Segunda, 01 de abril de 2024

(/At 2,14-.22-32; Sl 15[16]; Mt 28,8-15) Oitava de Páscoa.

“As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com grande alegria

para dar a notícias aos discípulos” Mt 28,8.

“Dois aspectos oferece-nos o evangelho de hoje: a aparição de Jesus ressuscitado às piedosas mulheres e o suborno dos soldados, por parte das autoridades dos judeus. A aparição do Ressuscitado as mulheres a recebem como missão de transmitir aos apóstolos, os quais haverão de ser verdadeiras testemunhas da ressurreição. Você deve enxergar-se a si mesmo(a) naquelas piedosas mulheres. Também a você, em determinado momento, apareceu Jesus. Você também manteve com ele um encontro ou uma experiência religiosa vivida em profundidade. Jesus mostrou-se como é: o Salvador do mundo, o irmão maior dos homens, aos quais ama com amor entranhado, e com isso você sentiu seu coração plenificado de um júbilo imenso. Mas Jesus não se manifestou para que somente você se alegrasse com sua presença, mas sim para que, imediatamente, você saísse a divulgar e a tornar conhecida aquela sua experiência religiosa às outras pessoas com que você convive, com quem você trabalha, com os quais, de uma forma ou de outra, você se relaciona. As piedosas mulheres ‘correram’ a dar a notícia aos discípulos. Não sei se se pode afirmar o mesmo de você. Você correu apressadamente, com santa impaciência, para comunicar aos outros o que viu ou experimentou?” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Domingo de Páscoa – Ano B

(At 10,34a.37-43; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9).*

1. Acreditarmos no Ressuscitado é recusar-nos a aceitar que nossa vida é só um pequeno parêntese entre dois imensos vazios. Apoiando-nos em Jesus ressuscitado por Deus intuímos, desejamos e acreditamos que Deus conduz rumo à sua verdadeira plenitude o anseio de vida, justiça e paz contido no coração da humanidade e da criação inteira.

2. Acreditarmos no Ressuscitado é rechaçar com todas as nossas forças que essa imensa maioria de homens, mulheres e crianças que nada conheceram nessa vida senão miséria, humilhação e sofrimento fiquem esquecidos para sempre.

3. Acreditarmos no Ressuscitado é confiar numa vida onde não haverá mais pobreza nem dor, ninguém estará triste, ninguém terá de chorar.

4. Acreditarmos no Ressuscitado é aproximar-nos com esperança de tantas pessoas sem saúde, doentes crônicos, incapacitados físicos e psíquicos, pessoas afundadas na depressão, cansadas de viver e de lutar. Um dia elas saberão o que é viver com paz e saúde total. Ouvirão a palavra do Pai: ‘Entra para sempre no gozo do teu Senhor’.

5. Acreditarmos no Ressuscitado é não nos conformarmos com que Deus seja sempre um ‘Deus oculto’ do qual não possamos conhecer o olhar, a ternura e os abraços. Vamos achá-lo gloriosa e eternamente encarnado em Jesus.

6. Acreditarmos no Ressuscitado é confiar em que nossos esforços em prol de um mundo mais humano e ditoso não se perderá no vazio. Um belo dia, os últimos serão os primeiros.

7. Acreditarmos no Ressuscitado é saber que tudo o que aqui ficou inconcluso, o que não pôde ser, o que estragamos com nossa inépcia ou nosso pecado, tudo atingirá sua plenitude em Deus. Nada se perderá daquilo que vivemos com amor ou daquilo a que renunciamos por amor.

8. Acreditarmos no Ressuscitado é esperar que as horas alegres e as experiências amargas, as ‘pegadas’ que deixamos nas pessoas e nas coisas, o que construímos ou desfrutamos generosamente, ficará transfigurado. Não mais conheceremos a amizade que termina, a festa que acaba nem a despedida que entristece. Deus será tudo em todos.

9. Acreditarmos no Ressuscitado é crer que um dia ouviremos estas incríveis palavras que o livro do Apocalipse atribui a Deus: “Eu sou a origem e o fim de tudo. A quem tiver sede, eu lhe darei de beber grátis do manancial da água da vida. Não haverá mais morte nem pranto, não haverá gritos nem fadigas, porque tudo isso terá passado”.

* Texto de José Antônio Pagola

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 30 de março de 2024

(Mc 16,1-7) Vigília Pascal.

“E diziam entre si: ‘Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?’” Mc 16,3.

“Na manhã da Páscoa são novamente três mulheres que se dirigem à sepultura. São as mesmas que tinham ficado junto da cruz e que viram Jesus morrer. Na cruz, elas já tinham visto o mistério de Jesus. Foi lá que lhes surgiu como o verdadeiro Messias. Agora elas vêm com a intenção de ungir seu corpo com óleos aromáticos. Querer embalsamar o corpo de um morto no terceiro dia não parece ser uma ideia muito lógica. Por isso devemos ver nesse proposto um sentido mais profundo. Na hora da morte de Jesus, as mulheres reconheceram nele o Messias confirmado por Deus em sua glória. Dirigem-se, então, muito cedo, ‘tendo despontado o dia’ (16,2), à sepultura, para ungir Jesus como o Cristo. O sol que desponta tem sentido figurativo: ele é o símbolo da ressurreição de Jesus que ilumina a noite escura em que se encontra a humanidade sem Cristo. E ele é também uma metáfora da nova visão das mulheres: enquanto os discípulos continuam todos cegos, as mulheres conseguem enxergar o despontar da Páscoa. O sol da ressurreição as iluminou. Um símbolo é também a pedra da entrada. Ela representa tudo o que nos impede de viver. Uma vez afastada a pedra, o poder da morte estará desfeito. Deixaremos de viver bloqueados e inibidos por tudo aquilo que nos quer oprimir e embaraçar. O texto diz que a pedra era muito grande. Às vezes sentimos realmente uma rocha que, pesando sobre nós, frustra nossas tentativas de levantar da sepultura de nosso medo e da nossa escuridão” (Anselm Grüm – Jesus, caminho para a liberdade – Loyola).

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 29 de março de 2024

(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42) Paixão do Senhor.

“Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus

e chegou ali com lanternas, tochas e armas” Jo 18,3.

“Todo ano, na Sexta-Feira Santa, é proclamada a história da paixão segundo João. Entende-se que a teologia joanina da paixão combine com a liturgia da Sexta-Feira Santa, em que é celebrada a cruz como sinal da vitória e da salvação. No relato da paixão, a maneira simbólica com que João descreve os acontecimentos alcança o seu apogeu. Por um lado, percebeu-se que João chega mais perto da verdade histórica, tanto na cronologia quanto na indicação dos lugares concretos. Por outro lado, tudo o que João descreve tem ao mesmo tempo um sentido mais profundo. O visível é símbolo do invisível, do mistério do amor de Deus que se completa na paixão. O simbolismo já começa com a prisão de Jesus. Os guardas do destacamento que vieram prender Jesus caem ao chão e adoram nele o verdadeiro rei. Carregando tochas e lampiões, os soldados romanos e os servos do tribunal rendem homenagem ao rei. Jesus se revela a eles com as palavras ‘ego eimi’, isto é, ‘sou eu’ (18,6). Com essa expressão, Jesus quer dizer mais do que: ‘Sou eu o homem que procurais’. Esta passagem faz referência à revelação de Deus na sarça ardente: ‘Eu sou aquele que é’. É a forma absoluta do ‘eu sou’ que incute medo e respeito aos soldados. São romanos e judeus diante dos quais Jesus se revela no fim de sua vida. Historicamente, é pouco provável que judeus e romanos tenham formado um destacamento comum para essa operação. Mas a intenção de João vai além desse fato: a morte de Jesus se dá pelo mundo inteiro, por judeus e romanos. O mundo todo adora Jesus. Depois, Jesus se deixa prender para que os discípulos fiquem livres. Trata-se de outra imagem do mistério de sua morte: ele nos livra de todo cativeiro interno e externo” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de março de 2024

(Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116B]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15) Ceia do Senhor.

“Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice,

estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” 1Cor 11,26.

“O que identifica uma igreja cristã? Foi-se o tempo em que uma igreja era identificada pela sua estrutura física, com vitrais, torre, sino. A arquitetura moderna e os grandes centros urbanos são testemunhas de igrejas que se reúnem em prédios que antes eram utilizados para outros fins. Igrejas erguidas no século XXI nem sempre seguem a linha física tradicional, seguindo ‘designs’ inovadores. Se não é a estrutura física em si que serve como identificação de uma igreja cristã, então podemos observar o seguinte versículo bíblico: “pois todas as vezes que comerdes desse pão e beberdes desse cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha’ (1Cor 11,26). A grande marca de uma igreja cristã, independente de sua denominação, é colocar a Palavra e os sacramentos no centro de tudo. Comer do pão e beber do cálice refere-se à Santa Ceia, à Santa Comunhão. Esta é uma grande marca de uma igreja cristã. Celebrar a santa Ceia até que Jesus venha como Rei dos Reis. Uma igreja que quer ser igreja, independente da sua estrutura física, precisa reunir-se ao redor da Palavra e dos sacramentos. Isto está além e muito acima de quem é o pastor, o padre, a liderança, o estilo de adoração ou a forma de ministério que está acontecendo. Todas as vezes que uma igreja cristã celebra a Santa Ceia, está anunciado a morte do Senhor. Até a sua volta. E assim é a vida do cristão quando participa da Santa Comunhão: está anunciando a volta de Jesus para redenção total dos que nele creem – independentemente da placa de sua igreja. – Senhor, ensina nossas igrejas cristãs a colocar a Palavra e os sacramentos no centro da vida de qualquer comunidade. É a Palavra que deve nortear nossas decisões como indivíduos e como igrejas cristãs. Ensina-nos a fazer isto sempre, Senhor! Por Jesus, Redentor. Amém!” (Bruno Arnoldo Krüger Serves  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 27 de março de 2024

(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25) Semana Santa.   

“Enquanto comiam, Jesus disse: ‘Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair’” Mt 26,21.

“Jesus celebrou sua última Páscoa em meio a uma grande contradição. A ceia da fraternidade foi corrompida pela presença do traidor que o havia vendido pelo irrisório preço de um escravo. A ceia da libertação tornou-se prelúdio da injustiça e da opressão que se abateria sobre ele. A recordação dos feitos poderosos de Deus foi obscurecida pelo confronto com os feitos humanos cheios de perversidade. Os laços que uniam discípulos e Mestre eram frágeis. Tudo não passava de aparência. O anúncio da próxima traição e a maldição prevista para quem perpetrasse esta maldade contra Jesus foram chocantes. Uma terrível suspeita pairou sobre todos. Quando Jesus desvendou o mistério e denunciou Judas, um clima de revolta deve ter tomado conta dos comensais. A convivência com um ‘amigo’ traidor era insuportável. Em meio a tudo isso Jesus sabia estar dando passos firmes rumo à Páscoa definitiva. A grande obra libertadora do Pai em favor da humanidade estava para ser consumada. Não era possível queimar etapas e eliminar os aspectos dolorosos do processo de libertação. No entanto, a ceia da fraternidade acabou por tornar-se um tormento para Jesus. Estava para ser selado o pacto de traição por parte de um amigo. Apesar dos pesares, era preciso manter a cabeça erguida para enfrentar a paixão iminente. – Senhor Jesus, torna cada vez mais verdadeira minha amizade por ti! (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Terça, 26 de março de 2024

(Is 49,1-6; Sl 70[71]; Jo 13,21-33.36-38) Semana Santa.

“Jesus ficou profundamente comovido e testemunhou: ‘Em verdade, em verdade vos digo,

um de vós me entregará’” Jo 13,21.

“Narra-se neste evangelho o primeiro anúncio da traição de Judas; é um relato comovente pela descrição daquele momento de intimidade de Jesus com seus apóstolos. O evangelista faz-nos perceber um detalhe que não passou despercebido à sua atenta vigilância: diz que ‘Jesus ficou perturbado em seu espírito’ (v. 21) ao ter de manifestar que ‘um de vós me há de trair’. O tom com que Jesus fala, indica a iminência de algo extraordinário, ao mesmo tempo doloroso e triunfal. Um dos doze, escolhido diretamente por Jesus Cristo, que o acompanhou durante três anos de vida pública, ouvindo sua pregação e presenciando seus milagres, recebendo mostras extraordinárias de amizade, entregou-o às mãos de seus inimigos. A queda de Judas nos há de fazer tremer a todos. Porque se Judas caiu, também podermos cair; nem o caráter sacerdotal, nem a vocação ao apostolado concedem o dom de impossibilidade de cair, ou impecabilidade, nem mudam nossa natureza frágil e miserável, inclinada a todo mal. Por isso devemos estar sempre alertas e tomar todas as precauções, afastando-nos do perigo para não cair em pecado” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 25 de março de 2024

(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11) Semana Santa.

“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações” Is 42,1.

“Quando alguém é apresentado, é costume atribuir alguma função à pessoa que é apresentada. Por exemplo: este é João, ele é gerente da loja; esta é Maria, ela é a caixa do supermercado; este é Pedro, ele é o carteiro; esta é Cláudia, ela é secretária do escritório. Nas apresentações, junta-se ao nome alguma atribuição da pessoa. Quando Deus anunciou Jesus, ainda sob profecia e nas palavras de Isaias, Ele disse: ‘Eis meu servo a quem apoio, meu eleito, ao qual quero bem! Pus nele meu espírito, Ele levará o direito às nações’ (Is 42,1). Jesus é anunciado, apresentado. Muito tempo antes de seu nascimento. Ao seu nome, são dadas atribuições: servo, eleito, levará o direito às nações. Todas as profecias se cumpriram. Jesus veio ao mundo para a salvação. Morreu e ressuscitou. Foi o eleito de Deus para a redenção de todas as nações. Foi servo do Senhor, carregando em sua cruz todas as culpas de todas as vidas. Foi servo ao obedecer à Lei de Deus e assumir as punições que esta Lei reservava a todos nós. Jesus é Deus que assumiu nossas culpas, perdoou e salvou. Como é bom saber que Jesus é eleito de Deus, servo do Senhor, que trouxe o direito às nações. Tudo isto traz alívio ao coração nos dias de culpa e remorso, ao saber que é possível um recomeço e que há um Deus de perdão pronto para nos abraçar. Como é bom saber que em Jesus nossas vidas encontram recomeços diários. Recomeços que são norteados pela morte e ressurreição do servo do Senhor, Jesus, aquele que foi anunciado desde os tempos dos profetas como Salvador de todas as nações. – Senhor Deus, quero agora te agradecer. Obrigado por ter cumprido as profecias a respeito de Jesus. Ele veio ao mundo para ser teu servo e nosso Salvador. Ele assumiu nossas culpas e nos garantiu perdão consolador. Queremos encontrar em ti descanso, alívio e salvação para o coração. Por Jesus, amém!” (Bruno Arnoldo Krüger Serves  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Ramos da Paixão do Senhor – Ano B

(Mc 11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21[22]; Fl 2,6-11; Mc 15,1-39)*

1. Penso que conhecemos a lenda do “Quo Vadis?”. Em Roma está acontecendo a perseguição de Nero. Pressionado pelos irmãos, Pedro é convencido que deve afastar-se da cidade. Enquanto foge para o sul, pela via Appia, encontra Jesus que vem na direção oposta. Lhe pergunta: “Quo Vadis Domine?” (“Aonde vais, Senhor?”). E Jesus responde: “Vou a Roma para morrer de novo”. Pedro entende e retorna sobre os próprios passos para sofrer o martírio por Cristo, morrendo crucificado de cabeça para baixo.

2. Essa mesma história ainda se repete hoje. Jesus vai sofrer e morrer de novo em cada cidade e lugar onde está acontecendo perseguições, onde há perigo e morte. Não faltam discípulos e discípulas corajosos que não fogem destes lugares, permanecem ali ou ali retornam, para sofrer com o Cristo ou mesmo serem martirizados.

3. Mas essa história tem também um sentido para nós que entramos na “Grande Semana”. Nesse domingo deveríamos escutar toda a narração da paixão segundo Marcos que compreende os capítulos 14 e 15. Mas a liturgia nos trouxe o texto mais breve que se concentra no processo, paixão e morte.

4. Se voltar-nos sobre o texto completo, vamos encontrar a narrativa da traição de Pedro, que o próprio Jesus já havia anunciado. Toda essa humilhante narrativa descrita por Marcos, que foi uma espécie de secretário de Pedro e escreve o seu evangelho a partir das recordações e informações dele, nos serve como advertência e ensinamento.

5. Para que possamos compreender a lição que Pedro nos oferece, é preciso ler tal narrativa em paralelo com a traição de Judas. Também este foi advertido do que aconteceria e que se consumaria no Jardim das Oliveiras. Para Pedro, Jesus passa e o olha; com Judas a situação foi mais longe: um beijo. Mas o final foi bem diferente: Pedro chora; Judas busca tirar a própria vida.

6. São narrativas que não se fecham em si mesmas; elas continuam acontecendo e muitas vezes bastante próximas a nós. Quantas vezes a história de Pedro não acontecesse conosco, que deveríamos testemunhar nossa fé, mas afirmamos como Pedro: “Não conheço esse Jesus de quem estão falando...”.

7. Mesmo a história de Judas não nos é estranha. Poderia ser a de qualquer um de nós que, em seu lugar, vende Jesus por trinta moedas; quantas vezes não fazemos o mesmo por bem menos? Traição, sim, mas menos tragicidade que a sua, pois melhor que ele, sabemos quem é Jesus.

8. A diferença entre uma história e outra, ainda que o remorso tenha pesado sobre os dois, é que Pedro teve confiança na misericórdia de Cristo e Judas não. A Bíblia nos apresenta toda uma galeria de histórias paralelas de pecado que se concluem de modo diametralmente oposto. Todas elas querem nos conduzir a escolha certa.

9. Caim mata Abel, Davi mata Urias. Enquanto Caim é execrado, Davi é honrado. O motivo é sempre o mesmo. Caim se desespera (cf. Gn 4,13), Davi confia na misericórdia de Deus (Sl 51,3). No calvário estão dois ladrões. Ambos pecaram. Enquanto um maldiz, insulta e morre em seu desespero, o outro pede a Jesus que se recorde dele ao entrar no seu Reino.

10. O modo mais seguro para penetrarmos no coração da paixão é vê-la como a suprema manifestação da misericórdia de Deus. Fazer a Páscoa significa fazer a experiência pessoal da misericórdia de Deus em Cristo. R. Cantalamessa, meditando, conclui que mesmo aqueles que crucificaram a Jesus foram salvos. O Pai não deixaria cair no vazio a prece do seu Filho: “Pai, perdoa-lhes...”.

11. Mesmo que ainda permaneça a liberdade do ser humano de acolher ou não a misericórdia de Deus. De ninguém, todavia, podemos ter a certeza de que tenha sido condenado, mesmo Judas.

12. Nessa semana, tomemos novamente a narrativa da Paixão para lê-lo com calma e por inteiro. Nesta semana, Cristo vai misticamente morrer de novo por nós. Digamos também nós como o apóstolo Tiago, ao saber da decisão do Mestre em ir a Jerusalém para a festa da Páscoa: “Vamos também nós para morrermos com Ele”. Morrer ao pecado para ressurgir, na Páscoa, para uma vida nova.

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de março de 2024

(Ez 37,21-28; Sl Jr 3; Jo 11,45-56) 5ª Semana da Quaresma.  

“Farei deles uma nação única no país, nos montes de Israel, e apenas um rei reinará sobre todos eles.

Nunca mais formarão duas nações nem tornarão a dividir-se em dois reinos” Ez 37,22.

“Ezequiel, levado para a Babilônia na primeira deportação, é chamado por Deus a desempenhar o seu ministério na terra do exílio. A atividade deste profeta desenrola-se em dois períodos bem distintos: antes da destruição de Jerusalém. Ezequiel sacode a consciência do povo anunciando o juízo divino iminente; quando depois esse juízo se verificou com a destruição da Cidade Santa e do Templo, ele assume a tarefa de reacender a esperança no povo exortando-o à confiança e a uma fidelidade plena no Senhor. O texto que hoje lemos é tirado da segunda parte: Ezequiel anuncia o regresso do exílio e um futuro novo para Israel. [Compreender a Palavra:] O texto continua a narrar uma visão extraordinária, a dos ossos ressequidos que volta à vida (Ez 37,1-14). Mesmo nas situações mais desesperadas de morte, o Senhor pode fazer nova vida. Ele permitiu que o povo infiel experimentasse a miséria, de modo a sentir a necessidade de voltar para Ele com uma conversão radical. Na pedagogia de JHWH, o exílio tem também uma função terapêutica. Agora vai haver uma nova intervenção vinda d’Ele. Com o regresso do exílio dar-se-á uma renovação interior: o povo será ‘purificado’ (v. 23) e ‘santificado’ (v. 28), o Senhor fará com todos os filhos de Israel ‘uma aliança de paz’, ‘uma aliança eterna’ (v. 26) e virá habitar no meio deles para sempre (v. 28). Esta passagem profética adquire na liturgia da Quaresma uma extraordinária densidade de significado. É o mistério pascal de Cristo que nos purifica e santifica e que é penhor de uma nova e eterna Aliança entre Deus e toda a humanidade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 22 de março de 2024

(Jr 20,10-13; Sl 17[18]; Jo 10,31-42) 5ª Semana da Quaresma.

“E ele lhes disse: ‘Por ordem do Pai, mostrei-vos muitas obras boas. Por qual delas me quereis apedrejar?’” Jo 10,32.

“As obras prodigiosas de Jesus deveriam ser suficientes para dar credibilidade às suas palavras. Todavia, seus adversários recusavam-se a acreditar nele, persistindo no seu intento de eliminá-lo. Reconheciam haver algo de incomum e inexplicável nas ações de Jesus. Mas concluíam: apesar de ser homem, ele estava querendo passar por Deus. Isto era uma blasfêmia insuportável. As dificuldades de Jesus com seus adversários não provinham de suas palavras, mas de suas obras. Estas é que testemunhavam a seu favor e evidenciavam sua condição divina, rejeitada pelos seus adversários. O testemunho das obras era sempre incômodo, porque não se podia facilmente negar. Quem fora curado por Jesus, não podia deixar de agradecê-lo. Quem fora perdoado de seu pecado e acolhido em sua fraqueza, mantinha viva e publicava a misericórdia do Mestre. Quem tivera sua fome saciada, não podia minimizar as dimensões do milagre. Os adversários de Jesus, por conseguinte, estavam rodeados de testemunhos em favor dele. E todos apontavam na mesma direção: só Deus poderia realizar obras tão maravilhosas! Ao invés de render-se à evidência, estreitavam mais e mais sua rejeição a Jesus. Entretanto, não faltou quem se deixasse convencer pelas obras realizadas por Jesus, depositando nela a sua fé. – Senhor Jesus, que o testemunho de tuas obras abra o meu coração para fé!” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Quinta, 21 de março de 2024

(Gn 17,3-9; Sl 104[105]; Jo 8,51-59) 5ª Semana da Quaresma.

“Em verdade, em verdade, eu vos digo, se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte” Jo 8,51.

“Neste evangelho, Jesus dá testemunho de sua divindade; afirma que ele já existia antes de Abraão, coisa que os judeus não podiam entender nem aceitar. Jesus censura-os afirmando-lhes que não o recebem porque não conhecem o Pai e nem mesmo a ele, que foi enviado pelo Pai. Para guardar a palavra de Deus, é preciso primeiro ouvir e aceitar essa palavra salvadora. Quem é de Deus ouve a palavra de Deus, deixa-se guiar por ela, segue os impulsos da graça e as moções do Espírito Santo. São Gregório convida-nos à reflexão e exame com estas palavras: ‘Pergunte-se cada um se ouve em seu coração a palavra de Deus, e saberá de onde é. A verdade manda desejar a pátria celestial, suprimir os desejos da carne, desprezar a glória do mundo e não desejar o alheio e dar o próprio. Considere cada qual se ouve essa voz de Deus em seu coração, e que saberá por meio disso que é de Deus’. Jesus Cristo indica-nos um caminho, para conseguir a vida eterna: guardar sua palavra. Para salvar-nos - diz um escritor – de pouco nos servirão os bens materiais ou as qualidades que possamos ter. Com a morte do corpo, teremos de deixar todas as coisas deste mundo. Para lá do sepulcro, não nos seguirão senão nossas obras, e essas são as que nos salvarão ou nos condenarão por toda a eternidade. Isto quer dizer: Jesus é indubitavelmente nosso Redentor e Salvador; a fé nele e o amor a ele serão o que nos salva. Mas, se esta fé e este amor forem reais e autênticos, exigirão de nós ineludivelmente obras de santidade, obras de salvação. Todas as coisas deste mundo têm, portanto, importância secundária e relativa, visto que por muito que dure nossa vida, isso é nada em comparação com a eternidade. Por isso é uma verdadeira loucura expor a salvação eterna por qualquer coisa deste mundo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de março de 2024

(Dn 3,14-20.24.49.91-92.95; Sl Dn 3; Jo 8,31-42) 5ª Semana da Quaresma.

“Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: ‘Se permanecerdes na minha palavra,

sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”

Jo 8,31.

“Na passagem em questão, Jesus fala ‘aos judeus que haviam acreditado nele’ (8,31). Acreditar quer dizer: permanecer em sua palavra, viver na base de sua palavra, morar em sua palavra. O que significa isso? Nós todos temos as nossas palavras internas que são determinantes para nós. Acreditar significa deixar-se dominar pelas palavras de Jesus, pelas palavras que descerram a realidade e a abrem para Deus. Quem permanece na palavra de Jesus reconhece a verdade e está na verdade. Está em contato com a realidade. Nesse contexto, crer tem um sentido místico: despertar para a realidade. Em seguida, Jesus pronuncia aquela frase admirável: ‘a verdade fará de vós homens livres’ (8,32). Aqui, a verdade não se confunde com axiomas que são verdadeiros e nos quais é preciso acreditar, trata-se, isso sim, da realidade propriamente dita, da realidade de Deus. A verdade dá ao ser humano clareza a respeito de si próprio. O homem se reconhece na verdade, a sua existência se ilumina. E isso quer dizer liberdade para ele. Não se trata da liberdade política ou da liberdade do espírito. Com essa frase, João quer dizer: quem conhece Jesus, vendo por meio dele o Deus verdadeiro, está livre do apego às aparências do mundo. Ele se livra das ilusões que construiu para si mesmo. Ele já não precisa lutar por si. Entrou em contato com a realidade e, assim, chegou a si mesmo. Ele se tornou totalmente ele próprio, de modo que já não precisa fazer propaganda de si” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de março de 2024

(2Sm 7,4-5.12-14.16; Sl 88[89]; Rm 4,13.16-18.22; Mc 1,16.18-21.24) São José, esposo de Maria e padroeiro da Igreja.

“Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre”

2Sm 7,16.

“O profeta Natã tinha aprovado o projeto de David de construir para Deus uma ‘casa’, um santuário, na cidade conquistada de Jerusalém, como proteção e garantia do novo reino. Deus, porém, não aceita esse projeto: ao mesmo tempo, em vista dos Seus planos salvíficos, promete a David uma ‘casa’, isto é, uma descendência, e um reino que terão uma direção perene (vv. 12.16). Reserva depois para Salomão a tarefa de Lhe construir a ‘casa’, o templo material (v. 13). [Compreender a Palavra:] Para realizar o Seu plano de aliança, o Senhor serve-Se livremente dos homens. No começo da história salvífica escolheu Abraão para fazer chegar a bênção divina a todos os povos (cf. Gn 12,3). Agora, no momento do grande fulgor da monarquia hebraica, anuncia a continuidade da descendência davídica. Na releitura que disso fizeram os cristãos, deu-se a este texto uma conotação fortemente messiânica e viu-se nele o anúncio ‘d’Aquele que libertará o seu Povo dos seus pecados’ (Mt 1,21: Evangelho). A eleição da dinastia davídica origina-se então do amor de Deus e é continuamente amparada por esse amor, pelo que o Senhor será pai do futuro descendente (v. 14), conservar-lhe-á a Sua ‘graça’, a Sua ‘aliança’ (cf. Sl 88,3.4: salmo responsorial). A eleição restrita a uma descendência, na verdade diz respeito a toda a humanidade. José, enquanto ‘filho de David’ (Mt 1,20: Evangelho) e esposo ‘jurídico’ de Maria, transmite a Jesus a pertença à descendência e à dignidade real de David. Este seu papel único na história da salvação une-se à sua grande santidade pessoal” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de março de 2024

(Dn 13,1-9.15-17.19-30.32-62; Sl 22[23]; Jo 8,1-11) 5ª Semana da Quaresma.

“Disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério’” Jo 8,4.


“A situação da mulher surpreendida em adultério e trazida à presença de Jesus denunciava o caráter dos adversários dele e sua falta de escrúpulos, quando se tratava de condenar e propor a pena capital. É possível que eles mesmos tenham forjado uma armadilha para pegar a mulher em adultério e, assim, terem um motivo para provar Jesus e poder acusá-lo. A questão dirigida a Jesus era inútil. Se eles sabiam que já estava previsto na Lei a lapidação das adúlteras, por que pedir a opinião de Jesus? Legalistas como eram, só lhes competia fazer cumprir a pena prevista. A resposta de Jesus lhes interessava. Se dissesse que a Lei deveria ser cumprida, teriam argumentos para denunciar a falta de misericórdia de Jesus. Se dissesse não, eles o acusariam de rebeldia contra a Lei de Moisés e, igualmente, poderiam impor-lhe a pena de morte. Eles, porém, não contavam com a armadilha preparada por Jesus. Este desafiou os que julgavam inocentes a darem início à lapidação. Ninguém teve coragem de fazê-lo. Pelo contrário, foram saindo, de mansinho, a começar pelos mais velhos. Tem-se a impressão de que, quanto mais velhos, mais calejados na maldade se encontravam. Não sobrou ninguém para evocar o cumprimento da Lei. Chegou, então, a hora da misericórdia! – Senhor Jesus, ensina-nos a ser solidários com as vítimas da maldade e da injustiça. Que eu saiba sempre agir com misericórdia” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

5º Domingo da Quaresma – Ano B

(Jr 31,31-34; Sl 50[51]; Hb 5,7-9; Jo 12,20-33)*

1. O ensinamento mais profundo que Jesus nos dá no evangelho deste domingo vem da vida no campo ou rural, como dizemos. O Evangelho está cheio de parábolas, de imagens que Jesus retira dessa realidade do seu tempo e da profissão da maioria de seus concidadãos.

2. Ele fala do semeador, do trabalho no campo, da semeadura, do grão, vinho, óleo, figo, vinha, colheita, de tudo relacionado a essa realidade. Mas ele não se restringiu a essa realidade. A imagem do grão de trigo serve para transmitir um sublime ensinamento que joga luz, antes de tudo, sobre sua história pessoal e a dos discípulos.

3. O grão de trigo é, antes de tudo, ele mesmo. Como uma semente na terra em sua paixão e morte, trouxe o fruto da sua ressurreição. A própria Igreja nasce de sua morte e ressurreição. E no batismo somos sepultados em sua morte, para ressurgimos em uma vida nova, marcados pelo Espírito Santo.

4. Mas a história do grão de trigo nos ajuda também, por outro lado, a entender a nós mesmos, o sentido da nossa existência. Ele acrescenta: quem se apega à sua vida perde-a, mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para vida eterna.

5. Cair por terra e morrer, não é só a via para gerar fruto, mas também para ‘salvar a própria vida’, ou seja, para continuar a viver. O grão de trigo que se recusa a cair por terra vai virar comida de passarinho ou definha e mofa com a umidade. Ou mesmo virá reduzido a farinha, consumido e tudo termina ali. Não tem seguimento.

6. Mas se vem semeado, reaparecerá, conhecerá a primavera e o sol do verão. Conhecerá uma vida nova. E assim se torna claro para nós o seu significado no plano humano e espiritual.

7. Se o ser humano não atravessa a transformação que vem da fé e do batismo, se não aceita a cruz, permanece preso ao seu natural modo de ser e ao seu egoísmo, tudo terminará com ela, sua vida vai ao esgotamento. Juventude, velhice, morte. Mas se crê e aceita a cruz em união com Cristo, agora se abre diante dele o horizonte da vida eterna.

8. Mas sem pensar propriamente em nossa morte, experimentamos situações nesta vida em que a parábola lança luzes reconfortante. Quantos projetos pessoais em que dedicamos a nossa vida sentimos cair por terra e morrer ou mesmo em que outros desfrutarão do fruto de nosso esforço. É preciso recordar o grão de trigo e saber esperar.

9. Nossos melhores projetos e afetos (mesmo no matrimônio, na vocação religiosa) devem passar por essa aparente fase de escuridão e de inverno, para renascer purificados e rico em frutos. Se resistem à prova, são como o aço que depois de colocado na água gelada sai dela ‘temperado’.

10. Essa imagem usada por Jesus pode iluminar também a nossa vida em outras situações. Há determinadas situações em nossa vida que simplesmente não se resolvem, não avançam.

11. E nos encontramos diante de uma escolha: ou continuamos a girar em torno desse problema toda uma vida, vivendo de remorsos e de amargura (que seria não viver!), ou aceitamos a situação, reconciliamo-nos com a mesma e nos damos conta que a vida não se limita a isso; que há um mundo de possibilidades e de potencialidades dentro de nós que espera poder exprimir-se, através de outras relações e canais.

12. É como o grão de trigo: você pode retê-lo em sua mão, até que morra ou confiá-lo à terra; que pode significar confiar à vontade de Deus, não numa atitude de passiva resignação, mas de confiante abandono à providência. Há certas coisas sobre as quais insistimos que talvez não seja o melhor para nós.  Talvez daqui venha a expressão: ‘Dar murro em ponta de faca’.

13. Como sempre, constatamos que o Evangelho não está longe da nossa existência comum, e nos fala da vida por pequenas histórias ou imagens. Para além de tudo isso sabemos que seremos um dia, esse grão de trigo confiado à terra. Mas a palavra de Jesus nos assegura uma nova primavera: “Ressurgiremos por crer, nessa vida escondida no pão”. E não morreremos mais...

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de março de 2024

(Jr 11,18-20; Sl 7; Jo 7,40-53) 4ª Semana da Quaresma.

“Assim, houve divisão no meio do povo por causa de Jesus” Jo 7,43.

“Não foi fácil, para os contemporâneos de Jesus, definir sua identidade. Seus feitos prodigiosos levavam as pessoas a se perguntarem quem era ele. Suas palavras tinham a vibração dos antigos profetas. Seu modo de ser dava motivo para chamá-lo de Messias. Entretanto, por ser tido com galileu, descartava-se esta possibilidade. Não se esperava nenhum messias profeta vindo da Galileia. E a indagação inicial permanecia sem resposta. A dificuldade em definir a identidade de Jesus tinha sua origem na imagem equivocada de abordá-lo. As respostas obtidas enfocavam a exterioridade de Jesus, sua aparência. Sob este aspecto, as definições aplicadas a ele até podiam ser verdadeiros, mas eram insuficientes. A verdadeira identidade de Jesus escondia-se atrás de suas palavras e ações. Quem atingia este nível de profundidade, defrontava-se com sua dimensão divina, fundamento de sua autoridade e do poder miraculoso de seu agir. Aí se escondia sua condição de Filho de Deus e a perfeita unidade existente entre seu querer e o querer do Pai. Por conseguinte, pouco importavam seu lugar de origem, sua genealogia e suas relações com os personagens do passado. Para decifrar o enigma de sua identidade, bastaria aceitá-lo como Filho de Deus. – Senhor Jesus, dá-me uma fé cada vez mais robusta que leve a conhecer-te sempre mais e melhor” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de março de 2024

(Sb 2,1.12-22; Sl 33[34]; Jo 7,1-2.10.25-30) 4ª Semana da Quaresma.

“Eis que fala em público e nada lhe dizem. Será que, na verdade, as autoridades reconheceram

que ele é o Messias?” Jo 7,26

“Vemos claramente que o Pai revela-se a nós por Jesus e como essa revelação do Pai em Jesus é rejeitada pelos judeus. Jesus há de cumprir sua missão, apesar da dureza e da oposição dos homens; é que o mistério da origem e da natureza de Jesus revela-se só pela fé, ao homem que tem fé e que com fé olha todas as coisas. Existem certas coisas que se captam pelos sentidos: são as materiais; outras conhecem-se pela razão: são as racionais; porém, as coisas do Espírito somente se alcançam pela fé e com a fé. Daí a necessidade imprescindível dessa virtude, pois, faltando ela, caímos num abismo de trevas e erros. Aquele israelita que precisava alcançar a saúde para seu filho e ao qual Jesus fez perceber que não se lhe concedia o que pedia porque não tinha fé, prostou-se diante de Jesus e lhe suplicou: ‘Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!’ (Marcos 9,24). Siga você esse exemplo; reconheça que não tem suficiente fé e peça fé com humildade, porque se você conseguir maior fé e fé autêntica, ‘tudo é possível ao que crê’ (Marcos 9,23)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 14 de março de 2024

(Ex 32,7-14; Sl 105[106]; Jo 5,31-47) 4ª Semana da Quaresma.

“Não penseis que eu vos acuso diante do Pai. Há alguém que vos acusa:

Moisés, no qual colocais a vossa esperança” Jo 5,45.

“Continua o discurso duro de Jesus respondendo às acusações dos judeus, discurso construído pelo evangelista como uma espécie de processo imaginário entre Jesus e os seus opositores. Em primeiro lugar, Jesus defende as Suas obras (cf. Jo 5,19-30): texto proclamado ontem), agora apresenta os testemunhos em Seu favor – o Pai, João Batista, as Suas obras, as Escrituras – para demonstrar a falta de fundamento das acusações que Lhe são dirigidas (vv. 31-40); em seguida, tornando-se Ele mesmo acusador, polemizando com os seus adversários e denunciando a incredulidade deles (vv. 41-47). [Compreender a Palavra:] À medida que a narração avança, a confrontação entre Jesus e os judeus torna-se mais dura. Na polêmica encontram-se os principais temas apologéticos que os cristãos do tempo de João utilizavam para rebater os judeus. Jesus não Se limita à autodefesa, mas apresenta testemunhos em apoio da Sua missão divina: cita quatro. O primeiro é João Batista, que deu ‘testemunho da verdade’ e se pode comparar a uma lâmpada que guia para a luz verdadeira. O segundo é constituído pelas próprias obras de Jesus: a Sua atividade revela a ação de Deus n’Ele e por meio d’Ele. O terceiro testemunho é o Pai, que age no íntimo das pessoas e as dispõe a escutar o seu Filho. O quarto testemunho é, finalmente, dado pelas Escrituras, consideradas fonte de vida. Os judeus, infelizmente, não obstante a multiplicidade de testemunhos, permaneceram incrédulos, e Jesus denuncia imediatamente a causa: estão cheios de si mesmos e privados do amor de Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de março de 2024

(Is 49,8-15; Sl 144[145]; Jo 5,17-30) 4ª Semana da Quaresma.

“Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticam o mal, para a condenação”

Jo 5,29.

“Jesus faz afirmação clara da ressurreição final, tanto para o mal, como para a vida eterna. Aqueles que fizeram o bem, ‘para a ressurreição de vida’ e aquele que praticam o mal, ‘para uma ressurreição do juízo’. As obras que realizamos nesta vida não ficam limitadas pelo tempo, mas têm uma dimensão de eternidade; nossas obras boas ou más projetam-se para além das conotações que as motivam; todas as obras têm sentido do além, por pequena e insignificante que lhe possa parecer a obra que você realiza. Nada existe, portanto, que se possa chamar de pequeno e sem importância, uma vez que nada existe que não influa no mais importante que existe para você, que é a consecução da futura ‘ressurreição da vida’. Tudo, pois, deve ser julgado não por sua relação com o presente e passageiro, mas sua projeção de eternidade e assim você pode conseguir a eternidade feliz, sem necessidade de recorrer a coisas difíceis ou espetaculares; com seus afazeres diários bem cumpridos e oferecendo tudo ao Pai, com espírito de imolação, você pode e deve santificar-se. Ouça, portanto, a voz de Jesus, porque, se a ouvir, você viverá” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite