Quinta, 01 de outubro de 2020

(Jó 19,21-27; Sl 26[27]; Lc 10,1-12) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Permanecei naquela mesma casa, comei e bebi do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa” Lc 10,7.

“Hoje Jesus fala da missão apostólica. Lucas é o único a mencionar este envio dos setenta e dois. Como fizera com os Doze, Jesus instruiu os setenta e dois discípulos enviados, dois a dois, a preparar sua passagem a caminho de Jerusalém. As orientações dadas por Jesus deixavam os discípulos numa situação de fragilidade. A pobreza material levava-os a depender da caridade alheia. Como se sabe, nem todo mundo está disposto a ajudar. Servidores do Reino, competia-lhes dispor as pessoas para acolher o Mestre e sua mensagem, deixando-se converter para Deus. Tarefa difícil, se considerarmos que os discípulos se encontravam em território samaritano, cuja hostilidade contra os judeus era bem conhecida. Está aumentando o número de trabalhadores para a colheita. Por isso, as instruções de Jesus insistem em apresentar as dificuldades que deverão enfrentar. Eles serão ‘como cordeiros entre lobos’. Estarão em condições de desigualdade, podendo ser vítimas fatais da agressão dos habitantes das cidades que iriam visitar. Portanto, a missão exige apóstolos destemidos. Deveriam contar com a possibilidade de verem sua saudação de paz ser recusada. Mas caso a paz fosse desejada a alguém indigno dela, seria como se o augúrio não tivesse sido pronunciado. Nosso mundo, nossas famílias, nosso eu pessoal, têm necessidade de paz. Nossa missão é urgente e apaixonante. Os apóstolos deveriam saber superar a experiência de rejeição. Com um gesto simbólico – sacudir a poeira das sandálias –, deixariam claro que a cidade seria entregue à condenação divina, por ter sido incapaz de acolher o anúncio do Reino, a sorte dessa cidade fechada à hospitalidade ao Messias seria pior que a de Sodoma. – Senhor Jesus, afasta para longe de mim todo medo das dificuldades na missão e assim confirma minha missão de servidor do Reino (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, virgem. Teresa Martin nasceu em Alençon, na França, em 1873 e morreu em 1897; deu à sua breve existência o cunho inigualável do sorriso, expressão daquela alegria ultraterrena, que segundo as suas palavras ‘não está nos objetos que nos circundam, mas reside no íntimo mais profundo da alma’. Inclinada por temperamento à calma e à tristeza, Teresa, com lindos cabelos loiros, olhos azuis, traços delicados, alta, extraordinariamente bonita, quando escrevia no seu diário: ‘Oh! Sim, tudo me sorrirá aqui na terra’, era uma época em que estava experimentando injustiças e incompreensões. Já atingida pela tuberculose pulmonar, debilitada nas forças, não rejeitava trabalho algum e continuava ‘a jogar para Jesus flores de pequenos sacrifícios’. Deixou o relato de suas experiências interiores no que viria ser publicado sob o título Histórias de uma Alma. Ela deu ao seu itinerário espiritual o título de Infância espiritual, numa tentativa humilde de fazer-se pequena como uma criança, e oferecer-se como um brinquedo nas mãos do Menino Jesus. Mesmo vivendo essa particular espiritualidade nos nove anos que passou no Carmelo de Lisieux, não esteve alienada do mundo ao seu redor. Esteve tão imersa na realidade da vida eclesial a ponto de ser declarada em 1927, dois anos depois de ser elevada às honras dos altares, padroeira principal das missões, e ser invocada dede 1944 como padroeira secundária da França, ao lado da guerreira Joana D’Arc.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de setembro de 2020

(Jó 9,1-12.14-16; Sl 87[88]; Lc 9,57-62) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás

não está apto para o Reino de Deus’” Lc 9,62.

“Assoviar e chupar manga ao mesmo tempo é uma tarefa impossível. Realizar uma tarefa, usando um instrumento, requer do trabalhador uma atenção redobrada e específica. ‘Ninguém põe a mão no arado e olha para trás serve para o Reino de Deus’. Para a seleção do Reino de Deus, alguns requisitos serão exigidos: aptidão para o serviço, lealdade ao seu Senhor, disposição para o trabalho, amor ao serviço que realiza, segurança, humildade, bom relacionamento e vontade crescer, de progredir no trabalho. A imensidão do Reino de Deus é o nosso objetivo como cristão. Quando, na minha aceitação de seguir Jesus, prometi a Ele me dedicar ao seu trabalho, pus todas as minhas forças e não me deixar esmorecer. Estar com Cristo é escolher a melhor parte. As atrações ao meu redor não devem ser motivo de desviar o meu interesse e atenção que devoto ao trabalho do Senhor. Em nossa caminhada, se buscarmos a consagração, o perdão, o amor a Deus primeiramente e o amor ao próximo, estaremos com os olhos da fé voltados para os pés de Cristo. Deus quer dos seus seguidores total disponibilidade e comprometimento. O olhar para trás, para a pessoa carnal, é desviar sua atenção e interesse. São duas coisas que não combinam com o Reino de Deus. O exemplo de Cristo, sua fidelidade ao Pai, até à sua morte e morte de cruz, cumprindo as Escrituras, deve ser seguido por nós. – Senhor, foram muitas as vezes em que me desviei, por motivos fúteis, do meu objetivo cristão. Aumenta minha fé e disposição para te servir. Amém (Iracy Dourado Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja. Nascido entre 340 e 350 na cidade de Strido. Romano de formação, Jerônimo é um espírito enciclopédico. Sua obra literária nos revela a cada instante o filósofo, o retórico, o gramático, o dialético, capaz de escrever e pensar em latim, em grego, em hebraico, escritor de estilo rico, puro e robusto ao mesmo tempo. A ele devemos a tradução em latim do Antigo e Novo Testamento, que se tornou, com o título de Vulgata, a Bíblia oficial do cristianismo. Tinha uma personalidade forte, suscitando entusiasmos e polêmicas. Exilava-se da sociedade em busca de paz interior, reaparecendo sempre que produzia algum novo livro. Este homem extraordinário estava consciente de suas próprias culpas e de seus limites (batia-se no peito com pedras por causa dos seus pecados), mas estava consciente também dos seus merecimentos. Morreu aos 72 anos, em 420, em Belém. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de setembro de 2020

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51) 

Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.

E Jesus continuou: ‘Em verdade, em verdade, eu vos digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem’” Jo 1,51.

“O novo calendário reuniu em uma só celebração os três arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, cuja festa caía respectivamente a 29 de setembro, a 24 de março e a 24 de outubro. Da existência destes anjos fala explicitamente a Sagrada Escritura, que lhes dá um nome e lhes determina a função. São Miguel, o antigo padroeiro da Sinagoga, é agora padroeiro da Igreja Universal; são Gabriel é o anjo da encarnação e talvez da agonia do jardim das oliveiras; são Rafael é o guia dos viajantes. São Miguel, em particular, foi cultuado desde os primeiros séculos de história do cristianismo. O imperador Constantino erigiu-lhe um santuário nas margens do Bósforo, em terra europeia, enquanto Justiniano construí-lhe um no lado oposto. A data de 29 de setembro corresponde à da consagração da igreja dedicada no século V a são Miguel, a seis milhas da via Salária. A festividade difundiu-se rapidamente no Ocidente e no Oriente. Em Roma foi-lhe dedicado o célebre mausoléu de Adriano, agora conhecido com o nome de Castelo de Santo Ângelo. A são Miguel é dedicado o antigo santuário, surgido no século VI, que do Monte Galano, na Púglia, domina o mar Adriático. Nas proximidades desta igreja, a 8 de maio de 663, os longobardos obtiveram vitória no encontro naval com a frota sarracena, e o acontecimento da vitória, atribuída a uma aparição do anjo, deu origem a uma segunda festa, transferida depois para 29 de setembro. São Gabriel, ‘aquele que está diante de Deus’ (é seu ‘cartão de visita’, quando vai anunciar a Maria a sua escolha para Mãe do Redentor), é o anunciador por excelência das revelações divinas. É ele que explica ao profeta Daniel como se dará a plena restauração, da volta do exílio ao advento do Messias. A ele é confiado o encargo de anunciar o nascimento do Precursor, João, filho Zacarias e de Isabel. A missão mais alta que nunca foi confiada à criatura alguma é ainda sua: anunciar a Encarnação do Filho de Deus. Ele tem um prestígio muito especial até mesmo entre os maometanos. São Rafael, falado em um só livro da Sagrada Escritura, é o acompanhante do jovem Tobias, e por isso sua função é tida como guia de todos os que viajam. Foi ele que sugeriu ao jovem protegido o remédio para a cura da cegueira do pai, por isso é invocado também como curador (etimologicamente seu nome significa ‘Deus curou’). Sua festa a 24 de outubro havia entrado no calendário romano somente a partir de 1921” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de setembro de 2020

(Jó 1,6-22; Sl 16[17]; Lc 9,46-50) 26ª Semana do Tempo Comum.

“João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lho proibimos, porque não anda conosco’. Jesus disse-lhe: ‘Não o proibais, pois quem não está contra nós está a vosso favor’” Lc 9,49-50.

“Os discípulos ficaram intrigados vendo alguém, que não era do grupo, expulsando demônios em nome de Jesus. E já foram lhe proibindo. Porém Jesus que não era de proibir, não. E aponta uma surpreendente razão: ‘quem não está contra vocês, está a favor de vocês’. Quantas lições práticas a tirar para os nossos dias. Ninguém tem o monopólio do Evangelho. Nem os discípulos, nem a Igreja, nem ninguém. Pois o Evangelho não é para ser guardado e trancado num depósito. Ele está solto no mundo, e quanto mais anda, melhor para todos. Verdade que Jesus confiou todo o evangelho aos apóstolos. ‘Eu vos dei a conhecer tudo’. Mas em seguida acrescenta: ‘ide ao mundo inteiro, e anunciai tudo’. Se o anúncio despertar outros anunciadores, tanto melhor. Se alguém que não é ‘dos nossos’ prega o Evangelho, ele não está contra nós. É bom que continue pregando. Mesmo que não se junte ao nosso grupo. Pois o que interessa, e faz bem para todos, é que o Reino cresça, e a Boa-Nova chegue a todos os corações. Em vez de nos preocupar com a exclusividade da representação de Cristo, o melhor é nos preocuparmos, isto sim, em viver bem o seu Evangelho, e testemunhá-lo aos outros, nós que recebemos a incumbência de fazer isto. E reconhecer nos outros pregadores a liberdade do Espírito que nos estimula a cumprir melhor nossa missão, e a compreendê-la mais profundamente. – Senhor Deus, vos damos graças pelo Evangelho que percorre o mundo. Que ele penetre em todos os corações, e nos mostre os caminhos da unidade. Amém” (Luiz Demetrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 

Santo do Dia:

São Venceslau, mártir. Nascido em Boêmia em 907. Príncipe e jovem duque da Boêmia, foi educado cristãmente pela avó Ludmila, venerada como santa. Apenas teve idade necessária, sucedeu o pai, após uma breve regência da mãe Draomira. Este exemplar príncipe cristão antepunha os seus deveres religiosos aos de soberano, a ponto de chegar atrasado a uma importante assembleia de Worms convocada pelo imperador Oto porque esteve na missa. Não era raro ver o jovem em trajes comuns misturado com os outros fiéis, descalço, durante as procissões penitenciais. Impôs ao seu corpo a dura disciplina do cilício e diárias mortificações. Draomira queria dar o trono ao segundo filho, Boleslau, e fomentou, de todos os modos, a rivalidade entre ambos, até levar o segundo a manchar-se com o grave delito do fratricídio. Venceslau foi trucidado pelos sequazes de Boleslau. Seu irmão assassino veio a perceber o erro em que caiu ao se achar superior ao irmão. Ele viu crescer dia a dia a devoção popular ao irmão com os prodígios que se operavam no seu túmulo de mártir, logo venerado como santo, o primeiro entre os povos eslavos.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

26º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ez 18,25-28; Sl 24[25]; Fl 2,1-11; Mt 21,28-32)

1. Uma outra vez, o tema da conversão retorna em nossa liturgia. Ezequiel empresta sua voz ao Senhor para convidar à conversão. Jesus está às voltas com as lideranças judaicas, convidando-os a abandonar sua autossuficiência religiosa.

2. No texto de Paulo, na primeira parte, a conversão é um apelo a unidade comunitária. Gostaria de me deter um pouco nesse terreno. A Igreja é comunhão, comunidade de irmãos e de chamados à solidariedade como consequência da sua vocação à fé dentro do povo de Deus. Assim entende o Vaticano II.

3. Viver a partilha da fé, da esperança cristã, da mesa eucarística, das ações evangelizadoras, do acolhimento. O grande sacramento ou sinal de comunhão eclesial é a eucaristia, que cria comunidade.

4. Mas essa comunhão desejada sofre suas rupturas em nosso tempo. Muitos, ainda que crentes, não vivem essa comunhão com a Igreja e a criticam sem mesmo aprofundar ou compreender o significado da mesma. Vivemos a nova realidade dos novos cristãos ‘sem Igreja’, vivendo um catolicismo individualista.

5. Assim acabam por excluir ou rejeitar a missa dominical, as chamadas virtudes passivas como a obediência e a oração, a renúncia e a cruz inerente ao seguimento de Cristo ou pontos da moral cristã como o divórcio e o aborto. Alguns insistem mais na dimensão temporal da fé e do compromisso social do evangelho em seu aspecto revolucionário.

6. Alguns insistem em suas críticas aos pastores e as inevitáveis misérias humanas de uma Igreja que é santa e pecadora ao mesmo tempo, porque é obra de Deus em mãos humanas. Talvez esqueçam da necessidade que todos temos de conversão em nosso caminhar.

7. Eis a pergunta que se impõem diante de tudo isso: É possível ser cristão prescindindo dessa comunhão eclesial? Certamente que não. Pois o modo como Cristo viveu e ensinou a fé, tem na comunidade eclesial sua particular identidade. Nela o cristão não só alimenta a fé, mas recebe a graça necessária para vivê-la.

8. Dizia Santo Agostinho: “No necessário, unidade; no duvidoso ou optativo, liberdade; e em tudo, caridade”. A unidade não se confunde com a uniformidade. Não precisamos transformar em motivo de conflito ou intolerância a diversidade de mentalidade.

9. Juntos reconhecemos a Jesus como Salvador e guia, e junto com Ele rezamos ao Pai comum. Por isso Paulo pede que tornemos completa sua alegria: “aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia procurando a unidade. [...] Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”.  

“Damos-Te graças, Pai, porque nos chamas a viver em comunhão eclesial com os irmãos e nossos pastores, e nos convidas a colaborar com calor fraterno na relações humanas e no serviço comum do evangelho. Queremos viver unidos como irmãos em Jesus Cristo. Tu que és mais forte do que as nossas divisões, perdoa nosso ódio, receios e desconfianças mútuas. Concede-nos, Senhor, assumir nossa própria responsabilidade na edificação interna da comunidade cristã e na difusão do teu reino entre os homens, nossos irmãos sob o impulso do Espírito de Cristo ressuscitado. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de setembro de 2020

(Ecl 11,9—12,8; Sl 89[90]; Lc 9,43-45) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”

Lc 9,44.

“Pouco tempo antes havia acontecido a transfiguração, quando o corpo de Jesus assumiu uma luminosidade que ninguém até então pudera observar, e uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho, a Ele ouvi’. Com essa glorificação extrema e as curas que logo em seguida aconteceram, Jesus se qualificava para tudo, menos para ser entregue nas mãos dos homens. Seria um anticlímax, mas seria a sua mais (oculta) excelente glória. Os discípulos não puderam compreender isso, e isso nós só entendemos a posteriori porque lemos os evangelhos, as epístolas e todas as interpretações que dedicados mestres puderam dar. Porque, na verdade, esse anticlímax sai como um perfeito absurdo. Vejam só: alguém indicado para uma elevada missão, a de ser o libertador e condutor dos povos, e habilitado para fazer milagres extraordinários, inclusive ressuscitar mortos, acabando entregue às autoridades como um criminoso; e isso os discípulos talvez nem tivessem a noção do pior: a cruz. Mas isso era necessário, segundo o plano divino, de romper a barreira do pecado, barreira que em tempos atuais minimizamos e até ridicularizamos. No entanto, ela marca o limite em que a vida se despede e a morte assume o controle absoluto. Por isso, ela tinha de ser destruída com a mais potente arma que tinha o Filho de Deus: a sua própria vida. Aqueles homens que o seguiam, adeptos, quem sabe, de uma espécie de teologia da prosperidade, não aceitavam isso muito bem, mas já pressentiam alguma coisa evitando comentar, mesmo entre si, na esperança de que a maré virasse. Aquela maré, de fato, não virou, mas em lugar dela veio um tsunami de graça, amor, perdão, misericórdia. – Jesus, Tu te entregaste a quem iria sacrificar-te e continuas te entregando àqueles que pela fé querem receber-te. Agraciados e agradecidos, nós te recebemos como Senhor e Salvador. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santos Cosme e Damião, mártires. Tudo que se sabe sobre a vida e o martírio desses santos é fruto de devota fantasia e de narrações lendárias e floridas. Sofreram o martírio em Ciro (na Síria), mas não se sabe a época. Provavelmente durante a perseguição de Diocleciano, nos inícios do século IV. Foram decapitados, após outros meios frustrados. Essa data de hoje corresponde à dedicação da basílica que o papa Félix mandou construir em honra desses santos no Foro Romano. Segundo a lenda eram dois irmãos que curavam “todas as enfermidades, não só de pessoas, mas também de animais, fazendo tudo gratuitamente”. Tornaram-se patronos dos médicos e dos farmacêuticos.  

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de setembro de 2020

(Ecl 3,1-11; Sl 143[144]; Lc 9,18-22) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“E acrescentou: ‘O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes

e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia’” Lc 9,22.

“Jesus tinha consciência de que o sofrimento ‘era necessário’ na sua caminhada de servidor do Reino. A expressão deve ser bem entendida, evitando ser tomada num sentido contrário ao que o Mestre lhe deu. Não se tratava de uma fatalidade que se abateria sobre a vida dele, da qual seria impossível se livrar. Nem uma espécie de castigo, infligido por Deus, sem motivos aparentes. Nem, tampouco, um incidente sem ligação com seu testemunho de vida. Os desentendimentos com as autoridades religiosas acentuavam-se cada vez mais. Jesus estava seguro do caminho traçado pelo Pai e decidido a trilhá-lo até o fim, sem se deixar intimidar. A hostilidade dos inimigos jamais haveria de demovê-lo de sua obediência incondicional. Sendo assim, era possível antever o rumo dos acontecimentos. Pensar na conversão dos inimigos seria ingênuo. Fugir deles, nem pensar. A única solução seria enfrenta-los, mesmo devendo pagar com a vida. Jesus se dispunha a sofrer e sabia que isto era necessário, como exigência da sua fidelidade ao Pai. O sofrimento seria decorrência do testemunho de vida, nunca buscado por si mesmo. Ele se preparava inteiramente para isso, pois a vontade o Pai estava de tal modo arraigada em seu coração, que nenhuma força seria suficiente para torna-lo desobediente. Nem o sofrimento! – Pai, como teu Filho Jesus, quero ser obediente a ti, até o extremo, mesmo devendo sofrer por ser fiel a tua vontade (Jaldemir Vitório – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano A] – Paulinas).

 

Santo do Dia:

S. Cléopas, discípulo de Jesus. Esse é um dos dois discípulos da estrada de Emaús, na tarde do domingo da Ressurreição narrado por Lucas. O historiador palestino Egesipo afirma que Cléopas é irmãos de são José e pai de Judas e de Simão, eleito, este último para suceder Tiago Menor, como bispo de Jerusalém. Fazendo os cálculos, podemos identificar no emocionado discípulo de Emaús, o Cléopas que João chama de marido da irmã de Nossa Senhora, aquela Maria de Cléopas, presente com outras piedosas mulheres no drama do calvário. Em Emaús, conforme uma antiga tradição, Cléopas, “testemunha da ressurreição”, foi trucidado por seus conterrâneos, intolerantes do seu zelo e da sua certeza de fé no Messias ressuscitado. São Jerônimo assegura que já no século IV sua casa tinha sido transformada em igreja. O Martirológio Romano inseriu seu nome na data de hoje e confirmou seu martírio acontecido pelas mãos dos judeus.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de setembro de 2020

(Ecl 1,2-11; Sl 89[90]; Lc 9,7-9) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Então Herodes disse: ‘Eu mandei degolar João. Quem é esse homem sobre quem ouço falar essas coisas?’”

Lc 9,9.

“Havia no antigo mundo grego um mito que falava de um animal fantástico: a hidra, corpo de dragão e cabeças (sete, nove ou até mais), que decepadas, davam lugar a duas. Isso aterrorizava as pessoas da época. Um medo igual deve ter passado pela espinha de Herodes, pois dizia: ‘João, eu o degolei. Quem poderá ser este de quem ouço tais coisas?’. Apesar do medo, Herodes queria vê-lo. Afinal, tirano que se preze não pode mostrar-se medroso, caso contrário, pode perder o trono. Deveria, então, fazer o possível para eliminar do caminho qualquer ameaça, assim como já fizera seu pai em relação às criancinhas de Belém e a familiares (mulheres e filhos) dos quais suspeitava queriam tirar-lhe o trono (e a vida). Como, porém, tirá-lo do caminho? Eliminá-lo fisicamente como já fizera com João, ou fazer com Ele uma aliança? O tirano, já consolidado no poder, prefere a primeira opção. É mais rápida e ajuda a manter o clima de terror. Já o político, até por não ter acesso a primeira opção, prefere a segunda ou o meio-termo da difamação. Descaracterizar o adversário é praticamente mata-lo. Herodes precisava tomar uma medida qualquer, pois, se João o havia denunciado, esse outro, Jesus, faria a mesma coisa. E aí seu reino ficaria em perigo. A mesma coisa faz o impenitente em nós: elimina a Deus de sua vida, faz pouco caso dele ou tenta uma aliança espúria à base de trocas para não arrepender-se e mudar de vida. No final, a hidra de várias cabeças pode ser nós mesmos não querendo arrepender-nos quando Deus, em sua Palavra, através dos seus servos, denuncia nossos pecados. – Jesus, tens palavras maravilhosas de amor e perdão. Mas também tens palavras duras, acusadoras, desagradabilíssimas, que não gostamos de ouvir. A essas, porém, devemos ouvir primeiro porque expõem nossa condição espiritual. Ajuda-nos a ouvir a ambas. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes). 

 

Santo do Dia:

São Pedro Nolasco, religioso. Nascido na região francesa de Languedoc em 1189, de uma família nobre, ficou órfão de pai aos quinze anos, pôs-se a seguir Simão de Montfort na cruzada contra os albigenses. Foi mestre e tutor de Tiago, futuro rei de Aragão, ao qual deu uma educação religiosa caracterizada por uma filial devoção mariana. Foi neste período que Pedro Nolasco, já empenhado com todos os meios no resgate dos cristãos, caídos nas mãos dos mouros, teve a visão de Nossa Senhora, aos vinte nove anos, convidando-o a fundar uma Ordem religiosa com o fim principal de resgatar os prisioneiros. Nascia assim a ordem religiosa dos Mercedários, assim chamados porque, particularmente devotos de Nossa Senhora, a horam sob o título de Santa Maria da Misericórdia, ou das Mercês dos escravos. Além dos votos tradicionais das ordens religiosas, os mercedários traziam consigo um quarto: oferecer-se como escravo dos mulçumanos, quando necessário, para livrar um cristão em perigo de apostasia. Dos vinte e seis mil prisioneiros libertados por mercedários, no seu primeiro século de vida, nada menos de 890 foram resgatados e reconduzidos à pátria por Pedro Nolasco. Morreu no dia de Natal de 1258, murmurando as palavras do Salmo: “O Senhor remiu seu povo”. A primeira imagem de N. Senhora que tocou o solo americano foi a da Virgem das Mercês, pintada por ordem de Isabel, a Católica, e doada aos mercedários que partiram em missão para S. Domingos. A festa de hoje é dedicada à Virgem das Mercês, enquanto a memória de são Pedro Nolasco é lembrada no Martirológio Romano a 31 de janeiro.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de setembro de 2020

(Pr 30,5-9; Sl 118[119]; Lc 9,1-6) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa-nova

e fazendo curas em todos os lugares” Lc 9,6.

“Os apóstolos receberam a incumbência de dar continuidade à missão de Jesus, anunciando a Boa Nova e realizando milagres, pelos quais se proclamava a presença do Reino na história humana. ‘O poder e a autoridade’ que lhe foram conferidos correspondem à plena participação no ‘poder e autoridade’ recebidos por Jesus, da parte do Pai. Assim, as palavras dos apóstolos seriam dignas do mesmo pareço que as palavras do Mestre, na medida em que estivessem em comunhão com ele. Ouvi-los deveria ser como ouvir as próprias palavras de Jesus. O mesmo se diga do poder de expulsar demônios e de curar as enfermidades, exercido pelos apóstolos. Tudo isto, porém, dependeria da fé de cada anunciador. Afinal, não estavam recebendo um poder mágico que podiam usar a seu bel-prazer. A vida dos apóstolos também deveria assemelhar-se à de Jesus, de modo especial quanto à pobreza, à aceitação da hospitalidade e à reação nas experiências de rejeição. Como Jesus, dariam testemunho de desapego, não levando nada pelo caminho. Estariam contentes com a hospedagem oferecida, sem exigir nada nem reclamar. Ao serem rejeitados, manter-se-iam de cabeça erguida e continuariam sua missão, sem se deixar abalar. Nem o medo da morte haveria de impedi-los de seguir adiante. – Pai, tendo recebido a tarefa de continuar a missão de Jesus, ensina-me a imitá-lo tanto no modo de ser e de pregar, quanto na pobreza e na coragem de enfrentar a rejeição (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 

Santo do Dia:

São Lino, papa e mártir. Lino teria sido o sucessor imediato dos apóstolos na Igreja de Roma. Ele é citado na carta de são Paulo a Timóteo. Foi papa por doze anos, aproximadamente de 64 a 76, ou 67 a 76, se colocarmos o martírio de são Pedro em 67, no término e não no início da perseguição de Nero. Originário da Tuscia, provavelmente de Volterra, que por santidade de vida e capacidade de governo, foi escolhido pelo próprio Pedro para suceder-lhe. Foi por isso seu direto colaborador e a estima de que gozou na comunidade romana foi muito grande.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de setembro de 2020

(Pr 21,1-6.10-13; Sl 118[119]; Lc 8,19-21) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus

e a põem em prática’” Lc 8,21.

“A adesão ao Reino faz dos discípulos uma grande família. Esta consciência é imprescindível na vida de todo cristão. Ser cristão egoísta, com mentalidade de gueto ou de seita, rompido com os irmãos de fé, é uma contradição. Infelizmente, ao longa da história, os discípulos de Jesus não levaram a sério a orientação do Mestre. O resultado foram inúmeras divisões entre os cristãos, cuja superação é difícil de entrever. Ao contrário, multiplicam-se de maneira inconsciente e inconsequente, com graves danos para o projeto de Reino ansiado por Jesus. O Reino irrompe na vida das pessoas e torna-as discípulas no momento em que, ouvindo a Palavra de Deus, dispõem-se a torná-la realidade. Os imperativos do Reino não comportam discussão. Que discípulo questionará a exigência de perdoar? Ou, então, de viver como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Deus Pai-Mãe? Ou o lugar que os pobres pecadores ocupam no coração de Deus? A contradição consiste em se dizer discípulo, seguidor de Jesus, mas de fato, virar as costas para os imperativos do Reino. E se deixam guiar pelas paixões que o colocam na contramão do querer de Deus. A condição do discípulo do Reino é, assim, negada pelo testemunho de vida. Um sinal incontestável da inautenticidade do discípulo será perceptível na incapacidade de formar comunidade e viver como família do Reino, querendo bem aos que, como ele, também optaram por se deixar guiar pela vontade de Deus. – Pai, reforça em mim a consciência de pertencer à tua família, com a obrigação de viver em comunhão com os irmãos e irmãs que optaram pelo mesmo projeto de vida (Jaldemir Vitório – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano A] – Paulinas).

 

Santo do Dia:

Santos Maurício e companheiros, mártires. Nossos santos remontam o século III. Maurício, Exupério, Cândido e outros companheiros cristãos que pertenciam à legião tebana, foram submetidos à flagelação e depois decapitados por se recusarem a prosseguir contra a Gália numa expedição que iria punir os cristãos ou (conforme outra narração) por se recusarem a sacrificar aos deuses antes de marchar contra os rebeldes bagaudi. Após uma humilhante flagelação pública, não conseguindo dobrar-lhes a obediência, toda a legião foi decapitada (milhares de soldados; segundo a Paixão dos Mártires (escrita por Euquério, bispo de Lion), talvez seis mil, é mais provável que tinha sido uma coorte). Existem alguns testemunhos antigos do culto dos mártires de Agaunum, onde escavações efetuadas em 1893 descobriram os restos de uma basílica primitiva do século IV. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de setembro de 2020

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19ª]; Mt 9,9-13) 

São Mateus, apóstolo e evangelista.

“Jesus viu um homem, chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos e disse-lhe: ‘Segue-me!’

Ele se levantou e seguiu a Jesus” Mt 9,9.

“Mateus, coletor de impostos, apóstolo e evangelista: foge do dinheiro para um serviço de perfeita pobreza: a proclamação da mensagem cristã. O evangelho a ele atribuído nos fala mais amplamente que os outros três do uso certo do dinheiro: ‘Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus’. ‘Não podeis servir a Deus e ao dinheiro’. Foi Judas, porém, e não Mateus que teve o encargo de caixa da pequena comunidade apostólica. Mateus deixa o dinheiro para seguir o Mestre, enquanto Judas o trai por trinta dinheiros. Quando falam do episódio do coletor de impostos chamado a seguir Jesus, os outros evangelistas, Marcos e Lucas, falam de Levi. Mateus ao contrário prefere denominar-se com o nome mais conhecido de Mateus e usa o apelido de publicano, que soa como usuário ou avarento, ‘para demonstrar aos leitores – observa são Jerônimo – que ninguém deve desesperar da salvação, se houver uma conversão para uma vida melhor’. Mateus, o rico coletor, respondeu ao chamado do Mestre com entusiasmo. No seu evangelho ele esconde humildemente este alegre particular, mas a informação foi divulgada por são Lucas: ‘Levi preparou ao Mestre uma grande festa na própria casa; uma numerosa multidão de publicanos e outra gente sentavam-se à mesa com eles’. Depois, no silêncio e com discrição livrou-se do dinheiro, fazendo o bem. É dele de fato que nos refere a admoestação do Mestre: ‘Quando deres uma esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará’. Após o episódio do chamado, o evangelho lembra Mateus uma única vez, falando da eleição dos apóstolos. Da atividade de são Mateus após Pentecostes, conhecemos somente as admiráveis páginas do seu evangelho, dirigido particularmente aos hebreus e que é caracterizado por cinco grandes discursos de Jesus sobre o reino de Deus. Foi escrito com toda certeza antes da destruição de Jerusalém, acontecida no ano 70. Uma tradição antiga recorda que Mateus, como chefe missionário, não teria comparecido diante dos juízes para dar testemunho. Outras fontes, ao invés, menos verídicas, difundem-se na narração dos sofrimentos e do martírio de são Mateus, apedrejado, queimado e decapitado na Etiópia, de onde as relíquias do santo teriam sido transportadas, primeiro para Paestum, no Golfo de Salerno e no século X para Salerno, onde até hoje são honradas” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

25º Domingo do Tempo Comum – Ano A

 (Is 55,6-9; Sl 144[145]; Fl 1,20c-24.27a; Mt 20,1-16a)

1. A parábola que acabamos de acompanhar é bastante conhecida, principalmente pelo desapontamento que ela nos provoca ao percebermos que não estamos de acordo com esse patrão da vinha.

2. Certamente Jesus tinha por inspiração uma situação do seu tempo com relação aos trabalhadores que numa praça aguardavam ser contratados para uma diária de trabalho. O incomum da história é esse patrão que volta em horários diferentes e paga a todos o mesmo valor. O que consideramos uma injustiça.

3. Mas logo o patrão da parábola nos responde: não sou injusto. Paguei o que foi acordado. Só que para alguns ele foi mais que justo, foi magnânimo e generoso. E logo se conclui, assim é Deus: absolutamente justo para com todos, dá a todos a recompensa prometida. Com alguns quer manifestar-se particularmente largo, rico e abundante em misericórdia.

4. Diante dessa parábola temos que buscar compreender duas coisas: por que ele a contou, quais as circunstâncias? Segundo: qual o significado da mesma para nós hoje, uma vez que a Palavra de Deus tem valor perene?

5. Jesus conta essa parábola para a comunidade judaica e particularmente para as suas lideranças. Eles consideravam-se privilegiados, os únicos destinatários e herdeiros das promessas divinas de salvação e que os demais estavam excluídos: publicanos, pecadores e pagãos.

6. Jesus responde com a parábola. De fato, os judeus foram os primeiros a serem chamados, os da primeira hora, mas não estavam sozinhos nesse chamado, outros também foram convidados. A princípio ninguém ficou de fora e até mesmo os últimos poderiam tornar-se os primeiros, conclui o evangelho.

7. Isto soava um absurdo aos ouvidos judaicos, mas na prática Jesus se dirigia a todos, indistintamente, em sua evangelização. Enquanto aqueles que observavam a lei permaneciam surdos e indiferentes ao seu convite, Zaqueu, Madalena, o centurião pagão e tantos outros chamados pecadores, respondiam prontamente ao seu chamado.

8. Depois da ressurreição de Jesus, quando a Igreja assume a sua missão evangelizadora no mundo, são justamente os povos vindo do paganismo que responderão de modo positivo.

9. O que tudo isso significa para nós? Compreendermos que Deus chama todos à salvação e o faz em momentos e modos distintos. O que importa é responder prontamente ao seu convite e não permanecer surdo, indiferente. Saber-nos trabalhadores do Reino e fazê-lo com alegria de alma.

10. Não sermos ciumentos ou invejosos se outros foram chamados primeiro ou por último. O importante é gozar sempre da amizade de Deus, de estar na intimidade de sua casa, porque viver longe dele, como o filho pródigo, é dissipar os bens, é buscar em vão a felicidade a que aspira o coração humano.    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de setembro de 2020

(1Cor 15,35-37.42-49; Sl 55[56]; Lc 8,4-15) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“A parábola quer dizer o seguinte: a semente é a Palavra de Deus” Lc 8,11.

“Um dia Jesus contou essa parábola, comparando o anúncio do Reino com o trabalho da semeadura (Lc 8,4-15). E, em outra ocasião, deixou bem claro que o Reino de Deus será uma realidade na medida em que seu anúncio for acolhido por pessoas sedentas da justiça de Deus (Mt 6,33). O anúncio do Reino sempre gera vida e produz muitos frutos na caminhada das comunidades e dos fiéis que o acolhem generosamente (Is 55,11). Os frutos podem até diferir de comunidade para comunidade, de pessoa para pessoa, mas isso pouco importa – o importante é que as comunidades acolham a mensagem e trabalhem pelo fruto. Acolher a Palavra e trabalhar pelo fruto deve ser, portanto, nosso compromisso. Você, caro (a) leitor (a), faz isso ao dedicar um pouco do seu tempo à oração e à meditação. Existem, contudo, muitas outras formas de vivermos esse compromisso: a participação no culto junto de nossa comunidade, os momentos de oração junto de nossa família, o voluntariado em alguma instituição de caridade, a participação nos conselhos municipais em favor de uma sociedade mais justa, o trabalho realizado de forma competente e ética etc. Você, leitor (a), já experimentou uma dessas formas? Que bom! Deus o (a) abençoe. Na minha caminhada tenho encontrado centenas de pessoas que acolheram a mensagem do Reino, deixando-se transformar completamente por ela. São homens e mulheres que, embora tenham suas fragilidades, esforçam-se sobremaneira para que a vida dos outros, especialmente dos mais indefesos, seja mais abundante. Homens e mulheres que produzem muito fruto e transformam suas comunidades, tornando-as cheias de vida, de paz e de alegria. Agradeçamos a Deus por suas vidas e, sem medo, façamos também parte dessa turma boa e revolucionária. – Quero ser terra boa, para que a tua Palavra germine em mim e produza fruto bom. Vem, Senhor! Com a tua graça, torna fecundo este meu coração. Amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Januário, (S. Gennaro) bispo e mártir. Deve ter sofrido martírio no início do século IV, em Nápoles, junto com outros companheiros durante a perseguição de Deocleciano, condenado às feras no anfiteatro de Pozzuoli. Mas ele teria sido decapitado e não dado como alimento às feras. O fato mais pitoresco em torno desse mártir teve início em 432, na oportunidade da transladação de suas relíquias de Pozzuoli para Nápoles, uma senhora teria entregue ao bispo João duas ampolas contendo o sangue coagulado de são Januário. Como garantia da afirmação da mulher o sangue se liquefez diante dos olhos do bispo e de uma grande multidão de fiéis. Desde então o evento se repete em determinados dias. O prodígio, confirmado também pela ciência, é seguido por toda a população napolitana. A sincera devoção dos napolitanos para com o mártir, historicamente pouco identificável, fez com que a memória de são Januário, celebrada liturgicamente já desde 1586, fosse conservada no novo calendário. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de setembro de 2020

(1Cor 15,12-20; Sl 16[17]; Lc 8,1-3) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa-nova do Reino de Deus.

Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças”

Lc 8,1-2a.

“O evangelho refere-se a algo inusitado no tempo de Jesus: mulheres acolhidas como discípulas e colaboradoras. O preconceito sofrido por elas criava-lhes inúmeras barreiras religiosas, marginalizando-as na participação do culto e dispensando-as do estudo e da prática da Lei. Os pais escolhiam mestres para os filhos, mas não para as filhas. Tais mestres estavam proibidos de estabelecer contato com as mulheres no trato público, pois eram consideradas seres de segunda categoria. Jesus superou as barreiras do preconceito e admitiu-as no grupo dos que o acompanhavam nas andanças missionárias. As elencadas na narrativa evangélica foram todas beneficiárias de sua misericórdia, libertas do que as impedia de caminhar de cabeça erguida, conscientes da própria dignidade. Uma vez livres dos espíritos maus e das doenças, estavam em condições de se colocar a serviço do Reino. E o fizeram pondo seus bens à disposição de Jesus e dos discípulos. Sem dúvida, eram mulheres ricas. Um claro sinal da libertação do mau espírito foi o desapego do dinheiro, agora, desabsolutizado. O Reino as polariza inteiramente. O gesto de Jesus deve inspirar o modo de proceder das comunidades cristãs. É persistente a tendência a marginalizar as mulheres e não lhes reconhecer a dignidade e o papel no grupo dos seguidores de Jesus. Se o Mestre as acolheu e valorizou, deixa-las de lado corresponde a agir na contramão de sua vontade. – Pai, que eu jamais me acomode com a posição secundária das mulheres na comunidade cristã, consciente do valor que teu Filho deu-lhes ao acolhê-las como colaboradoras (Jaldemir Vitório – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano A] – Paulinas).

 

Santo do Dia:

São José de Cupertino, presbítero. A vida desse santo tem aspectos desconcertantes. Nasceu numa família muito pobre em Cupertino, na Púglia, em 1603, viveu os primeiros meses de vida em um estábulo porque o pai, endividado, teve de vender tudo. Tentou entrar para a ordem franciscana, mas foi rejeitado pela sua ignorância. Nem sua mãe o queria. Os frades menores de Grotella o acolheram, confiando-lhe os mais humildes serviços, como tomar conta de uma mula. Assim ele se autodefiniu como irmão burro, e mesmo assim queria estudar para padre. Em sua vida alguns fenômenos se fizeram presente, como a levitação e o êxtase, revelando-se uma santidade interior. Mesmo sem nenhum conhecimento teológico, tinha o dom da ciência interior e era consultado a respeito de questões delicadas de doutrina e exegese e dava respostas claras e sábias. A fama dos seus privilégios fez afluir a ele gente de toda parte e os seus superiores tinham que transferi-lo constantemente. José não expressava nenhum lamento sobre isso, apenas sentia falta da imagem de Nossa Senhora do seu convento em Grotella, cujo pensamento o levava ao êxtase. Morreu em Osimo, aos sessenta anos, em 1663.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de setembro de 2020

(1Cor 15,1-11; Sl 117[118]; Lc 7,36-50) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“Um fariseu convidou Jesus para uma refeição em sua casa. Jesus entrou na casa do fariseu e pôs-se a mesa” Lc 7,36.

“A dinâmica da conversão, assim como se expressa na cena evangélica, articula-se a partir de dupla vertente: uma humana, e outra divina. Deste encontro brota a conversão. Da parte da mulher pecadora nota-se um profundo amor por Jesus. Pelos costumes da época, um mestre costumava manter-se afastado das pessoas de má fama. A mulher teve coragem para enfrentar o bem conhecido preconceito farisaico. E não receou ser humilhada, já que sua condição de pecadora era de conhecimento público. Tudo aquilo valia a pena por causa de Jesus. Por isso, decidiu-se a lavar-lhe os pés e cobri-los de beijos e perfume, enquanto ele fazia refeição na casa de um fariseu. Da parte do Mestre, ou seja, da parte de Deus, tudo foi reconhecimento, acolhida e perdão. Não dava para ficar impassível diante de tamanha prova de amor! Jesus reconhecia que essa grande manifestação de amor correspondia à consciência da grandiosidade do perdão recebido de Deus. Só quem experimenta ser perdoado, como essa mulher, pode compreender a sinceridade de seu gesto. O fariseu Simeão perdeu a chance de partilhar a sublimidade do que estava acontecendo em sua casa. Seu preconceito contra a mulher (considerada um ser vulgar e desprezível) e contra Jesus (tido na conta de um impostar, travestido de profeta) impediu-o de ver o amor de Deus derrama-se abundante dentro de seu lar. – Pai, faze-me nutrir um amor tão entranhado a Jesus a ponto de não ter vergonha de manifestá-lo em nenhuma circunstância, mesmo correndo o risco de ser mal compreendido (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 

Santo do Dia:

São Roberto Belarmino, bispo e doutor da Igreja. Nasceu em Montepulciano em 1542 de uma rica e numerosa família toscana. Ingressou em 1560 na Companhia de Jesus. Estudou teologia em Pádua e Lovaina e em 1576 tornou-se o primeiro titular da cátedra de apologética, isto é, de defesa da ortodoxia católica na Universidade Gregoriana. Foi eleito cardeal e arcebispo de Cápua em 1599, tornando a Roma tempos depois. Escreveu muitas obras exegéticas, pastorais e ascéticas. Os compromissos escolásticos nunca o distraíram da oração. Como diretor espiritual, esteve ao lado de são Luís Gonzaga até os últimos instantes de vida. Também escreveu um Catecismo que muito serviu a tantas gerações de meninos para aprender as verdades fundamentais da fé professada no batismo. Entre as suas obras está A arte de bem morrer, sobre o despedir-se da vida com serenidade e desapego. Morreu em Roma a 17 de setembro de 1621 e o processo de beatificação, logo iniciado, só aconteceu em 1930 onde também foi canonizado e nomeado doutor da Igreja.   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de setembro de 2020

(1Cor 12,31—13,13; Sl 32[33]; Lc 7,31-35) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘Ele é um comilão e beberão,

amigo dos publicanos e dos pecadores!’” Lc 7,34.

“Querendo criticar, tudo é pretexto. É a velha história do preso por cão, preso por não ter cão. Dois líderes religiosos do início do século I foram criticados por motivos opostos: um, João Batista, era um asceta; outro, Jesus, um homem social, mas não um farrista como dá a entender a acusação dos inimigos. Mas aí vem a pergunta: Por que eram criticados assim tão violentamente a ponto de inimigos afirmarem que João tinha demônio e Jesus era comilão e beberrão? O ponto central era a mensagem de ambos, mensagem cujo início era o chamado ao arrependimento. Ora, quando se chama alguém ao arrependimento, isso implica dizer que ele está errado, que algo precisa de melhora moral e espiritual. Reconhecer isso, no entanto, é a última coisa que as pessoas, via de regra, desejam fazer, pois elas sempre têm (e nós não?) explicações para seus atos e pensamentos, explicações a pouco transformadas em justificativas e até mesmo em imperativos morais categóricos. É verdade: o orgulho, a autojustificação, a impenitência, a dureza de coração podem transformar-se numa certeza metafísica inabalável! Quando isso acontece, nada mais resta à pessoa chamada ao arrependimento senão desfazer o pregador: ou é ele um asceta endemoninhado, ou um comilão e beberão. E, quanto a nós, confrontados com a pregação de arrependimento, o que faríamos: aceitaríamos a pregação como Palavra de Deus, ou procuraríamos e, quem sabe, criaríamos defeitos no pregador? – Senhor Deus, nem sempre aceitamos a pregação do arrependimento. Às vezes, agimos como aqueles do nosso texto. É bem verdade que pregadores são humanos e também erram. Pedimos-te, porém, que nos faças ver neles os portadores da tua Palavra. Amém (Maria Luiza Silveira Teles – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santos Cornélio e Cipriano. “Vítimas ilustres da perseguição de Valeriano, respectivamente em junho de 253 e a 14 de setembro de 258, são o papa Cornélio e o bispo de Cartago, Cipriano, cujas memórias aparecem em conjunto nos antigos livros litúrgicos de Roma desde a metade do século IV. Cipriano nasceu em Cartago, mais ou menos no ano 210, era ainda pagão quando ensinou filosofia e advogou. Converteu-se em 246, e três anos depois foi escolhido para o episcopado. Havia apenas tomado posse da diocese de Cartago, quando estourou a perseguição de Décio. Os cristãos deviam apresentar-se ao magistrado e requerer libellus, isto é, um certificado que os declarasse bons e honestos cidadãos, precedendo naturalmente a simples formalidade de jogar alguns grãos de incenso no braseiro diante de um ídolo” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). Alguns conseguiram libellus no ‘mercado negro’, outros acabaram renegando a fé. Cipriano fugiu para o campo e teve uma atitude bastante moderada com os cristãos submetidos à perseguição. Cornélio foi eleito papa em 251, após um longo período de sede vacante, por causa da terrível perseguição de Décio. Contou com o apoio de Cipriano contra o antipapa Novaciano. Morreu em Civitavecchia e foi sepultado nas catacumbas de Calisto. Cipriano foi decapitado a 14 de setembro de 258.

 Pe. João Bosco Vieira Leite