Quarta, 31 de julho de 2019


(Ex 34,29-35; Sl 98[99]; Mt 13,44-46) 
17ª Semana do Tempo Comum.

“O reino dos céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” Mt 13,44.

“Só Mateus nos conta as pequenas parábolas do tesouro escondido no campo e da pérola preciosa achada por um comerciante que, para adquiri-la, vende tudo (13,44-46). As duas parábolas usam imagens que conhecemos de muitas lendas e contos de fada. O evangelho é tão precioso que vale a pena vender tudo o que possuímos para obtê-lo. Os padres da Igreja explicaram essas parábolas como metáforas: o tesouro no campo é Cristo escondido nas Escrituras. Cristo é também a imagem do verdadeiro eu. O meu verdadeiro eu, a imagem intocada de Deus dentro de mim, está escondido no campo, na terra, no chão insignificante. Preciso revolver a terra, a sujeira da minha vida, para encontrar o meu verdadeiro eu. Mas quem entra em contato com seu próprio âmago, com o âmago divino dentro dele, perde o interesse por outras coisas. Nele encontra a verdadeira vida, de modo que se desfaz de bom grado de todo o resto. Muitas vezes, a pérola também é entendida pelos Padres da Igreja como imagem do próprio Cristo. Assim como a pérola se desenvolve dentro da concha, Cristo nasce do seio virginal de Maria. Na mitologia grega, Afrodite, a deusa do amor, nasce de uma concha. Cristo, amor encarnado, supera a deusa grega o amor. Como pérola na concha, assim a divindade de Cristo oculta-se na carne, inclusive na minha carne. Encontrando Cristo dentro de mim, encontro a verdadeira riqueza interior da alma, que compensa todo o resto. Todos os bens conseguidos até então perdem o valor. Posso abandonar tudo, para conseguir essa pérola preciosa” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 30 de julho de 2019


(Ex 33,7-11; 34,5-9.28; Sl 102[103]; Mt 13,36-43) 
17ª Semana do Tempo Comum.

“Enquanto os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai” Mt 13,43a.

“Toda criatura guarda dentro de si os traços do Criador. O Criador deixa suas marcas em suas obras. Mesmo distanciando-se dos traços do Criador pela marca do pecado, guarda dentro de si a saudade da volta às origens e ao seu destino. Ingrato e infiel é o criador que destrói sua própria obra. É destruir-se a si mesmo. Em toda a criação está presente a vida do Criador. Destruir é destruir-se. É desprezar-se. Este universo tem a vocação para a transformação, para a glorificação. Tudo será transformado em perfeita harmonia. Essa é vocação do universo e de todas as criaturas. O Povo de Deus, consciência deste universo, obra prima do Criador, muito mais que as criaturas inconscientes, está destinado a ser povo glorificado. Um povo imaculado, sem manchas, sem lágrimas e sem morte. Cada criatura humana saiu como gesto de amor das mãos de Deus. É sua obra perfeita. Todas essas obras perfeitas, que o pecado desgraçou em parte, guarda dentro de si a nostalgia da perfeição, o desejo imenso de ser sua própria origem. Ser como seu Criador. A história do Povo de Deus é uma história de graça e de pecado. Uma história de vida e de morte. Uma história de sucesso e de fracassos. Porém, no meio de toda essa contradição vive a esperança e a fé. Vive a certeza da vitória. O povo de Deus está destinado a ser um povo vitorioso, porque seu Deus é vitória. É o Deus da glorificação. – Ó Deus da vida. E da glorificação, pela vossa ressurreição e glorificação, destes a certeza de nossa ressurreição e glorificação. Alimentai nossa fé e nossa esperança até o sucesso total de nossa vida. Amém (Wilson João Sperandio – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 29 de julho de 2019


(1Jo 4,7-16; Sl 33[34]; Jo 11,19-27) 
Santa Marta, discípula de Jesus.

“Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão” Jo 11,19.

“A ressurreição de Lázaro é o sétimo e último sinal realizado por Jesus. Por meio dele mostra que é o Senhor da vida. Essa história deixa claro que o cristão já é um ressuscitado que passou da morte para a vida. Onde Jesus age, a morte não tem poder sobre nós. Antes da paixão de Cristo, João descreve no episódio da ressurreição de Lázaro o objetivo da missão de Jesus: Jesus nos conduz da morte à vida. Ele é o vencedor sobre a morte. Em Jesus, a morte perdeu o seu poder sobre nós. Na ressurreição de Lázaro brilha a glória de Deus superando a escuridão da morte. Lázaro é chamado de amigo de Jesus. E Marta e Maria são amigas de Jesus. Nos três encontramos formas diversas de fé e de relacionamento com Jesus, formas estas que se aplicam também aos cristãos de hoje. Marta ouve falar da chegada de Jesus e corre logo ao seu encontro. Na conversa com Jesus, ela professa a sua fé na Ressurreição no último dia. Mas Jesus a corrige: ‘Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais’ (11,25-26). No texto grego encontramos um ‘eis eme’. Ao pé da letra está escrito e seguinte: ‘Quem crê em mim, quem entra em mim e vive em mim’. Para aquele que vive ‘na realidade indizível de Cristo, a morte não existe’ (SANFORD, 1977, p. 76, v. 2). Naturalmente, o seu corpo físico morrerá. Mas a vida experimentada em Jesus não poderá perecer. Para João, a Ressurreição não vem só depois da morte. Ela já é um modo totalmente novo de existir aqui mesmo. Quem crê em Jesus está vivo, mesmo que seu corpo tenha morrido, mesmo que, como Lázaro, já esteja sepultado. A fé em Jesus faz com que não possamos ser afastados do amor dele, nem mesmo pela morte. Portanto, a morte perdeu o poder sobre nós. Em Jesus, a morte foi suplantada. Na união com Jesus já experimentamos aqui e agora a Ressurreição como uma nova qualidade de vida, como uma forma de vida que não pode ser morta” (Anselm Grun – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

17º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Gn 18,20-32; Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13)

1. No centro da nossa reflexão desse domingo está a oração em seu caráter perseverante e intercessor. Quase em continuação, retomamos o texto da 1ª leitura do domingo anterior, ficamos sabendo que os três homens acolhidos por Abraão tinham como missão visitar Sodoma e Gomorra em seu pecado de rebelião à Lei divina.

2. Tendo recebido a notícia da descendência prometida, Abraão arrisca-se a interceder pelas cidades alvo da justiça divina, pois lá se encontram seu sobrinho Ló com sua família. O texto realça o contraste entre a indignação de Deus perante o pecado das duas cidades e a atitude de súplica em oração por parte de Abraão.

3. O olhar e envolvimento de Deus com as coisas humanas, quer positivas ou negativas, o faz agir. Mas Ele não é indiferente ao pedido misericordioso de Abraão que busca ‘justos’ em meio àqueles que serão punidos. Se o mal atinge a Deus, ainda mais o atinge o bem, a súplica de quem é seu amigo.

4. O salmo que se segue salienta esse agir misericordiosos de Deus em favor dos seus fiéis, escutando-os em meio as dificuldades e intervindo em favor dos mesmos no cotidiano da existência ou em momentos particulares.

5. Parece que esse texto da carta paulina se volta a uma possível tentação de abandono da fé cristã por parte da comunidade do Colossos. Paulo convida a olhar a raiz dessa fé: sem mérito algum, fomos salvos pela morte de Cristo. O batismo nos insere nesse mistério que nos leva a comungar de Sua Ressurreição.

6. Dos quatro evangelistas, Lucas é o que mais destaca o valor da oração, tanto que seu evangelho inicia num contexto litúrgico de prece e apresenta Jesus como aquele que reza e nos insere no contexto dessa filiação divina nos ensinando a orar.

7. Somos convidados a entrar numa relação de especial confiança em Deus a partir da parábola que se segue, que na esteira da 1ª leitura tem um caráter de intercessão. O pão que se pede é para outro. Mas acima de tudo Jesus recomenda que tenhamos presente a necessidade de ser conduzido na oração e na vida pelo próprio Espírito de Deus, fundamento da vida interior.

8. Nossa oração deve estar inserida na oração do Filho: uma oração que alimente a vida concreta de cada dia, mas que também seja capaz de perceber as realidades concretas que nos cercam, intercedendo por elas. Uma oração perseverante, insistente, confiante, sinônimo de uma constante relação com Deus e de uma abertura ao seu Espírito, que no dizer de Paulo, ‘vem em auxílio da nossa fraqueza’ (cf. Rm 8,26).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 27 de julho de 2019


(Ex 24,3-8; Sl 49[50]; Mt 13,24-30) 
16ª Semana do Tempo Comum.

“O reino dos céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora” Mt 13,24-25.

“Só Mateus conta a parábola do joio no meio do trigo (13,24-30). As interpretações podem ser várias. A primeira diz respeito à comunidade. Mateus conta essa parábola de Jesus propositalmente contra os rigoristas dentro da comunidade. Certamente, havia na comunidade em que Mateus atuava cristãos que aspiravam uma igreja oura. Todos os pecadores deviam ser expulsos. Jesus combate esse rigorismo. A comunidade será sempre composta de trigo e de joio. Jesus fala em lólio, uma gramínea muito parecida com o trigo. Quem mondar o lólio muito cedo, corre o risco de arrancar também o trigo, sobretudo porque as raízes das duas plantas crescem entrelaçadas. Quando chega a época da colheita fica mais fácil distinguir as duas. ‘Por causa disso, na Palestina, costumava-se deixar boa parte do lólio até a colheita. Cabia ao ceifador que cortava os cereais com a foice deixar cair o lólio para que esse fosse amarrado em feixes’ (Limbeck, 190). Assim como um bom ceifador, a comunidade também deve deixar crescerem juntos os bons e os maus. Não lhe cabe exterminar os maus. Deus mesmo fará isso na hora da colheita, pois só Deus tem o direito de julgar, os homens não. Mas a parábola também pode ser vista como imagem da lama humana. Nesse caso, a alma é o campo. De noite, quando estamos dormindo, isto é, quando vivemos a vida de maneira inconsciente, o inimigo espalha a semente da erva daninha. Quando é dia e quando olhamos conscientemente o campo de nossa alma, reparamos na erva daninha que está crescendo junto com o trigo. Se teimássemos em arrancar o joio, acabaríamos extraindo também o trigo. Então, não cresceria mais nada. Não devemos ser perfeccionistas que não aceitam defeitos, porque o preço a ser pago pelo perfeccionismo é a infertilidade. Como nem trigo mais há que possa crescer, não sobrará nada que se possa colher. O trigo só se desenvolverá se crescer junto com o joio, o que não significa que devemos permitir que o joio prolifere. É necessário observá-lo para desbastá-lo, se for o caso. Só não podemos extirpá-lo. É verdade que lá no fundo de nossa alma existe a tendência a erradicar tudo o que é defeituoso. Mas se fizermos isso, a nossa alma ficará infértil, de modo que o bem também deixará de crescer. Precisamos de muita paciência e serenidade para deixar amadurecer os dois. Para tanto, precisamos libertar-nos dessa compulsão de querer avaliar tudo. Recuso-me a avaliar o trigo e o joio. Deixo crescer tudo, confiando em Deus, senhor da colheita, a tarefa de julgar trigo e joio” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de julho de 2019


(Eclo 44,1.10-15; Sl 131[132]; Mt 13,16-17) 
São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria.

“Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações” Eclo 44,1.

“A Sagrada Escritura não nos diz nada sobre Santa Ana, mãe de Maria. É o chamado Proto-Evangelho de Tiago que nos narra algo legendário sobre ela. Ana foi casada com Joaquim. Ambos permaneciam sem filhos, apesar do forte desejo de ter uma criança. Sempre pediam isso a Deus em suas orações, mas em vão. Na festa da consagração do templo, Joaquim quis oferecer seu sacrifício com outros devotos, mas o sacerdote o repeliu porque ele era estéril e caía, portanto, sob a maldição da Lei. Isso magoou tanto Joaquim que ele não ousou voltar para casa. Foi para junto dos pastores no deserto. Lá lhe apareceu depois de vinte anos um anjo que lhe anunciou o nascimento de uma filha da qual sairia algo prodigioso. Esse nascimento tardio, segundo o anjo, não é nenhuma vergonha, mas um sinal de que Deus tem coisas maravilhosas reservadas para sua filha. O nascimento tardio exprime que a criança é um presente dado por Deus, não simplesmente o fruto de uma paixão humana. Deus cria um novo começo onde o homem se vê no fim. Ana também recebe a visita de um anjo, que lhe promete a criança. Ana e Joaquim se encontram junto à Porta Dourada e falam sobre a visão comum. Ana fica grávida e dá à luz Maria. Logo depois de três anos, ela entrega a filha ao templo, em conformidade com o voto que fez. Embora saibamos muito pouco sobre Ana, ela é muito amada pelo povo. Sua festa é celebrada em 26 de julho. Ana é o protótipo do maternal. Seu nome hebraico significa ‘Javé teve misericórdia’. E significa: graça, encanto, amor. Na arte, Ana é representada como ‘Ana a três’, juntamente com sua filha e seu neto, o pequeno menino Jesus. Segundo entende a tradição, Ana é a mulher sábia. Ela dá apoio à filha, para que possa fazer justiça ao filho, que trilha um caminho bem diferente do que Maria havia imaginado. Ela é a avó que fornece tanto para a própria filha como para o neto um espaço seguro, no qual podem desenvolver as possibilidades de sua vida” (Anselm Grun – Cinquenta Santos – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 25 de julho de 2019


(2Cor 4,7-15; Sl 125[126]; Mt 20,20-28) 
São Tiago Maior, apóstolo.

“De fato, nós, os vivos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal” 2Cor 4,11.

“Com humildade, Paulo evidencia seu ministério. É tesouro guardado em vaso de barro. É um paradoxo que demonstra fragilidade e engrandece o poder do Evangelho. Seu corpo sofre e padece pela nobre causa. Nele a vida de Jesus se manifesta. Paulo diz que o seu morrer por causa de Jesus fará a vida se manifestar em seu corpo. Ele está se referindo à sua forte identificação com o Cristo. Os aspectos humanos ficam no plano secundário. A graça de Deus tem primazia. A causa de Cristo é viva, e Ele, fisicamente, está sobrevivendo. Sabe, no entanto, que sua entrega diária a esta nobre causa resultará em morte. O seu morrer indica que está totalmente focado na causa de Jesus. Ele se manifestaria com sua glória em seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a ele. Aqueles que pregaram o Evangelho como Paulo ficaram sempre sujeitos aos sofrimentos. Paulo confessou: ‘Dia após dia, morro!’ (1Cor 15,31). ‘Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro’ (Rm 8,36). A compensação é descrita com as seguintes finalidades: ‘para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão de seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte’ (Fl 3,10) e ‘agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne’ (Cl 1,24). O resultado no corpo poderá ser a morte, mas o ganho para o seu espírito tem sabor de vitória. Nele vive o eterno Deus todo-poderoso e rei de toda graça. Paulo com sua vida dedicada deixou-nos exemplos valorosos. Sua motivação foi relevante. Deus se manifestou nele. O Evangelho chegou a nós. Saibamos aproveitar as oportunidades. Deus quer nossa dedicação a Ele. – Dá-nos força e coragem! Queremos te servir. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de julho de 2019


(Ex 16,1-5.9-15; Sl 77[78]; Mt 13,1-9) 
16ª Semana do Tempo Comum.

“E disse-lhes muitas coisas em parábolas...” Mt 13,3a.

“Jesus procurou sempre se fazer entendido, ao propor as verdades do Reino ao povo que o acompanhava e o ouvia. Daí falar sempre através de parábolas, usando de comparações. Jesus sempre revelou carinho pela multidão que o acompanhava, percebendo, igualmente, quando esta se encontrava faminta. Quanta gente respeita o povo e quanta gente o desrespeita! Quantos políticos agem, neste particular, tão diferente de Cristo! Eles não atingem o povo, porque não lhe passam uma doutrina verdadeira. O que dizem não corresponde ao que estão desejando realmente fazer. E nisto reside uma profunda violação a um dos mínimos direitos do povo que é, certamente, ao de não ser iludido. Com o intuito de fazer-se entendido pelas multidões que o acompanhavam, ele lhes falava, usando de recursos literários fáceis de serem entendidos. Nem sempre, também, neste modo de condita do Cristo, o imitamos. Nem sempre nos aproximamos dos irmãos, principalmente, dos mais simples, falando-lhes da maneira como devemos falar. Ninguém se iluda. Vamos dar contas a Deus de toda palavra inútil, de toda palavra destrutiva, de toda palavra inadequada, de toda palavra desagregadora que pronunciamos. ‘Palavra não foi feita para dividir ninguém’ – Senhor, nós vos agradecemos por todas as palavras que saíram da boca do vosso filho. Fazei que as nossas imitem as suas e sejamos parábolas vivas comunicando as grandes riquezas de vosso reino. Amém” (José Gilberto de Luna – Graças a Deus – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de julho de 2019


(Ex 14,21—15,1; Sl Ex 15; Mt 12,46-50) 
16ª Semana do Tempo Comum.

“Então os filhos de Israel entraram pelo meio do mar a pé enxuto, enquanto as águas formavam como que uma muralha à direita e à esquerda” Ex 15,22.

“Deus abre para Israel um caminho no meio do mar, durante a noite, para o conduzir para a outra margem, para um futuro novo e livre. É necessário que o povo entre no mar, num percurso que à razão parece impossível de percorrer, num espaço que é símbolo da morte; é necessário que confie na palavra de Moisés e tome uma decisão amparada somente pela fé. Aceitar percorrer o caminho paradoxal indicado por Deus abre uma passagem onde não existe outro caminho. Só na condição de confiar no Senhor é que o mar se torna instrumento de vida: para os egípcios, atacados no seu poder, o mar torna-se instrumento e lugar de morte. Israel, que viu chegar os seus inimigos, que sentiu a morte de perto, vê agora a salvação; o medo que paralisa transforma-se num sentimento de adoração; o descontentamento em relação a Moisés torna-se atestação de confiança em alguém que crê profundamente na atuação salvífica de Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de julho de 2019


(Ct 3,1-4; Sl 62[63]; Jo 20,1-2.11-18) 
Santa Maria Madalena.

“Encontraram-me os guardas que faziam a ronda pela cidade. ‘Vistes porventura o amor de minha vida?’”
Ct 3,3.

“Muitas legendas se formaram em torno de Maria Madalena. Os pintores gostam de representá-la. A Igreja grega, desde cedo, venerou Maria Madalena e celebrou seu dia em 22 de julho. A Igreja ocidental se juntou à celebração apenas no século IX. A Igreja oriental via nela a apóstola dos apóstolos, a primeira testemunha da ressurreição de Jesus, como João descreve no seu evangelho. Segundo a tradição grega, o túmulo de Santa Maria Madalena se encontra em Éfeso. Maria Madalena é citada por Lucas como a primeira das mulheres que acompanharam Jesus em suas peregrinações e o serviram de acordo com suas capacidades. Ela é a mulher de quem Jesus expulsou sete demônios e que lhe deve, portanto, sua nova vida. Entre eles nasceu uma profunda amizade. A história da procura do corpo de Jesus na manhã do sábado da Páscoa é uma história de amor. Em sua descrição, João se refere três vezes ao terceiro capítulo do Cântico dos Cânticos diz: ‘Sobre o meu leito, ao longo da noite, procuro aquele que eu amo. Eu procuro e não o encontro’ (Ct 3,1). Madalena pergunta três vezes onde está o corpo de Jesus. Três vezes se diz que a noiva, no Cântico dos Cânticos, não encontrou aquele que sua alma ama. Por fim a cena do ‘Não me retenhas!’ (Jo 20,17) refere-se à passagem ‘Seguro-o e não cargo, até tê-lo introduzido na casa de minha mãe’ (Ct 3,4). Maria Madalena é, para João, a grande amante, a mulher que procura em Jesus aquele que sua alma ama. [...] Então Maria Madalena é a amiga de Jesus, a mulher que lhe deve a vida. Os sete demônios que ele expulsou representam o dilaceramento interior que essa mulher experimentou. Pelo encontro com Jesus, ela encontrou seu próprio eixo, descobriu sua dignidade e pôde dizer sim a si mesma. Os demônios não tinham poder sobre ela. As vozes que a rebaixavam e desvalorizavam ficaram mudas. Ela teve o direito de se colocar de pé e desfrutar sua dignidade como mulher” (Anselm Grun – Cinquenta Santos – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

16º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Gn 18,1-10a.; Sl 14[15]; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42)

1. Preparando-nos ao acolhimento que Marta e Maria fazem a Jesus no evangelho, a liturgia nos traz esse texto da acolhida de Abraão aos três homens que caminham em sua direção. O texto está rodeado de mistério, mas logo somos advertidos que se trata da visita de Deus, tanto que Abraão os trata no singular.

2. Os Padres da Igreja não demoraram a perceber nesse texto uma espécie de antecipação do mistério da Santíssima Trindade, de cuja reflexão de apropria o artista monge Andrei Rublev em seu ícone da Santíssima Trindade.

3. O texto quer destacar o acolhimento animado e atencioso de Abraão. Deus aceita, mostra-se familiar e próximo ao ser humano, come com ele, sinal de intimidade, como Jesus na última ceia e em outros momentos. Tal acolhimento traz uma dádiva: a intervenção divina que trará o nascimento de Isaque. Numa silenciosa atitude de fé Abraão acolhe a boa nova.

4. No segundo texto da carta aos Colossenses, Paulo afirma a sua identificação com Cristo pelos sofrimentos vividos em sua missão em favor da obra redentora. Ele fala da oferta de sua vida, também em favor da Igreja.

5. Jesus aproveitava todos os momentos, dando-lhes um especial significado. Assim o faz nos momentos em que é acolhido revelando a sua intimidade.

6. O encontro com Marta e Maria nos revela maneiras distintas de relacionar-se com Jesus. Marta mantém a sua relação através dos múltiplos cuidados do serviço necessário, Maria escolhe a mediação da Palavra.

7. A censura de Jesus, que também é censurado por Marta, não contradiz a necessária obra que resulta da escuta da Palavra. O cuidado que ela deve ter é de não se deixar arrastar pela agitação e pela inquietação, pois arrisca-se a não reparar n’Aquele que está presente, como faz Maria.

8. Os dois textos de acolhimento nos convidam a refletir sobre a nossa capacidade de contemplar a presença de Deus que nos visita nos espaços da vida quotidiana. Se o aprendemos a fazer, nossas vidas ficam marcadas e comprometidas, pois Ele sempre deixa algo para nós em nós.

9. A atenção ao Senhor no nosso dia a dia não nos afasta da vida, pelo contrário, confere ao nosso viver um fôlego maior. Vivemos o desafio de fazermos o que devemos fazer com plena tranquilidade sabendo que o nosso amor ao Senhor passa pelo serviço ao outro de quem me torno próximo.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de julho de 2019


(Ex 12,37-42; Sl 135[136]; Mt 12,14-21) 
15ª Semana do Tempo Comum.

“Demos graças ao Senhor, porque ele é bom: porque eterno é seu amor! De nós, seu povo humilhado, recordou-se: porque eterno é seu amor! De nossos inimigos libertou-nos: porque eterno é seu amor” Sl 136,1.23-24.

“O salmo 136 começa com ‘Deem graças ao Senhor’. O significado básico da expressão hebraica traduzida por ‘deem graças’ é confessar, não no sentido de confessar pecados, mas reconhecer a grandeza do Senhor. Essa confissão é algo glorioso e não vergonhoso. Dizemos acerca de Deus o que Deus revelou sobre si mesmo em sua Palavra, e bradamos isso a quem quiser ouvir. Agradecemos a Deus por sua grandeza e bondade simplesmente ao declararmos em alegre louvor para Deus a verdade sobre ele mesmo. Deus se agrada desse tipo de adoração porque ele é digno de tudo o que pudermos dizer e muito mais! Esse salmo era entoado como um cântico responsivo. O sacerdote ou líder de adoração no templo começava – ‘Deem graças ao Senhor, porque ele é bom’ (v. 1) – e o povo respondia do mesmo modo a cada nova declaração – ‘O seu amor dura para sempre’ (v. 1). O verso de resposta já foi traduzido de diversas maneiras: sua misericórdia dura para sempre. Seu amor não tem fim, seu amor nunca acaba. Enquanto o líder de adoração explora a história da bondade de Deus desde a criação do mundo, passando pela fuga de Israel da escravidão no Egito ao cuidado com seu povo até o dia em que o cântico era entoado, a resposta é sempre a mesma: o amor de Deus permanece. [...] Alguns estudiosos da tradição judaica acreditam que o salmo 136 era recitado no templo enquanto o cordeiro pascal era imolado. Nos dias de hoje, esse salmo ainda é cantado ou recitado perto do fim da observância judaica da refeição da Páscoa. É possível que o salmo 136 fosse o cântico ou hino que Jesus e seus discípulos cantaram logo após deixarem o Cenáculo, em direção ao jardim do Getsêmani (Mateus 26,30). Se foi, o cântico estava na mente de Jesus ao enfrentar o horror da cruz algumas horas depois. Ele morreu como nossa Páscoa, sendo o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Douglas Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de julho de 2019


(Ex 11,10—12,14; Sl 115[116B]; Mt 12,1-8) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Que poderei retribuir ao Senhor Deus por tudo aquilo que ele fez em meu favor?” Sl 116, 12.

“Não sabemos os detalhes, mas como o compositor deste salmo antigo havia passado por uma experiência difícil. Lágrimas foram derramadas. A tristeza tomou conta de seu coração. Ele pensou que iria morrer. Se você tem passado pelo vale do desespero, sabe como o salmista se sentia. Você sabe como enfrentar ‘aflição e tristeza’ (v. 3). A boa notícia é que Deus conduziu esse escritor durante o tempo difícil até o outro lado. O Senhor libertou e restaurou a paz no coração dele; por isso ele senta e nos conta tudo a respeito. Seu cântico era uma história pessoal: primeiro, de seu amor pelo Senhor que o ajudou durante os dias de tristeza e aflição (vv. 1-11) e depois, de seu ardente desejo de expressar gratidão ao Senhor por toda bondade de Deus (vv. 12-19). Que história sobre a bondade de Deus você pode contar? De que forma ele o resgatou? Todos poderíamos escrever um salmo 116 sobre a provisão e a graça de Deus. Infelizmente, a maioria de nós se comporta como agentes secretos em se tratando da bondade do Senhor. Nós a guardamos apenas para nós. Quando foi a última vez que você ouviu alguém irromper em louvor por algo maravilhoso que Deus fez? Quando foi a última vez que você ficou animado com o fato de Deus ter sido bom para você? Deus havia abençoado tanto o salmista que ele ficou se perguntando: ‘Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo?’ (v. 12). Uma maneira de agradecer a Deus é cumprir nossos votos (vv. 14.18). Quantos de nós, em uma crise de dor ou em dificuldade, disseram: ‘Senhor, se tu me livrares dessa vez, eu prometo que vou...’ (completar a frase). Mas, depois que o Senhor nos livra ou o problema passa, esquecemos a promessa que fizemos. A Bíblia leva a questão dos votos muito a sério. Um voto é sempre voluntário, mas, depois de feito, temos o compromisso de cumpri-lo. Salomão fala das promessas feitas a Deus: ‘Quando você fizer um voto, cumpra-o sem demora, pois os tolos desagradam a Deus; cumpra o seu voto. É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir’ (Eclesiastes 5,4-5). Coisa séria. Você consegue se lembrar de algumas promessas que fez a Deus? Você as cumpriu?” (Douglas Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de julho de 2019


(Ex 3,13-20; Sl 104[105]; Mt 11,28-30) 
15ª Semana do Tempo Comum.

“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” Mt 11,28.

“A experiência mística, na qual Jesus gostaria de introduzir-nos, é expressa pelas palavras do convite dirigido a todos os fatigados e sobrecarregados [...]. Esse convite de Jesus guarda muita semelhança com certas sentenças de sabedoria, como, por exemplo, as do Sirácida (Eclesiástico) em 51,23-29. Junto à sabedoria, os homens podem encontrar a tranquilidade, enquanto a insensatez está cheia de barulho. A sabedoria se dirige justamente aos incultos, e o seu jugo é leve. Com essas palavras de Jesus, Mateus mostra que Jesus é o verdadeiro mestre da sabedoria. Nele temos parte na sabedoria à qual aspiraram desde sempre tanto os judeus quanto os gregos. Ele incorpora a sabedoria do mundo inteiro. Por isso só podemos entender Jesus completamente quando analisamos as suas palavras no diálogo com as doutrinas da sabedoria de outras religiões e culturas. Jesus se dirige àqueles que carregam fardos. Os interpretes têm diversas explicações para o sentido dessa afirmação: uns pensam na lei judaica como um peso, mas Jesus não cancelou a lei, apenas a interpretou. É mais a pressão por desempenho que transforma a lei em carga. Quando me sinto pressionado a fazer tudo com a máxima correção, dobro-me como que debaixo de um peso. Agostinho interpreta essas palavras da seguinte maneira: ‘Por mais duro que seja o fardo que pesa em nossas costas, o amor o faz ficar leve’ (Luz II, 220). A teologia da libertação vê no fardo a exploração praticada pelos poderosos. Os psicólogos veriam no fardo o peso das feridas provocadas pelo passado que nos acabrunham, por exemplo, pela tendência a atribuir a culpa sempre a nós mesmos, de desmerecer-nos e pressionar-nos. Para muitos, a própria piedade se transformou em peso. Mas Jesus não pretende anunciar uma espiritualidade que nos oprime e aflige, antes quer mostrar-nos um caminho espiritual que nos conduz à serenidade e no qual encontramos a harmonia em nosso interior e a verdadeira paz” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de julho de 2019


(Ex 3,1-6.9-12; Sl 102[103]; Mt 11,25-27) 
15ª Semana do Tempo Comum.

“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” Mt 11,25.

“A exclamação de júbilo de Jesus é o seu convite aos fatigados e sobrecarregados foram chamados pelos exegetas de pérolas do evangelho de Mateus. Na oração introdutória, Jesus expressa a sua relação de confiança com o Pai. Ele agradece ao Pai o fato de este ter-se revelado aos pequeninos por meio dele mesmo, ou seja, pelo Filho. Jesus anuncia o Reino de Deus precisamente aos pobres, aos simples e aos marginalizados, aos homens e às mulheres da Galileia, aos pobres do campo. Deus se revela em Jesus não àqueles que, por causa da sua formação, têm o direito de conhecer Deus; não, ele se revela aos incultos, aos humildes, aos ingênuos. É a essas pessoas que Jesus oferece, em sua pregação, a participação do seu relacionamento íntimo com o Pai. Ele é o filho – o único que conhece o Pai realmente. O conhecimento do Pai pelo Filho ganha um sentido místico na Igreja primitiva. Conhecer é sempre também amar, ser um só, fundir-se com o outro. É um relacionamento de carinho e amor entre Pai e Filho. E agora o filho introduz também os cristãos nessa relação amorosa com o Pai. O Mestre Eckhart entendeu esse texto da seguinte maneira: a nossa felicidade consiste no conhecimento de Deus, na união com ele. O caminho que leva a essa união com Deus é o Filho e a palavra que o Filho nos confiou (cf. Luz II, 216)” (Anselm Grun –Jesus: mestre da salvação – Loyola). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de julho de 2019


(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 
Nossa Senhora do Carmo.

“Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” Mt 12,46-50.

“Jesus parece distanciar de si a sua Mãe porque quer mostrar como se realiza a verdadeira intimidade com Ele: ‘fazendo a vontade de Deus’. E Maria durante toda a vida, desde o dia em que aceitou ser a mãe de Cristo até à cruz no Calvário, foi o sinal da adesão à vontade de Deus. Foi sempre a ‘pobre em espírito e a pura de coração’ que constantemente se entregou ao seu Filho e Senhor com a alma de criança inteiramente voltada para o Pai (cf. Mt 18,13). O escritor francês, G. Bernanos, no seu romance Diário de um Pároco de Província, falava assim de Maria: ‘O olhar da Virgem é o único olhar verdadeiramente ‘infantil’, o único verdadeiro olhar de criança que alguma vez se tenha levantado acima da nossa infelicidade’. Reencontra essa ‘infância’ do espírito, redescobrir a pureza da fé operante é concretizar a declaração de Jesus, é estar na esteira de sua Mãe, é tornar-se para Ele irmão e irmã. Maria é o símbolo da verdadeira parentela com Jesus, não tanto segundo a carne, mas na plenitude da intimidade. Para usar uma imagem de Cristo, é tornar-se ‘semente caída em terra boa: tendo ouvido a Palavra de Deus com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança’ (Lc 8,15). O cristão há de ter um coração como o de Maria que ‘observa a Palavra de Deus’ e ‘faz a sua vontade’. É assim, segundo a expressão de Jesus, que nos tornaremos também nós, de algum modo, ‘irmão, irmã e mãe’ de Cristo” (Gianfranco Ravasi – Os Rostos de Maria na Bíblia – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de julho de 2019


(Ex 1,8-14.22; Sl 123[124]; Mt 10,34—11,1) 
15ª Semana do Tempo Comum.

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada” Mt 10,34.

“Mateus coloca a afirmação de Jesus de que não veio trazer a paz, e sim a espada (10,34s) num contexto totalmente diferente daquele de Lucas. Para Mateus, ela faz parte das instruções que Jesus dá aos discípulos. Quem aceita trilhar o caminho e quem se sabe enviado a esse mundo por Jesus percebe que não é só a paz que ele traz, pois pode ser também a espada. O significado da espada, nesse contexto não é o da violência, e sim o da separação. A palavra de Deus que anunciamos é como uma espada de dois gumes: ela divide os pensamentos dentro de nós. Ela separa os nossos pensamentos de perdição dos pensamentos de salvação. A palavra exige decisão: não é uma palavra descompromissada que pode ser ouvida e desfrutada. Por meio de nosso anúncio, a palavra de Deus quer penetrar no coração dos homens, para separar os pensamentos que trazem a vida dos outros que prejudicam o ser humano. A palavra do anúncio pretende conclamar os homens a se decidir a favor de Deus, distanciando-se de tudo que é antidivino” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

15º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-27).

1. A nossa liturgia da Palavra se abre com um trecho do último discurso de Moisés, apelando ao povo que Deus lhe confiou, que não tratem a Lei do Senhor, os seus mandamentos, como algo estranho ou inacessível.

2. Assim o texto nos lança ao coração do evangelho. Jesus, a Palavra encarnada, responde ao mestre da Lei, com a parábola do samaritano, como se expressa, na prática, o amor a Deus e a observância dos mandamentos. Todos podem aprender e conservar dentro de si e por a Palavra em prática, pois essa se traduz em opções coerentes na vida.

3. O que está por traz da Palavra é a pergunta: nossa dificuldade, por um acaso, não seria uma carência de amor, denunciando que tal fonte já secou dentro de nós?

4. A liturgia também nos conduz a esse encontro com a carta aos Colossenses que ouviremos nos próximos domingos; ela parte desse hino complexo e original que anuncia em Cristo o sentido original da Criação, sua evolução e o seu fim.

5. Ao mesmo tempo apresenta a Cristo como cabeça dessa nova criação que é a Igreja; nela se prolonga a sua Encarnação e dela fez objeto de sua obra histórica de redenção e salvação. Outras verdades nos aguardam...

6. Em nosso evangelho, somos conduzidos com maestria ao seu coração pelo próprio autor, que nos mostra que o amor a Deus e ao próximo, que sempre fizeram parte da Lei, depende de opções práticas da vida, lançando a limitada compreensão de quem é o meu próximo a uma visão universal do ser humano, extrapolando critérios religiosos.

7. O problema não está em saber ‘quem é o meu próximo’, mas sim em como ‘tornar-me próximo’, tanto quanto Jesus se fez próximo pela sua Encarnação. O samaritano da parábola não está preocupado com o ‘saber’ da Lei, mas como o seu significado mais profundo.

8. “A pergunta de Jesus quer provocar em nós esta averiguação: consigo identificar, aqui e agora, quem é o meu próximo? Como é que posso inverter a lógica que me leva a classificar as pessoas só para favorecer alguma opção vantajosa? É porventura a de eu praticar uma religião que se preocupa em me resguardar de alguma pretensa contaminação, em vez de me impelir para a fragilidade ferida do irmão? Estou disposto a assumir uma misericórdia que não tem outros fins senão o de estar próximo, de socorrer? Só fazendo da pergunta de Jesus uma questão séria é que posso dar uma orientação certa ao desejo que me levou a perguntar: ‘Que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?’ (v.25)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

9. Jesus é a Palavra que se tornou próxima, acessível, que ilumina a nossa prática. Se nele, Deus cuida de mim, não deveria eu, por amor reconhecido, amar ao outro como a mim mesmo?

Pe. João Bosco Vieira Leite