Quinta, 31 de outubro de 2019


(Rm 8,31-39; Sl 108[109]; Lc 13,31-35) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada?” Rm 8,35.

“O texto de hoje conclui a reflexão de Paulo sobre a questão da salvação. “Se Deus é por nós quem será contra nós”? – pergunta Paulo ao início da perícope (Rm 8,31). A verdade é que nada pode derrotar aquele que é objeto do amor imenso e imortal de Deus – amor manifestado nesse movimento que levou Cristo até à entrega total da vida para nos colocar na rota da salvação e da vida plena. Com o amor de Deus, manifestado em seu Filho, nada mais temos que temer: nem dificuldades, nem perseguições, nem martírio, nem qualquer forma de dominação. Nada poderá desfazer o que Deus realizou. Nada poderá impedir o testemunho dos cristãos. E nada poderá opor-se à plena realização do projeto de Deus. Para Paulo, há uma constatação incrível: Deus nos ama com um amor profundo, total, radical, que nada nem ninguém consegue apagar ou eliminar. Esse amor veio ao nosso encontro em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e a transformou, capacitando-nos para caminharmos ao encontro da vida eterna. Ora, antes de mais, é esta descoberta que Paulo nos convida a fazer... Nos momentos de crise, de desilusão, de perseguição, de orfandade, quando parece que o mundo todo está contra nós e que não entende a nossa luta e o nosso compromisso, a Palavra de Deus grita: ‘não tenhais medo; Deus vos ama’. Descobrir esse amor nos dá a coragem necessária para enfrentar a vida com serenidade, com tranquilidade e com o coração cheio de paz. O crente é aquele homem ou mulher que não tem medo de nada porque está consciente de que Deus o ama e que lhe oferece, aconteça o que acontecer, a vida em plenitude. Pode, portanto, entregar sua vida como dom, correr riscos na luta pela paz e pela justiça, enfrentar os poderes da opressão e da morte, porque confia no Deus que o ama e que o salva. – Pai, apesar da minha fraqueza e limitações, conta também comigo para ser servidor do teu Reino (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia[2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de outubro de 2019


(Rm 8,26-30; Sl 12[13]; Lc 13,22-30) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir;
é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” Rm 8,26.

“A Carta aos Romanos é uma carta pastoral, escrita com paixão de um verdadeiro servidor do Evangelho, com a única missão de torna-lo conhecido numa sociedade que vivia, então, cheia de conflitos. Precisamente, no cap. 8 que estamos meditando (Rm 8,26-30), Paulo fala-lhes da liberdade, da esperança, da vida nova trazida por Cristo Jesus, na graça e na força do Espírito Santo. Para quem vivia dominado pelo rigorismo das leis judaicas ou pelas severas imposições do domínio romano, a palavra de Paulo era verdadeira consolação no Espírito Santo! Crer com a liberdade de filhos e filhas de Deus muda a relação entre o crente e Deus, que já não é um senhor, mas um pai, presente e atuante na história, iluminando os caminhos, rasgando fronteiras entre o judeu e pagão, entre o circuncidado e o não circuncidado. O Espírito emerge com um novo sopro criador e faz clamar a “Abba! Pai!” (cf. Gl 4,6); somos filhos e filhas, em Jesus, de uma humanidade restaurada, cheia de esperança, de alegria e paz. Justamente é esta força do Espírito que vem auxílio da nossa fraqueza! Quantas vezes perdidos em nosso caminho, descrentes e sem esperanças, afogados nas vicissitudes da vida, não vemos saídas, não vislumbramos uma nova utopia que nos mova a criar novas relações de fraternidade, de irmandade, de hospitalidade e de unidade. Na verdade, nem sabemos o que pedir a Deus no emaranhado da vida e corremos o risco de sucumbir ante as dificuldades. Mas nada a temer! O Espírito acolhe a nossa pequenez, fortalece-nos na humilhação, ilumina o presente com o vigor dos testemunhos do passado e descortina-nos um futuro de esperança. O Espírito é a nossa força, por isso vem em auxílio da nossa fraqueza e da nossa humilhação. – Divino Espírito, fonte de luz e sabedoria, vem em auxílio de nossa fraqueza e ensina-nos a pedir o que melhor nos convém e a rezar de todo coração: ‘Abba, Pai’!” (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 29 de outubro de 2019


(Rm 8,18-25; Sl 125[126]; Lc 13,18-21) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“Ele [O reino dos céus] é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha,
até que tudo fique fermentado” Lc 13,18-21.

“O fermento de que se fala não é uma força ‘assimiladora’. Não passa de vulgar pedaço de massa levedada e azeda, que se introduzirá na farinha. Nosso Senhor interessa-se, não ao processo interno do fenômeno da fermentação, mas à mudança visível: esse pouco de massa levedada no começo e, no fim, toda a massa (a massa extraordinária das três medidas fermentadas, bem mais que os cozimentos normais: ela bastaria para uma refeição de 100 pessoas). Jeremias sublinha justamente o parentesco com a parábola do grão de cevada em que a mostarda torna-se uma grande árvore, com o mesmo fim, que é mostrar que se trata de realidades divinas. Uma palavra sugestiva: a mulher esconde o fermento na farinha. Esse pedaço de massa é tão pequeno que passa despercebido, e é suficiente. É nosso contraste entre a pequenez dos inícios do Reino e a grandeza final, a grandeza final sendo prometida pelos inícios. ‘O pequeno rebanho’ tornar-se-á o Reino (Lc 12,32). Este início, como o pequeno rebanho do deserto, ninguém repara nele. Mas sua pequenez esconde já sua glória futura, contem-na em germe. ‘Escondido’ faz contraste com ‘o todo fermentado’ (isto é, concretamente toda a massa levedada, visivelmente ‘levedada’, da parábola). ‘Porque nada há de oculto (por Deus) que não deva ser publicado’ (Mc 4,22). ‘Ninguém acende uma lâmpada e a põe em lugar oculto ou debaixo da amassadeira, mas sobre um candeeiro’ (Lc 11,33). É sempre, bem concretamente, o mesmo início do Reino, um pequeno rebanho, uma semente de cevada, um pouco de fermento, uma pequena lâmpada acesa (mesmo vinho novo, não se põe vinho novo em odres velhos); É sempre a obra de Deus, tão humilde em seus começos. E sempre, nessa obra, de conformidade com seus começos, Deus, que ‘vê no segredo’, por esse ‘segredo’ mesmo, promete a glória futura do seu Reino, que repercutirá, mas sempre secreta, em todos os progressos da obra da Igreja. Os progressos serão visíveis numa instituição humana, o Reino messiânico, mas essa instituição só terá valor autêntico na medida em que trouxer o segredo de suas grandezas futuras” (L. Cerfaux – O tesouro das Parábolas – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de outubro de 2019


( Ef 2,19-22; Sl 18[19A]; Lc 6,12-19) 
Santos Simão e Judas Tadeu, apóstolos.

“Naqueles dias, Jesus foi a montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus” Lc 6,12.

“Hoje a nossa reflexão está centrada nas primeiras palavras deste evangelho. Introduções como esta podem passar despercebidas na nossa leitura quotidiana do Evangelho, mas – de fato – são da máxima importância. Passando uma noite toda em oração, no alto de uma montanha, Jesus se preparou para um momento importante de seu ministério: a escolha do grupo de discípulos, que seriam objeto de sua atenção especial, pois teria como tarefa levar adiante a sua missão. Como era essa oração do Senhor? É característico de Lucas, devoto da oração de Jesus, o empenho em registar estes momentos de intimidade entre Jesus e o Pai, ao longo do seu ministério. Estar em oração significava recorrer a Deus e deixar-se guiar por Ele, deveria ser uma prece cheia de confiança no Pai, de total abandono à sua vontade, de manifesta união à sua obra de salvação. Em vista de acertar na escolha a ser feita. Apenas desde esta profunda, longa e constante oração, sempre sustentada pela ação do Espírito Santo, o Senhor podia obter a força e a luz necessária para continuar a sua missão de obediência ao Pai para cumprir a sua obra vicária de salvação dos seres humanos. Afinal, a oração ilumina e fortalece a ação missionária. Os discípulos deveriam ficar a serviço do Reino do Pai, e só este poderia oferecer ao Filho os critérios corretos de discernimento. Do que se infere da sua vida, os nomes sugeridos pelo Pai correspondiam aos de pessoas comuns, sem qualidades especiais. Humanamente falando, teria sido preferível escolher pessoas mais inteligentes, mais corajosas e dispostas a enfrentar adversidades, menos apegadas a certos esquemas mentais inconvenientes, mais sintonizadas com o modo de pensar de Jesus. – Pai, transforma-me em apóstolo de teu Filho Jesus para que, movido pelo Espírito, eu possa ser sinal da presença dele neste mundo tão carente de salvação” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia[2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

30º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Eclo 35,15b-17.20-22a; Sl 33[34]; 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14)

1. Para nos ligar ao tema do evangelho, recolhemos do livro do Eclesiástico algumas máximas acerca da oração feita com humildade. Deus aparece como um juiz imparcial que não pode ser subornado e sua atenção se volta justamente para quem nada pode lhe oferecer.

2. Aqui se ressalta o valor da oração humilde, que confia na justiça divina. Ela atravessa as nuvens e alcança a sua finalidade. O salmo que se segue reforça as ideias da 1ª leitura.

3. Com a 2ª leitura temos as palavras finais da 2ª Carta a Timóteo, pouco antes de Paulo ser condenado à morte, pelas palavras utilizadas ele já pressente o que virá. Sua morte tem caráter sacrifical e expressa confiança em sua entrega a Deus. O tom é um tanto amargo e íntimo, mas parte certo de ter combatido o bom combate da fé.

4. Acompanhamos em nosso evangelho a sequência do domingo anterior, ainda sobre a oração; Lucas entende que a oração é a atitude fundamental na vida do discípulo de Jesus; depois da viúva persistente, temos outros dois modelos de oração: o presunçoso e o humilde. Como na parábola da viúva, explica-se o sentido da mesma.

5. Na realidade não se trata de uma parábola, são dois pequenos quadros contrapostos com uma espécie de juízo onde podemos identificar o bem e o mal. Ambas personagens são religiosas, mas têm vida e mentalidade diferentes. A apresentação de ambas se reduz ao essencial.

6. Jesus diz que o publicano volta para casa ‘justificado’; outro termo paulino empregado por Lucas para nos lembrar que a justificação não vem pelas obras, mas pela fé. Paulo conhecia bem os fariseus, tendo sido ele mesmo fariseu na sua juventude e um sério observador. Sua conversão leva a corrigir seu proceder religioso. 

7. A dramaticidade do nosso texto está na constatação que algumas pessoas religiosas agem de forma errada: cumprem as suas práticas com uma mentalidade não genuinamente cristã, vivem mal a sua religiosidade.

8. A pessoa do fariseu não é má em si, pois procura cumprir tudo que está prescrito, mas não é justificado pois presume sê-lo devido ao seu empenho moral. Ele não atribui a Deus a sua salvação. O publicano exprime a humildade de quem não é capaz de salvar-se sozinho e deixa claro de quem espera a sua salvação.

9. Poderíamos concluir que Jesus nos convida a abrir-nos à confiança na misericórdia de Deus, a não ter uma relação comercial com Deus e lembrar-nos que aquele que tem consciência do mal que habita em si está mais próximo de Deus.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de outubro de 2019


(Rm 8,1-11; Sl 23[24]; Lc 13,1-9) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus lhes respondeu: ‘Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas, se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo” Lc 13,2-3.

“A busca frenética da liberdade (ou dizendo melhor: da permissividade), em todos os domínios da cultura contemporânea, é vivida por muitos com um esforço para libertar-se das obsessões de um angelismo inimigo da vida, de um farisaísmo de puro e impuro e para reencontrar, diante da existência, uma espécie de espontaneidade e inocência. Esforço para reconquistar, em face ao que se chama ‘tabus cristãos’, o que se tem por proibições de uma moral hipócrita, certa liberdade ‘dionisíaca’ num mundo onde não existiria pecado. É uma desesperada tentativa para achar-se novamente no fim, no fundo da queda, da inocência do Paraíso, para romper com as limitações do ‘eu’. Sem abrir-se, por uma fé pessoal à Fonte absoluta da vida, esta tentativa corre o risco de desagregar o ‘eu’. Diante desta procura e experiência da liberdade, parece-me que a atitude cristã deveria ser, antes de tudo, de respeito. No pecado e principalmente no pecado como busca, através do inferno, da inocência, se inscreve todo o paradoxo do homem, imagem coberta de trevas, mas dirigida para seu Arquétipo divino, através das próprias trevas. Aí deveremos enxergar a sede do infinito, a nostalgia da liberdade e da comunhão, a recusa do abandono a um burguesismo espiritual, o sofrimento daquele que procura o Absoluto entre as realidades terrenas que não podem salvar, porém esperam ser salvas. ‘Se não vos converterdes, perecereis todos’. A conversão, a ‘metanoia’, a volta do homem em seu centro pessoal, não é um esforço voluntarioso para melhorar tal aspecto na superfície do psiquismo, para vencer tal defeito ou tal vício. É, antes de tudo e fundamentalmente, confiança total no Cristo que, por nós, por mim, se entrega à morte, ao inferno, à separação. Entrega-se à morte cuja causa sou eu; ao inferno que eu crio e onde faço viver os outros e a mim mesmo, à separação, que é minha condição e meu pecado. Ele se entrega para fazer da morte, do inferno, da angústia, a porta do arrependimento e de uma existência renovada. Então descobrimos que, muito além do que tínhamos ousado esperar, o pecado, a morte, o desespero fizeram fendas na autonomia infernal do homem, abriram este mesmo à misericórdia do Deus vivo” (C. Clément – Questions sur l’Homme – Ed. Beneditina Ltda.).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de outubro de 2019

(Rm 7,18-25; Sl 118[119]; Lc 12,54-59) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Estou ciente que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne. Pois eu tenho a capacidade de querer o bem, mas não de realiza-lo” Rm 7,18.

“Sem a graça nada somos e nada podemos. Sempre pesará sobre nós a fraqueza. Os limites, os vazios, os fracassos acompanhar-nos-ão como a sombra é companheira inseparável de nosso corpo. Por causa e apesar de nossos limites físicos, mentais, religiosos, culturais, sociais, educacionais não vamos perder o rumo da história. Quem mais infiel que o povo hebreu que recebera com grandes medidas os dons de Javé? Mas Javé não perdeu a esperança nele. Da mesma forma sentimo-nos todos nós. Somos fracos. Mas é das fraquezas que fazemos brotar a esperança. É dos fundos da terra, no silêncio, no retiro do chão que as sementes começam a ser, a abrir e germinar. Precisamos do silêncio, da contemplação, da oração, da conversão para crescermos dentro e fora de nós, para enxergarmos o bem a fazer. Sabemos que os instintos são fortes. Eles são nossos amigos quando nos impulsionam para Deus, despertando em nós a comunhão com Ele e a caridade com os irmãos. Temos muito peso para carregar. Nem sempre o que fazemos corresponde ao que planejamos. Os defeitos aparecem mais vivos do que as virtudes. Somos assim: fracos, mas capazes de avaliações, purificação, conversão de nossa mente e vontade. A saída do túnel está na comunhão e na fé em Cristo e no amor mútuo, na ajuda fraterna. Juntos, com Jesus e com a Igreja, superaremos a escuridão de nosso limites e fraquezas. – Senhor, dai-nos a graça de realizar o vosso desejo em nós. Que não nos escondamos atrás da fraqueza, mas nos lancemos em vossas mãos. Com vossa força queremos fazer sempre o bem, sobretudo em favor dos nossos irmãos mais sofredores. Acompanhai-nos como a sombra do nosso corpo. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de outubro de 2019


(Rm 6,19-23; Sl 01; Lc 12,49-53) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Eu vim lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso!” Lc 12,49

“Interpretar a Bíblia é, ao mesmo tempo, um desafio e uma responsabilidade. É uma responsabilidade porque a entendemos como Palavra de Deus e é um desafio porque ela contém inúmeros gêneros literários e foi escrita em um contexto social, cultural e geográfico diferente do nosso. As palavras de Jesus em Lc 12,49 constituem um desafio e tanto ao interprete bíblico. De início, precisamos fazer distinção entre texto literal e texto figurado. O fogo a que Jesus se refere é simbólico e não uma aplicação literal. Na Bíblia, ‘fogo’ possui diversas conotações. Pode ser fogo comum, fogo como castigo, fogo purificador, fogo que abrasa o coração etc. No texto de Lc 12,49, os comentaristas bíblicos divergem com duas possíveis interpretações: diante do contexto ( v. 49-53), alguns afirmam que se trata de um fogo que vem por meio do juízo divino, que purifica e divide (Mt 7,9; Mc 9,48; Lc 3,17); outros, no entanto, indicam que pode referir-se à ação do Espírito Santo (Lc 3,16; At 2,3). Tanto uma quanto a outra são plausíveis e úteis para nossa reflexão e edificação. O fato é que a mensagem de Jesus a respeito da chegada do Reino de Deus causa divisão (v. 52-53) e envolve purificação. Os profetas Zacarias (13,9) e Malaquias (3,2-3) afirmavam que o Messias traria fogo que purificaria e distinguiria os verdadeiros seguidores de Deus daqueles que não eram. Precisamos, de fato, de um fogo que purifique e confirme que somos chamados para ser diferentes neste mundo que jaz no maligno. Por outro lado, carecemos deste fogo que, por meio do Espírito Santo, abrasa nosso coração e nos faz ser e agir sob o fervor deste mesmo Espírito (Rm 12,11). O Reino de Deus chega com Jesus, trazendo esse fogo que precisa estar aceso em nossa vida para que possamos incendiar este mundo com o Evangelho! – Senhor, acende teu fogo em nós para que o mundo conheça a tua vontade por nosso intermédio. Amém!  (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 23 de outubro de 2019


(Rm 6,12-18; Sl 123[124]; Lc 12,39-48) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Então iremos pecar, porque não estamos sob o regime da lei, mas sob o regime da graça? De modo algum!” Rm 6,15.

“Permanecer no pecado, desligados, isolados do calor e do amor de Jesus? Que pergunta, que questionamento! Pecar, quebrar a amizade com Deus, com a natureza, com os irmãos e irmãs, com a comunidade, conosco mesmos, virando as costas à luz, à esperança, à festa da redenção, seria tudo isso uma grande tolice. Paulo fala que é possível algumas pessoas viverem no pecado. Certamente é uma opção de quem tem a mente limitada, obstruída pelo egoísmo e endeusamento de si mesmo. O pecado existiu no coração e na práxis desde os primeiros homens e mulheres que vieram ao mundo. Mas o questionamento do Criador nos acompanha. Deus mostra a incapacidade do ser humano de conseguir por si mesmo a salvação. Sem Cristo é impossível a salvação. Ele é o caminho para o Pai. O pecado consiste substancialmente na recusa da oferta de amor de nosso Deus, manifestada claramente, pessoalmente em Cristo Jesus. Construir a vida como autônomo, como fonte e origem de salvação, eis o pecado. Sua consequência é a morte. O isolamento. A idolatria da própria vontade e liberdade. É autossuficiência. Não há maior alienação que o pecado. Por ele nos tornamos seres de mercadoria, vendidos banalmente ao mal. Ficamos distantes, fechados no egoísmo, negando nosso amor a Deus e aos irmãos. A graça, a Pessoa de Jesus vem nos desalinhar desta situação. – Senhor, ajudai-nos a superar a frustração em que o pecado nos deixa. Absolvei-nos de todas as nossas fracas opções. Dai-nos vontade e determinação para sermos fiéis filhos do Pai. Reabilita-nos novamente. Que a comunhão e amizade, a graça reinem completamente em todos nós. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de outubro de 2019


(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39[40]; Lc 12,35-38) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento para lhe abrirem imediatamente a porta, logo que ele chegar e bater”
Lc 12,35-36.
“É oportuno estudar a palavra ‘vigiar’; é preciso estuda-la porque sua significação não é tão evidente como se poderia crer, à primeira vista e porque a Escritura a emprega insistentemente. Devemos não só crer mas vigiar: não só amar mas vigiar; não só obedecer, mas vigiar; vigiar para que? Para este grande acontecimento: a vinda de Cristo (...). Que é, então, vigiar? Creio que se pode explicar assim. Sabeis o que é esperar um amigo, esperar que ele venha e vê-lo tardar? Sabeis o que é estar em uma companhia que vos desagrada, e desejar que o tempo passe e que soe a hora de retomar vossa liberdade? Sabeis o que é estar na ansiedade a respeito de algo que pode acontecer ou não; ou estar esperando algum acontecimento importante, cuja lembrança faz bater o coração e no qual pensais, desde que abris os olhos? Sabeis o que é ter um amigo distante, esperar suas notícias, e perguntar dia após dia, que estará ele fazendo naquele momento, se está passando bem? Sabeis o que é viver para alguém que está perto de vós, tão perto que os vossos olhos seguem os seus, que ledes em sua alma e notais todas as mudanças de sua fisionomia, que adivinhais seus desejos, sorris com seu sorriso, vos entristeceis com sua tristeza, que ficai abatido quando ele está aborrecido e vos regozijais com os seus sucessos?  Vigiar à espera do Cristo é um sentimento semelhante a esses, na medida em que os sentimentos deste mundo são capazes de representar os de um outro mundo. Vigia ‘com’ o Cristo aquele que, olhando para o futuro, não perde o passado de vista; contemplando o que seu Salvador obteve para ele, não esquece o que sofreu. Vigia com Cristo aquele que comemora e renova sempre, em sua pessoa, a cruz e a agonia do Cristo, e veste com alegria aquele manto de aflição que o Cristo usou neste mundo, e abandonou quando subiu ao céu. Eis porque nas epístolas, autores inspirados, sempre que mostram o desejo de sua segunda vinda, mostram a lembrança que guardaram da primeira; e sua ressurreição não lhes faz perder de vista a crucifixão. Assim, São Paulo, quando lembrava aos Romanos que deviam esperar a redenção do corpo no último dia acrescenta: ‘A fim de que tendo sofrido com ele, sejamos com ele glorificados’. Se diz aos Coríntios ‘que esperem a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’, diz também que é preciso carregar sempre e por toda parte em nosso corpo a morte de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo. Falando aos filipenses sobre o ‘poder da ressurreição’, logo acrescenta: ‘é a participação em seus sofrimentos, assemelhando-se a ele até em sua morte’. Se consola aos colossenses, dando-lhes a esperança de que ‘quando o Cristo aparecer, eles aparecerão também na glória’, já lhes declarou que ele ‘completa em sua carne aquilo que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo para seu corpo que é a Igreja’” (Car. Newman – Sermão 22 – Ed. Beneditina Ltda.).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de outubro de 2019


(Rm 4,20-25; Sl Lc 1; Lc 12,13-21) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“Convencido de que Deus tem poder para cumprir o que prometeu. Esta sua atitude de fé lhe foi creditado como justiça” Rm 4,21-22.

“Hoje, Paulo concentra-se na fé de Abraão e na sua relação com a promessa de Deus. Sublinha a caminhada decidida e corajosa do patriarca para a salvação por meio da fé. Abraão ‘não duvidou’ diante da promessa de Deus, ‘pelo contrário, tornou-se mais forte na fé’ (v. 20). Abraão fundamentou a sua vida numa realidade que parecia inconsistente: uma palavra pronunciada por Alguém que não via e cuja veracidade, portanto, não podia avaliar. Mas era Palavra de Deus, e foi na relação com Deus que Abraão encontrou segurança. Sendo também ele rico, e podendo viver tranquilo e seguro por muitos anos na sua terra, preferiu obedecer a Deus e cumprir sua vontade, certo de que a verdadeira segurança só se encontra no cumprimento da vontade de Deus. Ao dirigir-se aos cristãos de Roma, e a todos nós, filhos de Abraão na fé, acentua que somos chamados a acreditar em Deus, capaz de ressuscitar os mortos. O patriarca sabe que não tem qualquer mérito diante de Deus, que tudo lhe deve, e que ele não falta às suas promessas. Por isso, confia nele e se confia a Ele, tornando-se um claro exemplo e estímulo para nós, como pessoas e como comunidades. A nossa fé, que é um reconhecimento da nossa indigência e uma aceitação da salvação oferecida pela força de Deus, refere-se essencialmente ao grande acontecimento que é a ressurreição de Cristo. Também o cristão é chamado à fé. Mas, ao contrário de Abraão, já viu realizadas em Cristo as promessas de Deus. Por isso, podemos afirmar como Paulo: ‘sei em quem acreditei!’ Em Cristo encontramos a fonte da vida, da alegria, da paz. Participando no mistério da sua oferta, tornamo-nos cada vez mais capazes de amar, de nos entregar, de darmos glória a Deus. – Senhor Jesus, quero conhecer-te sempre mais, deixando-me instruir pelo Pai o qual me revela quem, de verdade, Tu és (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia[2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite


29º Domingo do Tempo Comum – Ano C


 (Ex 17,8-13; Sl 120[121]; 2Tm 3,14—4,2; Lc 18,1-8). 

1. Antecipando-nos ao tema da oração perseverante em nosso evangelho, a liturgia da Palavra nos propõe esse evento ocorrido na travessia do deserto entre o Egito e o monte Sinai. A intenção desse episódio é reforçar a vitória de Deus em favor do ser humano que a Ele se confia, sabendo esperar.

2. O salmo que se segue deixa claro para nós que ‘o nosso auxílio está no nome do Senhor, do Senhor que fez o céu e fez a terra’.

3. Continuamos a leitura desse escrito que é considerado o último de Paulo. Em seu testamento espiritual dirige-se a Timóteo exortando-o, novamente, a manter-se firme e perseverante na Palavra. Esta será o seu ponto seguro em meio às contínuas flutuações culturais e sociais.

4. Sua solidez depende da sua relação com a Palavra, sendo ouvinte atento e fiel e comprometendo-se em guardar e viver a Palavra. Assim Paulo está delineando a figura do Pastor e do homem de Deus que deve tornar-se pela pregação insistente e pela força que encontrará nela para os tempos difíceis.

5. Na formação dos seus discípulos durante o caminho, Jesus retoma o tema da oração. Para isso oferece uma parábola sobre uma mulher em sua fraqueza e abandono. Mas estranhamente a figura de Deus é aqui retratada como um juiz desonesto.

6. Mais estranho ainda é pensar que Jesus esteja induzindo o discípulo a forçar a vontade de Deus em seu favor. Na realidade Jesus quer deixar claro que Deus não é assim e não é preciso obriga-lo a fazer o bem ou o que nós queremos.

7. Jesus faz uma comparação: se um juiz desonesto cede, com muito maior razão Deus, que é bom, misericordioso e justo. Ele acolhe a oração de seus filhos. A questão aqui no texto está em volta não tanto da pessoa, mas o que se pede.

8. Na realidade o centro de interesse aqui é a ‘justiça’ que se pede. É esse tema da justiça, muito caro à Paulo (que estamos lendo durante a semana), que Lucas ‘bebeu’ do apóstolo.

9. “Pedir ao Senhor que nos ‘faça justiça’ significa desejar com todas as forças tornar-nos justos, obter uma boa relação com Ele, crescer na amizade com o Senhor. Significa aspirar com força e vencer o nosso adversário, isto é, o mal e aquela inclinação para o mal conatural ao nosso caráter”  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

10. Essa escuta certa e pronta de Deus depende dessa sintonia entre a minha vontade e a vontade de Deus. Assim, insistimos e pedimos para aprender a perdoar, a sermos humildes, generosos, pacientes...

11. Assim como Israel no deserto, a nossa vida também é marcada por esse combate através da oração constante e convicta de que só Deus pode nos ajudar na lutas que travamos, por vezes, conosco mesmos. Resta-nos perguntarmos: tenho fé suficiente e confiante para desejar aquilo que esteja em conformidade com a vontade divina?

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de outubro de 2019


(Rm 4,13.16-18; Sl 104[105]; Lc 12,8-12) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus” Lc 12,9.

“Jesus mostra uma lealdade muito humana aos seus amigos. Garante-lhes que quem der testemunho dele diante dos homens, receberá com certeza o seu testemunho diante de Deus. Em contraposição, esta mesma lealdade o leva a fazer uma advertência muito clara: quem renegar Jesus diante dos homens, será renegado por ele diante dos anjos de Deus. Dar testemunho de Cristo, esta é a maneira de garantir que Ele dará testemunho de nós diante de Deus. Até humanamente podemos compreender esta verdade. Quando chegamos em algum lugar desconhecido, e alguém nos apresenta, tudo fica mais fácil, logo nos sentimos à vontade. E na outra vida, como será? Quantas perguntas ainda precisamos nos fazer a respeito de como será nossa existência futura. Mas uma certeza podemos ter desde agora: Cristo vai dar testemunho de nós perante os anjos de Deus. Seremos por ele apresentados no Reino dos Céus. Contanto que nesta vida tenhamos dado testemunho dele. Foi assim, na base da lealdade, que Cristo conquistou a confiança dos discípulos, e os comprometeu para que dessem testemunho dele diante de todos. E assim o fizeram, com grande alegria, mesmo que o testemunho lhes tivesse custado a perseguição e a morte. Triste seria a negação de Cristo. Como Judas acabou fazendo. E como Pedro experimentou com arrependimento. Enquanto é tempo, demos testemunho de Cristo, que assim garantimos que ele dará testemunho de nós. – Jesus, você merece meu testemunho. Ajude minha fraqueza e fortaleça minha fé. Conto com você diante de Deus. Amém” (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de outubro de 2019


(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9). 
São Lucas, evangelista e missionário.

“Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa” Lc 10,7.

“Este texto fala sobre a missão que foi confiada por Jesus a 72 discípulos. Destaca-se no contexto a urgência da missão; ressaltando que, mesmo sob dificuldades, nada pode impedir a tarefa, afinal o tempo é escasso e a mensagem é importante. Jesus trata, neste texto, de um assunto relevante para todos os tempos. Ele compara aquele que anuncia o Reino de Deus a um operário comum. Para ele, ambos têm direito ao salário. Numa perspectiva humana, o mensageiro é um trabalhador que serve a Deus, ao próximo, à Igreja e ao mundo e, por isso, ‘merece o seu salário’. Jesus já tinha instruído nesse sentido quando designou os Doze e Paulo fez a mesma advertência em 1Cor 9,14 e 1Tm 5,18. Trata-se, então de um princípio cristão: aqueles que ministram a Palavra são sustentados por aqueles que a recebem. Mas a grande lição é o contentamento. Os discípulos deveriam escolher uma casa para se hospedarem (Mc 6,10). Uma vez instalados, a preocupação seria com o serviço cristão; não devendo mudar ‘de casa em casa’. Sem perder tempo com mudanças e com gratidão, eles teriam hospedagem, comida e bebida, comungando do que lhes era servido. Tal condição era um testemunho para a comunidade, um exemplo para os discípulos e uma boa antecipação à vinda de Jesus, que os sucederia naquele lugar (Lc 10,1). O mensageiro não vive para o salário; não deve ser ganancioso e o dinheiro não deve ser um deus. Ele não exige, nem é seletivo, pois é sustentado com o que é possível e necessário, isto é, um salário adequado à realidade pessoal, do próximo ou da Igreja. Para o ministro, o dinheiro não é o objetivo, nem o fim; pelo contrário, seu coração está no chamado que Deus lhe deu. – Senhor, que não sejamos dominados pela ambição e, assim, ajuda-nos a ter o suficiente para que possamos viver e trabalhar dignamente na missão que a nós foi confiada. Amém! (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de outubro de 2019


(Rm 3,21-30; Sl 129[130]; Lc 11,47-54) 
Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir.

“Deus destinou Jesus Cristo a ser, por seu próprio sangue,
instrumento de expiação mediante a realidade da fé” Rm 3,25a.

“Escrevo a todas as Igrejas e insisto junto a todas que morro de boa vontade por Deus, se vós não me impedirdes. Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu corpo, para que na minha morte não me torne peso para ninguém. Então de fato serei discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo. Implorai a Cristo em meu favor, para que por estes instrumentos me faça vítima de Deus... Sei o que me convém; começo agora a ser discípulo. Coisa alguma visível e invisível me impeça que encontre a Jesus Cristo. Fogo e cruz, manadas de feras, quebraduras de ossos, esquartejamento, trituração do corpo todo,, os piores flagelos do diabo venham sobre mim, contanto que encontre a Jesus Cristo... Maravilhoso é para mim morrer por Jesus Cristo, mais do que reinar até os confins da terra. A Ele é que procuro, que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por nossa causa. Aguarda-me o meu nascimento. Perdoai-me, irmãos: não queirais impedir-me de viver, não queirais que eu morra; ao que quer ser de Deus não o presenteeis ao mundo nem o seduzais com a matéria. Permiti que receba luz pura: quando lá chegar serei homem. Permiti que seja imitador do sofrimento de meu Deus. Se alguém o possui dentro de si, há de saber o que quero e se compadecerá de mim, porque conhece o que me impulsiona. O príncipe deste século quer arrebatar-me e perverter o pensamento voltado para Deus... Nem que eu, em pessoa, vos implorasse, não deveríeis obedecer-me: obedecei antes ao que vos escrevo, pois eu o faço como alguém que vive e anela morrer. Meu amor está crucificado e não há em mim fogo para amar a matéria; pelo contrário, água viva, murmurando dentro de mim, falando-me ao interior: Vamos ao Pai! Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus que é carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue d’Ele, que é Amor incorruptível” (S. Inácio de Antioquia – Carta aos Romanos – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de outubro de 2019


(Rm 2,1-11; Sl 61[62]; Lc 11,42-46) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“... pois Deus não faz distinção de pessoas” Rm 2,11.

“Hoje, Paulo analisa o sistema de vida dos judeus. O apóstolo dirige-se àqueles que farisaicamente se julgam justos, e pensam não precisar da misericórdia de Deus. Andam iludidos, e essa ilusão vem-lhes do hábito de julgar os outros. Também o judeu não é melhor que o pagão. Ele é mais severo ainda, e mostra que o judeu não tem força moral para julgar o pagão. Também ele se caracteriza pelo ‘coração endurecido’; também ele praticou o mal e é merecedor da ira e do justo juízo de Deus. Não pode, portanto, bancar a pose de juiz e censor dos pagãos. Como eles, necessita da misericórdia, da fé e da graça. A palavra de Deus é sempre viva e eficaz. Mas há momentos em que ela parece encarniçar-se para por diante dos olhos o nosso pecado. As palavras de Paulo são duras: ninguém tem o direito de se gloriar diante de Deus. É realmente uma ilusão comum julgar-se justo, ou por causa do permissivismo que tudo invade, ou porque julgamos os outros. O ‘todos fazem assim’ não é um critério de moralidade para quem quiser seguir a Cristo. O fazer-se juiz dos outros também não nos livra de sermos julgados. Quando vemos alguém errar, facilmente pensamos que, no seu lugar, faríamos melhor. Na verdade, uma coisa é julgar e outra é fazer. Provavelmente, no lugar do irmão que julgamos, faríamos pior. É o que infelizmente acontece, tantas vezes, no campo moral, espiritual. Quem julga, ainda que em algumas coisas tenha razão, erra gravemente pelo simples fato de julgar, porque, como diz Jesus, descuida o mais importante, que é a justiça e o amor. Quem julga os outros, separa-se deles, pondo-se numa situação de egoísmo e de orgulho. Judeus e gregos, cristãos e pagãos, pecadores e justos, devem acolher a graça de Deus, gratuitamente oferecida a todos. – Senhor Jesus, ensina-me a refletir bem sobre a misericórdia do Pai, para que me coloque com humildade e verdade diante dos irmãos, evitando julgamentos desmedidos (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia[2015] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de outubro de 2019


(Rm 1,16-25; Sl 18[19A]; Lc 11,37-41) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é a força salvadora de Deus para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego” Rm 1,16.

“Falar do Evangelho nos tempos de Paulo em Roma era um grande desafio, tal qual atualmente. Mesmo assim, ele destaca que a solução para este mundo de impiedade e perversão é o Evangelho, que age como uma força divina para transformar a humanidade. Devido sua pregação, Paulo foi preso, perseguido, zombado, chamado de louco, mas, mesmo assim, ele faz questão de afirmar que não se envergonhava do Evangelho, pois compreendia que pregava sobre as boas-novas que há em Cristo. Não era outro evangelho (Gl 1,8), não era qualquer evangelho, não era um evangelho falsificado; era, pelo contrário, um evangelho de poder e força que vem de Deus para salvar. Por isso, não havia motivo para a vergonha. Paulo confia plenamente neste evangelho a ponto de afirmar que Cristo é o poder de Deus (1Cor 1,24) e por isso o Evangelho é o próprio Cristo. Essa força é ‘dynamis’ no grego. Trata-se de um ‘poder inerente que reside numa coisa em virtude de sua natureza’. Portanto, uma mensagem que transforma vidas. O evangelho leva em si a onipotência de Deus; por isso é efetivo, liberta, resgata e transforma. Assim, todo aquele que crê, sem distinção, sem preterimento, tem, por meio do poder do Evangelho, uma nova vida, cuja natureza pecaminosa está sob o domínio desta força. Basta confiar e depender, numa decisão de aceitação e crença permanente em Deus, pois é através do Evangelho que ele nos aceita (Rm 1,17). Aliás, a iniciativa salvadora é sempre dele; a nós cabe receber com todo o ser. Por último, cabe uma questão: nós não devemos nos envergonhar do Evangelho; porém, será que o Evangelho, por vezes não se envergonharia de nós? – Senhor, ajuda-nos a crer em ti e na força do teu Evangelho. Não permitas que nossas habilidades sejam a razão de nossa confiança, mas ensina-nos a confiar no que Tu fizeste e estás fazendo por meio da pregação do Evangelho em nossa vida. Amém! (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Viera Leite