Segunda, 01 de março de 2021

(Dn 9,4-10; Sl 78[79]; Lc 6,36-38) 

2ª Semana da Quaresma.

“Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo”

Lc 6,38a.

“Como você tem agido com as pessoas que vivem ao seu redor quando erram? Por acaso você está sempre pronto a condená-las? E o que tem feito com aqueles que erraram contra você? Por acaso você os tem perdoado ou tem ficado tão brabo que nem mais quer saber deles? É dentro deste contexto (cf. Lc 6,36-38) de uma reação com a qual Jesus não concorda, que ele aconselha a não nos colocarmos como juízes dos outros, nem tampouco de ‘fecharmos nossa cara’ e não conceder o perdão ao que erra contra a gente. Se agirmos em amor, se perdoarmos, seremos perdoados, se não julgarmos os outros também não seremos julgados, se ajudarmos o nosso semelhante, o Senhor Deus usará de misericórdia para conosco também. O amor de Cristo sempre buscou o nosso bem. Por nos amar quando éramos pecadores sem nele ter fé, Ele deu sua vida em nosso favor. Aos errados, arrependidos, que nele confiam, Ele continua a amar mais, a perdoar completamente, e ainda os abençoa a tal ponto que não precisam se preocupar com o dia de amanhã. Sim, Ele, Deus abençoa a quem não julga, mas perdoa e ajuda seu semelhante. Somos discípulos dele? Cremos verdadeiramente nele? Temos demonstrado isso seguindo seus ensinamentos no nosso relacionamento com o nosso semelhante? Que seu amor que não nos quer condenar, mas salvar, motive-nos a sermos generosos ao ponto de não julgarmos nem condenarmos ao nosso semelhante, sempre perdoando os que nos ofendem e dando auxílio aos que dele necessitam. Deus promete as suas bênçãos sem medida. Confiemos nele e sigamos seus ensinamentos em amor. Amém. – Senhor Deus, perdoa-me porque nem sempre tenho seguido teus ensinamentos. Dá-me humildade para não querer ser juiz dos outros e amor para que eu saiba perdoar como Tu perdoas e ajudar aos que necessitam de meu auxílio. Em nome de Jesus. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo da Quaresma – Ano B

(Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 115[116B]; Rm 8,31-34; Mc 9,2-10).

1. O segundo domingo da quaresma, em seus três ciclos, nos relata a Transfiguração do Senhor. Foi um dado de fé de grande relevância na cristandade primitiva e de profundo enraizamento na Igreja Oriental. Este episódio é também celebrado no dia 6 de agosto, como festa em nosso calendário litúrgico.

2. O que temos nessa narrativa é uma antecipação do mistério de Cristo, uma epifania do Messias oculto. Aqui se antecipa o triunfo da ressurreição de Jesus, e isso se dá logo após o anúncio de sua suprema humilhação em Jerusalém, para onde caminha.

3. Jesus, além de homem mortal, é o Filho imortal de Deus, o Messias anunciado pelo Antigo Testamento na Lei e nos profetas, representados por Moisés e Elias. O esplendor da divindade penetra e transfigura sua humanidade para permitir a revelação do Filho amado do Pai, pré-anunciando sua Exaltação final.

4. Mas o tema principal, nessa preparação que fazemos para a renovação do nosso batismo é o da fé, como já podemos apreender na 1ª leitura sobre o sacrifício de Abraão em sua prova de fé. Recordemos que Isaac era filho único, da sua velhice e da promessa divina, que agora é pedido em sacrifício.

5. Essa suprema prova de fé, confiança e obediência que deve enfrentar, pois com tal pedido, Deus parece romper sua palavra e fecha para Abraão toda esperança para o futuro. Mesmo assim se encaminha ao monte indicado com filho, que carrega, sem o saber, a lenha para seu próprio holocausto. O restante a gente conhece pela narrativa.

6. É justamente por sua obediência que Deus renova sua promessa: uma descendência numerosa, terra em possessão e bênção para o seu povo e todas as nações da terra. É bom lembrar que nessa narrativa não está ausente a condenação por Deus dos sacrifícios humanos à divindade, como faziam os povos vizinhos.

7. Isaac é considerado pela tradição eclesial como o tipo do sacrifício de Cristo. Carregando sua cruz Jesus subiu também ao monte para o seu holocausto redentor em obediência ao Pai e por amor a humanidade. É nessa prova de que Deus está conosco que Paulo nos convida à confiança plena na ação salvadora de Deus.

8. Assim como fez com Abraão e com o próprio Filho, e Cristo com seus discípulos, Deus prova a nossa fé. A provação é um sinal da predileção e amizade de Deus. “Eu trato assim meus amigos”, disse certa ocasião o Senhor a Santa Tereza d’Ávila. ‘Por isso é que o Senhor tem tão poucos!”, respondeu ela gracejando.

9. As provações de qualidade são às vezes muito duras, como no caso de Abraão e de Jesus. Mas ordinariamente a provação do Senhor para nossa fé é a fidelidade cotidiana. Às vezes ronda perto de nós a tentação do desalento, invade-nos o próprio cansaço ou a desilusão, como aconteceu aos apóstolos ao saberem da Cruz de Jesus...

10. Assalta-nos a dúvida de se, renunciando ao estilo atrativo da vida mundana que hoje renunciamos, não estamos sendo logrados e perdendo o nosso tempo em seguir a Cristo. Necessitamos, então experimentar a proximidade de Deus na oração como fez Jesus, a glória vem depois da cruz, mas nesta já se antecipa o triunfo.

11. Vivemos num mundo profundamente marcado pela busca de segurança, proliferam os seguros sociais e privados, virando quase uma obsessão nos países desenvolvidos. Uma certa garantia de segurança é razoável; mas se se converter em valor absoluto, obsessivo e psicótico, cria-se um sedentarismo como pavor diante de uma mudança, o ódio a tudo que é novo. E isso pode se dá em vários setores da nossa vida, até no religioso.

12. A fé e a religião não são uma agência de seguro. A fé cristã consiste em depositar confiança e amizade, por meio de Jesus, numa pessoa que é Deus, a quem aceitamos em nossa vida e cuja palavra e honestidade nos confiamos plenamente. Tem seu ponto de aventura e risco, obscuridade e salto no vazio.

13. Tudo isso pode ser paradoxal, mas melhor que teorizar sobre a fé é ver um modelo concreto dela. Voltemos nosso olhar para Abraão. Leiamos sua história, para entendermos o porquê de ser chamado nosso pai na fé. Nossa fé cristã começa escutando a Jesus, como nos diz o evangelho. Recolher-se para escutar, é como subir a montanha com Ele para orar.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 27 de fevereiro de 2021

(Dt 26,16-19; Sl 118[119]; Mt 5,43-48) 

1ª Semana da Quaresma.

“Eu, porém, vos digo, amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!

Assim vos tornarei filhos do vosso Pai que está nos céus,

porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” Mt 5,44-45.

“Amar deveria ser uma tarefa fácil para o cristão, porque primeiramente Deus nos amou e nos ensinou a amar em toda a sua pregação. Em outra oportunidade aprendemos quando Jesus nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos. Mas, quem é meu próximo? Quem é que está mais próximo de nós? Na família, os cônjuges, os filhos, os avós, os tios, genros, etc. como tem sido essa relação em família? Jesus sabe dessas dificuldades em família faz a nós um pedido: amar os próprios inimigos. Se amar os parentes está sendo difícil, como obedecer a esse mandado de Jesus? Uma ilustração antiga nos mostra como era difícil amar ao inimigo. Hoje, essa dificuldade continua. A ilustração conta que um sábio rei tinha três filhos e antes de morrer queria deixar seus bens para o filho que usasse com sabedoria. Enviou-os para uma terra longínqua e pediu-lhes que só voltassem depois de ter feito algo que merecesse ser contado. E partiram os filhos. O mais velho depois de algum tempo voltou e contou ao pai: que havia distribuído todos os seus bens para os pobres que encontrava pelas estradas. O pai ouviu e se calou. O segundo filho chegou e contou ao pai: havia trabalhado todo esse tempo que ficou fora para um asilo de velhos, dando a eles todo o seu dinheiro. Chegou o terceiro filho e contou ao pai que, nas suas andanças, havia encontrado um seu conhecido, da cidade onde residia, e que aquele era o seu maior inimigo, procurado muitas vezes por ele para mata-lo. Ao vê-lo muito doente, em condições de miséria, teve compaixão dele e o perdoou, levando-o para um local onde poderia ser curado do seu sofrimento. O pai chamou os seus filhos e começou a falar-lhes sobre a viagem de cada um, analisando os seus atos. O filho que havia amado ao seu próprio inimigo recebeu a bênção do pai. – Senhor meu Deus, ajuda-me a amar os que me perseguem. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de fevereiro de 2021

(Ez 18,21-28; Sl 129[130]; Mt 5,20-26) 

1ª Semana da Quaresma.

“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus,

vós não entrareis no Reino dos céus” Mt 5,20.

“Carlos Alberto era uma pessoa estimada na comunidade onde congregava. Dominicalmente estava presente e se colocava à disposição do ministro da Igreja para qualquer serviço. Quando falava com os irmãos, salientava as boas ações que fazia, como, por exemplo, dar comida aos pobres, ajudar um asilo e fazendo-lhes visitas semanais, ler a Bíblia, orar pela Igreja, especialmente aquela que estava passando por perseguições no mundo, e assim por diante. Ele, no entanto, não gostava do ‘seu’ Joaquim, com quem tivera uma discussão uma vez na festa paroquial. Ao invés de servir as mesas, ele queria ficar sentado no caixa, recebendo os cartões e eventuais pagamentos. Eles discutiram e nunca mais se falaram. É exatamente sobre isso que Jesus falou nas palavras bíblicas de hoje. Quem pensa que cumpre todos os pontos da lei, mas erra num só, vai ter que se esforçar, e muito, para entrar no Reino dos Céus. Sim, dependendo do que fazemos não chegamos à vida eterna. Antes, porém, dependemos do que Jesus fez, do pagamento que Ele efetuou na cruz pelos nossos pecados, da sua ressurreição que é a garantia de sua vitória e da nossa. Quem crê nisso, esse sim, terá entrada livre nos céus, será um bem-aventurado de Deus. A perfeição, aqui no mundo, nunca poderemos alcançar. Dia após dia erramos contra a Lei do Senhor. E pecar contra ela significa merecer, isso sim, sua condenação. Por isso, a palavra de Jesus: ‘Se a vossa justiça não for maior do que as dos escribas e fariseus (pessoas que julgavam merecer a vida eterna), não entrareis no Reino dos Céus’. Demos graças a Deus que Ele nos salvou através do ato de amor de seu filho, Jesus. Que você e eu, em resposta a este amor, por termos sido salvos, vivamos uma vida que lhe seja agradável. Amém. – Pai nosso, através das coisas que faço, não mereço a vida eterna. Obrigado que salvaste através de Jesus. Mantém em mim esta fé até o fim. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 25 de fevereiro de 2021

(Est 4,17; Sl 137[138]; Mt 7,7-12) 

1ª Semana da Quaresma.

“Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem!” Mt 7,11.

“Jesus nos encoraja a pôr as nossas necessidades perante Deus, uma ação muito simples que Ele descreve de três modos. Primeiramente, podemos, apenas e simplesmente, pedir a Deus. Rezar não é um ato de magia. Na oração não há fórmulas, preparações ou ações especiais. Podemos apenas pedir do modo mais direto possível. Ou podemos procurar. Procurar implica ceder algum tempo e esforço e, por vezes, implica atravessar momentos de frustração. Mas quando procuramos com uma esperança verdadeira de encontrar aquilo que desejamos, podemos também ser conduzidos à alegria. Por fim, podemos agir como se batêssemos a uma porta, e isto sugere permanecer na expectativa de alguém que virá. Implica um encontro com alguém. Cristo nos assegura que levar as nossas necessidades a Deus destas formas nunca será em vão. Jesus explica com uma analogia. Os seres humanos, imperfeitos, sabem como dar aos seus filhos aquilo de que eles precisam. ‘Se vós, sendo maus’ significa ‘com todas as vossas faltas’: Cristo não está a denegrir a natureza humana, mas a dizer, simplesmente, que, em comparação com a generosidade sem limites de Deus, o nosso amor é algo muito frágil. E se o nosso amor pode dar o que é necessário aos nossos filhos, temos todas as razões para confiar em Deus tanto ou até mais do que as crianças humanas confiam nos seus pais. Se o texto começa por focar as nossas necessidades, termina com ênfase no ‘vosso Pai que está no céu’: o que verdadeiramente dá vida é uma relação de confiança com Ele. Pedir, procurar e bater à porta, mesmo quando não há uma resposta imediata e óbvia às nossas orações, são modos de penetrar e deixar crescer esta confiança que dá a vida. – Apesar de nossas maldades, apesar da presença do mal em nós e ao nosso redor, não permita, Senhor, perdermos a fé na bondade do coração humano. Ela existe porque, criaturas tuas, Tu és o Bem, a Bondade. Porque és bom, em ti, somos bons. Assim seja (Adriano Freixo Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de fevereiro de 2021

