Terça, 01 de junho de 2021

(Tb 2,9-14; Sl 111[112]; Mc 12,13-17) 

9ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus disse: ‘Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’.

E eles ficaram admirados com Jesus” Mc 13,17.

“Esta frase é uma das mais repetidas sempre que se quer separar o sagrado do profano, o religioso do político, a oração do trabalho profissional. Sempre que se quer acantonar a religião à sacristia ou amarrá-la exclusivamente ao rito. Na verdade, esta dicotomia é impossível, porque o homem é ao mesmo tempo religioso e político, trabalhador e orante, mergulhado nas coisas de Deus e nas coisas da vida de cada dia. Seria viver espiritualmente aleijado, se o homem quisesse ser só orante ou só trabalhador. Sempre de novo volta esta tentação reducionista. Assim como o homem é corpo e alma inseparáveis e em harmonia, o político e o religioso formam unidade no homem equilibrado. E assim como é sinal de desequilíbrio o cultivo exagerado do corpo em detrimento da alma, e vice-versa, também das provas de imaturidade e insegurança quem supervaloriza o político ou o econômico ou o laboral em detrimento do piedoso. A hipertrofia do religioso dá em fanatismo. A hipertrofia do profano dá em secularismo. Cristo não manda separar as duas dimensões, mas equilibrá-las. O grande problema é o esquecimento da dimensão divina, o esquecimento dos direitos que Deus tem sobre nós e das obrigações que assumimos com ele. Quem sai perdendo com esse desequilíbrio não é Deus, porque Deus não precisa de nada nem de ninguém. Somos nós que perdemos. É nossa vida que empobrece. Nesse sentido, há muito mais pobres de Deus do que pobres de vestes e comida. A dimensão divina do homem não é apêndice ou acessório. É integrante. É essencial. Está doente quem vive facultativa ou esporadicamente. – Senhor Deus, em quem o Cristo me exortou, que eu sinta em mim a tua seiva! Não tente levar vida separada da videira! Que eu produza frutos que sejam tão divinos quanto humanos! Amém (Clarêncio Neotti – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 31 de maio de 2021

(Sf 3,14-18; Sl Is 12; Lc 1,39-56) 

Visitação de Nossa Senhora.

“Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente,

a uma cidade da Judeia” Lc 1,39.

“Após a anunciação do anjo, Maria sai (apressadamente, diz S. Lucas) para fazer uma visita à sua prima Isabel e prestar-lhe serviços. Ajuntando-se provavelmente a alguma caravana de peregrinos que vão a Jerusalém, passa a Samaria e atinge Ain-Karin, na Judeia, onde mora a família de Zacarias. É fácil imaginar o sentimento que povoam sua alma na meditação do mistério anunciado pelo anjo. São sentimentos de humilde gratidão para com a grandeza e bondade de Deus, que Maria expressará ‘do amor jubiloso que canta e louva o amado’ (diz Bernardino de Sena): ‘A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador...’ A presença do Verbo encarnado em Maria é causa de graça para Isabel que, inspirada, percebe os grandes mistérios que se operam na jovem prima, a sua dignidade de Mãe de Deus, a sua fé na palavra divina e a santificação do precursor, que exulta de alegria no ventre da mãe. Maria ficou com Isabel até o nascimento de João Batista, aguardando provavelmente outros oito dias para a imposição do nome. Aceitando esta contagem do período passado junto coma prima Isabel, a festa da Visitação, de origem franciscana (os frades menores já a celebravam em 1263), era celebrada a dois de julho, isto é, ao término da visita de Maria. Teria sido mais lógico colocar a memória depois do dia 25 de março, festa da Anunciação, mas procurou-se evitar que caísse no período quaresmal. A festa foi depois estendida a toda a Igreja Latina pelo papa Urbano VI para propiciar coma intercessão de Maria a paz e a unidade dos cristãos divididos pelo grande cisma do Ocidente. O sínodo de Basiléia, na sessão de 1º de julho de 1441, confirmou a festividade da Visitação, não aceita, no início pelos estados que defendiam o antipapa. O atual calendário litúrgico, não levando em conta a cronologia sugerida pelo episódio evangélico, abandonou a data tradicional de 2 de julho (antigamente a Visitação era celebrada também em outras datas) para fixar-lhe a memória no último dia de maio, como coroação do mês que a devoção popular consagra ao culto particular da Virgem. ‘Na Encarnação – comenta são Francisco de Sales – Maria se humilha confessando-se serva do Senhor... Porém, Maria não fica só na humilhação diante de Deus, pois sabe que a caridade e a humildade não são perfeitas se não passam de Deus ao próximo. Não é possível amar a Deus que não vemos, se não amamos os homens que vemos. Essa parte realiza-se na Visitação’” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Santíssima Trindade – Ano B

(Dt 4,32-34.39-40; Sl 32[33]; Rm 8,14-17; Mt 28,16-20)

1. A liturgia nos convida a celebrar o mistério da Trindade, já presente em cada celebração que vivenciamos. É como se retomássemos a velha pergunta sobre a imagem de Deus que carregamos, qual o seu significado da mesma para o mundo em que vivemos e principalmente para mim.

2. É uma pergunta difícil de ser respondida sem escutarmos a pessoa de Jesus Cristo. É Ele o grande revelador da face de Deus, pois é parte de um projeto salvador que tem a iniciativa do Pai, se realiza na Sua pessoa e se completa e prolonga na ação do Espírito Santo sobre a Igreja e no mundo.

3. Num sentido inverso, as leituras partem da revelação do nome das três pessoas divina proclamada no Evangelho, pelas quais somos batizados e incorporados à realidade divina a ponto de chamarmos a Deus de Pai, nessa adoção filial, nos diz Paulo. Por fim nos diz que tudo isso foi um processo lento de revelação a partir da fé monoteísta de Israel, complementa a 1ª leitura.

4. Esse processo progressivo e dinâmico do mistério trinitário está presente também na pregação de Jesus, falando do Pai que enviou a Ele, seu Filho e ao final de Sua jornada menciona e promete o Espírito Santo, conferindo essa realidade após Sua ressurreição.

5. Toda esta atividade trinitária é salvação presente, atualizada continuamente na fé, liturgia, vida e missão evangelizadora da Igreja. Essa fé presente em nosso Credo é o fundamento da nossa esperança e a força do nosso caminhar.

6. O texto do nosso Evangelho revela a prática batismal desde os tempos apostólicos sob a fórmula trinitária. Mas é a 2ª leitura que nos faz mergulhar nessa realidade, para dizer que o batismo nos introduz no círculo trinitário mediante nosso nascimento para a vida de adoção filial por Deus, como testifica seu Espírito dentro de nós.

7. Esse capítulo 8 da Carta aos Romanos nos traz essa contraposição entre a vida segundo o Espírito e a vida segundo a carne, isto é, segundo os critérios do homem velho, preso ao pecado. Para sermos verdadeiramente herdeiros dessa vida em Deus, do seu Reino é preciso que deixemo-nos guiar pelo Espírito, vencendo as obras da carne.

8. As pesquisas nos falam no número crescente daqueles que já não mais creem ou praticam a religião que dizem professar. O que, porém, as pesquisas não nos trazem é por quem substituem a Deus os que dizem não crê, e qual a imagem d’Ele têm os que creem.

9. O que é certo e demonstrável é que muitos substituem a Deus pelos ídolos modernos do dinheiro, da produção, do consumo, do poder, domínio político, da ciência onisciente e o progresso técnico. Por aí passa o culto ao corpo e beleza física, o prazer como aspiração prioritária, etc.

10. Se realmente cremos no Deus de Jesus Cristo, temos que reconhece-lo como o Absoluto, como o Deus ciumento que não tolera competidores. Deus não é o ídolo maior entre os ídolos menores, mas o Deus uno e trino, um ser vivo, o único Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e também nosso Pai.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 29 de maio de 2021

(Eclo 51,17-27; Sl 18[19B]; Mc 11,27-33) 

8ª Semana do Tempo Comum. 

“Então eles responderam a Jesus: ‘Não sabemos’. E Jesus disse: ‘Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas” Mc 11,33.

“Não o não saber, mas o não se comprometer afasta de Deus. Os mestres da lei que perguntavam para testar Jesus e procurar prendê-lo se deparam com o dilema de todo seguidor: proclamar que Jesus é o Senhor e aceitar as consequências ou manter um silêncio superficialmente confortável e não tomar partido. Novamente, não é o conhecimento que transforma a vida, pois eles sabiam que o batismo de João era obra dos céus, mas não se deixaram tocar pelo que sabiam ser a verdade. Quanto de Deus nós conhecemos e preferimos vantajosamente ignorar? Todo o testemunho de Jesus foi de acolhida, de misericórdia, de compaixão... Nós preferimos pular toda essa parte, que nos provoca a sair de nós mesmos e ir ao encontro do outro para servir. Enquanto persistirmos nessa morosidade, não podermos conhecer verdadeiramente nosso Deus, não poderemos fazer a experiência do que significa ser filho de Deus, não colaboramos com seu projeto. A autoridade de Jesus vem dessa participação, dessa comunhão trinitária, Deus Pai, Filho e Espírito Santo que age livremente onde quer, sempre em comunidade. Age e reflete nos seres humanos essa forma de agir e de ser. Participar, criar comunhão, construir um mundo mais justo e fraterno, um verdadeiro mundo onde Deus é o Senhor – Reino de Deus – isso é conhecer a verdadeira fonte da autoridade de Jesus: Ele mesmo, em comunhão com o Pai e o Espírito, num projeto trinitário de salvação e santificação. – Queremos, Senhor, reconhecer somente a ti como único valor em nossa vida. Só Tu és bom, a tua bondade é que transforma todas as coisas em boas. Dá-nos reconhecer sempre que tudo conduz a ti, e percorrermos com alegria esse caminho, em cada instante da nossa vida. Amém!” (Clauzemir Makximotiv – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 28 de maio de 2021

(Eclo 44,1.9-13; Sl 149; Mc 11,11-26) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“Tendo sido aclamado pela multidão, Jesus entrou no templo, em Jerusalém, e observou tudo.

Mas, como já era tarde, saiu para Betânia com os doze” Mc 11,11.

“Marcos engastou habilmente uma cena dentro da outra. Estamos novamente diante da assim chamada estrutura em forma de sanduiche que é típica do estilo de Marcos. A primeira cena da maldição da figueira causa dificuldades de entendimento a muitos leitores. A verdadeira intenção de Marcos só se esclarece quando se considera o pano de fundo oferecido pelo Antigo Testamento. Jesus certamente não amaldiçoa a figueira porque esteja aborrecido pelo fato de não poder saciar sua fome com seus frutos. Seria um abuso de seu poder e expressão de uma mentalidade mesquinha. A figueira – com sua copa frondosa, mas sem frutos – é um símbolo de Israel. O profeta Miquéias já se queixava pelo fato de não encontrar frutos na figueira, porque os justos desapareceram do país (Mq 7,1ss). Ligando a maldição da figueira À expulsão dos vendedores do Templo, Marcos mostra que não se trata da figueira em si e sim do próprio Templo: ‘Jesus anuncia o fim da ordem religiosa estabelecida’ (Iersel, 189). Assim como a figueira não carrega de frutos, o Templo também está ressequido com toda ordem religiosa que ele representa. Transformando-se num espaço em que vendedores e cambistas obtêm seus lucros, deixou de ser um lugar de oração e do encontro sincero com Deus. Essa atitude crítica de Jesus com relação ao Templo questiona também nossa própria religiosidade: toda a agitação que se verifica às vezes em torno das coisas sagradas. Quando rezo estou realmente interessado em falar com Deus, ou faço uso de Deus para meu próprio bem? Esse é um perigo que ronda toda religiosidade: servir-se de Deus. Para Jesus, a única espiritualidade que condiz com Deus é aquela que dá frutos e servem de alimento aos seres humanos” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de maio de 2021

(Eclo 42,15-26; Sl 32[33]; Mc 10,46-52) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus saiu de Jericó junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu,

cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho” Mc 10,46.

“Imediatamente antes da descrição da entrada triunfal em Jerusalém e da paixão, Marcos conta o episódio da cura do cego Bartimeu. Um mendigo cego está sentado à beira da estrada pedindo esmolas. Quando ouve que Jesus de Nazaré está passando, começa a gritar: ‘Filho de David, Jesus, tem compaixão de mim!’ (10,47). Os discípulos se irritam. Querem a atenção exclusiva de Jesus, querem conversar com ele. Os gritos do mendigo os estão atrapalhando. As pessoas que acompanham Jesus mandam o mendigo ficar quieto. Mas esse continua gritando mais alto. Fico impressionado com a insistência do pedinte. Comigo costuma acontecer o contrário: quando me negam um pedido, prefiro retirar-me. Procuro, então, ajudar-me a mim mesmo. Mas, muitas vezes, fica um resto de amargura dentro de mim. Bartimeu não para de pedir. Ele chega a enfrentar a resistência das pessoas. Quer ser ouvido. Insiste em seu desejo de voltar a ver e ser visto. Jesus para. Ele ouve o grito do necessitado. A aflição dele passa a ser mais importante do que a conversa com os outros. Ele sente que o mendigo está ansiando realmente por salvação e cura. Manda chama-lo. De repente, as pessoas também mudam de atitude. Como Jesus está chamando o mendigo, deixam a irritação de lado e até passam a incentivar Bartimeu: ‘Confiança! Levanta-se, ele te chama’ (10,49). Bartimeu se desfaz, então, de seu manto, levanta-se num salto e vai ao encontro de Jesus. Já não precisa do manto que o envolveu. Ele larga seus papéis estereotipados, suas máscaras que escondiam seu verdadeiro ser. Indefeso e franco ele se aproxima de Jesus com todas as necessidades e verdades. Apresenta-se como ele é” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 26 de maio de 2021

(Eclo 36,1-2.5-6.13-19; Sl 78[79]; Mc 10,32-45) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus chamou de novo os doze à parte e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele”

Mc 10,32c.

“Justamente após o terceiro anúncio da paixão, em que Jesus descreve em detalhes o que acontecerá com ele, os filhos de Zebedeu se acercam de Jesus pedindo para si um lugar à sua direita e à sua esquerda no Reino de Deus. Estes estão interessados em poder e honra. Aspiram aos lugares de honra no Reino de Deus. Entenderam mal a mensagem de Jesus do Reino de Deus. Nesse Reino não se tratará de nossos poderes e sim da soberania de Deus. Ele deverá ser o centro, e não o ser humano. Os discípulos veem no Reino de Deus algo que se possa possuir. Querem usar Jesus para aumentar seu valor. Mas Jesus os confronta com a própria verdade deles: ‘Não sabeis o que pedis. Podeis beber a taça que vou beber, ou ser batizados com o batismo com que serei batizado?’ (10,38). Jesus faz referência aos sofrimentos que os aguardarão se o seguirem. Seguir Jesus não significa elevar-se acima dos homens, abusando de sua relação com Jesus para sentir-se melhor do que os outros que não o conhecem.  O seguimento inclui a disposição de ser martirizado, de aceitar também as amarguras que Deus me oferece durante o caminho interior. Todo caminho trilhado no seguimento de Jesus leva também ao sofrimento. Sofremos com nossa própria deficiência e sofremos com as pessoas que tantas vezes não nos compreendem” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

  Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 25 de maio de 2021

(Eclo 35,1-15; 49[50]; Mc 10,28-31; Mc 10,28-31) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“... começou Pedro a dizer a Jesus: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” Jo 10,28.

“Cada um experimentará o desprendimento e as dádivas à sua maneira pessoal. Aquele que renunciou aos próprios bens para entrar numa ordem religiosa lidará muitas vezes com muito mais dinheiro do que os seus irmãos. Aquele que tem família e profissão, mas cujo coração não vive agarrado aos bens, muitas vezes experimentará a satisfação de ter o suficiente e de ver ampliar-se seu círculo de amigos. Mas aquele que considera os bens materiais como seu maior valor, nunca estará satisfeito. Nunca receberá toda estima de que necessita. Nunca estará realmente contente. As palavras de Jesus sobre a riqueza são, portanto, um convite a deixar de lado tudo o que nos poderia atrapalhar no caminho do seguimento. Só aquele que ficou interiormente livre compreenderá aonde Jesus pretende leva-lo: ao Reino de Deus, a um espaço em que o homem descobre seu verdadeiro ser, em que Deus mesmo o plasma, tornando-o repleto de sua glória” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 24 de maio de 2021

(Gn 3,9-15.20; Sl 86[87]; Jo 19,25-34) 

Maria, mãe da Igreja.

“Depois disse ao discípulo: ‘Esta é a tua mãe’. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo”

Jo 19,27.

“Nasceu daqui a tradição popular segundo a qual Maria teria acompanhado João até a Ásia Menor e teria falecido em Éfeso. Ainda hoje, a oito quilômetros de distância das célebres ruínas de Éfeso, se ergue sobre um monte, um bosque muito fresco, uma pequena igreja associada idealmente à residência de Maria e João em Éfeso. Mas a hipótese é frágil, até porque a tradição joanina de Éfeso só se pode associar ao Apóstolo de forma indireta, através de uma referência ao seu padroado, valorizado pelos fundadores daquela e das outras igrejas da Ásia Menor. Por isso, seria atendível a tradição da morte de Maria em Jerusalém, atestada aqui pela atual basílica da Assunção situada nas imediações do Getsêmani. Além disso, uma vez que escolhemos considerar o jogo das alusões simbólicas gratas ao quarto evangelista, apercebemo-nos que o termo idia – [‘ter consigo’ (pode significar ‘casa, propriedade, pátria’)] – pode ter um outro valor. No prólogo do evangelho, de fato, o termo indica ‘os seus’, a sua gente, isto é, o povo a que Jesus pertencia: ‘Veio para o que era seu, mas os seus não O reconheceram’ (1,11). E no limiar da morte de Jesus, João introduz a sua narração assim: ‘Sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até o extremo’ (13,1). A frase que encerra a cena do Calvário está, então, carregada de uma ressonância ulterior: Maria e o discípulo não só terão a mesma residência como viverão em comunhão de fé e de amor precisamente como o cristão que acolhe e vive em comunhão profunda com a Igreja sua mãe. Mariologia e eclesiologia entrelaçam-se, portanto, intimamente aos pés da cruz de Cristo” (Gianfranco Ravasi – Os Rostos de Maria – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Pentecostes – Missa do Dia

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3-7.12-13; Jo 20,19-23).

1. “Pentecostes” pode ser uma palavra que ainda ressoe estranhe e enigmática aos nossos ouvidos. Ela nos vem do grego e significa ‘quinquagésimo dia’ a partir da páscoa. É um dia importante para a Igreja, pois recorda o dia em que se deu o evento prodigioso da descida do Espírito Santo sobre a Igreja.

2. A 1ª leitura se refere a este evento com uma serie de imagens que fazem referências ao AT: barulho ou tremor, ventania, fogo, onde se descrevia com as mesmas uma intervenção extraordinária de Deus. Aqui também está colocada a sua relação com a festa hebraica de Pentecostes, onde se celebrava os primeiros dons da colheita e depois passou a se celebrar o dom da Lei de Moisés no Monte Sinai.

3. Nessa ligação dos fatos, afirmamos essa manifestação da força divina que transformou radicalmente os Apóstolos e os fez anunciadores e testemunhas do Evangelho, com todas as suas consequências. O dom do Espírito traz uma linguagem nova que alcança a todos e é capaz de fazê-los um só corpo, um só povo, em Cristo. Referência a Igreja.

4. Esse novo povo é regido por uma lei não tanto exterior, como a de Moisés, mas interior, que vem do Espírito Santo.

5. O Evangelho traz um significado profundo, mais teológico que histórico, para esse acontecimento, sem se ater a questões cronológicas. Ele coloca uma estreita relação entre Pentecostes e Páscoa, para nos dizer que o Espírito é dom do Ressuscitado à sua Igreja, logo no 1º dia da Ressurreição.

6. Ele coloca o dom do Espírito em estreita relação com a missão confiada aos apóstolos e a própria Igreja em continuidade com a missão de Cristo: assim como o Pai me enviou, eu envio vocês. Como tal missão supera a capacidade humana, esta não poderia se dar sem a assistência do Espírito.

7. João vê o dom do Espírito em conexão com esse poder dado aos Apóstolos de libertar o homem da escravidão do pecado e regenerá-lo à vida nova da graça. Mas essa missão da Igreja em favor da humanidade só pode acontecer enquanto nela a força do Espírito Santo.

8. Paulo, na 1ª leitura, desenvolve um discurso mais em linha pastoral, mais personalizado e fala da ação do Espírito na vida de cada crente. Lembra-nos que é Ele que acende em nós a luz da fé. Sem ele não reconhecemos o senhorio de Jesus.

9. O Espírito enriquece cada fiel com dons particulares (carismas) para o crescimento da comunidade. O faz membro do Corpo, que é a Igreja, eliminado toda e qualquer distinção de raça, condição social, etc.

10. De tudo isso devemos compreender que o Espírito Santo é uma realidade permanente na Igreja, goza sempre de sua assistência. Que devemos ser serenos e confiantes, apesar das provas e tempestades que se levantam nela e contra ela. Sem perdemos de vista esse deixar-se guiar pela Igreja.

11. Compreender a necessidade desse Espírito de unidade, para que vença em nós toda discórdia ou divisão. Que cada um recebeu seus dons do Espírito Santo. Mas será que os reconhecemos? Será que sabemos agradecer? Será que os colocamos a serviço dos outros?

12. Também nós somos chamados a ser testemunhas de Cristo e do seu evangelho em nossa busca da santidade pessoal e por nossas obras. Por tudo isso, busquemos nutrir uma devoção particular ao Espírito Santo, porque sem ele nada podemos fazer, sem sua luz, sem sua força, sem sua consolação.  (Vem Espírito, oh, vem Espírito...). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 22 de maio de 2021

(At 28,16-20.30-31; Sl 10[11]; Jo 21,20-25) 

7ª Semana da Páscoa.

“Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: ‘Senhor, o que vai ser deste?’” Jo 21,21.

“Pedro queria saber como seria o futuro discípulo que Jesus amava. Mas Jesus lhe respondeu: ‘Que te importa?’ (21,22). Não adianta especular sobre a duração da minha vida, sobre o seu sucesso ou fracasso. O que importa é apenas que eu siga Jesus e viva o seu amor. O resto não tem importância. O sucesso da vida depende da disposição de deixar que Jesus me abra os olhos para o mistério do amor. Na tradução ecumênica, as palavras de Jesus em 21,22 rezam: ‘Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa?’ Traduzindo a expressão grega ‘heos erchomai’ com mais precisão, deveríamos dizer ‘enquanto venho’ e não ‘até que venha’ (cf. SANFORD, 1977, p. 211s, v.2). O discípulo amado representaria, então, uma outra maneira de seguir Jesus. Pedro é o ativista que quer proclamar ativamente a mensagem de Jesus. O discípulo amado não modifica o mundo por meio de suas ações, e sim por meio do seu ser, mantendo-se aberto para Cristo, que vem a ele a todo momento para morar com ele. Sanford cita Allan Anderson que diz a respeito dessas pessoas: ‘Um homem desse nada faz, mas tudo é feito’ (ibid., 212). Se esta tradução for correta, e segundo a gramática grega ela o é, então o discípulo amado representa o místico que vive totalmente o instante presente experimentando em cada momento a vinda do Cristo dentro de sua alma” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 21 de maio de 2021

(At 25,13-21; Sl 102[103; Jo 21,15-19) 

7ª Semana da Páscoa.

“[...] e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’” Jo 21,15a.

“No texto grego, Jesus pergunta, nas duas primeiras vezes, pela ágape de Pedro, isto é, pelo amor ouro e desapegado, pelo amor que é livre do ego e da intenção de apossar-se do outro. Nas duas vezes Pedro responde: ‘Senhor, tu sabes que eu te amo’ (philo se). Philia é o amor que se devota ao amigo. Pedro não pretende afirmar que ama Jesus com um amor puro. Mas ele pode dizer que o ama como a um amigo, que se sabe atraído por ele, que procura sua amizade. Na terceira pergunta, Jesus troca de palavra, perguntando então: ‘Phileis me?’, isto é, você me ama como amigo? Você é meu amigo? Pedro se entristece, porque a terceira pergunta o faz lembrar-se de sua traição, e mais, porque Jesus, usando essas palavras, está pondo em dúvida a sua amizade. Essa amizade não teria sido contaminada por outras intenções, como, por exemplo, pelo desejo de ser alguém especial pelo fato de ser amigo de Jesus, de sobressair entre os demais? Pedro responde: ‘Senhor, tu conheces todas as coisas, bem sabes que eu te amo’ (21,17). Pedro abre o seu coração aos olhos de Jesus. Jesus vê tudo. A covardia, o medo, a apropriação egocêntrica. Mas ele enxerga também o que há por baixo de toda a sujeira, no fundo do coração. E lá descobre o amor. Jesus sabe identificar o amor, mesmo em nossa covardia, em nossas agressões, em nosso entusiasmo tantas vezes superficial. Pedro se sente desmascarado. Não pode enganá-lo. Ele sabe o quanto a sua amizade é ofuscada por outras motivações. Mas ele sabe também que há um elemento genuíno e puro em seu amor. Ao menos o desejo de sentir esse amor autêntico. O desejo do amor de Jesus não pode ser falseado. E Pedro insiste em afirmar esse amor puro que ela sabe existir no fundo do seu coração. Por isso a Ressurreição significa, para nós também, oferecer a Jesus toda a nossa verdade e acreditar, apesar disso, no amor puro que mora no fundo de nosso coração” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 20 de maio de 2021

(At 22,30; 23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 

7ª Semana da Páscoa.

“Pai, aqueles que me deste, quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória, glória que tu me deste porque me amaste antes da fundação do universo” Jo 17,24.

“Estejam comigo... Jesus toca favoravelmente no maior desejo do homem, ligado ao desejo de viver para sempre. Quem está em Deus não pode estar morto, porque Deus não é um Deus dos mortos, mas dos vivos (Mt 22,32). Jesus pede uma solução para a eterna saudade do céu, inata em cada coração. E a melhor de todas as soluções: que o homem esteja onde Deus está. Ou, como Jesus diz no mesmo discurso da Última Ceia: ‘Que todos sejam um com Ele e o Pai’ (17,22). Para o maior dos desejos, a melhor e mais completa das soluções. Estive ao lado do grande poeta simbolista Tasso da Silveira (+ 3.12.1968) momentos antes de sua Páscoa. Tinha lhe dado o Viático. Ele segurava minhas mãos com toda força que lhe sobrava e me pedia: ‘Ajude-me a viver!’. Na verdade, este é o único pedido verdadeiro que merece ser feito. Porque, com ele, virão as respostas a todos os outros desejos. No momento em que o médico recolhe seus aparelhos e sua ciência, no momento em que os amigos escondem forçadamente as lágrimas de despedida, chega Jesus para dizer com certeza divina: ‘Quero que estejas onde eu estou. Quero que vivas da vida minha e de meu Pai. Quero que a glória (= imortalidade) que me envolve te envolva também!’. E a vida terrena, que fora toda amarrada de contínuos e, às vezes, sofridos e cansativos recomeços, conhece a grande novidade do mergulho definitivo para dentro de Deus, tornando-se ‘participante da natureza divina’ (2Pd 1,4). O sonho da imortalidade deixa de ser sonho para ser a mais linda das realidades – Senhor Jesus, ajuda-me a viver! Já não te peço prolongar os meus dias misturados de noites e sol, te peço seres o meu eterno dia, onde a luz do teu amor seja a minha plena felicidade e eu possa ser um contigo e com o Pai. Amém (Clarêncio Neotti – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 19 de maio de 2021

(At 20,28-38; Sl 67[68]; Jo 17,11-19) 

7ª Semana da Páscoa.

“Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste,

para que eles sejam um assim como nós somos um” Jo 17,11.

“A unidade do grupo dos discípulos foi uma preocupação contínua de Jesus. Ele não teve a ilusão de ter convocado um grupo de perfeitos, capazes de resistir às solicitações do mal. Também os seus discípulos seriam vítimas da mentalidade mundana desagregadora, pois não estavam imunes do egoísmo. Jesus incentivou a buscarem a mesma união que havia entre ele e o Pai. Os discípulos deviam viver unidos, como eram unidos Jesus e o Pai. Essa união consistia na comunhão das vontades: o querer de ambos estava em perfeita sintonia. Nenhum traço de exclusivismo, competição, inveja havia entre eles. Os objetivos das ações de ambos se conjugavam. Nada havia que pudesse criar ruptura entre eles. Este projeto de unidade, evidentemente, coloca-se como ideal para a comunidade dos discípulos. Mesmo que o egoísmo e o pecado possam imiscuir na vida deles, a unidade Pai-Filho permanece, quer para questionar-lhes a divisão, quer para indicar para onde devem caminhar. Já na comunidade primitiva aconteceram casos de quebra de unidade. Um dos discípulos se comportou como filho da perdição, rompendo com o grupo. A implementação do projeto de Jesus, porém, exige comunidades que testemunhem a unidade. – Senhor Jesus, possa eu colocar-me a serviço da unidade, a exemplo daquela que existe entre ti e o Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de maio de 2021

(At 20,17-27; Sl 67[68]; Jo 17,1-11) 

7ª Semana da Páscoa.

“Tudo o que é meu é teu, e tudo que é teu é meu. E eu sou glorificado neles” Jo 17,10.

“A intimidade e a total reciprocidade entre o Pai e o Filho permite uma troca completa. Ninguém retém nada para si, mas o entrega totalmente ao outro. Somente uma coisa não é permutável, pois ela é condição para qualquer comunhão e troca: o fato de o Pai ser Pai e o fato do Filho ser Filho. Por mais que eles se identifiquem e queiram ser uma coisa só, cada qual guarda a sua identidade. Um não é o outro. Caso contrário, como seria possível a comunhão? As Pessoas divinas são diferentes para poderem se inter-relacionar e na inter-relação se unirem a ponto de, continuando diferentes, se uni-ficarem, quer dizer, ficarem um só Deus. Assim o Pai representa o mistério insondável, o Filho participa desta abissalidade. Ele co-existe eternamente com o Pai. O Filho não é apenas a Palavra do Pai, mas também a Palavra para o Pai, palavra de amor e de inteligência. Essa troca não se restringe ao Pai e ao Filho. Ela se abre para fora e nos insere. A própria criação com toda a sua majestade, ordem, criatividade, diversidade e unidade espelha a riqueza do próprio mistério de comunhão trinitária. Por isso Jesus diz que em nós é glorificado. Todos filhos e filhas no Filho. – Senhor, alegra-nos incomensuravelmente saber que participamos da vida do Pai, do Filho e do Espírito Santo num jogo sem fim de amor, de troca e de comunhão. Que o Espírito nos dê a força de estendermos esta comunhão a todas as criaturas do universo, a começar pelos mais excluídos e marginalizados. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 17 de maio de 2021

(At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29) 

7ª Semana da Páscoa.

“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações.

Mas tende coragem! Eu venci o mundo!” Jo 16,29-33.

“O mundo não é sinônimo de maldade ou de coisas ruins, que afastam de Deus. Mundo é criação de Deus, e a criação toda é boa! Mundo é o contrário de i-mundo. É lugar da vida, de oportunidades e realizações também. Mas é apenas isso, um lugar, criação, dom a ser cultivado e responsabilidade nossa. Não algo a contrapor ou desafiar Deus e sua soberania sobre a nossa vida! E quantas vezes nós demonizamos o mundo! Por outro lado, é no mundo que vivemos nossa realidade de limitação, de fragilidade. E isso que faz parte de nossa natureza não deve ser negado ou mesmo vencido no sentido agressivo da palavra. Nossa limitação é o que nos faz humanos, junto com nossa tendência para o divino. Mas é aqui no mundo que temos de fazer nossas escolhas, cultivar em nossa vida os valores que até mesmo transformam nossa vida, e o lugar onde ela é vivida. Em outras palavras, temos de transformar o mundo num lugar melhor! Mais justo, mais fraterno, mais e mais Reino de Deus! A aflição de nossa fraqueza é necessária para nos levar não à sua superação, mas à constatação de que é nessa fraqueza que Deus abunda, e que, na verdade, não somos fracos por não darmos conta de tudo, mas somos fortes por continuarmos dando nosso melhor contando sempre com Deus, e atribuindo a Ele todo mérito. Vencer o mundo não é abominá-lo nem abandoná-lo. Não abandonamos nossa casa. Nós a assumimos e a transformamos numa casa melhor. Nesse projeto, o que mais conta para a transformação é a mudança em nossos corações. – Deus, Pai e Senhor, que preparaste para teu Filho uma morada digna junto à família de Nazaré, dá-nos o discernimento necessário para não nos escondermos com desculpas e acusações contra o mundo à nossa volta, mas faze que assumamos nosso papel de protagonistas na construção de teu Reino de Amor e Justiça, nossa verdadeira casa paterna. Não um outro mundo, mas um mundo novo. Amém! (Clauzemir Makximouvitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Ascensão do Senhor – Ano B

(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20)

1. Dentro dessa pedagogia catequética da fé, celebramos hoje a Ascensão do Senhor. Essa passagem de Jesus ressuscitado para a glória do Pai que não é outra coisa senão o aspecto plenificante do acontecimento único que é o mistério pascal de Cristo.

2. Com essa festa duas coisas temos que ter presente, uma com respeito a Jesus: Ele é constituído, pelo Pai, Senhor do universo e da história, cabeça da nova humanidade e da Igreja que é seu corpo e sua plenitude. A outra com respeito a nós: o mandamento missionário, o envio para evangelização e testemunho.

3. A expressão “sentou-se a direita de Deus Pai”, que passou para o nosso credo, evidencia o pleno poder salvador de Jesus em igualdade com o Pai e o Espírito como Deus que é. Paulo apresenta esse mistério para nós na 2ª leitura.

4. No texto que acabamos de escutar, acolhemos claramente esse mandato de caráter universal, e não meramente local, para levar a Boa-Nova. A fé conduz ao batismo como expressão da mesma. Mas há uma condenação para aqueles que resistem à mensagem, mesmo tendo sido tocados por ela.  

5. A missão se dá em dois tempos: anúncio e sinais. O anúncio direto e o testemunho pessoal e comunitário mediante os sinais de libertação. Em ambos os setores Jesus está presente com a ação de seu Espírito. Ele não se ausenta do mundo e da comunidade eclesial; somente muda, hoje em dia, seu modo de presença.

6. Esse anúncio direto se dá por todos os meios ao nosso alcance: palavra, liturgia, meios de comunicação social, literatura, arte, festas, convivência. Anúncio respeitoso com a pessoa, no estilo de Jesus; sem impor; sem ameaçar, mas ofertando a salvação que liberta.

7. O anúncio e a palavra devem vir acompanhados, como fez Jesus, com o testemunho eficaz dos sinais, isto é, com o compromisso dos cristãos pela promoção integral do ser humano, partindo de sua dignidade de pessoa e condição de filho de Deus e irmão dos demais.

8. “A celebração da Ascensão do Senhor urge-nos a passar da comodidade dos bons sentimentos à realidade dos fatos, mesmo chegando a complicar nossa vida por amor de Cristo e dos irmãos mais oprimidos. Somente assim cumpriremos como discípulos de Jesus a tarefa de tornar real hoje em dia em nosso mundo o Cristo, esperança e salvação de Deus para o homem” (Basilio Caballero – Nas Fontes da Palavra - Santuário).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 15 de maio de 2021

(At 18,23-28; Sl 46[47]; Jo 16,23-28) 

6ª Semana da Páscoa.

“Eu sai do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai” Jo 16,28.

“Qual é o sentido secreto da vinda do Filho para este mundo? Os cristãos nunca deixaram de perguntar. Certamente para nos redimir e libertar de tudo aquilo que nos apequena diante de Deus e de nós mesmos. Mas há ainda um motivo mais profundo. O Filho veio ao mundo porque quis engradecer o mundo. Quis que o mundo não permanecesse apenas criação que revela a grandeza de Deus. Quis que o mundo fosse o templo da divindade e se transformasse no próprio corpo da SS. Trindade. O mundo pela encarnação começa a pertencer também à realidade divina. Através do Filho o mundo é entronizado dentro do mistério da Trindade Santa. E de lá jamais sairá. Mesmo que, por hipótese absurda, o universo voltasse ao nada ou chegasse à morte térmica, mesmo assim algo dele, a santa humanidade de Jesus e de Maria, assunta em corpo e alma ao céu, está definitivamente garantida pela eternidade afora. Estamos agora na fase da volta à fonte originária de onde viemos. Depois de haver divinizado o universo por sua encarnação e ressurreição, Jesus atrai tudo a si e o entrega ao Pai. Um pouco mais e mais um pouco estaremos todos na casa bem-aventurada da SS. Trindade. – Oh Deus, faze que mantenhamos sempre vivo o horizonte de nossa esperança, de um dia ingressarmos com todo o universo na Tua casa para sermos uma única família comendo da mesma mesa e bebendo da mesma fonte que sois vós, Vida eterna. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 14 de maio de 2021

(At 1,15-17.20-26; Sl 112[113]; Jo 15,9-17) 

São Matias, apóstolo.

“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” Jo 15,12.

“Amai-vos uns aos outros [...]”. Falar é fácil, difícil... de fato, para Jesus era fácil repetir essa frase até à exaustão. Ele era Deus, tinha todo o poder no céu e na terra. Ninguém poderia contradizê-lo. Então, tudo bem: amai-vos uns aos outros, a fim de papo. Amai-vos. O ‘amai-vos uns aos outros’, porém, não tinha essa conotação vertical, dura hierárquica. Jesus falou como um mestre e amigo a amigos íntimos. Não deu uma lei no sentido comum de que a lei mata, ou seja, ou cumpre totalmente, ou morre. Jesus deu mais um conselho a quem já decidira cumpri-lo. Afinal, já estavam com Ele há três anos, já tinham visto seus milagres e ouvido suas palavras. Nada mais natural que dissesse tais palavras com sua habitual entonação: ‘amai-vos uns aos outros’. Mas o ‘amai-vos uns aos outros’ tinha um outro componente: ‘assim como eu vos amei’. Esse fim de frase não era apenas um rabicho inconsequente, uma espécie de flor de estilo. De jeito nenhum! Era a essência do seu amor. Sendo assim, logo nos perguntamos: Qual era o tipo de amor de Cristo? Era um amor simplório, babaca, pronto a marcar festinhas pescarias no mar da Galileia? Ou era um amor grave, pegajoso, pronto para subir numa cruz em favor dos discípulos? Qual era a espécie de amor que Ele tinha aos seus discípulos? É bem verdade que a cruz ainda não havia acontecido. Até o momento era ela apenas um instrumento de morte, e só os bandidos a experimentavam. Mas a cruz rondava o horizonte. A oposição a Jesus era algo muito forte, e Jesus a provocava: expulsão dos vendilhões do Templo e mil e uma discussões com fariseus e saduceus. E, pelo andar da carruagem, a cruz ia se aproximando. – Senhor Jesus, ao nos mandares amar-nos uns aos outros, certamente querias um amor efetivo, um amor que não recuasse diante de nada e não recusasse nenhum tipo de serviço. Perdoa-nos por sermos tão reticentes e reflete em nossos olhos a tua cruz. Amém (Martinho Lutero Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).    

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 13 de maio de 2021

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 

6ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará.

Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” Jo 16,20.

“Segundo S. Paulo há dois tipos de tristeza. A tristeza segundo Deus e a tristeza segundo o mundo (2Cor 7,10). A tristeza segundo Deus é benfazeja. Ela surge quando nos damos conta dos nossos pecados. Sofremos com nossas misérias, algumas insuperáveis. Mas confiamos em Deus e nos arrependemos. Ela se converte em alegria porque nos é garantido o perdão e a reconciliação com Deus. A tristeza segundo o mundo é aquela que é fruto do gozo insensato, da alegria feita de consumo de bens meramente materiais, da entrega às paixões menores. O que parece alegria se converte em tristeza porque deixa o vazio, o sentimento de irrealização e de frustração. Nada neste mundo nos é dado sem um preço a ser pago. As virtudes custam renúncias. O seguimento do evangelho implica denúncias contra desmandos neste mundo que podem nos trazer aborrecimentos e perseguições. Mas se nos mantivermos firmes e perseverantes, saboreamos em alegria que só a coerência da fé nos pode conceder. Ela nasce de dentro, a partir da fidelidade na opção e na transparência de nossas intenções. É desta alegria que Jesus nos fala e que ele promete a seus seguidores. – Senhor, que nossa alegria seja consequência de nossa luta contra nós mesmos, contra o que é menor em nosso coração e que seja fruto de nosso compromisso com o Evangelho da libertação. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 12 de maio de 2021

(At 17,15.22—18,1; Sl 148; Jo 16,12-15) 

6ª Semana da Páscoa.

“Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará” Jo 16,14.

“Na mensagem de Jesus nem tudo é explícito. Ela é como uma semente. Está cheia de potencialidade, muitas vezes, insuspeitadas. Vendo-se a semente não se adverte da grandiosidade da árvore contida germinalmente nela. Cabe ao Espírito conduzir os discípulos na descoberta das riquezas da prática de Jesus e do seu evangelho. Ele toma do que é de Jesus e abre os horizontes de sua compreensão que poderá vir séculos após. Demos apenas um exemplo. Jesus fala no evangelho: eu e o Pai somos uma coisa só; noutro lugar se diz que uma energia saia de Jesus que até surpreendia e que curava as pessoas, como a mulher do fluxo de sangue. A comunidade dos discípulos, especialmente no século III e IV, compreendeu claramente que aqui se tratava da SS. Trindade. Na figura de Jesus se encontra revelado esse mistério fontal do cristianismo. Ele se dirige sempre a Deus como a seu pai. Quem diz Pai se sente Filho. Essa é a consciência de Jesus. Da vida, da palavra e da prática de Jesus se irradia uma força que transforma as pessoas. Era a presença do Espírito nele. Só depois de muita reflexão e discussão os cristãos conseguiram formular corretamente o mistério da SS. Trindade: três pessoas divinas, distintas, mas unidas pelo amor e pela interpenetração de umas com as outras a ponto de se uni-ficarem e ficar um só Deus-comunhão e um só Deus-amor. Eis a obra do Espírito: tomar do que é de Jesus e dá-lo a conhecer em seus desdobramentos ainda abertos para o futuro. – Oh Espírito de luz e de todo conhecimento: abre-nos a mente para as profundidades do mistério da comunhão divina. Mas infunde-nos principalmente o amor que nos une ao que compreendemos para podermos também participar da comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 11 de maio de 2021

(At 16,22-34; Sl 137[138]; Jo 16,5-11) 

6ª Semana da Páscoa.

“Paulo e Silas responderam: ‘Crê no Senhor Jesus, e sereis salvos tu e todos os de tua família’” At 16,31.

“Fácil. Facílimo. O maior problema da humanidade resolvido, assim num piscar de olhos: crer, só crer. Aquele carcereiro da cidade de Filipos, homem duro, severo, com certeza ignorante dos direitos humanos e, ainda que os conhecesse, transgressor usual deles, em palavras afiadas e chicotadas ainda mais agudas, se vê em extrema dificuldade quando, após o terremoto, imagina os prisioneiros fugindo e tenta matar-se, pois o dever do carcereiro era manter os prisioneiros na cadeia custasse o que custasse. Não fazê-lo era morte certa. E, então, vendo a cadeia aberta, apavorado, mas vendo igualmente os prisioneiros no lugar, faz a pergunta mais angustiante: ‘Senhores, o que devo fazer para me salvar?’ Fácil, diriam os missionários. Crê – só isso. Nada mais que isso. Mas essa facilidade é apenas a ponta do iceberg que é a salvação. Sobre essa questão, Jesus já havia dito que o impossível para os seres humanos é possível para Deus (Mt 19,26). E esse possível é o amor, é a graça, que o próprio Jesus revelara a Nicodemos: ‘Deus amou tanto o mundo que entregou o Filho Unigênito para que todo aquele que crer nele não pereça, mas tenha a vida eterna’ (Jo 3,16). É tudo graça, apenas graça. Mas, se a graça é fácil, ela não é barata. Ela assume dimensões trágicas ao verificarmos que ela custou a Deus e a seu Filho a morte deste na cruz. Deus e seu Filho se empenharam totalmente na salvação da humanidade. O Cristo de Deus se sacrificou no madeiro para nos libertar de nossa culpa. Nada, pois, que possamos fazer a não ser aceitar, a não ser crer. E crer plenamente! Esse crer por inteiro significa uma aceitação real, uma transformação operada pelo Espírito Santo, uma vivência dessa fé, o que, às vezes, é tão difícil que se torna para nós impossível se não fosse a graça divina, que nos envia o seu Espírito para nos assistir em todos os momentos. – Senhor, tudo o que nos dá é graça. Dá-nos, portanto, a graça de não transformar-nos essa graça numa desgraça ainda maior. Amém (Martinho Lutero Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 10 de maio de 2021

(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Quando vier o Defensor que vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai,

ele dará testemunho de mim” Jo 15,26.

“Jesus havia advertido os discípulos para a tentação de sentirem órfãos e desamparados. Ao longo da missão, eles não teriam mais a presença física de Jesus, que lhes fora, outrora, um referencial importante. A condição de ressuscitado exigia dos discípulos reformularem sua forma de se relacionar com ele. A presença física do Mestre fora substituída pela presença espiritual. Antevendo o risco que corriam, Jesus havia prometido aos discípulos enviar-lhes, de junto do Pai, o Defensor que estaria sempre junto deles, dando-lhes força para perseverarem no testemunho. O Espírito Santo reforçaria a fé dos discípulos. Reforçaria também a compreensão de tudo o que o Mestre lhes tinha ensinado, levando-os a perceber as reais dimensões de sua fé. Seguros de não estarem crendo em vão, os discípulos se predisporiam a dar um testemunho, mais e mais autêntico, do Senhor. O Defensor é o Espírito da Verdade que livra os discípulos do erro. Impede-os de cair nas ciladas do mal. Preserva-os do engano no qual o mundo os quer enredar. Alerta-os diante da possibilidade de serem levados pela mentira dos inimigos do Reino. Este dom é indispensável ao discípulo em missão, para que não perca o rumo de sua ação. O Defensor, em última análise, é o Espírito do Pai caminhando, com os discípulos do Filho Jesus – Senhor Jesus, que o Defensor, enviado por ti de junto do Pai, esteja sempre comigo, ajudando-me a realizar a missão de maneira autêntica e frutuosa (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

6ª Semana da Páscoa – Ano B

(At 10,25-26.34-35.44-48; Sl 97[98]; 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17)

1. No domingo anterior, sob a imagem da videira e dos ramos, meditávamos sobre essa comunhão vital do discípulo com Cristo e a fecundidade dessa relação depende do permanecer do discípulo em Cristo. Hoje aprofundamos esse permanecer falando do “como” ele se dá.

2. Esse permanecer se dá no amor e no amar que tanto insiste o texto. Permanecer no amor de Jesus e amar os irmãos e irmãs. Esse se dá numa dinâmica progressiva e paralela. Esse amor que existe entre o Pai e o Filho chega aos discípulos por Cristo, e do discípulo ao irmão.

3. O amor e a obediência cristãos não se excluem, mas um depende do outro, daí a necessidade de guardar os mandamentos básicos de Cristo. Não se deve entender o mandamento de amar como uma lei imposta de fora, mas como uma resposta e necessidade que brota de dentro, do amor que temos recebido de Deus.

4. Esse mandamento do amor que Jesus nos dá contém um evangelho, uma alegre notícia, porque significa a resposta natural e agradecida, própria dos bens nascidos, a um amor que nos precedeu primeiro: o de Deus e de Jesus a cada um de nós, como nos recorda a 2ª leitura.

5. Esse amor tem uma medida prévia: aquele de Jesus, que vai até as últimas consequências. Assim, conhecendo Jesus, e consequentemente os seus mandamentos, não temos um outro caminho se não o do amor que Ele nos ensinou. Esse se prova nas relações que estabelecemos com o próximo.

6. Ao lado de seu preceito de amor, Cristo nos dá também a sua alegria e sua amizade. Ambas nascem dessa obediência que é comunhão de vida com Ele pelo amor. Um amor de amigos que conhecem os segredos do Mestre, que se deixaram escolher por Ele, para que a nossa vida produza frutos duradouros.

7. O tempo pascal é marcado por essa alegria que o Ressuscitado nos comunica. A impressão é que não há muita gente feliz de verdade e que são raras as pessoas profundamente alegres que contagiem humor jovial.

8. “Todos nós ocultamos no fundo do coração uma insatisfação, uma falta de felicidade, talvez uma amargura e uma tristeza. Por que? Deixando de lado as razões filosóficas e solenes que apontam para a radical limitação humana, há motivos mais próximos e menos confessados: o vazio interior, a imaturidade pessoal, a incapacidade de entrega; numa palavra: a ausência de amor. Aquele que não ama e não se sente amado, está arruinado como pessoa. Mas Deus sempre nos ama e nos mostra como podemos amar. Peçamos ao Senhor uma boa dose de gozo pascal. Precisamos tanto dele!” (Basilio Caballero).

9. Uma alegria que não está isenta do sacrifício e doação. Talvez, nesse sentido, Cazuza tinha razão em cantar: ‘Só as mães são felizes’.   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 8 de maio de 2021

(At 16,1-10; Sl 99[100]; Jo 15,18-21) 

5ª Semana da Páscoa.

“Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo,

porque eu vos escolhi a apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia” Jo 15,19.

“Há mundo e mundo. Há o mundo como criação boa de Deus para o qual o Pai enviou o seu Filho. E há o mundo como o complexo organizado da maldade dentro da criação, mundo que Deus não criou nem quer. Face a este mundo se opõe Jesus e sua mensagem. É como o Reino e o anti-reino, o Cristo e o anti-Cristo. Reino é política de Deus na criação visando seu resgate e toda plenificação no seio da Trindade. E há o anti-Reino que são as forças organizadas na história que se opõem a esta política de Deus, o diabólico se contrapõem ao simbólico. Pregar o Reino num ambiente de anti-Reino é contar com a maledicência, o ódio e o martírio. Jesus e seus discípulos viveram este destino. Jesus adverte com razão: o mundo vos odeia. Mas eis a estratégia de Cristo: tira seus discípulos do mundo-pecado para atirá-los mais profundamente dentro dele numa missão de denúncia profética, de redenção e de libertação. É como enviar as ovelhas no meio dos lobos. Elas poderão ser devoradas. Mas os lobos não têm poder sobre o sentido desta morte. É uma morte martirial que abre caminho para uma vida como aquela da ressurreição de Jesus. Diz um texto de certo evangelho apócrifo: ‘Senhor, é bom que nos envies como ovelhas no meio de lobos. Mas se os lobos nos comerem? Respondeu Jesus: se os lobos vos comerem, então não tereis mais medo’. É uma resposta de quem cobra uma fé de total entrega. Podemos ser comidos pelas forças do anti-Reino e do anti-Cristo, mas nossa vida será conservada e será ressuscitada como aquela de Jesus. O lobo pode se apoderar da vida, mas não é senhor da morte. Cristo é senhor sobre a morte e venceu. – Senhor, não Te pedimos que nos livres das ondas perigosas, mas que nos dê forças para enfrenta-las e sermos mais fortes que elas. Conserve-nos sempre na vida mesmo na morte e para além dela. Amém (Leonardo Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).     

Pe. João Bosco Vieira Leite