Terça, 31 de dezembro de 2019


(1Jo 2,18-21; Sl 95[96]; Jo 1,1-18) 
Oitava de Natal.

“Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito” (Jo 1,3).

“O Evangelho de Marcos lembra que, diante dos milagres e do ensinamento de Jesus, as pessoas se perguntavam: ‘O que é isso? Uma doutrina nova, dada com autoridade! ’ (1,27). O próprio Jesus pergunta aos discípulos: ‘Quem as pessoas dizem que eu sou?’ (8,27). Em nome dos discípulos Pedro responde: ‘Tu és o Cristo’ (8,29). E o oficial romano, vendo Jesus morrer, diz: ‘Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus’ (15,39).  Aos evangelhos aprofundam a resposta teológica sobre a origem divina e humana de Jesus. Na genealogia, Mateus apresenta Jesus como descendente de Abraão e de Davi. Em Lucas, a genealogia chega até Adão, origem da humanidade. Nas histórias da infância Jesus é apresentado como o Messias, descendente de Davi, através de José, mas filho de Maria, concebido do Espírito Santo; portanto, Filho de Deus. Paulo admite a origem humana de Jesus, descendente de Davi, e sua preexistência divina: ‘Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher e sob a lei’ (Gl 4,4). ‘[...] Nascido da descendência de Davi segundo a carne, constituído Filho de Deus, poderoso segundo o Espírito Santificador’ (Rm 1,3-4). João aprofunda a ideia da preexistência de Jesus Cristo. Ele é a Palavra que, no princípio, estava junto de Deus e era Deus (Jo 1,1-2). Por essa Palavra foram feitas todas as coisas (v.3). A Palavra criadora, porém, ‘se fez carne e habitou entre nós’ (v. 14). Brilhou como Luz no meio das trevas. Aos que acolheram a Luz foi dada a plenitude da graça (v. 16) e o poder de se tornarem filhos de Deus, e agora, cumprida a missão, a Palavra está no seio do Pai, como Filho único de Deus (v. 18). – Ó Deus de infinita sabedoria e bondade, enviaste ao mundo tua Palavra criadora, teu Filho querido, que se tornou humano como nós. Vieste morar conosco para nos fazer teus filhos. Concede-nos a graça de viver na comunhão do teu amor e participarmos da vida eterna. Amém (Ludovico Garmus – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de dezembro de 2019


(1Jo 2,12-17; Sl 95[96]; Lc 2,36-40) 
Oitava de Natal.

“Ora, o mundo passa, e também a sua concupiscência;
mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2,17).

“Bem dizia o sábio Salomão que tudo é vaidade: vaidade das vaidades, tudo é vaidade. E tudo passa. Nossa vida é como um sopro e nossos dias rapidamente vão aos poucos nos consumindo. Está certo que podemos viver até os 70, 80 ou 90 anos, mas mesmo assim a vida passa, e o que levamos? Nós pelo menos temos a oportunidade de escolher que caminho seguir e como conduzir nossa vida da melhor maneira possível. Podemos mergulhar num mundo material onde o consumo é o nosso foco, onde o ter vale mais do que o ser. Mas João fala num mundo para sempre. Para quem? Para aquele que faz a vontade de Deus! Aqui está a profundidade da mensagem do Evangelho. O que buscamos hoje na Palavra de Deus não está reservado apenas para esta vida, mas vale também para a eternidade. Se pensarmos nesta vida apenas seremos os mais infelizes de todos os seres humanos. Mas, se pensarmos na vida eterna, nossa felicidade será completa. Fazer a vontade de Deus é entender o que a sua lei determina. Para isso temos dez mandamentos que mostram muito bem por onde devemos seguir. Mas, para chegar onde queremos, é necessário mais do que ação, é preciso fé no Salvador Jesus. Nas anotações para o próximo ano você pode escrever: fazer a vontade de Deus. Se perguntarem o que você vai fazer no próximo ano, diga: Vou fazer a vontade de Deus! É o princípio para que tudo se realize. Pautar o nosso dia a dia nesta ação é decisão sábia, é mais do que uma terapia, é a solução para todos os seus medos, força para todas as suas fraquezas, alimento e água para toda a sua fome e sede de uma vida mais equilibrada e mais justa. É fazendo a vontade de Deus que você recebe a graça do perdão dos seus pecados e tem a sua fé fortalecida. Assim, o seu final de ano fica mais tranquilo e suas perspectivas para o ano vindouro já são ótimas. – Que bom, meu Deus, saber que o melhor que temos a fazer é a tua vontade. Ajuda-nos sempre a fazer isto da melhor maneira possível. Amém (Douglas Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sagrada Família – Ano A


(Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23).

1. Dos preciosos conselhos do Livro do Eclesiástico, mesmo com as mudanças culturais que vamos assistindo, a liturgia recolhe esse texto que poderíamos tomar como um comentário ao mandamento de “honrar pai e mãe”.

2. Para aqueles que se dedicam pacientemente aos seus pais há promessas de bênçãos e até de perdão dos pecados, pois por mais amoroso que isso possa parecer, há todo um exercício de renúncias e preocupações que podem ocupar a vida dos filhos.

3. Por outro lado, honrar é também reconhecer, e sabemos que nem sempre os pais são tão exemplares; mas na ótica cristã o amor não comporta condições, mas se desafia a conduzir o outro para o bem. Há em tudo isso um exercício de paciência mútua que sempre desafiou pais e filhos em sua convivência.

4. Para essa saudável convivência e sobrevivência, acolhemos o texto de Paulo aos Colossenses. Ele usa a metáfora da roupa como expressão das nossas preferências e sentimentos.  Então o cristão deve fazer o esforço de estar sempre bem apresentável.

5. No mundo estilístico de Paulo, a túnica e seus adornos eram presos por um cinto que ele chama de caridade, ou amor, que tudo amarra ou prende. E aí Paulo se volta mais especificamente para as relações familiares; cada nova geração traz novos desafios; seu conselho é a oração em comum, o diálogo e o aconselhamento recíproco.

6. A sociedade igualitária e respeitosa dos direitos individuais que sonhamos, deve passar pelo devido respeito também pelo direito do outro, da compreensão de que leva-se uma vida para mudar certas visões, e que aprendermos que as diferenças deveriam somar, não dividir.

7. Sem compreendermos isso continuaremos assistindo esse espetáculo de intolerância que mancha de vermelho nossos telejornais. Tudo carece de revisão contínua de nosso agir. Na família não é diferente.

8. Já comentamos de como Mateus faz reviver a história do seu povo nos eventos acontecidos na infância e na vida adulta de Jesus, ao tempo que faz da infância do Salvador uma antecipação do que lhe acontecerá na vida adulta. Seus leitores são, em sua maioria, judeus convertidos que se encontram de alguma forma nessas narrativas.

9. Mais que uma simples crônica, estamos ouvindo alguma coisa que tem a ver com a vida de Moisés, libertador do povo escravo no Egito, do seu resgate, fuga e retorno, ao mesmo tempo uma identificação de Jesus como profeta e libertador. Mateus está lhes dizendo indiretamente, que Jesus vai repetir a experiência de Israel.

10. Mas o que interessa observar nesse dia da Sagrada Família é a experiência de Maria, José e Jesus, dos aperreios que viveram e como se protegeram nesse caminhar para fazer a vontade de Deus, deixando-se guiar pela Sua Palavra. Um exemplo para nossas famílias em seus ‘desertos’, fugas e travessias.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de dezembro de 2019


(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) 
Santos Inocentes, mártires.

“Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos
e não quer ser consolada, porque eles não existem mais” Mt 2,18.

“É por Jesus que Estevão é santo, é por ele que João é santo, é por ele também que são santos os Inocentes. Para nós é bom que estas três festas acompanhem a de Natal: não só porque a sequência das festividades mantém vivo o nosso fervor, mas também porque a própria ordem da sua sucessão manifesta com maior esplendor os frutos do nascimento do Senhor. Estas três festas, com efeito, nos apresentam três tipos de santidade, e eu creio que seria difícil encontrar um quarto tipo entre os homens. Em S. Estevão, temos ao mesmo tempo a realidade e o desejo do martírio; em S. João, o desejo somente; nos Inocentes, só a realidade. Todos bebem do cálice da salvação: o primeiro, em corpo e alma; o segundo, unicamente em espírito; os últimos, só no corpo. ‘Bebereis do meu cálice’, dissera o Senhor a Tiago e João: ele falava sem nenhuma dúvida, do cálice da sua paixão. ‘Pedro então se volta e percebe, andando atrás deles, o discípulo que Jesus amava’ Este ‘seguia’ Jesus, não tanto corporalmente, como pelo ardor do seu amor. E João bebeu o cálice da salvação; como Pedro, embora de um modo diferente, ele seguiu o Senhor. Se ele ‘ficou assim’, se não chegou à paixão corporal, é que tal foi o desígnio de Deus: ‘Quero, disse ele, que este fique assim até que eu venha’ (Jo 21,19-22). Em outros termos: ele também deseja me seguir, mas eu quero que ele fique assim. Quem duvidaria do triunfo dos Inocentes? Procurar os méritos aos olhos de Deus valeram a coroa? Procura também os crimes que aos olhos de Herodes lhes mereceram a chacina. A ternura de Cristo seria menor que a crueldade de Herodes? E se foi possível a Herodes lançar à morte os Inocentes, não pode o Cristo, por quem eles morreram, coroá-los?  Assim, Estevão é um mártir aos olhos dos homens, porque assumiu claramente a sua paixão: ele o provou sobretudo na hora de sua morte, mostrando-se mais preocupado com os seus perseguidores do que consigo mesmo. João também é mártir aos olhos dos anjos, criaturas espirituais que podiam discernir os sinais espirituais do seu amor e devotamento. Quanto os Inocentes, são teus mártires diante de ti, meu Deus. Neles, em quem nem os homens nem os anjos descobrem méritos, manifestastes com tanto maior brilho o privilégio único da tua graça. ‘Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor perfeito’ (Sl 8). ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, dizem os anjos, a paz sobre a terra aos homens de boa vontade’. Grande louvor, sem dúvida, mais ainda imperfeito, até que Jesus venha dizer: ‘Deixai vir a mim os pequeninos, não os afasteis, porque o Reino dos céus é daqueles que se assemelham a eles’ (Mt 19,14). E então, paz aos homens, mesmo sem o concurso de sua vontade, naquilo que Paulo chama ‘o Mistério da Bondade’ (1Tm 3,16)” (S. Bernardo de Clairvaux -  Sermão para a Festa dos Santos Inocentes – Editora Beneditina Ltda.).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de dezembro de 2019


(1Jo 1,1-4; Sl 96[97]; Jo 20,2-8) 
São João, Apóstolo e Evangelista.  

“Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou” Jo 20,8.

“O Lecionário escolheu este trecho para evidenciar o relacionamento de João com Jesus e com Pedro. O relacionamento com Jesus histórico é recordado na frase ‘o discípulo que Jesus amava’ (v.1) e com o Ressuscitado porquanto o discípulo ‘viu e acreditou’ (v. 8). O relacionamento com Pedro é um dos temas dominantes nos capítulos 20-21 do Evangelho. Aqui notamos: o discípulo que Jesus amava é, juntamente com Pedro, o primeiro a receber o anúncio da ressurreição; correu ao sepulcro mais rapidamente com que Pedro (talvez não só pela diferença de idade), mas espera que Pedro seja o primeiro a entrar; João é o primeiro a ver e a acreditar. No trecho, Madalena tem apenas a tarefa de introduzir a reação dos dois apóstolos à mensagem da ressurreição. É um anúncio inicial e incompleto, porque apresenta o mistério do sepulcro vazio na perspectiva da primeira surpresa. Mas isto basta para fazer desencadear as reações de João e Pedro. Pode-se com certeza redimensionar o valor simbólico dos personagens e dos seus atos, mas é verdade que todos os seus movimentos são entendidos no seu significado por aquilo que representam no interior da Igreja apostólica. João, que a tradição antiga chamava ‘o outro discípulo’, no princípio é descrito ‘o discípulo que Jesus amava’; a sua corrida ágil pela idade ou pelo amor que o impelia, permite-lhe chegar em primeiro lugar ao sepulcro; o respeito pela idade mais avançada ou pelo papel eclesial de Pedro sugere-lhe que espere e deixe ele entrar primeiro; finalmente, enquanto Pedro fica simplesmente surpreendido ao verificar os pormenores do sepulcro, o discípulo que Jesus amava passa da comprovação à compreensão do que tinha sucedido e à fé no Senhor ressuscitado. João ‘viu e acreditou’, ao contrário de Pedro e dos primeiros espectadores do túmulo vazio que não tinham compreendido as Escrituras, segundo as quais Jesus devia ressuscitar dos mortos (Jo 20,9) ” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento – Natal] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 26 de dezembro de 2019


(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10, 17-22) 
Santo Estevão. Diácono e Protomártir.

“E disse: ‘Estou vendo o céu aberto e o Filho do homem, de pé, à direita de Deus’” At 7,56.

“Só aquele que viu dá testemunho, porque só o Mártir pode ver. No momento em que dá testemunho de Jesus, quando os judeus se preparam para apedrejá-lo, Estevão, o primeiro Mártir, ‘viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus’. Ah! Exclamou ele, ‘eu vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé à direita de Deus’ (At 7,55-56). A promessa de Jesus ao sumo Sacerdote tem aqui a sua realização: o primeiro a seguir o Cristo no martírio é o primeiro a ver os céus abertos e o Filho Homem ao lado do Pai. Esta mesma visão é descrita muitas vezes pelas narrativas de martírio do 2º século. Assim, aquele mártir de Pérgamo que respondia aos espectadores, surpresos de o verem sorrindo: ‘Eu via glória de Deus e estou na alegria’. Nenhuma técnica do olhar espiritual, nenhuma meditação transcendental pode ver os céus abertos e o Filho do Homem. O céu é o mistério do Desígnio do Pai: não se pode entrar nele senão pelo abandono de si na obediência. Este abandono é o contrário mesmo da vontade, mesmo espiritual, de contemplar e de perscrutar o divino: ‘Reino de Deus não vem pela observação. Não se pode dizer: Ei-lo aqui! Ei-lo ali! Porque, ficai sabendo, o Reino de Deus está em vós’ (Lc 17,20-21). O Reino de Deus é o segredo do Pai. Só aquele que se abandona, como o mártir, ao mistério da sua vontade, é visto por ele só, e recebe dele a visão. No momento em que Estevão confessa o seu Senhor e o invoca em seu martírio, ‘todos os que assentavam no Sinédrio tinham os olhos fixos nele: seu rosto lhes apareceu semelhante à face de um anjo’ (At 6,15). A visão cristã é assim ligada à obediência pascal do Filho: no momento em que Jesus roga a seu Pai e evoca ‘o Êxodo que ele vai realizar em Jerusalém’, sua face se transfigura. Como escreve S. Máximo Confessor, ‘o Filho do Homem se tornou símbolo de si mesmo, a partir do que ele manifestou de si mesmo. Ele conduziu pela mão os seus mártires, a criação toda inteira através dele mesmo manifestado, para ele mesmo totalmente escondido’” (J. M. Garrigues – Voir les cieux ouvers – Editora Beneditina Ltda.).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de dezembro de 2019


(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-18) 
Missa do dia.

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebeu do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade” Jo 1,14.

“No evangelho mais antigo, o de Marcos, Jesus é apresentado como o Cristo, Filho de Deus. Não há ainda preocupação com os dados da infância de Jesus. Nos relatos da infância de Mateus e Lucas já se manifesta uma preocupação de recolher dados ‘biográficos’ da origem humana de Jesus e, sobretudo, de explicar a sua origem e identidade teológica: Jesus é o filho de Maria, concebido pelo poder do Espírito Santo; José, descendente de Davi, é apenas o pai adotivo de Jesus, mas garante sua descendência messiânica. A genealogia de Mateus mostra que em Jesus se cumpre a promessa feita a Abraão, como bênção para todas as nações da terra, genealogia que em Lucas chega até Adão, apresentando Jesus como salvador da humanidade. A Carta aos Hebreus também reflete sobre a origem de Jesus. Afirma que no passado, Deus se comunicava com seu povo por meio de profetas, para exortar o povo à fidelidade e lhe comunicar a salvação. Mas agora Deus resolveu comunicar-se conosco por meio de seu Filho, o criador do universo e o esplendor de sua glória, que por seu poder sustenta o universo e nos purifica dos pecados. A genealogia, que Lucas prolonga até adão e até o próprio Deus, João aprofunda ainda mais. A origem de Jesus Cristo mergulha no próprio Deus: Jesus é a Palavra de Deus, que desde o princípio está junto de Deus e identifica-se com Ele. Por isso, por Ele todas as coisas foram criadas. Ele é a fonte da vida e a luz para toda a humanidade. Mas em Jesus de Nazaré esta Palavra se faz carne, para habitar entre nós. Em Jesus se dá o encontro do divino com o humano, encontro que nos dá a capacidade de nos tornarmos filhos de Deus. A encarnação da Palavra é o máximo da comunicação divina, porque nos introduz no mistério da comunhão com a própria divindade. – Ó Deus, para vivermos em comunhão contigo, enviaste teu Filho querido, Palavra feita carne. Dá-nos a graça de vivermos como teus filhos, em comunhão com teu Filho. Amém (Ludovico Garmus – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de dezembro de 2019


(Is 62,1-5; Sl 88[89]; At 13,16-17.22-25; Mt 1,18-25) 
Missa da Vigília.

“Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito ao profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco’” Mt 1,22-23.

“Hoje à noite Alguém vai nascer. Uma virgem dará à luz do mundo a própria Luz do mundo! Um paradoxo! Certo; mas no Natal tudo é paradoxo. É o ‘avesso do avesso’. O nascimento de um Deus foi muito mais simples e natural do que o nascimento da maioria dos seres humanos. Nós complicamos tudo; o Natal descomplica. Nós valorizamos a complexidade; o Natal supervaloriza a simplicidade. Jesus quis nascer de forma tão simples justamente para que o Natal fosse acessível a todo mundo. Se Ele tivesse nascido num palácio, esse palácio iria inibir todas aquelas pessoas que nunca tivessem acesso a um palácio. Se tivesse nascido numa mansão, as grades de ferro, os muros altos, o porteiro eletrônico, os vigias, os cães iriam inibir muita gente, inclusive aqueles pobres, que foram os primeiros a vista-l’O. Por isso, Ele nasceu onde não havia portas, muros, grades, ou coisas que valham. Nasceu a céu aberto, numa cocheira, à disposição de todos. Nasceu criança frágil, pobre e carente, que não inibe ninguém. Exatamente porque Ele é ‘Emanuel, Deus conosco’. Foi colocado numa manjedoura não apenas porque não dispunha de um berço, mas porque o seu destino era dar-se por completo, era ser comida e manjedoura é lugar de se colocar comida. O Natal é um infinito gesto de amor. Só entenderá sua mensagem quem entender a linguagem do amor, que será sempre paradoxal, estúpida e ridícula para aqueles que não amam. – Senhor Jesus, ‘tudo seria melhor se o Natal não fosse um dia...’ mas estivésseis sempre nascendo nos corações simples, desarmado e acolhedores, como os dos pobres pastores de Belém ou dos sábios reis do Oriente! Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de dezembro de 2019


(Ml 3,1-4.23-24; Sl 24[25]; Lc 1,57-66) 
4ª Semana do Advento.

“... e quem poderá fazer-lhe frente no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe quando ele aparecer? ...” Ml 3,2.

“Malaquias traz uma mensagem dura ao seu povo. Faz uma leitura do que está acontecendo nos seus dias. Reclama que os sacerdotes, que anunciam a Palavra de Deus, têm passado fome, enquanto falsos mestres recebem tudo com abundância. É um profeta que anuncia a vinda do Salvador. Era a esperança do povo por mudanças bruscas. Por outro lado, ele alerta para um povo cheio de pecados e lança a pergunta: Quem poderá suportar o dia da sua chegada? Sim, porque aquele que clama por mudanças, busca rei que o governe com justiça, precisa também olhar para si e para os seus pecados. Malaquias mostra ao seu povo o contraste dos tempos. O que é sem o Salvador e o que será com a vinda do Messias. O povo precisará estar preparado para as mudanças e ciente de que precisará mudar de comportamento. Transporte a mensagem para os nossos dias e veja que também precisamos olhar para dentro de nós e analisar o nosso comportamento diante de Deus. Se buscamos esta aliança, precisamos ser fiéis e seguir os seus preceitos. Acima de tudo é necessário fortalecer a nossa fé e estar dispostos a mudar. Muitas vezes olhamos para os outros, julgamos e criticamos, mas esquecemos que para haver mudança, ela precisa começar dentro de nós. Neste Natal pode haver mudanças. Olhe para o seu coração e busque corrigir aquilo que não está certo. Revise o seu ano e busque mudar aquilo que Deus não gostaria de ver em você. Planeje e projete um novo ano com um coração renovado. É assim que podemos viver a vinda do Salvador, com um coração humilde, prontos a agir como servos de Deus. O profeta esperava mudanças, o povo de Israel também! Assim, nós também queremos mudar, mas precisamos preparar o nosso coração. – Muda, Senhor Jesus, o meu coração, para que eu suporte a tua vinda, pois o pecado me consome. O meu caminho está em suas mãos. Amém (Douglas Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Advento – Ano A


(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Rm 1,1-7; Mt 1,18-24).

1. Comumente o 4º domingo do Advento é considerado um domingo de tom mariano, mas no Ano A, a pessoa de José ganha um certo destaque. Se pouco nos fala os evangelhos de Maria, muito menos nos dizem de José, mencionado apenas por Mateus e Lucas.

2. Nesse ‘anúncio’ a José, o anjo intervém diante da sua decisão de repudiar Maria em segredo, sem a denunciar. De acordo com o costume judaico, o contrato pré-estabelecido já a faz sua esposa, como enfatiza o texto por duas vezes. Assim, repudiando, ele tenta romper o compromisso matrimonial.

3. José não o faz porque desconhecia a situação de Maria, mas porque não entende o mistério que se encerra na ação de Deus, em quem Maria confiou. Ele prefere afastar-se.

4. O anjo lhe vem para confirmar a obra de Deus em Maria, mas também dizer-lhe que Deus também quer a sua colaboração nesse projeto: de ser o pai legal de Jesus, a quem porá o nome, conforme a tradição judaica.

5. Há uma clara menção ao texto de Isaías que ouvimos como 1ª leitura. Esse Emanuel (Deus conosco), está vindo de fato a nós em Jesus, cujo nome significa ‘Deus salva’. Passamos da promessa para a profecia realizada. Deus vem a nós em carne real, na nossa raça, com autêntica natureza e condição humana.

6. Assim assistimos José ser capaz de superar a prova a que sua fé é submetida e embarca nessa obscuridade luminosa do mistério de Deus e assume, de modo adulto e com plena disponibilidade o seu papel na história da salvação.

7. Nesse quadro do Advento, a figura de José, ao lado de Maria, aparece como um modelo de fé para nós, que exige certa maturidade ao entrarmos em contato, seja de modo pessoal ou comunitário, com a realidade divina.

8. Quando Ele irrompe na história humana como o Deus altíssimo e próximo em Jesus de Nazaré, o primeiro passo da fé é aceita-lo, como fez Maria e José, sem nenhuma segurança palpável.

9. Eles nos indicam esse caminho de acolhermos os planos de Deus sobre nós, com pequenos ou grandes heroísmos, numa vivência cristã ao estilo de Jesus. Um compromisso sempre maior com Deus, numa estima por sua amizade que condiciona o nosso estilo de vida seja de modo pessoal, familiar, laboral ou comunitário. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 21 de dezembro de 2019


(Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 
3ª Semana do Advento.

“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” Lc 1,45.

“Cheia de alegria por ter dito sim ao projeto da encarnação do Filho de Deus, Maria vai conferir o sinal que lhe fora dado: sua prima Isabel, considerada estéril, já estava no sexto mês de gravidez, ‘porque para Deus, nada é impossível’. A visita e a saudação de Maria contagiam a casa toda de alegria. Não são apenas primas que se visitam. São duas mães e duas crianças que se encontram: Maria, a mãe de Jesus, o ‘Filho do Altíssimo’ (Lc 1,32), e Isabel, a mãe de João, o ‘profeta do Altíssimo’ (1,76). Quem ouve a voz da saudação de Maria é Isabel. Mas é João Batista, o precursor de Jesus, quem primeiro percebe a presença do ‘Filho do Altíssimo’ e salta de alegria no ventre de sua mãe. Alertada pelo seu filho e cheia do Espírito Santo, Isabel então exclama: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’. Sim, benditas são as duas mães; todas as mães, portadoras de vida são benditas. Isabel alegra-se com a visita inesperada de sua prima e a chama ‘mãe do meu Senhor’, pois reconhece nela o mistério da encarnação do Filho de Deus. Mas felicita Maria, sobretudo, por ter acreditado nas palavras do anjo do Senhor que seu Filho seria gerado pelo poder do Altíssimo. Maria e Isabel nos convidam a viver e celebrar com alegria a fé no mistério de Deus encarnado em Jesus. Maria é para nós o modelo da pessoa que crê e evangeliza. Não guarda sua fé para si. Ao contrário, leva para outros a alegria de crer e viver a fé. Precisamente porque crê, evangeliza. Não retém o mistério para si, mas, como serva do Senhor, apressa-se para ir ao encontro das pessoas e levar-lhes o Salvador, que está gerando em seu seio. – Senhor Jesus Cristo, a visita de Maria, tua mãe, à sua prima Isabel trouxe grande alegria para toda a casa. João se alegrou com a tua visita. Isabel ficou alegre pela visita de tua mãe e a declarou feliz porque teve fé. Aumenta em nós a alegria de crermos em ti, Salvador do mundo. Amém” (Ludovico Garmus – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de dezembro de 2019


(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Lc 1,26-38) 
3ª Semana do Advento.

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’” Lc 1,28.

“‘O anjo do Senhor anunciou a Maria que ela seria Mãe do Salvador’. Visão interior, ou intervenção efetiva de Deus se fazendo conhecer? Pouco importa: parece que a Virgem percebeu globalmente o Mistério que se abria a ela. E ela disse ‘sim’. Maria não podia dizer senão ‘sim’: imaculada, ela está na plena posse de si mesma. E a liberdade, senhora de si mesma, é consentir unicamente ao Bem. A liberdade não consiste somente em escolher entre o bem e o mal, mas em consentir aquilo que a pessoa é. A fidelidade de Maria é a expressão desta plena liberdade em conformidade com a vontade de Deus. Mas como percebeu ela essa vontade? O entusiasmo do Magnificat nos faz pensar que Maria, antes de mais nada, vê que Deus crê nela. Ninguém pode descobrir a vontade de Deus, se não crê que Deus confia nele. Deus crê em Maria, porque ele a ama por ela mesma. Ele não a utiliza como um peão para realizar o seu desígnio. Assim, ao contrário de Zacarias que duvida e perde o uso da palavra, tudo em Maria se desliga, e ela exclama: ‘O Todo-Poderoso fez por mim maravilhas!’ Ela pode assumir para si o cântico de Ana, porque ela verifica em si mesmo o que o Espírito faz brilhar: ‘Ele eleva os humildes’. Não há senão Maria que pode dizer: ‘Deus faz em mim grandes coisas’. Cada um chamado a reconhecer a ação de Deus em si: ninguém pode crer em Deus, ficando exterior a si mesmo. Deus nos é interior: nós o descobrimos através do que somos, e o que somos chamados a ser, através da própria ‘vocação’. É necessária a transparência da Virgem para aceitar e crer que Deus nos chama a realizar alguma coisa do seu Desígnio. A maneira como a Virgem ‘consente’ em ter uma vocação é para nós sinal da fé: Maria não discute, retorquindo que ela não é digna; o seu ‘sim’ a imerge no mistério ao qual ela teve de consentir na fé” (Pierre Talec – Les choses de la Foi – Centurion).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de dezembro de 2019


(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25) 
3ª Semana do Advento.

“O anjo do Senhor apareceu à mulher e disse-lhe: ‘Tu és estéril e não tiveste filhos,
mas conceberás e darás à luz um filho” Jz 13,3.

“Na Bíblia são referidos vários anúncios de nascimentos excepcionais: o de Isaac, o filho da promessa de Deus a Abraão, o de Samuel que devia fechar o período dos juízes e dar início à monarquia. A leitura de hoje narra o anúncio do nascimento de Sansão, o herói que libertará o seu povo dos filisteus. Estas narrações são todas muito semelhantes: os pais são velhos e as mães estéreis, há um anjo do Senhor que comunica que Deus concederá uma fecundidade humanamente impossível e há o anúncio do projeto que o Senhor dá ao que vai nascer. Os juízes guiaram as tribos de Israel durante dois séculos. Foi um período turbulento durante o qual os filisteus eram os donos do terreno. Quando todas as esperanças humanas de uma mudança da situação pareciam perdidas, eis que aparece Sansão, um homem de uma força extraordinária, que libertou o seu povo. A figura deste herói é-nos proposta pela leitura porque, por detrás da aparente história de façanhas vitoriosas contra os inimigos de Israel, ocultam-se ensinamentos espirituais. A primeira mensagem é que Deus jamais se esquece do Seu povo, o acompanha com o seu olhar atento e, quando o vê em dificuldade, intervém, não diretamente, mas servindo-Se de homens por Ele suscitados do meio dos seus irmãos. Quando os homens tomam consciência das suas incapacidades para se salvarem, o Senhor intervém através daqueles que Ele envia como seus libertadores. Estes são sempre dotados de força, de coragem, de habilidades extraordinárias. Tendo de desempenhar uma missão sobre-humana, o Senhor torna-os participantes da Sua mesma energia divina. Esta força sobrenatural pode, porém, desaparecer se não é ciosamente conservada através de uma severa prática ascética. Sansão teve de se abster de alimentos impuros e de bebidas alcoólicas. Como ele, quem quer que receba uma vocação de Deus deve ter em conta que lhe serão pedidos sacrifícios, renúncias, empenho. Os pais têm a tarefa de educar os filhos para essas privações – como Manoé e sua esposa fizeram com Sansão – para os tornarem fortes e capazes de levarem a cumprimento os designíos do Senhor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento – Natal] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite



Quarta, 18 de dezembro de 2019


(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 
3ª Semana do Advento.

“Eis que virão dias, diz o Senhor, em que fareis nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra” Jr 23,5.

“Um novo dia começa e precisamos retomar o nosso trabalho. Caímos no vício de fazer sempre as mesmas coisas, repetir os mesmos procedimentos e temos um pouco de preguiça de inovar, de buscar outras alternativas. O trabalhador tem uma tendência de se acomodar, de estabelecer uma zona de conforto. Para que sair dela? Mas você vai ver que de tempos em tempos precisamos de coisas novas. Do jeito que as coisas estão, não dá! Por isso, aproveite para refletir e, quem sabe, buscar mudanças substanciais para o próximo ano. O povo de Israel precisava de novidade. As coisas não estavam funcionando. Deus estava sendo esquecido. Havia certo ceticismo por causa da vida sofrida de um povo que ainda buscava segurança em uma zona de conforto. E eis que a profecia anuncia um renovo. Não um simples rebento, mas um rebento justo, um rei. Era essa a expectativa do povo: deixar de ser um povo subjugado e ter um rei justo, que devolvesse a esperança, a vida, a tranquilidade que todos buscam para a sua vida. É neste tempo de Natal que lembramos que a promessa foi cumprida. Brotou de Davi um rebento, um rei para agir com inteligência que passou a administrar a vida de todos nós. Não era bem um político como alguns esperavam. Jesus foi mais que isto. Tirou o seu povo da zona de conforto e de ceticismo e trouxe vida ao coração de cada um. Nós, que buscamos tanto por justiça, temos todos os princípios para que ela seja aplicada em nosso meio. Basta seguir o caminho, os conselhos, a nova que nos é dada de graça da parte de Deus. A mudança está no amor de um Deus que amou tanto o mundo que deu o seu filho para que tivéssemos vida em plenitude. Comece o seu dia com esta perspectiva de que é possível um mundo de paz, de amor e constante mudança, sempre para o bem. – Obrigado, meu Pai, pelo teu amor, pelo renovo que veio de Davi, pois Ele mudou a nossa vida para sempre. Amém (Douglas Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de dezembro de 2019


(Gn 49,2.8-10; Sl 71[72]; Mt 1,1-17) 
3ª Semana do Advento.

“Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. [...] Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo” Mt 1,1.16.

“Jamais conheceremos tudo que a Encarnação espera ainda das forças do mundo. Jamais esperaremos bastante da unidade crescente. Os prodigiosos espaços de tempo que precedem o primeiro Natal não estão vazios de Cristo, mas penetrados por seu influxo poderoso. É a agitação da sua conceição que movimenta as massas cósmicas e dirige as primeiras correntes da biosfera. É a preparação do seu nascimento que acelera o progresso do instinto e a eclosão do pensamento sobre a terra. Não sejamos mais tolos em nos escandalizar com a interminável espera que o Messias nos impôs. Era necessário nem mais, nem menos, que o tremendo labor do Homem primitivo, a longa beleza egípcia, a inquieta expectativa de Israel, o perfume lentamente destilado das místicas orientais, a sabedoria cem vezes refinada dos gregos para que pudesse desabrochar a Flor da vara de Jessé e da Humanidade. Todas essas preparações, cósmicas e biologicamente, eram necessárias para que o Cristo se apresentasse no cenário humano. E todo esse trabalho era movido pelo despertar ativo e criador de sua alma enquanto essa alma humana havia sido escolhida para animar o universo. Quando o Cristo apareceu nos braços de Maria, acabava de levantar o mundo” (Teilhard de Chadin – Hyme de l’Univers – Editora Beneditina Ltda.).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de dezembro de 2019


(Nm 24,2-7.15-17; Sl 24[25]; Mt 21,23-27) 
3ª Semana do Advento.

“Ao que Jesus também respondeu: ‘Eu também não vos direi com que autoridade faço essas coisas’”
Mt 21,27b.

“Nos evangelhos, a última semana de Jesus em Jerusalém é marcada por uma série de discussões com os adversários. A primeira delas é sobre a autoridade de Jesus (Mt 21,23-27). Jesus é questionado por sumos sacerdotes e anciãos do povo, ou seja, pelas autoridades religiosas e civis, membros do sinédrio, que era o supremo tribunal dos judeus. Eles perguntam a Jesus: ‘Com que autoridade fazes estas coisas e quem te deu esta autoridade?’ As coisas a que se referem, provavelmente, são a expulsão dos vendedores do Templo e o fato de Jesus estar ali ensinando. Controlar as coisas que podiam ser feitas no Templo era tarefa dos sacerdotes. A pergunta sobre a origem da autoridade de Jesus era procedente, pois não partiu deles a permissão de fazer o que Jesus estava fazendo na área do Templo. O povo reconhecia que Jesus ensinava como alguém que tinha autoridade e admirava sua doutrina (7,28). Mas os fariseus acusavam Jesus de expulsar demônios pelo poder de belzebu, o chefe dos demônios (12,24). Jesus condiciona a sua resposta a duas questões que antes eles deviam responder: o batismo de João vinha de Deus ou dos seres humanos? A pergunta de Jesus colocou-os num difícil dilema. Se respondessem que vinha de Deus, perderiam sua autoridade, porque não atenderam aos apelos de conversão que João fazia. Se respondessem que vinha dos seres humanos, temiam desagradar o povo, que acolheu a pregação de João e recebeu o batismo de conversão. Por isso responderam: ‘Não sabemos’. Assim reconhecem não ter o direito de questionar a autoridade de Jesus. Para Jesus, porém, João era mais do que um profeta autorizado por Deus. É aquele que preparou a vinda do Reino dos Céus, que Jesus agora anuncia (11,2-15). – Ó Jesus, descobristes aos doze anos que o Templo era ‘a casa do Pai’. Purificaste o Templo para que fosse uma digna casa de oração. Mas também ensinaste que o nosso coração é um templo. Concede-nos a graça de te encontrarmos no templo do nosso coração. Amém (Ludovico Garmus – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Advento – Ano A


(Is 35,1-6a.10; Sl 145[146]; Tg 5,7-10; Mt 11,2-11).

1. A alegria que caracteriza esse 3º domingo do Advento é um convite feito pelo profeta Isaias já na 1ª leitura pela proximidade de Deus, que, segundo ele, vem fazer justiça e restaurar a vida diminuída em sua existência a partir de situações concretas. E nesse processo de espera é preciso exercitar a paciência do agricultor, nos diz Tiago.

2. Mas o que sonhou o profeta, já se realizou em Cristo Jesus, nos diz o Evangelho. É João, o Batista, que preso, ouve sobre as obras de Cristo e gostaria de esclarecer uma dúvida que traz consigo, pois também ele estava preso a uma ideia de Messias que não correspondia à ação de Jesus.

3. Os sinais que Jesus oferece não são estritamente religiosos, na relação que todo judeu tem com o templo de Jerusalém, a Lei, as observâncias, por exemplo. Mas age a partir de uma encarnação nas realidades sofredoras e limitadas do ser humano.

4. A resposta de Jesus vem nessa aplicação à Sua pessoa do que havia dito o profeta na 1ª leitura. Jesus une palavra e sinal, evangelização e libertação. Onde estes sinais acontecem, é possível perceber a presença do Reino de Deus: da graça que salva o ser humano integralmente do pecado e da degradação humana.

5. A pergunta de João Batista ainda ecoa nos nossos tempos; persiste a busca de messias e redentores. Vivemos numa sociedade que afirma a libertação do homem pelo homem, com a busca do bem-estar, do consumismo e do desenvolvimento.

6. Mas a fé cristã insiste em afirmar Jesus como único salvador do ser humano e da história humana, que se converte, pela presença de Cristo, em história de salvação. Assim, o verdadeiro crente não fica alheio aos problemas do mundo nem se resigna ao fatalismo, nem faz de sua espiritualidade uma espécie de fuga.

7. Nessa percepção da vida, do perigo dessa idolatria do poder e do dinheiro que fecham o coração ao amor e à justiça por causa do egoísmo que geram, o cristão é convidado a fortalecer o coração e ser sinal.

8. Por isso acolhemos esse convite de Tiago ao exercício de uma paciência vigilante e dinâmica. A mística de uma vigilância ativa ante as constantes vindas do Senhor nos acontecimentos e problemas da existência diária.

9. A esperança cristã não é um otimismo ingênuo nem droga alienante, mas resposta a esse desejo de felicidade que carregamos. Não dá para viver sem horizonte de futuro e sem esperança. Não esperamos só a vida eterna, mas a Vida no sentido amplo da palavra.

10. Se cremos na vida eterna, lutamos contra tudo que é morte e anula a vida, a pessoa, a dignidade e liberdade. Jesus veio mostrar que a vida presente seja realmente vida e assim possamos entender e desejar a vida do mais além que coroará a nossa fé e esperança. Amém.

 Pe. João Bosco Vieira Leite