Quinta, 28 de fevereiro de 2019

(Eclo 5,1-10; Sl 01; Mc 9,41-50) 
7ª Semana do Tempo Comum.

“Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituíres o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros” Mc 9,50.

“Que maravilhosa comparação esta do sal! Faz parte dos belos ensinamentos do Mestre Jesus quando ele diz que somos sal da terra e luz do mundo. Sal se apresenta e se mistura. Se ficar no canto da travessa não atua sobre o alimento. Mas porque se espalha, torna-se gosto e tempero; porque se dá por inteiro o sal cria gosto. O que não se faz presente, como saber o gosto de existir? Mas ter sal em si mesmo é dar gosto e sentir gosto. Sentir o gosto de Deus em tudo é sabedoria, o conhecimento que vem através do sabor. Ser alguém que acrescenta algo com uma presença de valores que tem em si Deus em todos os seus sentidos. É preciso degustar Deus a partir de suas obras, nas pessoas, nos caminhos da fé e na convivência de pessoas e grupos que cuidam do Espírito. Ter sal em si mesmo é temperar a vida com valores, virtudes e princípios. Viver em paz é viver de um modo inteiro. Paz não é administrar tensões, guerras e conflitos, mas evitar que tudo isso aconteça; é apresentar-se na pureza que se é. Paz é qualificar a presença e a convivência e aliviar as ansiedades, é ter o sal da serenidade, perdão, harmonia interior e exterior. É criar fraternidade onde se está como diz o texto bíblico que estamos meditando: ‘viver em paz uns com os outros’. Mas fiquemos atentos à convocação de Jesus: ‘Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros’. Sal penetra a interioridade, salga os tecidos do nosso corpo e da nossa alma: Que sal é este? O gosto de ter um Deus dentro de si. A paz é para os outros; é criar um bom ambiente junto e ao redor. – Senhor, fazei-me um instrumento de paz! Que eu leve a leveza das relações e a calma para que a vida possa fluir sem tensões. Que eu seja sal da terra. Amém! (Patrícia de Moraes Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 27 de fevereiro de 2019


(Eclo 4,12-22; Sl 118[119]; Mc 9,38-40) 
7ª Semana do Tempo Comum.

“João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” Mc 9,38.

“A tentação do sectarismo e do fundamentalismo é deveras atual no hodierno contexto eclesial. Enquanto cada vez mais frequentemente, entramos em contato com pessoas de outras raças e religiões, reaviva-se em nós o desejo de nos reconhecermos numa identidade bem definida. Mas esse legítimo desejo impede uma liberdade real capaz de deixar espaço a âmbitos de diálogos e de acolhimento, então entra em colisão com a mensagem evangélica. O Evangelho pede, antes do mais, capacidade e disponibilidade, antes de qualquer distinção e catalogação. Encurtar ou atenuar o evangelho, por uma falsa tolerância, não é um bom serviço prestado à fé cristã. Mas também não o é a presunção de ter a exclusividade na afirmação dos valores que salvaguardam o bem do homem ou na batalha contra todo o tipo de encarnação do mal. Não é evangélico ser-se perturbado pelo bem que deriva de quem não partilha a nossa fé, nem o é deixar de fazer tudo o que é possível em colaboração, sem reservas interiores, com quem que prefere a luz às trevas” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 26 de fevereiro de 2019


(Eclo 2,1-13; Sl 36[37]; Mc 9,30-37) 
7ª Semana do Tempo Comum.

“Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: ‘O que discutíeis pelo caminho?’” Mc 9,33.

“Depois do anúncio da paixão, os discípulos começaram a discutir ‘quem era o maior’ (9,34). Não pode haver equívoco maior diante das palavras de Jesus sobre a sua entrega às mãos dos homens. Jesus é abandonado, mas os discípulos só pensam em tirar maior proveito do reino de Deus. Jesus é humilhado, mas os discípulos sonham com sua grandeza. Depois do primeiro anúncio da paixão, Jesus colocara o foco de seus ensinamentos no entendimento correto do seguimento e no reconhecimento do Deus. Agora, suas palavras giram em torno da vida da comunidade de Jesus, ou seja, na Igreja. A compreensão da morte e ressurreição de Jesus traz consequências para a relação entre os discípulos. Eles não devem preocupar-se em saber quem é mais importante e maior. A questão não é a hierarquia e sim o serviço. Jesus dá uma demonstração dessa verdade, colocando no meio deles uma criança e abraçando-a: ‘Quem acolhe em meu nome uma criança como esta acolhe a mim mesmo; e quem me acolhe, não é a mim que acolhe, mas aquele que me enviou’ (9,37). Os discípulos não vivem para si mesmos. Eles devem servir aos outros. E de modo especial devem prestar seu serviço ‘às crianças pobres e necessitadas’ (Pesch, 1977, 107). É provável que Jesus esteja pensando ‘no acolhimento das crianças abandonadas’ e na ajuda aos ‘órfãos e crianças pobres’ (Pesch, 1977, 106). Na cruz se decide o autoconceito da Igreja. Ela está aí para servir aos pobres e desvalidos, e não para insistir presunçosamente em seus direitos. Ela deve manter-se aberta para todos os que não fazem parte dela, mas que expulsam demônios em nome de Jesus (9,38-41). A cruz na qual Jesus morre pelo mundo inteiro é, para Marcos, um símbolo da tolerância que a Igreja deve manifestar em relação a todos os seres humanos. Em vez de reservar para si mesma o direito exclusivo de representar Jesus, ela deve ter a confiança de que outros também saberão entender o mistério de Jesus e de seu Deus, dando testemunho dele à sua maneira. A cruz quer romper com a estreiteza mesquinha dos meios eclesiásticos, alargando o coração para o amor de Deus que se dirige a todos os homens. A cena com a criança ´pode ter ainda outro significado: devemos acolher Jesus como uma criança, não devemos abusar dele para aumentar nossa própria importância; antes devemos inclinar-nos para abraça-lo como uma criança. É preciso ter um coração carinhoso para entender e acolher o mistério de Jesus. Precisamos entrar em contato com a criança que está dentro de nós, para que possamos lidar adequadamente com uma criança. Para isso precisamos de um coração infantil, que está aberto ao amor e que sabe maravilhar-se, para encontrar Jesus. No mundo não podemos nos vangloriar da mensagem de Jesus. Muitos nos chamarão de infantis, porque nesse mundo que vive em função do sucesso e da concorrência ainda acreditamos no amor, porque apostamos nesse Jesus que avança pelo caminho do fracasso e é rejeitado pelos poderosos”  (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de fevereiro de 2019


(Eclo 1,1-10; Sl 92[93]; Mc 9,14-29) 
7ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse: ‘Se podes!... Tudo é possível para quem tem fé’” Mc 9,23.

“Jesus desce da montanha com Pedro, Tiago e João e vai encontrar-se com os outros discípulos. Quando chega junto deles, vê que estão discutindo com os escribas e se aproxima para ver o que está acontecendo. A discussão ocorre porque os discípulos não haviam conseguido expulsar o espírito impuro de um menino possuído. O pai do menino corre para narrar o que havia acontecido e solicitar a intervenção do Mestre (cf. Mc 9,14-29). A incredulidade dos discípulos é o motivo da falta de sucesso na tarefa empreendida por eles. Eles estavam muito confiantes em si mesmos, esquecendo que as curas são realizadas não pelo poder de suas mãos, mas pelo poder divino, pela fé e a força que vem de Jesus e sua autoridade que manifesta a soberania de Deus Pai. Crer é aceitar a pessoa e a mensagem de Jesus. Esta aceitação implica a adesão ao poder de Jesus, e é essa a fé que tudo pode. E, por isso, Jesus afirma que tudo é possível para quem fé e adverte a todos os que estão presentes a respeito da incredulidade que cada um tem em maior ou menor grau. No entanto, não deixa de ajudar o menino, conjurando severamente o espírito impuro a deixá-lo. ‘Tudo é possível para quem tem fé!’ – essa é a palavra que ecoa dentro de nós. Tudo nos é possível se temos a fé em Jesus, se temos a vontade boa de estar em comunhão com o Pai e a certeza que através de seu poder todas as coisas se realizam. É ser obediente ao anúncio da Boa-nova que traz o sadio total do humano. Ecoa também em nós a frustração de, como os discípulos nesse episódio, não conseguimos realizar todas as coisas porque achamos que somos autossuficientes e não temos a humildade de reconhecer que somos criaturas totalmente dependentes do Criador. –Senhor, dá-me não apenas a fé em Jesus, mas que eu tenha a fé de Jesus que revela a força de tua intervenção na história! Pelo poder da fé que eu possa purificar o mundo da presença do espírito do mal. Amém! (Patrícia de Moraes Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

7º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23; Sl 102[103]; 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38).

1. Muitos séculos antes de Jesus conclamar seus seguidores a uma atitude diferenciada, Davi teve seus momentos, sem o saber, de vivência do evangelho, que revelavam nobreza e generosidade.

2. Davi está sendo perseguido por Saul e tem a chance de chegar perto do rei para mata-lo, mas não o faz, pois sabe que ele foi consagrado rei de Israel, apesar de suas loucuras. O texto nos coloca diante da escolha de Davi e Abisai.

3. Davi dá um passo extremamente inesperado e na direção daquilo que nos aponta o evangelho, não só no perdão, mas até na busca do inimigo, para uma reconciliação. Desde já o texto nos provoca para que sejamos capazes de pensar qual seria a nossa atitude, nós que caminhamos sob a luz do evangelho.

4. Quando se fala em ressurreição da carne naturalmente pensamos nos que morrem queimados, decompostos e deformados pelas doenças, acidentes e pelo tempo. Paulo explica a nova condição a partir de um corpo espiritual, incorruptível, de acordo com a dimensão divina que é chamado a partilhar.

5. Com a eleição do novo presidente, veio à tona o assunto sobre o uso de armas de fogo, já que o mal crescente nos obriga a buscar um sistema de defesa, não por maldade, mas por necessidade, e por um senso de justiça que paga ao mal com o mal.

6. Mas na contramão de tudo isso vem o evangelho com seus imperativos: ‘amai, fazei o bem, abençoai, orai’. Somos assim colocados diante de toda forma de inimigos com que a vida pode nos presentear.

7. Jesus não vê no uso da violência uma solução, mas sua complicação; famílias rivais que o digam. Só o amor possibilita uma realidade nova. Não se trata de transformar inimigos em amigos, mas criar atitudes, comportamentos que os despertem, não agindo no olho por olho, dente por dente.

8. Se fosse algo simples, certamente Jesus não precisaria nos indicar o caminho da oração, uma forma de colocar o nosso coração em sintonia com o coração de Deus e nos fazer rever.

9. Não se trata de abrir mão do nosso direito de justiça; lembremos da viúva que ele elogia por sua insistência. Não significa tomar ao pé da letra o nosso texto, ele apenas insiste que não usemos certos métodos violentos, que sejamos capazes de uma resiliência, de uma paciência heroica, pois contra o mal não é possível reagir sem cometer o mal.

10. O texto segue nos orientando na prática do bem a quem se encontra em dificuldade, a viver uma outra forma de justiça que nos faz parecidos com Deus, e aqui está a nossa grandeza. Assim o texto faz com que nos perguntemos: em que patamar nos encontramos?

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de fevereiro de 2019


(Hb 11,1-7; Sl 144[145]; Mc 9,2-13) 
6ª Semana do Tempo Comum.

“Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: ‘Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas; uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’” Mc 9,5.

“O Evangelista Marcos nos relata que Jesus segue com Pedro, Tiago e João para uma alta montanha e ali se transfigura diante deles. Jesus fica com as vestes resplandecentes, apareceram-lhe Elias e Moisés e uma nuvem os cobre com sua sombra e de lá uma voz anuncia: ‘este é meu Filho Amado’. É uma passagem muito simbólica. A montanha nos remete à junção céu e terra, o lugar da transcendência; Jesus aparece de forma gloriosa e ao seu lado estão a Lei, representada por Moisés, e os profetas, representados por Elias. A nuvem exprime o mistério da presença divina e há o anúncio de Jesus como Filho de Deus Pai. Essa manifestação da glória de Jesus tem o objetivo de fortalecer os discípulos para enfrentarem o escândalo da cruz. Anteriormente, Jesus já começa a prepará-los anunciando sua paixão e, diante da incompreensão, oferece um bálsamo, que os sustenta e revigora na fé. Mesmo passando pelos mais terríveis sofrimentos para a remissão dos pecados da humanidade, Jesus vencerá, o Pai o ressuscitará dos mortos e o bem triunfará. A Palavra hoje nos fala: Coragem! Se uma doença nos aflige, se o desemprego nos tira o sono, se um familiar está perdido, se tudo parece estar dando errado, coragem! Tenha fé que tudo passa, há sempre uma luz no fim do túnel, a calmaria após a tempestade! Assim nos ensina a sabedoria popular, assim nos ensina a vida, assim nos ensina Jesus. É preciso apenas acreditar, cantar com o salmista: ‘Os que semeiam com lágrimas, ceifam em meio a canções. Vão andando e chorando ao levar a semente; voltam cantando, trazendo seus feixes’ (Sl 126). – Senhor, confiante na plenitude do Reino, quero nesse dia entregar a minha vida e ser acalentado(a) pela visão gloriosa de Jesus, que generosamente se coloca o meu lado, fortalecendo-me, apoiando-me e dizendo: Coragem! Amém!” (Patrícia de Moraes Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).  

   Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de fevereiro de 2019


(1Pd 5,1-4; Sl 22[23]; Mt 16,13-19) 
Cátedra de São Pedro.

“Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” Mt 16,18.

“O pescador afeito às redes e afoito nas palavras jamais imaginaria que seu Mestre lhe desse honra tão grande a ponto de ser chamado Pedro, isto é, pedra, algo duro, resistente. Acontece, porém, que ele teve a resposta certa na hora certa, pois, ao ser perguntado, sobre quem era Jesus, não teve dúvidas: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. Por isso ele se tronou Pedro. Mas será que esse Pedro se tronou um monumento solitário, uma espécie de ilha cercado por um mar de descrença por todos os lados? De modo algum. Junto dele havia pelo menos mais dez pessoas com a mesma resistência de fé. E pouco tempo depois esse número teria aumentos sensacionais. No entanto, nós, às vezes, nos sentimos um tanto solitários. Vamos à igreja, é verdade. Dizemos a Jesus nos hinos, no Credo, nas orações, que ele é Cristo. Vemos ao lado muita gente fazendo o mesmo. No dia seguinte, porém, a alegre exclamação já parece um tanto desbotada, e a Igreja, não como instituição que administra dinheiro e bens como fraternidade, como mensagem, nos dá a nítida impressão de ter sido engolida pelas forças opostas. De fato, esse mundo social e cultural que habitamos não é o mundo da igreja. Há um conflito às vezes claramente aberto, às vezes apenas pressentindo, mas permanentemente. É então que ameaçamos desabar. Muito bem. Qual a novidade? Pedro também desabou quando, lhe parece que o inferno havia dominado tudo, negou a Jesus? O importante no caso é não cair no desespero. É confiar naquele que enfrentou tudo e nos garante que as portas do inferno não levarão vantagem sobre a Igreja. E não levará mesmo. – Senhor Jesus, faze de cada um de nós um Pedro resistente e confiante em tua promessa. E não deixes que as portas do inferno levem vantagem sobre a tua Igreja. Amém”. (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de fevereiro de 2019


(Gn 9,1-13; Sl 101[102]; Mc 8,27-33) 
6ª Semana do Tempo Comum.

“Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deveria ser morto e ressuscitar depois de três dias” Mc 8,31.

“Na segunda parte do Evangelho de Marcos (8,27—10,52), Jesus se encontra a caminho de Jerusalém. Deixou de ser o curador que realiza obras de grande poder para ser o mestre que instrui os discípulos. Ele lhes explica o sentido de seu próprio destino e o mistério de sua pessoa, mas ensina também como deve proceder aquele que pretende segui-lo. Toda essa parte é estruturada em função dos três anúncios de sua paixão e ressurreição. Nessas três previsões, Jesus mostra em primeiro lugar qual é o mistério de sua pessoa, mas dá a conhecer também a visão correta que se deve ter da existência cristã. Marcos liga o primeiro anúncio da paixão ao reconhecimento de Pedro que Jesus é o Messias (8,27-30). Dessa maneira, ele quer mostrar como devemos entender Jesus no papel do Messias. Enviado por Deus para falar dele com plenipotência e livrar os homens do poder dos demônios, Jesus cai ele próprio nas mãos do mal e é destruído por esses poderes. Mas é justamente assim que ele vence o mal pela raiz. Com os três anúncios da paixão, Marcos desenvolve seu entendimento da doutrina de plenipotência de Jesus: o poder se perde na impotência, para provar justamente seu caráter de poder absoluto. Jesus precisa sofrer muito (8,31). Fazendo uma referência a Isaías 53,4 poderíamos traduzir essa passagem também assim: ele precisa carregar tudo. É a vontade de Deus que ele carregue sobre os ombros o destino dos homens no lugar deles e que os cure dessa maneira. Em seguida, Marcos enumera os grupos de pessoas responsáveis pela morte de Jesus. Ele será rejeitado ‘pelos anciãos, os sumos sacerdotes e escribas’ (8,31). Os anciãos são os representantes da aristocracia leiga. Os sumos sacerdotes representam toda a classe sacerdotal judaica. E os escribas são os eruditos intelectuais judeus. Nessa passagem, Jesus não menciona os fariseus. Nos debates eles são frequentemente adversários de Jesus, mas discutindo com ele o ajudam também a definir claramente sua posição. Não são adversários que pretendam eliminá-lo. Os três grupos citados, porém, rejeitam Jesus. A palavra grega poderia ser traduzida também como ‘desprezar’. Haveria então novamente uma referência ao canto do Servo de Deus, em Isaías 53,3. O fato de Jesus ter de sofrer muito exprime a intenção salvífica de Deus. Mas o fato de ele ser desprezado descreve o destino que lhe é preparado pelos homens (cf. Grundman, 219). Jesus cumpre o anseio do povo judeu pelo Servo de Deus que se levantará, ‘que carrega nossa doença, que suporta nossas dores, e em cujas chagas encontra-se a cura para nós’ (cf. Is 53,1-12)” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de fevereiro de 2019


(Gn 8,6-13.20-22; Sl 115[116B]; Mc 8,22-26) 
6ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele” Mc 8,22.

“Marcos conta a história de cura do cego no fim da atuação de Jesus na Galileia. Depois disso, ele se pôs a caminho de Jerusalém. Nos três capítulos seguintes menciona três vezes sua paixão e sua morte em Jerusalém. Mas os discípulos que o acompanham continuam cegos. Antes de entrar em Jerusalém, Jesus cura outra vez um cego que passa a segui-lo pelo caminho. É ele o único discípulo que segue Jesus de olhos abertos. Entre as duas curas de um cego, Jesus ensina os discípulos durante a caminhada em Jerusalém. Ele gostaria de abrir-lhes os olhos para o seu próprio caminho que, passando pela cruz, conduz à ressurreição. Mas é também o caminho deles, durante o qual farão as mesmas experiências. Por meio dessa construção em forma de sanduíche, Marcos revela sua maneira de ver o aprendizado dos discípulos: as palavras devem lhes abrir os olhos para a realidade. É esse também o sentido da meditação das escrituras: meditando-as devemos penetrar de tal maneira nas palavras de Jesus que nossos olhos se abram ao conhecimento do mistério de Deus e de nossa própria existência humana. Os discípulos continuarão com os olhos fechados até a ressurreição. Na morte de Jesus, o centurião pagão verá em Jesus o Filho de Deus. Depois serão as mulheres que encontrarão o anjo no sepulcro. Elas deverão anunciar aos discípulos que eles verão Jesus na Galileia. Assim também a cura do cego nos convida a abrirmos os olhos em etapas, para que possamos compreender aos poucos o mistério da morte e da ressurreição de Jesus, entendendo finalmente de olhos abertos o que Jesus fez em nós. A primeira cura de um cego nos desafia a entendermos em nosso caminho que trilhamos com Jesus quem é esse Jesus. Ele, que anda à nossa frente e nos introduz no mistério da vida, é ao mesmo tempo aquele que morrerá por nós e que, em sua morte, vencerá o poder das trevas. Ressuscitado, ele nos acompanha agora no caminho de nossa vida” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de fevereiro de 2019


(Gn 6,5-8;7,1-5.10; Sl 28[29]; Mc 8,14-21) 
6ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus os advertiu: ‘Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes’” Mc 8,15.

“Jesus, após a segunda multiplicação dos pães, embarca com os discípulos para continuar sua missão. No entanto, ao entrarem no barco, os discípulos observam que têm apenas um pão a bordo e questionam o que fazer nessa situação (cf. Mc 8,14-21). Eles se preocupam com o suprimento material e não se dão conta da advertência de Jesus, para ficarem atentos à astúcia dos fariseus e às armadilhas de Herodes. O fermento, com o clima daquela região, leva à deterioração da massa e, por conseguinte, os elementos fermentantes eram considerados impuros. Jesus quer levar os discípulos a refletirem sobre essa analogia, ou seja, se não tomarem cuidado, podem ser desvirtuados, podem ser levados à corrupção, como acontece com a massa fermentada. Os discípulos permanecem com o pensamento fixo no alimento do corpo, enquanto Jesus está falando de um valor maior, que é o alimento da alma. São como cegos e surdos e não compreendem o sentido da missão de Jesus! Apesar de estarem seguindo o Mestre, acompanhando e ouvindo seus ensinamentos, testemunhando milagres realizados tanto na Galileia, entre judeus, como fora, entre pagãos, os discípulos ainda não têm total clareza da tarefa à qual Jesus se propõe. Assim somos nós, como os discípulos, que, mesmo sendo cristãos, ao presenciar a intervenção da divindade em nossas vidas, muitas vezes estamos ocupados com nossas preocupações terrenas, nos esquecemos que nosso corpo é perecível, mas nossa alma não. É preciso cuidar para que a ambição desenfreada, o orgulho destrutivo, a disputa desleal, a busca pela perfeição no trabalho e nas relações, o materialismo, entre outros, não fermentem e deturpem nossa busca constante que é a vida eterna. –Senhor, que eu espere na tua providência para suprir minhas necessidades diárias, confiando na oração que teu Filho ensinou, ‘o pão de cada dia’, e possa, com tua graça, não cair em tentação, mas estar vigilante contra todo mal. Amém (Patrícia de Moraes Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de fevereiro de 2019


(Gn 4,1-15.25; Sl 49[50]; Mc 8,11-13) 
6ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Jesus deu um suspiro profundo e disse: ‘Por que esta gente pede um sinal? Em verdade vos digo, a esta gente não será dado nenhum sinal’” Mc 8,12.

“Ver para crer – esse é o grande anseio de todos. Mas funciona mesmo? Judas se cansou de ver curas e na hora H traiu a Jesus. Pedro viu curas, inclusive da própria sogra, assistiu à transfiguração e na hora H negou Jesus. Os inimigos de Cristo, vendo a coragem com que os discípulos, após Pentecostes, pregavam em Jerusalém, reconheceram que esses homens só podiam estar assim exaltados por terem visto a Jesus ressuscitado. Ver não é crer. Crer significa entrar na dimensão do relacionamento com Deus. Crer é ver a Deus como Pai, como Amigo, como Autor da graça, como Doador do perdão. Consequentemente, crer também implica total transformação da pessoa. Crer não depende do ver. De que modo, então, é possível crer? Crer é dádiva do próprio Deus. É obra do Espírito Santo, que através da Palavra e dos sacramentos, cria em nós olhos internos que vêm aquilo que os olhos normais se recusam a ver. Por que, apesar disso, há pessoas insistindo em ver para crer? Por que nós – confessemos – também queremos que nossa fé seja consequência duma bisbilhotice espiritual? Talvez porque, no fundo, não queiramos crer; talvez ´porque, em última análise, queiramos apenas confiar em nós mesmos. Se, porém, criarmos esse tipo de impasse, fiquemos logo sabendo: nenhum sinal nos será dado. Não será melhor, portanto, humildemente crermos sem ver? – Senhor Jesus, teu amor mostra a nós dia após dia, e, mesmo assim, ainda queremos sinais miraculosos. Para quê? Porventura não nos é suficiente o Espírito Santo apontando para tua cruz?”  (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Jr 17,5-8; Sl 01; 1Cor 15,12.16-20; Lc 6,17.20-26).

1. Nesses tempos de crise econômica é comum que quem tenha algum dinheiro procure um investimento seguro. É preciso ver as opções de mercado e fazer uma escolha. A liturgia da Palavra nos convida a apostar ou investir em Deus, na nossa relação com Ele.

2. O texto não nos quer conduzir a uma desconfiança do ser humano em si, mas dos valores muitas vezes propostos por esse, para constituir a base da vida; para se fazer entender, faz uma comparação com uma árvore plantada junto às águas e aquela do deserto. O salmo endossa a reflexão.

3. A pergunta por trás do texto é sobre qual fundamento se encontra a nossa existência? Que valores cultivamos? Nem sempre o senso comum é a melhor escolha. Há coisas que permanecem e outras são passageiras.

4. Continuando seu discurso, Paulo acrescenta à fé na ressurreição de Cristo, o fato da nossa ressurreição.  Se não ressuscitamos, então estamos perdendo tempo não gozando da vida, como tantos.

5. O texto afirma a ressurreição de todos quanto creem, mas aqui será necessário acrescentar: ‘que praticam o bem’. Esses serão os primeiros frutos, a serem recolhidos, independente da fé que carregam.

6. A forma literária das bem-aventuranças já foi usada antes de Jesus, como o fez Jeremias e tantos outros mestres do povo de Israel. Diferentemente de Mateus, Lucas apresenta-as de forma mais concreta, mais terrena, por assim dizer.

7. Aqui Jesus fala diretamente aos discípulos, não tanto à multidão, pois eles deixaram tudo para O seguir, escolheram a pobreza, pois a vida do homem não depende tão somente dos bens que possui. A multidão ainda continua presa a certos bens e coisas que lhes impedem de avançar na compreensão do verdadeiro sentido da existência.  

8. Jesus não está falando de indigência ou privação, mas de onde se colocou a confiança nessa vida e do que se constrói com o que somos e achamos ter.

9. Nas bem-aventuranças que se seguem aparecem as consequências do caminho abraçado por seus discípulos, a alegria não está no sofrimento, mas na luta empreendida que favoreça a todos.

10. As desventuras se concentram num olhar sobre quem tudo concentrou para si, no gozo desleixado dos bens desse mundo sem importar-se com os demais, inimigos do Reino anunciado por Jesus, algo que será bem ilustrado na parábola de Lázaro e do Rico, que distraidamente ignorou o pobre à sua porta.

11. Assim temos no conjunto dos textos a escolha por um caminho de bênçãos ou maldições, de morte ou ressurreição, se concentramos ou não a nossa vida demasiadamente para essa existência.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de fevereiro de 2019


(Gn 3,9-24; Sl 89[90]; Mc 8,1-10) 
5ª Semana do Tempo Comum.

“Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram” Mc 8,8.

“Sobras – que palavra bonita quando se subtende repartição e satisfação de todas as necessidades de todas as pessoas. Mas que palavrinha terrível e mais fora de tom quando, por trás dela permanece a carência como resultado de desigual distribuição. Anos atrás, a Índia exportava arroz porque os famintos do país não tinham meios para compra-lo. E o Brasil não só exporta alimentos – que os nossos 32 milhões de famintos evidentemente não podem comprar – como ainda permite que milhares de toneladas de grãos simplesmente apodreçam em armazéns burocraticamente fechados. Qual, pois, o direito de falarmos em sobras, excedentes, supersafras, termos que tanto enchem a boca de nossos ministros da agricultura? Diante desse quadro nacional, como ficam os seguidores de Cristo ao meditar sobre o milagre da multiplicação de pães e suas maravilhosas sobras? Não estaríamos falando duma coisa sem sentido, ou até mesmo ofensiva, para uma considerável parte dos habitantes de nosso país? [...] As sobras, no entanto, continuam existindo, mas, infelizmente, pela insensibilidade humana que pelo milagre de Deus. Esse milagre, a saber, a natureza criada por Deus, o amor que nos dedica, evidentemente, é a causa de todas as sobras. Mas que haja sobras escandalosas, irritante, ultrajantes – só mesmo a insensibilidade e a maldade de quem faz seu estômago satisfeito o seu aristotélico deus”  - Senhor Jesus, não te pedimos que multipliques apenas os pães. Pedimos-te muito mais: multiplica o teu amor em nós. Amém(Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de fevereiro de 2019


(Gn 3,1-8; Sl 31[32]; Mc 7,31-37) 
5ª Semana do Tempo Comum.

“Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Efatá! Que quer dizer ‘abre-te!’” Mc 7,34.

“Qual a diferença entre ouvir e escutar? Ouvir é uma ação passiva, é a habilidade de captar e receber ondas sonoras; enquanto escutar é uma ação ativa e requer mais que ouvir, e sim dar atenção, ter foco, sentir as palavras, perceber o que foi dito. Perdemos nossa capacidade de escuta quando nos fechamos para o outro, quando nos centramos em nós mesmos, sendo incapazes de perceber os problemas dos demais. Dessa forma, somos insensíveis à mensagem de Jesus, que é uma proposta de abertura, acolhimento, inclusão e amor. Abrir é descerrar, destapar, desatar. Esse é o imperativo de Jesus na vida do surdo, ele o chama à abertura. Marcos nos detalha o modo como Jesus faz e deixa transparecer a profunda humanidade e a profunda divindade do Mestre. Jesus trata o surdo com respeito e se trona próximo; toca suas orelhas para desobstruir seus ouvidos; com a saliva evoca a vida, a cura, a salvação; olha para o céu, invocando o Pai para associar-se a Ele, e geme, num profundo lamento e compaixão. Todo esse processo chama o surdo à fé, à sua participação ativa, à sua escuta: Abre-te! Não é esse o mesmo imperativo para cada um de nós hoje? Estamos sob o jugo de males do fechamento, da falta de comunicação, do olho no olho, do afeto. Consequentemente vem a solidão, abandono, depressão, e as diversas síndromes provenientes de uma sociedade na qual as pessoas não se escutam e não se olham. Para mim, para você, Jesus fala: abre-te! Deixe-se conduzir pelo Espírito, permita escutar o Evangelho, permita praticá-lo. Não fique dentro dessa redoma de vidro, de um modo isolado, superprotegido e alienado do mundo. A vida nos chama! Jesus fez tudo muito bem, façamos como Ele! – Senhor, que eu não seja surdo, mas escute a sua mensagem de salvação mediada pelo toque de Jesus e faça dela uma prática na minha vida. Amém!” (Patrícia de Moraes Mendes de Souza – Meditações para o dia a dia[2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de fevereiro de 2019


(Gn 2,18-25; Sl 127[128]; Mc 7,24-30) 
5ª Semana do Tempo Comum.

“Será assim abençoado todo homem que teme o Senhor. O Senhor te abençoe de Sião cada dia de tua vida” Sl 128,4-5.

“O autor do salmo 128 sabia algo sobre as bênçãos de Deus. Três vezes em seis versículos ele descreveu a bênção de Deus. Ele não falou em receber uma promoção ou um aumento no trabalho ou em ser reconhecido e celebrado na televisão. O salmista retratou a bênção de Deus no contexto de uma família. Somos abençoados quando nos sentamos à mesa e vemos um cônjuge amoroso e uma penca de filhos desfrutando de um jantar juntos. Somos abençoados quando temos outro bebê ou sentimos o abraço de um neto. Avaliamos nossas bênçãos não em dinheiro ou fama, mas nas alegrias serenas de uma casa. ‘assim será abençoado o homem [ou a mulher] que teme o Senhor’ (v. 4). O salmo 128 não promete que não teremos problemas eventuais para resolver ou momentos difíceis em nossos relacionamentos. Famílias são feitas de pessoas e, gostemos ou não, pessoas são pecadoras. Discutimos, temos mal-entendidos, temos nossos sentimentos feridos ou dizemos coisas insensíveis. Um cônjuge pode abandonar a família, um filho pode jogar fora os ensinamentos religiosos e o exemplo de um pai. O salmo 128 não garante harmonia e alegria contínuas. É um salmo de sabedoria; ele nos diz como as coisas normalmente funcionam. Normalmente, uma pessoa que teme ao Senhor e que anda nos caminhos dele verá essa paz e obediência refletida em sua casa. Olhe ao redor da próxima vez que sua família estiver reunida. Você vê um belo jardim ou terreno baldio negligenciado? Seu relacionamento com seu cônjuge e o crescimento de seus filhos em santidade um cultivo cuidadoso. Se você está gastando todo o seu tempo em horas extras no trabalho, assistindo à televisão ou navegando na internet, você está ignorando a bênção de Deus em sua vida. Oliveiras levam um bom tempo para amadurecer e dar frutos. Talvez por isso o autor do salmo 128 compare nossos filhos a brotos de oliveiras transplantados. Nosso trabalho como pais e avós, e também pais espirituais, é nutrir e cuidar dessas plantas delicadas, até que elas cheguem à maturidade. Uma vez que chegam à condição de dar frutos, as oliveiras tornam-se muito valiosas e produzem durante décadas, até mesmo séculos – muito mais tempo do que qualquer outra planta frutífera. Essa é a imagem da influência permanente que você pode ter sobre a sua família. Filhos e netos olharão para trás, mesmo depois de você já ter partido, e remontarão a você os aspectos santos (ou ímpios) de seu caráter. Como você está se saindo com as plantas delicadas que estão sob os seus cuidados?” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de fevereiro de 2019


(Gn 2,4-9.15-17; Sl 103[104]; Mc 7,14-23) 
5ª Semana do Tempo Comum.

“Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidade, roubos assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”
Mc 7,21-22.

“É comum e até poético aconselhar as pessoas a segurem a voz do seu coração. Porém, seria um conselho seguro? Os magos do Oriente foram guiados pela estrela-guia. A sua mente e lógica os levou a um lugar errado: Jerusalém. Porém, o Senhor Deus fez brilhar a estrela e encaminhar claramente até Belém. Seguindo a voz do coração, Herodes mandou matar criancinhas de até dois anos de idade; agiu em inveja, violência, orgulho e mentira. A Palavra de Deus nos ensina que a maldade está em nosso coração. Nós nascemos com ela. Assim, nós não somos pecadores porque cometemos pecados, mas cometemos pecados porque já nascemos pecadores. Os fariseus, que eram um partido político religioso da época de Jesus, ensinavam que nós ficamos impuros espiritualmente pelo contato físico com algumas comidas e até mesmo pela presença de algumas pessoas. Jesus ensina que não é o que vem de fora que nos contamina espiritualmente, mas sim o que vem de dentro, do nosso coração. É por isso que, quando Jesus fala a Nicodemos, um dos líderes dos fariseus, Ele ensina que todos precisam nascer de novo (Jo 3), todos precisam de um toque da graça de Deus, todos precisam de um novo coração! Jamais devemos esquecer que a Palavra de Deus deve ser nossa estrela-guia. ‘A Palavra de Deus é lâmpada para os meus e luz para o meu caminho’ (Sl 119,105). Quando cremos em Jesus, Ele nos dá o seu Espírito Santo, de forma que Cristo passa a viver em nós. Por isso, se for para ‘ouvir a voz do coração’, que seja ‘a voz de Jesus’, que habita em nosso ser! – Senhor Jesus, admitimos que somos pecadores. Por isso, pedimos o teu perdão. Pedimos que purifiques o nosso coração. Renova-nos! Santifica-nos! Usa-nos! Amém (Ismar Lambrecht Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de fevereiro de 2019


(Gn 1,20—2,4; Sl 8; Mc 7,1-13) 
5ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Mc 7,6)

“É da natureza do hipócrita assumir os papéis os mais diversos. É próprio dele o viver representando, pois vive de representar já que, no seu sentido original, a palavra hipócrita significa ator. Jesus, no entanto, não está condenando o homem que faz da representação uma profissão, mas sim aquele que faz da sua profissão (de fé) uma representação, fazendo, por isso, da sua profissão (de fé) não um modo de vida mas um meio de vida. Esse é o caso de alguns judeus em Jerusalém que viviam das rendas auferidas pelo templo. É o caso também de todas as denominações cristãs que, sob o pretexto disso ou daquilo, acabam gerando lutas pelo poder, favorecimentos a amigos quando não os mais escarados nepotismos. Inqueridos, logo desfiam as mais extensas e profundas razões teológicas, prova de que – parabéns – o papel foi bem decorado. Será, porém, que só os outros é que são hipócritas? Será que nós também não fazemos parte nesse teatro? Talvez não seja o papel principal mas, pelo menos, uma ponta: vida dupla dentro do casamento, falta de empenho no trabalho, desonestidadezinha aqui e ali, fidelidade extrema ao princípio de levar vantagem em tudo, etc. – e tudo isso escorado em sólidas declarações morais para os outros, em assídua participação na Igreja e em outras tantas amostras de religiosidade explícita. Não seria hora, pois, de sinceramente nos arrependermos e de nos achegarmos de Deus? Ele desvela nosso teatro, não para criticar nossa possível má atuação, mas para perdoar a nós e aos nossos papéis errados. – Senhor Jesus, dá-me a sabedoria de não me deixar enganar por aqueles que fingem uma fé para obter vantagens. Acima de tudo, porém, dá-me a sabedoria de não me enganar a mim mesmo com mau teatro duma fé equivocada. Amem (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite