3º Domingo da Páscoa – Ano A

 (At 2,14a.22-33; Sl 15[16]; 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35) 

1. Retomamos o discurso de Pedro iniciado no Domingo de Páscoa. A fala de Pedro coincide em parte, com o discurso de Cléofas que no evangelho explica o que aconteceu a Jesus. É provável que Lucas transcreva nos seus dois livros uma espécie de resumo aprendido por aqueles que se preparavam para receber o batismo. O que parecia uma derrota, esconde o agir de Deus e sua vitória sobre a morte.

2. E já que estamos falando sobre batizados, Pedro segue com sua catequese lembrando que tomar a Deus como Pai é uma experiência extraordinária, mas que traz consigo a responsabilidade de viver a partir dessa consciência. O objetivo do Apóstolo é motivá-los a uma vida de santidade, em meios aos desafios que essa comporta, para fazer valer o sacrifício de Cristo.

3. Tratamos brevemente as duas leituras anteriores para debruçar-nos um pouco melhor sobre o evangelho que retoma a tarde do dia da ressurreição. Dois discípulos de Jesus que tinham ido passar a páscoa em Jerusalém retornam decepcionados com o que lá aconteceu, mesmo tendo ouvido dizer que o sepulcro foi encontrado vazio. Eles precisam retornar a suas vidas.

4. Eles partilham com um desconhecido a inquietação que carregam consigo. Ao partilharem com esse desconhecido também a mesa, eles reconhecem o caminhante e retornam a Jerusalém. Essa bela página do evangelho trouxe algumas dificuldades aos estudiosos, até se darem conta que estavam diante de um texto bem construído por Lucas e com uma finalidade específica.

5. Como fazer a experiência do ressuscitado, nós que não estivemos no acontecer dos fatos? Devemos nos contentar apenas com o que nos contaram? Assim pensa a comunidade para a qual Lucas escreve. O Autor parece deixar um espaço de inserção do leitor quando não dá nome ao segundo discípulo. A própria perseguição que sofrem os cristãos deixa margem para dúvidas e frustrações.

6. Por vezes nós também nos encontramos assim diante do caminho que fazemos. Há muitas situações desfavoráveis ao nosso redor em relação a presença divina que procuramos. A incerteza diante das lutas e da própria morte, vai esvaziando o conteúdo da fé. Lucas deixa claro que eles se encontram assim por terem deixado a comunidade, caminham sozinhos, e nem se deram ao trabalho de verificar o que haviam dito sobre Sua ressurreição.

7. Lucas lança luzes sobre a Palavra de Deus e o modo como a interpretam. Se bem acolhida e lida, vai lançando luzes em nosso caminhar, faz arder o coração. Mas é no encontro eucarístico que nossos olhos cansados são estimulados a reabrirem. Lucas traduz, nessa história, o itinerário que fazemos para chegar até aqui.

8. Chegamos com todo cansaço e incertezas do caminho. Somos introduzidos por um outro nesse ambiente de silêncio e escuta e só assim a Eucaristia retoma seu lugar de presença invisível. Depois retomaremos nosso caminho de volta, com a certeza de não caminhamos sozinho. O próprio fato de nos encontrarmos para a celebração já nos dá um pouco de ânimo para seguirmos em frente.

9. Lucas conserva o fato da nova condição de ressuscitado de Jesus não ser algo de identificação imediata, conforme as experiências dos discípulos e das mulheres. Em síntese: a Palavra pode iluminar os nossos passos na compreensão não só do mistério de Jesus, mas também da vida. Jesus quer ser o alimento do caminho. O encontro para celebrar a fé pode ser o diferencial, quando nos encontramos em dúvidas ou desanimados.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 29 de abril de 2017

(At 6,1-7; Sl 32[33]; Jo 6,16-21) 
2ª Semana da Páscoa.

Mesmo para executar o serviço da mesa, a justa partilha, na comunidade é necessário estar “cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6,5). Nenhum serviço dentro da comunidade cristã pode ser bem executado se não for motivado pelo Amor com que Cristo amou a cada um. Aqui está a diferença que atraia tantos a vida de comunidade. Na esperança de serem cuidados eles descobriam que podiam também cuidar do outro de alguma forma. A vida se enchia de sentido para os que descobriam esse caminho. A Igreja só pode viver essa dinâmica do serviço e do amor, sem temor, se permitirem a Jesus estar no meio deles. Às vezes esquecemos a força inspiradora do que somos ou queremos ser. “Que é que deve legitimamente temer a pessoa que contempla a sua vida deixando-se guiar pela Palavra? Nada, a não ser a separação do Deus de Jesus Cristo, a ausência de uma relação afetiva com Ele” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).    


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 28 de abril de 2017

(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 
2ª Semana da Páscoa.

A figura de Gamaliel na 1ª leitura aparece como uma intervenção do próprio Deus para que os Apóstolos estendam ainda mais um pouco a ação do evangelho, como uma chama que não poderá mais ser contida, pois é espalhada pelo sopro do Espírito. A caridade que fez aquele garoto dispor de seus cinco pães e dois peixes para dividi-los com os outros permitiu a Jesus espalhar a chama do amor, da partilha como um sinal da relação nova que elimina a indigência do outro pela minha capacidade de dividir e que não concebe o esperdício. Sim, um sinal, como diz João, também do pão da Eucaristia que nos alimenta de forma igualitária, mas que não surte, ainda, o mesmo efeito: fazer-nos um outro Cristo disposto a partilhar a vida buscando soluções viáveis para os problemas da vida. “Jesus revela Sua alteridade divina preocupando-se com a vida dos seres humanos. Com efeito, a superabundância dos recursos tornada disponível pela sua atuação, parte da sua determinação em partilhar com os seres humanos a Si próprio e quanto de material está a sua disposição” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).   


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de abril de 2017

 (At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 
2ª Semana da Páscoa.

“... nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem” (At 5,27-33). De fato, uma dinâmica nova se impôs na vida dos apóstolos nesse ato de obediência a Deus. Tornaram-se mais intrépidos, e ao mesmo tempo permitindo ser conduzidos, na fala e no agir por Aquele que Jesus prometeu enviar depois de Sua partida. Não é à toa que o tempo pascal se encerra com a festa de Pentecostes. É sob a moção do Espírito que devemos caminhar sempre, nessa invocação diária de Sua presença. Jesus dá Aquele que o Pai lhe deu sem medida: o Espírito. Em outras palavras, trata-se do amor que transita entre os dois, não só revelando a intimidade, mas selando o compromisso de salvar a humanidade. “O Deus de Jesus é claramente Outro em comparação com qualquer ser humano. O amor é a identidade de Deus na sua fisionomia íntima, em toda a sua manifestação externa até o ápice constituído pela encarnação do Filho. A relação entre Deus e os homens é possível, se os seres humanos estiverem conscientes da diversidade de fundo que existe entre eles e o divino e da atitude positiva do amor enquanto eixo condutor da vida. A superioridade divina não significa separação dos indivíduos, tal como o amor divino não quer dizer aceitação bondosa de qualquer opção feita pelo homem. Entre estes dois conhecimentos joga-se, para qualquer pessoa, a possibilidade de viver num modo espiritualmente digno a própria humanidade ou de refletir sobre as opções que prejudicam, mesmo em medida trágica, a sua vida” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 26 de abril de 2017

(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21) 
2ª Semana da Páscoa.

“Ide falar ao povo, no templo, sobre tudo o que se refere a este modo de viver” (At 5,20). É bonita essa síntese que o anjo dá da vida cristã: um modo de viver. Não se trata tanto de uma doutrina, mas de um estilo de vida inspirado no modo de viver de Jesus, para que também alcancemos a ressurreição. Assim Nicodemos pode entender a dinâmica do amor que fez com que Deus entregasse seu Filho por amor, como uma luz sobre a humanidade condenada a caminhar nas trevas. Hoje nossos passos podem caminhar na direção dessa Luz pela decisão de nosso coração em fazer do estilo de vida de Jesus também o nosso. “Jesus é uma luz penetrante, que provoca o juízo tornando evidente o que o homem é. Todos aqueles que julgaram e julgam o Deus cristão comprometido, sobretudo em julgar negativamente a vida dos seres humanos, encontram neste trecho um desmentido inequívoco. A relação do Pai de Jesus Cristo com a humanidade quer constantemente, eternamente o bem de todos. Esta realidade dá-se quando a relação humano-divina é efetivamente correspondida. Quem vive segundo uma lógica que não tem nenhuma relação com o amor manifestado por Deus até a morte de Cruz, vive já uma existência pesadamente desumana. Toda a confrontação com a luz da verdade, e, portanto, com o amor de Deus em Jesus Cristo, é cuidadosamente evitada por quem atua nessa escuridão. Isto significa que cada pessoa é responsável pela luminosidade ou escuridão da sua vida em relação com as opções de amor que faz ou que de outro modo rejeita. Do próprio ambiente familiar para o profissional, ou para as relações sociais mais amplas, cada qual pode realizar um tecido de relacionamentos mais ou menos sensatos, mais ou menos felizes em função da capacidade de amar que põe em ação. Perguntar-se qual é a situação da própria vida a este propósito, é o que de mais imediato deve fazer quem lê esta passagem de João” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de abril de 2017

(1Pd 5,5-14; Sl 88[89]; Mc 16,15-20) 
São Marcos Evangelista.

Esta carta que Pedro envia a uma comunidade recém fundada está profundamente marcada pelo tom da alegre consciência do dom de Deus que é Jesus Cristo na vida daqueles que abraçaram a fé; também vem carregada de pequenas e importantes orientações. Ela nos serve de pretexto para citar a Marcos como discípulo de Pedro, de quem ouviu o testemunho sobre Jesus a partir das próprias mudanças na vida do apóstolo. Também testemunhou tudo quanto os apóstolos foram capazes de realizar na confiança do mandato de Jesus, e de sua presença entre eles, um pequeno retrato da Igreja nascente, já que Marcos sinaliza a ascensão de Jesus aos céus. Na sua carta, Pedro convida a resistir, “fortes na fé, certos de que iguais sofrimentos atingem também os vossos irmãos pelo mundo afora”. É interessante esse destaque porque “Marcos é de modo especial o evangelista da fé, insiste sobre a fé através da obscuridade, ele tem um sentido muito vivo dessa situação não muito favorável à fé. Sua preocupação não é tanto em desenvolver o ensinamento do Mestre, mas manifestar o Messias crucificado. Apresenta Jesus entre pessoas que, depois do primeiro entusiasmo, o rejeitam; com os doze, escolhidos por Ele, que não entendem, que têm um coração endurecido, fechado à sua mensagem e à sua pessoa. Pedro mesmo que reconhece em Jesus o Messias não quer aceitar o caminho, que é caminho de cruz. A mensagem da fé se desenvolve na provação” (Albert Vanhoye – Il Pane Quotidoano dela parola – PIEMME). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 24 de abril de 2017

(At 4,23-31; Sl 2; Jo 3,1-8) 
2ª Semana da Páscoa.

É importante para nós percebermos essa reação que tem a comunidade primitiva após a liberdade de Pedro e João, pois rezam na certeza de que tais situações se farão sempre presente então pedem-lhe coragem para seguir anunciando a boa nova. Deus confirma o pedido derramando outra vez o seu Espírito. Na dinâmica desse mesmo Espírito, Jesus trava um diálogo com Nicodemos, que vive a fé sob outra perspectiva. Jesus não se fecha a tal diálogo. Jesus lhe faz ver que para viver a dimensão cristã é preciso nascer de novo, não literalmente, mas do Espírito de Deus que reconstrói o ser humano para que seja uma nova criatura. Tudo isso exige abertura e sede dessa vida nova. “Nesta primeira parte do diálogo com Jesus, Nicodemos raciocina a partir dos dados da experiência, sem preconceitos para com quem está na sua frente. Mas Jesus fala, como acontece amiúde nos evangelhos, e, sobretudo em João, a um outro nível de profundidade. Existe para cada homem a possibilidade de receber a vida de Deus, para além do fato de ser materialmente nascido através do modo comum de todos os homens. A vida de cada um vem do sopro primordial de Deus, que anima e modela todas as realidade, e o Espírito existe, mesmo que não seja possível explicar a sua existência e atividade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentando – Paulus).  


  Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo de Páscoa – Ano A

(At 2,42-47; 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31)

1. Como no ciclo quaresmal, os dois primeiros domingos da Páscoa se repetem a cada ano na mesma temática: a manhã da ressurreição e o encontro com Tomé. Atualmente batizado de domingo da Misericórdia, esse domingo traz também um dos resultados da ressurreição de Jesus: a organização da comunidade de fé para a vida e o testemunho.

2. É disso que nos fala a 1ª leitura. Em nossa liturgia de hoje, a comunidade de fé tem uma importância particular. A convivência e a formação comunicam a experiência pascal em todos os seus aspectos. O ponto principal é a escuta da Palavra, que alimenta a fé. A organização na partilha para a auto sustentação e ajuda aos pobres caracterizam a nova relação com as coisas e com o dinheiro.

3. Estamos longe desse modelo ideal e quase impossível de se aplicar, mas sempre somos lembrados do que é supérfluo em nossa vida quando descobrimos a real necessidade do outro. A Eucaristia, a oração, tornam-se o centro que alimenta a vida da comunidade; sem ela é impossível a sobrevivência da mesma, sem desconsiderar o valor da oração pessoal.

4. Aqui estava o testemunho que atraia outros a viver a experiência. A fé em Cristo foi dando um novo sentido à vida daqueles que se uniam para viver a experiência cristã.

5. A nova vida em Cristo tem seu início a partir do batismo; os adultos de então que eram incorporados a comunidade cristã, passavam por uma séria formação. É disso que trata a 2ª leitura. Nós acompanharemos essa grande pregação, atribuída a Pedro que, carregado de emoção, fala desse novo nascimento, por misericórdia de Deus.

6. Não desconsidera as dificuldades do caminho que muitas vezes coloca em cheque a fé. Mas nada substitui a alegria e a certeza de sermos filhos de Deus. Pedro salienta a fé em Cristo, mesmo não tendo a experiência dos apóstolos. Essa realidade fará com que Jesus faça de Tomé uma advertência para as futuras gerações cristãs.

7. O mesmo Jesus que aparecera na tarde da ressurreição aos discípulos, retorna oito dias depois, para um encontro quase que pessoal com Tomé, que duvidou da experiência da comunidade. A intenção do autor sagrado também é lembrar o encontro dominical que caracteriza a comunidade cristã e torna possível o encontro com seu Senhor de um modo particular. Não é só visão que sustenta a nossa fé.

8. Na realidade, o pobre Tomé serve de referência à dificuldade de muitos discípulos de acreditar na ressurreição de Jesus sem terem feito a experiência dos apóstolos. No entanto, o nosso autor quer deixar claro que o mistério da ressurreição foge aos nossos sentidos. O jeito novo de ser e de estar entre nós de Jesus, não pode ser tocado com as mãos ou vista com os olhos. Somente pode ser percebido ou vivido pela fé.

9. Se o essencial é invisível aos olhos, a bem aventurança de Jesus se aplica a uma fé mais genuína, pois não é feita tanto de fatos, mas de certezas que carregamos conosco. O testemunho de João vem do texto que nos deixou e que a cada proclamação traz de volta a presença do ressuscitado, para que reafirmemos, diante de tantas as coisas e pessoas que se impõem nesse mundo a nós, só Ele é Senhor e Deus.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 22 de abril de 2017

(At 4,13-21; Sl 117[118]; Mc 16,9-15)
Oitava de Páscoa.
 
O caso Pedro e João e se conclui de modo ameno, já que eles se dão conta que há neles uma segurança no falar e que Deus, de alguma forma, agiu por eles ao curar o paralítico. Por causa do povo resolvem soltá-los (essa carência de aceitação pública...) mesmo com a extravagante recomendação de que não falem no nome de Jesus. Como não falar, se naquele exato momento Sua presença também se fez sentir? O evangelho de Marcos que nos é apresentado resume os três fatos narrados da semana: a aparição a Madalena, seu anuncio aos apóstolos; Sua aparição aos discípulos de Emaús e por fim a todo o grupo, confirmando sua Ressurreição e os enviando para o testemunho não sem censurá-los, diante dos sinais já oferecidos. “A censura do Senhor aos discípulos, por não terem acreditado no testemunho de quantos O tinham visto e O tinham anunciado vivo, reflete a pena e porventura a saudade das primeiras gerações cristãs daquelas experiências fundamentais, constituídas pelos encontros pascais com o Ressuscitado. Essa saudade, que porventura poderá também ser a nossa, não se justifica. Esse tempo já passou, mas essas experiências continuam também nas gerações que se sucederam. O nosso acesso a fé pascal, embora com um estatuto e um percurso diversos das primeiras testemunhas, não é diferente do delas: ‘Felizes os que acreditam sem terem visto’ (Jo 20,29)”. (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).


                                                                                            Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 21 de abril de 2017

(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14) 
Oitava de Páscoa.
 
A empolgação das massas se vê contradita pela oposição das autoridades religiosas que prendem João e Pedro. Para eles algo novo do que Jesus havia predito se concretiza: diante dos tribunais eles devem também testemunhar a fé em Jesus e sofrer a consequência deste testemunho. Mas nunca estarão sozinhos. O Espírito os acompanha e os orienta no que devem testemunhar. Quem experimentou essa presença do Ressuscitado novamente à beira do lago, onde tudo começou e fez refeição com Ele, não teria como não manter-se firme nessa certeza de que um tempo novo se faz presente, que a pesca é outra e que será abundante. “A Palavra leva-nos a repensar a ação testemunhal-missionária da comunidade cristã e de cada crente. A condição essencial para sua autenticidade e eficácia é a fé na presença poderosa do Senhor ressuscitado e a obediência confiante à sua Palavra” (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 19 de abril de 2017

(At 3,1-10; Sl 104[105]; Lc 24,13-35) Oitava de Páscoa.

Encontramos os apóstolos que vão ao templo para rezar e encontram um homem coxo a pedir esmola. De Pedro ele recebe mais do poderia se esperar, a recuperação da mobilidade. Assim ele pode retomar a sua relação com Deus (entrar no Templo) e com as pessoas de um modo mais eficiente. É Jesus agindo pelas mãos dos seus discípulos. A boa nova não consiste tão somente num anúncio, mas em obras que atestem essa presença do Reino. No evangelho temos o belo texto da narrativa de Emaús, que será retomado no 3º Domingo da Páscoa desse ano. Um texto profundamente catequético, que se nos revela no modo gradual em que o mistério de Jesus ressuscitado vai se desenvolvendo. O texto lembra, principalmente, que nós que não vimos, nem comemos com Ele, temos os mesmos dons e sinais que deixou para os discípulos de todos os tempos: Palavra e Eucaristia. Na celebração Ele nos fala em seu evangelho e nós o tocamos, comemos com Ele pela Eucaristia. Que nossos olhos se abram a essa dimensão e estejamos no mundo transfigurados por essa presença.  “O caminho de Emaús, que nos é proposto pelo Evangelho, marca paradigmaticamente as etapas que cada crente é chamado a percorrer para encontrar o Senhor. Aquele que vive para sempre acompanha a nossa vida, mesmo quando uma vivência problemática e contraditória nos faz olhar para nós mesmos, nos impede de confiar em Deus e de O reconhecer presente” (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).

Padre João Bosco Vieira Leite.

Quinta, 20 de abril de 2017

(At 3,11-26; Sl 8; Lc 24,35-48) 
Oitava de Páscoa.
 
O espanto que se apoderara das pessoas que testemunharam a cura do coxo faz com que uma pequena multidão os acompanhe. Pedro vê a necessidade de colocar cada coisa em seu devido lugar. Ele insere a ação de Jesus através deles no contexto da própria história da
salvação, e assim pudessem perceber o apelo de conversão que Deus faz em Jesus para eles nesse novo tempo inaugurado por Sua ressurreição. Os discípulos que experimentaram a presença de Jesus pela Palavra e pela partilha do pão correm para testemunhar aos demais sua experiência, retornando a Jerusalém, mas o próprio Jesus lhes poupa entrar em detalhes quando se apresenta em meio a eles e confirma a Sua ressurreição comendo também diante deles, o Espírito lhes abre a mente para compreenderem e testemunharem Sua vitória e Sua presença entre nós. “A fé pascal, iniciada para os discípulos no encontro com o Ressuscitado, é a fé que cada cristão deve continuamente amadurecer na sua vida. Ela exige, antes de mais nada, todo conhecimento de que Aquele que é o Vivente continua a ser para sempre o Crucificado e que a Sua história de sofrimento não foi anulada com a ressurreição, mais que foi completada e tornada definitiva por ela. Esse conhecimento ajuda-nos a lançar um olhar completamente novo sobre a realidade e opera em nós uma profunda conversão do coração. O Ressuscitado traz sempre os sinais de Sua humilhação e da Sua rejeição, de modo que está para sempre solidário e próximo dos rejeitados, dos humilhados e dos pobres que não contam” (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de abril de 2017

(At 2,36-41; Sl 32[33]; Jo 20,11-18) 
Oitava de Páscoa.

Prosseguimos escutado trechos do discurso de Pedro em Pentecostes. Nesse vão se revelando pontos importantes do mistério da ressurreição e da conversão necessária a partir desse mistério que se nos revela. Mas certamente é Maria Madalena que nos chama a atenção em sua busca do corpo do seu Senhor. Ressurreição é uma busca e um encontro onde o Senhor se revela, ainda que brevemente, para saciar nosso desejo de comunhão plena, de uma certeza que nos permita avançar e testemunhar nossa experiência. “A manifestação da fé pascal em Maria Madalena é uma caminhada que também somos chamados a percorrer. Dentro dos fatos cansativos da História, podemos ser tomados de tristeza devido à ausência de Cristo e da sensação que um mundo indiferente e incrédulo celebre seu triunfo: ‘Ficareis angustiados, mas a vossa angústia transformar-se-á em alegria’. (Jo 16,20). Só o acolhimento, na fé, de uma nova modalidade de presença do Ressuscitado, que entra na nossa vida e vem interpelar-nos pessoalmente com a sua Palavra, pode mudar a nossa tristeza em alegria: ‘Ficareis alegres, e essa alegria ninguém vo-la tirará’ (Jo 16,22b-23) (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 17 de abril de 2017

(At 2,14.22-32; Sl 15[16]; Mt 28,8-15) 
Oitava de Páscoa.

Para entender esse período chamado de ‘Oitava’ ver o comentário do ano anterior (clique aqui). No texto da primeira leitura, trecho do discurso de Pentecostes, Pedro fala sobre Jesus a partir do seu testemunho de vida, numa ação voltada para o bem das pessoas e do poder que Deus lhe concedera para isso. Deixa claro que quem entrega Jesus à morte é o próprio Deus, para depois o ressuscitar. Aqui está o anúncio central da nossa fé que se prolongará por 50 dias. No nosso credo afirmamos que Jesus ressuscitou dos mortos, levando à plenitude toda a história salvífica. O evangelho é da narrativa do sábado a noite, mas estende um pouco o texto para nos falar da posição tomada pelos guarda ante a ressurreição de Jesus. Enquanto as mulheres vão anunciar a ressurreição, os guardas vão mentir a respeito de desaparecimento do corpo do Senhor. São atitudes diversas para um mesmo fato, salientando como alguns fazem a opção em sua vida pela mentira.

“Contemplar o mistério pascal é deixar-se envolver por este movimento de amor para viver uma vida nova, libertada do medo e carregada de confiança num Deus que é também nosso Pai: uma vida filial que, dia após dia, nos conforma com a humanidade plena e perfeita do Filho Jesus; uma vida guiada pela ação do Espírito que faz amadurecer nela seus frutos de comunhão, de amor e de paz. Deste modo o anúncio da ressurreição torna-se o acontecimento que regera continuamente a nossa fé e a nossa experiência cristã” (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Domingo de Páscoa – 2017

(At 10,34a.37-43; Sl 117[118]; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9)

1. Nesse domingo em que celebramos a ressurreição de Jesus a liturgia da palavra inicia com uma recordação da atividade púbica de Jesus, mesmo tendo ao centro a sua ressurreição. Ele quer nos ajudar a perceber a dinâmica que levou a essa conclusão. ‘Passou fazendo o bem’, o bem foi pago com o mal; ele continuou sua missão sem opor violência à violência.

2. ‘Mas Deus o ressuscitou’, lembra-nos Pedro. O ‘mas’ de Deus está presente em toda a Bíblia, do 1º ao último livro, e está presente ainda hoje mostrando como Deus inverte as situações injustas. Quantos hoje se encontram nalguma ‘sexta-feira santa’ e são encorajados a esperar no Senhor e a confiar-se nas suas mãos, Senhor e juiz da história?

3. Paulo fala da sua nova condição pós ressurreição: Cristo está no céu, mas também aqui, caminha conosco, como um desconhecido, pela experiência de Emaús. As coisas que nos ensinou e mostrou para uma vida de comunhão com Deus é o que devemos buscar sempre. Nossa vida é um processo em ascensão, na tomada de consciência da perenidade das coisas. Que o pensar de Cristo seja também o nosso.

4. Aquele que nos mostrou o que pode ser a nossa vida futura não nos aliena da nossa realidade, deseja que lutemos por uma vida mais humana. Somos cidadãos da cidade terrena e celeste, cumprindo os deveres terrenos, deixemo-nos guiar pelo Espírito do Evangelho. Como canta o Pe. Zezinho: ‘Sou cidadão do infinito, e levo a paz do meu caminho’.

5. Se ontem Madalena aparecia acompanhada de outra Maria, João a apresenta sozinha nessa aventura de buscar o Senhor, que julga estar morto, por isso a menção ao escuro. Mas a intenção de João é destacar o afeto que ela tem pelo Mestre, tanto que lhe dará mais presença nos versículos que se seguem ao texto proclamado.

6. O texto dá a entender que ela entrou no sepulcro antes de anunciar a ausência do corpo a Pedro e João. O texto parece respeitar a hierarquia de Pedro, mas é sobre o discípulo amado que recai toda a atenção. No modo como se vive a fé e a experiência da ressurreição podemos encontrar maneiras diversas dentro da comunidade cristã, como veremos esses dias. Para além das Escrituras está o amor que nos move à fé.

7. A experiência da ressurreição pode ter dois movimentos: um ascendente, onde partimos de uma situação negativa até acreditar na ressurreição. O outro e descendente: de quem, mesmo acreditando na ressurreição, vê o túmulo esvaziar-se. Os dois percursos integram-se.

8. Para nós o mais comum é o descendente, que parte de um testemunho que recebemos, mas que só vamos entender, quando pela fé, encontramos forças para vencer, pela paciência e pelo amor, as dificuldades que encontramos cada dia.

9. A páscoa, se bem vivida e compreendida, nos fornece uma visão de fé que transfigura até as experiências dolorosas em lugares onde o amor de Deus se revela. Foi nesse sentido que vivenciamos o tríduo pascal. 
(Reflexão com base no livro “Lecionário Comentado” de Giuseppe Casarin – Paulus)


Pe. João Bosco Vieira Leite

Vigília Pascal - 2017

(Ex 14,15—15,1; Is 54,5-14; Is 55,1-11; Rm 6,3-11; Mt 28,1-10).

1. Nosso domingo de Páscoa já tem início com nossa celebração noturna, o cume de todo o nosso ano litúrgico. É a celebração daquela vida que venceu a morte e que agora se oferece a todos para que todos possam participar dela.

2. O sentido de celebrarmos à noite é a passagem do Senhor das trevas da morte para a luz da vida gloriosa da Ressurreição. E para mostrar a passagem daquele que crê em Cristo, mediante os sacramentos pascais, do homem velho destinado à morte, para o homem novo destinado à glória.

3. Vivenciamos esse mistério em quatro momentos: liturgia da luz e anúncio da Páscoa, liturgia da Palavra, liturgia batismal, liturgia eucarística. Todos esses passos estão ligados ao Cristo Luz, Palavra, água e pão. Elementos que refletimos durante o ano litúrgico, aprofundando seu significado. 

4. Quem acredita nele, segue sua Luz, por isso a nossa breve procissão com o Círio. Mas torna-se também luz para o mundo, nele acendemos a nossa luz. E alegre cantamos esse mistério. Essa abundância de textos proclama o cumprimento de toda a história da salvação. A páscoa do Antigo Testamento encontra a Páscoa do Senhor Jesus.

5. Cada oração recitada após a leitura quer dar um sentido cristológico, uma orientação de como Deus, desde o início da criação vem realizando a salvação do seu povo que culminará em Cristo Jesus. Por isso recordamos o nosso batismo, pois nele já fomos ‘mergulhados’ em sua morte e ressurreição: “Banhados em Cristo, somos uma nova criatura. As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo!”

6. Esse contínuo apelo da passagem que devemos fazer, da escravidão do egoísmo e do orgulho para a liberdade do amor. A nossa eucaristia atualiza de modo pleno esse mistério, para que entremos e renovemos essa comunhão com o mistério pascal de Cristo.

7. A única novidade na celebração anual é o texto do Evangelho, conforme o ano litúrgico celebrado. Mateus marca o momento da ressurreição com fenômenos particulares: tremor e presença do anjo. Enquanto o anjo incute medo aos guardas, às mulheres ele pede não temer, convida-as a ver o que aconteceu e as envia como mensageiras dessa novidade.

8. Nada pode opor-se ao poder de Deus. Toda a cena se desenvolve com verbos de movimento que resumem uma missão, mas vivenciados numa atitude interior de temor e alegria. A elas, segundo Mateus, é concedida a primeira aparição de Jesus; convida-as a alegrar-se e as envia. E assim somos nós lançados de volta às nossas realidades, renovados em nossa fé. Quando o dia amanhecer e não mais precisarmos acender as nossas velas, em nosso coração continuará a brilhar a luz de Cristo a nos conduzir por caminhos que testemunhem a nossa fé.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta-feira da Paixão do Senhor - 2017

(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42).

1. Esta nossa sexta-feira santa é uma celebração pascal, não queremos celebrar um funeral. Essa morte é ‘passagem’, uma paixão que é bem-aventurada. Não se pode esquecer a ressurreição; nossa cor não é de luto ou de penitência, como o roxo quaresmal, mas o vermelho do martírio e da realeza.

2. A morte de Cristo é a morte gloriosa porque traz a vida para todos, é uma paixão salvífica, por isso se lê a narração da Paixão do Evangelho de João para o qual a cruz de Jesus é um trono e Sua morte um triunfo. Na mesma linha estão as outras duas leituras: a do 4ª cântico do servo sofredor de Isaias no qual se unem a máxima humilhação e o triunfo, e a Carta aos Hebreus na qual a morte de Cristo é vista como causa de salvação.

3. Assim, todos os demais elementos de nossa celebração, a oração universal, a veneração da Cruz gloriosa e a eucaristia que recebemos, na memória de Sua morte, vivenciaremos na perspectiva e certeza da ressurreição.

4. O nosso jejum de hoje deveria ser vivido não tanto como um jejum quaresmal, em tom penitencial e ascético, mas como um jejum pascal. Um jejum que se celebra na expectativa do encontro com o esposo que, depois de ter sido tirado, agora é restituído. Um jejum mais místico do que ascético.

5. É dentro desta mística que muitos fizeram a leitura dessa expressão de Jesus na cruz: “Tenho sede”. Como entender esse brado daquele que se intitulou fonte de água viva? Certamente não ficou imune a sede que um condenado ao suplício da crucifixão padece pela perda de sangue. Suportar a fome é menos doloroso do que passar sede.

6. Esses dias têm contemplado o triste espetáculo da seca, das mobilizações para levar um pouco de água para algumas pessoas. É difícil recusar um copo de água a quem nos pede.

7. Pois agora é o próprio Jesus quem está à porta de nosso coração e diz “tenho sede!”. Esse sofrimento não podia faltar à paixão do Senhor Jesus. Uma sede que um copo de água alivia e outra sede que só tu, só eu, podemos aliviar: sede de ser amado por aqueles por quem está dando a vida.

8. Hoje podemos nos perguntar sobre o como podemos saciar essa sede que Deus tem de nós, na vida de oração, na busca de um conhecimento melhor de Sua pessoa, de Sua palavra, no testemunho concreto que não damos, na paciência, tolerância e caridade que não praticamos. Senhor, você tem sede de quê? 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Ceia do Senhor – 2017

- Para o Tríduo Pascal, este ano, recolho alguns pontos do comentário de Mario Chesi em “Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus e um pequeno comentário para a Sexta-feira da Paixão do livro “Meditações diante da Cruz” de Dom José Maria Pires (Paulinas). Desde já uma Feliz Páscoa para todos!

(Ex 12,1-8.11-14; SL 115[116B]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15).

1. Já comentamos que o mistério central da vida cristã é a ressurreição de Cristo, assim, desde o seu batismo, a sua existência é a manifestação e a celebração deste mistério. Todo o ano litúrgico gira em torno desse mistério da passagem de Cristo da morte para vida. Quando nos reunimos durante o ano para a celebração de qualquer festa ou mistério da fé, o fazemos sempre com a celebração Eucarística.

2. Esse é o sacramento da Páscoa do Senhor, que o fazemos em sua memória, até que Ele venha. O que aconteceu uma vez por todas é tornado presente, atualizado. O que Jesus antecipou na ceia encontrará realização concreta na Cruz. Foi assim desde o começo, a cada domingo e uma vez ao ano no tríduo pascal, como hoje estamos iniciando.

3. A riqueza de tal mistério se alarga por três dias. É depois o estenderemos por um período de cinquenta dias, como uma só festa, como um grande domingo, onde o mesmo Espírito é soprado sobre nós.

4. O dia de hoje não fala tanto da história, como os seguintes, mas do mistério em sua dimensão sacramental, no seu aspecto ritual, deixado por Cristo aos seus discípulos. Jesus ordena aos Seus que façam este rito para que o que nele está contido, o dom da sua vida, continue a estar presente: “fazei isto em memória de mim”, nos lembra Paulo.

5. Anunciar indica a presença do que é anunciado. As duas leituras apresentam respectivamente a Páscoa do Antigo e do Novo Testamento, enquanto o evangelho se concentra num episódio desta mesma ceia celebrada por Jesus e os seus.

6. Aquele que não veio para ser servido, mas para servir, entrega aos Seus, no final do lava pés, o mandamento do amor. Este mandamento junta-se e completa o mandamento de repetir o rito. A memória ritual da Páscoa dá ao fiel a possibilidade de fazer na sua vida, posta ao serviço dos irmãos, a memória existencial do seu Senhor e Mestre.

7. Celebrando a Eucaristia estamos perante o gesto de entrega de Jesus, recebendo-o no sacramento, queremos assumir o seu estilo de vida. São dois memoriais que realizamos nessa noite, o ritual e o existencial. Que o Senhor nos ajude a compreender que o que aqui buscamos é o que aqui trazemos, resultado de nosso desejo de identificação com Ele. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 12 de abril de 2017

(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25) 
Semana Santa.

O Servo expressa sua missão de pregador que sabe também confortar; sua missão nasce dessa escuta de Deus que o ajuda a avançar em meio às adversidades. Sobressai uma profunda confiança n’Aquele que é o seu auxílio e proteção. No preparativo para a última ceia, enfatiza-se, mais uma vez a traição de Judas, sentida por Jesus, mas parte de um plano previsto pelo Pai. Mateus faz questão de salientar a responsabilidade de Judas nesse processo, quem sabe para livrar um pouco a ‘barra’ dos demais que se sentem aflitos pelo que virá e, de certo modo, serão também traidores do Mestre. E não só do Mestre, também do próprio Judas, pois não fizeram nada para trazê-lo de volta ao sentido verdadeiro do seguimento. É melhor deixar que a misericórdia de Deus tenha a última palavra sobre a nossa pobre condição humana.  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 11 de abril de 2017

(Is 49,1-6; Sl 70[71]; Jo 13,21-33.36-38). 
Semana Santa.

O servo de Isaias tem uma missão deveras comprometedora, pois deve ser luz, para que a salvação de Deus chegue até os confins da terra. E assim foi Jesus para o seu tempo e para todos os tempos. A sua encarnação plena experimentou a traição dos amigos, mas focado em sua comunhão com o Pai soube transcender essa situação. Se amizade é algo bom, ela também é frágil em sua natureza, por isso é importante não esquecermos a experiência de Jesus, que os amou mesmo assim, nos momentos que tomaram distância do Seu coração, firmando-nos no amor de Deus que não nos decepciona e nunca nos faltará.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 10 de abril de 2017

(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11) 
Semana Santa.

“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma;” (Is 42,1), assim é apresentado o servo sofredor de Isaias. Na sua identificação com Jesus o vemos ungido não pelo Pai, mas por Maria, na casa dos amigos de Betânia. A casa se enche não só com o perfume, mas com uma presença amorosa daquele que o Pai ama, escolhe e consagra. Deixemos Judas de lado por um tempo e concentremo-nos nessa cena. O Senhor desfruta dos últimos momentos entre nós nessa convivência amiga. Como é bom ser acolhido e experimentar o carinho dos que fazem parte do nosso ciclo de amizade, estando inteiro no momento. “É bom ter tido um amigo, mesmo se a gente vai morrer” (cf. O Pequeno Príncipe).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Domingo de Ramos – Ano A

(Mt 21,1-11; Is 50,4-7; Sl 21[22]; Fl 2,6-11; Mt 27,11-54 – breve)

1. Esse domingo que chamamos de ‘ramos’, na realidade deveria ser chamado ‘domingo da paixão’, pela importância que essa narrativa ganha em nossa liturgia. Cada um dos sinóticos faz o seu relato e neste percebemos a sua intenção no destaque que se dá aos personagens dentro da narrativa.

2. As três narrativas que acompanhamos a cada ano sucessivamente concordam substancialmente, mas apresentam também divergências que colocam problemas no plano histórico, mas não vamos aqui entrar por esse caminho.

3. Para entrarmos na dinâmica que nos orienta na leitura da paixão, a liturgia nos oferece o 3º cântico do servo sofredor que retrata o seu fim doloroso. O seu ministério é o da palavra, mas não sem antes ter se colocado numa atitude de escuta, como o fazia Jesus em seus longos momentos com o Pai.

4. Mesmo com toda dificuldade ele não recua. Salienta-se sua confiança em Deus; n’Ele busca coragem e mansidão. Em Jesus encontramos o modelo da resistência e de como seguir adiante. O salmo completa essa imagem mostrando a relação entre sofrimento e confiança em Deus desembocando num ato de agradecimento e testemunho. A dor, mais das vezes, exige um amor paciente e confiante.

5. Paulo não enfatiza tanto o sofrimento, mas a humildade de Cristo. De uma situação de humilhação ele chega à glória que o Pai lhe reserva. Um breve retrato que vai de sua encarnação até à ascensão. Descida e subida. A intenção do autor é evitar a competição dentro da comunidade, imitando a humildade de Jesus.

6. É muito mais admirável a humildade de Deus que o seu poder, diz São Leão magno; o que nos é difícil compreender, pois nos perdemos na ideia de grandeza e glória que perturbam as nossas relações.

7. Na breve narrativa que nos é oferecida, salienta-se a inocência de Jesus pela intervenção da mulher de Pilatos e do próprio lavar as mãos do procurador romano. Jesus é a palavra encarnada, mas seu silêncio se torna eloquente. Não tem sentido dialogar com quem não quer saber com sinceridade.

8. Mas o povo resolve assumir a responsabilidade da morte de Jesus. Precisamente no momento culminante da humilhação de Jesus na cruz, um soldado lhe reconhece a dignidade extraordinária. A natureza divina se revela também no modo como os elementos da natureza são perturbados.

9. Nesses dias da paixão, ao relermos essas narrativas, não fiquemos indiferentes ao que já aconteceu. Se cremos que voluntariamente Ele deu a sua vida por nós, não imputemos a culpa somente aos do passado. O modo como vivemos a nossa fé tem sua cota de responsabilidade nessa história. Não fomos salvos somente pela dor, mas pelo amor com que Deus aceitou a morte de seu Filho.

10. Todos os dias os meios de comunicação anunciam a morte em sua diversidade de modos. É justamente a morte que torna o enigma da condição humana mais denso. Acreditamos que a ressurreição de Cristo alcançou a vitória sobre a morte e n’Ele nossa humanidade experimenta essa vitória. Há pouco saudávamos ao vencedor com nossos ramos.

11. Associemo-nos ao seu mistério, adentremos essa semana santa para compreendermos a vitória de Jesus crucificado; sua cruz ilumina os inumeráveis casos de sofrimento inocente, nele encontramos “a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte” (São Leão Magno).
(esse comentário tem por base pontos do “Lecionário Comentado – Quaresma/ Páscoa” de Giuseppe Casarin – Paulus).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 08 de abril de 2017

(Ez 37,21-28; Sl Jr 31; Jo 11,45-56) 
5ª Semana da Quaresma.

Ezequiel leva uma palavra de consolo, esperança e de restauração para Israel exilado e disperso entre as nações. O texto aqui serve de referência ao que a morte de Jesus fará, segundo Caifás que “profetizou que Jesus iria morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos” (Jo 11,51-52). Assim o evangelista vê na decisão de matar Jesus, o modo como Deus se serve dele para levar a cumprimento o seu projeto salvífico. Assim a liturgia nos prepara para a grande semana, onde acompanharemos os últimos passos de Jesus em direção à cruz. Façamos um caminho contemplativo desse mistério.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite



Sexta, 07 de abril de 2017

(Jr 20,10-13; Sl 17[18]; Jo 10,31-42) 
5ª Semana da Quaresma.

O drama de Jeremias serve de base, novamente, para recordar a paixão do Senhor em toda ordem de perseguição sofrida por Jesus. A revelação de Jesus como Filho de Deus passa ser o motivo pelo qual querem mata-lo, mas Jesus joga com uma citação da escritura para dizer-lhes que, ainda que na cabeça deles não haja como se convencerem que Jesus é Deus, ao menos tenham em conta que o ser humano foi criado pouco abaixo dos anjos, mais cheio de glória de valor (cf. Sl 8). Ao menos pelas obras realizadas por Jesus eles deveriam tomar consciência de que não estão diante de um homem comum. Há uma decisão já tomada e uma cegueira que os envolve de modo absoluto a ponto de esquecerem o próprio mandamento divino de não matar. Rezemos nesse dia por toda essa cegueira que envolve o terrorismo presente na Europa e que se não for contido por lá, poderá chegar a outros continentes, como os fatos tem nos mostrado.


Pe. João Bosco Vieira Leite