Segunda, 01 de junho de 2020

(At 1,12-14; Sl 86[87]; Jo 19,25-34) 

Maria, mãe da Igreja.

“Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena”

Jo 19,25.

“Não são apenas os quatro soldados que estão junto da cruz, estão lá também quatro mulheres. Enquanto faltam todos os homens, exceto o discípulo que Jesus amava, perseveram com Jesus as mulheres. Elas permanecem firmes. Mostram que estão ao lado de Jesus. As quatro mulheres simbolizam o mundo que aceita Jesus. Com essa imagem, João renova a afirmação que encontramos no prólogo: ‘Mas aos que o receberam, aos que creem em seu nome, ele deu o poder de se tronarem filhos de Deus’ (1,12). Podemos ver nas quatro mulheres também um símbolo do fato de estarmos abertos para o mistério de Jesus justamente pelo de nossa anima, enquanto o nosso lado masculino muitas vezes se mostra cego para a verdade mais profunda revelada por Jesus. Mas há um homem que persevera debaixo da cruz: é o discípulo que Jesus amava. O amor de Jesus o transformou a tal ponto que continua presente também no ato da consumação da cruz. É ele a testemunha de que Jesus foi erguido na cruz. Nele é o próprio Jesus que está presente entre os homens. Depois da morte de Jesus, cabe a ele levar adiante o testemunho que Jesus deu diante do mundo inteiro. Todos os biblistas concordam na natureza simbólica da cena em que Jesus recomenda sua mãe ao discípulo amado como filho e o discípulo a Maria como mãe. Mas qual seria o sentido desse simbolismo? Uns acham que Maria é a imagem da comunidade judaica, e o discípulo amado a imagem da comunidade formada a partir dos pagãos. Outros veem em Maria o símbolo da família de Jesus, que passa a caminhar junto com a comunidade dos discípulos. O teólogo americano Raymond E. Brown pensa que Jesus valoriza na cruz a posição de Maria a tal ponto ‘que a sua autoridade na comunidade joanina ficou igual à dos apóstolos masculinos’ (SANFORD, 1077, p. 71, v. 1). Podemos ver nessa cena também a união dos contrários. O homem é recomendado à mulher e a mulher ao homem. O homem deve acolher a mulher em sua casa. O texto gero diz: ‘eis ta idia’, isto é, no que é seu (19,27). Na cruz, os opostos são unificados: Deus e o ser humano, o homem e a mulher, judeus e pagãos” (Anselm Grum – Jesus, Porta para Vida – Loyola).

 

Santo do Dia:

São Justino, mártir. Nascido em Flávia Neápolis na Samaria, no início do século II. Considerado um pensador cristão, o itinerário da sua conversão a Cristo passa pela experiência estoica, pitagórica, aristotélica e neoplatônica. Daí o desenlace quase inevitável ou melhor providencial e a adesão à verdade integral do cristianismo. Tinha trinta anos quando descobriu o cristianismo e para propagar suas ideias escreveu duas Apologias e outras obras. Por ocasião de sua ida a Roma, foi denunciado por um hipócrita e cínico filósofo, com quem havia disputado por muito tempo. Também o magistrado que o julgou era um filósofo estoico, amigo e confidente de Marco Aurélio. Mas para o magistrado, Justino não passava de um simples cristão, igual aos seus seis companheiros, entre os quais uma mulher, todos condenados à decapitação pela sua fé em Cristo. Do martírio de são Justino e companheiros se conservam as Atas autênticas.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Pentecostes (2020)

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3-7.12-13; Jo 20,19-23).

1. De tempos em tempos, a solenidade de Pentecostes coincide com a festa da Visitação de N. Senhora, onde muitas comunidades fazem também a coroação da imagem da Virgem no encerramento do mês de maio. Pois bem, é com ela que nos recolhemos em oração, com os apóstolos, para acolher o Espírito Santo, fonte de vida e guia no caminho.

2. Era lugar comum dizer que o Espírito Santo era o grande desconhecido ou esquecido; assim iniciava o curso meu professor de pneumatologia. Eu diria, hoje, que Ele se aproxima sempre mais do centro da nossa vida cristã, na tomada de consciência de Quem tudo conduz para a realização da vontade divina.

3. É claro que não chegamos à plenitude do conhecimento, nem nos será possível sem aquele ‘face a face’ da vida eterna, mas há um esforço sempre maior em mergulhar no ‘oceano do Espírito’ vasculhando as suas imagens simbólicas quando percebemos que nos falta um vocabulário e definições mais precisas.

4. As imagens que brotam no Antigo e Novo Testamento O colocam constantemente em saída, agindo, seja no mistério de Jesus, da Sua encarnação até a Sua ressurreição, ou mesmo como braço de Deus que opera maravilhas na vida de cada pessoa, na Criação que se renova, na vida das comunidades e dos seus membros.

5. Se o Espírito é ‘resultado’ desse amor que se movimenta entre o Pai e o Filho como expressão de comunhão, de unidade, a vinda e a vida do Espírito sobre nós e em nós quer ‘operar’ essa mesma comunhão e unidade como expressão de nossa fé em Jesus e nosso reconhecimento como filhos e filhas de Deus.

6. Quem bem sabe disso é a Virgem Maria em sua relação com o mistério Trinitário. Não é à toa que muitas imagens da coroação da Virgem se dá num contexto das três Pessoas divinas que a ‘envolvem num abraço’.

7. Assim, depois do retorno de Jesus ao seio do Pai, passamos a viver o tempo do Espírito, que impulsiona a Igreja em sua ação evangelizadora. Assim lemos de novo, o nascimento da Igreja, na compreensão de alguns, a partir do evento de Pentecostes. Uma nova linguagem é capaz de restaurar a unidade perdida.

8. A chama de Pentecostes jamais se apagou dentro e fora da Igreja. Só os tempos que mudaram e os carismas são outros para novos tempos. Não falta testemunho de Sua ação nas novas configurações que a Igreja, em suas comunidades de fé, foi assumindo para levar adiante  a fé em Jesus e em Sua presença santificadora e libertadora.

9. Quão espetacular é a ação do Espírito na vida dos crentes de um modo geral. Homens e mulheres são movidos a um testemunho por vezes silencioso da fé que os leva a uma vida quase heroica nas diversas relações que a vida exige como expressão do amor em seus corações abertos à ação de Deus.

10. Ampliemos o nosso horizonte de percepção da ação do Espírito no mundo ao nosso redor. Homens e mulheres buscam manter acesa a esperança humana colocando ao serviço de todos seu talento, energias, tempo e vida em busca de um mundo mais justo, defendendo a dignidade humana, o desenvolvimento pleno, à ecologia e vivendo a fraternidade. Nada disso pode passar despercebido, pois o ‘Espírito sopra onde quer’, reflexo do próprio amor de Jesus pela humanidade.

“A nossa oração comunitária e pessoal, Pai de todos, é da glorificação, ação de graças, louvor e alegria pelos sinais da presença do teu Espírito no mundo. Perdoa, Senhor a nossa ineficácia de cristãos covardes, e dá-nos a força do teu Espírito para anunciar Cristo, hoje, como esperança da humanidade e verdade que vence a mentira, como paz e liberdade que fundamenta a dignidade humana, como vida que supera a morte, o desamor e a opressão, como amor e fraternidade que derrotam o ódio e a violência, como única libertação, capaz de criar pessoas livres que amam. Vem, Espírito divino! Enche os corações dos teus fiéis e acende neles o fogo perene do teu amor. Amém” 

Pe. João Bosco Vieira Leite 


Sábado, 30 de maio de 2020

(At 28,16-20.30-31; Sl 10[11]; Jo 21,20-25) 

7ª Semana da Páscoa.

“Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: ‘Senhor, o que vai ser deste?’” Jo 21,21.

“Tendo partido com o Senhor e vendo que o seu amigo os seguia, perguntou a Jesus qual seria o futuro do seu jovem amigo. Jesus responde de modo enigmático, que deve ter sido acompanhado de um sorriso, lançado como amável desafio. Ele? Se Eu não quiser que ele deixe de viver? Era a predição de uma grande longevidade. Repetida aos discípulos, as palavras de Jesus foram tomadas à letra; com o tempo e à medida que a predição se realizava, semelhante interpretação poderia tornar-se perigosa; João pretende remediá-la com aquele seu ‘correu o boato’. Sendo muito velho, o único sobrevivente do Colégio Apostólico, conhecido e respeitado em todas as Igrejas, havia o perigo de ser imortal. Além disso, poderia ser considerado por muitos como um anúncio vivo da próxima Parusia: em certos meios, os espíritos estavam muito excitados por esta expectativa; a longevida de João podia contribuir para exercitar e levar ao erro estes espíritos que ligavam, nas palavras do Senhor, esta longevidade à ideia da grande volta. Finalmente, uma vez entrados neste caminho, os cristãos podiam prestar a João um culto supersticioso; este último desvio era aos olhos do Apóstolo o pior de todos: João não quer que se enganem a este ponto. Por isso, ele esclarece as palavras que foram ditas. E tão bem o fez que à sua morte, ninguém estranhou ou foi tentado a cortar aquelas palavras do evangelho. João respeita o enigma, pois veio do Senhor, mas refuta a lenda segundo a qual o discípulo amado não devia morrer ou devia sobreviver até à Parusia. O Senhor virá, sem a menor dúvida” (P. R. Bernard – O Mistério de Jesus – Livraria Sampedro Editora). 

 

Santo do Dia:

Santa Joana D’Arc, virgem. Nascida em 1412 de uma família camponesa de Domrémy no nordeste da França. Morreu aos 19 anos em 30 de maio de 1431. Aos treze anos alegava receber visões divinas do arcanjo Miguel, de Santa Margarida e da Santa Catarina, que a instruíram a ajudar as forças de Carlos VII e livrar a França do domínio da Inglaterra.  Entre todas as histórias dos santos a de Joana D’Arc está sem dúvida entre as mais extraordinárias e incríveis: uma jovem camponesa e inculta, à frente de um exército derrota um poderoso exército, vence os fortes, coroa um rei e acaba morrendo numa fogueira, tudo isso num período de dois anos. Acontecimentos conexos com a história de uma nação inteira, com um colorido de fortes tintas patrióticas e místicas.  Foi canonizada em 1920. É atualmente uma das nove padroeiras da França. Ela permanece uma figura popular no país e no mundo, sendo retratada em inúmeras peças de literatura, pinturas, esculturas e outras formas de arte.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 29 de maio de 2020

(At 25,13-21; 102[103]; Jo 2, 15-19) 

7ª Semana da Páscoa.

“... e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais que estes?”

Jo 21,15a.

“Nada é grave senão perder o amor. Descobrir uma intimidade com Deus... Contemplá-lo também no rosto do homem... Devolver fisionomia humana ao homem desfigurado... eis uma única e mesma luta: a do amor. Sem amor, para que a fé? Para que chegar a queimar nossos corpos nas chamas? Nas nossas lutas, não, nada é grave a não ser perder o amor. [...] Ninguém decide assim dar a vida, por prazer, nem mesmo por dever. Deixa-se toma-la; plenamente engajado, por um ideal ou por uma fé, ela nos escapa por si mesma, pouco a pouco. Minha fé é que o Cristo ressuscita hoje em todo homem que sofre, em toda situação de opressão e que é vivendo o amor com que o Cristo amou que podemos transformar o nosso mundo. Dar minha vida, deixa-la tomar, isto tem sido e é, dia após dia, através das tentativas da oração e da ação, reconhecer que o Cristo é o centro de minha vida e eu não posso mais viver fora do amor. Isso não me levou a pregar nas praças públicas nem a qualquer ato extraordinário, mas meu modo de ver, de situar-me e de reagir em relação às coisas, aos homens e aos acontecimentos, transformou-se. Amar é não desesperar de uma pessoa ou de uma situação, é contemplar com um olhar que não condena nem rejeita ninguém. Para mim, a contemplação é isto. Viver minha vida cotidiana com esta atitude interior de confiança, de esperança, voltada para o amor do Cristo; é olhar minha vida, o mundo, com amor, eu diria quase com ternura, sobretudo nos conflitos. Esta atitude é o contrário de uma observação neutra, desengajada. Ela me leva sempre a saber mais quem sou, o que penso, o que quero, para ser capaz de amar o outro como ele é; é um olhar contemplativo para viver com um coração reconciliado nessa luta para o amor” (R. Schhutz – Carta de Taizé [outubro de 1973) – Ed. Beneditina Ltda.).

 

Santo do Dia:

Santa Maria Madalena de Pazzi, virgem. Nascida com o nome de Catarina em 1566, adotou o nome de Maria Madalena em sua profissão religiosa; pertencia a uma das famílias mais importantes de Florença. Desde pequenina mostrava-se mais inclinada à devoção que à vida divertida do seu tempo.  Teve de fato o privilégio, até então raro, de fazer a primeira comunhão com a idade de dez anos. Entrou aos dezoitos anos no mais austero convento florentino, o das carmelitas. Participou da situação histórica e social do seu tempo escrevendo cartas muito corajosas ao papa, aos cardeais, aos bispos e aos príncipes, apontando as causas dos males que afligiam a Igreja na deficiência dos cristãos e de seus pastores. Além desse seu papel, teve um lado extraordinário da santa, associada à paixão de Cristo com os estigmas e outros fenômenos místicos como as visões, os êxtases, os raptos, durante os quais tratava de árduas questões teológicas. Três coirmãs, encarregadas pelo diretor espiritual, transcreviam as revelações da irmã Maria Madalena. O livro, intitulado ‘Contemplações’ e redigido de modo excepcional, é considerado um importante tratado de teologia mística, e ao mesmo tempo nos revela o itinerário espiritual da santa, que também foi marcado pela dor física, martirizada no corpo por úlceras dolorosíssimas. Morreu a 25 de maio de 1607, no convento de santa Maria dos Anjos, em Florença. Foi canonizada em 1669. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 28 de maio de 2020

(At 22,30; 23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 

7ª Semana da Páscoa.

“Eu lhes fiz conhecer o teu nome e o tornarei conhecido ainda mais, para que o amor com que me amaste esteja neles e eu mesmo esteja nele” Jo 17,26.

“O Cap. 17 do Evangelho de João apresenta um grande discurso de despedida de Jesus, uma verdadeira oração por todos nós, a partir dos discípulos e de seus seguidores. A perspectiva não é a separação, ou de que tudo iria acabar, mas Jesus mantém um tom de esperança, de quem acredita que a consumação necessária garantirá a comunhão de todos, com o Pai, por Ele, no Espírito Santo. Os discípulos não entendem o que se aproxima. Como poderiam? Até Jesus tem medo, humanamente anseia por evitar o sofrimento. Mas jamais pensa em desistir, jamais deixa o medo ser a referência. O critério de seu agir é o amor, gratuito, pleno e concreto, que gera serviço e doação. É justamente nesse amor que nos é garantida a comunhão com Deus, é justamente esse amor que supera a separação, e que aproxima, que une. Para todo aquele que conhece Jesus Cristo, o amor tem de se tornar critério que ilumina as decisões diárias, as escolhas feitas por cada um, que dá sentido a um modo de agir todo próprio de quem acredita num mundo melhor, não caído do céu no futuro, mas construído já aqui, por cada um de nós. É esse projeto, esse sonho comum que nos une. É ao mesmo tempo o que fortalece e alimenta o caminhar. O nome tem um valor muito grande na cultura judaica, representa a totalidade da pessoa. Conhecer o nome de Deus é conhecer ao próprio Deus, seu modo de ser, sua ação no mundo, sua vontade e projeto para a criação. Também não é um conhecer intelectual. A Deus se conhece com o coração! – Tu, Senhor, és nosso único Deus, só Tu é quem dá sentido e valor a todas as coisas. Queremos caminhar cada dia com teu sonho como referencial, fazendo dele também nosso sonho. Queremos anunciar teu nome como fonte de inspiração e motivação, como sinal da esperança que não pode acabar e que move nosso caminhar. Amém!  (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Beda Venerável, presbítero e doutor da Igreja. Beda em língua saxônica quer dizer oração. Nascido em 672 de uma modesta família operária de Newcastle, recebeu sua formação nos dois mosteiros beneditinos de Wearmouth e Jarrow, e neste último foi ordenado aos 22 anos. As maiores satisfações da sua vida foram por ele mesmo compendiadas em três verbos: aprender, ensinar, escrever. A maior parte de sua obra de escritor tem origem e fim no ensinamento. Escreveu sobre filosofia, cronologia, aritmética, gramática, astronomia, música, medicina, e exemplo do espanhol santo Isidoro. Mas são Beda é antes de tudo um teólogo, de uma linguagem fluida e simples, acessível a todos. Ele é apresentado como um dos pais de toda a cultura posterior, influindo através da escola de York e da escola carolíngia sobre toda a cultura europeia. Morreu com 63 anos na abadia de Jarrow, na Inglaterra, após ter ditado a última página de um dos seus livros e ter recitado o ‘glória ao Pai’ em 25 de maio de 735.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 27 de maio de 2020

(At 20,28-38; Sl 67[68]; Jo 17,11-19) 

7ª Semana da Páscoa.

“Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um assim como nós somos um” Jo 17,11.

“O Pai e o Filho são uma só realidade com unidade substancial; Jesus Cristo pede que haja entre os seus uma união semelhante à que existe entre o Pai e o Filho, isto é, pela fé, pelo espírito, pela caridade mútua reflita em nós a união substancial do Pai e do Filho. A unidade das três divinas pessoas em sua única e mesma natureza divina há de servir de modelo para a unidade, que deverá reinar entre os cristãos. Naturalmente é impossível conseguir essa união. As qualidades naturais são diferentes em cada um dos homens e mais nos separam do que nos unem; mas existe um meio para conseguir que essa união seja uma realidade: se vivermos todos intimamente unidos a Cristo pela graça e pelo amor, pois ao amar a Cristo não poderemos deixar de projetar esse amor ao próximo. Não se trata, pois, de destruir as diferenças naturais, que são muitas vezes a causa de nossas divisões, mas de superar essas diferenças e procurar conseguir que, se nossas diferenças pessoais nos separam, nos una o amor a Jesus Cristo, que esse amor nos aproxime uns dos outros e vincule intimamente a todos no coração de Cristo. Jamais se permita chegar a ser elemento de divisão entre aqueles que rodeiam você; esforce-se mais para unir; evite quanto possa separar os irmãos e cuide, preferivelmente, em ser um elemento de coesão e não se esqueça que o que mais une os corações é o amor” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave Maria).

Santo do Dia:

Santo Agostinho de Cantuária, bispo. Nascido em Roma, no primeiro terço do século VI, foi um monge beneditino que se tornou o primeiro arcebispo de Cantuária em 597. Antes de chegar a essa posição foi convocado pelo papa Gregório Magno para a evangelização daquela região que havia recaído na idolatria após a invasão dos saxões no século V e no VI, aproveitando que o rei Kent, Etelberto, desposou a princesa cristã Berta, filha do rei de Paris, e que tinha mandado edificar uma igreja e solicitou que alguns padres católicos viessem celebrar os sagrados ritos. Agostinho era o prior do mosteiro beneditino de santo André, cuja principal qualidade não era a coragem (em compensação era muito humilde e dócil), pois pediu ao papa que desistisse de tal missão. Para encorajá-lo o papa o nomeou abade e depois de sua partida com um grupo de monges, o fez bispo. Foi recebido pelo rei e sua esposa. O rei acompanhou os monges até à residência já fixada em Canterbury, no meio da estrada entre Londres e o mar, onde surgiu a célebre abadia que tomará o nome de Agostinho, coração e sacrário do cristianismo inglês. A obra missionária dos monges teve êxito inesperado, pois o próprio rei pediu o batismo, arrastando com seu exemplo milhares de súditos a abraçarem a religião. É considerado o ‘Apóstolo dos ingleses’ e o fundador da Igreja da Inglaterra. Morreu em 26 de maio de 604 e foi sepultado na igreja que traz o seu nome onde passou a ser venerado como santo.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 26 de maio de 2020

(At 20,17-27; Sl 67[68]; Jo 17,1-11) 

7ª Semana da Páscoa.

“Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e Àquele que tu enviaste,

Jesus Cristo” Jo 17,3.

“Como podemos conhecer a Deus? Será que definições, histórias, relatos de experiências podem de fato transmitir quem é Deus? Ou será possível estabelecer os limites de um conceito que defina o inefável? Quando Deus quis se revelar à humanidade, Ele simplesmente se aproximou dela. A própria criação dá testemunho do cuidado e carinho que Deus tem conosco. As inúmeras formas de manifestação na vida e na história da humanidade levam a percebermos um Deus próximo, participante e preocupado. Um Criador que é verdadeiro Pai. E um Pai amoroso. Mas quando Deus quis se revelar plenamente à humanidade, Ele continuou se aproximando mais e mais... fez-se humano. Jesus Cristo é a revelação do Pai, como que uma Palavra, Verbo proferido e encarnado. Conhecer a Deus é conhecer Jesus Cristo. Mas conhecer Jesus Cristo não é apenas saber de cor e em detalhes sua história, dados de sua vida e mesmo seus discursos todos. Para conhecer a Deus, Deus já está tão perto, tão próximo, é preciso que agora nos aproximemos dele. Dele que, tanto quanto é possível, está perto de nós. Aproximar-nos de Jesus Cristo é assumir Jesus Cristo. É seguir Jesus Cristo. É imitar Jesus Cristo. Não como mímica, algo teatral, mas fazendo, em nossa realidade o que ele fez na de seu tempo. É nessa realidade de hoje que conheceremos a Deus. Amparados pela experiência de tantos que, antes de nós, trilharam esse caminho, guiados pela boa vontade e esforço que representa nossa fé, mas fazendo nossa experiência atual de um Deus sempre presente e atuante. – Tu és o Senhor da vida e da história, ajuda-nos a desempenhar nosso papel com coragem e disposição, abertura de espírito e confiança no teu auxílio. Que a nossa história realize teu sonho para a humanidade. Amém! (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Filipe Néri, presbítero. Filipe nasceu em Florença em 1515. Vivaz, alegre e otimista por temperamento, tentou várias profissões, entre as quais a de comerciante em S. Germano, perto de Cassino, aos dezoitos anos. Estudante em Roma, abandonou os estudos vendendo os livros para dedicar-se totalmente a atividades beneficentes. Ordenado padre aos 36 anos, criou pouco depois o Oratório, uma congregação religiosa de padres empenhados de modo particular na educação dos jovens. Recolheu os meninos turbulentos dos subúrbios romanos e os educou divertindo-os. Para ajudar os mais necessitados não hesitava em pedir esmolas nas estradas. Sem parecer, Filipe tinha uma sólida cultura: promoveu os estudos da história eclesiástica. Depois dos 75 anos de idade limitou sua atividade ao confessionário e à direção espiritual. Possuía o segredo da simpatia e da amizade. Antes de morrer, octogenário, queimou os manuscritos dos seus livros guardados na gaveta. Sobre o leito de morte sentia-se culpado ao pensar que estava deitado numa caminha macia e limpa, enquanto Cristo morreu pregado na cruz. Após a morte, a 26 de maio de 1595, os médicos averiguaram sobre seu tórax, uma esquisita curva das costelas, como a dar espaço maior ao grande coração do apóstolo de Roma.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 25 de maio de 2020

(At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29-33) 

7ª Semana da Páscoa.

“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem!

Eu venci o mundo!” Jo 16,33.

“A história assim como se encontra vem carregada de contradições. Ela é o lugar do Reino de Deus. Mas também do anti-Reino. Um embate se trava feroz entre estas duas bandeiras. E ele passa pelo coração humano. Por isso toda a construção do Reino, todo avanço pessoal no sentido do evangelho não se faz sem sacrifícios. Muitas vezes temos que lutar contra nós mesmos, pois as forças do velho Adão se fazem sentir poderosas em luta contra as forças do novo Adão que Cristo fez crescer dentro de nós. As tribulações de que fala Jesus se referem a esta situação agônica. Mas a palavra final é esperançadora: ‘Coragem, eu venci o mundo’. O mundo aqui é um conjunto de todas as ações e articulações que se estruturam ao redor dos interesses egoísticos, das exclusões, da vontade de poder concretizada à custa da justiça e da promoção da vida. O Reino se mostrou mais forte que o anti-Reino. A ressurreição e não a morte de cruz é a última palavra do evangelho. Esta vitória nos devolve o riso nos lábios e nos confere uma paz que pode subsistir no meio das dificuldades e padecimentos. Depois que Cristo ressuscitou não nos é mais lícito vivermos tristes como se carregássemos o mundo, sem perspectiva e esperança. – Senhor, queremos participar de Tua vitória sobre o mundo na medida que pudermos ser coerentes com as inspirações do evangelho que vão orientando nossa vida para a justiça, para o amor aos pobres e para a completa abertura para Deus. Que Teu Espírito nos conceda estes dons que ultrapassam todo nosso empenho. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Gregório VII, papa. Hildebrando de Soana, toscano, nascido em1028, parece ter iniciado a sua vida monástica em Cluny. Após ter colaborado com os papas são Leão IX e Alexandre II, foi proclamado papa pelo povo. Era o dia 22 de abril de 1073. Feito papa com o nome de Gregório VII, realizou com muita coragem o programa de reformas, que ele mesmo havia planejado como colaborador de seus predecessores: luta contra a simonia e contra a intromissão do poder civil na nomeação dos bispos, dos abades e dos próprios pontífices, restauração de uma severa disciplina para o celibato. Encontrou violentas resistência também da parte do clero. O papa confiava seus sofrimentos aos amigos com cartas que revelavam toda a sua sensibilidade, sujeita a profundos desconfortos, mas sempre pronta à voz do dever. Em 1076 teve um duro desentendimento com o imperador Henrique IV, que se humilhou em Canossa mas, logo depois, retomou as rédeas do império, vigou-se com a eleição de um antipapa e marchou contra Roma. Gregório VII, abandonado pelos próprios cardeais, refugiou-se no Castelo Santo Ângelo. O papa foi depois, em exílio voluntário, para Salerno, e aí morreu, um ano depois. Seu corpo foi sepultado na catedral de Salerno. Foi canonizado em 1606.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Ascensão do Senhor – Ano A

(At 1.1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mt 28,16-20).

1. Numa busca de corresponder às narrativas pascais, a liturgia situa, antes da festa de Pentecostes, a celebração da Ascenção do Senhor, que teria acontecido quarenta dias após a ressurreição, segundo a narrativa de Lucas que acompanhamos na 1ª leitura.

2. A recordação dessa ascensão está relacionada a dois elementos: a compreensão da soberania de Cristo como Senhor do universo e da história e cabeça da Igreja que é seu corpo, nos recorda a 2ª leitura. Ao mesmo tempo revela a dimensão missionária que a Igreja assume a partir de então na evangelização e no testemunho.

3. Quando imaginamos a Ascensão, conforme Lucas, pensamos em categoria de tempo e espaço, quando na realidade estamos falando de exaltação e glorificação de Cristo junto ao Pai, e não de uma subida, como a de um astronauta. Deus não habita o espaço sideral.

4. Céu é algo que escapa aos nossos conceitos e linguagens. O céu é estar e viver com Deus, mas não podemos concretizá-lo num espaço determinado e situado nas alturas. Assim nós estamos falando de um estado, de um estar com Deus e em Deus, como quem mergulhou num oceano que o envolve e é maior que ele.

5. Um dos fatores mais importantes dessa festa é reconhecermos que após a ressurreição dá-se início ao tempo da Igreja marcado pela evangelização sob o impulso do Espírito Santo, prometido por Jesus e nova forma de permanecer entre nós Sua presença libertadora.

6. Tudo nos fica claro pela narrativa de Mateus, que não menciona esse ato de ‘subir ao céu’, mas ressalta o poderio de Cristo sobre o céu e a terra e o envio em missão a todos os povos. A tarefa parece maior que a capacidade dos discípulos, mas para isso contam com a força do Espírito e do próprio Jesus que estará conosco até o fim dos tempos.

7. Alimentamos essa certeza e esperança na escuta da Palavra e na vida sacramental, por isso rezamos: “Hoje, o nosso coração salta de júbilo, Deus nosso Pai, pela glorificação do teu Filho e nosso irmão, Jesus Cristo. Ele vive, ele é o Senhor com pleno poder no céu e na terra. Na verdade, seu é o reino, o poder e a glória para sempre! Dá-nos, Senhor, espírito de sabedoria para O conhecer. Ilumina os olhos do nosso coração para que compreendamos qual é a esperança a que nos chama em Cristo ressuscitado e qual a riqueza da glória que Tu dás aos teus eleitos. Entretanto, queremos cumprir a missão que Ele confiou: Anunciar a todos os povos a boa nova do teu amor e da tua salvação. Dá-nos a luz e a força do teu Espírito para esta missão. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite 


Sábado, 23 de maio de 2020

(At 18,23-28; Sl 46[47]; Jo 16,23-28) 

6ª Semana da Páscoa.

“Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai” Jo 16,28.

“Desconcertado. Assim poderia ficar a pessoa que estivesse ouvindo as palavras de Jesus no seu último sermão. Era uma despedida, e nessas palavras de Jesus no seu último sermão. Era uma despedida, e nessas palavras se misturavam o anúncio da morte, incentivo à confiança no Pai, valorização da obra do Espírito Santo e fé nele próprio. E a vitória ressoa por toda parte. Afinal, perguntaria essa pessoa: Era a despedida de um doente terminal, quem sabe, de um pobre diabo condenado à morte, ou as palavras de um herói que iria vencer os inimigos e recuperar sua vida e liberdade e, assim, conquistar a grande glória da vitória? Sim, desconcertados ficamos nós todos se não entendermos a natureza de Jesus e o objetivo da sua missão aqui na terra. Qual, pois, sua natureza? Ele era (e é) homem integral. Nada do que pertencia à humanidade lhe era estranho – com exceção do pecado, que, por sinal, não pertence à essência da humanidade, Ele a recebeu no tempo – ou seja, desde que foi gerado – de Maria. Mas era (e sempre foi) Deus. Ora, se Ele era e sempre foi Deus, por que se submeteu a tanto sofrimento e à própria morte? A resposta para isso repousa na sua missão, assumida em consenso com o Pai e o Espírito, de redimir a humanidade. E essa resposta vale tanto para o desconcerto do observador quanto às aparentes contradições do sermão em que morte e vitória se misturam como os ingredientes de um bolo. Por isso, ele diz: ‘Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto do Pai’. Sua missão estava quase completa. Faltava pouco para ser entregue às autoridades e submeter-se à mais intensa humilhação que podemos imaginar para o Deus-Homem. Mas Ele a enfrentaria com todas as consequências para si... e para humanidade. – Meu Jesus, meu primeiro sentimento ao olhar para ti é pena, pois vejo o teu desamparo e a extrema injustiça à qual foste submetido. Mas o segundo é de alegria, pois vejo que venceste tudo: cumpriste a missão assumida e voltastes em glória e vitória para o Pai. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São João Batista de Rossi, presbítero. Nasceu em Voltaggio, província de Gênova a 22 de fevereiro de 1698, mas aos 13 anos se estabeleceu definitivamente em Roma, com um primo padre, cônego de Santa Maria em Cosmedin, para poder frequentar o liceu clássico com os jesuítas do Colégio Romano. Em 1714, se encaminhou às ordens sacras, sendo ordenado sacerdote a 8 de março de 1721, mesmo não aguardando esse momento para dar início ao seu intenso apostolado. Nos anos precedentes havia dirigido vários grupos de estudantes. Por causa desta experiência pôde criar a Pia União de Sacerdotes Seculares. Além de trabalhar no albergue de santa Galla, destinado só a homens, quis ampliar o raio de seu apostolado, fundando o albergue para mulheres, dedicado a são Luiz Gonzaga, seu santo predileto. Atingido pela epilepsia e por uma doença nos olhos, multiplicou o trabalho cotidiano para beneficiar os pobres da cidade de Roma e dos internados nos albergues. Parecia onipresente, pois estava em todos os lugares onde precisavam de conforto, instrução, socorro, em qualquer hora do dia ou da noite. Não era raro vê-lo nas praças de Roma improvisando um sermão para os desocupados e a tarde quando o povo voltava do trabalho. A simpatia que ganhava do povo humilde dos subúrbios atraia ao seu confessionário longas filas de penitentes. Era um mestre de espiritualidade e onde quer que pusesse a mão numa iniciativa, imprimia um ritmo de santo fervor. Morreu a 23 de maio de 1764 e foi beatificado por Pio IX, que tinha sido seu sucessor na Pia União dos Sacerdotes Seculares de santa Galla. Leão XIII o canonizou a 8 de dezembro de 1881.

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de maio de 2020

(At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23) 

6ª Semana da Páscoa.

“Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente, e o vosso coração se alegrará,

e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” Jo 16,22.

“Os discípulos vão conhecer um tempo de alegria e de lamentações – lágrimas silenciosas não são nos hábitos orientais – enquanto que o mudo se alegrará, isto é, os judeus que pensarão ter acabado com Jesus. Mas essa tristeza será passiva e se transformará em alegria. Será como no caso de uma mulher em trabalho de parto: ela tem a sua hora de sofrimento; depois que a criança nasceu, ela esquecerá tudo, na alegria de ter dado ao mundo um novo representante da raça humana. A hora da tristeza é próxima para os discípulos; mas de novo Jesus virá para eles, eles o verão, e assim a alegria lhes será devolvida, uma alegria que ninguém lhes poderá tirar. Então eles não terão mais perguntas a fazer. A plena segurança na posse da verdade será um dos elementos de alegria. Toda passagem dá a entender que essa desaparição do Cristo, que vai ser para os discípulos causa de lágrimas e de gemidos, é a sua morte iminente: ‘Ainda um pouco de tempo e não mais me vereis’. Quanto à volta após um pouco de tempo, devemos ver aí um anúncio da ressurreição do Cristo. Mas essa volta do Cristo não se limita a aparições passageiras. Ela continua pela presença de Jesus ressuscitado no seio da sua Igreja, no coração dos fiéis, esperando a visão face a face no reino eterno. A Ressurreição é o começo duma presença que se perpetuará, invisível, mas real, até à vinda gloriosa do último dia. Desde aqui, graças a essa posse de Jesus, pela vida de fé, penhor e prelúdio da visão, a alegria dos discípulos será uma alegria duradoura que nada de fora a eles poderá tirar” (J. Huby – Les discours de Jésus après la Cène – Editora Beneditina Ltda.).

 

Santo do Dia:

Santa Rita de Cássia, religiosa. Nasceu em 1381, num canto remoto da úmbria, em Roccaporena. Crescida no temor de Deus junto aos seus velhos pais, respeitou-lhes tanto a autoridade a ponto de sacrificar o propósito de fechar-se num convento e aceitou unir-se em matrimônio com um jovem violento e irrequieto, Paulo de Ferdinando. As biografias da santa nos pitam uma cena familiar não incomum: uma mulher doce, atenta a não ferir a suscetibilidade do marido, de cujas maldades está consciente, e sofre e reza em silêncio. Sua bondade conseguiu, por fim, abrir uma brecha no coração de Paulo, que mudou de vida e de costumes, sem, todavia, conseguir fazer com que seus inimigos esquecessem os velhos rancores acumulados. Uma tarde foi encontrado morto à beira de uma estrada. Os dois filhos, já bastante crescidos, juraram vingar o pai. Quando Rita percebeu a inutilidade de seus próprios esforços para dissuadi-los, encontrou a coragem de pedir a Deus que chamasse a ambos a si, antes que se manchassem como homicidas. Sua oração, humanamente incompreensível, foi ouvida. Sem marido e filho, Rita então pôde bater à ´porta do convento das agostinianas de Cássia. Seu pedido não foi aceito. Voltando ao seu solitário lar, suplicou incessantemente aos seus três santos protetores, São João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino. Numa noite, os três santos apareceram-lhe e convidaram-na a segui-los. Eis que Rita se vê no meio do coro, onde as freiras estavam recitando as orações da manhã. Rita pôde assim vestir o hábito das agostinianas, realizando o antigo de dedicar-se totalmente a Deus, votando-se à penitência, à oração e ao amor de Cristo crucificado, que a associou visivelmente à sua paixão, imprimindo-lhe na testa um espinho. Este estigma milagroso, recebido durante um êxtase, marcou-lhe o rosto com uma dolorosíssima chaga purulenta até a morte, isto é, durante 14 anos. A fama de sua santidade ultrapassou os muros do rigoroso convento de Cássia. As orações de Rita obtiveram prodigiosas curas e conversões. Para ela mesma nada pediu a não ser o vestir as dores que aliviavam o próximo. Morreu no mosteiro de Cássia em 1457 e foi canonizada em 1900.   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de maio de 2020

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 

6ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará.

Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” Jo 16,20.

“O Evangelho de hoje coloca diante dos nossos olhos duas realidades que bem conhecemos. A primeira é a tristeza, a aflição na qual se encontra, como qualquer homem, todo aquele que procura seguir Jesus. Mas essa tristeza por vezes parece ser causada precisamente pela sequela do Mestre, porque parece que o mundo se alegra, vive sereno e despreocupado. A segunda é não conseguir compreender as palavras do Senhor. Mesmo os Apóstolos se interrogam entre si e verificam com simplicidade: ‘ Não sabemos o que está a dizer’ (v. 18). Quanto à primeira, Jesus promete que a aflição ‘converter-se-á em alegria’ (v. 20b). A vida do crente está sob o sinal da alegria evangélica, não do pranto ou da aflição. O Evangelho convida-nos a olhar para o Crucificado e a compreender a lógica da Sua vida. A alegria evangélica não está na ausência da Cruz, mas em compreender que a Cruz não é uma derrota definitiva, é só uma passagem necessária. Temos em confronto dois tipos de alegria: a do mundo, facilmente compreensível. Uma alegria que se baseia em ser jovem, belo, com saúde, com muito dinheiro e sucesso, à maneira do ‘quero tudo e já’, possivelmente sem muita fadiga. A outra alegria é mais profunda, que nasce da paciência de amar e de aprender a amar. Uma alegria que não desdenha as mil alegrias do mundo, que não despreza nada, mas sabe ir em profundidade para ligar-se ao que não passa e não pode desiludir. Quanto a não compreender as palavras do Senhor é bom notar que é uma situação bastante frequente. Se aconteceu aos Apóstolos, por que não pode acontecer também a nós? Portanto, nada de escândalo nem medo. Jesus responde (e a resposta continuará no Evangelho de amanhã) com o discurso sobre a alegria e com a promessa de que um dia tudo ficará claro e não haverá nada para perguntar (v. 23). Em suma, é um convite à paciência, à espera de um cumprimento de que aquilo que se vê e se compreende é apenas um começo. Na vida cristã há espaço para tudo o que é humano, mesmo para a tristeza, aflição, incompreensão, trevas. Mas o cristão é impelido e mantido desperto pela promessa do seu Senhor, por quem espera e cujo regresso quer apressar” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma – Páscoa] – Paulus).

 

Santo do Dia:

Santa Catarina de Gênova. Nasceu em Gênova em 1447 de Francisca di Negro e Tiago Fieschi, então vice-rei de Nápoles sob Renato de Anjou. Quando completou 16 anos de idade, seus pais deram-na como esposa ao guibelino Juliano Adorno, não obstante ela ter pedido, três anos antes, para tornar-se cônega lateranense como sua irmã Limbânia. O casamento deles foi, provavelmente, uma manobra para acabar com a briga entre as duas famílias. Ela passou os cinco primeiros anos do seu casamento em silêncio e melancolia de submissão ao marido, um homem infiel, violento, mal humorado e um brutamonte, fazendo da vida dela uma miséria. Já possuía cinco filhos naturais. Depois de dez anos de casamento, ela passou a ter experiências místicas que ela descrevia como um avassalador sentimento de amor de Deus para com ela. Ela combinou sua vida mística com o serviço para os doentes em hospital de Gênova, em que seu marido se juntou a ela, depois de convertido. Morreu em 15 de setembro de 1510, desgastada com trabalhos de corpo e alma. Deixou vários escritos descrevendo essas ações místicas. Seus escritos continham doutrinas que por si só já eram suficientes para provar a sua santidade. Foi beatificada em 1675, pelo papa Clemente X, e canonizada em 1737 pelo papa Clemente XII. É padroeira dos hospitais na Itália.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 20 de maio de 2020

(At 17,15.22—18,1; Sl 148; Jo 16,12-15) 

6ª Semana da Páscoa.

“Tudo que o Pai possui é meu. Por isso disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu” Jo 16,15.

“O que mais poderia ser tão próprio do Filho senão o testemunho do Pai... O Próprio Deus proferiu uma Palavra sobre si mesmo e essa Palavra, Verbo encarnado, é plena Revelação de Deus... Jesus, o Filho, não apenas aponta para o Pai, mas é sacramento do Pai, é um com o Pai, é a própria comunhão em Deus. Essa vocação de revelar Deus, de mostrar Deus próximo, de concretizar seu amor é partilhada com toda a humanidade. O ser humano recebe dessa vocação de Jesus de revelar o divino, e o seu anúncio passa a ser a própria vida e sentida da humanidade. Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição... Jesus Cristo é o próprio projeto de Deus, projeto de salvação e comunhão. Desde a criação do mundo, criação de tudo em e por Jesus, a salvação de toda a criação, e a santificação perene que vem da comunhão com Deus... Tudo aponta e se origina em Deus, e Jesus é esse início e fim de todas as coisas. E o que recebemos de Jesus, do próprio Deus? O que recebemos que nos leva ao anúncio e ao testemunho? Recebemos a vida. E vida em abundância! O maior testemunho de Deus é a nossa vida bem vivida, vida plena, vida em abundância. Vida realizada e feliz. Tudo o que temos, recebemos de Deus. Não para a nossa posse, mas para o nosso cuidado e responsabilidade. Nem tanto pelas palavras que gritamos ao vento, ou pelas bandeiras que carregamos, mas, sim, pelas atitudes simples e quotidianas de caridade e misericórdia, pela compaixão demonstrada e incentivada... é assim que testemunhamos aquilo que recebemos de Deus. Deus só nos dá amor, pois Ele mesmo é puro amor. – Ó Deus de amor e de bondade, só Tu és capaz de realizar tanto em nossa vida e de forma gratuita e sincera. Dá-nos teu modo de agir, tua força no amar, tua disposição para perdoar. Ajuda-nos refletir em nossa vida tudo o que de ti recebemos, a tal ponto de amarmos sem reservas e nos entregarmos totalmente pelo irmão. Amém! (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Bernardino de Sena, presbítero. Nasceu em 1380 em Massa Marítima da nobre família senense dos Albizzeschi. Ficou órfão de pai e mãe ainda muito jovem e foi criado em Sena por duas tias. Frequentou a universidade de Sena até aos 22 anos, quando abandonou a vida mundana para vestir o hábito franciscano. Dentro da ordem tornou-se um dos principais propugnadores de reforma dos franciscanos observantes. Arauto da devoção ao nome de Jesus, fazia incidir o monograma “JHS” sobre tabuinhas de madeira que dava para o povo beijar no fim do discurso. São Bernardino é o patrono dos publicitários italianos. Em seus discursos fustigava a avareza dos novos ricos, mercadores, banqueiros, usurários etc. Comparava-os a pássaros sem asas, incapazes de levantar o voo um palmo acima de suas coisas. Até depois da sua morte, na cidade de Áquila em 1444, são Bernardino continuou sua obra de pacificação. De fato, chegou moribundo a esta cidade e não pôde fazer o curso de prédicas que tinha programado. Persistindo a luta entre as facções, seu corpo dentro do caixão começou a sangrar como uma fonte e o fluxo parou somente quando os cidadãos de Áquila se reconciliaram. Em reconhecimento foi decretada a construção de um magnífico monumento sepulcral. Foi canonizado em 1450. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de maio de 2020

(At 16,22-34; 137[138]; Jo 16,5-11) 

6ª Semana da Páscoa.

“No entanto, eu vos digo a verdade: é bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o defensor; mas se eu me for, eu vo-lo mandarei” Jo 16,7.

“O cristianismo é histórico. As intervenções de Deus se dão em determinado momento desta nossa história. Há o momento da encarnação do Filho. A partir de então nossa humanidade começou a pertencer ao próprio Deus. Nascimento, vida pública, condenação à morte de cruz, ressurreição, ascensão ao céu, são as etapas da história da encarnação. O Filho não abandona nossa carnalidade. Mas deixa a visibilidade histórica. Como ressuscitado está presente, mas de forma invisível. Agora começa uma nova era, a do Espírito Santo. Ele é enviado pelo Filho para prolongar, explicitar e atualizar a sua obra na história que se prolonga até a consumação dos séculos. Ele se apresenta como Paráclito, quer dizer, como aquele que reconforta, que anda junto, que funciona como advogado e defensor. Ele não permitirá que a obra de Jesus sucumba na história, que seja de tal maneira desvirtuada e manipulada pelos próprios discípulos que acabe se transformando num sistema religioso de vantagens pessoais ou grupais. Por isso o Espírito não veio apenas uma vez em Pentecostes. Ele vem em todo o momento. Enviado pelo Filho, ele mora na humanidade e nas comunidades cristãs sempre suscitando o sonho de Jesus e abrindo as pessoas para o evangelho e para a fé. – Vinde, Espírito criador e renovador, fazendo de nossa vida uma sementeira onde o Reino do Pai anunciado por Jesus produz frutos de justiça, de solidariedade, de compromisso com a libertação dos pobres e de toda a criação. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Celestino V, papa. Pedro de Marrone era um camponês de Isérnia que nasceu em 1215, foi eleito papa a 5 de julho de 1284, assumindo o nome de Celestino V, já com 80 anos, renunciou em 13 de dezembro do mesmo ano. O piedoso pontífice mostrou uma extraordinária firmeza de espírito, renunciado ao papado quando percebeu que príncipes e cardeais faziam perigosas manobras políticas sobre sua pessoa. Antes do papado levou uma vida eremítica, fundando a primeira comunidade eremítica em 1246. Seu estilo de vida já lhe dava fama de santidade. Foi eleito papa ainda vivendo em seu retiro. Depois de ter renunciado não conseguiu voltar à suspirada paz do ermo, pois seu sucessor, Bonifácio VIII, temendo que os que apoiaram a eleição de Celestino V criassem novas dificuldades à Igreja, teve-o sob guarda no castelo de Fumone, onde o ex-papa viveu os últimos meses de sua vida no completo isolamento. Aqui o colheu a morte a 19 de maio de 1296. Clemente VI o proclamou santo a 5 de maio de 1313.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de maio de 2020

(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4)

6ª Semana da Páscoa.

“E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo” Jo 15,27.

“Testemunhar é trair-se. Há em nós muitos sinais que revelam a todos, inclusive a nós mesmos, quem somos e por que somos assim. Pensemos nas impressões digitais, no DNA, nos olhos e, agora, em nossa forma de andar. Mas também nas formas de falar, no sotaque e até nas expressões que uma pessoa usa. Exemplo disso é a palavra cartucho, que no sul do Rio Grande do Sul significa uma flor, o lírio. Por tudo isso é muito fácil uma pessoa trair-se. Pergunta-se, pois: O cristão, ele também se trai? Através das suas palavras e atos é possível revelar a sua fé? Ora, Jesus, até sem falar, revela pelo seu aspecto que decisivamente ia para Jerusalém. Como, então, seria possível um cristão não revelar que está junto com Jesus, o Cristo, caminhando com a cruz? É uma impossibilidade lógica, mas é uma possibilidade real. E é uma possibilidade pessoal. Quantas e quantas vezes deixamos de falar e de agir em situações que exigiam a nossa atitude? Agimos como se o mal fosse banal (usando aqui uma expressão de Hannah Arendt ao definir os crimes do nazismo). De fato, o mal é banal por causa do nosso pecado de origem. E é, com certeza, por isso que mascaramos tão bem a nossa fé. Talvez até a sufoquemos. Mas não é isso que Jesus quer. Ele quer uma fé ativa, mexeriqueira, que não para quieta, porque o Espírito da Verdade testemunha de Cristo e nós testemunhamos dele porque estamos com Ele. Não nos quer como espiões que entram quietos e saem calados. Ele nos quer testemunhas. Ele não deseja que traiamos a nossa fé, mas que nos traiamos por causa da nossa fé. – Senhor, pedimos a tua misericórdia infinita para o fato de nem sempre estarmos prontos a testemunhar a nossa fé. Muitas vezes ficamos calados e, assim, calamos o teu Espírito em nós. Concede, Senhor, que a fé se torne concreta em atos e palavras e, se possível for, até mesmo em pensamentos. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São João I, papa e mártir. Nascido na Toscana, João sucedeu o papa Hormisda a 15 de agosto de 523. Quando o filho de Constâncio se tornou papa, há apenas cinco anos Hormisda e o imperador Justino, tio de Justiniano, tinham feito cessar o cisma entre Roma e Constantinopla, estourado em 884 pelo Henoticon do imperador Zenão, que havia tentado um impossível compromisso entre católicos e monofisitas (Monofisismo é o ponto de vista cristológico que defende que, depois da união do divino e do humano na encarnação histórica, Jesus Cristo, como encarnação do Filho ou Verbo de Deus, teria apenas uma única "natureza", a divina, e não uma síntese de ambas). Como a jogada obtivera também interessantes resultados políticos e os godos eram arianos (por extensão, a designação "arianos" -não o termo "árias"- passou a referir-se a vários povos originários das estepes da Ásia Central - os Indo-europeus - que se espalharam pela Europa e pelas regiões já referidas, a partir do final do neolítico. O nome ariano vem do sânscrito arya, que significa nobre), lá pelo fim de 524, Justino publicou um edito com o qual ordenava o fechamento das igrejas arianas de Constantinopla e a exclusão dos hereges de toda função civil e militar. Teodorico então obrigou o papa João I a ir a Constantinopla para solicitar do imperador a revogação do decreto: as manifestações de atenção foram excepcionais: 15.000 saíram-lhe ao encontro com círios e cruzes e o papa presidiu as solenes funções do Natal e da Páscoa. Justino aderiu ao pedido de restituir aos arianos as igrejas confiscadas, mas insistiu na privação dos direitos dos arianos convertidos ao catolicismo que novamente se tornassem arianos. Foi o suficiente para o suspeito Teodorico mandar matar Boécio e Símaco. Lançado na prisão em Ravena, o papa João I ali morreu aos dezoito de maio de 526.

Pe. João Bosco Vieira Leite