Sábado, 31 de agosto de 2019

(1Ts 4,9-11; Sl 97[98]; Mt 25,14-30) 
21ª Semana do Tempo Comum.

Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou os seus empregados e lhes entregou seus bens.
A um deu cinco talentos, a outro dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade.
Em seguida viajou” Mt 25,14-15.

“A parábola dos talentos desperta em muitos ouvintes indignação. Instintivamente, eles sentem pena do terceiro servo, porque recebeu apenas um talento e ainda por cima é castigado. Jesus os convida propositalmente a se solidarizar com o terceiro servo para que possa abrir-lhes os olhos para a única maneira de realizar-se de fato na vida. Quando enterramos o nosso talento, como fez o terceiro servo, recusamo-nos a viver. Muitas vezes, os intérpretes abusaram dessa parábola. Houve professores que recorressem à parábola para incentivar os alunos a dar mais de si, aproveitando melhor os seus talentos. Mas, nessa parábola, Jesus não está interessado no rendimento, e sim no tema da confiança e do medo. Os dois primeiros servos fizeram render os talentos que o senhor lhes confiara. Eles não são premiados por seu esforço, e sim pela confiança. Quem trabalha com dinheiro corre sempre o risco de perde-lo. Não há mercado financeiro sem risco. Quem teme o risco enterra o seu talento como fez o terceiro servo” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de agosto de 2019


(1Ts 4,1-8; Sl 96[97]; Mt 25,1-13) 
21ª Semana do Tempo Comum.

“O reino dos céus é como a história das dez jovens que pegaram as suas lâmpadas de óleo
e saíram ao encontro do noivo” Mt 25,1.

“Dificilmente uma outra parábola terá provocado tanta repercussão na exegese e na história da arte quanto a das dez virgens. A representação mais antiga das dez virgens encontra-se em Roma, num afresco do século IV. A arte românica e gótica visualizava as virgens prudentes e insensatas sobretudo nos portais dedicados a Nossa Senhora. Tanto as virgens prudentes quanto as insensatas davam aos leitores e observadores a oportunidade de se identificar com elas. A parábola alude a costumes nupciais judaicos. Mas há nela também elementos que não combinam com os rituais nupciais daquele tempo, por exemplo, o fato de a porta ser fechada. Há diversas maneiras de interpretar a parábola. Posso vê-la como uma descrição do juízo final ou de meu encontro com Cristo, o noivo, na minha morte. A parábola me recomenda, nesse caso, a viver conscientemente e a estar preparado para a vinda do Senhor. Mas posso interpretar a parábola também como referência à vinda de Jesus em qualquer momento. Quando Jesus chega, ele celebra o casamento comigo, e então fico completamente um comigo mesmo, porque se realiza a convergência dos meus antagonismos: homem e mulher, luz e trevas, dia e noite, Deus e homem. Será a festa da minha auto realização” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de agosto de 2019


(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29)
Martírio de São João Batista.

“Imediatamente, o rei mandou que o soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão,...” (Mc 6,27).

“João é preso e, num capricho de um jantar e um juramento sem pensar, é condenado à morte e degolado. Surge o seguinte questionamento: O que João fez para a mulher de Herodes para que ela pedisse a sua cabeça? Pode-se também fazer a seguinte pergunta: em qual personagem eu me coloco? Esta pergunta tem grande significado, pois muitas vezes as pessoas se veem como Herodes, que jura por se encantar com o supérfluo e o egoísta. Bem como se pode colocar no papel do carrasco que degola João, pois diversos momentos as pessoas se defendem verbalmente, brincam com os sentimentos dos outros e até agem com agressividade física. Quem era João? Era um homem simples de hábitos corriqueiros, que não era capaz de praticar a maldade, mas usava de justiça e de sua simplicidade para cativar as pessoas. Foi alguém que assumiu o projeto de Deus e constantemente dava seu sim ao chamado do Senhor, preparando o caminho do Messias. Foi um homem que liderou e não se deixou corromper pela mesquinhez e arrogância de autoridades como Herodes. O ideal de personagem, neste versículo, é João Batista. Ser uma pessoa justa e verdadeira, que corresponda à vontade de Deus, que luta sem desanimar e que não se deixa manchar pela corrupção e pela injustiça, pela ganância e pelo medo. Ser fiel é esperar no Senhor, que tudo fará. – Deus da Verdade, que sejamos disponíveis e atentos ao seu chamado, para servirmos ao Senhor sem medos e amarras. Que estejamos de ouvidos abertos para ouvir sua Palavra e a colocarmos em prática no nosso dia a dia. Não permita que sejamos mesquinhos e cheios de capricho, deixando-nos cegar por coisas ruins e, sim, que vejamos com clareza sua graça e sua paz. Assim seja! (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). ´

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 28 de agosto de 2019


(1Ts 2,9-13; Sl 138[139]; Mt 23,27-32) 
21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da lei e fariseus hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos,
mas por dentro são cheios de hipocrisia e injustiça” Mt 23,27.

“A sexta invectiva continua a tratar do conflito entre interior e exterior. Atrás da fachada de pureza existe um coração cheio de ossadas, de impurezas, de desregramento e hipocrisia. Nessa passagem, Jesus censura um tipo de piedade que é muito difundida também em nossos dias. Ficamos assustados com o lixo que se acumula no coração de algumas pessoas piedosas. Aí há realmente montes de ossos apodrecidos, uma inclinação à necrofilia, à putrefação, à destruição. Quanta coisa morta está enterrada nelas. Por isso exalam um cheiro de morte. A sua piedade não está a serviço da vida, e sim da morte. Com a sua agressividade espalham ruina ao redor de si e matam qualquer germe de vida. Como têm medo da vida, lançam logo vitupérios contra ela, qualificando-a de imoral. Essa piedade necrófila revela-se na linguagem que costuma usar: só se fala em morte e diabo, em decadência e horrores do juízo” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação– Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de agosto de 2019


(1Ts 2,1-8; Sl 138[139]; Mt 23,23-26) 
21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade.
Vós deveríeis praticar isto sem, contudo, deixar aquilo” Mt 23,23.

“Jesus Cristo nada despreza. Tudo valoriza, porém, chama a atenção ao mais importante. Ele é da essência. Acena para o coração das coisas e dos fatos. Para o coração dos atos humanos. Não basta cumprir obrigações. Não basta ser da lei. A lei pela lei não salva ninguém. É necessário colocar amor na lei. Colocar em toda a lei a lei da vida e do amor. Como os fariseus e escribas somos muitas vezes tentados a viver isolados e sem vida. O cotidiano pode nos cansar. Pode nos fazer cair na rotina. Fazer por fazer. Trabalhar por trabalhar. Cumprir a obrigação simplesmente por norma. Podemos até querer fazer bem as coisas para contentar patrões, chefes e superiores. Podemos colocar todo o capricho externo para aparentar beleza e eficiência. Nada vale tudo isso se não for revestido do amor, da justiça. Jesus acena para a justiça, a misericórdia e a fidelidade. O maior elogio que se pode dar a uma pessoa é dizer que ela é justa. A justiça iguala o coração do homem ao coração de Deus. A misericórdia torrna o coração do homem sensível e o torna solidário ao viver dos outros corações. Não há salvação sem justiça e misericórdia. Deus é rico em justiça e misericórdia. O coração do homem é salvação na medida em que se assemelha ao coração de Deus. Deus vê o coração. Há pessoas que gostam de mostrar e de falar o que fazem. Deus vê no silêncio. Sabe o que se passa no coração das pessoas, mesmo que ninguém esteja presente para apreciar ou ser um espectador. Deus está presente em nosso coração mais profundamente do que nós mesmos. – Senhor Deus, que minha vida seja marcada pela justiça. Que minha vida seja marcada pela misericórdia: manso e humilde de coração. Que minha vida seja marcada pela fidelidade ao teu amor e ao amor das pessoas. Que eu ame porque antes já me senti amado. Torna meu coração semelhante ao Teu. Amém (Wilson João Sperandio – Graças a Deus [1995] – Vozes).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de agosto de 2019


(1Tes 1,1-5.8-10; Sl 149; Mt 23,13-22) 
21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da lei e fariseus hipócritas!...” Mt 23,13a.

“As invectivas de Jesus contra os escribas e os fariseus foram usadas muitas vezes, durante a história do cristianismo, como justificativa para atitudes antissemitas. Por isso, recomenda-se certo cuidado na interpretação dessas palavras de Jesus. É um capítulo que certamente ajudou a desenvolver uma imagem distorcida do judaísmo e dos fariseus. Do ponto de vista histórico, explica-se o tom áspero desse capítulo em vista da exclusão da comunidade cristã pelos escribas no sínodo de Samnia, depois da destruição de Jerusalém. A essa altura, os fariseus formavam o único grupo religioso sobrevivente no judaísmo, de modo que acabaram imprimindo-lhe a sua marca. A comunidade de Mateus sofreu com a exclusão da sinagoga. Jesus mesmo mantinha um bom relacionamento com os fariseus. Mas os exegetas judaicos sublinham que a opinião divergente de Jesus se conservava perfeitamente dentro dos parâmetros dos debates em torno da interpretação correta da vontade de Deus. Não se tratava de uma ruptura com a tradição judaica por parte de Jesus, ele apenas dava uma ênfase especial a determinadas alternativas de interpretação. Uma boa parte das críticas dirigidas nesse capítulo 23 a escribas isolados eram apresentadas de modo semelhante por representantes do judaísmo. Historicamente, o judaísmo só conseguiu sobreviver porque, depois da catástrofe de 70, os escribas e fariseus submeteram ‘toda a vida a normas extremamente rígidas para assim tentar conservar as antigas tradições’ (Schweizer, 291). Por outro lado, o jovem movimento de Jesus ‘que tinha experimentado a presença do Espírito, o ressurgimento da ação profética e a grande libertação para o amor’ (ibid., 291), viu-se forçado a distanciar-se com a mesma radicalidade dessa nova interpretação defendida pelos fariseus” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite


21º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Is 66,18-21; Sl 116[117]; Hb 12,5-7.11-13; Lc 13,22-30)

1. Israel cresceu na consciência de ser um povo escolhido e isso repercutia nas relações com outros povos, tanto que não se misturava com outras culturas numa espécie de santidade que os fazia desconfiar dos outros.

2. Mas os acontecimentos da história se encarregaram de demolir essa visão ou compreensão de si. O próprio exílio os levou a uma reflexão de que eles não eram assim tão bons, pois mereceram ser corrigidos por Deus e a consequente convivência com povos estrangeiros os levaram a uma mudança de opinião sobre os outros.

3. Aos poucos vai desabrochando uma consciência que a escolha de Israel por parte de Deus, não foi feita em detrimento dos outros povos; que na realidade Ele ama a todos e é Deus sobre todos. Assim o profeta vislumbra que nos tempos futuros, Deus reunirá a todos, e de outros povos fará seus mensageiros.

4. Mesmo vivendo a fé numa Igreja que abraça todas as culturas, não é impossível certa descriminação também entre nós e a falta de visão que mesmo um não cristão pode ter algo a nos ensinar.

5. Na reflexão que acompanhamos com o autor da Carta aos Hebreus, este se pergunta de certas aparentes contradições do caminho da fé nas dificuldades que atravessamos e que às vezes não encontramos em quem não faz o mesmo caminho que o nosso.

6. Partindo da experiência familiar, ele diz que Deus nos vê como filhos cujo caráter é necessário corrigir e aperfeiçoar. Para isso, pensa o autor, Deus se serve dos acontecimentos da vida, particularmente os mais dolorosos, para fazer-nos crescer humana e espiritualmente.

7. O Jesus compassivo e compreensivo que até então Lucas nos vem apresentando, nos surpreende com sua linguagem e imagens no evangelho de hoje. Ele não fala tanto do fim dos tempos, pois não busca responder a pergunta do seu interlocutor e sim chamar a atenção para uma atitude no tempo presente, se quisermos ser seus discípulos.

8. A imagem da porta estreita nos desafia a moldarmo-nos à sua estreiteza, renunciado em nós qualquer atitude de grandeza, poder ou domínio que nos impeça de passar. E aqui cabe a imagem da criança que Jesus coloca como modelo no meio dos seus discípulos.

9. Assim podemos entender que um dia essa porta se fechará para aqueles que não procuraram se identificar com o próprio Jesus. Conhece-lo não é suficiente. O verdadeiro cristão é mais que um simples registro no livro de batismo paroquial.

10. Lucas dá uma chacoalhada nos seus ouvintes, particularmente se nos julgamos melhores que outros pelo fato de sermos cristãos, quando muitas vezes não permitimos que a Palavra nos questione, nos mova ao encontro com Jesus no compromisso para com a vida na sua totalidade, com seus altos e baixos.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de agosto de 2019


(Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) 
São Bartolomeu, apóstolo.

“Filipe encontrou com Natanael e lhe disse: ‘encontramos aquele de quem Moisés escreveu na lei e também nos profetas: Jesus de Nazaré, o filho de José’” Jo 1,45.

“Da série de apóstolos chamados por Jesus durante a sua vida terrena, hoje é apóstolo Bartolomeu que ocupará a nossa atenção. Nas antigas listas dos Doze ele sempre aparece diante de Mateus, enquanto que o nome que o precede varia, podendo ser Filipe (cf. Mt 10,13; Mc 3,18; Lc 6,14) ou Tomé (cf. At 1,13). Seu nome é claramente um patronímico, porque faz referência explícita ao nome do seu pai. De fato, trata-se de um nome de provável origem aramaica, bar Talmay, que significa ‘filho de Talmay’. Não temos notícias relevantes de Bartolomeu; de fato, seu nome aparece apenas nas listas dos Doze recém citadas e, portanto, não o encontramos em nenhum relato. Tradicionalmente, sem dúvida, é identificado com Natanael: um nome que significa ‘Deus deu’. Este Natanael vinha de Caná (cf. Jo 2,2) e, por isso, é provável que tenha sido testemunha do grande ‘sinal’ realizado por Jesus neste lugar (cf. Jo 2,1-11). A identificação dos dois personagens se deve provavelmente ao fato de que este Natanael, na cena da vocação narrada no Evangelho de João, está situado ao lado de Filipe, quer dizer, no lugar que ocupa Bartolomeu nas listas dos apóstolos transmitidas pelos demais Evangelhos. Foi a este Natanael que Filipe comunicou que havia encontrado ‘aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: é Jesus de Nazaré, o filho de José’ (Jo 1,45). Como sabemos, Natanael lhe respondeu com um julgamento bastante duro: ‘De Nazaré pode sair coisa boa?’ (Jo 1,46a). Essa resposta é importante para nós. É que nos faz ver que segundo as expectativas judaicas, o Messias não podia proceder de um povoado tão obscuro como Nazaré (cf. também Jo 7,42). Ao mesmo tempo, sem dúvida, põe em evidência a liberdade de Deus, que surpreende as nossas expectativas aparecendo precisamente onde não o esperávamos. Por outro lado, sabemos que Jesus, na verdade, não era só ‘de Nazaré’, mas que havia nascido em Belém (cf. Mt 2,1; Lc 2,4) e que em última instância procedia do céu, do Pai que está nos céus. O caso de Natanael nos sugere outra reflexão: em nossa relação com Jesus não devemos nos contentar só com palavras. Felipe, em sua resposta, faz a Natanael um convite significativo: ‘Venha e você verá’ (Jo 1,44b). O nosso conhecimento de Jesus necessita sobretudo da experiência viva: o testemunho dos demais é sem dúvida importante, já que normalmente toda a nossa vida cristã começa com a informação que nos chega por obra de uma ou várias testemunhas. Mas logo devemos ser nós mesmos a implicar-nos pessoalmente numa relação íntima profunda com Jesus; de maneira semelhante, os samaritanos, depois de terem ouvido o testemunho da concidadã com quem Jesus havia se encontrado junto ao poço de Jacó, quiseram falar diretamente com Ele, e, depois desta conversa, disseram para a mulher: ‘Já não acreditamos por causa daquilo que você disse. Agora, nós mesmos, ouvimos e sabemos que este é, de fato, o salvador do mundo’ (Jo 4,42)”  (Bento XVI – Os apóstolos e os primeiros discípulos de Cristo – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de agosto de 2019


(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) 
Santa Rosa de Lima.

“O reino dos céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” Mt 13,44.

“A primeira santa do Novo Mundo só podia ser uma flor transplantada da Europa: Isabel Flores y de Oliva, filha de pais espanhóis que emigraram para a rica colônia do Peru. Quem a chamou de Rosa foi a empregada, admirada com a extraordinária beleza da menina. Assim, mais tarde, quando ingressou na Ordem Terceira dominicana, Isabel quis chamar-se Rosa de Santa Maria, enriquecendo com essa flor o jardim dos santos. Pertence à ordem dominicana do mesmo modo que santa Catarina de Sena, da qual foi perfeita imitadora. Não havendo um convento feminino, construiu sua cela no jardim da casa paterna e, como a família empobrecera, ganhou a vida executando serviços braçais, no trabalho dos campos e no de costura, ficando com frequência até tarde da noite a remendar à luz de uma vela, com poucas horas de sono em uma enxerga feita de estopa. Na cintura trazia o constante cilício de áspera crina - num desejo de sofrimento inconcebível para quem não adentrou os segredos da ascese cristã. Às penitências corporais voluntárias logo acrescentou os sofrimentos de uma longa doença, em grande parte causados pelas privações que Rosa se impunha. E, para os que a confortavam, tinha sempre a resposta que sabem dar os santos: ‘As doçuras e a felicidade que me podem oferecer o mundo são apenas uma sombra em relação àquilo que sinto’. Visto de fora, este mundo podia parecer um recando de dor, mas internamente era um verdadeiro florescimento da graça que dá a verdadeira alegria: ‘Se os homens soubessem’, dizia ainda, ‘o que é viver na graça, não se assustariam com nenhum sofrimento e aceitariam bem qualquer pena, porque a graça é fruto da paciência’. Paciência que significa capacidade de sofrer, e Rosa soube aceitar e suportar sofrimentos – quer físicos, quer psíquicos – que teriam desencorajado um Jó. Ficou só nos últimos meses de vida e foi recolhida do leito de suas dores pelo casal Maza. Morreu como havia previsto pouco antes: no dia de são Bartolomeu, a 24 de agosto. Foi canonizada em 1671” (Mario Sgarbossa – Os santos e beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de agosto de 2019


(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) 
Nossa Senhora Rainha.

“Maria, então, disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’
E o anjo retirou-se” Lc 1,38.

“A exaltação da ‘serva do Senhor’ (Lc 1,38) ao lado do ‘Rei dos reis e Senhor dos senhores’ (Ap 19,16) é mistério de mera graça e de perfeita correspondência a ela, vivida por Maria na disponibilidade cotidiana ao serviço de Deus e da humanidade. ‘Justamente esse serviço lhe permitiu realizar na sua vida a experiência de um misterioso, mas autêntico ‘reinar’. Não é por acaso que é invocada como ‘Rainha do céu e da terra’... O seu ‘reinar’ é servir! O seu servir é ‘reinar’!” (João Paulo II, Carta enviada às mulheres do mundo inteiro no dia 29 de junho de 1995; AAS 1995, p. 810; cf. também Redemptoris Mater, n. 41). O senhorio de Maria amadureceu, portanto, na obediência à vocação materna acolhida na Anunciação (é o trecho do evangelho: Lc 1,26-38): ‘Eis que conceberás darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus... O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim’. O anúncio do Reino do Senhor Jesus trazido pelo anjo encerra também o da Rainha Mãe. O nexo entre maternidade e realeza é posto em relevo, seja na coleta, seja na oração após a comunhão: Maria é reconhecida ‘nossa Mãe e Rainha’, pois dela nasceu Cristo nosso Senhor” (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de agosto de 2019


(Jz 9,6-15; Sl 20[21]; Mt 20,1-16) 
20ª Semana do Tempo Comum.

“O reino dos céus é como a história do patrão que saiu de madrugada
para contratar trabalhadores para sua vinha” Mt 20,1.

“Jesus sabe contar histórias de um modo que prende a atenção dos ouvintes e ao mesmo tempo os provoca. A maior parte dos ouvintes irrita-se com a parábola dos operários da vinha. Os empregadores dizem: ‘Nunca poderia proceder assim com os meus operários. Jesus não faz ideia do que seja o mundo dos negócios hoje em dia’. Os empregados identificam-se com os operários da primeira hora e ficam irritados com aqueles que chegam na última hora. Mas não são só os empregadores e empregados que se mostram descontente com a parábola. Também os cristãos que se esforçam para observar os mandamentos de Deus. Que se engajam pelo bem da Igreja e cumprem os seus deveres de cristãos ficam indignados com aqueles que não ligam para mandamento algum e que, mesmo assim, vão para o céu. Mas justamente quando uma parábola nos irrita pode ocorrer uma mudança na nossa maneira de pensar. Com a parábola, Jesus nos apanha no lugar em que nos encontramos num determinado momento. Ele desperta a nossa curiosidade. Ao mesmo tempo, transforma a nossa maneira de ver: ele abre os nossos olhos para o mistério da vida e para o mistério de Deus. Deus não é aquele que imaginamos. Ele age de uma maneira que não esperávamos. A justiça divina não é previsível como a folha de pagamento de uma empresa industrial”  (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de agosto de 2019


(Jz 6,11-24; Sl 84[85]; Mt 19,23-30) 
20ª Semana do Tempo Comum.

“Percebendo que era o anjo do Senhor, Gedeão exclamou:
‘ai de mim, Senhor Deus, porque vi o anjo do Senhor face a face!’” Jz 6,22.

“Este versículo pertence ao contexto da libertação, pois o povo estava sofrendo duras penas com a perseguição de Madiã (cf. Jz 6,11-24a). O Senhor, através de um anjo, chama Gedeão para ajuda-lo nesta libertação. Gedeão, por sua vez, questiona onde está Deus em meio a tantas dificuldades. Aquele que chama é fiel e coerente nas suas vontades. Por isso, Deus diz a Gedeão que ele é escolhido e que o Senhor está com ele. Então o que será preciso para que isso aconteça de fato? O primeiro passo é a confiança na proposta de Deus. O segundo passo é a esperança de que tudo pode mudar com a força e a graça de Deus. E o terceiro e último passo é dar o ‘sim’ constantemente ao chamado que Deus faz. Ninguém podia ver a Deus e nem seus anjos, pois seria uma experiência tão forte que a pessoa morreria. Gedeão se preocupa com isso quando percebe que o anjo do Senhor lhe apareceu e clama a Deus por sua vida. Na verdade, este clamor reflete o temor ao Senhor, buscando ser fiel a Ele. Mas Gedeão vive para instaurar a paz. Hoje em dia falta disposição de seguir os três passos apresentados anteriormente para que a paz reine e cresça no meio da humanidade. Não existe confiança nos outros e, então, também não se confia em Deus. Não se age cotidianamente respondendo ao chamado de Deus. Portanto, onde se encontrará paz!? – Deus da paz, o Senhor sempre está conosco e nos aponta o que devemos fazer, por isso ajuda-nos a responder sim constantemente ao seu chamado e que vivamos confiantes na esperança da paz entre nós. Assim seja! (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe.  João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de agosto de 2019


(Jz 2,11-19; Sl 105[106]; Mt 19,16-22) 
20ª Semana do Tempo Comum.

“Alguém aproximou-se de Jesus e disse: ‘Mestre, o que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?’”
Mt 19,16.

“Este foi o jovem que quase ficou discípulo de Jesus. Faltou pouco. Mas o pouco que faltou foi por causa do muito que possuía. Ao contrário da vocação dos outros discípulos, em que o Mestre toma a iniciativa e surpreende os chamados, aqui é o jovem que toma a iniciativa. Pelo desembaraço e segurança com que faz a pergunta, parecia que ele tivesse algum trunfo escondido. E tinha. Eram suas riquezas. Com elas pensava possuir também a vida eterna. Era possessivo. Tinha muito, e queria ter mais. Aí esteve o terrível engano. Se tivesse dado suas riquezas aos pobres teria um  tesouro no céu e estaria livre para seguir o Mestre. Poderia estar hoje na ladainha dos apóstolos. Mas por que não quis largar suas riquezas, desapareceu de cena, mergulhou no anonimato, e deve ter morrido triste ‘porque tinha muitas riquezas’. O episódio serviu para Cristo desabafar sua decepção, atestando ser tão difícil um rico entrar no Reino dos Céus. Mas serviu também para transmitir uma lição muito importante. Não é com nossas posses, com nossas capacidades, com nossos trunfos humanos, sejam quais forem, que podemos garantir a vida eterna. Pois é por graça que somos admitidos ao Reino de Deus. Diante do espanto dos discípulos, escutando Jesus a falar da dificuldade dos ricos se salvarem, Jesus amplia o alcance da afirmação, e generaliza a constatação, que nos envolve a todos: o que é impossível para os seres humanos, é possível para Deus. Por isto, o procedimento certo diante de Deus não é advogar nossos méritos ou usar nossos pobres trunfos. Melhor é comparecer diante dele de mãos vazias e coração desprendido de toda e qualquer riqueza. Então estaremos aptos para recebe a vida eterna. – Senhor, invocamos vosso poder misericordioso, que nos livre do apego aos bens desta vida, e nos torne sempre mais prontos a seguir vosso chamado. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Assunção de Nossa Senhora


(Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Sl 44; 1Cor 15,20-26; Lc 1,39-56)

1. Nossa reflexão tem como ponto de partida a 2ª parte do nosso evangelho. Depois que Isabel falou com entusiasmo de Maria, apreciando a obra de Deus nela e a atitude que ela adotou diante de Deus, chega a vez de Maria falar com alegria de Deus e do que Ele fez nela, de sua obra poderosa e de sua fidelidade a Israel.

2. Ela se sente possuída pela obra de Deus e entoa um canto de agradecimento e de louvor. Aqui está sua resposta ao anjo que na Anunciação a convidou a alegrar-se. Aqui se expressa tudo que há em seu coração. Ela está impressionada com a grandeza de Deus e de sua ação poderosa.

3. Deus é grande, e não tem necessidade de que o glorifiquemos, mas nós temos a necessidade de olhar Sua grandeza. Ele é grande em sua santidade, por seu poder, sua misericórdia, seu amor, bondade, ajuda e fidelidade. O canto de Maria, em seu conjunto recorda estes aspectos da grandeza divina.

4. Dela devemos aprender essa visão da grandeza divina. Ela fez a experiência desse Deus grande e Senhor como seu Salvador e que interviu particularmente na sua vida. Não O conhece só de maneira abstrata e genérica. Uma experiência que não a deixa fria e indiferente, mas plena de alegria e entusiasmo.

5. A alegria por Deus e o louvor a Deus deveriam ser elementos essenciais de nossa oração pessoal e de nossa liturgia comunitária.

6. Maria afirma sua pequenez, pois reconhece sua situação diante de Deus. O reconhece com sinceridade e, longe de vangloriar-se, se alegra pela misericórdia de Deus para com ela. Ele a olhou do alto com benevolência e com amor. Essa delicadeza de Deus constitui o motivo maior de sua alegria.

7. Com uma expressão atrevida, que se projeta sobre todos os tempos futuros, ela diz a Isabel que todas as gerações a chamarão de bem-aventurada. De fato, Isabel iniciou um reconhecimento que não terá fim. Reconhece que Deus se dirigiu a ela de um modo extraordinário. Quem a louva, assim reconhece.

8. Deus age assim porque Ele é santo, por excelência. Coisas e pessoas são chamadas de santas só em sentido derivado, enquanto pertencem à esfera divina. O Deus único, superior a tudo, sublime, verdadeiramente santo não é frio, sem coração, indiferente... Ele é também misericordioso e compassivo.

9. Tudo isso, diz Maria, vem sobre os que o temem, não no se sentido de ter medo de Deus; os que o temem são os que O veneram e O respeitam, que se reconhecem como criatura diante d’Ele, como Maria.

10. Na 2ª parte do cântico Maria fala dos que se comportam de modo diferente com Deus. O contrário desse temor é a soberba, o orgulho, a presunção, a segurança em si mesmo e a autossuficiência, coisas que refletimos nos domingos anteriores.

11. Mesmo que estas situações não tenham a aprovação de Deus, isto não quer dizer que Ele as inverta sempre e de modo imediato, nem está instigando a que nos proclamemos instrumentos de Deus para levar a cabo sua força de transformação.

12. Ela apenas nos lembra que a escala de valores e a distribuição dos papeis atualmente existente entre nós não é algo definitivo; Deus não confirma a situação terrena atual, mas sim as julga segundo seus critérios. Só os que o temem recebem Sua aprovação.

13. Ao fim ela olha para seu povo, onde Deus atuou de modo particular com seu poder e misericórdia. Jesus será o último e definitivo sucessor de Davi. Nele se cumpre também a promessa feita a Abraão. O que Deus fez por ela não afeta só a ela, mas a todo o povo de Deus.

14. Aqui rezamos com Maria e com ela aprendemos a rezar. Ela nos ajuda a abrir esse olhar sobre Deus, que é grande, poderoso e misericordioso, dirige seu olhar aos humildes e permanece absolutamente fiel à sua palavra. Ela quer nos ensinar a como colocar-nos diante d’Ele: ver e reconhecer sua grandeza e atuação, que nós o tememos, agradecemos e louvamos, confiando em sua fidelidade. Amém.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de agosto de 2019


(Js 24,14-19; Sl 15[16]; Mt 19,13-15) 
19ª Semana do Tempo Comum.

“Contudo, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais.
Quanto a mim e à minha família, nós serviremos o Senhor” Js 24,15.

“Vivemos rodeados de deuses. A cada momento somos desafiados a realizar uma escolha. A vida é uma escolha. Como a morte é a grande escolha, e a decisiva escolha. Diante de nós se apresentam os deuses em forma humana. Os ídolos da velocidade. São deuses que parecem ultrapassar o tempo. Os ídolos do esporte atraem multidões, que esquecem o problema da fome, do trabalho, do compromisso familiar e social. Os ídolos da beleza do corpo fazem da indústria dos produtos de beleza um sucesso. Fazem das casas de massagens uma fonte de renda. Os deuses do outro lado do rio são todas as formas de religião que alienam as pessoas. São deuses com promessas de felicidade e de uma vida melhor. São deuses que produzem o prazer físico em abundância, e esquecem que o prazer maior nasce do amor como forma de doação e entrega. São deuses que prometem o sucesso no momento presente, e esquecem que somente vale aquilo que tem sabor de eternidade. No meio de convites e solicitações que desviam a fé aos que seguem Jesus Cristo, o Deus único e verdadeiro, é importante assumir a atitude de Josué: ‘se vocês querem seguir os deuses falsos, podem seguir. Eu e minha família vamos seguir o Deus Verdadeiro e a ele vamos servir’. Essa atitude é necessária hoje. O cristão não pode mais ficar entre várias opções, e nem ficar indiferente. A situação de multiplicidade de deuses o obriga a tomar uma decisão. Que esta decisão seja por Jesus Cristo, o Deus único e verdadeiro. – Senhor Deus, que eu tenha consciência clara de minha fé. Que não me deixe enganar por falsos deuses que a toda hora entram pelos meus olhos e meus ouvidos, e querem mexer com meu coração e minha fé. Que eu te siga, como compromisso do meu batismo e minha convicção que tu és o Deus Vivo e Verdadeiro. Amém” (Wilson João Sperandio – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de agosto de 2019


(Js 24,1-13; Sl 135[136]; Mt 19,3-12) 
19ª Semana do Tempo Comum.

“Eu vos darei uma terra que não lavraste, cidades que não edificastes, e nelas habitais, vinhas e olivais que não plantastes, e comeis de seus frutos” Js 24,13.

“Para refletir este versículo é preciso estar atento à história do povo de Deus, desde Abraão até estarem na terra prometida. Deus se fez presente na vida de seu povo, dando-lhe descendência, libertando-o da escravidão e das guerras, alimentando-o no tempo de penúria e dando-lhe onde viver dignamente como seu povo. O Senhor é misericordioso e compassivo, agindo na vida de todos e de forma inesperada. Não adianta termos pressa para conseguir algo de Deus, pois Ele nos dispensa sua graça em abundância e em seu tempo. Aqueles que sofreram outrora, reconheceram em fatos naturais e em atos corriqueiros a ação de Deus em suas vidas. Confiaram no Senhor e tiveram coragem de passar por todas as provações e dificuldades, tendo em vista cumprir o projeto do Senhor. Nos tempos hodiernos estamos vivenciando essa graça de Deus? Confiamos em sua misericórdia? Esperamos no Senhor? Será que temos pressa e queremos que Deus resolva logo nossas causas? Bom! Com tantas informações e informatizações da atualidade, com tanta fluidez no fazer as coisas e com necessidade de rendimento, fica esquecida a ação de Deus na vida de cada um, exige-se de Deus o mesmo que é exigido de todos, a agilidade no agir. Mas o Senhor não tem telefones celulares, e-mail e toda essa parafernália comunicativa; Ele não trabalha com rendimento econômico e nem com produção. Deus dá a vida e trabalha com seu amor e sua misericórdia e em seu tempo. – Deus da vida, que libertastes teu povo de tantas escravidões, ajuda-nos a nos libertar das escravidões atuais e que nos prendem numa teia de isolamento e egocentrismos, para reconhecermos tua ação em nossa vida. Assim seja!”  (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe.  João Boco Vieira Leite