Solenidade de São Pedro e São Paulo – Missa do dia


(At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

1. A solenidade de hoje, juntamente com a missa da vigília tem um forte acento sobre a figura de Pedro, restando a Paulo na 2ª leitura de ambas celebrações fazer uma avaliação do seu chamado ao ministério e ao fim da vida, de seu apostolado.

2. De Pedro encontramos momentos particulares do seu ministério e da assistência divina, relatados por Lucas nos Atos, enquanto os evangelhos confirmam sua escolha e ministério a partir do próprio Jesus.

3. Num primeiro momento Pedro teve que ser reabilitado pelo próprio Jesus depois do fato da negação num encontro face a face. Mas Jesus não o encontra para julgá-lo, quer saber se ele ainda o ama, se o remorso que sentiu não destruiu a amizade que os unia. Jesus não precisa perdoá-lo, quer saber apenas se ainda há amor.

4. O modo como Jesus age não é para salientar o erro, mas lançar para frente, para novas possibilidades. Se existe uma penitência a ser cumprida por Pedro é a de ser melhor, de um esforço pessoal de amor que se compromete no cuidado com o rebanho do Senhor. O que vale para Pedro, vale também para nós.

5. Mas antes desse evento de restauração de Pedro, Jesus já havia dito que Pedro era rocha sobre a qual Ele construiria a sua Igreja, recorda-nos o evangelho de hoje.

6. No trocadilho ‘Pedro’, ‘pedra’, poderíamos pensar sobre um Pedro forte, mas toda presunção e segurança do apóstolo se dissolveu no processo da paixão em meio as suas lágrimas. Com Pedro aprendemos que pedra, rocha mesmo, só Cristo. Somente Ele pode nos oferecer e ser constância, fortaleza e fidelidade.

7. De Paulo também podemos perceber a mesma realidade, de perseguidor violento, ao reconhecimento da força da graça de Deus em sua vida, pela qual, diz ele: ‘eu sou quem sou’ (1Cor 15,10).

8. Nossa Igreja tem seus fundamentos na misericórdia divina, não sobre a força dos homens. Sempre seremos uma comunidade de pecadores perdoados, ‘agraciados’, não de perfeitos. Nossa Igreja não se ergueu sobre homens de pedra ou heróis, mas sobre Cristo, quanto mais frágeis os instrumentos, mas evidente a força da graça.

9. Talvez alguns de nós tenhamos crescido e ainda vivamos em busca de uma Igreja santa que não conheça a imperfeição, onde certas coisas nos escandalizam, e nos tornamos juízes terríveis. Um olhar mais atento às origens de nossa comunidade de fé, a partir de nós mesmos, convida-nos a um julgamento mais sereno.

10. Essa Igreja fundada por Cristo e em Cristo, às vezes mais esconde que revela Deus, e muitas vezes O apresenta envolto em sua própria miséria, fragilidade e culpas.

11. Olhemos com carinho nossas próprias raízes para podermos aprender a amar e aceitar com alegria uma Igreja assim como ela é. Porque também somos Igreja. E também eu preciso ser aceito pela Igreja como minhas misérias e minhas sombras.

12. Por mais estranho que nos possa parecer, Paulo tem toda razão de afirmar que sua fragilidade revela a sua fortaleza, que não vem dele, mas de Cristo. Suas sombras fazem ressaltar a luz que é de um Outro. Rezemos, particularmente hoje, para que o Senhor continue manifestando a sua misericórdia sobre nós que somos Igreja.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 29 de junho de 2019


(Is 61,9-11; Sl [1Sm 2]; Lc 2,41-51) 
Imaculado Coração de Maria.

“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa” Lc 2,41.

“Os textos da memória litúrgica convergem naturalmente para o coração de Maria, perfeitamente iluminado pelo mistério de Cristo. Lucas menciona duas vezes o coração de Maria: a primeira em relação com Belém (Lc 2,19), a segunda com Jerusalém, no contexto da perda e do reencontro de Jesus (Lc 2,51). Entre estas duas cidades desenrola-se o caminho terreno de Cristo, do nascimento à morte, atrás dele, o caminho dos seus discípulos, a primeira dos quais é sua mãe. Na realidade, enquanto por um lado o reencontro de Jesus, ocorrido no contexto de uma festa pascal, fecha o evangelho da infância, por outro, evoca a morte-ressurreição. Já a tradição patrística interpretou este episódio como o anúncio velado do que aconteceria no mistério pascal. O que experimentaram Maria e José não é outra coisa senão a longínqua parábola da sorte que caberia aos discípulos: Jesus teria sido retirado do meio deles até o grande reencontro do ‘terceiro dia’. O caminho rumo a Jerusalém é a imagem do caminho de fé, vivida por Maria no seu coração. Os pais alimentam sempre projetos com relação aos filhos: com doze anos Jesus entra responsavelmente na sociedade cultural e social do povo da Aliança. O que fará quando crescer? Que estrada sugerir-lhe? Provavelmente eram estes os pensamentos que circulavam na cabeça de Maria. Mas... Jesus deve realizar o projeto do Pai, aquele pelo qual nasceu. E Jerusalém, mencionada três vezes por Lucas no raio de poucas linhas, aparece como a chave secreta que desvela tal projeto. Jesus, de fato, permanece na cidade santa, no templo: o seu coração está na lei de Deus! Jerusalém é a meta rumo à qual caminha em total obediência à vontade do Pai e, atrás dele, deve caminhar também sua Mãe e todo discípulo” (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite



Sexta, 28 de junho de 2019


(Ez 34,11-16; Sl 22[23]; Rm 5,5-11; Lc 15,3-7) 
Sagrado Coração de Jesus.

“Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou regatá-las de todos os lugares em que forem dispersadas num dia de nuvem e escuridão” Ez 34,12.

“Um pastor tem a tarefa delicada de encontrar pastagem para as ovelhas, de as proteger, de as defender, de as reunir, de procurar a ovelha desgarrada. Na linguagem metafórica, a imagem do pastor exprime previdência, decisão, ternura. Pode, portanto ser utilizada em referência ao próprio Deus: ‘Deus foi meu pastor, desde o meu nascimento até hoje’, afirma Jacó (Gn 48,15; cf. 49,24). Um toque de ternura acompanha a obra que o Senhor, apresentado como pastor, realizará ao conduzir à pátria os hebreus deportados. ‘Como um pastor, Ele cuida do rebanho, e com seu braço o reúne; leva os cordeirinhos ao colo e guia mansamente as ovelhas que amamentam’ (Is 40,11). Entenderemos o texto de Ezequiel no seu significado mas profundo, se nos julgarmos os destinatários de tudo o que Deus realiza na Sua atividade de Pastor. Ele reúne-nos ao Seu redor chamando-nos à fé e levando-nos a Cristo (cf. Jo 6,40.44.65). Ele  liga as nossas feridas mortais. Procura-nos com amor nos nossos extravios” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de junho de 2019


(Gn 16,1-12.15-16; Sl 105[106]; Mt 7,21-29) 
12ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem prudente, que construiu a sua casa sobrea rocha” Mt 7,24.

“Se alguém não fica a sós com a palavra de Deus, ele não lê. Só com a palavra de Deus! Meu caro ouvinte, vou confessar-te uma coisa: eu não ouso ainda estar absolutamente a sós com a palavra, numa solidão onde nenhuma ilusão se interponha. E permita-me acrescentar: não vi jamais um homem que se possa crer que ele teve a sinceridade e a coragem de estar a sós com a palavra de Deus, numa solidão onde nenhuma ilusão se interponha... A sós com a Escritura! Eu não ouso. Quando a abro, a primeira passagem que me cai aos olhos me cativa logo; ela me pergunta (e é como se Deus mesmo me interrogasse): puseste isso em prática? E desta maneira eu fico bem comprometido. Assim: ou logo em ação, ou, então instantemente a humilhação de ter de confessar. Se não fica a sós com a Escritura, não a lês. Que esta solidão não seja sem perigos, pessoas capazes implicitamente o reconheceram. Talvez um certo espírito cujas faculdades e seriedade saem fora do comum dirá de si para si: ‘Eu não poderia agir pela metade; a Bíblia é para mim um livro perigoso; é tirânico; se lhe dou o dedo, ele toma a mão, ele me pega por inteiro, e é capaz de refazer toda a minha vida a uma escala imensa. Não. Sem me permitir para com ele uma só palavra de escárnio ou de desprezo porque isto me repugna – eu o relego à estante; não quero estar a sós com ele’. Não aprovamos esta resolução; mas ela implica inegavelmente uma certa lealdade digna de respeito. Podemos ainda defender-nos de uma forma toda diferente contra a palavra; fazendo o fanfarrão. Garantimos que somos perfeitamente capazes de estar a sós com ela, o que é falso. Toma a tua Bíblia, e fecha a porta – mas mune-te também de dez dicionários e de vinte e cinco comentários: podes não ler os santos livros tão tranquilamente e sem mais te incomodares como o jornal... Que triste abusa da ciência, em que é tão fácil a gente se enganar a si mesmo! Pois, se não houvesse tantas ilusões, e ilusões sobre si mesmo, cada um confessaria como eu: não ouso estar a só com a palavra de Deus... É, aliás, humano que a gente se recuse a submeter-se ao poder da palavra. É humano pedir a Deus que tenha paciência se não podemos cumprir logo o nosso dever, sob a condição de prometermos que vamos nos esforçar. É humano implorar a sua compaixão, se a exigência nos parece grande demais... Mas não é digno do homem trocar totalmente o aspecto da questão. É indigno que eu interponha todos esses paliativos entre mim e a palavra, dê a esse aparato crítico o nome sério de zelo pela verdade, e deixe, enfim, esse trabalho tomar tais proporções que eu não tenho jamais o sentimento de ler a palavra e não venho nunca a me olhar no espelho. Tenho a impressão que com todas essas investigações e subtilezas eu atraio a palavra: na realidade, por esses processos eu a afasto da maneira mais astuciosa, para uma distância infinitamente maior do que a daquele que jamais a viu, e do que a daquele que nutre por ela um tal medo e angústia, que ele a rejeita para bem longe... Não te enganes, pois, nem faças o esperto. Porque já não o somos pouco diante de Deus e da sua palavra” (Kierkegaard – Para um exame de consciência a meus contemporâneos – 1851).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 26 de junho de 2019


(Gn 15,1-12.17-18; Sl 104[105]; Mt 7,15-20) 
12ª Semana do Tempo Comum.

“Abraão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça” Gn 15,6.

“O texto, deveras sugestivo ao apresentar um ambiente noturno, exprime a escuridão da fé na caminhada de Abraão. Mas a noite do Patriarca enche-se de luz, a luz das inumeráveis estrelas que simbolizam a sua descendência. Ele acredita apenas na Palavra de Deus, e isso lhe é atribuído como justiça (cf. v. 6). Pela primeira vez na Escritura aparece o verbo ‘crer’, com seu característico significado bíblico (não intelectual, mas existencial) de ‘confiar’, ‘entregar-se’. Abrão não acredita numa doutrina, mas confia em Deus, entrega-se ao Deus vivo: esta é a sua justiça, a sua reta relação com o Senhor que é salvação. E Deus vem ao seu encontro entrando na sua vida, sujeitando-se ao Karat berit, ‘corte/estipulação da aliança’ (cf. v. 18), rito arcaico para o contraente: ‘Que me aconteça como a estes animais esquartejados, se faltar à palavra’. A Palavra de Deus não vem ao nosso encontro voando sobre nossas cabeças, mas desce ao nosso nível, caminha na nossa história” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de junho de 2019


(Gn 13,2.5-18; Sl 14[15]; Mt 7,6.12-14) 
12ª Semana do Tempo Comum.

“Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram!” Mt 7,14.

“A vivência da fé verdadeira dá trabalho, é exigente. Isso porque a fé não gera conforto unicamente, mas, antes gera saída de si mesmo. A fé incomoda porque nos faz pensar e nos leva a nos importarmos com as coisas, a nos sentirmos responsáveis pelo cuidado. O compromisso com um Deus que liberta a sua criação de amor, um Deus que escolhe contar com os seres humanos, contar com cada um de nós para construção de seu Reino definitivo, esse compromisso perpassa a nossa vida em todos os seus aspectos. Jesus fala da porta estreita porque o caminho cristão não comporta tantos interesses escusos, não comporta segundas e terceiras intenções. O discípulo é aquele que não abandona tudo, que foge do mundo, mas aquele que vê na realidade toda, no mundo todo, essa presença de Deus, essa santidade que brota do encontro e da comunhão. Esse caminho não permite que levemos outras opções, não há espaço. Vivemos numa época em que são tantas as vozes que gritam soluções imediatistas para nossa vida, que vendem felicidade engarrafadas e satisfação comprimida. São tantos que querem nos dizer o que fazer, decidir o que é certo ou errado, adequado ou inadequado. Nossa fé não dá espaço para isso. É fé do compromisso, da maturidade. Quem se faz discípulo tem de aprender a tomar decisões, escolher livremente e assumir as consequências, pois Deus é nosso referencial, mas precisamos escolher livremente qual caminho trilhar. – Tu és o Caminho, a Verdade e a Vida. Que nosso peregrinar jamais nos afaste do único caminho que gera vida e que possamos nos livrar de nossos preconceitos, mágoas, orgulho e ganância que nos impedem de caminhar. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 24 de junho de 2019


(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) 
São João Batista.

“E todos os que ouviam a notícia ficavam pensando: ‘O que virá a ser este menino?’
De fato, a mão do Senhor estava com ele” Lc 1,66.

A mão sobre o ventre acaricia a vida nova, já quase a chegar. A mãe, com movimento quase imperceptível, dialoga com o movimento do filho, que só ela sente. E preocupa-se: que tipo de mundo será esse que vai acolher essa vida? Que influências sofrerá? Será feliz? As mãos da mãe acariciam o filho que já chegou. Toda vida vem de Deus e a ele retorna depois de cumprir sua missão. O que será deste menino? Que Deus o proteja, ela reza em seu coração. A missão que recebemos de Deus não é um destino previamente traçado ao qual podemos fugir. Isso é impensável se cremos num Deus Criador que respeita a liberdade que ele mesmo deu à criatura. Assim é que mesmo os passos mais importantes da história da salvação quis Deus depender de um sim humano, como o sim de Abraão, o sim de Maria, o sim de cada um de nós. Cada um disse o seu sim acolhendo os sinais de Deus no seu momento histórico e cumprindo o seu papel com consciência e atenção ao convite de Deus. De João Batista os vizinhos perguntavam qual seria a sua missão. Não demorou a mostrar: viera para prepara os caminhos do Senhor. A missão dada por Deus a cada um de nós é semelhante àquela de João Batista: anunciar, antecipar, facilitar, prepara o caminho para a chegada de Deus em nosso mundo. Não faltam sinais de que a mão do Senhor e de sua Mãe estarão conosco. – Queremos, Senhor, dizer sim à missão a que amorosamente nos convidais. Vossos sinais estão visivelmente nítidos nos acontecimentos do tempo presente, no clamor dos povos, na voz dos necessitados, nas oportunidades que temos de anunciar o vosso nome. Vossa mão, também não nos faltará. Amém (João Bosco Barbosa – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

12º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24).

1. A liturgia desse 12º Domingo do Tempo Comum volta seu olhar para a paixão de Jesus e o seu seguimento, e não tanto da identidade de Jesus; para encaminhar nossa reflexão para este aspecto, nos oferece esse texto de Zacarias como 1ª leitura.

2. Temos no texto a menção daquele que foi ferido de morte, uma figura anônima e misteriosa que foi apresentada por Isaías como o Servo do Senhor. O Novo Testamento faz uma releitura dessa personagem para identificá-la com Cristo.

3. Nessa contemplação daquele que foi ferido, o próprio Deus incutirá no seu povo um espírito de piedade que levará ao arrependimento e ao lamento por tal situação. É o mesmo sentimento que compartilhamos na sexta-feira santa.

4. O breve texto de Paulo traz um tema que se repete na Carta aos Gálatas: a nossa filiação divina, que nos vem pela autêntica fé em Cristo que pelo Batismo gera uma humanidade nova sem qualquer discriminação.

5. Se fosse mais viva em nós essa consciência de estarmos revestidos de Cristo e de sermos filho, nos compreenderíamos melhor e compreenderíamos a liberdade de escolhermos esse caminho de seguimento proposto por Jesus no Evangelho que segue.

6. O nosso evangelho se divide em três temas: Primeiro: A definição sobre Jesus que brota dos lábios de Pedro. Ele pede silêncio, pois além do testemunho dos próprios apóstolos, será necessário que o Espírito Santo ajude nossa compreensão, pois não é fácil juntar essa imagem do sofredor com a glória da ressurreição.

7. No segundo momento temos o anúncio do destino de sofrimento e glória que Jesus viverá em Jerusalém, cujo caminho Jesus começa a fazer. Eles precisam entender que a cruz é a chave que nos revela o mistério de Jesus. Essa realidade requer uma certa conversão da nossa parte.

8. A questão não é tanto quem é Jesus, mas quem sou eu nesse seguimento que faço. Assim aparece o terceiro momento onde temos uma catequese sobre o seguimento. Não basta andar com o Mestre é necessário entrar nesse caminho que ele faz. Com profunda humildade, reconhecendo que a vida é uma graça recebida, não a dispomos tanto como queremos.

9. Tudo isso Lucas situa num momento em que o Mestre reza, como o fez em outros momentos decisivos de sua vida. Na oração ele tem a clareza da vontade de Deus para com Ele e sua identidade filial. 

10. Pela oração, compreendemos que nunca chegaremos a contemplação do rosto do Senhor, como é a busca de oração do nosso salmista, se Deus mesmo não nos ajudar.

11. Peçamos ao Senhor a força e a sabedoria de seguirmos a Jesus, que contemplado aquele que foi ferido, sejamos capazes de vencer as tentações e os medos que vêm de nós e do mundo.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 22 de junho de 2019


(2Cor 12,1-10; Sl 33[34]; Mt 6,24-34) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns.
No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros?” Mt 6,26.

“Alguém disse que aquilo que somos é um presente de Deus para nós e aquilo que nos tornamos é nosso presente para Deus. É verdade que Deus dá a você e a mim a madeira para construir nossa vida e oferece ajuda para edificar com ela uma catedral de amor e louvores. Nessa questão, tenho de enfrentar minha responsabilidade óbvia. Ou vou usar esse material que recebi como um degrau, ou ele se tornará pedra no meu caminho. Usando outra analogia, todos os dias Deus me dá novas peças para encaixar nesse quebra-cabeça gigantesco que é a minha vida. Algumas delas são pontiagudas e dolorosas. Outras são opacas e sem graça. Só Deus, que planejou e viu de antemão o quadro completo de minha vida, conhece a beleza que poderá surgir quando todas as peças se juntarem. Só contemplarei essa beleza depois de colocar a última peça no lugar, a peça da minha morte. Não há como chegar a uma compreensão teológica satisfatória quando se considera apenas esta vida e este mundo que conhecemos. O contexto de uma vida infinita, eterna deve ser o pano de fundo de minha exploração cristã do sofrimento. O que acontece nesta vida, neste mundo, nunca vai fazer sentido para a mente perscrutadora. Não há justiça aparente, nem distribuição igualitária de bênçãos. Mas os cristãos sempre acreditaram que esta vida é apenas um ponto em uma linha infinita de nossa existência que leva do agora para o sempre. Como Jó, não tenho todas as respostas. Afinal de contas, onde estava eu quando Deus fez o mundo? Mas tenho algum entendimento do que é a confiança. E confio realmente no Deus do amor que é meu Pai. Tenho certeza de que você já esteve numa situação dessas, quando teve de pedir a outra pessoa para confiar em você. Lembra-se quando você não tinha realmente como explicar? Teve de pedir um ato de fé. De alguma forma, a meu ver, nesta questão do sofrimento, Deus está exatamente na mesma posição em relação a nós. O grande e infinito Deus pede a você e a mim, tão limitados e finitos: ‘Será que você poderia – será que vai – confiar em mim?’” (John Powell – As Estações do Coração – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 21 de junho de 2019


(2Cor 11,18.21-30; Sl 33[34]; Mt 6,19-23) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem ladrões assaltam e roubam” Mt 6,20

“Ter e poder. Temas que mexem com o ser humano e o levam ao poder e desespero. Faz brigar, matar, influenciar. Coloca-o no pedestal e derruba sem piedade para dar lugar a outros. É uma competição sem fim. Muitos querem ser citados como o mais rico do mundo. É a vida Severina que impõe o ter como álibi do poder. Mesmo quando há consciência que daqui nada se leva, perdura uma dinastia familiar de ostentação de glória e poder. O outro senhor propõe resignação, ojeriza às riquezas materiais, pobreza, humildade, serviço. Riqueza esta que nem sempre é apreciada. As decisões e escolhas serão feitas a partir do senhor que cada um estiver servindo. Um é substancialmente diferente do outro. Eles exigem coisas específicas. Um, mesmo não possuindo nada, oferece riqueza, poder guerra, latrocínio, confusão. Agrada muitas pessoas e as fazem infelizes. O outro senhor, sendo dono de tudo, propõe a paz, o desapego e promete a eternidade. Olhos maus atraem para si as trevas, o ócio e a avareza. ‘Louco’, disse Jesus ao homem que queria descansar, comer e regalar-se com seus bens terrenos, ‘esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?’, e conclui afirmando: ‘Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus’ (Lc 12,20-21). Os bens materiais não são desprezíveis, porém eles não devem ser senhores do viver. Eles podem causar infelicidade, principalmente àqueles que nada investiram em Deus. O tesouro bom ou ruim, eterno ou efêmero, estará onde as energias estiverem concentradas. Opte pelas riquezas, as celestiais, que ficam para sempre. – Grande ganho é a piedade dos que creem no Salvador e andam com fidelidade nos preceitos do Senhor. Acham seu contentamento nos cuidados de seu Deus em provê-los de sustento, pois jamais esquece os seus. Amém (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 20 de junho de 2019


(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17) 
Corpo e Sangue de Cristo.

“... e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’”. 1Cor 24.

“Ah, como nós, seres triviais, fazemos deste mistério da vida eterna uma coisa tão da trivialidade do nosso dia a dia! Olhai como o sacerdote, enfadado, impelido pela sua obrigação profissional, cumpre o seu dever sublime como se estivesse a desempenhar um cargo deste mundo, e não como alguém que está celebrando a liturgia onde atuam a luz e a bem-aventurança do céu. Olhai os corações escassos e áridos onde desce o Senhor e que no melhor dos casos – nada mais lhe sabem dizer que não seja confiar-lhe meia dúzia de desejos cobiçosos e egoístas que constituem o seu dia a dia. Ah nós, os cristãos! Neste sacramento recebemos ao mesmo tempo  a pura bem-aventurança do céu e a fina e transfigurada essência do fruto amargo e doce da terra; embora recebamos estas duas coisas como que metidas no duro invólucro do vulgar, nada se perde da sua realidade e verdade. Todavia comungamos como se nada acontecesse e, cansados e indolentes, trazemos de novo o nosso velho coração da mesa de Deus para a nossa morada, para os estreitos compartimentos de nossa vida, onde nos sentimos mais à vontade do que nos paços divinos! Oferecemos a Deus o sacrifício do Filho, e queremos recusar-lhe o nosso coração; representamos a divina comédia da liturgia, e não sabemos corresponder à gravidade que lhe compete. Talvez não nos falte boa vontade, mas ah! A boa vontade tem tão pouco poder sobre a indolência apática do nosso coração. Mas talvez isto pertença ao sinal sacramental, visto Deus correr, ainda dentro deste tempo, ao encontro de sua criatura, festejando já antecipadamente o banquete da vida eterna. Sendo este banquete preparado dentro de estreitos limites do tempo, não admira que dele se aproximem os pobres humanos, cujo espírito curto e coração mesquinho ainda não são capazes de compreender a grandeza da dádiva que lhes cabe. É pois de compreender que fiquemos um tanto perturbados e nos sintamos por assim dizer sobrecarregados, quase chocados, perante um tal excesso de Deus. Só por obra da graça bendita é que dele nos aproximamos e nos sentamos à mesa – nós, pobres seres tristonhos e prostrados, penosos e sobrecarregados. Mas Ele acolhe-nos, mesmo que não encontre nos nossos olhos o brilho da alegria de O possuirmos. Ele desceu a todos os abismos da terra, e não O magoa ter que entrar na estreiteza abafada do nosso coração, desde que nele arda uma pequena centelha de amor e boa vontade. O sacramento dos sacramentos quer ser o sacramento do nosso dia a dia, pacientemente, tal como Deus é paciente com a nossa fraqueza” (K. Rahner – Graça divina em abismos humanos – Ed. Herder).  

Pe. João Bosco Vieira Leite  

Quarta, 19 de junho de 2019


(2Cor 9,6-11; Sl 11[112]; Mt 6,1-6.16-18) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles.
Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus” Mt 6,1.

“Nesse ponto, Mateus intercala o capítulo seis, um poema didático sobre três formas de piedade que os judeus praticavam para além da lei: dar esmola, orar e jejuar. Jesus acolhe essas formas de piedade, mas ao mesmo tempo as critica. Elas só fazem sentido quando são praticadas de dentro para fora, não quando visam ao reconhecimento dos homens. Ao dar esmolas, a mão esquerda não deve saber o que a direita está fazendo. Dou porque é o momento para fazer isso. Não quero fazer contabilidade de minhas doações, nem quero me vangloriar delas. Jesus sempre insiste no segredo: dar esmolas e jejuar são atos que devem ficar em segredo. As boas ações devem ficar escondidas não só diante dos homens, como até mesmo diante do próprio ego. Não devo fazer o bem com o intuito de fazer uma boa avaliação de mim mesmo. Aquele avaliador dentro de nós nem deve saber daquilo que se faz. Deve ser um ato que emana simplesmente de nós porque está na hora de fazê-lo, não porque o bom comportamento nos coloca acima dos outros. Quem quiser rezar deve entrar no seu quarto e trancar a porta. ‘Então dirige a tua oração ao teu Pai que esta ali, no segredo’ (6,6). Não são apenas as paredes do quarto exterior que ocultam o meu ato de rezar dos olhares dos outros, há também o quarto interior, para o qual devo retirar-me na hora de rezar: é o quarto do coração. A verdadeira oração realiza-se no quarto escondido do meu coração. É lá que forma uma unidade com Deus. No entanto, uma unidade não preciso refletir sobre esse fato: estou simplesmente em Deus. Nisto consiste o segredo da oração. Para Jesus, rezar significa: estender diante de Deus o recôndito de meu coração. O Pai enxerga o que está oculto. Estendendo-o diante dele, Deus ilumina e o transforma com a luz do seu amor. Mas isso significa também que preciso estender tudo adiante de Deus, mesmo aquilo que é oculto para mim: o meu inconsciente. A luz de Deus deve penetrar em todos os abismos de minha alma, para que tudo o que existe dentro de mim seja tocado e transformado por Deus. A oração do discípulo não deve ser abundante de palavras, não deve multiplicar palavras como fazem os pagãos (6,7). Não deve vir acompanhada da ideia de querer pressionar ou forçar Deus a agir de uma certa maneira. A verdadeira oração do cristão nasce de uma profunda confiança em Deus, que conhece as necessidades do ser humano” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de junho de 2019


(2Cor 8,1-9; Sl 145[146]; Mt 5,43-48) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Vós ouvistes o que foi dito: ‘amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém vos, vos digo, amai os vosso inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” Mt 5,43-44.

“Os Padres da Igreja identificaram e exaltaram no amor aos inimigos, exigido por Jesus na sexta antítese, a característica realmente nova dos cristãos. Os pagãos também ficavam admirados com esse novo mandamento. No entanto, o amor a todos os seres humanos, mesmo aos adversos e antipáticos, pode ser encontrado também no pensamento judaico e grego. Marco Aurélio, por exemplo, escreve: ‘Amar até mesmo aqueles que nos fizeram mal é uma incumbência especial do ser humano’ (Gnilka, 192). Na filosofia estóica, o amor aos inimigos baseia-se na liberdade interior e no parentesco entre os seres humanos. O budismo também conhece o amor aos inimigos (Gnilka), 191). Por isso não podemos valer-nos do preceito do amor ao inimigo para reivindicar uma pretensa superioridade sobre outras religiões. O que realmente importa é analisarmos e entendermos as razões específicas do amor aos inimigos em Jesus: ‘Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, a fim de serdes verdadeiramente filhos de vosso Pai que está nos céus’ (5,44s). Jesus mostra que uma das maneiras de amar o inimigo é rezar por ele. Na oração entrego o inimigo às mãos de Deus: que Deus lhe dê aquilo que faz bem a ele e à sua alma. Quem ama o inimigo mostra que é filho ou filha de Deus. Por isso, é o amor aos inimigos o sinal característico da filiação divina. Com o amor aos inimigos imitamos o comportamento do próprio Deus que faz nascer o sol sobre os bons e maus e que faz chover sobre os justos e injustos (5,45). Ao mesmo tempo, o amor aos inimigos nos coloca numa nova proximidade com Deus, porque, lidando de uma nova maneira com o inimigo, experimentamos também Deus de um novo modo. Para Mateus, o novo comportamento nunca é apenas uma expressão de um novo ser, é, ao mesmo tempo, o exercício concreto da experiência do novo ser que nos leva para dentro da experiência do Deus misericordioso cujos filhos e filhas somos” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 17 de junho de 2019


(2Cor 6,1-10; Sl 97[98]; Mt 5,38-42) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Se alguém te forçar a andar um quilómetro, caminha dois com ele!” Mt 5,41.

“As mais discutidas são as palavras de Jesus sobre a retaliação e o amor aos inimigos. Jesus não recomenda uma atitude passiva, antes mostra os meios pelos quais podemos vencer o mal pela criatividade. Os quatro exemplos que ele dá em Mt 5,38-42 não são mandamentos, trata-se antes das concretizações de um amor que supera o mal. Quem sabe que Deus o ama incondicionalmente não precisa mover um processo para obter o seu direito ou usar a força para reagir aos violentos. Ele sabe que Deus o protege. Bater no rosto de alguém é para o judeu menos um sinal de violência que de desonra. Quem se sabe honrado por Deus não precisa preocupar-se com sua honra. Ele pode até entregar a capa que o esquentaria de noite. E quem repousa no amor de Deus andará duas milhas com o soldado romano das forças de ocupação, que segundo o direito de então podia obriga-lo a acompanha-lo pela distância de uma milha, e assim transforma-lo. Vendo no outro um possível amigo, nem aceita a sua inimizade. São comportamentos que rompem o círculo vicioso da violência, do ódio que provoca ódio, da ofensa que é retribuída com outra ofensa; agindo assim, cria novas possibilidades de convivência” (Anselm Grun – Jesus: mestre da salvação – Loyola).  

Pe. João Bosco Viera Leite

Santíssima Trindade - Ano C


(Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15)

1. A liturgia da Palavra para esta festa do Tempo Comum, nos ajuda a refletir sobre o mistério da Santíssima Trindade não como algo abstrato, mas como uma comunhão de pessoas em constante atividade para nos introduzir nessa vida de comunhão.

2. Assim temos esse retrato da Sabedoria, em sua origem e em sua ação no mundo como mediadora. Ela é o próprio Deus conferindo harmonia, coerência e sentido. Há quem a identifique com o próprio Cristo, em quem assume um rosto concreto, mas tal interpretação tem os seus limites.

3. Nesse louvor da criação e do cuidado de Deus para com o ser humano, rezamos o salmo 8. Nesse breve texto de Paulo se delineia a operação Trinitária em cada ser humano que se abre a esse mistério.

4. Se o pecado gerou essa ruptura nas nossas relações com Deus, Ele mesmo toma a iniciativa Jesus para nos justificar, concedendo a graça necessária para viver essa comunhão e superar as dificuldades que marcam a existência.

5. Esse amor e cuidado de Pai e do Filho se derrama sobre nós em seu Espírito que atua em nós essa vida nova. Por isso o evangelho contempla para nós essa promessa de Jesus do Espírito Santo sobre a sua Igreja. Sua função é continuadora do ministério de Jesus.

6. Tanto o evangelho quanto a 2ª leitura reforçam essa estrutura Trinitária que envolve o ser humano em sua existência através de ações distintas, mas voltadas para o mesmo objetivo: introduzir a Humanidade na própria vida de comunhão divina.

7. Essa comunhão não está voltada tão somente para o futuro, mas ela é uma experiência possível no tempo presente, quando vivemos a experiência da paternidade divina em seu amor, sua misericórdia e sua luz.

8. Não se trata de uma matemática complicada, trata-se de fé nesse mistério que envolve a nossa existência inspirando-nos uma existência consciente de que não sou fruto do acaso, nem estou só nesse meu caminhar que tem por fim um mergulho definitivo na plenitude divina. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo...

Pe. João Bosco Vieira Leite