(Jn 3,1-10; Sl 50[51]; Lc 11,29-32) 

1ª Semana da Quaresma.

“No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas” Lc 11,32.

“Jonas era um profeta fujão, um pregador de má vontade. Admira-se por isso que sua pregação tenha tido resultado tão esplêndido a ponto de toda uma cidade que não tinha até então nenhum contato com os profetas judeus se converter a Deus com as mais profundas mostras de arrependimento. Avancemos alguns séculos e cheguemos até a época de Jesus. Encontraremos ali os judeus, o povo de Deus, fique isso bem claro, e, naturalmente, o próprio Jesus, o Filho de Deus. Desse encontro, raciocinando apenas com as expectativas da lógica, qual deveria ser o resultado? Uma explosão de fé antes jamais vista. Feito, porém, um balão murcho que se deforma no chão ou um outro que marca deixando o caçador sem sua presa – assim foi a pregação de Jesus aos seus contemporâneos nada de arrependimento, nada de fé, nada de amor, pelo contrário, rejeição, endurecimento, perseguição. De nós, talvez, também se espera muito. Criados numa cultura cristã, numa família cristã, numa igreja cristã – temos tudo para ser cristãos atuantes e amantes do Evangelho. Mas será que somos? Será que não usamos aquilo que chamamos de fé apenas como um escudo para a intenção mesquinha e egoísta? É só uma pergunta, que os ninivitas não responderam em nosso lugar. – Deus amado, queremos ouvir o chamado do teu Filho. Dá-nos forças para atendê-lo. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 23 de fevereiro de 2021

(Is 55,10-11; Sl 33[34]; Mt 6,7-15) 

1ª Semana da Quaresma.

“Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos.

Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras” Mt 6,7.

“Orar, rezar, falar com Deus, é uma atitude cristã e também de não-cristãos. Em todos os credos religiosos ou seitas, orações são feitas. Entre os dois tipos de crenças, há uma diferença marcante na maneira de orar ou rezar ao Deus verdadeiro. O cristão foi orientado por Jesus, quando Ele nos deu a oração do Pai-nosso. Essa conversa com Deus não precisa se extensa... não é muito falar que Ele quer de nós. Essa comunicação requer mais qualidade do que quantidade. O muito falar nos faz cair em vã repetição. Na oração do cristão, pelo mérito de Cristo, as nossas petições serão respondidas sim, não. O valor da oração está na confiança que temos em Deus e na fé que n’Ele depositamos pela graça alcançada na cruz. Quando é que o cristão deve orar? Em todo tempo, em qualquer lugar, a qualquer hora. Sim, o cristão deve estar em contato com seu Deus, a cada minuto da sua vida. Não devemos nos lembrar de orar a Deus apenas quando estamos em dificuldades. – Senhor, dá-me fé e verdadeira confiança em teu poder em me ajudar e resolver os meus problemas. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de fevereiro de 2021

(1Pd 5,1-4; Sl 22[23]; Mt 16,13-19) 

Cátedra de São Pedro.

“Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja,

e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” Mt 16,18.

“Para lembrar duas importantes etapas da missão do príncipe dos apóstolos, são Pedro, - e o estabelecimento do cristianismo primeiro em Antioquia, depois em Roma, - o Martirológio celebra duas festas: cátedra de São Pedro em Antioquia, 22 de fevereiro e cátedra de São Pedro em Roma, 18 de janeiro. A reforma do calendário unificou as duas comemorações para o dia 22 de fevereiro, data que encontra apoio no livro Dispositio martyrum. Com efeito, nesse dia celebrava-se a cátedra romana, mas na França foi antecipada para 18 de janeiro para a festa não cair na quaresma. Foi por isso que a festa se desdobrou em duas. Cátedra é o símbolo da autoridade e do magistério do bispo, de onde vem catedral, igreja-mãe da diocese, sede permanente do pastor. A cátedra de São Pedro é o reconhecimento de sua autoridade sobre toda a Igreja, inclusive sobre os outros apóstolos. Essa investidura da parte de Cristo foi reforçada depois da ressurreição: ‘Apascenta meus cordeiros...’ Logo após a ascensão vemos Pedro tomar o seu lugar de líder. Ele preside a eleição de Matias, fala em nome de todos no dia de Pentecostes e diante do sinédrio. Herodes Agripa quer eliminar Pedro, certo que daria um golpe mortal na Igreja nascente. É incontestável sua presença em Antioquia, como atestam os escritos do Novo Testamento. Sua vinda a Roma, está fora de dúvida, inclusive para os estudiosos não católicos. A tradição do cristianismo foi sempre unânime e as escavações nas grutas vaticanas, ordenadas por Pio XII, em 1939, comprovaram” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

1º Domingo da Quaresma – Ano B

(Gn 9,8-15; Sl 24[25]; 1Pd 3,18-22; Mc 1,12-15)

1. Os domingos da quaresma não têm o tom penitencial, mas visam nos preparar para celebração da Páscoa na renovação do nosso batismo. Por isso a duas primeiras leituras tratam desse tema logo na abertura, na imagem da aliança feita com Noé e na interpretação dada por Pedro.

2. Para bem celebrarmos esses mistérios, somos convidados a entrar nesse grande retiro de escuta da palavra e da prática de pequenos exercícios de caráter penitencial e devocional. É este caminho que iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, ouvindo as palavras que se repetem no evangelho de hoje: ‘convertei-vos e crede no Evangelho’.

3. A ideia da aliança é uma constante bíblica; é o fio condutor de toda a história da salvação humana por Deus que culmina em Jesus Cristo, que por sua morte e ressurreição realiza a Nova Aliança da qual surge o novo Povo de Deus que é a Igreja. Assim, em cada sacramento essa aliança é renovada: batismo, penitência, eucaristia...

4. Percebemos que Marcos não descreve as tentações de Jesus no deserto, nem tampouco menciona o jejum, mas se limita a constatar esquematicamente, dizendo que foi conduzido pelo Espírito, ficou quarenta dias no deserto, e foi tentado por satanás.

5. Essa cena do deserto é vista também por Mateus e Lucas, e para os três evangelistas, se dá em estreita relação com o Batismo de Jesus no Jordão, conduzido pelo Espírito e preparando-o para a vida pública e missionária. João Batista é tirado de cena e Jesus inicia a sua pregação com um convite à conversão.

6. O tempo a que se refere Marcos não tem a ver com calendário, medido, mas com o da graça de Deus, do seu favor. É a mesma dinâmica usada por Paulo na 2ª leitura da Quarta-feira de Cinzas: ‘Eis o tempo favorável’.

7. Todos nós necessitamos continuamente de conversão, porque somos pecadores. O mal, o pecado não estão só meio de nós, mas também dentro de nós. Por isso a Quaresma nos convida a renovarmos nossa aliança batismal nessa busca de conversão e reconciliação com Deus e os irmãos. Façamos juntos esse caminho.

8. Somos mais uma vez convidados à conversão profunda, de fé; na escuta e na vivência do evangelho encontramos forças para resistir ao materialismo mercantilista, à religião mágica e a tirania dos ídolos, conforme nos narram os outros evangelistas nas tentações sofridas por Jesus.

9. A conversão parte do interior da pessoa, porque é no coração que brota todo mal que faz inabitável o nosso mundo. O cristão convertido refaz seus critérios e sua estrutura pessoal, abandona os ídolos que o escravizam e prefere ser pobre a ser explorador, ser perseguido antes que perseguidor, ser pacífico e não violento, ser irmão e não inimigo, perdoar e não odiar. Esse é o longo caminho a ser percorrido...  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de fevereiro de 2021

 (Is 58,9-14; Sl 85[86]; Lc 5,27-32) 

Cinzas.


“Jesus respondeu: ‘Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes’” Lc 5,31.

“Depois de haver curado um paralítico na cidade de Cafarnaum, Jesus encontrou na coletoria – numa repartição pública onde o povo pagava impostos para os romanos – o coletor, o cobrador de impostos chamado Levi ou Mateus. Os coletores eram odiados pelos judeus porque cobravam impostos para os romanos e, muitas vezes, cobravam mais do que deviam para encher seus próprios bolsos (veja que a corrupção não é coisa nova; é antiquíssima). Jesus, pois, convidou a Levi para segui-lo, e este assim o fez. Mas Levi fez mais: ofereceu-lhe, em sua casa, um banquete na companhia de seus colegas de trabalho e outras pessoas. Os fariseus e seus escribas, vendo isso, indignaram-se e perguntaram por que Jesus comia com aqueles pecadores. Diante disso é que Jesus afirmou que os que têm saúde não precisavam de médico, mas sim os enfermos. Em outras palavras, ele deixou claro que viera chamar pessoas como aquelas, consideradas pelos fariseus como pecadoras, ao arrependimento. Esta é a grande verdade do Evangelho: Jesus não rejeita ninguém. Ele recebe todo pecador arrependido que nele crê, perdoa-lhe e lhe garante a vida eterna. Sejamos como Jesus. Nunca discriminemos o nosso semelhante. Pelo contrário, recebamos com alegria os pecadores, anunciemos-lhes a mensagem de Cristo a saber: que se arrependam de seus pecados e nele creiam. Se isso acontecer, certamente haverá júbilo e alegria nos céus na presença de Deus. Amém. -  Senhor Jesus, obrigado por não rejeitar o pecador que a ti se dirige arrependido e com fé. Obrigado porque também não me rejeitas. Conserva-me no teu amor. Amém” (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de fevereiro de 2021

(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) 

Cinzas.


“Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo,

tornar livres os que estão detidos, romper todo tipo de sujeição?” Is 58,6.

“A passagem do início do capítulo 58 do livro do profeta Isaías apresenta-se como uma autodefesa de Deus, acusado pelas palavras do povo de proceder como se estivesse longe. Que Deus faça a nossa vontade: eis a realidade na qual tantas vezes nos encontramos! Transformamos nossa suposta fé em moeda de troca com Deus. A ausência de proteção divina deveria ser atribuída, portanto, a uma infidelidade de Deus. O profeta devolve ao povo, às pessoas, a acusação. Quantas exterioridades, superficialidades, enganos, falsidades, ilusões em nossas religiosidades ainda hoje! Diante das queixas injustas das pessoas, Deus alerta: muitos de nossos atos de piedade não valem nada, pois andam de mãos dadas com as faltas à justiça e ao amor. O verdadeiro jejum não consiste primariamente em atitudes externas. Consiste, antes, em rejeitar toda injustiça e a se dedicar ao serviço dos outros. Sim, reergamos o mundo com a prática do bem! Deus nos procura em nossa mais profunda realidade. A interioridade proclamada pelos profetas exige, sobretudo, correspondência entre fé e comportamento. Assim, o profeta não prega a eliminação do jejum penitencial. Apenas destaca o seu verdadeiro conteúdo. Jejum, penitência e oração ou, ainda, toda e qualquer prática tida por religiosa são totalmente destituídos de valor e de sentido se não forem vivificados pela caridade e acompanhados das obras de justiça. Assim, o jejum verdadeiramente agradável a Deus consiste em libertar-se do egoísmo e prestar alívio e ajuda ao próximo. – Hoje e sempre, ajuda-nos, Senhor, a descobrir as necessidades do próximo e lembrar-nos que podemos encontrar a maneira de ir-lhe ao encontro, renunciando a algo pessoal. Ajuda-nos a unir cada vez mais a fé e vida, para que nossa oração chegue a ti na sinceridade de nosso coração. Amém (Adriano Freixo Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de fevereiro de 2021

(Dt 30,15-20; Sl 01; Lc 9,22-25) 

Cinzas.


“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” Lc 9,22.

“Neste texto, lemos o primeiro anúncio da paixão de Cristo. Retomando os acontecimentos que envolveram aqueles momentos, é um paradoxo, pois Jesus havia multiplicado pães e peixes para cinco mil pessoas que estavam a ouvi-lo durante todo o dia. relembrando ainda fatos, Jesus havia curado a muito necessitados. Jesus orava a sós com seus discípulos e preocupado com o que pensavam dele, naquele exato momento. A preocupação chegou ao ponto de perguntar aos discípulos: Essa multidão sabe quem sou eu? E os companheiros de Jesus tinham a resposta nos lábios: Dizem que tu és João Batista, outros dizem que tu és Elias, e ainda estão dizendo que tu és um profeta antigo que ressuscitou. Vejam, pois, que decepção para o Mestre dos Mestres. Aquele bando de interesseiros por comida e teatro não tinham percebido que o homem que fazia todas aquelas coisas era o humilde filho de Maria e José lá de Belém. Os discípulos, na voz de Pedro, sabiam que aquele homem que estava ali com eles era o Cristo de Deus. Outra vez me surpreendo, porque Jesus proibiu aos discípulos falarem a terceiros sobre aquela verdade. Porém, tudo tem uma explicação: o nome Cristo no ambiente político não era bem aceito. E Cristo, sabendo disso, revela aos seus amigos: é preciso que o Filho do Homem padeça muito e seja rejeitado até por sacerdotes e seja morto e ressuscitado ao terceiro dia. Você sabe quem é Jesus, anunciado em sua Igreja, para a salvação de nossas almas? Procure estudar mais sobre a sua vida e você vai ter surpresas agradáveis. – Senhor Jesus, que eu procure te conhecer melhor para a alegria da minha vida cristã. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de fevereiro de 2021

(Jl 2,12-18; Sl 50[51]; 2Cor 5,20—6,2; Mt 6,1-6.16-18) 

Cinzas.


“Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixa-vos reconciliar com Deus” 2Cor 5,20b.

“O Apóstolo Paulo, de acordo com vários comentaristas bíblicos, escreveu a sua Segunda Carta aos Coríntios entre 56 e 57 d.C. na cidade de Filipos, hoje Grécia. Corinto, capital da província romana de Acaia, também na Grécia, tinha entre 100 e 700 mil habitantes na época. Era cidade importante, ponto de partida da rota comercial entre o Ocidente e o Oriente. É aos cristãos desta cidade que Paulo pede para que se deixem reconciliar com Deus. E por que ele pede isso? Porque somente por meio da fé em Cristo o ser humano podia e pode receber reconciliação com Deus, a adoção de filhos, isto é, fazer parte da família do Senhor, receber o seu perdão e, consequentemente, a vida eterna. A reconciliação com Deus é necessária para cada um de nós. Sem ela estaríamos perdidos para sempre. Contudo, pela Escritura Sagrada podemos ter esta certeza, de que por meio de Jesus Cristo, Deus, o Pai, reconciliou consigo o mundo inteiro, não imputando mais aos seres humanos as suas transgressões (2Cor 5,19). Foi lá na cruz que Jesus pagou, com o derramar do seu sangue, o preço da nossa reconciliação. Sim, foi o sangue de Jesus que nos purificou de todo o pecado (1Jo 1,7); é em Jesus Cristo que temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça (Ef 1,7). Que você e eu, que fomos reconciliados com Deus porque cremos no seu Evangelho, a boa notícia da salvação, continuemos firmes nesta fé e que, com alegria e disposição, demos testemunho da verdade que salva aos descrentes que vivem ao nosso redor para que, pelo poder do Espírito Santo, arrependam-se, creiam e sejam salvos também. – Amado Deus, eu te agradeço que vieste ao meu encontro com o teu Evangelho e que, pela ação do teu Espírito Santo, vim a crer e fui reconciliado contigo. Ajuda-me para que nunca me afaste de ti. Fortalece-me para que seja testemunha de tua salvação. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de fevereiro de 2021

(Gn 6,5-8; 7,1-5.10; Sl 28[29]; Mc 8,14-21) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus os advertiu: ‘Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento de Herodes’” Mc 8,15.

“Abri os olhos! Tomai cuidado! Conselho desse tipo se aplicam em todos os tempos a todas as situações porquanto sempre vai haver alguém procurando enganar o outro ou, pelo menos, seduzi-lo com alguma ideia que não é nem a mais correta nem a mais conveniente. Fariseus e saduceus (aliados políticos de Herodes) representavam duas correntes religiosas opostas na Palestina dos tempos de Cristo. Os primeiros, legalistas, formalistas e até mesmo hipócritas, não davam descanso a Jesus. Os segundos, liberais, aculturados ao helenismo e colaboradores dos invasores romanos, não faziam a Jesus uma oposição tão sistemática quanto os outros, mas acabaram também opondo-se a ele por temer possíveis transtornos políticos ocasionados pela mensagem de Jesus. Os dois grupos, consequentemente, constituíam adversários de peso. Daí a razão de os discípulos guardaram-se deles. Fariseus e saduceus, no entanto, não existem mais. O adeus da história já receberam há tempos. Haveria, assim, alguma razão de nos preocupamos com eles? Claro, desde que entendamos que fariseus e saduceus convivem muito bem entre si... dentro de nós. Não somos, às vezes, tão austeros, legalistas e formalistas e prontos a julgar os outros? E, em outras, não somos tão refinados, abertos e liberais a não ser, naturalmente, quando nossos interesses são contrariados? O fermento dos fariseus e de Herodes cresce bastante em nossa massa, não há dúvida alguma. Qual a solução? Arrepender-se. Crer. Progredir no Espírito. Evitar. Tomar cuidado. E acima de tudo, observar o seguinte: se Cristo nos adverte, não é para ele ver como vamos nos virar sozinhos, mas para criar em nós anseio da sua ajuda. Portanto, se o fermento dos fariseus e saduceus cresce em nós, peçamos a Jesus que faça crescer em nós outro princípio, a saber, a sua graça. – Senhor Jesus, sem a tua redenção continuamos a ser massa de manobra para todo fermento ruim. Por isso, não nos abandones, mas ajuda a nos guardarmos do fermento que nos corrompe. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de fevereiro de 2021

(Gn 4,1-15.25; Sl 49[50]; Mc 8,11-13) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Jesus deu um suspiro profundo e disse: ‘Por que esta gente pede um sinal?

Em verdade vos digo, a esta gente não será dado nenhum sinal’” Mc 8,12.

“Nós somos ‘essa gente’ diante da qual Jesus ‘suspira profundamente’. Ele suspira! Curiosamente lembramos de um doce chamado ‘suspiro’. Um doce leve, feito à base de puro açúcar simplesmente. Um doce simples, que não precisa de muita degustação, de muita saliva para desmanchar na boca. Um doce leve, simplesmente doce, sem muita sofisticação, mas cujo paladar nos faz ‘suspirar’ de alegria simples, como a alegria de uma criança. Talvez assim, de modo muito simples, leve, tenha sido essa constatação de Jesus: Por que insistir em pedir um sinal do céu, se ao nosso redor, na terra, estamos cercados de sinais? Por que insistir em buscar no céu, no além, no extraordinário, aquilo que aos olhos ‘desta gente’ já é realidade: a presença de Deus com seu povo, no concreto dos afazeres diários, nas lidas mais cotidianas e ordinárias? Assim viveu Jesus: corpo a corpo com as pessoas, no resgate de sua dignidade de filhos de Deus, mostrando com suas atitudes, com seus posicionamentos a realidade de que não estamos sós em nossa solidão – Deus está conosco! Não há sinais vindo do céu! Esta prova, esta certeza como posse definitiva e acomodada, nunca nos será dada! Porque viver é caminhar na terra, é tatear a presença de Deus nos sinais ao nosso redor. Olhemos para baixo, ao nosso redor. Parados, olhando para o alto, deixamos escapar a vida. Deixamos de perceber que há pouco tempo celebramos o Natal, a memória de que o céu desceu à terra para que a terra se tornasse céu; a memória de que tornar-se Deus um de nós, nós nos tornamos eternos! – Sim, Senhor! Queremos suspirar contigo! Queremos abrir os nossos olhos para perceber sua presença conosco pelos caminhos da vida, por mais acidentados que eles às vezes sejam. Tu estás conosco. Não precisamos de outro sinal. Ajuda-nos a não pedir sinais! Aliás, eles não nos faltam. O milagre da vida renova-se a cada instante. Sua presença nos basta, Senhor! Amém (Adriano Freixo Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(2Rs 5,9-14; Sl 31[32]; 1Cor 10,31—11,1; Mc 1,40-45).

1. Marcos nos narra a cura de um leproso com seu estilo enxuto, e com extrema simplicidade e naturalidade, como se tratasse de um acontecimento que entra na normalidade das coisas. Mesmo sendo um fato de natureza prodigiosa, este anuncia qualquer coisa de absolutamente nova e provocativa.

2. Para entendermos, é suficiente que tenhamos presente a mentalidade hebraica no que se refere a doença da lepra ainda vigente no tempo de Jesus: a lepra era a forma mais grave de impureza cultual. A pessoa era tida como pecadora pública e punida por Deus, mantida à distância.

3. Mas o leproso do Evangelho vem na contramão da norma e se aproxima de Jesus e faz a sua súplica. E Jesus, passando por cima da prescrição, cheio de compaixão, o cura.

4. Recuperar-se da lepra era como ressuscitar dos mortos, algo que só Deus poderia realizar, mas também indício de tempos novos, da vinda do Messias. Em Cristo, Deus age e realiza o seu desígnio de salvação da humanidade. Mas, por que essa narrativa nos é apresentada?

5. Para refletirmos sobre a divindade de Jesus e sua realidade messiânica confirmada através dos milagres? Pode ser, pois Marcos usa muito tais elementos para revelar a divindade de Jesus e colocar crentes e não crentes diante da sua bondade e para que acolhamos sua mensagem de salvação.

6. Mas para além desse fato que confirma a nossa fé em Jesus, está a intenção da Igreja de fazer calar o contexto histórico e nos levar a refletir sobre a atitude de Jesus e o nosso cotidiano. Olhar o estado de humilhação e de marginalização em que se encontrava esse pobre homem e da legislação que pesava sobre ele.

7. Poderíamos nos indignar com essa visão obscurantista e assumirmos a posição de achar que eram coisas de um outro tempo, inconcebível nos dias atuais. Mas sabemos que as vítimas de exclusão ou marginalização fazem parte de qualquer tempo da história e o nosso não é diferente.

8. Talvez tenhamos mais situações que em outros tempos, que tocam pessoas e situações: o que não serve ou não rende, vem colocado à parte e desse ou disso se mantem uma certa distância. Uma mentalidade à qual vamos nos acostumando. Intolerância é também um fenômeno de marginalização.

9. Nesse curto episódio de Marcos, Jesus provoca aquele homem a contestar os erros ou carências de uma legislação que não considera os mais débeis. O provoca a derrubar os muros da divisão entre as pessoas. Nos ensina a estender as mãos a quem sofre no corpo e no espírito e não ser-lhes indiferente.

10. Para que nosso discurso não fique assim tão abstrato ou demagógico, pois sabemos que muitos gritam por justiça em nosso mundo. O evangelho nos convida não só a gritar contra as injustiças, mas a converter-nos ao modo de agir de Cristo, e a mostrar com gestos concretos nossa conversão.

11. Não podemos mudar o mundo, bem o sabemos, mas eliminemos, ao menos, algumas formas de marginalização que estão em torno a nós e até mesmo provocadas por nós, em nossa convivência com os outros e na relação com as situações de marginalização em nossa sociedade, para, quem sabe, mudarmos um pouco a direção de nossa vida e de outas vidas...

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 13 de fevereiro de 2021

(Gn 3,9-24; Sl 89[90]; Mc 8,1-10) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem nada para comer”

Mc 8,2.

“Na primeira multiplicação dos pães, Jesus teve pena das pessoas, ‘porque eram como ovelhas sem pastor’ (6,34). Marcos deve estar se referindo aos judeus, que estavam sem um verdadeiro líder. Seus mestres e líderes tinham fracassado. Mas as ovelhas sem pastor são também uma imagem de nós hoje. Sem pastor, as ovelhas estão perdidas. Elas se dispersam. Cada um segue seu caminho, expondo-se assim aos perigos. E não encontra seu pasto. Jesus orienta as ovelhas. Com sua doutrina, ele lhes mostra o sentido da existência e as leva ao pasto, onde podem alimentar-se. A palavra anunciada por Jesus é alimento. Jesus cuida das ovelhas. Ele cura suas doenças e, como pastor, indica a direção que devem seguir. Ele manda as pessoas se acomodarem em grupos. Isso é para mim uma metáfora de uma cultura de vida sadia e curativa. Além disso, Jesus sacia a fome delas. O que ele lhes dá alimenta e sacia de verdade. Tudo isso é expressão de sua compaixão com os seres humanos que haverá de encontrar o seu auge em sua morte na cruz. É aí que ele parte o único pão que os discípulos tinham no barco (8,14), para saciar nossa sede profunda. Na segunda multiplicação dos pães, Jesus sente pena novamente. Mas agora o motivo de sua pena é outro: ‘Se os despeço, mandando-os para casa em jejum, vão desfalecer no caminho, e há alguns que vieram de longe’ (8,3). Os seres humanos – no caso presente trata-se especialmente dos pagãos – desfalecerão no caminho se não encontrarem Jesus. Não estão em condições de seguir sozinhos seu caminho, e precisam de uma merenda para o trajeto. Jesus é o filho de Deus que nos alimenta no caminho de nossa vida, dando-se a si próprio como pão. Em sua morte, ele parte o pão para nós. É suficiente para todos nós. Em última análise, as duas multiplicações dos pães e as três travessias com o barco remetem à morte de Jesus na cruz, na qual Jesus se entrega a si mesmo por nós e nos leva à outra margem, que é a margem da glória divina” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 12 de fevereiro de 2021

(Gn 3,1-8; Sl 31[32]; Mc 7,31-37) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Muito impressionados, diziam: ‘Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”

Mc 7,37.

“O povo estava emocionado, extasiado. E poderia estar de outra forma após milagres e mais milagres realizados diante do seu nariz? Haverá, por acaso, alguma coisa que mexa mais com nossas emoções que ver uma pessoa deficiente a vida inteira sendo curada ao simples som dum ‘Abre-te’? Que o povo, portanto, se emocionasse, se extasiasse e se maravilhasse! Deus estava em seu meio realizando obras de amor e de poder. Mas qual a real intenção de Jesus ao praticar tais milagres? Teólogos tradicionais teriam a resposta na orelha da dogmática ou, melhor dizendo, na ponta da língua: queria mostrar ao povo a sua divindade. Mas, então, por que expressamente o proibia de propagar o acontecido? Não, não era a intenção de Jesus ao curar. Sua real intenção era esta: repartir amor com os carentes dentre os carentes. É nisso que está o grande milagre de Cristo. Ressaltarmos seu poder ou, então, a excepcionalidade do ato milagroso não chega ao ponto central, que é o seu amor. E é também aí que reside a corrente milagrosa de Cristo no decorrer da história. Como igreja, isto é, como membros pessoais do corpo de Cristo, estamos integrados nessa corrente. Às vezes, o elo correspondente à nossa pessoa anda meio enferrujado ou cheio de limo jamais raspado interrompendo, assim, a descarga de amor que, saindo de Cristo, deve passar para todos os homens. Vejam só: em nossa omissão e comodismo acabamos personalizando o ‘desmilagre’ do desamor. Mas (atentemos para esse ‘mas’), se nos conscientizarmos de que nossa fé é o milagre que vem do milagre do perdão de Cristo, vamos nós ter forças para barrar o milagre do amor que ele derrama sobre a humanidade sofrida? – Obrigado, Senhor, pelos repetidos milagres realizados em nosso favor. Faze de cada um de nós um elo ativo, elétrico, da corrente de amor com a qual desejas alcançar a todos os homens. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 11 de fevereiro de 2021

(Gn 2,18-25; Sl 127[128]; Mc 7,24-30) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“A mulher respondeu: ‘É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa,

comem as migalhas que as crianças deixam cair’” Mc 7,28.

“Nas aldeias, vilas e cidades por onde Jesus passava havia o anseio do ser humano de viver em comunidade. Dentro destas aldeias, vilas ou cidades, encontram-se as casas, coração da vida judaica. A família é um presente de Deus e os relacionamentos nela existente expressam a integração e a beleza de estar junto. As famílias eram constituídas pelo patriarca, sua esposa e filhos e as esposas deles, os netos e assim sucessivamente. O núcleo familiar, cuidava e era bem-estruturado. Assim, pode-se imaginar a tortura daqueles que eram alijados desse núcleo. A enfermidade é um fator de exclusão, pois incapacita o indivíduo de viver em comunidade. As doenças incuráveis levam ao abandono e à mendicância, impedindo os doentes de viverem a vida de forma plena. O enfermo é visto como alguém que recebe um castigo de Deus. Jesus instaura o Reino de Deus e a presença da saúde, prosperidade, segurança e salvação. Quando Deus entra, as coisas mudam! As curas e milagres realizados por Jesus são manifestações do Reino. Esse mundo novo é oferecido ao povo escolhido, mas não se limita a ele. Por isso, Jesus fala que primeiro é preciso deixar que os filhos se saciem, não sendo conveniente tirar o pão dos filhos para dar aos cachorrinhos; e a mulher siro-fenícia responde que os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos filhos (cf. Mc 7,24-30). Jesus demonstra que a bondade e a misericórdia de Deus são para todos. Aos olhos dos líderes religiosos Jesus cura quem merece, ou seja, os leprosos, os excluídos, os não judeus. No entanto, Jesus muda a perspectiva e demonstra que o Reino de Deus é para todos, sem exceção, e que a salvação atinge a todos. – Bendigo-te, Senhor, porque nos dás vida em abundância através de teu Filho. Que a tua misericórdia alcance minhas misérias e minha vida possa ser restaurada pelo teu Amor. Amém! (Patrícia de Moraes Mendes de Sousa – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 10 de fevereiro de 2021

(Gn 2,4-9.15-17; Sl 103[104]; Mc 7,14-23) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“O que torna impuro o homem não é o que entra nele, vindo de fora, mas o que sai do seu interior”

Mc 7,15.

“O formalismo, que é uma praga em inúmeros setores da vida, na religião se supera, como praga, evidentemente. Vem, por exemplo, Jesus a pregar o arrependimento, conversão, fé, amor, liberdade – e o velho formalismo logo arma seu guarda-chuva de porco-espinho e contra-ataca: ‘Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos quando comem pão’ (Mt 15,2). A esse formalismo, que poderíamos interpretar erradamente como noções de higiene, Jesus responde com energia: ‘O que mancha o homem é o que sai do homem’. Com isso ele mostra que o mal não está nas coisas (alimentos, por exemplo) nem na falta de rituais (lavar as mãos), mas, sim, no íntimo de cada ser. Por que, então, o formalismo resiste tanto em nossas igrejas e, principalmente, em nossa vivência religiosa pessoal? Há, pelo menos, quatro motivos: 1º) reduz o problema do mal a simples regrinhas; 2º) reduz a prática do bem ao cumprimento dessas mesmas regrinhas, o que nos livra de nos envolvermos com as dores e carências do próximo; 3º) dá-nos a alegre sensação do dever cumprido; 4º) coloca-nos em plano de superioridade em relação àqueles que não cumprem. Com esse coquetel, facilmente nos embriagamos. O tapa das palavras de Cristo, no entanto, nos acorda e muda nossas concepções e ações. E não poderia ser de outro modo, pois, se Deus nos perdoa por sua misericórdia, são obras de misericórdia plena que ele quer de nós e não artifícios do oco formalismo. – Senhor Jesus, facilmente minha fé se esquece das formas do teu amor e se esclerosa nas rígidas formas de egoísmo e hipocrisia. Dá-me, pelo poder do teu Espírito, a fé que não esconde culpa nem procura desculpa, mas que vê o mal e provê o bem. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 9 de fevereiro de 2021

(Gn 1,20—2,4; Sl 8; Mc 7,1-13) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, porque nesse dia descansou de toda a obra da criação”

Gn 2,3.

“O Espírito de Deus opera em cada um dos seis dias da criação. O homem e a mulher, criados à sua imagem e semelhança, são o coroamento da obra. Deus vê que tudo o que tinha feito era muito bom, abençoa, santifica o sétimo dia e descansa. Como um artista após produzir sua obra-prima, Deus contempla toda a beleza que criou. A bênção divina dá poder à criação de ser próspera, bem-sucedida e fecunda. Ao descansar no sétimo dia, Deus o santifica por ser o dia que está fora da criação, mas está totalmente dentro dela. Espelhando na própria ação divina, precisamos de um dia para descansar. É um momento para estarmos em comunhão profunda com o Criador, um dia para louvar, contemplar e descansar, dia esperado como um noivo espera a noiva no altar. Podemos observar atualmente um esvaziamento da importância desta comunhão com Deus devido ao mercado que cada dia mais investe no ter, na aparência e no consumo. Esse momento de introspecção, de silêncio, de reflexão, de escuta, de estar junto com o Senhor e de preparar a semana que há de vir, está perdendo seu sentido em função do culto ao dinheiro. Ao mesmo tempo há uma busca incessante pelo sagrado. Essa busca aponta para a necessidade de resgatar a espiritualidade, de reacender a chama divina que está dentro de nós. Um bom começo é voltar a termos o dia de descanso como um dia para estar com Deus na comunhão espiritual. Por isso, é um momento de esquecer um pouco as preocupações materiais da vida e de conectar-se com essa renovação. – Senhor, que eu guarde o dia de descaso e alcance forças para minha vida, ao louvar e agradecer por ter um dia especial diante da tua presença. Amém (Patrícia de Moraes Mendes de Sousa – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 8 de fevereiro de 2021

(Gn 1,1-19; Sl 103[104]; Mc 6,53-56) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“E a terra produziu vegetação e plantas que trazem semente segundo a sua espécie. E Deus viu que era bom” Gn 1,12.

“Após cada dia da criação, Deus proclama que tudo era bom. O ‘selo de qualidade’ de tudo que foi criado pelo próprio Criador. Deus fez o melhor! Ao reverenciar a vida e vive-la com alegria, o ser humano se faz partícipe do maior presente que Deus nos ofereceu. A expressão da bondade divina é revelada nas maravilhas criadas e, nelas, o cuidado, o sustento, através de um mundo que nos é dado cheio de provisões. Cada planta dá a semente de sua espécie e cada árvore dá fruto com a semente de sua espécie, ou seja, essas provisões nos são dadas continuamente e podemos sempre desfrutar delas. No entanto, para que isso ocorra é fundamental que cuidemos do que Deus nos deu, não usando de sistemas utilitários e egoístas que apenas usam e exploram os bens naturais que nos são dados, e nos encantemos com tudo, com todas as coisas e cuidemos de todos os detalhes com amor. Temos que nos inserir neste mundo colocando em prática os ensinamentos desta grande verdade: ‘e Deus viu que era bom’. É inevitável o louvor, a gratidão, o contentamento. Agradecer diariamente o dom da vida leva ao serviço realizado com alegria, com disposição. Olhar para o circundante e reverenciar o Criador e, dessa forma, deixar transparecer o rosto de Deus nas nossas práticas de cuidado a fim de preservar aquilo que temos em comum para nossa sobrevivência. Todos os seres estão em relação uns com os outros e tudo é bom, essencial e necessário. Todas as coisas devem ser espeitadas e protegidas, pois são manifestações da bondade de Deus, podemos chegar a Deus através da criação. Na tradição judaica há uma bênção de grande importância que é recitada nos grandes momentos da vida e é com ela que termino esta reflexão propondo como prece: - ‘Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que nos conservaste em vida, nos amparaste e nos fizeste chegar até este momento’. Amém” (Patrícia de Moraes Mendes de Sousa – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite