Quinta, 16 de maio de 2024

(At 22,30;23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 7ª Semana da Páscoa.

“Eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo reconheça que tu me enviaste e os amaste como amaste a mim” Jo 17,23.

“Em 17,23 Jesus pede que cheguemos à unidade perfeita. Reaparece aí a palavra ‘telos’, que já teve um papel importante no lava-pés e o terá também na crucificação. Na unidade dos cristãos cumpre-se o amor com que Jesus nos amou até a perfeição no lava-pés e em sua morte de cruz. Para João, a morte de Jesus não pertence ao passado, é uma imagem que os cristãos devem sempre ter presente, para que possam participar do amor perfeito de Jesus. O amor de Jesus só alcança a perfeição quando os cristãos estão transformados a ponto de estarem prontos para a unidade. Revela-se nesta visão o que João entende por salvação: não é expiação nem sacrifício, e sim o amor perfeito em que os cristãos devem continuamente aprofundar-se em suas meditações, para que nele experimentem a unidade, a paz e a glória. O evangelho de João, sendo meditação das palavras e ações, já é uma maneira de experimentar a salvação. O evangelho de João dispensa os apelos morais, pois confia na força da palavra de Jesus. Meditando as palavras de Jesus, já passamos deste mundo para de Deus. A palavra de Jesus cria uma nova realidade. Meditando experimentamos a nós próprio como novos, transformados, mergulhados no amor de Deus. A palavra de Jesus nos tira desde agora do mundo da morte. A morte já não tem poder sobre nós. Isso fica claro no pedido de Jesus: ‘Pai, quero que, lá onde eu estiver, os que me deste estejam também comigo, e que contemplem a glória que me deste desde antes da fundação do mundo’ (17,24). Contemplando as palavras de Jesus participamos desde já da glória de Deus. Mas é na nossa morte que se manifestará o que já é realidade agora. A morte perdeu a sua substância. Ela já não poderá destruir-nos. Ela só revelará é que já é a nossa realidade agora: que estão mergulhados no amor perfeito de Deus. É esse o auge da mensagem libertadora e salvadora do evangelho de João. A morte perdeu seu poder. Ela se transformou em passagem definitiva para a glória de Deus. Ao mesmo tempo, a morte de Jesus, que nos amou até a perfeição, é também um desafio para nós cristãos, pois devemos entender a nossa morte como uma entrega por amor, não nos agarrando a nós próprios, e sim entregando-nos, à maneira de Jesus, pelos nossos amigos” (Anselm Grüm – Jesus, porta para vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 15 de maio de 2024

(At 20,28-38; Sl 67[68]; Jo 17,11-19) 7ª Semana da Páscoa.

“Agora entrego-vos a Deus e à mensagem de sua graça, que tem poder para edificar e dar a herança a todos os que foram santificados” At 20,32.

“Paulo dirige aos anciãos da comunidade de Éfeso uma forte exortação para que cumpram fielmente o seu ministério. Recorda aos responsáveis da comunidade o desinteresse que deve acompanhar o exercício da sua função: trabalham como ele fez para ficarem livres de anunciar o Evangelho e ajudar os pobres (vv. 34-35). A fidelidade ao Evangelho e ajudar os pobres (vv. 34-35). A fidelidade ao Evangelho e o desinteresse escrupuloso são a melhor defesa dos pastores da Igreja contra todas as intrigas dos que perturbam (vv. 29-31). [Compreender a Palavra:] O discurso dirigido aos responsáveis da comunidade de Éfeso, chamados ora ‘anciãos’ (At 20,17), ora ‘vigilantes’ (v. 28). O primeiro termo ‘anciãos’ sublinha a dignidade dos mesmos; o segundo, ‘vigilantes’, sublinha sobretudo a função. A missão de ambos é o de ‘apascentar’ a Igreja de Deus (v. 28), verbo que indica todas as funções diretivas necessárias para vida da comunidade. É significativo o fato de Paulo sentir a necessidade de chamar a atenção, duas vezes, para a ‘vigilância’ (vv. 28.31) diante dos perigos que se perfilam no horizonte. Perigos que provêm do exterior (‘Hão de introduzir-se em ter vós’: v. 29) e do interior da própria comunidade (‘De entre vós mesmo se hão de erguer homens’: v. 30). Para definir a missão dos responsáveis, o Apóstolo recorda que a missão vem do Espírito (‘O Espírito vos constituiu’: v. 28) e consiste em apascentar a Igreja de Deus (isto é, do Pai) adquirida com o sangue de Cristo. A afirmação ‘O Espírito vos constituiu’ não supõe uma intervenção extraordinária do Espírito, nem algum acontecimento carismático; antes, deve ser entendida à luz da ação de Paulo e de Barnabé que ‘estabeleceram anciãos em cada Igreja e depois de terem orações acompanhadas de jejum, encomendaram-nos ao Senhor’ (cf. At 14,23)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 14 de maio de 2024

(At 1,15-17.20-26; Sl 112[113]; Jo 15,9-17) São Matias, apóstolo.

“Então tiraram a sorte entre os dois. A sorte caiu em Matias,

o qual foi juntado ao número dos onze apóstolos” At 1,26.

“Para concluir, queremos também lembrar aquele que depois da Páscoa foi escolhido para ocupar o lugar do traidor. Na Igreja de Jerusalém foram propostos dois à comunidade e, em seguida, eleitos por sorteio: ‘José, chamado Bársabas e apelidado o Justo, e também Matias’ (At 1,23). Este último foi eleito, de modo que ‘foi juntado ao número dos onze apóstolos’ (At 1,26). Não sabemos mais nada dele, exceto que testemunhou toda a vida terrena de Jesus (cf. At 1,21-22), permanecendo fiel a Ele até o final. À grandeza desta sua fidelidade adiciona-se o chamado divino para assumir o lugar de Judas, para compensar a sua traição. Extraímos disto uma última lição: embora na Igreja não faltem cristãos indignos e traidores, a cada um de nós nos corresponde compensar o mal realizado por eles com o testemunho isento de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 13 de maio de 2024

(At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29-33) 7ª Semana do Tempo Pascal.

“Eis que vem a hora – e já chegou – em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis só.

Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo” Jo 16,32.

“Os discípulos fizeram uma longa caminhada de fé, durante a qual foram percebendo as exigências do seguimento de Jesus. Mas, a assimilação prática destas exigências foi acontecendo paulatinamente, estando para concluir a etapa terrena de sua missão, Jesus estava convencido de que seus discípulos não seriam capazes de manter a fidelidade diante da provação que se avizinhava. Ele bem sabia que haveriam de abandoná-lo. Esta experiência dos primeiros discípulos serve de alerta para quem pretende pôr-se no seguimento do Senhor. É impossível descartar a eventualidade de ser infiel à própria fé, de modo especial em tempos de provação. Aí a certeza fica sujeita à dúvida, a fortaleza da fé pode ser abalada, e a adesão ao Senhor ser posta em xeque. Jesus alertou seus discípulos a terem uma confiança inabalável nele, uma vez que o mundo fora vencido. Confiar é entregar-se totalmente a Jesus e deixar-se guiar por ele, mesmo faltando certezas. É renunciar aos próprios juízos para pensar com Jesus e como Jesus. É ter coragem de caminhar na escuridão, com a pequena luz oferecida pelo Senhor. Este caminho indicado por Jesus poderá precaver o discípulo do risco da queda. Em todo caso, é imprevidente quem confia nas próprias forças e capacidades, prescindindo do auxílio divino. A queda, nesse caso, será inevitável. – Senhor Jesus, livra-me da pretensão de caminhar por minha própria conta. Que eu me deixe sempre guiar por ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Ascensão do Senhor – Ano B

(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20)*

1. A narrativa dos Atos dos Apóstolos e do Evangelho se complementam de alguma forma com seus vários elementos. Gostaria de tomar para nossa reflexão a pergunta narrada nos Atos dos Apóstolos. Desta vez ela é dirigida a todos nós: “Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?”.

2. Na resposta a esta pergunta está contida a verdade fundamental sobre a vida e sobre o destino do ser humano. A pergunta em questão refere-se a duas atitudes relacionadas com as suas realidades, nas quais está inscrita a vida humana: a terrena e a celeste. Primeiro, a realidade terrena: “Por que ficais aqui?” Por que estais na terra?

3. Respondemos: estamos na Terra porque o Criador nos colocou como coroamento da Criação. Criado a sua imagem e semelhança, concedeu-lhe a dignidade de filho de Deus e a imortalidade. Mas sabemos que o homem se perdeu, abusou do dom da liberdade e disse ‘não’ a Deus condenando-se desta forma a uma existência na qual entram o mal, o pecado, o sofrimento e a morte.

4. Mas também sabemos que o próprio Deus não se resignou a essa situação e entrou diretamente na história humana, a qual se tornou história da salvação. Estamos na Terra, estamos radicados nela, dela crescemos.

5. Aqui praticamos o bem nos vastos campos da existência cotidiana, no âmbito da esfera material, e também na espiritual: nas relações recíprocas, na edificação da comunidade humana, na cultura.

6. Aqui experimentamos a fadiga do viandante a caminho rumo à meta pelas estradas complicadas, entre hesitações, tensões, incertezas, mas também na profunda consciência que mais cedo o mais tarde este caminho chegará ao fim. E é então que nasce a reflexão: só isto? A Terra na qual ‘nos encontramos’ é o nosso destino definitivo?

7. Nesse contexto é preciso deter-se na segunda parte do interrogativo contido no Livro dos Atos. Tendo sido Jesus elevado ao céu, estavam eles fixando o céu, porque acompanhavam com o olhar a Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, que era elevado ao céu.

8. Não sabemos se se aperceberam naquele momento do fato de que precisamente diante deles se estava a abrir um horizonte magnífico, infinito, o ponto de chegada definitivo da peregrinação terrena da humanidade. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes, iluminados pelo Espírito Santo.

9. Contudo, para nós aquele acontecimento de há dois mil anos é muito claro. Somos chamados, permanecendo na Terra, a fixar o Céu, a orientar a atenção, o pensamento e o coração para o Mistério inefável de Deus.

10. Somos chamados a olhar na direção da realidade divina, para a qual o ser humano está orientado desde a criação. Ali está contido o sentido definitivo da nossa vida.

11. Olhando da Terra para o Céu, fixemos Aquele que desde dois mil anos é seguido pelas gerações que vivem e se sucedem nessa nossa terra, reencontrando n’Ele o sentido definitivo da nossa existência e nos comprometendo na consolidação do seu Reino na Terra: o Reino do Bem, da justiça, da solidariedade e da misericórdia até que Ele volte. Amém.            

* Reflexão com base em texto de Bento XVI. 

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Sábado, 11 de maio de 2024

(At 18,23-28; Sl 46[47]; Jo 16,23-28) 6ª Semana do Tempo Pascal.

“Até agora nada pediste em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” Jo 16,24.

“O tema central do discurso de Jesus e que os discípulos não compreendem é o significado da Sua partida e do Seu regresso. O Evangelho sublinha particularmente os temas da oração incessante e da alegria. Cristo ressuscitado manifestará a Sua presença com o dom da alegria (v. 24), da oração eficaz (vv. 23-24.26-27), da revelação aberta: ‘Falar-vos-ei claramente do Pai’ (v. 25). Em que consiste esta explicação posterior prometida pelo Mestre? [Compreender a Palavra:] O evangelista retoma uma palavra de Jesus conhecida da tradição sinótica: ‘Pedi, e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á’ (Mt 7,7; Lc 11,9). Com alguns esclarecimentos: é um pedido dirigido ao ‘Pai’, é um pedir e receber ‘em nome de Jesus’; é um pedir e receber ‘para que a vossa alegria seja completa’. A alegria deve, pois, caracterizar o tempo presente: ela é fruto da oração de pedido, constantemente renovada. O convite à oração e à alegria está inserido num contexto preciso: Jesus fala disso na iminência da Sua crucifixão. A alegria não está, então, na ausência da Cruz mas em compreender que o Crucificado não é derrotado, e que portanto a alegria deve ser vista de forma diferente. A alegria cristã não é só uma alegria que passa através da Cruz, mas mais profundamente é uma alegria que vem de Deus, um dom (v. 24) que a Ele retorna. Ela ampara o fiel porque se apoia na fidelidade do Senhor, é firme e vitoriosa apesar dos equívocos da História e da própria força do pecado” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de maio de 2024

(At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23) 6ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará;

vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” Jo 16,20.

“Jesus há de voltar ao Pai, e esta ausência produzirá lógica tristeza em seus discípulos, recorda-lhes e adverte-os de que essa tristeza confluirá para a alegria’, que não encontrará mais motivo para obscurecer-se. E com alegria, a visão clara na fé do plano e da pessoa de Jesus, que já possuirão na plenitude da fé indestrutível. A vida cristã não pode ser senão a imitação da vida de Jesus, e na vida de Jesus encontramos os momentos amargos da sexta-feira santa com toda a sua carga de humilhação e sofrimento e, logo, a luz alegre da madrugada do domingo da Ressurreição. Assim, a vida dos cristãos é orientada para as alegrias pascais, mas previamente deverá passar pelas tristezas e sofrimentos do Calvário. Jesus não o oculta aos discípulos; mas, pelo contrário, repete-o uma ou várias vezes com palavras diferentes, mas sempre suficientemente claras: ‘Chorareis e vos lamentareis’; ‘estareis tristes’; ‘também vós estais tristes agora’; no entanto, promete-lhes também a alegria: ‘Vossa tristeza converter-se-á em alegria’; ‘voltarei a ver-vos e alegrar-se-á o vosso coração’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 9 de maio de 2024

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 6ª Semana da Páscoa.

“Pouco tempo ainda e já não me vereis. E outra vez um pouco tempo e me verei de novo” Jo 16,16.

“A presença física de Jesus foi criando laços entre ele e os discípulos. Esta forma de contato não podia durar para sempre. E Jesus anteviu, para breve, sua volta ao Pai. Dentro de pouco tempo os discípulos não mais o veriam. Eles, entretanto, não se davam conta de que o Mestre estava aludindo à sua morte e a sucessiva ida para junto do Pai. As palavras de Jesus funcionavam como chave de leitura para sua morte. Esta não seria o fim trágico de sua carreira, mas sim sua transição da história humana para a comunhão com o Pai. Outra chave de leitura estava contida no contraste entre o choro dos discípulos e a alegria do mundo. Os adversários de Jesus ficariam contentes ao vê-lo suspenso num madeiro, certo de terem reduzido a nada todo o seu ideal. Os discípulos lastimariam a perda do amigo querido, a quem tinham dedicado suas vidas. Todavia, esta realidade seria revertida. A Ressurreição do Senhor e sua consequente ida para junto do Pai seriam motivo de júbilo para os discípulos, ao passo que a arrogância de seus inimigos ficaria anulada. A pretensa vitória destes sobre Jesus redundaria em derrota, pela manifestação de Deus na vida de seu Filho. A ida para o Pai seria o destino de Jesus. Por isso, os discípulos deveriam se alegrar. A ausência temporária se transformaria em presença perpétua. A tristeza dos discípulos não impediu Jesus de seguir seu caminho. – Senhor Jesus, que meu coração se alegre por saber-te junto do Pai, donde te fazes presença constante na minha caminhada (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 8 de maio de 2024

(At 17,15.22—18,1; Sl 148; Jo 16,12-15) 6ª Semana da Páscoa.

“Com efeito, passando e observando os vossos lugares de culto, encontrei também um altar com esta inscrição: ‘Ao deus desconhecido’. Pois bem, esse Deus que vos adorais sem conhecer é exatamente aquele que vos anuncio” At 17,23.

“Depois de Tessalônica e Bereia, Paulo é conduzido a Atenas (cf. At 17,1-15). Como pano de fundo permanece a contestação dos judeus em relação a ele e ao seu anúncio, e no entanto a Boa Notícia não se detém, e através de Paulo, chega a Atenas, ao coração da cultura antiga. O Apóstolo, como sempre, discute antes de mais nada com os judeus e com os tementes a Deus; em seguida confronta-se com os expoentes do humanismo grego. Provocados pelas suas palavras, os atenienses querem saber mais. Levam Paulo ao Areópago e perguntam-lhe qual é a nova doutrina que anda pregando. A Boa Notícia de Jesus defronta-se assim com a cultura helenista. [Compreender a Palavra:] Vendo um altar dedicado ao deus desconhecido, Paulo aproveita a ocasião para proclamar o seu anúncio. Por um lado, reconhece a grande religiosidade dos atenienses (‘em tudo extremamente religiosos’: 17,22), e por outro, aquele altar deixa entender a existência de um deus desconhecido e, sob este aspecto, também um reconhecimento de ignorância: ‘Aquele que venerais sem O conhecer, é esse que vos anuncio’ (17,23). O que Paulo propõe é uma novidade à qual as filosofias e as próprias pesquisas religiosas não conseguem chegar por elas mesmas. Isto não impede, porém, que as filosofias e as próprias pesquisas mais válidas não possam constituir uma premissa real. Paulo não só as utiliza, mas adota a convicção – partilhada pelos seus interlocutores – de que o homem pode procurar a Deus e encontrá-lo, embora às apalpadelas e no escuro, precisamente porque ‘Ele não está longe de cada um de nós’ (cf. 17,27). O Evangelho, todavia, tem uma novidade que não é fruto do raciocínio humano, mas é um dom que vem do Alto. Quando Paulo anuncia Jesus e sua ressurreição, a reação aparente é o insucesso. Na realidade alguns aceitam o seu anúncio e tornam-se crentes (17,34). Assim a semente do Evangelho é semeada na cultura grega e começa a produzir os seus frutos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 07 de maio de 2024

(At 16,22-34; Sl 137[138]; Jo 16,5-11) 6ª Semana da Páscoa.

“E quando vier, ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento” Jo 16,8.

“O Defensor enviado pelo Senhor tem uma missão a exercer junto aos discípulos. Mas, sua ação terá, também, o efeito de revelar, em todas as suas dimensões, a malícia do mundo. Essa consistiu em rejeitar Jesus, o Filho enviado de Deus, a ponto de submetê-lo à infamante morte de cruz. Por isso, será submetido a um implacável julgamento, por ter matado o inocente, ressuscitado pelo Pai. A contraposição discípulo-mundo transforma-se em oposição Defensor-mundo. O combate, sem tréguas, do mundo contra os discípulos, revela-se um combate previamente fracassado, contra o próprio Deus. Se o destino do mundo é o julgamento, os discípulos não têm por que temer, pois o mundo está destinado à derrota inevitável. O discípulo não tem motivos para dar ouvidos às insídias mundanas. Deixando-se guiar pelo Defensor, estará no caminho seguro. Este será seu escudo e proteção. No ato de defender o discípulo de Jesus, o Defensor submete o mundo ao julgamento. Quanto mais o discípulo se deixa proteger, tanto mais fica patente a fragilidade do mundo. O Defensor, em última análise, revela a inconsistência dos valores mundanos. Nenhum deles haverá de prevalecer. O discípulo sensato, ao perceber isto, será levado a descobrir quanto vale pôr-se sob a proteção do Espírito Santo do Senhor – Senhor Jesus, que eu jamais me deixe levar pelos valores inconsistentes do mundo, pois eles não subsistirão ao julgamento divino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 06 de maio de 2024

(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4) 6ª Semana da Páscoa.

“Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai,

ele dará testemunho de mim” Jo 15,26.

“Ser apóstolo de Cristo é uma obra de arte que somente pode realizar e chegar até a meta o Espírito Santo. O Espírito Santo é quem vai descobrir para os discípulos de Jesus o sentido de suas palavras e de toda a sua doutrina evangélica e descobrirá também a nobreza do ideal de apóstolo de Cristo pode propor-se. O verdadeiro apóstolo deve embeber-se de Cristo, conhecê-lo a fundo, amá-lo sem restrições, não perder ocasião de fazê-lo amar, gastar todas as horas do dia e toda a vida para dilatar seu Reino. Não existe ideal mais nobre que este; por isso, o apóstolo vive feliz com a alegria da Páscoa, sobretudo nas dificuldades que encontra. É o Espírito Santo o encarregado de ir modelando o apóstolo primeiramente em sua realidade interior, fazendo dela verdadeiro filho do Pai celestial, ao qual amará com sentimentos de verdadeiro filho; o Espírito Santo o fará viver essa filiação divina com a ajuda dos seus sete dons; com eles modelará o apóstolo, para conformá-lo com a imagem do primogênito de todos os eleitos, que é Jesus Cristo. O Espírito Santo moldará também o apóstolo em sua atividade exterior em sua própria projeção apostólico-missionária, acompanhando-o em sua ação apostólica e evangelizadora. De tudo isso, você deve concluir a necessidade de deixar-se moldar pelo Espírito Santo, sendo sempre dócil a suas inspirações e às moções de sua graça. Os dons do Espírito Santo são certas perfeições sobrenaturais, pelas quais o homem dispõe-se a obedecer prontamente à inspiração divina. Essa inspiração é um impulso e moção especial do Espírito Santo, a saber: não um convite sobrenatural comum a fazer o bem, ou a evitar algum mal, mas uma moção especial diretiva, para executar aquilo a que, aqui e agora mesmo, Deus move a sua alma” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

6º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 10,25-26.34-35.44-48; Sl 97[98]; 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17)*  

1. Em nosso Evangelho, por duas vezes Jesus nos fala do seu mandamento: “amai-vos uns aos outros”. E nos perguntamos: pode o amor ser um mandamento, uma ordem, sem destruí-lo? Qual a relação entre amor e dever, se um representa a espontaneidade e o outro a obrigação?

2. Para responder a essa objeção, é preciso que compreendamos os dois tipos de mandamentos ou obrigação. Um vem de fora, de uma vontade diferente da minha e o outro vem de dentro e nasce da coisa mesma.

3. Por exemplo, uma pedra lançada ao ar ou uma fruta que cai da árvore é ‘obrigada’ a cair devido a força de gravidade, não é uma imposição. Não tem como ser diferente. Por outro lado, o ser humano pode ser induzido a fazer, ou a não fazer, certa coisa: por constrição ou por atração.

4. A lei e os mandamentos ordinários o induzem no 1º modo: por constrição, com a ameaça de castigo; o amor o induz no 2º modo: por atração, um impulso interno. De fato, a pessoa é atraída por aquilo que ama, sem nenhuma pressão externa. Como uma criança pelo brinquedo; ele é atraído pelo desejo.

5. Mostre o Bem a uma alma sedenta de verdade que essa se lançará em sua direção. Ninguém a obriga a isso, ela é atraída pelo seu desejo. Mas se é assim, essa atração espontânea ao bem e a verdade que é Deus, porque fazer do amor um mandamento, um dever?

6. Uma vez que estamos circundados de outros bens nesse mundo, há sempre o perigo de errar o alvo, de tendermos ao que não é essencial. Como uma nave que vai em direção ao sol e que deve seguir certas regras para não cair dentro da esfera de gravidade de qualquer planeta ou satélite intermediário, perdendo-se na própria trajetória, ou seja no chegar ao próprio Deus.

7. Os mandamentos de Deus querem nos ajudar em nosso caminhar, para o nosso bem, não para o de Deus. Como no matrimônio se faz um contrato, um dever de amar, só assim o amor é garantido contra possíveis mudanças. As novas gerações cada vez mais desconsideram o sentido do matrimônio.

8. O amor tem necessidade de horizontes de eternidade, para não se tornar um ‘perigoso passatempo’. Quem ama verdadeiramente entende com angústia o perigo que corre o seu próprio amor, perigo que não vem dos outros, mas de si mesmo: de cansar-se e de não amar mais. O dever subtrai o amor da volubilidade para ancorá-lo na eternidade.

9. Uma imagem que diz muito é aquela de Ulisses que retorna à sua pátria e deve atravessar um trecho de mar habitado de sereias. Sabia que outros marinheiros, atraídos por seu canto, haviam naufragado. Como amava Penélope, sua esposa, e deseja rever a sua pátria, mandou que o prendesse no mastro do navio e que não o soltasse de modo algum, mesmo que ele pedisse e a seus companheiros de viagem mandou que tapassem os ouvidos. Ao atravessarem o local, Ulisses gritou, esperneou, mas conseguiu escapar à sedução e chegar ao seu lar. Estar espontaneamente ligado, preso, o salvou do naufrágio.    

10. O amor é um tema poético; é fácil entusiasmar-se por ele. Mas não basta a poesia. É preciso a graça. A graça significa uma ajuda que vem do alto, que cura a nossa capacidade de amar, ferida e fragilizada pelo egoísmo, e doa constância e perseverança. A fonte do amor é o próprio Deus, nos lembra a 2ª leitura.

11. Antes do ‘mandamento’ de amar, Deus nos dá a ‘graça’, isto é, o ‘dom’ de poder realizá-lo. Ele mesmo tomou a iniciativa de ligar-se a nós por uma aliança eterna. A encarnação é esse esposar-se com a humanidade. É sempre d’Ele a inciativa de amar primeiro.

12. É desse seu amor que podemos conquistar a força de amar a Deus mesmo, ao próximo, ao cônjuge, e para obter o perdão, cada vez que que falhamos em amar.

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 04 de maio de 2024

(At 16,1-10; Sl 99[100]; Jo 15,18-21) 5ª Semana da Páscoa.

“Chegando perto da Mísia, eles tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu” At 16,7.

“Paulo, depois de ter se separado de Barnabé, decide pôr em marcha o projeto de visitar os irmãos em todas as cidades em que ambos tinham anunciado a Palavra do Senhor (cf. At 15,36). Para isso constitui um novo grupo de missionários. Escolhe Silas, homem de primeiro plano entre os irmãos (cf. At 15,22.40) e Timóteo (v. 3), cujo chamamento coloca um grave problema. Paulo tinha sustentado a inutilidade da circuncisão em ordem à salvação (cf. Gl 5,1-6) e o debate na assembleia de Jerusalém tinha confirmado essa posição. Todavia decide mandar circuncidar Timóteo como medida de prudência e tranquilidade. [Compreender a Palavra:] Timóteo, sendo ‘filho de uma judia crente’ (v. 1) teria de ser circuncidado. Por isso Paulo submete-o à circuncisão, evitando assim que os judeus da região para a qual se estão dirigindo, e a ele hostis, encontrem na não-circuncisão motivo de polêmica. A opção é justifica na perspectiva do Apóstolo de ‘com os judeus comportei-me como judeu, a fim de ganhar os judeus. [...] Tornei-me tudo para todos por causa do Evangelho’ (1Cor 9,19ss). Antes de referir a expansão missionária no novo mundo, fora da influência palestina, Lucas sublinha a continuidade e a concórdia entre as duas componentes da comunidade cristã: a judaico-palestina e a pagã-helenista. Ao visitar as diversas Igrejas, o grupo dos missionários transmite as decisões da assembleia de Jerusalém para que sejam postas em prática. O projeto inicial, porém, vem a ser modificado por intervenção do Espírito. Lucas não demora em satisfazer as nossas eventuais curiosidades acerca do que terá acontecido. A perspectiva teológica é clara: ação missionária que faz crescer a Igreja não depende apenas das opções humanas, mas é – antes de mais e sobretudo – obra do Senhor ressuscitado que intervém com seu Espírito” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 03 de maio de 2024

(1Cor 15,1-8; Sl 18[19]; Jo 14,6-14) Santos Filipe e Tiago, apóstolos e mártires.

“Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!’” Jo 14,8.

“A comemoração conjunta dos dois apóstolos tem origem numa tradição: as relíquias dos dois mártires teriam sido levadas de Hierápolis e de Jerusalém a Roma, para repousar na igreja dos Santos Apóstolos. Filipe, nascido em Betsaida, aparece sempre em quinto lugar no elenco dos apóstolos. O evangelho de João, no qual é citado três vezes, oferece-nos um interessante perfil desse apóstolo, deduzido de duas respostas que ele dá a uma pergunta formulada por Jesus. Primeiramente, quando da miraculosa multiplicação dos pães, em face da bem conhecida pergunta: ‘Onde compraremos pão?...’. Após ter passado os olhos pela multidão, Filipe refletiu de modo prático: ‘nem duzentas moedas seriam suficientes...’. Durante a última ceia, quando Jesus menciona o mistério da Santíssima Trindade, Filipe intervém bruscamente: ‘Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta!...’. Diante do mistério, ele – como Tomé – deseja tocar com a mão ou, melhor dizendo, ver com os próprios olhos, ‘aquilo que o olho humano não é capaz de ver’ sem o ‘lumen gloriae’, de que nos falam os teólogos. Foi quando, pela última vez, o apóstolo se fez presente. Segundo a tradição – que, em traços sumários, relata seu perfil –, depois de Pentecostes, Filipe se consagrara a pregar o Evangelho na Ásia Menor até que, chegando aos 87 anos (época do Imperador Domiciano), foi crucificado como Cristo. São Tiago – denominado ‘Menor’, para distingui-lo do homônimo, irmão de João – é primo de Jesus e autor de uma epístola dirigida a todas as comunidades cristãs. Emerge daí a figura de um homem austero e de poucas palavras. Com efeito, é ele quem nos admoesta sobre o comedimento no falar, pois devemos dar contas a Deus de cada palavra supérflua! Com o recuo dos séculos, suas palavras constituem um sinal: ‘... Ó ricos, clamam contra vós os bens de que privastes os trabalhadores...’. Sobre o martírio desse apóstolo, que foi bispo de Jerusalém (após o martírio do outro Tiago), temos notícias de primeira mão transmitidas pelo historiador Flávio Josefo. Segundo este, Tiago Menor foi apedrejado em 62, após uma tentativa de precipitá-lo do pináculo do Templo. A condenação foi decretada pelo sumo sacerdote Ananias II, que se aproveitou do vácuo do poder que se seguiu à morte do procurador romano Festo” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Quinta, 02 de maio de 2024

 (At 15,17-21; Sl 95[96]; Jo 15,9-11) 5ª Semana da Páscoa.

“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” Jo 15,9.

“Para muita gente essa conversa com respeito ao amor não passa de papo. Afinal, se Deus nos ama tanto, porque tanto sofrimento, fome, guerra, doença, morte? É a pergunta que também fazemos: Cadê o propalado amor? O amor de Deus não é imediato. Ele não nos socorre feito uma babá à espera da aprovação e do emprego de sua patroa. Ele, às vezes, deixa a criança cair, se machucar. Isso também faz parte da educação dela. O amor de Deus também não é superficial. Ele não nos atende à menor necessidade feito uma mãe que se apavora quando seu filhinho sofre um arranhãozinho. O amor de Deus é profundo. E tudo o que é profundo pode ser demorado, pode ser levado às últimas consequências como quando Davi confessou no Sl 23: ‘Ainda que eu ande por um vale tenebroso [...]’. O amor de Deus não nos coloca num trenzinho de segurança absoluta no qual possamos nos deliciar com os mais finos banquetes. Ele nos coloca sob a sombra tenebrosa da morte, seja de nossos pais, seja de nossos filhos, seja de outras pessoas queridas. É, talvez, nos momentos mais sombrios de nossa vida que Deus vem até nós e nos consola com o seu amor – com o amor com o qual amou o seu filho Jesus, na cruz. Sim, o amor de Deus desce até a cruz, pois é crucificado que nós podemos encontrar a Deus, pois ali que Ele marca seu encontro conosco. Só na cruz vamos entender por que e como Jesus nos ama, porque, apesar de pensarmos sempre na glória futura, o céu só é daquele que primeiro passou pela cruz. Por isso, permanecer no amor de Cristo é saber valorizar as marcas da cruz. – Senhor, carregamos a nossa cruz. Muitas e muitas vezes ela nos parece pesada, mas o peso da cruz é o peso do teu amor. Faze-me ver que essa cruz nossa é muito mais leve que a tua e Tu ainda ajudas a carregar a minha. Amém (Martinho Lutero Hoffmann  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite