Sábado, 01 de maio de 2021

(At 13,44-52; Sl 97[98]; Jo 14,7-14) 

4ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘Há tanto tempo estou convosco e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai.

Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’?” Jo 14,9.

“A busca do ser humano não é simplesmente por Deus. Mas pelo rosto de Deus, por sua proximidade e presença concreta no mundo. Se Jesus fala do Pai, Abba, que significa paizinho de ilimitada bondade, como devemos imaginá-lo? Esta é a questão que Filipe coloca a Jesus. Jesus não faz uma catequese rudimentar nem uma teologia sobre Deus-Pai. Apenas diz: quem me viu, viu o Pai. Aqui se trata de um procedimento concreto de observação da prática do Jesus, de seu modo de ser e de pensar. Se observarmos atentamente a vida de Jesus, notamos a sua característica, certamente, mais fundamental: a pós-existência. Jesus não existe para si, mas para os outros. Para o grande Outro, seu Pai com quem entretém uma relação de absoluta confiança e entrega. Sente-se filho deste Pai bondoso. Faz o que o Pai faz, trabalha na criação como Ele (Jo 5,17), ama irrestritamente e perdoa sem limites. Existe para os outros, os pobres, as mulheres marginalizadas, os pecadores, enfim, para todos que pode alcançar. Se Jesus é assim é porque está traduzindo para nós o que significa o seu e o nosso Pai celeste. Deus, portanto, é uma realidade de amor, sempre voltada para nós. Ele possui um rosto humano, o rosto de Jesus de Nazaré, filho do Pai e nosso irmãos maior. – Senhor, continue a revelar-nos o Pai celeste na medida em que Teu evangelho se fizer força de amor, em que Teus seguidores se transformarem em instrumentos vivos de solidariedade, justiça, perdão e paz. Dá-nos esta força para que possamos dizer ao fim de todos os nossos empreendimentos: Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).       

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de abril de 2021

(At 13,26-33; Sl 02; Jo 14,1-6) 

4ª Semana da Páscoa.

“Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” Jo 14,1.

“O que se opõe à fé não é a não-fé, a indiferença e o ateísmo. O oposto à fé é o medo. Por que o medo? Porque o medo é a ausência de confiança, é a incapacidade de entrega. A fé é exatamente uma confiança básica na bondade da vida, porque está nas mãos de Deus, é uma entrega de si mesmo a um Maior que conhece todos os segredos e o destino de todos os caminhos. Crer de verdade é superar, como diz Jesus, qualquer perturbação do coração. Crer em Deus produz serenidade e confiança na vida. Crer em Jesus é concretizar ainda mais esta confiança, porque ele está em nosso meio e conhece nossos medos e perturbações como quem passou também por eles. Efetivamente, a epístola aos hebreus fala da solidariedade de Jesus com seus irmãos e irmãs a ponto de ser também tentado pelo medo da cruz (Hb 2,17-18). Mas superou a tentação do medo pela única forma eficaz que foi a fé e a total entrega a seu Pai (Hb 5,7). Jesus foi, portanto, um homem de fé, mais ainda, no dizer da epístola aos Hebreus, ‘o general da fé’, que encabeça o exército de todos os professantes da fé em todos os tempos (Hb 12,2). – Senhor, temos fé e temos medo. Aumente nossa fé para que superemos o medo e possamos viver tranquilos no meio de nossas tribulações. Sabemos que estamos em Tuas mãos e por isso nada nos poderá acontecer de mal. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de abril de 2021

(At 13,13-25; Sl 88[89]; Jo 13,16-20) 

4ª Semana da Páscoa.

“Se sabeis isso e o puserdes em prática, sereis felizes” Jo 13,17.

“Jesus era o Senhor. Disso não tinham dúvida os seguidores dele, pois não só o próprio Jesus o anunciava abertamente como também seus atos o atestavam: Ele escolhera os seus discípulos e, ainda, os ensinava, elogiava e repreendia. Por isso, causa tanta estranheza Ele se propor a lavar os pés dos seus, por assim dizer, comandados. Lavar os pés de alguém era uma obra de escravos ou empregados naqueles tempos em que todos usavam sandálias e as ruas tinham muito mais pó que as atuais. Era, então, costume das famílias oferecer tal serviço aos recém-chegados através de uma escrava ou empregada. Agora, porém, é o próprio Jesus aquele que lava os pés. Humilde! Humilhação! Humildade – visão de Cristo. Humilhação – visão de Pedro. E nossa também. Pois esse ato, humilde em sua natureza, tona-se humilhação face à nossa ‘grandeza’. Mas não era assim que Jesus o via. Ele o via como obra de cada cristão. E o Senhor, o Cristo, o protótipo de cada cristão, estava apenas dando um exemplo. No entanto, não se deve pensar que toda a questão se resume a lavar os pés de alguém, como se isso fosse uma obra acima de tudo, que tivesse o valor extraordinário que se possa imaginar. Lavar os pés era uma obra útil e necessária. Por isso, era uma obra de amor e só de amor. Isso é comprovado quando Pedro, a princípio não querendo que Jesus lhe lave os pés, mas descobrindo logo após o valor desse ato, deseja que Jesus o lave todo. Jesus se nega a fazê-lo argumentando que ele já estava limpo. E, para completar o exemplo, diz: ‘Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes’. A felicidade que brota desse ato e de tantos outros baseados no amor de Cristo e na humildade mostrada por Ele é felicidade do próprio Cristo em nós, é sua glória que não desceu da cruz naqueles momentos angustiantes. – Senhor Jesus, dá-me teu amor e tua humildade para reconhecer os meus pecados e a necessidade de receber o perdão. Junto com esse perdão torna-me humilde para ver todas as necessidades do próximo e tentar ajuda-lo. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de abril de 2021

(At 12,24—13,5; Sl 66[67]; Jo 12,44-50) 

4ª Semana da Páscoa.

“Jesus exclamou em alta voz: ‘Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou’”

Jo 12,44.

“O discurso ‘crer em Cristo é crer em quem me enviou’ tinha, num primeiro momento, uma direção definida, os líderes israelitas que não o aceitavam como o Messias enviado por Deus. No entanto, o ensinamento deste discurso é universal. Tanto isto é verdade que logo adiante Jesus tem o cuidado de afirmar que a diferença entre Ele e o Deus que o enviou é que ‘Jesus veio para salvar os homens, enquanto que o trabalho de julgar o mundo não é dele’ (47). Jesus foi muito habilidoso neste sentido, na medida em que os israelitas aceitavam a divindade do Deus que Jesus pregava, mas não o aceitavam como o Messias que o Pai enviou. Por isso, Ele insiste que não prega o que lhe convém ou o que lhe agrada, mas prega única e exclusivamente o que Deus ordena. Isto faz sentido, pois o preconceito e a rejeição que os líderes tinham contra Jesus não poderiam sobrepor-se ao que Ele pregava. Além do mais, os líderes deviam saber que seriam julgados por aquele Deus de quem Jesus se diz enviado. Jesus tinha todo o direito de chamar a atenção para sua própria pessoa. Ele não o fez, justamente para que a atenção das pessoas fosse destinada ao seu ensinamento. O Salvador teve uma passagem grandiosa e abençoada aqui na terra, e até chamou a atenção para este fato dizendo ‘como eu fiz, façais vós também’, mas não o fez por vaidade, mas para reafirmar que é tão somente a fidelidade à Palavra de Deus – como Ele mesmo estava experimentando –, que permite ao ser humano aqui na terra uma vida preciosa e abençoada. Os seres humanos são sensíveis aos ‘messias humanos’, líderes religiosos que privilegiam sua pessoa em detrimento da Palavra. Jesus não agiu como tal, para evidenciar que a atenção das pessoas se destina à Palavra de Deus. Garantia de Deus? ‘As minhas palavras não passarão’. – Creio em ti, ó Cristo, por causa da Palavra que Tu pregaste. Obrigado por mais este serviço a meu favor. Amém (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de abril de 2021

(At 11,19-26; Sl 86[87]; Jo 10,22-30) 

4ª Semana da Páscoa.

“Meu Pai, que me deu essas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebata-las da mão do Pai.

Eu e o Pai somos um” Jo 10,29-30.

“Nesta frase encontramos o segredo de Jesus: ‘eu e o Pai somos uma coisa só’. O texto grego não diz ‘eu e o Pai somos um’ (heis) mas ‘uma coisa só’ (én). Quer dizer, eu e Pai somos uma única realidade de comunhão e de amor. Cada qual é distinto. Um não é o outro. Mas a diferença é para permitir a mútua entrega e a união dos diferentes. O que vigora entre os divinos Três é a circulação da mesma torrente de vida, é o amor que se derrame de um para os outros e vice-versa, é a interpenetração tão radical que cada uma das Pessoas é pela, para, com e nas outras duas. As próprias palavras Pai e Filho revelam esta mútua implicação. Pai não existe em si para si. Alguém é Pai somente em relação ao Filho. Filho somente existe porque existe um Pai. A mesma coisa vale para o Espírito Santo. A palavra Espírito vem de espirar e soprar. O Espírito é o sopro do Pai e do Filho, um na direção do outro. Por isso o Espírito é o amor que une. O amor na SS. Trindade se expande para fora. O universo e todas as pessoas são incluídas no mesmo abraço amoroso. No termo dos tempos todos formaremos o Reino da Trindade. Então também nós poderemos dizer como Jesus: ‘nós e a Trindade somos uma só coisa’. – Trindade Santa, vos agradecemos porque nos sentimos incluídos no mesmo amor que vigora entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Que a comunhão que vivemos com todos os seres da criação especialmente entre nós humanos seja um reflexo daquela comunhão profunda que faz das Três Pessoas um único Deus-amor. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de abril de 2021

 (At 11,1-18; Sl 41[42]; Jo 10,1-10) 

4ª Semana da Páscoa.

“O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e tenham em abundância”

Jo 10,10.

“Qual é a missão de Jesus? Trazer vida. Não vida pouca, avara e magra. Mas vida em abundância. O centro do projeto de Jesus é a vida, a começar por aquela dos pobres que quer libertar e adotar de plenitude. Esse dado é fundamental. A partir dele julgamos as igrejas e todas as políticas humanas. Não é seguro, considerando as doutrinas e as práticas de muitas igrejas, que elas estão aí para trazer vida. Muitas delas sacrificam vidas, impõem fardos demasiadamente pesados sobre o povo e oneram excessivamente a consciência da humanidade. A maioria delas está mais interessada em seu próprio poder do que na produção, defesa e promoção da vida. O mesmo vale para as políticas dos estados e dos partidos. O poder é a categoria que estrutura as relações sociais e define as prioridades do bem comum. A todos estes Jesus diz: ‘convosco não deve ser assim’ (Mc 10,43)! Colocar a vida no centro de tudo exige atitude de serviço, pede cuidado porque toda vida é frágil e pode ser ferida, demanda uma relação amorosa. A vida é por excelência expansiva. Ela significa sempre um jogo de comunicações e de grande entrega. Jesus mostrou a lógica da vida: dar e mais uma vez dar, até a consumação de si mesmo. Quem perde assim a vida, na verdade, ganha a vida. Esse encontra a fonte da vida, Deus. – Senhor, faze-nos servidores da vida, a começar daquelas mais ameaçadas, as vidas dos pobres. Dá-nos a reverência e o cuidado face a toda manifestação de vida, pois na vida está o Vosso mistério e a nossa suprema busca. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 4,8-12; Sl 117[118]; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18).

1. Sob a imagem que domina o centro da nossa liturgia de hoje, Cristo, o Bom Pastor, a Igreja nos convida a rezar pelas vocações sacerdotais e religiosas. É claro que o chamado divino diz respeito a todos os homens e mulheres, por isso, nossa primeira vocação é vivermos nossa condição filial.

2. A 2ª leitura no lembra que pela fé e pelo batismo, temos uma comum vocação e dignidade: somos filhos de Deus, não de modo metafórico, mas realmente participante da vida divina, e por causa dessa comunhão, um dia o veremos tal como é.

3. Assim recordados dessa verdade, devemos conduzir a nossa existência terrena segundo esta altíssima vocação e dignidade de filhos de Deus.

4. A 1ª leitura, por sua vez, nos acrescenta essa comum vocação de anunciar o mistério da morte e ressurreição de Cristo. Ele é a nossa salvação. Um anuncio que está para além das palavras, com a nossa vida ‘diferente’ dos não crentes.

5. O estilo ou o espírito com que devemos cumprir a nossa missão no mundo vem do próprio Jesus, o bom Pastor: serviço, e disponibilidade, que significa uma mentalidade em plena antítese com aquela do mundo, que é de mercenários ou aproveitadores.

6. Viver essa filiação e missão, cada um, em seu estado de vida. Mas a Igreja nos convida a olhar também, a partir da figura do Bom Pastor, as vocações sacerdotais e consagradas a Deus e a serviço do povo cristão. Nas nossas comunidades de fé, nossa prece e olhar se volta para os sacerdotes.

7. Dele se exige que seja um cristão de fé profunda e madura, e o 1º seguidor do único Pastor, Cristo, para poder caminhar com Ele diante de suas ovelhas, como exemplo de virtudes evangélicas, dispensador desinteressado dos mistérios de Deus nos sacramentos.

8. Que não tenha espírito de dominação; que saiba dividir tarefas e responsabilidades entre os membros da comunidade da qual é animador, presidindo-a na caridade; em seu profetismo, saiba anunciar e denunciar, seja sinal de unidade, conheça seus paroquianos, seja solidário com os pobres e sofredores.

9. De um modo geral, o povo cristão reconhece logo o autêntico pastor que procura o bem dos seus e os serve com lealdade. Mas existem tais homens? É fácil exigir dos outros, e em particular dos sacerdotes a quem com frequência se pede demais e a quem se critica sem piedade, esquecendo que somos todos limitados e com falhas humanas.

10. Somente coma força do Espírito de Cristo e com a colaboração responsável dos seus próprios fiéis, poderá o sacerdote pastor da comunidade cumprir sua vocação e encargo eclesial. E um cristão consciente, por sua vez, sabe que nosso comum Pastor é Cristo, que nessa grande família cristã somos todos colaboradores daquele que tudo faz: o próprio Deus. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de abril de 2021

(At 9,31-42; Sl 115[116B]; Jo 6,60-69) 

3ª Semana da Páscoa.

“O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida”

Jo 6,63.

“Perdoe-me o leitor. A questão é muito complexa. No versículo de ontem, Jesus havia dito: ‘[...] Quem come minha carne [...] tem a vida eterna [...]’ – e agora diz: ‘A carne nada serve’. Há contradição? Paradoxo? Mudança de ênfase? Troca de figura? Ou um mal-entendido que o texto não deixa evidente? Opto pela última alternativa, pois houve certo constrangimento no grupo dos próprios discípulos. Pensavam eles num canibalismo pregado pelo próprio Jesus? Talvez. E é isso que Jesus tenta evitar. Mas aí surge outra dúvida: O que é espírito? É o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade? Seria Ele a pessoa que, segundo as palavras de Jesus, estaria dando a vida? Ou seria Jesus em pessoa que estaria concedendo isso? Com certeza é o próprio Jesus porque foi Ele quem desceu do céu e iria voltar para lá. Logo, a oposição espírito x carne, aqui apresentada, é a oposição entre o filho de Deus, eterno, e aquilo que é passageiro, dependente. Nós, por isso, devemos crer em Jesus como Deus, como a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que assumiu a carne, que se tornou homem por causa de nós. E por essa razão, as palavras que Ele diz são espírito e vida. Palavras, evidentemente, são um meio. Elas não substituem a coisa em si, ou melhor, a pessoa. Mas as palavras, quando são verdadeiras, mantêm, com a essência da pessoa, uma identidade perfeita. No caso de Jesus, isso não poderia ser mais autêntico: Jesus = verdade = identidade. O meio, o instrumento, torna-se igual àquele que o maneja. Portanto, carne e palavra se tornam fundamentais para a nossa vida em fé. – Senhor Jesus, Tu foste nosso Salvador com a glória de ser Deus, pois desceste do céu e para lá voltaste, e com a humildade de ser carne, homem como nós, que morreste na cruz e foste sepultado. Que tuas palavras continuem a ser para nós espírito e vida em todos os momentos da nossa existência. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

    Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de abril de 2021

(At 9,1-20; Sl 116[117]; Jo 6,52-59) 

3ª Semana da Páscoa.

“Quem come a minha carne e bebe o sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”

Jo 6,54.

“A exemplo dos dias atuais, os tempos antigos também eram marcados por carências de fé e de comida. Não por acaso, multidões seguiam a Jesus. Com Ele se garantia a fé e a comida: pães e peixes multiplicados; fé, o próprio Jesus e seus poderes multiplicadores. Combinação perfeita. Por isso, até quiseram fazer dele um rei, por sinal, um rei que, ao invés de cobrar impostos, iria alimentá-los. Mas Jesus não queria ser rei (seu Reino não era deste mundo), e a fé que tinham os judeus naquele momento não era a fé que Ele pretendia (Ele era o Salvador e o Ressuscitador). Logo, em nada lhe interessava essa fé e aquele movimento. O que lhe interessava? Interessava-lhe o bem-estar espiritual das pessoas. Para tanto, muda a palavra da metáfora empregada (o pão) e passa a usar carne e sangue: ‘Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia’. Isso disse Jesus para ressaltar uma verdade anunciada pouco antes: ‘[...] quem crê, tem a vida eterna’. Mas qual a relação entre crer e comer? Comer e beber é algo físico, é necessário, pode ser até muito prazeroso, mas só tem validade para poucos dias; por isso, é necessário que a pessoa coma diariamente, fazendo isso, três, quatro e até seis vezes por dia. E então? Bom, a comida é digerida e, além de nos dar força, ajuda a formar os nossos membros. Num certo sentido, ela se torna uma só coisa com o nosso corpo. Ora, o mesmo faz a fé. A fé é algo estranho a nós seres humanos. Por nós mesmos não podemos crer, pois, quando o fazemos por conta própria e risco, temos uma fé egoísta, falsa, fé que não acerta em Jesus, mesmo que ela se dirija a Ele. E por que isso? Porque essa fé, egoísta e falsa, visa apenas a seu interesse como os comedores de pão nos ermos da Galileia. – Senhor Jesus, se eu não posso crer em ti nem manter a minha fé por minha própria força, dá-me constantemente a tua carne e o teu sangue para eu ser diariamente alimentado e, assim, viver e crescer em ti. Amém (Martinho Lutero Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de abril de 2021

(At 8,26-40; Sl 65[66]; Jo 6,44-51) 

3ª Semana da Páscoa.

“Eu sou o pão vive descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.

E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” Jo 6,51.

“O anseio básico da vida é por vida e vida em plenitude. Todas as culturas testemunham esta percepção: a vida, por mais mortal que seja, sobrevive à morte. Algo de nós perdura e é mais forte que a desestruturação cósmica pela entropia ou pela diluição de nossa base biológica. Mas não queremos qualquer tipo de sobrevivência, por mais longa que seja. A dinâmica da vida é ascendente e visa o pleno desabrochamento de todas as potencialidades latentes em cada ser vivo. Quando isso ocorre, irrompe a eternidade. Cristo vem ao encontro de nossa busca. Promete-nos a vida para sempre na forma concreta concretíssima do pão que se come diuturnamente. Veja que Cristo alarga sua promessa de vida. Não é só para os humanos. Mas para o mundo inteiro. Pois a criação quer a vida eterna e participar da fonte que é Deus. E esse pão é Ele mesmo, o Deus presente na carne humana, Jesus Cristo. Ele quer ser comido, quer dizer, quer entrar de tal maneira em nossa vida que, à semelhança do alimento, ele também vira alimento e assim vida de nossa vida. Maior identificação não existe, pois Ele não apenas se acercou do outro. Fez-se um dos nossos. – Senhor, Te agradecemos porque escutastes nosso grito por vida junto com o gemido de toda a criação por plenitude. Deste-nos a Ti mesmo na forma singela do pão e do vinho para que se transformassem em nossa carne e em nosso sangue e assim fluísse para dentro de nós a vida ressuscitada. Agora já não gritamos, apenas, alegres, louvamos. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de abril de 2021

(At 8,1-8; Sl 65[66]; Jo 6,35-40) 

3ª Semana da Páscoa.

“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”

Jo 6,35.

“No discurso do pão, João desenvolve uma visão própria da eucaristia. O discurso do pão só começa a fazer sentido quando o ligamos a outros textos em que João se refere à eucaristia. As bodas de Caná são um texto eucarístico. Foi por causa desse texto que os Padres da Igreja chamaram a eucaristia de baquete de núpcias que Jesus, o noivo divino, celebra conosco. Onde ele nos oferece, segundo as palavras de Irineu, o ‘compendii poculum’, isto é, o cálice da síntese em que se encontram todos os mistérios da vida e do amor de Jesus (cf. LÉON-DUFOUR, 1983, p. 344s). Na alegoria da videira (Jo 15), Jesus explica o que significa permanecer nele. Quem, como ramo, permanece na videira produz fruto em abundância. Não existe verdadeira eucaristia sem que produzamos frutos, os frutos do amor. No lugar em que os evangelhos sinóticos falam da instituição da eucaristia, João descreve o lava-pés (Jo 13). Assim, o lava-pés é também uma imagem da eucaristia. Na eucaristia, Jesus nos mostra o seu amor até a consumação. Ele nos limpa pela sua palavra e pelo amor que podemos experimentar em sua carne e em seu sangue. No lava-pés não se trata apenas de purificação, mas também da cura das feridas. Na eucaristia nos é permitido experimentar a pureza que nos vem por meio de Cristo: somos aceitos em nossa totalidade, inclusive os pés que tocam a terra e que se sujam dia após dia. Na eucaristia, Jesus inclina-se até os nossos pés, para tocar-nos onde nem mesmos estamos dispostos a aceitar-nos e onde estamos feridos. Ele cura as nossas feridas dedicando a elas carinhosamente a sua atenção. A última cena em que João faz referência à eucaristia é a refeição matinal do ressuscitado em companhia dos discípulos à beira do lago de Tiberíades (Jo 21,9-13). Eucaristia significa encontro com o ressuscitado. Na eucaristia, o ressuscitado, vindo da outra margem, entra na manhã cinzenta de nossa existência, na noite da nossa frustração, criando aí um ambiente de amor e aconchego. Além do pão, oferece também o peixe. O peixe foi visto sempre como alimento do paraíso, como comida da imortalidade. No discurso do pão, Jesus diz que aquele que come a sua carne e bebe seu sangue tem a vida eterna. Na refeição matinal com o ressuscitado, João nos dá uma ideia do sentido dessas palavras. No peixe, Jesus nos oferece o alimento da vida eterna, o alimento que nos faz participar da vida divina, imortal, imutável e imperecível do ressuscitado” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de abril de 2021

(At 7,51—8,1; Sl 30[31]; Jo 6,30-35)

 3ª Semana da Páscoa.

“Jesus lhes disse: ‘Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome

e quem crê em mim nunca mais terá sede’” Jo 6,35.

“Os biblistas sempre se perguntaram por que João não relata a instituição da eucaristia na Última Ceia. Em lugar disso, ele nos transmite o assim chamado discurso do pão que, no evangelho dele, vem depois dos dois sinais de cura e após Jesus ter multiplicado os pães e ter andado sobre o mar. Alguns acham que João questiona em seu evangelho a prática dos sacramentos de seu tempo. Mas com certeza João não pretende criticar a celebração da eucaristia. O que ele quer é focalizar melhor o centro dessa celebração: a eucaristia é o encontro pessoal com Jesus Cristo. E, partindo desse encontro, devemos levar o amor ao encontro das pessoas. É provável que João queira prevenir os leitores contra uma interpretação mágica da eucaristia, um risco que, naquele tempo, podia existir perfeitamente no âmbito do helenismo. João mostra que não existe sacramento que não provoque uma mudança de comportamento. A eucaristia como experiência do amor divino exige de nós: ‘amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ (15,12)” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de abril de 2021

(At 6,8-15; Sl 118[119]; Jo 6,22-29) 

3ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘A obra de Deus é que acrediteis naquele que me enviou’” Jo 6,29.

“Crer é acolher Deus e sua presença na totalidade da vida. Deus Pai nos enviou seu Filho Jesus. Acolher um Filho ao lado do Pai é enriquecer nossa compreensão de Deus. Já não se trata apenas do Deus da tradição abraâmica. Esse é um Deus um e único. Um Deus solitário em seu mistério e em sua transcendência. Agora se trata do Deus da tradição jesuânica. É um Deus- Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Um Deus solidário, união amorosa de três divinas Pessoas. Acolher um Deus comunhão e não solidão é a singularidade da fé cristã. Pelo Filho e pelo Espírito Deus se faz próximo. O Filho junto com o Espírito vieram à nossa realidade humana, enviado pelo Pai. Se ele foi enviado é para nos revelar duas coisas. A primeira que Deus é Pai. Dizer Deus-Pai não é a mesma coisa que dizer Deus-criador. Deus-Pai é Pai antes de ser Deu-criador. Ele é eternamente o Pai porque eternamente gera um Filho na força do Espírito Santo. Só num outro momento esse Deus-Pai se mostra criador do universo. Deus, portanto, existe na comunhão com o Filho e o Espírito. E esta comunhão se abre a nós mediante a presença do Filho e do Espírito dentro de nossa história. A segunda coisa é para revelar-nos que nós somos filhos e filhas no Filho. Pertencemos, pois, à família de Deus. É nossa suprema dignidade que maior não há. Por que temer? Por que sentir-se só e desamparado? Dentro de nós o Pai na inspiração do Espírito está gerando o Filho e fazendo-nos também filhos e filhas. Acolher esta realidade nos abre para uma suprema libertação e realização. – Oh Deus, nos alegra sumamente saber que és nosso Pai e que tens ao Teu lado um Filho. Este Filho está também ao nosso lado, pois o enviaste e se chama Jesus. Dai-nos experimentar-Te como Pai e sentir-nos verdadeiramente Teus filhos e filhas no Filho. Só então espantaremos todos os medos e estaremos seguros em Tua e nossa Casa. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 3,13-15.17-19; Sl 04; 1Jo 2,1-5; Lc 24,35-48).

1. A Liturgia da Palavra desse domingo, como é próprio do tempo, gira em torno da ressurreição de Cristo Jesus. Temos ao início, um trecho do discurso de Pedro após a cura do paralítico. Temos duas atitudes diferentes do Apóstolo em sua fala.

2. Num primeiro momento sua linguagem é duramente acusativa com relação à responsabilidade do povo na morte de Jesus, depois muda de tom, de modo benévolo e compreensivo, quase como a desculpar todo o povo e seus dirigentes pelo ocorrido.

3. ‘Mas Deus...’ E aqui Pedro fala de como Deus sabe tirar um bem do mal, e ressuscita Jesus dos mortos. O amor de Deus vem sempre desafiado, provocado, diante da maldade humana, manifestando-se de forma sempre surpreendente.

4. Mesmo com as nossas misérias e não obstante a nossa infidelidade, Deus sempre agirá de modo misericordioso a nos alcançar. Assim, a conclusão do discurso não poderia ser outra, se não um convite a rever o agir que nos afasta de Deus. Essa é a mensagem central da Igreja e o convite contínuo a todos os povos.

5. Lucas escreveu o seu evangelho para cristãos que viviam num ambiente dominado pela cultura grega, por isso, ao escrever seu relato sobre a ressurreição, tenta esclarecer em que condições se dá a ressurreição de Cristo, já que esta entendia que a alma depois da morte vivia separada do corpo.

6. Lucas demonstra que a ressurreição contempla outras realidades, é capaz de atravessar portas fechadas, pode aparecer em vários lugares e pode não se deixar reconhecer. Jesus não é um espírito imortal sem corpo, como um fantasma.

7. Para provar sua nova condição, deixa-se ver e tocar e come diante deles. Ele é o mesmo que foi crucificado, e isso não foi algo que se deu apenas no espaço de algumas horas, mas é algo permanente e operante no tempo e no espaço. Uma oblação contínua.

8. Esse mistério é tocado por João na 2ª leitura: Jesus está junto ao Pai como nosso defensor. Ele é a vítima não só pelos nossos pecados, mas também pelos pecados do mundo inteiro. Assim, sua paixão e morte não foi algo imprevisto, mas juntamente com a ressurreição estavam no plano salvífico de Deus.

9. Se é difícil para nós entender, também o era para os discípulos. Por isso, Jesus lhes abre a inteligência para entenderem as escrituras, para que compreendam que o próprio Jesus é a chave de interpretação de toda ela. Por várias vazes ele se insinuou nessa direção aos seus discípulos.

10. Também nós devemos pedir essa abertura de mente para as Sagradas Escrituras, não só para entender que a história de Israel ganha seu sentido na paixão morte e ressurreição de Cristo, mas também para compreender a história da Igreja, de cada um de nós e a história e o destino de toda a humanidade.

11. Assim compreendamos que o cristianismo não é tanto uma exposição de um complexo de verdades dogmáticas ou de leis morais, mas é sobretudo o anúncio de um fato: a morte e a ressurreição de Jesus. Algo que ouvimos anunciarem, mas que fica a esperar uma experiência pessoal, pois deve chegar não só à razão, mas também ao coração.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de abril de 2021

(At 6,1-7; Sl 32[33]; Jo 6,16-21) 

2ª Semana da Páscoa.

“Os discípulos tinham remado mais ou menos cinco quilômetros quando enxergaram Jesus,

andando sobre as águas e aproximando- se da barca. E ficaram com medo” Jo 6,19.

“Caminhar em cima da água. Um dos milagres de Jesus que mais chama a atenção de todos, cristãos e não cristãos. Seja nas brincadeiras de criança ou em programas de TV, não são raras as pessoas que tentam caminhar sobre a água, e, diga-se de passagem, tentam de maneira frustrada. Um detalhe que passa despercebido por muitos diante do milagre é o porquê Jesus caminhou em cima da água. Não foi um momento de exibicionismo. Não foi um show de talentos. Não foi uma maneira de humilhar os discípulos que tinham uma fé tão fraca que eram capazes de afundar na tentativa de caminhar sobre a água – assim como aconteceu com Pedro. Jesus caminhou em cima da água para socorrer seus discípulos. Sim! Eles estavam sozinhos no meio do lago, indo em direção a Cafarnaum, de noite. Fortes ventos começaram a soprar e ondas grandes começaram a atingir o barco. Certamente, os discípulos ficaram com medo. E quem apareceu? ‘Tinham navegado uns cinco ou seis quilômetros, quando viram Jesus caminhando sobre o mar e aproximar-se do barco’ (Jo 6,19). O maravilhoso milagre de Jesus caminhar em cima da água aconteceu para que o Salvador fosse cuidar dos discípulos aflitos. Cuidar dos seus medos. Acalmar a tempestade. Socorrer os que estavam sob seu cuidado. Hoje a cena se repete. Não o andar em cima da água, mas de Deus vindo ao encontro de vidas aflitas, repletas de medo e sofrendo pelas diversas tempestades da vida. Jesus estende a mão, oferece consolo, perdão, vida, salvação. Vem ao encontro dos que estão sob seu cuidado. E, desde o Batismo, fomos colocados sob o cuidado amoroso de Jesus. Para sempre! – Senhor, obrigado por tanto amor. Venha cuidar da minha vida também nas tempestades, quando sinto medo e aflição. Derrama consolo e perdão sobre o meu coração. Por Jesus, amém! (Bruno Arnoldo Krüger Serves – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 16 de abril de 2021

(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 

2ª Semana da Páscoa.

“Mas, quando notou que estavam querendo leva-lo para proclamá-lo rei,

Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte” Jo 6,15.

“A intensidade do amor de Jesus foi compreendida como solução para tudo, inclusive soluções para causas políticas. Ele é o Rei do Amor que constrói o Reino do Pai na terra; não se prende ao sucesso que faz, a publicidade que querem dar aos seus milagres, ao aplauso daqueles que querem reduzi-lo a um dirigente de estruturas terrenas. Ele é alguém que transcende reis e reinos. Não vive só, reúne um grupo ao redor de si e está sempre entre o povo. Contudo, de vez em quando precisa fugir para um lugar solitário para estar mais com o Pai e mostrar que não é vítima das paixões humanas que arrastam para uma idolatria ou egolatria. Vai sozinho para o monte para estar mais com o Pai e consigo mesmo, assim pode estar melhor com todos. A sua perfeição não nasce da quantidade dos dons recebidos, mas da sua capacidade de se abrir mais à intimidade, à profundidade e ao recolhimento. Quem vai à raiz, floresce! Por que foi muitas vezes sozinho ao monte conversar com o Pai, Jesus pode estar melhor com as multidões que o seguiam. Os apóstolos aprenderam também a lição. Antes de ouvirem a convocação do ‘ide e ensinai’, escutaram o apelo: ‘Vinde a um lugar isolado!’ A vida pública de Jesus teve a eficiência de quem descobriu este segredo de recolher-se para colher o essencial. – Senhor, que eu saiba recolher-me mais para a profundidade pessoal para acolher melhor a verdade do coração. Amém (Vitório Mazzuco Filho – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de abril de 2021

(At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 

2ª Semana da Páscoa.

“O Pai ama o Filho e entregou tudo em suas mãos” Jo 3,35.

“Deus ama Jesus Cristo, seu Filho, tudo bem. Deus Pai confia tudo às mãos de seu Filho Jesus Cristo, tudo bem. As duas afirmações separadas são verdades perfeitamente compreensíveis e plenamente acreditáveis. O problema é que ‘todas as coisas que Deus pôs nas mãos de seu Filho nada mais são do que Ele tornar-se verdadeiro homem, cumprir a lei divina aqui na terra, sofrer e morrer na cruz em lugar dos homens, e tudo simplesmente em favor dos pecadores’. E para funcionar tudo bem era necessário que o Filho aceitasse livremente essa missão, o que de fato estava se consumando no tempo em que esta fala no Evangelho de João estava acontecendo. É tudo unilateral da parte de Deus, o ser humano não participando de nenhuma forma no processo de sua salvação dos seres humanos e a vida eterna, pois Deus pôs tudo unilateralmente nas mãos de seu Filho, porque o ser humano natural, nem mesmo o cristão convertido e salvo, é capaz de prover algo em favor de sua própria salvação. É tudo graça unilateral de Deus. Até porque se trata de uma graça imerecida por parte do ser humano. E ao ser humano cabe o quê? Assim como é o amor de Deus que move toda a sua ação em favor da humanidade, é este amor na prática dos cristãos que se move e funciona o amor de Deus que move o cristão a toda boa obra, tudo ajustado ao Filho: ‘Eu vos dei o exemplo, para que, como eu fiz, façais vós também’. Portanto, Deus ama o Filho e lhe confiou toda nossa salvação. Deus nos ama, e nos deu esta salvação e no-la confiou para a salvação do próximo. – Gracioso Deus, deste-me a salvação para que também o meu próximo fosse salvo. Enche-me de teu amor, para que a tua salvação chegue a todos os seres humanos. Amém (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de abril de 2021

(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21) 

2ª Semana da Páscoa.

“De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo,

mas para que o mundo seja salvo por ele” Jo 3,17.

“É sensacional acompanhar os evangelhos e ver Jesus cuidando das pessoas que ninguém gostaria de cuidar: prostitutas, leprosos, cegos, coxos, cobradores de impostos, pessoas de má fama, possuídos pelo demônio. Quando Jesus tomava refeições com essas pessoas ou parava suas viagens para curar e cuidar delas, ou ainda quando Jesus tocava nestas pessoas, algo especial estava acontecendo. Deus veio salvar! Esta é a mensagem de Deus: ‘Porque Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele’ (Jo 3,17). Jesus não veio trazer o juízo de Deus, mas o perdão, a reconciliação, o recomeço, a salvação, o amor. Em Jesus superabundou a graça de Deus. Esta graça de Deus ficou visível nas ações de Jesus com aquelas vidas mencionadas anteriormente, vidas rejeitadas, esquecidas e sofridas. Quando ninguém queria amar, Deus amou. Quando ninguém queria cuidar, Deus cuidou. Quando ninguém queria abraçar, Deus abraçou. Este Deus é Jesus. Eis o tempo da graça que traz salvação ao que crê. Rejeitar este tempo da graça é rejeitar o plano de salvação, é rejeitar Jesus, é rejeitar o enviado de Deus para salvação. O mundo precisa deste Deus de amor chamado Jesus. Ainda vivemos no tempo da graça. Precisamos de um Deus que venha a mão quando a sociedade nos esqueceu. Precisamos de um Deus companheiro e amigo fiel quando nos sentimos esquecidos dentro de hospitais e clínicas. Deus amou o mundo e enviou Jesus. Para você. Para todos nós. Não rejeite a graça de Deus. Viva com Jesus hoje e sempre! – Senhor, obrigado por tanto amor. Transborde meu coração com sua preciosa graça. Ensina-me a crer cada vez mais. Por Jesus, amém! (Bruno Arnoldo Krüger Serves – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de abril de 2021

(At 4,32-37; Sl 92[93]; Jo 3,7-15) 

2ª Semana da Páscoa.

“O vento sopra onde quer, e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai.

Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito” Jo 3,8.

“Toda a cultura teológica de Nicodemos, formado na mais estrita tradição judaica, foi insuficiente para compreender as palavras de Jesus. Ele entendia as palavras do Mestre, no sentido material, dando origem a sérios mal-entendidos. Jesus tentou fazê-lo ir além e entender suas palavras no seu verdadeiro sentido. O ensinamento do Mestre tinha uma profundidade que exigia mente e coração bem atentos em recebê-lo. Jesus revelava coisas celestes, ou seja, o desígnio do Pai em relação à humanidade. A compreensão desta verdade não dependia de altas teorias, pelo contrário superava os esquemas mentais puramente humanos. Ela fluía da fé depositada em Jesus. A fé exigia que ele fosse considerado naquilo que, de fato, era: o Filho enviado pelo Pai para propiciar vida eterna à humanidade. Portanto, Jesus não podia ser tomado apenas na sua dimensão humana e terrena. Sua palavra consistia num apelo do próprio Deus, e quando assumia na fé, tinha o poder de comunicar vida eterna a quem a acolhesse. O discípulo de Jesus precisava compreender que fé e vida eterna se interligam. Não existe outro caminho para obter a verdadeira vida senão por meio de Jesus. É pela força do Espírito que isto acontece. E só entra nesta dinâmica quem se deixa renovar por ele. – Senhor Jesus, faze-me renascer pelo Espírito que me conduz à fé e me leva a obter a verdadeira vida (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de abril de 2021

(At 4,23-31; Sl 02; Jo 3,1-8) 

2ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade te digo, se alguém não nasce do alto,

não pode ver o Reino de Deus’” (Jo 3,3).

“Disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa semelhança e imagem!’ E Deus criou Adão santo e perfeito. Disse Jesus: ‘Quem não nascer do alto...’ não pode ver o Reino de Deus. É possível que Deus tenha criado o home do barro? É possível o ser humano voltar ao ventre materno e nascer de novo? São questões que atormentam a ciência e para as quais o seu conhecimento e verdades não têm resposta. Agora, se é que o ser humano deseja a perfeição e santidade, e consequentemente ver o Reino de Deus, só há um caminho: nascer do alto, de Deus, ‘recriado?’ como Adão original. Guardadas as devidas diferenças, nascer do alto pode ser comparado aos 15 anos de vida que o Rei Ezequias recebeu de Deus (2Rs 20) para completar sua obra à frente de um povo idólatra e que necessitava por completa transformação. Nascer de novo, para Nicodemos e para os cristãos, não é presente acabado e em si, mas é uma dádiva a serviço de Deus em favor do seu projeto em favor da humanidade. Nascer do alto significa tornar-se ‘vento que sopra sem se saber de onde vem e para onde vai’ (8), significa ‘falar e testemunhar’ (11), por uma única motivação e para um único objetivo: ‘Que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna’ (16). ‘Na verdade’, isto é verdade para quem aceita Jesus, porque isto foi dito por Jesus. Para nós cristãos isto basta, exatamente como bastou para o Evangelista João. Este nascer de novo prescinde do conhecimento das regras eclesiásticas, mas não prescinde do conhecimento da Palavra. Nicodemos era mestre em Israel, e, por desconhecer o processo do novo nascimento pela fé em Cristo, um novo nascimento lhe parecia impossível. Bela definição para fé: ‘nascer do alto para ver o Reino de Deus’ – Ó Deus, renuncio ao meu velho nascimento. Desejo o novo nascimento para ver o teu Reino Eterno. Amém (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 4,32-35; Sl 117[118]; 1Jo 5,1-6; Jo 20,19-31).

1. O nosso evangelho de hoje se repete a cada ano. Já fizemos algumas abordagens em torno do mesmo. Gostaria de lançar um olhar sobre um tema que está presente no Evangelho de hoje, a presença do Ressuscitado a partir da vida comunitária, mas que tem haver principalmente com a 1ª leitura.

2. A cada ano a 1ª leitura do 2º domingo da páscoa nos traz um sumário sobre a primeira comunidade cristã de Jerusalém contido nos Atos dos Apóstolos, de autoria de Lucas. São uma espécie de quadro-resumo, onde o autor apresenta uma idealização das primeiras comunidades.

3. Assim, estas aparecem como sinal da nova humanidade nascida da Ressurreição de Jesus, que confessa, anuncia e testemunha como Filho de Deus e Senhor. Se tomados como crônica históricas, tais sumários, o leitor atento se deparará com outras narrativas que contradizem tão sublime imagem.

4. Assim não nos deixamos desalentar com nossa realidade ao tentarmos viver o que nos propõe o autor sagrado. Na realidade ele está nos propondo um desafio de viver a utopia cristã do amor fraterno, que é uma nota essencial da doutrina de Jesus.

5. Em que consiste esses sumários que escutamos a cada ano? Na União fraternal dos fiéis no amor; como consequência haveria uma comunhão de bens; a experiência da oração em comum (vida litúrgica); atividade evangelizadora e um estilo de vida que atraia outros à mesma experiência de vida cristã.

6. Sabemos que a comunidade cristã, mesmo as primeiras, não viveram de modo pleno o que era proposto, o próprio livro o atesta. Na realidade, esse ideal cristão ganhou mais consistência nos institutos de vida consagrada que foram surgindo ao longo do tempo.

7. A mensagem que nos chega de tudo isso é que a fé no Cristo ressuscitado, quando vivida de modo pleno, deve nos levar a uma comunhão maior no amor fraterno. O que será sempre uma exigência do nosso ser cristão. Não somos monges nem comunistas, mas cristãos solidários que entendem e praticam, mesmo com riscos, o mandamento de Jesus sobre o amor fraterno.

8. Assim, toda comunidade de fé se alicerça no anúncio de Cristo, morto por nossos pecados e ressuscitado pela nossa salvação, centro vital da mesma. Esta se mantém na escuta da Palavra, feita em comum, no exercício do saber aceitar-se e não somente tolerar, criando um ambiente de carinho e respeito.

9. Comunidade de Eucaristia e de oração, pois sem estas não pode haver comunidade, como o Cristo o foi em sua intimidade com o Pai, em seu ser orante. No mais a comunidade é consciente de seu papel evangelizador, no testemunho e anúncio da salvação.

10. Por isso, a Igreja, nossa comunidade em concreto, tem que ser um sinal para o mundo como o foi Cristo: sacramento e lugar do encontro com Deus. Grande missão, honra e responsabilidade a nossa; tornar acreditável e eficaz a Ressurreição do Senhor.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de abril de 2021

(At 4,13-21; Sl 117[118]; Mc 16,9-15) 

Oitava de Páscoa.

“E disse-lhes: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho a toda a criatura’” Mc 16,15.

“Depois da sua ressurreição e antes da sua ascensão, Jesus dá uma tarefa especial aos seus discípulos: ‘E lhes disse: ‘Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura’ (Mc 16,15). Agora os discípulos são os responsáveis por espalhar a mensagem da salvação pela fé em Jesus. Anunciar Cristo para todos os povos. Somos todos filhos desta tarefa. Graças à força do Espírito Santo, a mensagem cristã foi espalhada por toda a Europa, Oriente, rompendo barreiras de oceanos e chegando às Américas. E hoje estamos lendo uma meditação cristã para fortalecer a fé em Jesus, mais de dois mil anos após o Salvador ter dado a tarefa: ‘Ide’. Esta tarefa é contínua. Não era lago específico aos primeiros discípulos, mas abrange a todos os cristãos e lideranças religiosas. Terá fim somente quando o Salvador voltar, carregando consigo novo céu e nova terra. Nós, cristãos, continuamos ouvindo de Deus o ‘ide’ quando saímos dos templos e vamos para a sociedade, nossa casa, nosso emprego, nossa escola. ‘Pregai o Evangelho’ aos de perto e aos de longe. Mas é interessante que Jesus não disse: ‘Ide, obriguem todos a crer’. Jesus ensina a pregar, semear, espalhar a semente da salvação pela fé. Não pense em obrigar alguém a crer. Mas pense nas inúmeras oportunidades que Deus lhe dá na sua família, emprego e escola para falar de Jesus. Quando Jesus é anunciado, a Palavra não volta vazia e cumpre os propósitos de Deus. Mesmo que esta Palavra encontre corações duros e frios. Mesmo que esta Palavra encontre corações arrependidos, contritos e com sede de perdão. Que tal aproveitar estas oportunidades? Tenha um coração sábio para fazer uma boa leitura da realidade ao seu redor e perceberas portas que estão abertas para o Evangelho. Rejeitem ou não, creiam ou não, acolham ou não, mas a tarefa continua: ‘Ide, pregai’. – Senhor Jesus, usa minha vida para pregar o Evangelho. Pregar com palavras e com ações. Envia o teu Santo Espírito para que eu cumpra a tarefa de ir pregar. Por teu amor, amém! (Bruno Arnoldo Krüger Serves – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de abril de 2021

(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14) 

Oitava de Páscoa.

“Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe” Jo 21,13.

“Eis que alguns discípulos passaram a noite pescando. Frustrados, não conseguiram pegar nenhum peixe. Ao amanhecer, eis que alguém aparece na praia. Os discípulos que estavam no barco com suas redes vazias ainda não haviam reconhecido quem era. Ele pediu peixe e, recebendo a resposta de que a pescaria havia fracassado, avisou para que a rede fosse jogada ao lado direito do barco. Assim foi feito. E as redes quase se rasgaram de tantos peixes! Pedro reconheceu quem era aquele sujeito: Jesus! Eufórico, Pedro se atira na água e vai nadando até a praia. E, assim, que os demais discípulos chegam na praia de barco, encontram um banquete preparado por Jesus: pão e peixe assado na praia. Então, ‘Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu para eles, e também o peixe’ (Jo 21,13). Imagine que alegria para os discípulos que vivenciaram esta maravilha! Após uma noite frustrante sem peixes, eis que Jesus lhes indica onde há muitos peixes, e melhor ainda: oferece um excelente café da manhã com pão e peixe assado na brasa. Assim é o cuidado do Deus Ressuscitado com os seus: atenção, orientação, servir. Jesus não serviu apenas pão e peixe, mas ofereceu sua própria vida como sacrifício para o perdão dos pecados. Jesus não orientou apenas a pescaria daqueles discípulos, mas na Escritura Sagrada ele continua orientando nosso viver. Jesus não deu atenção apenas para uma pescaria frustrada, mas continua dando atenção às vidas frustradas com problemas e dificuldades muito maiores do que uma pescaria que não deu certo. Creia neste Jesus. Ele é Deus ressuscitado que serve, e nós, como resposta a este amor, servimo-lo e o honramos com nosso viver. Ele é Deus que orienta a vida e nos prepara um banquete celestial na vida eterna. – Querido Jesus. Quero crer cada vez mais em ti. Obrigado por oferecer sua vida em meu favor. Obrigado por orientar o meu viver. Obrigado por cuidar da minha vida também quando ela é frustrada. Obrigado por tudo. Por ti, Senhor, amém! (Bruno Arnoldo Krüger Serves – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 08 de abril de 2021

(At 3,11-26; Sl 08; Lc 24,35-48) 

Oitava de Páscoa

“Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras e lhes disse: ’Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia’” Lc 24,45-46.

“Considerando-se apenas a palavra bíblica do Antigo Testamento, ‘nada de novo debaixo do sol’, a preocupação de Jesus em abrir a inteligência dos discípulos em relação à sua obra soa como uma deselegância, pois que os discípulos deviam conhecer as profecias. O contexto de Lucas em Atos, porém, mostra que os discípulos mantinham dúvidas em relação ao Reino de Deus, imaginam ser este mesmo que o povo de Deus no Antigo Testamento (At 1,6), e daí a precisa ‘deselegância’ de Jesus. São notórios os equívocos, incompreensões, erros doutrinários e frustrações dos cristãos ao longo da história. Têm a ver justamente com a falta de conhecimento da Palavra de Deus. Não só dos crentes em geral, mas com muito mais dramaticidade, dos líderes e pregadores da Palavra. É verdade que a fé não se limita apenas ao racionalismo cristão. Fé e razão não são a mesma coisa, mas, é indiscutível que sem a contribuição efetiva da razão, de compreender a Palavra, a fé pode limitar-se apenas a uma tradição, que tem a ver apenas com ‘o povo de Deus aqui na terra’. O registro de Lucas é impressionante, porque se dá após três anos de companhia dos discípulos com Jesus. Isto indica que apraz a Deus que seus pregadores tenham um estudo básico e específico. E a exortação de Jesus em abrir mentes indica, além do básico, estudo contínuo e continuado. Pregadores podem ter qualidade de eloquência, convicção, poder de convencimento, mas estas levarão os ouvintes a uma relação pessoal de admiração para com os pregadores. Estes precisam ter profundo conhecimento da Palavra, para que a pregação leve os ouvintes a uma relação de fé consciente com Deus. – Senhor, abre continuamente nossas mentes, para que pratiquemos um cristianismo comprometido com os teus propósitos e preguemos para a salvação de muitos (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite