Quinta, 30 de abril de 2020


(At 8,26-40; Sl 65[66]; Jo 6,44-51) 
3ª Semana da Páscoa.

“... E o pão que eu darei é a minha carne dada para vida do mundo” Jo 6,51b.

“Os judeus reclamam das palavras de Jesus, chamando atenção para sua origem terrena: ‘Não é ele porventura Jesus, o filho de José? Acaso não conhecemos seu pai e a sua mãe?” (6,42). Para João é importante que justamente esse homem terrestre, Jesus, seja a manifestação do Pai. Nesse homem histórico que se criou em Nazaré, que viveu no meio das pessoas, Deus se manifesta. ‘Aquele que crê tem a vida eterna’ (6,47). Agora o discurso de Jesus aborda um outro tema. Já não se trata de fome e de pão que sacia a fome, e sim da questão da vida e da morte. Como posso encontrar a vida que não morre? Jesus lembra os judeus que comeram o maná no deserto e que, assim mesmo, tiveram que morrer. Mas quem come do pão que é o próprio Jesus não morrerá: ‘Eu sou o pão que desce do céu. Quem comer deste pão viverá para a eternidade’ (6,51). E então Jesus explica por que não há de morrer quem ligar sua vida a ele: ‘O pão que eu darei é a minha carne, dada para que o mundo tenha a vida’ (6,51). Antes de interpretar sob o aspecto eucarístico, devemos entende-lo à luz da morte de Jesus. Jesus avisa aqui que ele mesmo se entregará, com a sua vida terrestre, para a vida do mundo. Na morte, ele se entregará para que nós tenhamos a vida eterna. É uma espécie de troca divina. Jesus morre, para que nós vivamos. Jesus entrega a sua vida para que nós a tenhamos para sempre. No discurso do pão, João visa, portanto, em primeiro lugar, interpretar a morte e a Ressurreição de Jesus. Por isso disse também na observação feita em 6,4: ‘Era pouco antes da Páscoa, que é a festa dos judeus’. Em Jesus realiza-se a nova Páscoa. Manifesta-se nele a passagem da morte para a vida. Jesus era o verdadeiro cordeiro pascal. Ele se entrega por nós, para que nós tenhamos a vida por meio dele” (Anselm Grün – Jesus, Porta para a Vida – Loyola).

Santo do dia:
São Pio V, papa. Miguel Ghisleri, eleito papa em 1566 com o nome de Pio V, nasceu em Bosco Marengo, na pronvícia de Alexadria em 1504. Aos 14 anos tinha ingressado nos dominicanos. Após a ordenação sacerdotal, subiu rapidamente todos os degraus de uma excepcional carreira: professor, prior de convento, superior provincial, inquisidor em Como e em Bérgamo, bispo de Sutri e Nepi, cardeal, bispo de Mondovi, papa. O título de inquisidor pode torna-lo antipático ao homem de hoje, que da inquisição faz um conceito frequentemente deformado pelas narrações superficiais. Debelou a simonia da Cúria romana e o nepotismo. Entre as reformas no campo pastoral, por ele promovidas sob influxo do concílio de Trento, relembramos a obrigação de residência para os bispos, a clausura dos religiosos, o celibato e a santidade de vida dos sacerdotes, as visitas pastorais dos bispos, o incremento das missões, a correção dos livros litúrgicos e a censura sobre as publicações. A rígida disciplina que o santo impôs à Igreja tinha sido norma constantes de sua própria vida. Primeiro como bispo e cardeal, depois como papa, atuava conforme o ideal ascético do frade mendicante. Lembrado principalmente como papa da vitória de Lepanto, era condescendente com os humildes, paternal com a gente simples, mas inflexível e severo com todos os que comprometiam a unidade da Igreja, não titubeou em excomungar e decretar a destituição da rainha da Inglaterra, Elisabete I, embora consciente das trágicas consequências que poderiam resultar deste gesto para os católicos ingleses. Pio V morreu a 1º de maio de 1572 aos setenta e oito anos. Foi canonizado em 1712.   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 29 de abril de 2020


(At 8,1-8; Sl 65[66]; Jo 6,35-40) 
3ª Semana de Páscoa.

“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”
Jo 6,35.

“O Evangelho de João estimula-nos a ultrapassar a dimensão sensível, temporal da vida, e daquilo que a torna satisfatoriamente vivida, para termos fome e sede de alguma coisa – melhor dizendo, de Alguém – capaz de conferir plenitude e sentido de definitivo. Não é fácil, porém, colocarmo-nos neste nível de procura e de acolhimento: ‘Embora Me tivésseis visto, não acreditais’ (Jo 6,36). Se isto era válido para aqueles que seguiam Jesus e O viam com os olhos do corpo, mas não O conheciam com o coração, com maior razão pode valer para nós, que de Nosso Senhor não vemos ‘corporalmente, neste mundo, senão o Santíssimo Corpo e Sangue que os sacerdotes consagram’ (São Francisco, Testamento, 113). Mas, porventura, a barreira que se levanta entre o nosso olhar e a compreensão de fé não é representada pelo pobre sinal eucarístico feito de pão e de vinho, mas pela cegueira de coração que quereria ver outra coisa para não andar inquietado, nem perturbado em profundidade na sua grosseria. A vontade de salvação de Deus, a obediência do Filho em atrair todos para Si, enquanto pessoas que o Pai confiou nas Suas mãos, precisam da nossa colaboração. Mas se a nossa vontade de poder e de auto exaltação pode contrastar com o projeto divino de salvação, a morte não pode vencer a vida eterna. Assim, o sangue de Estevão, o luto pela sua morte e a fúria da perseguição não venceram o Evangelho, mas foram semente fecunda de novas testemunhas e missionários, e origem de uma nova grande alegria (primeira leitura). A alegria é um dos temas característicos de Lucas e dos Atos dos Apóstolos: manifestação do Espírito, ela não consiste numa simples ausência de sofrimento ou numa alegria esfuziante, mas numa alegria interior tranquila pela salvação recebida, fruto da fé. Como já a comunidade de Jerusalém (cf. At 2,46), e depois os pagãos (cf. At 13,48-52), também a Samaria se abre à alegria. A alegria, tal como a vida, está já presente na História, no mundo dos homens: espera a nossa fé para ser libertada, e difundir-se” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma – Páscoa] – Paulus).

Santo do Dia:
Santa Catarina de Sena, virgem e doutora da Igreja. Nasceu em Sena a 25 de março de 1347, vigésima quarta filha de Tiago e Lapa Benincasa. Aos sete anos celebrou o matrimônio místico com Cristo. Que isto não foi fruto de fantasias infantis, mas o início de uma extraordinária experiência mística, logo se pode averiguar. Aos quinze anos Catarina começava a fazer parte da Ordem Terceira de são domingos iniciando uma vida de penitencia e extremado rigor. Analfabeta, começou a ditar a vários amanuenses (secretários, copistas) as suas cartas, profundas e sábias, endereçadas a papas, reis e líderes como também para o povo humilde. O seu corajoso empenho social e político suscitou não poucas perplexidades entre seus superiores e foi obrigada a comparecer ao capítulo geral dos dominicanos, reunido em Florença em maio de 1377, para prestar esclarecimento de sua conduta. Em Sena, no recolhimento de sua cela ditou o Diálogo sobre a Divina Providência para render a Deus o seu último canto de amor. Respondeu ao apelo de Urbano VI com que estava aliada desde o início do grande cisma, porque o papa a quis em Roma naquele momento grave. Aí ficou doente e, cercada dos seus numerosos discípulos, aos quais recomendou somente que amassem uns aos outros, entregou sua alma a Deus. Era 29 de abril de 1380. Fazia um mês que completara 33 anos. Foi canonizada a 29 de abril de 1461. Em 1939 foi declarada padroeira principal da Itália juntamente com São Francisco de Assis. No dia 4 de outubro de 1970 Paulo VI proclamou-a doutora da Igreja.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de abril de 2020


(At 7,51—8,1; Sl 30[31]; Jo 6,30-35) 
3ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu.
É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu’” Jo 6,32.

“O episódio do maná no deserto é grandioso, tanto pelo pão em si, que saciou a fome dos israelitas no deserto, como pelo seu significado profético. O maná, pão que desceu do céu, aponta para Deus como o doador e mantenedor da vida, aponta para o pão da vida que é Jesus, o Messias prometido, e é o pão que faz o povo refletir sobre o passado de escravidão, que se apresentava ao povo menos doloroso diante da fome que se manifestava no deserto rumo a Canaã. Por tudo isso, a resposta de Jesus à multidão é precisa: Não foi Moisés quem deu o pão. Tudo que se relaciona à vida é dom e obra de Deus. A começar pela libertação de Israel da escravidão no Egito (as dez pragas, a travessia do Mar Vermelho)... O povo sabia de sua libertação milagrosa, e sabia do maná milagroso agora no deserto. Não fora Moisés o messias dessas obras. Infelizmente, há muitos que se submetem servilmente a messias oportunistas que se interpõem como mediadores entre as necessidades dos seres humanos e os propósitos de Deus, mediação que foi consumada por Cristo na cruz e no túmulo vazio da ressurreição. É justo lembrar que Moisés, como todos os grandes homens de Deus, jamais reivindicaram posição messiânica e, por isso, como grandes servos de Deus, encaixam-se entre ‘os guias que vos pregaram a palavra, e nos quais, fitando o fim de suas vidas, imitai a fé que tiveram’. O problema do messianismo foi percebido e condenado pelo Apóstolo Paulo já em Corinto. No meio do povo de Deus não messias nem pessoas especiais. Há um só e suficiente Messias, Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os seres humanos, e há diferentes dons, distribuídos entre os crentes para o serviço de Deus em favor da salvação da humanidade seja dinâmico e eficiente. – Bondoso Deus e Pai, obrigado pelo pão/maná que sustenta a vida e pelo pão que dá a vida eterna, Jesus Cristo. Amém (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Santo do dia:
S. Pedro Chanel, presbítero e mártir. Nascido na França, em Cuet, a 12 de julho de 1803, entrou para o seminário aos doze anos, sendo ordenado em 1827. Foi pároco por um período até partir como missionário marista para a Oceania. Exerceu seu trabalho missionário na ilha de Futuna junto com um missionário leigo Nicézio, de 20 anos; a pequena ilha era dividida em duas por uma montanha central e por duas tribos perenemente em guerra. Foi uma lenta e paciente penetração no pequeno mundo daquela gente tão diferente em costume e mentalidade. O anúncio do evangelho começou, porém, a repercutir na geração jovem. Mas este sucesso fez com que se aguçassem as hostilidades dos mais velhos. O tributo de sangue de são Pedro Chanel foi o preço para abrir enfim as portas de toda a ilha à evangelização. O novo mártir cristão, beatificado a 17 de novembro de 1889, foi inscrito no álbum dos santos a 16 de junho de 1954 e declarado padroeiro da Oceania. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de abril de 2020

(At 6,8-15; Sl 118[119]; Jo 6,22-29) 
3ª Semana do Tempo Pascal.

“Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade vos digo, estais me procurando não porque vistes sinais,
mas porque comeste pão e ficaste satisfeitos’” (Jo 6,26).

“Pão. Pão. Pão. O velho problema do pão. Conforme dizem as notícias, um bilhão de pessoas em nosso globo sentem carência do pão. Um bilhão! E um terço do que produzimos de alimentos simplesmente vai para o lixo. Talvez até desse para alimentar esse bilhão de gente que sofre com a falta de pão e muito provavelmente com a falta ainda mais angustiosa do pão que mata a fome eternamente. Jesus, é claro, usufruía da glória de haver multiplicado os pães e os peixes. Quem não o faria?! Mas a sua glória não era essa, pelo menos a principal. E Ele queria a principal: a glória de morrer na cruz. Essa glória Paulo a prega ao dizer em 1Cor 22,23a: ‘[...] os judeus pedem sinais, e os gregos procuram sabedoria, enquanto nós pregamos Cristo crucificado [...]’. A frustração de Jesus, portanto, ecoa a incompreensão da sua verdadeira glória. Por isso, Ele expressa com as palavras ‘[...] comestes o pão e ficastes saciados’. Era o mesmo que dizer: vocês reduziram minha obra ao mais simples instinto enquanto eu vim para terem contato com a graça e o amor de Deus. Podemos até compreender o povo, com certeza sofrido, que lutava para obter o pão sob as mais severas condições, trabalhando de sol a sol, com chuva ou seca, frio ou calor e, ainda por cima, pagando impostos escorchantes a uma potência estrangeira, o Império Romano. E, agora, aparece Jesus multiplicando pães e peixes. A imensa maioria diria: O que é que nós queremos mais? Essa redução, Jesus não podia aceitá-la. Ele era muito mais que um prato de comida. Era a graça viva que desceu do céu e, no contato com seu povo, esse não o reconheceu. – Senhor Jesus, talvez hoje, em meio a problemas econômicos e financeiros, pensemos mais no pão e naquilo que ele representa – conforto, segurança financeira, aposentadoria razoável etc. – do que na cruz vestida por ti naquele desfile do Gólgota. Faze nossos olhos voltar para tua glória redentora. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Santo do Dia:
Santa Zita, virgem. Nasceu em 1218 em Monsagrati, um povoado nas proximidades de Lucca (Itália). Vinha de uma família humilde de camponeses, cujas meninas para adquirir um dote e, o mais das vezes, para não ser um peso para a família, eram colocadas a serviço junto a uma família de uma cidade. Com doze anos foi ser doméstica, num tempo em que essa profissão era uma verdadeira servidão. Aceitou com serenidade a sua condição social; tolerava qualquer indelicadeza, seja da parte dos patrões que no começo trataram-na com injustificada severidade, seja da parte de suas colegas de trabalho enciumadas por seu zelo e por seu desinteresse total. Era generosa na esmola, vivia com muita parcimônia. Sua vida foi toda um símbolo florido de virtudes cristãs provando que em qualquer condição social existe um lugar para a atuação dos conselhos evangélicos. As suas virtudes impunham a admiração de todos os que dela se aproximavam e, após a morte, 27 de abril de 1278, imprimiram uma força irresistível à devoção popular. Patrona das domésticas.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

3º Domingo da Páscoa – Ano A

(At 2,14a.22-33; Sl 15[16]; 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35)

1. Estamos ainda no dia da ressurreição, no período da tarde, quando Lucas da corpo à informação deixada por Marcos que “ele se manifestou com outra aparência a dois deles que caminhavam rumo ao campo” (16,12).

2. Nesse relato Lucas nos mostra essa passagem do desencanto e do desanimo para uma fé entusiástica em Cristo ressuscitado, e assim, de um modo simples e humano, ele nos deixa um retrato da caminhada cristã em todos os tempos.

3. Um primeiro elemento que se destaca no texto é como o desalento ou a desilusão não nos permite reconhecer ao Senhor que caminha conosco. Partilham, então, com um ‘desconhecido’ as suas frustrações. É quando o próprio Jesus lhes abre a inteligência a partir das Escrituras.

4. Esta é a primeira via para que se desperte em nós a fé em Jesus: uma leitura do Novo Testamento em comunhão com as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Uma leitura cristológica das Escrituras.

5. Num segundo momento temos a refeição em comum, depois da amizade consolidada no caminho que juntos fizeram. E assim temos uma forte e característica referência da celebração Eucarística nos gestos testemunhados por Paulo, Mateus, Marcos e Lucas.

6. O terceiro elemento salientado em nosso texto é o significado da comunidade de fé. Somos certamente um povo peregrino, mas, assim como no passado Deus caminhou com o seu povo, Jesus acompanha o novo povo de Deus e os alimenta por meio da palavra e do sacramento.

7. Como Ele mesmo havia prometido estar no meio daqueles que se reunissem em seu nome, assim os discípulos perceberam a necessidade de retomarem a convivência e a partilha, pois haviam se afastado ruminando dúvidas e reticências. Eles precisam testemunhar a experiência pessoal com o Ressuscitado.  

8. Essa bela reflexão que Lucas faz a respeito desse encontrar ao Cristo ao longo do caminho, particularmente onde a palavra e pão são partilhados, coloca em xeque as nossas comunidades de fé. São elas verdadeiramente oásis para os que peregrinam em busca de ‘alimento’, partilha e acolhimento em nosso tempo?

9. Que testemunho da ressurreição e do Ressuscitado deixamos transparecer através de nossas comunidades? A celebração Eucarística está realmente no centro de nossa caminhada de fé? Tem nos ajudado a aprofundar o verdadeiro significado da Palavra, da Eucaristia e da Fraternidade?

Bendito sejas, Senhor Jesus, pela tua paciência conosco, lentos em entender a tua palavra e hesitantes em acreditar em Ti, devido ao nosso desespero e derrotismo no caminho de Emaús. Julgávamos-Te morto para sempre, mas Tu vives hoje como ontem. Como Te conheceremos, Senhor, Deus da vida, se a tua palavra e o teu pão não aquecerem os nossos corações gelados? Abre os olhos do nosso espírito para que Te encontremos onde Tu estás vivo no clamor do pobre que sofre. Obrigado, Senhor, porque podemos reconhecer-Te na tua palavra, na eucaristia e na comunidade dos irmãos na fé. Caminha ao nosso lado e fica conosco para sempre. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de abril de 2020


(1Pd 5,5-14; Sl 88[89]; Mc 16,15-20) 
São Marcos, evangelista.

“A Igreja que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho” 1Pd 5,5-14.

“O cristianismo primitivo sofreu com a Roma dos imperadores; sobretudo por causa das perseguições que queriam apagar a doutrina cristã da civilização. Os cristãos eram considerados nocivos à cultura e ao paganismo. Mártires tingiram com sangue as arenas; julgamentos, prisões e desprezo. O esplendor de Roma como uma cidade do coração do Império, e, segundo os romanos, coração do mundo, a fez um lugar onde se concentravam todas as atenções. Roma e seus palácios, seus jardins, monumentos, guarda imperial, senadores, guerreiros, gladiadores. A sedução do poder e o abuso do poder fez de Roma um lugar sonhado e temido. Decidia-se facilmente ali sobre a vida de alguém. Influenciava-se os costumes, a ética, o culto. Mas Roma também experimentou a luxúria, a degradação moral, a corrupção e prostituiu-se em muitos aspectos. Por isso recebeu o apelido de ‘co-eleita de Babilônia’, um lugar de esbórnia e confusão. O cristianismo não foge de Roma, chega ali e procura mudar as estruturas convertendo-as por dentro. Não há guerra sangrenta, mas testemunho de convicção. Diante da confusão a fé, caminho de certezas. Roma berço da força e poder é agora fonte do Evangelho. Como diz o poeta Marcos Noronha: ‘ No meio do pobre a semente tem sempre o que fazer’. Dali vem o anúncio, a saudação de uma Boa-Nova escrita e pregada com sangue. Dali vem a lembrança de Marcos, filho espiritual de Pedro, discípulo do Senhor. Todo lugar é bom se do coração vem coisa boa. – Senhor, que na Babilônia do mundo ressoe o corajoso anúncio de seu Evangelho que guia, salva, santifica. Amém (Vitório Mazzuco Filho – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de abril de 2020


(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 
2ª Semana da Páscoa.

“Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães,
deixadas pelos que haviam comido” Jo 6,13.

“O texto da multiplicação dos pães é repleto de ensinamentos preciosos, que nem sempre são percebidos pela simples leitura. E um dos ensinamentos preciosíssimos deste texto diz respeito justamente ao recolhimento das sobras. Tudo começou pela recomendação dos discípulos, para que Jesus despedisse as multidões – eles haviam passado o dia com elas –, já era tarde e estavam longe de casa, e passa pela recomendação/resposta de Jesus, de que eles mesmos deveriam dar de comer à multidão. Impossível não seria, já que a ordem partia de Jesus. É diferente de Filipe, que se encheu de desculpa diante de Jesus, André saiu e encontrou os pães e peixes, suficientes para Jesus os transformar em alimento para todos. ‘Dai-lhe vós mesmos de comer’ não é lá uma ordem razoável e voluntária de se cumprir, mesmo em se tratando de cristãos. E principalmente de igrejas. Estas, o imaginário senso comum, infelizmente com razão, elegeu como ambiciosas, gananciosas e consequentemente ricas, e cuja maior característica é justamente fechar-se para as necessidades da população, especialmente as mais pobres. Pois o texto do Evangelista João é especialmente desafiador: igrejas, abram seus cofres, contemplem as necessidades do povo sem o espírito da contabilidade de ‘gastos’, e aí vereis a matemática de Deus funcionar: ainda sobra muito para as necessidades internas. Este é o recado do texto. Este é o ensinamento que a simples leitura talvez não permita entender. Como fazer isto acontecer? Se a Igreja verdadeiramente fiel sempre venceu grandes embates com as perseguições e tentativas de destruição, não será um bom desafio que ela não saberá enfrentar e dar conta. Aliás, basta seguir o exemplo de André. - Senhor, Filipe ou André? Toda comparação é odiosa, mas o exemplo não. Que a Igreja e cada cristão sejam Andrés em busca de pão para os necessitados. Amém” (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de abril de 2020


(At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 
2ª Semana da Páscoa.

“De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o Espírito sem medida”
Jo 3,34.

“A vida de João Batista aponta para Jesus. Ele é o grande e último profeta. Com seu batismo de arrependimento, preparou muitas vidas para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Além de batizar Jesus, no Rio Jordão, João Batista ainda testemunha que aquele que viria após ele seria muito maior! Um dos testemunhos de João Batista a respeito de Jesus foi: ‘aquele que Deus enviou fala palavras de Deus, pois Deus lhe deu o Espírito sem medida’ (Jo 3,34). Este testemunho foi dado após alguns discípulos de João Batista repararem que as pessoas estavam começando a seguir Jesus, deixando o discipulado de João. Reparem que belo testemunho! Mais uma vez, a vida de João Batista aponta para Jesus. Sem egoísmo ou inveja, o grande profeta aponta mais uma vez para Jesus como aquele que foi enviado por Deus, que fala em nome de Deus e que possui o Espírito do Senhor. Que maravilhoso! De certa maneira, podemos juntar-nos a João Batista e testemunhar que Jesus é o enviado de Deus para nossa salvação! A vida do cristão é, naturalmente, um pequeno testemunho diário na sociedade, na escola, no emprego, em casa, na vizinhança, no futebol, na rotina diária. O viver que é transformado pelo Espírito Santo aponta para Jesus, exatamente como João Batista fez. Aproveite as oportunidades. Há tantas vidas ao seu redor que necessitam de carinho, atenção e direção na vida. Fale a elas sobre Jesus. Fale não apenas com palavras, mas principalmente com atitudes e ações de amor, compreensão e poder do Espírito Santo! – Senhor Deus, que minha vida seja um testemunho diário que aponta para Jesus, com palavras e ações. Ensina-me a testemunhar da melhor maneira. Em nome de Jesus, meu Senhor e Salvador. Amém! (Bruno Arnoldo Krüger Serves – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de abril de 2020


(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21) 
2ª Semana da Páscoa.

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer,
mas tenha a vida eterna” Jo 3,16.

“Quem ama intensamente é um dom natural de entrega, não uma entrega qualquer, mas a melhor. ‘Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho Unigênito’. Quem ama escolhe as melhores palavras, combina as melhores roupas, procura o cartão mais sugestivo, o perfume de maior fragrância, os momentos mais marcantes. ‘Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho Unigênito’. Quem ama não quer isto ou aquilo, quer tudo! Quem ama não quer apenas a vida, quer a vida eterna! Quem ama não se dá apenas como um indivíduo qualquer mas se entrega como mãe, pai, filho, irmão, irmã, esposa, esposo, homem e mulher, amigo, amiga, no melhor de si mesmo. ‘Deus amou tanto o mundo’, que sempre entregou-se como Pai, como Filho, como Espírito, como o Santo dos Santos. Quem ama conduz, orienta, carrega, afaga, cura, mostra o melhor lugar; e Deus, na sua Absoluta Perfeição, deu-nos ainda o melhor que podia: seu Filho, o jeito mais encarnado, mais concreto, mais divino de amar! Quem ama faz a cada momento uma escolha fundamental na vida; e Deus nos enviou Jesus para que a Vida fosse vivida nos cuidados preciosos do amor. Quem ama é capaz de plenitude! O Amor de Deus é pleno, gera vida, é filtrado pela fé, pela entrega a sua causa, pelo reconhecimento de seu Filho. Quem ama assim não perece mas tem a vida eterna. – Senhor, que eu veja sempre na sua pessoa e mensagem o sinal mais concreto do amor do Pai. Amém (Vitório Mazzuco Filho – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de abril de 2020


(At 4,32-37; Sl 92[93]; Jo 3,7-15) 
2ª Semana da Páscoa.

“O vento sopra onde quer, e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito” Jo 3,8.

“Assim como outras forças da natureza, o vento é incontrolável pelo ser humano. Mesmo que esta força destruidora seja a característica mais marcante do vento, sabemos que ele exerce outras funções, bem mais nobres e importantíssimas para a vida aqui na terra. A começar pela polinização, ato que fertiliza as plantas entre si, e possível pela ação do vento. Qual o vento, que é o meio que a natureza se serve para tornar a polinização possível, assim o cristão é o meio que Deus usa para a salvação chegar aos seres humanos. E assim como vento, que tem sua origem desconhecida, assim o cristão não busca reconhecimento ou recompensa, mas testemunha sua fé por meio das boas obras, próprias da natureza da fé, as boas obras ‘polinizando para salvar’. Se o vento, cujo nascedouro e direção são desconhecidos, pode ser entendido como inspiração para uma vida cristã de portentoso serviço em favor da salvação do próximo, o cristão tem sua origem e direção conhecidas, pois é ‘nascido do Espírito Santo’, e segue a direção ‘de proclamar as virtudes daquele que o chamou das trevas para a sua maravilhosa luz’. Nicodemos perguntou a Jesus se é possível nascer de novo. Para os seres humanos isto é impossível. Por isso, Jesus afirma que o cristão ‘é nascido do Espírito Santo’, isto é, a conversão para a fé é obra de Deus. Isto tudo nos coloca diante da verdadeira dimensão cristã: a origem é divina, a prática é humana. Esta simbiose divino/humano leva a salvação aos seres humanos. É a vida eterna. – Senhor, fui nascido em tua graça para minha salvação. Que a mesma graça me torne um ‘polinizador/salvação’ para o meu próximo. Amém” (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de abril de 2020


(At 4,23-31; Sl 2; Jo3,1-8) 
2ª Semana da Páscoa.

“Estende a mão para que se realizem curas, sinais e prodígios por meio do teu santo servo Jesus” At 4,30.

“Os discípulos Pedro e João, após serem soltos da prisão por causa do nome de Jesus, louvaram a Deus com os demais irmãos e realizaram uma oração maravilhosa. Diante da adversidade e da perseguição, pediram para que o Senhor desse a eles coragem e confiança para que pudessem anunciar o Evangelho. [...]. Basta ler o Livro dos Atos dos Apóstolos, especialmente o restante do cap. 4, para ver que o Espírito Santo realmente capacitou os discípulos a falarem com poder e sabedoria. Tudo pelo nome de Jesus. Toda honra e glória ao nome do Senhor, não ao nome de Pedro, João ou qualquer outro discípulo. É preciso destacar de maneira especial a atitude dos discípulos quando enfrentaram grande adversidade. Diante da perseguição e até mesmo da cadeia, eles oraram pedindo a Deus a bênção para a evangelização. ‘Estende a mão’, foi o pedido. E Deus atendeu a oração. Os cristãos da atualidade enfrentam muitas perseguições. No Brasil, país com relativa liberdade religiosa, esta perseguição não é comparável a outros países do mundo, onde ser cristãos é como uma sentença de morte. Basta olhar para o Oriente Médio e a perseguição dos extremistas mulçumanos. O que fazer diante da perseguição? O que fazer quando somos criticados por sermos cristãos? O que fazer quando a fé em Jesus torna-se motivo de descrédito para uma sociedade desligada do sagrado? Orar. Como Pedro e João. ‘Estende a mão’, Senhor. Este é o pedido. Que o Senhor estenda a mão para dar coragem, para abrir portas para o Evangelho, para que sinais e maravilhas aconteçam, para que o nome de Jesus seja adorado como Deus e Rei. – Senhor Deus, estenda a mão sobre os cristãos que vivem em perseguição violenta ou não. Estenda a mão para dar coragem e sabedoria. Em nome de Jesus, amém! (Bruno Arnoldo Krüger Serves – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo da Páscoa – Ano A


(At 2,42-47; Sl 117[118]; 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31)

1. O 1º e o 2º domingo de Páscoa se caracterizam pela repetição do mesmo evangelho todos os anos. Nós temos duas aparições do Ressuscitado no evangelho de hoje que coincidem com o domingo, o dia da celebração, da Eucaristia, do Senhor.

2. Dois elementos importante se apresentam em nosso texto: do primeiro encontro vem o envio dos apóstolos sob a ação do Espírito; no segundo encontro a bem-aventurança da fé, provocada pela atitude de Tomé. A primeira aparição tem a intenção de resgatar o ânimo dos apóstolos, amedrontados e cheios de dúvidas.

3. Jesus os leva a compreensão de seu novo estado, mas também da nova condição deles enquanto enviados a dar continuidade ao projeto do Reino que um dia o próprio Jesus recebeu do Pai. Jesus sopra sobre eles o Espírito Santo, dando início a uma nova criação. Acrescenta-se o poder, ou a graça, de perdoar.

4. No segundo momento, oito dias depois, Jesus vem ao encontro de Tomé, que estava ausente no primeiro encontro e que não acreditou nos seus companheiros. Na realidade Jesus vem ao encontro de todos nós e da nossa dificuldade de crer.

5. Tomé vai de uma falta de fé e da dúvida para uma fé absoluta em poucos momentos. Sua fé vai mais longe e afirma muito mais do que vê, porque não nasce de um processo racional, ou de comprovações, mas de um coração rendido ao amor, que em Jesus, vem ao nosso encontro.

6. Assim se acrescenta uma nova bem-aventurança àquelas que Jesus já havia proclamado. A nós dirá Pedro: “Ele, a quem amais sem ter visto, em quem acreditais sem vê-lo ainda: por isso exultai com alegria inefável e gloriosa” 1Pd 1,8.

7. Nossa realidade está cada vez mais marcada pelo racionalismo e comprovação empírica que aplicamos também ao território da fé. Nos momentos de crises, e este não é diferente, procuramos provas e seguranças. Parece que dentro de nós carregamos uma resistência em crer.

8. Crer é sempre um desafio, pois constantemente nos debatemos entre fé e razão, fé e insegurança, fé e escuridão. E aí fazemos como Tomé: pedimos luz e alguma prova para continuar acreditando e aceitando a vontade divina em todos os âmbitos de nossa vida.

9. Talvez nos falte esse amor que brotou dos lábios de Tomé, pois acreditar seriamente comporta risco, compromisso e generosidade, que por vezes nos falta em nossa descoberta de Sua presença na convivência fraterna, nas alegrias e tristezas de cada dia.

“Senhor Jesus, mesmo sem Te vermos com estes olhos de carne, a nossa ardente profissão de fé é hoje o apóstolo Tomé, primeiramente incrédulo e depois crente exemplar: Cremos em Ti, nosso Senhor e Deus! Procuramos razões, provas e segurança absoluta para crer e aceitar Deus em nossa vida pessoal e social. Mas Tu nos dizes: felizes os que acreditam sem terem visto! Tu és, Senhor, a razão da nossa fé, esperança e amor. Abre-nos, Senhor Jesus, aos outros, às suas dores e alegrias, porque, quando amamos e partilhamos, estamos a testemunhar a tua ressurreição num mundo novo de amor e fraternidade. Amém” (B. Caballero – A Palavra de Cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 18 de abril de 2020


(At 4,13-21; Sl 117[118]; Mc 16,9-15) 
Oitava de Páscoa.

“Por fim, Jesus apareceu aos onze discípulos enquanto estavam comendo, repreendeu-os por causa da falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado”
Mc 16,14.

“Diz-se que acreditamos no próximo tanto quanto com o que ele nos diz, concorde ou não com as nossas convicções ou interesses. Este espírito humano se encaixa perfeitamente no caso dos discípulos, pois seu problema não era especificamente a credibilidade dos companheiros, mas a sua própria dificuldade em crer na ressurreição do Salvador. Amavelmente, Cristo se limita à repreensão, e evita discussões e desculpas desnecessárias. Pela singela razão de que eles, mesmo ainda se refazendo dos ‘últimos acontecimentos’ e cheios de incertezas, estavam sendo enviados como mensageiros desta notícia da ressurreição que acabava de transtornar suas próprias cabeças e corações. Esta amável repreensão de Jesus lança uma nova perspectiva sobre a questão de só se crer quando as coisas concordem com os nossos interesses e convicções. É preciso abrir mãos desses interesses e convicções pessoais, e assumir os interesses de Deus. Trabalhar, assombrar o mundo com o Evangelho da graça que dá a vida plena e eterna por meio da fé na obra de Cristo na cruz e ressurreição, em troca de ‘estar confortavelmente à mesa’, como os discípulos, quem sabe à espera de um milagre que lhes restaure a própria coragem de viver. Não existe zona de conforto para os cristãos, mas compromisso com a vida que Deus criou, cuja perfeição satanás destruiu, mas que Cristo resgatou com seu sangue e ressurreição, consumando a esperança ‘dos novos céus e nova terra’ para aqueles que amam a Deus. Incredulidade e dureza de coração podem se transformar em discipulado consagrado, desde que ouça a admoestação de Jesus: ‘Vão pelo mudo inteiro...’ (16,15). – Senhor, nem sempre minha fé é pura convicção. Mas quando isto acontecer, faça-me ouvir o ‘enviar’ de Jesus, para me transformar num discípulo enviado ao mundo. Amém (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 17 de abril de 2020


(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14) 
Oitava de Páscoa.

“Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima e pão. Jesus disse-lhes: ‘Trazei alguns dos peixes que apanhastes’” Jo 21,9-10.

“Quem ama gosta de sentar-se à mesa. O amor tem este jeito de ceia, de banquete, mesa posta, fogo aceso. Sentar-se ao redor do alimento para partilhar vida, tempo, sabor e comida é próprio de quem ama. O amor é tanto uma mesa farta como o pouco de bens que se pode oferecer na intensidade do coração, mas nunca deixa de ser alimento. O amor tem tantos modos de encontro e não perde nunca ocasiões celebrativas. Faz festa com o pouco e compartilha o muito. O amor é sempre uma bandeja que se expõe para o outro fartar-se. Aqui o amor é Jesus acampado numa praia, já que Ele tinha armado sua barraca no mundo; e esperando aqueles que vão chegando ao seu camping famintos de convivência. Na grelha improvisada põe o trivial: peixe e pão. Porém coisa preparada com o coração é banquete dos deuses! Ali então Ele alimenta e ensina: Primeiro devemos dar o que se tem, mesmo que seja pouco. No amor o pouco é tudo! Ele toma a iniciativa e prepara pão e peixe no aguardo dos que vêm vindo. Depois convoca os que chegam a fazer o mesmo: ‘Trazei os peixes que apanhastes agora! ’ Claro! No banquete do amor cada um tem que fazer a sua parte. Não só um que prepara, mas os dois que temperam, opinam, experimentam e comem. A troca de bens gera a vida, gera o encontro, alimenta corações. Nesta pequena cena do Evangelho os discípulos perceberam que ressuscitar é dividir. – Senhor, às vezes tenho pouco para oferecer: um café com biscoito, uma água fresca, um doce caseiro. Mas fazei com que o amor que vai neste gesto leve a abundância do coração. Amém (Vitório Mazzuco Filho – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 16 de abril de 2020


(At 3,11-26; Sl 08; Lc 24,35-48) 
Oitava de Páscoa

“Ainda estavam falando quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: ‘A paz esteja convosco! ’” Lc 24,36.

“Coisa linda essa saudação do Ressuscitado! Quando ele chega não faz um simples cumprimento, destes que ficam na formalidade costumeira das palavras; contudo, quando o Senhor vem tem algo mais para dar: A Paz! Na sua chegada não transmite apenas palavras, mas procura passar a Vida! Uma vida de intenso significado chega sempre serena, sem atropelos. Chega trazendo a paz, que paz? A paz da consciência tranquila de quem cumpriu a vontade Pai, de quem viveu uma proposta de vida até o fim. A paz do coração que investiu na bondade e no amor que ilumina toda a prática. A paz de quem viveu o jeito manso e humilde de coração, desarmando todos os conflitos e tensões. A paz da vida fraterna, este jeito de gerar acolhimento; de compreender Pedro, de amar João, de perdoar Madalena, de comer com Zaqueu e acordar a filha de Jairo; este modo de considerar demais a importância das pessoas. A paz de quem venceu tentações, de quem discutiu com doutores da lei sem se desconcertar; de quem dormiu o sono tranquilo no lago revolto; de quem teve no colo crianças e tempo e atenção para o cego gritando na beira da estrada. A fé dos felizes, dos bem-aventurados, dos realizados, a paz dos que possuem uma íntima, verdadeira, real união com Deus que está no coração. – Senhor, quando saudar alguém, quando desejar a paz a alguém, fazei que eu dê mais do que um simples cumprimento! Que eu dê exatamente aquilo que eu sou. Amém (Vitório Mazzuco Filho – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite