uma mulher que fora surpreendida em adultério. Imaginemos o espetáculo: de um lado, os guardiões da Lei, e, do outro, uma pobre mulher, sem uma única chance de defender-se. O povo em silêncio, em seu papel de presenciar mais uma vez a justiça da Lei. Jesus traz em seu coração o drama desta pobre mulher humilhada, condenada e que será apedrejada. Em nome da Lei, os mestres e fariseus pedem de Jesus uma resposta contundente para esta pecadora. Jesus recolhe então de seu coração a experiência fundante de sua vida com o Pai, que é tecida de misericórdia e de compaixão pela humanidade. Jesus sabe, por mil razões, que a última palavra de Deus para esta mulher não é a condenação. E Ele busca, num gesto de abaixamento até à terra, trazê-los à razão: ‘quem não tiver pecado, atire a primeira pedra’. Pondo-os todos frente à frente com seu pecado, começam a deixar o local, pois a chamada de Jesus os traz à realidade. Jesus lhes queria dizer que, diante de Deus, todos e todas somos pecadores e necessitados da sua misericórdia. Todos necessitam do perdão de Deus para renascer das cinzas do pecado. Todos, indistintamente, somos convidados a participar da alegria da vida reconciliada e restaurada plenamente. A sós, Jesus olha a pobre mulher, reacende-lhe a esperança e a faz renascer para uma vida nova. ‘Vai e de agora em diante não peques mais’. Libertada, reconciliada, amada e perdoada, parte feliz, ó mulher! – Senhor da misericórdia e do perdão, levanta-nos do nosso pecado, reconstrói as nossas vidas e recupera-nos para a graça da vida plena! (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Quaresma – Ano A

(Ez 37,12-14; Sl 129[130]; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45)

1. Ao início do nosso evangelho somos informados sobre esse pequeno círculo de amizade que envolve Marta, Maria e Lázaro, este último se encontra enfermo. É certo que Jesus veio para todos, e mesmo assim cultivava o sentimento humano da amizade. Havia uma casa, de gente abastada, em Betânia, onde o Mestre se refugiava, às vezes, com certa intimidade.

2. Uma amizade tão profunda de não haver necessidade de muitas palavras: “Senhor, aquele que amas está doente”. Uma notícia sem muitos detalhes, mas suficiente para colocar Jesus ciente da situação e fazê-lo, quem sabe, pegar a estrada em direção ao conhecido vilarejo.

3. Uma amizade que autoriza Marta, depois da morte do irmão, a adotar uma linguagem que soa como uma reprovação: “Se tivesse estado aqui, meu irmão não teria morrido...”. Mas depois adicionar uma pitada de audácia: “Mas, mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá”. Aqui se misturam uma admirável certeza com sentimentos humanamente aceitáveis.                                        4. É como se ela dissesse: “Sei que és um verdadeiro amigo e posso confiar em ti, e sei que farás o que lhe for possível. E como gozas de uma relação privilegiada, única, com Deus, a tua presença será capaz de transformar o luto em festa”

5. E Cristo se agarra precisamente a essa declaração de Marta para conduzi-la a fazer uma explícita profissão de fé que torna possível o milagre. Como se vê, uma amizade que, sem perder nada da espontaneidade, confiança e sinceridade, sabe ‘reconhecer’, através do olhar da fé, a verdadeira identidade do amigo.

6. Há um particular nessa narrativa que nos revela o grau de intimidade e profundidade de participação com que Jesus viveu o sentimento da amizade humana. Dirigindo-se ao local onde o sepultaram e vendo a comoção geral, também ele chora.

7. Um Deus que chora a morte do amigo, que não esconde os próprios sentimentos, que não se envergonha de parecer humano demais, me convence tanto quanto aquele que chama de volta à vida quem estava morto. Essas lágrimas são um grande milagre. “Vede como ele o amava”, dirão alguns.

8. Mesmo com comentários adversos, Jesus se comove intimamente. Dois verbos que tornam o Mestre muito próximo de nossas angústias, da nossa consternação da dor, ao protesto contra a morte. Nem mesmo Cristo é de acordo com o mal, não aceita de olhos enxutos o sepulcro. Nem mesmo ele se resigna a separações tão brutais.

9. De um Deus que ama de maneira ‘tão humana’, podemos esperar tudo a favor do ser humano. É profundamente comovido que se aproxima do sepulcro. E é somente depois de ter estado em comunhão com nossa fragilidade é que Ele retoma o tom imperioso de comando: “Tirai a pedra!”.

10. Lhe advertem que já cheira mal. E aqui não é só um particular macabro da narrativa. Podemos colher um significado teológico que nos remete às páginas do Gênesis. O artista se encontra diante de sua obra prima deturpada, o ser humano havia escolhido a degradação, a morte, o pecado, desde aquele momento que deixou de dialogar com o próprio Criador, rejeitando o seu amor.

11. No texto do Gênesis Deus havia contemplado sua criação e concluía que era boa e bela. Mas aqui ela cheira mal. São dois opostos extremos. O itinerário percorrido pelo ser humano ao longo da estrada da fuga, da desobediência. Dos espaços sem medidas do Éden à prisão do sepulcro.

12. Na conclusão da narrativa Jesus exclama com voz forte: ‘Lázaro, vem para fora!’. Esse mesmo grito se dirige a nós. Cristo não se resigna aos nossos sepulcros, à nossa coabitação com a morte, às nossas escolhas de morte. Ele nos provoca, literalmente a ‘virmos para fora’.

13. Fora da prisão em que nos fechamos voluntariamente, acomodando-nos a uma vida fictícia, empobrecida de ideais. Virmos fora de horizontes sufocantes. Uma voz que nos convida a caminhar, tirando fora os lençóis que nos envolvem.

14. A ressurreição começa quando, obedecendo ao seu comando, decidimos vir de encontro à luz, à vida. Quando permitimos que o nosso ser mais autêntico se revele, abandonando as máscaras e reencontrando a coragem do nosso rosto ‘original’. É intolerável para Cristo, que fixemos nossa morda num sepulcro-prisão, antes de haver saboreado o gosto da vida.

 

Campanha da Fraternidade 2023 – Texto Base

   A fome nos desafia e desinstala. É preciso agir! Não é possível ficar parado diante do grito da realidade brasileira e do mandamento de Jesus. É a dimensão social da fé que exige de nós engajamento na busca de soluções eficazes para o drama da fome. A realidade da fome chega ao coração do Bom Pastor e Ele mobiliza seus discípulos missionários para uma ação pontual que resolva aquele problema, não a partir da lógica do dinheiro ou da indiferença, mas a partir da lógica de Jesus e do seu Evangelho.

   É esta lógica que motiva a nossa Quaresma, que faz com que nos dediquemos ainda mais à frequente celebração da Eucaristia, à escuta atenta da Palavra e aos exercícios da oração, do jejum e da esmola. Todas as experiências nos recordam que o pão não é meu, o pão é nosso! É nosso quando celebramos eucaristicamente, quando dele nos alimentamos na Leitura Orante da Bíblia. É nosso quando rezamos como Jesus nos ensinou e é nosso mesmo quando o renunciamos no jejum para partilhá-lo na esmola. O motor do nosso agir não é outro senão a mística do seguimento de Jesus, no qual a solidariedade nasce da espiritualidade, do encontro verdadeiro e transformador com o Deus do Reino, Pai nosso, e com o Reino de Deus. “O pedido que repetimos em cada Missa: ‘O pão nosso de cada dia nos dai hoje’, obriga-nos a fazer tudo o que for possível, em colaboração com as instituições internacionais, estatais, privadas, para que cesse ou pelo menos diminua, no mundo, o escândalo da fome e da subnutrição que padecem muitos milhões de pessoas, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento” (Sacramentum Caritatis n. 91).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de março de 2023

(Is 7,10-14; 8,10; Sl 39[40]; Hb 10,4-10; Lc 1,26-38) Anunciação do Senhor.

“O anjo, então disse-lhe: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus’” Lc 1,30.

 

                               NÃO TEMAS, MARIA 

 

A uma virgem fiel,/ Da cidade de Nazaré,/ Aparece o Anjo Gabriel/ Àquela prometida a José.

 

O anjo trazia boa-nova/ Àquela escolhida de Deus/ E Maria, favorecida, olhava/ Aquele enviado dos céus.

 

Ao ouvir do anjo a voz:/ ‘O Senhor é contigo, Maria,/ a paz de Deus sobre vós/ estará hoje e cada dia’.

‘Não tenhas medo, Maria,/ Diante do grande Deus/ encontraste graça, sorria,/ és a escolhida mãe do filho de Deus’.

 

Conceberás em teu seio e/ darás à luz um menino/ e o seu nome, eu leio/ escrito no livro do Deus Divino.

 

Jesus, o Filho Santíssimo,/ Ele será grande entre todos./ Será chamado Filho do Altíssimo,/ Deus lhe dará de Davi, o trono.

 

 

(Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de março de 2023

(Sb 2,1.12-22; Sl 33[34]; Jo 7,1-2.10.25-30) 

4ª Semana da Quaresma.

“Em alta voz, Jesus ensina no templo dizendo: ‘Vós me conheceis e sabeis de onde sou; eu não vim por mim mesmo, mas o que me enviou é fidedigno. A esse não conheceis’” Jo 7,28.

“Jesus encontrava-se em Jerusalém, no Templo, onde estava ensinado o povo. De repente, entre as pessoas que o ouviam, teve gente que começou a falar entre si a respeito dele, dizendo que sabiam de onde Ele era. Depois disso é que Jesus afirmou que, de fato, eles o conheciam e sabiam de onde era. No entanto, ele deixou claro que não viera por si mesmo, mas que fora enviado pelo próprio Deus a quem eles no fundo não conheciam. Sim, foi Deus, o Pai, quem no Jardim do Éden prometeu a Adão e Eva aquele que seria o Messias. Foi Deus, o Pai, quem enviou seu anjo para anunciar a Maria que ela fora escolhida para ser a mãe do Redentor. Foi Deus, o Pai, quem enviou João Batista a pregar e preparar o caminho para a vida de Jesus. Foi Deus, o Pai, quem afirmou no Batismo de Jesus que Ele era o seu Filho Amado. Sim, foi Deus, o Pai, que enviou seu Filho como o Salvador do mundo e é Ele quem haverá de permanecer naqueles que confessarem a Jesus como o Filho de Deus (leia 1Jo 4,14-15). Graças a Deus, ele se deu a conhecer a nós em sua Palavra. Graças a Deus, nós cremos nele e temos em nossos corações a Jesus como o nosso verdadeiro Salvador. Graças a Deus podemos nos afirmar neste conhecimento e nesta fé através do estudo constante de sua Palavra. Que nós, seus filhos herdeiros da vida eterna, continuemos a dar testemunho como os apóstolos deram nos anos que seguiram à ascensão de Jesus para que mais pessoas venham a conhecer e crer no Salvador que Deus, o Pai, enviou. Amém. – Bondoso Deus, eu te agradeço que enviaste Jesus, teu Filho, para me salvar. Peço-te, ajuda-me para que eu me mantenha nesta fé até fim de minha vida. Em nome de Cristo. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 23 de março de 2023

(Ex 32,7-14; Sl 105[106]; Jo 5,31-47) 

4ª Semana da Quaresma.

“O Senhor falou a Moisés: ‘Vai, desce, pois corrompeu-se o teu povo, que tiraste da terra do Egito” Ex 32,7.

“O episódio do bezerro de ouro tem na história de Israel um aspecto emblemático enquanto sintetiza o grave pecado que continuamente regressa como pedra de tropeço na caminhada de fé do povo: a idolatria. À aliança de amor, responde Israel com a infidelidade; ao dom gratuito da liberdade, com uma nova forma de escravidão na sujeição aos ídolos. Diante deste pecado, o Senhor inflama-se de indignação definindo Israel ‘um povo de cabeça dura’, um povo de coração profundamente corrompido, sem esperança de cura. A ira é uma expressão antropomórfica para descrever a forte reação de JHWH perante a traição ao Seu amor. Moisés não procura desculpar o povo. Não tem argumentos para o fazer. Deus tem razão, ‘ajuizou’ bem. Moisés apela simplesmente a Deus, à Sua misericórdia infinita. Enquanto Deus dissera a Moisés: ‘O teu povo, que tu tiraste do Egito, corrompeu-se’ (v. 7), agora Moisés lembra a Deus: ‘este é o Vosso povo, que Vós libertastes, perverso, sim, mas ainda Vosso’ (Cf. vv. 11ss.). Assim Moisés consegue comover o coração de Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de março de 2023

(Is 49,8-15; Sl 144[145]; Jo 5,17-30) 

4ª Semana da Quaresma.

“Então, os judeus ainda mais procuravam mata-lo, porque, além de violar o sábado, chamava Deus o seu Pai, fazendo-se, assim, igual a Deus” Jo 5,18.

“O ódio crescente contra Jesus e a decisão de mata-lo tinha uma razão bem clara: sua pretensão de fazer-se igual a Deus. Isto se deduzia da liberdade com que trabalhava em dia de sábado. Segundo a teologia da época, só Deus trabalha em dia de sábado.  Para garantir a subsistência da criação e da vida sobre a face da Terra. Os sinais realizados por Jesus, em dia de sábado, tinham características semelhantes, pois estavam estreitamente relacionados com a recuperação da vida. Nos seus ensinamentos, Jesus jamais chamou-se ‘Deus’. De fato, sempre falou do Pai, a cuja vontade estava submetido, do qual viera e para o qual voltaria, que o enviou com a missão de restaurar a existência humana corrompida pelo pecado. Sua palavra era perpassada pela consciência de ser Filho. Nunca pretendeu usurpar o lugar do Pai; antes, soube colocar-se no seu devido lugar até no último momento, quando exclamou: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!’. Jesus, porém, tinha consciência de ser o caminho de encontro com o Pai. Quem acolhesse suas palavras, estaria acolhendo as palavras do Pai. Crer nele comportava crer no Pai. Honrá-lo corresponderia a horar o Pai. Pelo contrário, rejeitá-lo significava rejeitar o Pai. A teologia rígida dos adversários de Jesus não podia suportar tamanha ousadia. A decisão de mata-lo foi o expediente extremo para eliminar uma pessoa incômoda. – Pai, tu me deste teu Filho Jesus como caminho para encontrar-me contigo. Reforça minha fé, de modo que, conhecendo mais a Jesus, possa também conhecer-te mais (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de março de 2023

(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 

4ª Semana da Quaresma.

“Aí se encontrava um homem que estava doente havia 38 anos” Jo 5,5.

“João apresenta apenas três histórias de cura: a cura do filho de um funcionário régio (4,43-54), a cura do paralítico (5,1-18) e a cura de um cego de nascença (9,1-12). Na primeira história de cura focaliza-se sobretudo o efeito curador da fé. Quem confia em Jesus e nas suas palavras é curado. A sua alma é renovada interiormente, e em consequência disso efetua-se também a cura do corpo. Os dois outros episódios de cura acontecem no sábado, seguindo-se a eles uma longa discussão sobre temas teológicos. As curas são sinais de uma realidade, isto é, da glória de Deus, que se manifesta justamente no sábado e cuja comemoração mais adequada se dá no sábado.  A cura do paralítico tem lugar na piscina de Betzatá. Ao que tudo indica, trata-se de um santuário de cura antigo que era frequentado por muitos judeus enfermos. São descritos três tipos de doentes: cegos, paralíticos e aleijados. Todos esses males são também símbolos de uma situação psíquica. Somos cegos. Os nossos olhos estão fechados quando se trata de enxergar a verdadeira realidade, a nossa própria verdade. Temos pontos cegos e nos recusamos a vê-los. Estamos paralisados de medo. Temos medo de cometer algum erro e, por isso, ficamos bloqueados. E somos aleijados. Queríamos ser diferentes do que somos. Muita coisa em nós foi impedida de crescer deixando de se desenvolver. E assim ficamos mutilados. Vivemos apenas uma parte daquilo que está dentro de nós. Os nossos traumatismos bloquearam uma parte da nossa alma e a impediram de desenvolver-se. Podemos identificar-nos com todos esses doentes. Também com o doente que acaba curado. Diz-se que estava doente havia 38 anos. Para João, cada número tem uma conotação simbólica. Os israelitas vagaram durante 40 anos pelo deserto. Na verdade tinham chegado a seu destino em apenas dois anos. Mas como não acreditassem em Deus, tiveram que viajar outros 38 anos pelo deserto até que toda a geração de combatentes tivessem desaparecido (cf. Dt 2,14). O nosso doente representa, portanto, gente desarmada que já não é capaz de defender-se, de estabelecer limites. São pessoas suscetíveis, desconfiadas. Agostinho interpreta o número de outra maneira: 38 é para ele 40 menos 2; 40 é o número de cumprimento da lei. O homem estava doente porque não cumpriu as duas leis que Jesus tinha trazido, o amor de Deus e o amor ao próximo. Mas seja o que for que entendamos por esse número, certamente há por trás de um simbolismo que nos parece estranho hoje em dia” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de março de 2023

(Is 65,17-21; Sl 29[30]; Jo 4,43-54) 

4ª Semana da Quaresma.

“Jesus lhe disse: ‘Podes ir, teu filho está vivo’. O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora” Jo 4,50.

“A voz de Jesus infunde serenidade e paz. Sua palavra, que continua atual na Igreja, cura os corações. Sua palavra penetra, porque é palavra de amor; porém não existe salvação verdadeira, enquanto não pronunciáramos o ‘sim’ de nossa adesão à palavra de Deus. O próprio é a Palavra de Deus. Crer é aceitar essa palavra, aceitar esse Cristo, aderir à pessoa dele para sempre. É verdade que a fé do homem poderoso, de que nos fala, foi imperfeita, pois acreditava que era necessária a presença física de Jesus, para que pudesse realizar o milagre. Mas conseguiu o que pedia, porque pediu com humildade. Da Virgem Santíssima, proclamou Santa Isabel: ‘Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!’ (Lucas 1,45). Faça-se merecedor(a) do meu louvor. Vivência: Você tem orgulho ou desconfiança que possa impedir-lhe seu encontro pessoal com Cristo? Sua fé é uma verdadeira adesão ao encontro pessoal com Cristo? A oração é sempre atendida pelo Senhor, se for uma oração humilde. Procure, pois, orar sempre com sentimentos de verdadeira humildade e com perseverança, confiando não em seus méritos pessoais, mas na infinita ternura do coração de Jesus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo da Quaresma – Ano A

(1Sm 16,1.6-7.10-13; Sl 22[23]; Jo 9,1-41)

1. João, em seu evangelho, insere em sua narrativa somente sete milagres realizados por Jesus. Esse da cura do cego de nascimento ocupa todo um capítulo, adquirindo particular relevo.

2. Estamos diante de uma narrativa magistralmente elaborada, numa sucessão rápida de sequência, de uma dramaticidade misturada com humor, da obtusidade à inteligência, da dureza à compaixão, do fechamento prejudicial à adesão confiante. Para além de um pequeno tratado sobre a fé, esta narrativa pode ser considerada um estudo de psicologia.

3. Como ponto de partida, temos a descrição, muito sóbria, e um pouco estranha, do milagre. Deste fato inicial, partem duas linhas contrapostas. Os fariseus, diante da evidência do milagre, se fecham sempre mais em sua incredulidade. O beneficiado, ao contrário, se abre progressivamente à fé.

4. O cego passa a ser o elemento incômodo ou o problema em cena. O penoso fato de ter nascido cego, desperta a curiosidade de sua doença. Em sua mentalidade hebraica, os apóstolos ligam enfermidade e culpa. Jesus discorda de tal atitude diante do mal.

5. O mal está ali, sob os nossos olhos, não para que o expliquemos, elaboremos teorias, mas para que o combatamos. Os discípulos assumem uma atitude fatalista diante do cego ao tempo que se resignam facilmente diante da desgraça do outro. Se contentam em obter uma explicação, sem suspeitar que deveriam lutar para que aquilo não acontecesse.

6. O cego sempre foi cego e assim deve permanecer. Fez por merecer, pensam eles. Jesus, ao contrário, indica claramente que a fé é um princípio de indignação, não um princípio de resignação.

7. O pobre cego torna-se uma complicação depois da cura. Disputa entre vizinhos, causa de mexericos, interpretações várias, investigação, processos... Invés da alegria por esse evento extraordinário, assistimos a uma série incredível de contestações. Poderíamos concluir que, para alguns, seria melhor que continuasse cego. Agora que vê, pode ser motivo de perturbação.

8. A culpa imperdoável aqui é a data da cura, ela acontece num dia de sábado. É interessante nesse vai e vem do cego e das pessoas em torno dele, o segundo interrogatório. Cansado de repetir como tudo sucedera, ele questiona, ironicamente, se querem se tornar discípulos dele. Segue-se uma reação carregada de insultos.

9. O cego lhes apresenta em maliciosa ingenuidade a sua lógica simples sobre Jesus. Eles não aceitam. São estudiosos. Não pode ser assim. E o expulsam. É quando se encontra com Jesus e um questionamento diferente tem início. E por esse itinerário chega a uma profissão de fé.

10. Uma fé que vem de modo gradual: “Não sei”. “É um profeta”. “Vem de Deus”. “Creio”. Agora a cura é completa (corpo e alma). Os olhos se abrem à luz de modo total. Neste ponto Jesus se dá conta dos outros cegos em circulação. Sobre a responsabilidade de não querer enxergar. Os fariseus percebem que fala deles.

11. E assim voltamos ao início. Há uma cegueira por própria culpa. O pecado consiste em pretender ver, fechando os olhos à própria luz. Esse tipo de cegueira torna o milagre impossível. Jesus não pode curar quem não admite a própria cegueira. Ele só consegue abrir os olhos àqueles que não os querem fechados...

12. Seria bom voltarmos de maneira atenta ao texto. Podemos encontrar aqui o drama da nossa incredulidade, ou, se preferirmos, do nosso ‘crer de crer’.

 

4º Domingo da Quaresma – Campanha da Fraternidade 2023 – Texto Base

A fome é uma realidade no Brasil. E este fato não pode ser negado. Ela é o flagelo de uma multidão de brasileiros. Mas, no Brasil, não falta alimento. A cada ano, o País bete recordes de produção, dentre os quais, milho, soja, trigo, de cana de açúcar, de carne etc. O que então nos falta? Falta-nos converter-nos ao Evangelho, olhar com sinceridade as necessidades do outro, aprender a repartir para que ninguém fique com fome, edificar aqui o Reino de Deus que buscamos e que se realizará em plenitude na eternidade.

Viver com fome, a ponto de perder a própria dignidade, arrastar-se pela rua, revirar o lixo e morrer de fome não é algo natural ou desejado por Deus. No Brasil, a fome não é simplesmente um problema ocasional, é um fenômeno social e coletivo, estrutural, produzido e reproduzido no curso ordinário da sociedade, que normatiza e naturaliza a desigualdade, é um projeto de manutenção da miséria em vista da perpetuação no poder. Já afirmava a nossa escritora Carolina Maria de Jesus: “quem inventou a fome são os que comem”.

A Fome não foi criada, mas radicalizada pela pandemia da COVID-19, que enfrentamos desde março de 2020 e que, com certeza, marcará todas as nações nesta década. A fome no Brasil é um escândalo! Um escândalo de proporções inimagináveis. Em nosso país, há 125,2 milhões de brasileiros que nunca sabem quando terão a próxima refeição. Tudo começa com um ato de ver. É preciso fazer como Jesus: ‘levantar os olhos e ver’ a realidade da fome no Brasil. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 18 de março de 2023

(2Sm 7,4-5.12-14.16; Sl 88[89]; Rm 4,13.16-18.22; Mt 1,16.18-21.24) São José, esposo de Maria e padroeiro da Igreja.

“Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo” Mt 1,16.

“Do ponto de vista da pregação, para que serve uma lista de nomes, no caso uma genealogia? Aparentemente, não há nisso muita coisa a ser espremida como doutrina, ensinamento moral ou algo assim. Seria como pedra da qual não se tira água. A Bíblia, no entanto, afirma que Deus fez sair água de pedra. Que ele, pois, nos comunique uma verdade através dum texto como esse não será grande maravilha. Por sinal, já ouvi dizer que um homem se converteu ao ler a genealogia porque, ao cair em si, reconheceu: ‘Se todos esses homens morreram, eu também vou morrer’. A descoberta de sua finitude o levou a aproximar-se de Deus. A verdade, porém, que desejamos ressaltar no momento é a humanidade de Jesus. Para muitos, isso é tão óbvio que sequer mereceria discussão. Pena que tal reconhecimento de obviedade acabe terminando em negação da natureza divina de Jesus. Para outros, porém, Jesus teria apenas a natureza divina sendo seu aspecto humano apenas aparência. A mensagem evangélica, no entanto, não autoriza tal desumanização de Jesus já que a própria redenção implica o fato de, na cruz, ter morrido por nós um homem perfeito, um homem chamado Jesus Cristo, um homem que teve uma história pessoal e familiar, história essa forjada no passado por sucessivas gerações de carne e osso. – Ó Deus feito homem, obrigado por teres assumido a nossa condição dependente e frágil de criatura para ser o sacrifício que nós deveríamos ser. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 17 de março de 2023

(Os 14,2-10; Sl 80[81]; Mc 12,28-34) 

3ª Semana da Quaresma.

“Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência e disse: ‘Tu não estás longe do Reino de Deus’

E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus” Mc 12,34.

“Sabe com quem Jesus dialogava, chegando ao ponto de dizer-lhe que não estava longe do reino de Deus? Não se espante, era com um escriba. De uma maneira geral os escribas não viam a Jesus como Salvador do mundo. Nesse contexto, esse escriba veio questionar a Jesus para pega-lo em contradição, quem sabe? Jesus falava sobre a ressurreição dos mortos e o escriba gostou da resposta de Jesus, dada aos saduceus. Aproximou-se o escriba do Mestre e perguntou-lhe: ‘Qual é o primeiro de todos os mandamentos?’ E Jesus prontamente respondeu ao seu interlocutor: ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda tua alma e amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Ao ouvir essa resposta de Jesus, o escriba acha-a muito boa e ainda faz algumas colocações como por exemplo: ‘é muito melhor que todos os holocaustos e sacrifícios’. E Jesus, vendo que falara sabiamente, lhe disse: ‘Não estás longe do Reino de Deus’. O que significa para o escriba essas palavras de Jesus? Esse escriba era uma pessoa especial; os momentos em que estava com Jesus foram aproveitados para aprender sobre o amor de Deus. Aquele escriba não procurava criticar ou irritar a Jesus com palavras maldosas. E Jesus lhe dá a esperança salvadora: não estás longe do reino de Deus. – Senhor meu Deus, ajuda-me a te amar acima de todas as coisas e ao meu próximo como a mim mesmo. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 16 de março de 2023

(Jr 7,23-28; Sl 94[95]; Lc 11,14-23) 

3ª Semana da Quaresma.

“Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: ‘Todo reino dividido contra si mesmo será destruído;

e cairá uma casa por cima da outra’” Lc 11,14-23.

“A divisão entre bons, entre os seguidores de Jesus Cristo, é o que o demônio procura com mais empenho, porque sabe que é muito mais eficaz para a destruição do Reino de Deus. Assim, aqueles que são causa de divisão entre os irmãos que trabalham para o demônio e contra os interesses de Jesus: aí está enraizada a gravidade de que se reveste a divisão entre os cristãos. Nem sempre se poderá exigir que todos pensemos a mesma coisa. Mas visto que a cabeça não pode unir, que nos una ao menos o coração. A desunião não é tanto produto das ideias, mas sim das atitudes e dos sentimentos, que acompanham essa atitude e essas ideias. Embora, com certeza, também devamos buscar a unidade das mentes no que for possível, procurando cada qual desprender-se dos próprios juízos e critérios, a fim de adquirir a mentalidade do evangelho. O cristão tem de entregar a Cristo também seus pensamentos e seu modo de julgar, assim, como em sua vida é Jesus aquele que há de agir, assim, é Jesus quem deve regê-la com seu pensamento. Examine se em seu lar, em sua paróquia, no movimento de apostolado em que você limita, em seu lugar de trabalho, entre seus amigos ou pessoas com as quais se relaciona, se você é elemento de união mais que de desunião” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 15 de março de 2023

(Dt 4,1.5-9; Sl 147[147B]; Mt 5,17-19) 

4ª Semana da Quaresma.

“Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais

e entreis na posse da Terra Prometida que o Senhor Deus de vossos pais vos vai dar” Dt 4,1.

“’Escuta’ é o convite-ordem com que começa a leitura de hoje. Israel pode escutar porque tem o privilégio de que lhe dirijam uma palavra da parte de Deus. O Senhor está no meio do seu Povo e quer comunicar com ele. Será a sua Palavra, a sua Torá, que constituirá a inteligência e a sabedoria de Israel aos olhos de todos os povos (v. 6), desde que ele não ‘esqueça’ (v. 9) as gestas feitas pelo Senhor (cf. 4,9.23; 6,12), mas as recorde (cf. 5,15; 7,18-19). Pelo contrário, cada israelita deverá encarregar-se de transmitir este ato de fé às gerações seguintes. A verdade fundamental está expressa na pergunta do v. 7: ‘Qual é a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor Deus?’ (Cf. 6,15; 7,21; 30,14) a observância da Lei, então como hoje, é possível somente enquanto livre resposta a um Amor que nos escolheu enquanto percurso para nos manter ligados a Ele. Eis porque é importante relembrar, ou melhor – segundo a linguagem bíblica – ‘fazer memória’, reviver, tornar atual, presente na vida de todos os dias, ‘tudo quanto viram os vossos olhos’ (v. 9), esses momentos nos quais mais claramente fizemos a experiência da proximidade de Deus na nossa vida. Sobretudo nos momentos mais difíceis, quando o desânimo pode levar a perder a esperança, tanto para nós como para Israel é vital relembrar quanto Deus fez a nosso favor, o fato de Ele estar perto de nós e continuar a falar-nos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 14 de março de 2023

(Dn 3,25.34-43; Sl 24[25]; Mt 18,21-35) 

3ª Semana da Quaresma.

“Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Mt 18,21.

“Só é capaz de perdoar o próximo quem, de fato, faz a experiência de sentir-se perdoado por Deus. Pelo contrário, quem se mostra inflexível e incapaz de perdoar, dá mostras de não reconhecer o quanto foi perdoado por Deus. A insensibilidade em relação ao dom recebido de Deus torna impossível a concessão de perdão ao próximo. A simples consciência da imensidade do perdão recebido de Deus deveria ser suficiente para motivar as pessoas e perdoar. A parábola do servo cruel está centrada neste tema. Quando se tratou de ser perdoado pelo rei que lhe havia emprestado uma quantia enorme de dinheiro, e não tinha com que pagar, o servo suplicou-lhe clemência e tempo. Comovido, o rei deixou-o partir, perdoando-lhes toda a dívida. Logo em seguida, porém, ao encontrar um companheiro que lhe devia uma quantia irrisória, foi incapaz de sensibilizar-se quando este lhe pediu tempo e clemência para quitar seu débito. E mandou aprisiona-lo. O rei ficou indignado. Parecia-lhe evidente que, assim como o servo havia sido objeto de compaixão, tendo recebido o perdão de sua dívida, o mesmo deveria ter feito com seu companheiro. Por conseguinte, a falta de compaixão para como o próximo impede que se faça a experiência da compaixão de Deus. Deus perdoa a quem está disposto a perdoar. – Pai, torna-me sempre disposto a perdoar meu próximo, pois só assim poderei experimentar o teu perdão (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 13 de março de 2023

(2Rs 5,1-15; Sl 41[42]; Lc 4,24-30) 

3ª Semana da Quaresma.

“Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou seu caminho” Lc 4,30.

“Jesus preferiu tornar-se antipático a ceder um mínimo sequer em sua doutrina salvadora; mais ainda: disse-lhes que são menos dignos de sua atenção do que os próprios pagãos e repreende-lhes severamente a falta de fé, embora soubesse que isso teria de despertar ódio em seus corações. Muitas vezes, você encontrará oposição ao seu apostolado. Você não deve desistir nem desanimar, mas sim deve insistir com imensa caridade, mas com firmeza, pedindo auxílio da divina graça que nunca lhe faltará. O apóstolo que por covardia não realizasse sua ação apostólica e não proclamasse firmemente o querigma de Jesus, onde quer que se encontre, será um traidor da própria missão. Reconfortantes são as palavras do profeta: ‘Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a libertação’ (Isaías 52,7) - Vivência: Neste evangelho, vemos o insucesso de Jesus em sua missão profética. Humanamente falando, Jesus fracassou entre os seus. Também você, como apóstolo do Senhor, fracassará em algumas ocasiões, e talvez o fracasso seja, em determinados momentos, condição indispensável para o êxito de sua missão. De qualquer maneira, o exemplo de Jesus deve ensinar-nos a saber fracassar e a não desanimar por causa do fracasso. Não tema o fracasso do apostolado, que em não poucas ocasiões é a força para que a semente germine. Tenha, sim, medo do fracasso do apóstolo, quando ele não cumpriu devidamente sua missão” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

3º Domingo da Quaresma – Ano A

(Ex 17,3-7; Sl 94[95]; Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42)

1. Esse encontro de Jesus, à margem de um poço, traz a marca do cotidiano. Nada foi programado. Tudo acontece num modo espontâneo e ao mesmo tempo surpreendente. Jesus para por um momento, não tem a intenção de converter ninguém, apenas está cansado, sob um sol forte, tem fome e sede.

2. A mulher chega até o poço, não porque foi informada da passagem de um famoso ‘mestre’ da Galileia, mas porque precisa de água. Seu problema é água e não os pecados. O único insólito aqui é o horário. Meio dia, no Oriente Médio, um calor insuportável. As pessoas preferem estar em casa.

3. Mas no desenrolar da narrativa percebemos que sua ida ao poço nesse horário é estratégico. Quer evitar a maledicência dos que reprovam seu estilo de vida. Vejamos um pouco mais de perto os protagonistas desse encontro.

4. Primeiro está Jesus, que não hesita em infringir as barreiras e romper certos esquemas codificados em séculos de discriminação. Se já não era recomendável a um mestre interpelar uma mulher na rua, e particularmente aquela, ainda mais discutir teologia e responder às suas perguntas. Seu comportamento é escandaloso para seus contemporâneos.

5. Paradoxal é o fato de que ele, portador do dom da ‘água viva’, aquela que extingue para sempre a sede, comece seu diálogo pedindo água àquela mulher, que se finge surpresa. E aqui nos damos conta que Cristo, antes de nos conceder seu dom, está sempre nos pedindo algo. Nos pede um distanciamento, uma privação, um sacrifício, uma renúncia.

6. Ele se faz de mendicante, como se jogasse conosco. E se nos mostramos avarentos, demasiados presos às nossas coisas, calculadores na oferta, nos privamos dos seus maiores dons...

7. Já a mulher demonstra certa esperteza, tem um certo conhecimento da questão teológica que separava hebreus e samaritanos. E logo intui que aquele encontro porta certo perigo. Aquele homem não é como os outros. E busca logo evadir-se, desviar o discurso para não chegar ao cerne da verdadeira questão.

8. Temos a impressão que durante o diálogo ela se sinta cerceada e tente de várias formas escapar desse cerco que a leva sempre mais próxima. Percebendo sua estratégia, Jesus chega ao verdadeiro problema: ela não tem marido. A questão verdadeira não diz respeito sobre o onde adorar a Deus.

9. Quantas vezes nós não embarcamos em discussões acaloradas e intermináveis sobre temas atuais, somente para não enfrentar as questões verdadeiramente desafiadoras? Jesus barra seu passo, para evitar sua fuga. Ela não sabe mais para onde ir e tenta escapar falando da vinda do Messias. Dá razão a Jesus, mas parece esperar um outro.

10. Ela se dá conta que deve mudar seu estilo de vida, mas prefere deixar para depois. Esperar condições mais favoráveis. E para bloquear sua tentativa de fuga, Jesus se revela como o Messias esperado. Ele mesmo, que sabe esperar, que não tem pressa, mas quando surge o momento oportuno, não suporta hesitações.

11. Numa última imagem, ela deixa o vaso e corre a falar aos conhecidos sobre seu encontro, num testemunho bastante simples, insinuando uma dúvida, como quem solicita que cada um coloque-se a caminho. Não pretende convencer ninguém. Os discípulos chegam com o alimento, mas Jesus não o deseja mais. Um vaso fica abandonado.

12. E assim temos esses sinais inconfundíveis do encontro que não deixa as coisas como estavam. Aquela mulher que percebera onde ia dar aquela conversa, agora se coloca a conjugar, até as últimas consequenciais, o verbo mudar. Um verbo incômodo, que nos obriga a deixar coisas que antes achávamos essenciais, e dar-se conta do que até então deixamos de lado. Um verbo exigente, que ama a companhia de um advérbio: ‘agora’, já.


3º Domingo da Quaresma - Campanha da Fraternidade 2023 – Texto Base

A fome é um instinto natural e poderoso de sobrevivência presente em todos os seres vivos, é um presente do Criador para a preservação da vida. “É um fenômeno biológico que aciona uma sensação passageira de desconforto, um sinal breve do corpo, que indica a hora de comer” (Ação da Cidadania. Agenda Betinho 2022, p. 19). Toda criatura tem necessidade de alimentar-se para proporcionar seu próprio desenvolvimento e para manter-se viva o maior tempo possível. Isso vale também para o ser humano, sempre empenhado com a necessidade básica do alimento. Em nossos dias, para muitas populações pobres, a questão alimentar assume aspectos dramáticos, devido a imensas catástrofes naturais, e, sobretudo, devido a violências e desigualdades implantadas por prepotentes” (Pontifícia Comissão Bíblica. O que é o homem? Um itinerário de Antropologia Bíblica. Brasília: Edições CNBB, 2022, n. 76). Na sociedade humana, a fome é uma tragédia, um escândalo, é a negação da própria existência. “Na verdade, o alimento para o ser humano não constitui somente uma necessidade natural, mas representa ainda um fator cultural, porque é veículo de relações entre pessoas, é um princípio de aliança e de comunhão” (ibidem, n. 77).

Afirmou o Papa Francisco, nas comemorações dos 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO): “Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte, é provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento dos conflitos em várias regiões do planeta. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Diante desta realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis”

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 11 de março de 2023

(Mq 7,14-15.18-20; Sl 102[103]; Lc 15,1-3.11-32) 

2ª Semana da Quaresma.

“Então Jesus contou-lhes esta parábola: ‘Um homem tinha dois filhos...’” Lc 15,3.11.

“A mais bela parábola contada por Lucas é, sem dúvida, a do filho pródigo. Ela já recebeu inúmeras interpretações. Isso mostra que o texto mexe com o leitor. Contra uma parábola, de fato, é mais do que proclamar uma verdade teológica. As parábolas não pretendem nem informar nem provar – querem nos obrigar a tomar posição. Os filólogos falam em ‘comunicação persuasiva’. Quando Jesus conta uma parábola, ele põe algo em movimento dentro do ouvinte. Não podemos ler a parábola do filho pródigo, da maneira como Lucas a relata, sem que dentro de nós se inicie um processo de mudança. O filho mais novo e o filho mais velho nos colocam diante da pergunta: ‘Onde é que eu estou? Pareço com o mais novo ou com o mais velho? Ou com ambos? Será que conheço bem esses dois lados dentro de mim?’. O tema dos dois irmãos aponta exatamente para a polaridade interna da nossa alma. Temos dentro de nós o filho mais novo, que gostaria de viver, simplesmente, sem olhar para leis e medidas. E temos dentro de nós o irmão mais velho, o bem-comportado, que se esforça para obedecer a todos os mandamentos. Deveríamos olhar para ambos os lados, e ligar entre si os dois polos opostos dentro de nós. A parábola não levanta o dedo moralizante, mandando que me converta e faça penitência. Não, Lucas narra a parábola de Jesus de tal maneira que não posso deixar de me fazer estas perguntas: ‘Onde é que me obstinei? Onde é que me alimentei com coisas vis? Será que me perdi?’ Enquanto leio a parábola, meu coração me incita a voltar para o pai, para lá onde estou realmente em casa” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de março de 2023

(Gn 37,3-4.12-13.17-28; Sl 104[105]; Mt 21,33-43.45-46) 

2ª Semana da Quaresma.

“Então Jesus lhes disse: ‘Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’?” Mt 21,42.

“Na parábola de Mateus, nós podemos antecipar o que acontecerá com Jesus na sua paixão e morte. Mateus narra nesse evangelho a postura das autoridades, contando a atitude dos vinhateiros homicidas. Antes de tudo, podemos perceber que os sacerdotes e anciãos, as maiores autoridades, estão presentes e percebem na hora que Jesus lhes fazia a maior acusação. [...] Mateus retoma historicamente processo vivido pelos profetas até chegar em Jesus. Os dois grupos de empregados, enviados para receber o que era de direito do dono da vinha, simbolizam os profetas antes e depois do exílio da Babilônia. Ele retoma o passado e projeta no presente para torna-lo compreensivo. As autoridades que mandaram matar Jesus deram a sentença para si própria, pois a parábola nos revela um espelho para as pessoas se verem, reconhecerem e dizerem o que elas merecem (2Sm 11,12). Jesus é o Filho de Deus, e d’Ele nascerá um novo povo. Uma nova vinha, onde cada trabalhador é respeitado e digno. É dele que sairá o povo justo, aberto para todos aqueles que desejarem tornar a justiça o fundamento de um mundo novo, onde todos poderão gozar da liberdade e vida, na fraternidade e na partilha. Pedra perigosa para os injustos, mas libertadora para os filhos e filhas de Deus” (Marcelo dos Santos – Sob a Luz do Evangelho – A Partilha).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 09 de março de 2023

(Jr 17,5-10; Sl 01; Lc 16,19-31) 

2ª Semana da Quaresma.

“Isto diz o Senhor: ‘Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana,

enquanto seu coração se afasta do Senhor’” Jr 17,5.

“Fazendo eco de ideias extraídas dos Salmos (‘Não coloqueis a segurança nos poderosos, num homem que não pode salvar!’: Sl 146,3; cf. também Sl 34,18; 84), Jeremias compara duas sortes: a de quem confia em si mesmo e que leva à falência, e a de quem confia no Senhor, verdejante como a árvore que estende suas raízes ao longo de um curso de água. Somente Deus conhece os pensamentos do homem e sabe distinguir em profundidade entre esses dois projetos; por isso dará a cada um segundo o fruto de suas ações. O oráculo de Jeremias repete o tema sapiencial dos ‘dois caminhos’ (cf. Dt 30,15-20; Sl 01; Pr 4,18-19). Está centrado na oposição entre as falsas seguranças e as autênticas, tema já presente em Jr 2,18-19 (cf. Is 30,15; 31,1-13), onde o profeta tinha acusado Israel de ter abandonado a Deus para correr atrás do Egito e da Assíria. Nesse trecho, eram as ‘águas’ (o Nilo e o Eufrates) que constituíam o polo de atração; agora, é amarga certeza de que quem rejeita confiar no Senhor, foge da água que poderia saciar. Este poderia ser sólido como a árvore plantada nas margens de um rio, que não teme o clima, e ao contrário é como um cego: ‘Nem percebe quando chega a felicidade’ (v. 17b). A consequência fatal é a morte, por causa dos lugares áridos em que escolheu viver. O texto termina com uma breve instrução sobre o coração (literalmente ‘os pensamentos’) do homem sobre a capacidade do Senhor em perscrutar a mente e examinar os corações (literalmente ‘o coração e os rins’): Ele julgará e dará ao homem o fruto de suas ações” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 08 de março de 2023

(Jr 18,18-20; Sl 30[31]; Mt 20,17-28) 

2ª Semana da Quaresma.

“Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” Mt 20,28.

“Apesar do testemunho de Jesus, os discípulos estavam aferrados aos esquemas mundanos, mostrando-se pouco sensíveis aos ensinamentos do Mestre. O intento dos filhos de Zebedeu foi uma prova disto. Fazendo ouvido de mercador, quando Jesus revelou seu destino de sofrimento e morte, estavam preocupados em garantir para si os melhores lugares no Reino a ser instaurado. Bem se vê que estavam longe de sintonizar com o Reino anunciado por Jesus, pois imaginavam um reino onde os chefes se tornam tiranos, e os grandes se tornam opressores, por estarem revestidos de autoridade. No Reino almejado por Jesus, a grandeza consiste em pôr-se ao serviço do semelhante, de maneira despretensiosa, e o primeiro lugar será ocupado por quem se dispusera assumir a condição de servo. A tirania cede lugar ao serviço, e a opressão transforma-se em amor eficaz em benefício do próximo. Bastava contemplar o modo de proceder do Mestre Jesus que se autodenomina ‘Filho do Homem’. Jamais buscara ser servido, como se a condição de enviado do Pai lhe desse esse direito; tampouco teve a arrogância de se considerar superior a quem quer que seja. Manteve sempre sua postura de servo, consciente da missão recebida do Pai, a ponto de entregar a sua própria vida para que toda a humanidade obtivesse salvação. Dera o exemplo no qual os discípulos deviam inspirar-se. – Pai, transforma-se em servidor de meus semelhantes, fazendo-me sempre pronto a doar minha vida para que o teu amor chegue até eles (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 07 de março de 2023

(Is 1,10.16-20; Sl 49[50]; Mt 23,1-12) 

2ª Semana da Quaresma.

“Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, deveis observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam” Mt 23,2-3.

“Jesus confirma a autoridade dos escribas e fariseus. O que eles ensinam está perfeitamente correto. Mas ele os acusa de não mexerem um dedo sequer ‘para remover os fardos’ (não ‘tocá-los’ ou não ‘movê-los’, como dizem algumas traduções). Nada fazem para interpretar a lei de maneira que não se torne um peso desnecessário para os homens. No fundo, eles não se interessam pelas pessoas, porque não dividem a sua vida com elas, colocando-se antes acima delas. Esse perigo não existia só naquele tempo, para os fariseus, ele existe também para qualquer exegeta e teólogo, para qualquer agente pastoral. Jesus nos admoesta a verificar se em nossa pregação estamos realmente atentos às preocupações e necessidades das pessoas, ou se nos satisfazemos com uma teologia abstrata e com regras morais exageradas que não fazem jus ao ser humano. Jesus quer uma teologia misericordiosa que não despreze o ser humano, uma moral misericordiosa que não escravize nem provoque uma consciência pesada” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 06 de março de 2023

(Dn 9,4-10; 78[79]; Lc 6,36-38) 

2ª Semana da Quaresma.

“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoado” Lc 6,37.

“Jesus proíbe-nos antes de tudo o julgamento temerário, que consiste em julgar mal o próximo sem o devido fundamento, e Jesus nos proíbe os julgamentos temerários, porque conhece perfeitamente que somos naturalmente propensos a julgar os outros e julgá-los com excessiva severidade. Julgando severamente nosso próximo, fechamos a nós mesmos o caminho da misericórdia de Deus. Nunca temos o direito de julgar mal os outros, porque não conhecemos sua intimidade, sua forma de pensar e sentir, suas motivações, nem seu grau de responsabilidade em cada uma de suas ações. Por outro lado, é ridículo jogar na cara dos outros suas faltas, quando nós as temos talvez maiores. Pode ser que outros cometam faltas que você não comete; nem por isso você pode orgulhar-se, nem se deve sentir autorizado para criticá-los e julgá-los, visto que, se não fosse pela graça de Deus, você cometeria faltas muito maiores. O juízo das intenções humanas é reservado a Deus. O homem não pode usurpar de Deus o que é exclusivo da divindade. Por isso Jesus é tão exigente: ‘Não julgueis, e não sereis julgados’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo da Quaresma – Ano A

(Gn 12,1-4; Sl 32[33]; 2Tm 1,8-10; Mt 17,1-9)

1. O episódio da Transfiguração se dá logo depois do primeiro anúncio da Paixão por parte de Jesus. Esse programa de viagem em direção a Jerusalém, em direção à cruz, deixa os discípulos sem fôlego. Eles reconheceram quem é Jesus, enquanto Messias, mas encontram estrema dificuldade em seguir sua estrada.

2. Este que foi ‘enviado pelo Pai’, segundo eles, deveria fazer uma viagem triunfal, mas Jesus desmonta seus esquemas mentais. É nesse contexto de medo, incerteza e dúvida que Jesus insere uma ‘pausa luminosa’. Para ajuda-los a superar o escândalo da Cruz, antecipa-lhes algo da luz futura, da ressurreição.

3. Essa compreensão está na base da intepretação desse texto do 2º domingo quaresmal. Mas vamos recolher, da riqueza desse episódio, alguns elementos significativos para nossa aventura cristã.

4. O primeiro elemento é o mistério de Cristo. Um mistério, que por assim dizer, tem duas faces: uma luminosa e outra obscura: cruz e glória, descida e exaltação, fraqueza e força, fracasso e triunfo. Toda a pedagogia de Jesus em relação aos discípulos consistia em fazê-los aceitar a ‘passagem’ obrigatória.

5. Essa ‘passagem’ à glória se dá através da cruz, à luz da páscoa através das trevas da Sexta Santa. Mesmo pra nós, é necessário admiti-lo honestamente, é difícil aceitar esta ‘passagem’. Somos de acordo quanto ao fim, mas gostaríamos de propor um outro caminho.

6. Difícil digerir essa sabedoria de Deus que se manifesta na cruz, essa fragilidade como ‘lugar’ onde se manifesta a força de Deus. O mistério de Cristo deve ser acolhido em sua totalidade desconcertante. Não é lícito escolher a ‘face’ mais simpática, que corresponde ao nosso gosto, abandonando a outra.

7. Esses três que contemplam o mistério do Cristo luminoso, são os mesmos três que são chamados a participar com Ele da dramática manifestação do Getsêmani, contemplando-o envolto na obscuridade, presa do medo e da angústia, na solidão angustiante. O cristão sabe reconhecer as duas realidades.

8. Temos o simbolismo da montanha, lugar da aproximação de Deus, onde Ele se revela. Moisés e Elias bem o sabem. Ela é símbolo dessa necessidade de tomar distância- uma distância interior – do nosso cotidiano, da nossa agitação, do barulho, para experimentar a paz da oração, do silêncio, para reencontrar-nos com nós mesmos e perceber a voz que nos interpela.

9. A voz é o ponto culminante dessa narrativa da Transfiguração, não o esplendor que envolve Jesus. Essa mesma voz que se ouviu no Batismo e se ouvirá na vigília da Paixão. Uma voz que exprime a investidura do alto, o reconhecimento da parte do Pai. ‘Escutai-o’.

10. O discípulo não é alguém da visão, mas da escuta. Não se trata tanto de ver, de tocar o Senhor. O essencial é escutar sua voz, tomar seriamente sua mensagem, deixar-se questionar por suas palavras. Escutar não para saber mais, para satisfazer a curiosidade, mas para obedecer, tomar consciência do próprio papel em Deus e no mundo. Toda transformação é fruto de uma escuta contínua da Palavra.

11. Sabemos que a tenda, pensada por Pedro, exprime dois equívocos: uma espécie de tentativa de ‘segurar’ a Cristo, apropriar-se egoisticamente, limitá-lo em sua missão que findará na cruz. O outro é confundir a pausa com o final. Prologar ao infinito algo que deve servir para colocar-nos a caminho.

12. É bom estarmos aqui. Mas viemos para retornar. Já nos demos conta que nossa fé é uma mistura de luz e obscuridade. De certezas e dúvidas. De consolação e temor. De paz e de asperezas. Sim, precisamos subir à montanha, tanto quanto precisamos da coragem de voltar.

13. Buscamos a luz porque não estamos satisfeitos com nossa própria face. Precisamos refazê-la à luz do rosto de Deus. Para eliminar os sinais do medo, do egoísmo, da preguiça, da indiferença, da dureza, do orgulho.... Queremos ser restaurados, e voltar. Muitos esperam pela nossa restauração. Mas não a buscamos tanto por eles, mas por nós mesmos.

 

2º Domingo da Quaresma – Campanha da Fraternidade 2023 (Texto Base)

                Ao falar da vida eterna, Jesus utilizou a imagem do banquete (Mt 22,2), mostrando-nos que o desejo do banquete eterno deve se traduzir em atitude de compromisso com uma sociedade em que o alimento esteja em todas as mesas. Jesus teve compaixão da multidão faminta (Mt 14,14-21). Embora os discípulos apontassem a solução de deixar o problema nas mãos de quem corria o risco da fome, Jesus abre os olhos e os corações destes mesmos discípulos para que não se justifiquem diante da impossibilidade, mas compreendam que a mudança da realidade começa com eles, em escuta ao Senhor, que lhes ordena darem, eles mesmos, à multidão, o que comer. Jesus indica outra maneira de compreender as interpelações que a vida nos traz. Ultrapassando a lógica imediata, Ele aponta para a necessidade de agir conjuntamente, ainda que as dificuldades sejam grandes e os recursos pequenos. Quando acolhemos o mandamento do Senhor, nosso modo de compreender os desafios torna-se outro e o resultado é infinitamente maior.

                Que, portanto, esta Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que nosso jejum abra nosso coração aos irmãos e irmãs que sofrem com a fome. Que nossa solidariedade seja intensificada. Que saibamos encontrar soluções criativas para a superação da fome, seja no nível imediato, assistencial, seja no nível de toda sociedade. Que efetivamente se cumpra a responsabilidade dos governantes, em seus diversos níveis, concretizando políticas públicas, principalmente as de estado, que atinjam a raiz deste vergonhoso flagelo, garantindo não apenas a produção de alimentos, mas também que eles cheguem a cada pessoa, em especial as mais fragilizadas. Que o Senhor Jesus nos possa dizer: “Vinde, benditos de meu Pai, eu estava com fome, e me deste de comer; todas as vezes que fizeste isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que fizeste!” (Mt 25,34.40).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 04 de março de 2023

(Dt 26,16-19; Sl 118[119]; Mt 5,43-48) 1ª Semana da Quaresma.

“Eu, porém, vos digo, amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” Mt 5,44.

“A expressão ‘odiarás o teu inimigo’ é um hebraísmo ao qual não se deve dar toda força que tem na tradução portuguesa; simplesmente poder-se-ia traduzir-se por ‘não tens motivo para amar teu inimigo’. Jesus aperfeiçoa a lei com o seu preceito do amor ao próximo: amigo ou inimigo. O discípulo de Jesus deve amar o inimigo e deve orar por ele, vendo um irmão até naquele que o maltrata e o persegue. Existem pessoas que nunca conseguem esquecer totalmente as ofensas recebidas, e existem pessoas que nunca se apercebem de que foram ofendidas. As primeiras não sabem o á-bê-cê do evangelho, porque Jesus não só diz que perdoemos os que nos ofendem, mas que também os amemos e lhes desejemos o bem. E isto, por difícil que pareça e possa chegar a ser em determinadas circunstâncias, é um preceito do Evangelho e um mandamento obrigatório do divino Mestre” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite