Segunda, 01 de fevereiro de 2021

(Hb 11,32-40; Sl 30[31]; Mc 5,1-20) 

4ª Semana do Tempo Comum.

“Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério,

foi ao seu encontro” Mc 5,2.

“Ao ver Jesus, o homem corre ao encontro dele e se lança a seus pés. Parece reconhecer o poder de Jesus. Sente-se atraído por ele. Talvez tenha a esperança de encontrar a cura em Jesus. Mas mesmo assim grita: ‘Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Altíssimo? Conjuro-te por Deus, não me atormentes’ (5,7). Ele quer ser curado e ao mesmo temo resiste obstinadamente. Essa ambivalência é comum em muitos doentes. Eles se sentem despedaçados por desejos opostos: querem ser curados e ao mesmo resistem à cura. Continuando doentes, sabem como será sua vida. Mas se foram curados não sabem o que os aguardará. No mínimo, já não poderão recusar qualquer responsabilidade. Vão precisar tomar a vida em suas próprias mãos. Jesus faz distinção entre a pessoa doente e o espírito impuro que o possui. Ele enxerga dentro do ser caótico o âmago sadio. E ele acredita nesse âmago. Ele quer separar esse âmago sadio dos padrões de vida que desenvolvem as doenças e dominam o doente; ele quer separá-lo do espírito impuro que turva seu raciocínio e que o coage com ideias fixas. Jesus pergunta ao doente: ‘Qual o teu nome?’. O nome não é algo exterior, ele exprime o ser do homem. Com essa pergunta, Jesus confronta o doente com seu próprio ser. Que ele mesmo diga o que ele é realmente e qual o seu verdadeiro ser. Jesus não faz nenhum comentário a respeito do comportamento estranho do doente. Ele o leva a sério. Mas ele o obriga também a tirar os olhos dos sintomas para encarar seu verdadeiro ser. A resposta do doente é evasiva: ‘Meu nome é Legião, pois somos numerosos’ (5,9). O possesso usa um termo que fazia parte da linguagem militar romana. Uma legião contava 6 mil soldados. Podemos imaginar o que o doente quis dizer: 6 mil pares de botas pisotearam a minha alma. Esmagaram seu âmago. Ele já não sabe quem é de verdade. Perdeu seu próprio ser debaixo das botas dos homens que o rejeitaram e machucaram. Passou a sentir-se ele mesmo como uma legião. Nele mora uma legião inteira de doenças psíquicas. Sua personalidade está esfacelada em muitas partes. Ele se desfaz em si mesmo, nem sabe mais quem é. Sua pessoa como um todo lhe escapa. O encontro com Jesus lhe dá a oportunidade de descobrir seu verdadeiro ser. O encontro com uma pessoa repousada em seu próprio centro nos ajuda às vezes a encontrar nosso próprio centro. Jesus, que repousa em si e em Deus, age sobre esse homem dilacerado como um ímã que reagrupa todas as partes de sua alma” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dt 18,15-20; Sl 94[95]; 1Cor 7,32-35; Mc 1,21-28)

1. “Eis que faço nova todas as coisas” é a expressão do Apocalipse (21,5), para falar do agir de Deus. E é assim que Marcos nos apresenta Jesus na sinagoga de Cafarnaum: ele ensinava e ordenava tudo de forma nova, diferente do que até então conheciam. E não estava vinculado a qualquer grupo ou denominação existente.

2. Nenhum crédito, nenhum currículo, nenhum diploma, O precedia. A sua autoridade começava ali, no próprio ato de dizer ou de fazer. As pessoas estavam totalmente tomadas de espanto, como se um mundo novo, belo e bom estivesse iniciando, e não só para eles.

3. Aquelas pessoas já conheciam o modo de falar dos mestres da Lei em suas repetidas, pesadas e cansadas doutrinas que não lhes tocava o íntimo. Mas Jesus lhes traz uma comovida emoção, uma lágrima de alegria lhes acaricia o coração. Uma palavra única, nova, criadora.

4. Eles já tinham assistidos muitos exorcismos, muito em voga naquele tempo, com seus longos, estranhos, complicados ritos. Mas Jesus diz só uma palavra criadora: ‘Cala-te e sai desse homem’, e tudo se resolve (Mc 1,25-26).

5. Abre-se um debate. O primeiro de muitos que o Evangelho de Marcos vai iniciar: ‘O que é isso?’ perguntam as pessoas, pois nunca tinham visto tanto e tão novo e prodigioso ensinamento. É assim que Marcos abre a jornada deste maravilhoso anunciador do Evangelho de Deus, completamente diferente de tudo que conheciam.

6. Veremos no próximo domingo, como se amplia o falar e o agir de Jesus, que não se restringirá àquela cidade. É preciso anunciar o Evangelho, levar a boa nova seja a quem for. Seja onde for. Isso significa: ensinar, libertar, acolher, curar, recriar: é esta a toada do anúncio do Evangelho. É Deus visitando o seu povo.

7. Pertinho e cheio de Deus, Jesus O leva a seus irmãos. É esta a Autoridade de Jesus. Ele é o profeta como Moisés, mais do que Moisés, com a boca repleta das palavras de Deus, conforme acompanhamos na 1ª leitura. Mas sabemos que essa Palavra nem sempre foi bem acolhida, nos recorda a última estrofe do nosso salmo.

8. O evangelho juntamente com a 1ª leitura, nos dão um pequeno retrato do lugar e ação dos sacerdotes e bispos: entre Deus e o povo. Mais concretamente: pertinho de Deus, mas de um Deus que faz carícia ao seu povo, um Deus que ama e que perdoa.

9. É por causa dessa missão que tudo mais será relativizado, nos lembra Paulo na 2ª leitura. Não nos é permitido adormecer ou entorpecer, de modo a ficarmos inativos, infecundos e insensíveis.

10. O nosso salmo, recitado todas as manhãs pelos que rezam a Liturgia das Horas, é como um permanente despertador para não nos deixarmos andar ao sabor de qualquer música, mas apenas e sempre ao sabor da música de Deus. E levar também aos outros, essa graça e bondade desencadeada por Jesus em Cafarnaum.    

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 30 de janeiro de 2021

(Hb 11,1-2.8-19; Sl Lc 1; Mc 4,35-41) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus estava na parte detrás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: ‘Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” Mc 4,38.

“Os discípulos acordam Jesus em tom de censura: ‘Mestre, não te importas que pereçamos?’ (4,38). No texto grego usa-se o mesmo verbo que foi usado pelos demônios na sinagoga de Cafarnaum: ‘Viestes para nos perder?’ (1,24). Os discípulos estão com medo que Jesus não os salve, que permita que se percam. Eles não veem no sono de Jesus sua confiança em Deus, mas a retirada do meio deles. Acusam-no de dormir por falta de interesse por eles. Fazem o que podem, e mesmo assim estão prestes a afundar. Estão desesperados. Jesus não reage à sua crítica. Ele não se justifica. Prefere levantar-se e ordenar ao vento e ao mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ (4,39). Ele se dirige ao vento e ao mar como a seres vivos, a demônios, que ele expulsa com as mesmas palavras. Os antigos acreditavam que as forças destruidoras da natureza eram obras de poderes demoníacos. Jesus manda que se calem. A palavra de Jesus tem o efeito de um exorcismo. Ela expulsa os demônios dos elementos desse mundo. E eles obedecem à sua palavra. Os discípulos se admiram que até mesmo as forças da natureza obedeçam a Jesus. Além de dominar os demônios, ele domina também a natureza. Sua palavra age sobre a criação. O efeito de suas palavras é este: ‘Houve grande bonança’ (4,39). No texto grego está escrito: ‘galene megale’ = grande calma. Quando Jesus se levanta dentro de nós, expulsando os demônios da escuridão da alma, ficamos realmente calmos, o silêncio toma conta de nós e nós nos abrimos para o mistério de Deus que mora dentro de nós” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de janeiro de 2021

(Hb 10,32-39; Sl 36[37]; Mc 4,26-34) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Nós não somos desertores, para a perdição. Somos homens de fé, para a salvação da alma” Hb 10,39.

“Quando fomos batizados e iluminados pela luz de Deus, escolhemos Jesus e seu projeto como os motivos maiores para vivermos. Por isso, quando optamos por Cristo, renunciamos muitas coisas. E cada opção exige uma renúncia. Isso porque, sempre que optamos por algo, deixamos outras coisas para trás. Assim sendo, não equivale dizer que aquilo deixado para trás por causa de Jesus seria negativo. A fé não nos engana. Mas nos permite avançar mesmo em meio às adversidades. Muitos irmãos e irmãs se cansam em pouco tempo. E nós mesmos, não poucas vezes, nos sentimos desgastados pela rotatividade de nossas agendas. Terminamos um ano e, imediatamente, iniciamos outro. E a vida parece se tornar algo devorador, repetitivo, sem sabor. Fazemos as coisas por fazer. Porém, a fé nos motiva a encontrar o verdadeiro sentido para não pararmos e nem desistirmos da missão iniciada. A fé nos alavanca para redescobrirmos o primeiro amor (cf. Ap 2,4-5a). Em meio aos problemas que nos afligem e nos assustam como monstruosos fantasmas, a Sagrada Escritura nos motiva a não desertarmos. A fé poderá passar pelos sentidos, mas, na maioria das vezes, precisamos caminhar na ‘noite escura’. Isto significa que nem sempre sentimos, ouvimos, cheiramos, apalpamos ou degustamos do prazer da ação de Deus. Não poucas vezes, sentir Deus quer dizer silêncio, vácuo. Deus se cala e parece estar longe. A experiência de Jesus ao entregar o seu espírito ao Pai foi de abandono (cf. Mc 15,34), mas também foi de grande fé. Pois ele só entregou o seu espírito nas mãos de Deus porque experimentou o seu silêncio e seu aparente abandono. Mas não perdeu a fé. – Ó Pai, não leve em consideração nossos medos e inseguranças. Aumenta a nossa fé para não que não desertemos de nossas missões. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de janeiro de 2021

(Hb 10,19-25; Sl 23[24]; Mc 4,21-25) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo

deverá ser descoberto” Mc 4,22.

“O tópico dentro do qual se insere esta verdade vem repetido em Lucas (12s) e Mateus (10s), significando a importância que ele tem na pregação de Jesus. Dá contornos ao comportamento dos seguidores de Cristo que deve ser claro como a luz e sincero como a oração a ser feita a Deus. Assim como a Deus ninguém engana, assim também não pode ser hipócrita o discípulo de Jesus. No fundo, a verdade sublinhada por Cristo diz respeito à integridade de vida que se deve ter: por dentro e por fora, devemos ser uma só coisa. O nossos ‘sim’ deverá ser sim e o nosso ‘não’, não. Não podemos levantar as mãos para o céu, para rezar, e levantar a mão contra os irmãos, para ofendê-los. Ou não podemos ter palavras doces na presença dos outros e agredi-los, às escondidas, em sua ausência. Não se pode, ao mesmo tempo, ser verdade e mentira, honesto e falso, ser de Deus e compactuar com o diabo. Disse Jesus, em outra passagem: ‘a verdade vos libertará’ e ‘Deus é luz’. Quem anda na luz é de Deus. Quem anda nas trevas é do demônio, pai da mentira. Temos, em geral, dificuldades em harmonizar dois grupos de valores: os que se referem à verdade e os que se ligam à bondade. Quanto aos primeiros, corremos o risco de ser duros, quando deveríamos ser apenas firmes; quanto aos segundos, o risco a ser evitado é o da diplomacia mentirosa, quando o ideal seria o da magnanimidade generosa. Que o amor à verdade, demonstrado por Cristo, nos ensine a sermos duros e agressivos, e que sua bondade pelo ser humano nos leve a sermos compreensivos, sem escorregar na hipocrisia. – Senhor Deus, grande e bom, derramai vossa Luz em nossas vidas e dai-nos amar a luz, a vossa Luz. E perdão pelas vezes em que amamos mais a mentira do que a verdade, a vossa Verdade. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de janeiro de 2021

(Hb 10,11-18; Sl 109[110]; Mc 4,1-20) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os doze, perguntaram sobre as parábolas”

Mc 4,10.

“Jesus explica aos discípulos a parábola do semeador. São quatro tipos de pessoas que ouvem a palavra de Deus. No caso dos primeiros ouvintes, a palavra cai à beira do caminho. Jesus diz que Satanás logo vem e retira a palavra que lelés foi semeada (4,15). Isso quer dizer que a palavra nem consegue penetrar em seu coração. São pessoas que não param para que a palavra possa entrar nelas. Jesus vê nos pássaros que comem as sementes a figura de Satanás. Os pássaros são pensamentos que, dentro do homem, ficam pulando de um lado para o outro. Quem está constantemente às voltas com mil ideias não está propriamente fazendo nenhum mal, mas torna-se incapaz de atender ao apelo divino. Por isso é correto dizer que a superficialidade e a atividade ininterrupta que isolam o próprio coração acabam sendo expressões do demoníaco. O ser humano, em vez de viver, é vivido. Em outros, a palavra cai em terra pedregosa: ‘Ao ouvirem a Palavra, logo a acolhem com alegria; mas não têm raízes em si mesmos, são homens de momento; e, mal chega a tribulação ou a perseguição por causa da Palavra, eles caem’ (4,16-17). São as pessoas que facilmente de deixam entusiasmar. Aceitam a palavra com alegria. Sentem-se atraídas por ela. Mas não têm profundidade. Vivem apenas em função de suas emoções, que as lançam de um lado para o outro. Logo que as tribulações ou a perseguição despertam outras emoções, essas pessoas se deixam guiar por estas. Não têm raízes. Não têm atitude. O primeiro choque as derruba. É uma imagem que representa muitos cristãos que se deixam tocar pela palavra de Jesus. Mas, como não têm profundidade, a palavra não pode lançar raízes. Qualquer rajada de vento as faz cair. Entre os espinhos cai a palavra naqueles que são dominados por preocupações, pelas riquezas ilusórias e pela concupiscência. As paixões dessa natureza sufocam a palavra de Deus. Por um lado, existe a vontade de seguir a palavra. Mas a concupiscência é mais forte. O indivíduo quer ser o melhor, o maior e o mais rico. A palavra de Deus é uma coisa boa, desde que não atrapalhe o sujeito na consecução de seus próprios objetivos. Assim, ela é apenas tolerada. As prioridades são outras. Mas, além das paixões, os espinhos representam também as feridas e contusões. Há pessoas que se sentem tão machucadas que a Palavra de Deus não alcança seu coração. As feridas ‘se intrometem’ (4,19) na alma. Gravitamos exclusivamente em torno de nossas feridas, de modo que a Palavra de Deus nem tem chance de trazer cura e libertação. Enxergamos apenas a nós mesmos e às mágoas que nos foram infligidas. Com esses três exemplos negativos, Jesus nos adverte que a Palavra de Deus não pode ser abraçada apenas superficialmente. Quando lhe oferecemos, porém, nosso coração, ele cai em terra boa. Produzirá muitos frutos, ‘trinta por um, sessenta por um, cem por um’ (4,20). Trata-se, portanto, de uma parábola cheia de otimismo. A palavra semeada por Jesus na Galileia frutificará não apenas nos corações de seus discípulos, mas no coração de todos aqueles que se abrem à mensagem do Evangelho. Serão recompensadas em abundância. Sua vida será fecundada. Quem aceita Jesus em seu íntimo, experimentará a alegria de uma vida fértil” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de janeiro de 2021

(2Tm 1,1-8; 95[96]; Lc 10,1-9) 

Santos Timóteo e Tito, bispos.


“Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro,

mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus” 2Tm 1,8.

“Ambos colaboradores do apóstolo dos gentios. Por isso o novo calendário colocou-os logo após a festa da conversão de são Paulo. Timóteo foi discípulo exemplar: obediente, discreto, corajoso, trabalhador. Por essa razão são Paulo preferiu-o a João Marcos como companheiro no apostolado, na segunda viagem missionária no outono de 50. Nasceu em Listra, onde são Paulo o encontrou na primeira viagem. Foi um dos primeiros a se converter ao Evangelho. Timóteo foi educado na religião hebraica pela mãe, Eunice, e pela avó, Lóide. Desde pequeno tinha um grande amor Às Escrituras. Acompanhou são Paulo em várias cidades: Filipos, Tessalônica, Atenas, Corinto, Éfeso e até Roma. Por meio dele Paulo tinha, com maior facilidade, contato com as comunidades cristãs. Entre 63 e 66, quando recebeu a primeira carta (1Tm), era bispo da Igreja de Éfeso, na segunda Paulo convida-o a passar o inverno com ele em Roma. É comovente a súplica do velho apóstolo ao filho Timóteo de trazer-lhe a capa que havia deixado em Trôade. Com certeza estava muito frio o cárcere romano. Timóteo presenciou o martírio de Paulo. Segundo uma tradição Timóteo foi martirizado em Éfeso no ano de 97. Tito foi o segundo grande colaborador de Paulo. Provinha do paganismo. Foi convertido e batizado por Paulo. Em 49 já estava com Paulo em Jerusalém. S. Paulo o chama de ‘meu filho’. Foi seu companheiro na terceira viagem e ajudou-o a escrever uma carta aos coríntios. Libertado da prisão romana, o apóstolo passou por Creta, onde fundou uma comunidade cristã e confiou-a a Tito. Foi aqui que recebeu a carta de Paulo. É um testemunho da Igreja apostólica. Tito foi depois a Roma avistar-se com o Mestre que o mandou provavelmente evangelizar a Dalmácia, onde seu culto ainda hoje é intenso. Segundo uma tradição Tito morreu em Creta, após uma longa vida” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de janeiro de 2021

(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) 

Conversão de São Paulo.

“Ora, aconteceu que, na viagem, estando já perto de Damasco, pelo meio-dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim” At 22,6.

“A festa litúrgica da conversão de são Paulo apareceu no século VI e é própria da Igreja latina. O martírio do apóstolo dos gentios é comemorado no dia 29 de junho. A celebração do dia 25 de janeiro tem por finalidade considerar as várias facetas do Apóstolo por excelência. Ele diz de si mesmo: ‘Eu trabalhei mais que todos os apóstolos...’, mas também: ‘Eu sou o menor dos apóstolos... não sou digno de ser chamado de apóstolo’. Apresenta, ele mesmo, as credenciais: viu o Senhor, Cristo Ressuscitado lhe apareceu, ele é testemunho da Ressurreição de Cristo, foi enviado diretamente por Cristo. É como um dos Doze. Pertence a Jesus desde aquela hora em que, no caminho de Damasco, vencido por Cristo e prostrado em terra perguntou-lhe: ‘Senhor, que queres que eu faça?’ Paulo então passou a pregar e propagar a fé que desejava exterminar. Em poucos segundos de contato direto Jesus o transformou de um ferrenho perseguidor no maior Apóstolo do seu Evangelho em todos os tempos. Essa experiência de Cristo às portas de Damasco, que ele compara com a experiência dos Doze na Páscoa e com o fulgor da primeira luz da criação, será o estribilho da sua pregação oral e escrita. Nas suas 14 epístolas que escreveu percebemos o efeito da graça do caminho de Damasco, impossível de se entender como alucinação ou simples fato psicológico. Aí está o dedo de Deus, o milagre. São Paulo tirou da sua experiência esta consoladora conclusão: ‘Jesus veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. Precisamente por isso encontrei misericórdia. Em mim especialmente Jesus Cristo quis mostrar toda a sua longanimidade, para que eu sirva de exemplo a todos aqueles que pela fé nele alcançarão a vida eterna’. ‘Conheço um homem em Cristo que foi arrebatado até o terceiro céu. Se no corpo ou fora do corpo, não sei Deus o sabe. Só sei que esse homem ouviu palavras inefáveis...’ (2Cor 12,2)” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

3º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jn 3,1-5.10; Sl 24[25]; 1Cor 7,29-31; Mc 1,14-20) *

1. Na escuta que estamos fazendo do Evangelho Marcos, estas são as primeiras palavras de Jesus; são importantes, pois nos oferecem um certo programa do Seu agir. Mas vejam que antes Marcos nos informa que João Batista havia sido preso, e essa não é uma informação qualquer: ele une os caminhos e os destinos de João Batista e de Jesus.

2. Esse destino envolverá também os discípulos agora chamados de modo oficial. Antes de pregar, ensinar e curar, Jesus e seus discípulos, a sua Igreja, são mensageiros que anunciam em voz alta uma mensagem: “O Evangelho de Deus”.

3. Com isso, entendemos que eles vivem de Deus e da Sua Notícia Boa, feliz, não agem por conta própria, não são emissores da sua própria sabedoria ou opinião. É Deus em ação que abre aos seres humanos novas e belas perspectivas.

4. O tempo de Deus é esse, é o hoje, não uma mera referência ao passado ou futuro. Só Deus pode agir sobre o tempo cronológico, tornando-o Kairós, tempo grávido de alegria e esperança.

5. Jesus em sua palavra inicial não começa com normas e exigências, mas assinala quanto Deus já fez e está a fazer, por sua gratuita iniciativa, em nosso favor. Só depois, e como normal consequência, surgem na boca de Jesus dois imperativos: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, que traduzem o que compete a nós fazer. Jesus não é um moralista, mas um Evangelizador.

6. Logo depois Jesus lança seu olhar e chama, para romper amarras e segui-lo. Ficamos espantado com esse ‘imediatamente’ deixaram e foram atrás de Jesus. Sem reticências nem calculismos. Marcos está nos convidando a pensar: quem pode dar uma ordem assim? Quem merece uma tal confiança?  

7. Falando em escutar o chamado de Deus, encontramos Jonas na 1ª leitura, que já desconfiado da misericórdia divina, não quer ir pregar a conversão da cidade inimiga, ele sabe que se converterão. Ele queria o fim de Nínive. Por isso tenta fugir de Deus. É a contragosto que prega, e será tomado por grande desgosto quando estes se convertem.

8. Essa narrativa remonta ao século V antes de Cristo, e Jonas encarna um Israel particularista e míope, diferentemente do autor do livro, que testemunha admiravelmente um universalismo salvífico próximo já ao espírito do Novo Testamento.

9. Esse judaísmo fechado que Jonas representa, é a mesma tentação que recai sobre a Igreja, e também a nós, de tempos em tempos, sem olhar ao nosso redor e vendo aos demais como inimigos e aí levantamos muros. Enquanto isso Jonas sabe que Deus ama a todos e Jesus o confirma, numa pregação para todos.

10. Paulo nos diz que o tempo da oportunidade dada, da enchente da Palavra de Deus já respondida ou ainda não, está a chegar ao fim.

11. Como a olhar o mundo presente, ele diz que devemos aprender a relativizar a maneira como habitualmente nos agarramos às nossas ideias feitas e às coisas deste mundo, desde o casamento, aos bens possuídos, aos negócios. A nossa vocação traduz-se na adesão ao Último, que reclama o desprendimento do penúltimo e um amor desmedido.

12. Concluamos com o salmo 25, nesse fino e delicado jogo de olhares entre o orante fiel e um Deus sensível, que olha para nós com ternura paternal, refúgio premente para os pobres pecadores. Nesse salmo encontramos eco da pergunta a uma grande mística muçulmana do século VIII: ‘Como chegaste a um grau tão elevado de vida espiritual?’, respondeu: “Repetindo ininterruptamente: ‘Meu Deus, refugio-me em ti para me defender de tudo que me distrai de ti, e de todo obstáculo que se interpõem entre mim e ti’”. Que Ele sempre nos mostre os seus caminhos e sua verdade nos conduza. Amém.  

* Segui o esquema de D. António Couto: “Quando Ele nos abre as Escrituras” (Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 23 de janeiro de 2021

(Hb 9,2-3.11-14; Sl 46[47]; Mc 3,20-21) 

2ª Semana do Tempo Comum.

“Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens futuros” Hb 9,11a.

“Jesus nasceu na periferia da Palestina e como tal não era matriz sacerdotal. Mas tornou-se sacerdote por causa da missão salvadora. Elevou a humanidade a uma perfeição de consciência tal que as pessoas se aproximando dele adquirem uma liberdade sem limites na sua relação com Deus. Até a vinda de Jesus a religião judaica tinha o seu motivo de ser a sua pedagogia de nos preparar para a chegada do Messias. O sangue, a cinza, e todos os rituais de purificação tiveram sua complementação na morte de Jesus. O derramamento do seu sangue substituiu de uma vez por todas os sacrifícios antigos. Os rituais judaicos que garantiam o perdão dos pecados realizaram-se de forma real e plenamente na morte redentora de Jesus na cruz. Em Jesus encontra-se a plenitude do culto e do sacerdócio, pois Ele é ao mesmo tempo o sacerdote, o templo e a vítima da expedição pelos pecados. Como sumo sacerdote dos bens definitivos, Jesus Cristo ressuscitado e vivo para sempre restabelece a relação de acesso direto do ser humano com Deus e se tornou um dom de Deus em favor da humanidade. Essa relação é entendida e vivida uma vez para sempre, definitiva, perfeita e eternamente. Deus não se encontra mais reduzido e preso a uma casa de pedra. Limitado a um pequeno espaço e visitado pelo sumo sacerdote uma vez a cada ano. Mas Deus está no meio de nós. E o encontramos pelas ruas e praças, casebres e barracões, convivendo com o povo empobrecido e excluído. – Ó querido Pai, torna-nos mulheres e homens mais alegres e confiantes no dom pleno da entrega e salvação realizadas por Jesus. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de janeiro de 2021

(Hb 8,6-13; Sl 84[85]; Mc 3,13-19) 

2ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus designou doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar,

com autoridade para expulsar os demônios” Mc 3,14-15.

“Jesus sempre foi uma pessoa muito prática, que preferia ações a discursos, embora falasse muito bem. No Evangelho que lemos hoje, Jesus escolhe doze ajudantes e manda eles pregarem e ajudarem as pessoas. Notou? Cristo não os chama para longos debates teológicos, mas para pregar e ajudar. Tudo no cristianismo é, ou deveria ser, prático. Evangelizar é chamar as pessoas ao arrependimento e à fé – simples e fácil. No entanto, nós transformamos duas ações claras em um emaranhado de procedimentos e rituais, que podem até, didaticamente, nos ajudar, mas que não são um fim em si mesmos. Em hebraico existe uma palavra para arrependimento que é ‘Teshuvá’, que significa dar meia-volta, mudar de rumo. Isto nos ensina que, se você está caminhando em um caminho errado, mesmo que você não ache bom, que supostamente seria esse o seu dever, você deve trocar de caminho para poder entrar no caminho certo. Principalmente, porque você sabe qual o destino de um caminho errado: a tragédia. Então, não adianta sentir, afirmar, pensar, auto iludir-se, se seu caminho o leva para o rumo errado; só haverá verdadeiro arrependimento e mudança para melhor se trocar de caminho. Caminho errado leva a destino errado. Portanto, mude agora! Não é claro? Não é simples? Não é prático? A mesma coisa é a fé. Temos que crer que Jesus é o Filho de Deus e que Ele nos mandou amar a Deus sobre tudo e todos e nos amarmos como irmãos. Existe alguma dúvida? Claro, pregamos o essencial. Logo, pregue agora! – Obrigado, Jesus por nos escolheres para pregarmos a tua mensagem, que o façamos com clareza e simplicidade. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de janeiro de 2021

(Hb 7,25—8,6; Sl 39[40]; Mc 3,7-12) 

2ª Semana do Tempo Comum.

“Tal é precisamente o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha,

separado dos pecadores e elevado acima dos céus” Hb 7,26.

“Jesus é o sumo sacerdote perfeito. É o mediador por excelência entre Deus e os seres humanos. Ele não se apresenta diante de Deus como pecador, mas como ser perfeito. Ele não precisa, antes, oferecer os sacrifícios do povo e apresentar sacrifícios pelos seus pecados. ‘Ele é santo, inocente, sem macha, separado dos pecadores e mais alto que os céus’. Ele, por causa dessas prerrogativas divinas, não está sujeito ao pecado e a nenhuma fraqueza que os seres humanos possam ter e os sumos sacerdotes possam apresentar. A realidade que envolve a vida de Jesus o faz muito mais elevado do que todos os sumos sacerdotes juntos por causa do grau de sua obediência e santidade. Santidade esta que consistia em realizar a vontade de Deus. Por isso, ele passou fazendo o bem (cf. At 10,38). Para Jesus realizar o bem como projeto de vida é estar disposto a tornar presente em sua vida e na vida das pessoas a vontade de Deus. Jesus, ao ser crucificado e compreender que sua missão o levou à cruz, torna-se o Cordeiro sem mancha, livre do pecado e perfeito para o sacrifício pela humanidade. A salvação, que era uma realidade vaga e à disposição de um grupo seleto, abre-se para a humanidade. O véu que separava Deus do povo no Templo de Jerusalém já não existe mais. Rasgou-se (cf. Mt 27,51). A presença de Jesus no meio da humanidade que possibilitou experimentar da raça humana, sentir o que seres humanos sentem. Jesus sentiu e experimentou tudo o que faz parte de nossa condição de gente. Se assim não o fosse, teria nos salvado pela metade. – Senhor, Pai de bondade, obrigado pela maravilha da salvação realizada por teu Filho Jesus e nosso irmão mais velho na fé. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de janeiro de 2021

(Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110]; Mc 3,1-6) 

2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, então, olhou ao redor cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração, e disse ao homem: ‘Estende a mão’. Ele a estendeu e mão ficou curada” Mc 3,5.

“Como os fariseus ficassem calados, Jesus olhou para cada um com ‘cólera, entristecido pelo endurecimento de seus corações’ (3,5). Cólera e tristeza perfazem uma mescla interessante de sentimento. Cólera não significa que Jesus tenha se enfurecido ou que tenha gritado com os fariseus. Cólera é a força do distanciamento. Pela cólera, Jesus cria uma distância entre si e os fariseus, e essa distância o protege deles. Sua cólera sinaliza-lhes: ‘Podem continuar sendo o que são. Eu não os repreendo. Podem até continuar com esses corações endurecidos e ressequidos. Mas é problema de vocês. Não vou muda-los. Mas eu farei o que considero correto’. Em sua cólera, Jesus se liberta do poder de seus adversários. Ele não se deixa intimidar por eles. Ele está em harmonia consigo próprio. De modo que pode agir a partir de seu centro íntimo. À cólera se associa a tristeza. A palavra grega ‘syllypoumenos’ exprime ‘compadecer-se’. Num primeiro momento, Jesus se distancia dos fariseus. Mas ele não corta os laços que o ligam a eles. Ele lhes estende a mão e se compadece deles. Ele sente tristeza por causa do endurecimento de seu coração, mas ao mesmo tempo sente como eles sentem: o que se deve passar em seu coração tão endurecido? Quanto medo deve haver nesses corações estreitos? Quando desespero e desprezo humano deve leva-los a se fecharem ao sofrimento de uma pessoa? Só posso entrar realmente em contato com um ser humano quando estou firme em minhas próprias pernas. Quem não tem limites é dominado pelos sentimentos do outro. Não é livre em seu agir. Mas Jesus é livre. Ele quer relacionar-se com os fariseus. Em sua tristeza, ele lhes estende a mão. Mas eles não aceitam a mão estendida. Em vez disso saem e resolvem mata-lo. Em meio às curas realizadas por Jesus, Marcos avisa que um destino violento aguarda Jesus. Curando os doentes, Jesus está lutando contra o poder dos demônios. Na hora da paixão, os demônios parecem a ele seu poder, mas na morte Jesus os derrota definitivamente. Os fariseus que decidem mata-lo não sabem que com isso estão definindo a derrota de todos os poderes que se opõem à vida. Porque na morte todos nós recebemos a vida que nesse episódio é concedida ao homem da mão paralisada” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de janeiro de 2021

(Hb 6,10-20; Sl 110[111]; Mc 2,23-28) 

2ª Semana do Tempo Comum.

“Deus não é injusto, para esquecer aquilo que estais fazendo e a caridade que demonstraste em seu nome, servindo e continuando a servir os santos” Hb 6,10.

“Fazer o bem às pessoas nem sempre é fácil. Requer objetivo e determinação. E depois, não tem sentido servir para mostrar aos outros o que estamos fazendo (1Cor 13,1-13). Frequentemente, quando ajudamos alguém ficamos agraudando um muito obrigado ou que a pessoa ajudada um dia nos retribua o bem que lhe fizemos. E isto causa em algumas pessoas certo estado de desânimo em querer continuar servindo. Nas nossas comunidades, mesmo que sejamos formados para o serviço por meio de homilias, sermões, catequese, nem sempre conseguimos servir despretensiosamente. Todas as comunidades cristãs pregam o serviço aos outros na mesma dimensão de Jesus: ‘Eu vim para servir!’ (Mc 10,45). Então, não é novidade para nenhum cristão a tarefa principal de sua vida que é fazer aos outros aquilo que gostaria que os outros lhe fizessem (cf. Mt 7,12). A partir do projeto de vida de Jesus a lei fundamental é: assim como eu te amei, deves amar teu irmão. Sendo assim, o amor não se corrompe como água parada, mas circula perenemente e com ele circula a vida; não significa simples permuta, mas dom que mantemos aceso transmitindo-o, como água que permanece viva correndo. Deus nos fez solidários e responsáveis uns pelos outros. Deus deseja que os amados procurem levar outros a terem a mesma experiência no amor: por atos e em verdade (cf. 1Jo 3,18) (Raniero Cantalamessa) – Ó Deus, Tu que és amor, ensina-nos a amar sem desconfiança e gratuitamente. Amém!”.  (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de janeiro de 2021

(Hb 5,1-10; Sl 109[110]; Mc 2,18-22) 

2ª Semana do Tempo Comum.

“Jurou o Senhor e manterá a sua palavra: ‘Tu és sacerdote eternamente

segundo a ordem do rei Melquisedeque!’” Sl 10,4.

“A segunda imagem que Davi usa para se referir ao Messias no salmo 110 é a de sacerdote. Os sacerdotes em Israel eram todos da tribo de Levi, um dos filhos de Jacó e chefe de uma das famílias que faziam parte do povo de Israel. O sacerdote descrito no salmo 110, entretanto, é de uma ordem sacerdotal diferente. Esse sacerdote é da ordem de Melquisedeque. Que nome! Melquisedeque apareceu uma vez no livro do Gênesis como parte da história de Abraão. Foi chamado de ‘sacerdote do Deus altíssimo’ (14,18), e abençoou Abraão (vv. 18-20), que então honrou a Melquisedeque dando-lhe um décimo de tudo o que havia conquistado dos seus inimigos.  O sacerdote não foi mencionado novamente por mais de mil anos na história da Bíblia, até Davi falar sobre ele no salmo 110. Então sai de cena novamente por mais mil anos, até que o escritor da carta aos Hebreus, no Novo Testamento, usa três capítulos de seu livro para explicar por que Melquisedeque era tão importante (Você pode ler a argumentação toda em Hebreus 5—7). [...] Jesus disse que, ao escrever o salmo 110, Davi estava ‘falando pelo Espírito’ (Mateus 22,43). Quando o apóstolo Pedro cita o salmo 109 em referência a Judas Iscariotes, ele diz que essas escrituras foram o que ‘o Espírito Santo predisse por boca de Davi’ (Atos 1,16). Por causa de afirmações como essas de Jesus e do apóstolo Pedro que os cristãos acreditam que a Bíblia seja a palavra falada de Deus. O que lemos na Bíblia não são apenas palavras de pessoas que tiveram pensamentos profundos sobre Deus; estamos lendo palavras proferidas pelo próprio Deus por intermédio desses autores bíblicos. Pedro também escreveu que ‘jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo’ (2Pedro 1,21). Ao abria a Bíblia, você ouve a voz de Deus” (Dougla Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(1Sm 3,3b-10.19; Sl 39[40]; 1Cor 6,13c-15a.17-20; Jo 1,35-42)*

1. A festa do Batismo de Jesus encerra o tempo do Natal e ao mesmo tempo nos abre a essa 1ª etapa do ‘Tempo Comum’ do ano litúrgico. Ao contrário do que se possa pensar, não é um tempo secundário, mas fundamental na vida celebrativa da Igreja.

2. Ao longo deste ‘Tempo Comum’, domingo após domingo, a Igreja é convidada a contemplar de perto, episódio após episódio, toda vida histórica do Senhor, desde o Batismo no Jordão até a Cruz e à Glória da Ressurreição. Já introduzimos o Evangelho de Marcos, que ouviremos quase na íntegra.

3. Como dissemos também, o breve evangelho de Marcos é complementado pelo de João. Eis que nos encontramos novamente com João Batista; ele está do outro lado do Jordão, onde um dia o povo do êxodo esteve também, para preparar a entrada na Terra Prometida, atravessando o Jordão.

4. E desse lugar de passagem que João, parado como um guarda ou sentinela, vê Jesus passar e logo o apresenta como o Cordeiro de Deus. Apresenta-o a nós, e põe-nos em movimento atrás dele. É uma bela e rica apresentação de Jesus.

5. Ao chama-lo de Cordeiro, na língua aramaica, outros significados também se escondem nessa mesma palavra: ‘servo’, ‘filho’, ‘pão’. Assim, com uma pincelada de mestre, ele traça para nós a identidade de Jesus.

6. E aí vamos nós a segui-lo, num caminho que conduz à Casa. ‘Onde moras?’, é a questão que nos move. E a resposta-convite de Jesus: ‘Vinde e vede’’ aviva e sacia nossa sede, quem sabe, de sentido. André e o outro discípulo nos representam. E aqui tem início uma rede de chamamento sem introdução, explicação ou demonstração convincente.

7. Na realidade, aqui a demonstração é frágil diante da experiência que implica a vida. Aquele que testemunha não incita o destinatário a inclinar-se ou render-se perante provas, mas o incita a fazer, por sua vez, a experiência. Aquilo que dirá pouco depois Filipe a Natanael: ‘Vem e vê’ (Jo 1,46).

8. No chamamento de Pedro há logo uma mudança de nome, Cefas, que em aramaico é também rocha, mas não tanto pela sua solidez, mas rocha escavada, oca, espécie de gruta que serve de lugar de refúgio e acolhimento, não é sólido, mas dá solidez e proteção e aqui a palavra se derrama em outros sinônimos.

9. Nasce aqui, portanto, um Simão Pedro novo, casa aberta e acolhedora, atento, próximo, cuidadoso e carinhoso, frágil, com a missão pastoral de alimentar e cuidar de todos os filhos de Deus. Mas, entenda-se sempre bem, a casa é de Deus, e são de Deus os filhos e filhas que nela são gerados, acolhidos, alimentados.

10. Temos esse contraponto da 1ª leitura, onde Eli faz bem o papel de diretor espiritual. Depois de discernir a Voz de Deus que chamava Samuel, é para Deus que Eli remete Samuel, com uma indicação precisa. Lembrando que nossa missão é atrair outros para Deus, não para nós mesmos.

11. Acompanharemos alguns trechos da 1ª Carta de Paulo aos Coríntios, nos revelando de forma indireta, uma cidade com muitas divisões, distrações, idolatrias e imoralidades, coisa em tudo semelhante ao que se vê nas grandes metrópoles modernas.

12. E aponta aos cristãos de todos os tempos o caminho do Evangelho: o corpo, que, no mundo bíblico, diz a pessoa toda, integral, é para o Senhor, e o Senhor é para o corpo.

13. Todos os textos nos falam desse rumo novo que devemos empreender: a busca de Deus e para isso não só orientamos e disciplinamos o corpo, mas apuramos os ouvidos, nos diz o salmo que cantamos: ‘Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos’.  

14. Diz um poeta (Nelly Sachs), que talvez seja necessário escavar bem os ouvidos: “Se os profetas irrompessem/ pelas portas da noite/ com as suas palavras abrindo feridas/ nas rotinas do cotidiano [...]/ Se os profetas irrompessem/ pelas portas da noite/ à procura de um ouvido como pátria/ Ouvido humano/ obstruído por mato e por silvas/ será que saberias escutar?”

 

* Sigo o esquema reflexivo de D. António Couto “Quando ele abre as Escrituras” (Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de janeiro de 2021

(Hb 4,12-16; Sl 18[19B]; Mc 2,13-17) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos,

e é a ela que devemos prestar contas” Hb 4,13.

“Vai chegar um dia em que cada um de nós terá de prestar contas a Deus de nossa vida na terra. Nenhuma pessoa poderá escapar do escrutínio divino. Entretanto, esse escrutínio não deve nos assustar se andarmos verdadeiramente com Deus, fazendo sua vontade. Daí que, por causa dessa realidade, não tentaremos encobrir nossos atos pouco inseridos no ambiente do projeto de Deus. Antes, reconheceremos nossos maus atos humildemente e nos aproximaremos da misericórdia de Deus para que ela cubra nosso estado de nudez (Tesfaye Kassa). Porém, quando as pessoas não reconhecem suas culpas e querem demonstrar hipocrisia nas vivencias em relação aos outros, perdem a chance de experimentar a misericórdia de Deus. Deus contempla todas as coisas e ao seu olhar ninguém poderá fugir, mas é um olhar de cuidado e de procura de quem está perdido (cf. Mt 6,25-34; Lc 15,1-32). As contas que devemos prestar a Deus, nós já sabemos quais serão. Elas serão decorrentes da nossa falta de amor e de atenção aos irmãos e irmãs. Não existe segredo na cena de nosso julgamento. Jesus já nos revelou como será (cf. Mt 25,31-46). Será resultado daquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Estarmos nus diante de Deus é sermos quem realmente somos, com o nosso coração na mão. Totalmente nós, autenticamente como somos vistos por Deus. O sentir-se nu diante de Deus nos ajudará a enxergar a única veste que cobre todo o nosso ser humano, do mais rico ao considerado mais miserável. – Senhor, aqui estou diante de ti como me criaste: nu como saí do ventre de minha mãe. Faz da minha nudez capacidade para enxergar e compreender aquilo que falta para as outras pessoas. Amém!” (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de janeiro de 2021

(Hb 4,1-5.11; Sl 77[78]; Mc 2,1-12) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os teus pecados estão perdoados’” Mc 2,5

“Per-doar, como diz a palavra latina, é ‘doar’ através de (a proposição latina é ‘per’). A pessoa comete uma falta, faz um mal, que a Moral chama de pecado, e Deus o desconsidera, passa através dele, deixando-os para trás, e per-doa, isto é, continua a se doar ao pecador porque para Ele, Deus da vida, veio para que ninguém morresse, mas todos tivessem vida em abundância. Per-doar, neste sentido, é re-fazer a plenitude da vida que se perdera momentaneamente, é re-construir a inocência que fora aviltada, é re-stituir a beleza à veste nupcial que se manchara. É sempre um passar para além do estrago acontecido e re-criar a vida em seu primitivo esplendor. Mas só Deus, segundo os fariseus, podia fazer isto, pois só Ele é o senhor da sacralidade da vida e da túnica inconsútil da alma. Na verdade, o que eles viam era que o tecido da vida estava rasgado naquele corpo paralítico e Jesus, no entanto e supreendentemente, lhe curava os pecados. Os fariseus, por isso e com lógica, pensaram: ‘Como pode ele falar assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar os pecados senão só Deus’ (v. 7)? Jesus, então, faz os dois milagres para provar que é Deus: cura o paralítico e perdoa-lhe os pecados. Jesus é Senhor da vida física e espiritual das pessoas. Para Ele não há dificuldades de curar uma ou outra. Deus deu-lhe poder sobre toda a vida. E Jesus o exerceu em benefício dos que a Ele recorriam. – Senhor Deus, grande e bom, nós vos reconhecemos Senhor de nossa vida interior e exterior. Ela é vossa. Estendei vossa mão onipotente para curar-nos por dentro e por fora. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de janeiro de 2021

(Hb 3,7-14; Sl 94[95]; Mc 1,40-45) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade,

levando-o a afastar-se do Deus vivo” Hb 3,12.

“Sempre somos convidados por Deus, nas Escrituras, um autoexame. Por que isto? Porque quem se examina a si mesmo tem tendência a se manter humilde, por isso devemos ‘olhar’ para os nossos corações. Mas o que é humildade? Humildade não é sofrimento, não é pobreza, não é complexo de inferioridade, não é autocomiseração. Existem pessoas profundamente orgulhosas que sofrem, são pobres, complexadas e cheias de autopiedade. Humildade significa saber exatamente qual é o seu lugar no universo. Saber que você tem virtudes e problemas, que é muito bom em certas coisas e não leva muito jeito para outras. Se Bach se dissesse um grande compositor, ele estaria sendo humilde, porque isso é verdade. Logo, humildade é ser verdadeiro consigo mesmo, assumindo, nem mais e nem menos, do que se é. Até porque, se hoje você não está como deseja, você pode, à luz de bons exemplos e de bons ensinamentos, evoluir, prosperar e alcançar os seus objetivos. ‘Impossível’ é apenas o nome de uma desculpa de quem desistiu. Você pode mudar sua vida, você pode melhorar. Você possui a imagem e semelhança de Deus, mesmo que ainda não esteja expressando-a devidamente. Assim sendo, afasta-se de Deus quem tem um coração mau e incrédulo. Se Deus já disse que somos a sua imagem, duvidar disto, através de uma prática de vida digna, é afastar-se do Criador. É sobre isto que nos fala a Carta aos Hebreus. Portanto, é nosso dever o autoexame constante, buscando ser humildes, isto é, reconhecer quem somos no mundo de Deus, e usar tudo o que Ele nos deu para o bem: nosso, do próximo e para maior glória do Senhor. – Deus, ensina-nos a sermos verdadeiramente humildes, para que te glorifiquemos e façamos maior bem a nós mesmos e aos nossos irmãos e irmãs. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).      

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de janeiro de 2021

(Hb 2,14-18; Sl 104[105]; Mc 1,29-39) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“À tarde, depois do pôr do sol, levaram a Jesus todos os doentes e possuídos pelo demônio” Mc 1,32

“A vida de Jesus consistiu em fazer o bem, vindo o encontro das necessidades de quem o procurava em busca de alívio para seus sofrimentos. Era incansável, quando tinha diante de si pessoas carentes. Dia e noite estava sempre pronto para ajudar. O evangelho refere-se às atividades noturnas de Jesus. Depois que o sol se pôs, levaram-lhe ‘todos’ os doentes e endemoninhados. A cidade inteira aglomerou-se a seu redor. De madrugada, depois das intensas atividades, retirou-se um pouco para descansar e rezar. Impossível! A multidão estava à procura dele. Sem demonstrar cansaço, Jesus se levantou e se pôs a caminho, consciente das necessidades de tantas outras pessoas. Servidor do Reino, importava-lhe anunciar a Boa-Nova fazendo o bem. Os discípulos, nos passos do Mestre, também são incansáveis, quando se trata de ser solidários como os sofredores deste mundo. – Senhor Jesus, torna-me incansável na prática do bem, procurando ajudar a todos que precisam de minha ajuda (Jaldemir Vitório – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano B] – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de janeiro de 2021

(Hb 2,5-12; Sl 8; Mc 1,21-28) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade,

não como os mestres da Lei” Mc 1,22

“Quando Jesus fala de Deus, as pessoas têm a impressão de que Deus está realmente presente. Ele não fala de coisas que ouviu de outros, antes se trata de sua própria experiência. E ele fala de Deus de uma maneira que mexe com as pessoas. A plateia não pode de recostar simplesmente para meditar sobre as palavras que Jesus diz. As palavras sobre Deus penetram em seus corações e os põem em rebuliço. As pessoas percebem que Jesus fala de Deus como alguém que tem pleno poder. Em suas palavras sente-se o poder de Deus; Deus mesmo se torna presente. Elas sabem: é assim mesmo, ele diz a verdade. Ele fala mesmo de Deus. A palavra grega para ‘plenipotência’ é ‘exousia’, que inclui a faculdade de agir e de dispor a seu talante. Jesus fala de Deus com total liberdade interior. Não há nenhum temor. É o temor que designa também o poder exercido por um soberano, Jesus aparece aos ouvintes como alguém que tem poder, que participa da autoridade de Deus. As palavras de Jesus produzem um efeito no ser humano. Elas o libertam de poderes escravizantes e debilitantes. Ao pé da letra, ‘exousia’ quer dizer: de dentro do ser. Jesus age e fala a partir do ser. Ele se apoia no ser, no próprio ser e no ser de Deus. Suas palavras coincidem com seu ser” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de dezembro de 2021

(Hb 1,1-6; Sl 96[97]; Mc 1,14-20) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“Nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo” Hb 1,2.

“Às vezes, meias-verdades são piores que mentiras inteiras. Conheci um cidadão canadense em Belo Horizonte que dava aula de inglês e a propaganda dele era assim: ‘Você prefere aprender inglês com um brasileiro ou com um canadense?’ Aparentemente tudo certo, não é? Só que este rapaz era canadense do Quebec e, portanto, sua língua nativa era o francês, ele aprendeu inglês como sua segunda língua, igual a muitos brasileiros. Portanto, sua propaganda era enganosa, inclusive a esposa dele, que era americana, dizia que ele tinha um pouco de sotaque ao falar inglês. Aplicando essa história real à vida prática, tem muita gente que, ao invés de mentir descaradamente, apenas omite parte da verdade e muitas vezes com isso leva o outro ao erro. Com certeza, isso é igual e às vezes pior que mentir totalmente. Portanto, cuidado com suas ‘verdades’, o mestre Jesus ensinou-nos a dizer ‘sim, sim e não, não’. Virgulas e entrelinhas podem ser extremamente danosos aos nossos interlocutores. Cuidado com o que você fala! O texto da Carta aos Hebreus diz que Deus nos falou e ainda fala hoje através de seu Filho Jesus Cristo, mas tanto o Pai como o Filho só nos falam a verdade e pedem aos cristãos que façam o mesmo. Deus a ninguém engana, nem deixa nada subtendido. Deus é luz e tudo o que Ele faz e fala é às claras. Assim devem viver os seguidores de Jesus. Quantas dores poderiam ter sido evitadas se falássemos a verdade com nitidez? Quantos conflitos deixariam de acontecer se nossa palavra fosse direta, verdadeira e objetiva? Deus criou o mundo pela Palavra – o Cristo (Jo 1,1) e, por isso, Ele preza tanto o que dizemos. Assim, use suas palavras somente para promover o bem de todos e a glória de Deus. – Deus, que eu seja claro no meu dizer como Tu és e que com minhas palavras eu construa só bem para todos. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite