Quinta, 14 de maio de 2020

(At 1,15-17.20-26; Sl 112[113]; Jo 15,9-17) 

5ª Semana da Páscoa.

“E eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” Jo 15,11

“A bíblia começa pela alegria divina: ‘Deus viu tudo que tinha feito: era muito belo e muito bom’. O Evangelho começa pela anunciação: ‘Ave gratia plena’. No Oriente, no dia da Anunciação, cada um compra uma gaiola com pássaros cativos e os liberta, afim de associar à alegria dos homens uma alegria cósmica: ‘Que toda criatura que respira dê graças ao Senhor’. O anjo diz aos pastores: ‘Eu vos anuncio uma grande alegria’, o Cristo afirma: ‘Eu vos digo isto para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja perfeita’. Deus faz dom ao homem da sua própria alegria, e esta é, sem dúvida, alegria sobre alegria. Alegrai-vos e adorai. O ‘Memorial’ de Páscoa inscreve em letras de fogo trinitário: ‘alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria’... O Livro de Daniel (3,23-30) conta a história de três jovens lançados na fornalha. Entre os três, ‘que passeiam no fogo, sem que lhes aconteça mal’, aparece o misterioso quarto, que tem ‘o aspecto dum filho dos deuses’. Em resumo, é todo o mistério da Encarnação e da Salvação, o mistério da presença do Outro divino ao lado do homem... O Espírito Santo faz desvanecer as trevas da morte, o temor do julgamento, o abismo do inferno. A luz sem declínio faz da noite pascal um ‘festim de alegria’. Uma homilia de S. João Crisóstomo lida nas matinas de Páscoa, cantou admiravelmente – ‘O Senhor é generoso, recebe o último como o primeiro, admite o operário da undécima hora, como aquele que trabalhou desde o princípio... Entrai, pois, todos, na alegria do vosso Senhor: recebei a recompensa, tanto os primeiros como os segundos; ricos e pobres, jubilai juntos: os abstinentes, os preguiçosos, honrai este dia. Vós que jejuastes, e vós que não haveis jejuado, alegrai-vos hoje. Ninguém lamente a pobreza, ninguém chore as suas faltas, ninguém tema a morte. O festim está pronto: participai dele todos. Todos se deleitem com a banquete da alegria’. Sim, em verdade, tudo pode desaparecer, como se pode esquecer, salvo essa palavra de fogo do Senhor, que fica: ‘Eu vos digo isto para que a minha alegria seja em vós, e a vossa alegria seja perfeita’” (P. Evdokimov – La Connaissance de Dieu selon la tradition orientale – Ed. Beneditina Ltda.).

 

Santo do Dia:

São Matias, apóstolo. Matias, “dom de Deus”, foi agregado aos Doze, tomando o lugar vago deixado pela deserção de Judas Iscariotes. A sua eleição foi mediante sorteio, após a Ascenção do Senhor, pela proposta de Simão Pedro, que em poucas palavras fixou os três requisitos para o ministério apostólico: pertencer aos que seguiam Jesus desde o começo, ser chamado e enviado (1ª Leitura do dia). A eleição de Matias por sorteio pode causar-nos espanto. Tirar a sorte para conhecer a divina vontade é um método muito conhecido na Sagrada Escritura. A própria divisão da Terra Prometida foi mediante sorteio; e os apóstolos julgaram oportuna conformidade com esse costume. Nada se sabe de suas atividades apostólicas, nem se morreu como mártir ou morte natural, pois as narrações a seu respeito pertencem aos escritos apócrifos. À tradição da morte por decapitação com um machado se liga o seu patrocínio especial aos açougueiros e carpinteiros. Sua festa celebrada por muito tempo a 24 de fevereiro, para evitar o período quaresmal foi fixada pelo novo calendário a 14 de maio, data certamente mais próxima do dia da sua eleição.

  Pe. João Bosco Vieira Leite