Sábado, 01 de outubro de 2022

(Jó 42,1-3.5-6.12-16; Sl 118[119]; Lc 10,17-24) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo:

‘Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome’” Lc 10,17.

“A ação missionária dos enviados teve como resultado a vitória sobre as forças do mal. Eles relatam a submissão dos demônios, pela invocação do nome de Jesus. Por sua vez, o Mestre lhes revela algo parecido: a visão de Satã caindo do céu como um raio, em virtude da ação dos discípulos. O sentido profundo da atuação desses enviados permanecia-lhe escondido. Parecia-lhes que tudo se resumisse em realizar milagres e proclamar a mensagem do Reino. Jesus, porém, revela-lhes a dimensão oculta do trabalho missionário. Por meio dele, a história humana estava sendo arrancada das mãos do espírito mau. Este se tornara impotente para impor-se à humanidade e submetê-la a toda sorte de jugo, sendo o mais grave a possessão demoníaca. Doravante, o ser humano não mais está fadado a ser escravo do mal e do pecado. Pelo poder de Jesus, será possível libertar-se. A novidade é a derrota do espírito do mal pela ação dos enviados, com os poderes recebidos de Jesus. Eles se tornam mediação da misericórdia divina. Porém, deveriam entender isso como um serviço prestado ao ser humano, e não como um privilégio a ser usado arbitrariamente. A atitude correta diante de tudo isto é a do reconhecimento e da gratidão. Deus serve-se de instrumentos frágeis para pôr fim ao reino do mal e fazer triunfar o amor. – Espírito do bem, torna-me instrumento da ação misericordiosa do Pai, na história humana, de modo a ser capaz de neutralizar as forças do mal” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de setembro de 2022

(Jó 38,1.12-21; 40,3-5; Sl 138[139]; Lc 10,13-16) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita,

rejeita aquele que me enviou” Lc 10,16.

“Jesus quis deixar-nos, em sua Igreja, alguns homens que carregam sobre si a responsabilidade de levar adiante sua obra, que é obra de salvação e de redenção. Foram colocados por Jesus Cristo, a fim de transmitir ao mundo a mensagem de salvação, instaurando a vida em conformidade com as exigências do evangelho. É essa missão que Jesus lhes deu e, para que possam realizar essa sua magnífica, ainda que dificultosa missão, dotou-os de toda uma série de poderes e graças e prometeu-lhes ficar com eles até o final dos tempos. Nem sempre Jesus foi recebido por seus contemporâneos e compatriotas; em alguns casos, e bem frequentemente, foi rejeitado por eles. O amor é a aceitação; porém, o amor pode ser rejeitado; o pecado outra coisa não é senão a rejeição do amor. Jesus apresentou-se como a expressão mais sublime e mais pura do amor; por isso rejeitar o amor é rejeitar Jesus, e rejeitar Jesus é rejeitar o amor. Jesus prega nas cidades da Galileia, apresentando-lhes a bondade de Deus, a misericórdia, o amor de Deus; além de pregar, Jesus tinha feito as obras maravilhosas e taumatúrgicas de seu poder infinito; porém a semeadura, naquelas cidades, tinha sido inútil. A pregação de Jesus sobre o Reino de Deus foi um chamado à penitência, à conversão, mas aquelas cidades não receberam a semente, rejeitaram-na e por isso persistiram na maldade; tornaram-se, assim, responsáveis e merecedoras do condigno castigo, que chegaria para elas mais rigorosamente que às próprias cidades pagãs, que não chegaram a rejeitar o que não se chegou a oferecer-lhes. A hora de Deus é a hora do chamado; Deus marca o momento para chamar o homem; se ele deixar passar o momento, se fechar os ouvidos para o chamado, está fechando seu espírito à salvação. Pense, pois, que ‘a quem muito se deu, muito mais se exigirá’ (Lucas 12,48) – Vivência: Examine sua consciência sobre a docilidade às orientações que recebe do magistério da Igreja; se você recebe, escuta e aceita as palavras do Papa; se vive em conformidade com a doutrina que recebe nas Encíclicas e nas Exortações apostólicas do Sumo Pontífice; se acata as normas emanadas de seu Bispo; se coopera com as campanhas apostólicas promovidas por seu pároco. ‘Quem vos ouve’ (v. 16); são palavras de Jesus dirigidas e prometidas a seus apóstolos e sucessores” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de setembro de 2022

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51) 

Santos Miguel, Gabriel e Rafael – Arcanjos

“E Jesus continuou: ‘Em verdade, em verdade, eu vos digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem’” Jo 1,51.

“O novo calendário reúne em uma única celebração os três arcanjos que eram comemorados em dias diferentes. Neste dia, seria a festa do arcanjo são Miguel, o antigo padroeiro da sinagoga e agora padroeiro da Igreja universal. São Gabriel é o anjo da Anunciação, enquanto são Rafael é invocado como guia dos que viajam. A existência dos seres incorpóreos, que as Sagradas Escrituras chamam habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. Mas quem são os anjos? Eis a resposta de santo Agostinho: ‘Angelus offici nomen est, non naturae... Anjo é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, e é anjo por aquilo que faz’. Os anjos, são, pois, servidores e mensageiros de Deus. Pelo fato de que ‘veem sempre a face do Pai que está no céu’, como se lê no evangelho de Mateus, eles são ‘executores poderosos da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra’ (Salmo 103,20). São Miguel, como expressão da onipotência de Deus, recebeu, desde o começo da história do cristianismo, um culto particular. Constantino e Justiniano erigiram-lhe dois santuários nas duas extremidades do Bósforo. Em Roma, o arcanjo domina a cidade do alto da Mole Adriana, a qual tomou o nome de Castelo Santo Anjo. São Gabriel, ‘aquele que está diante de Deus’, é o anunciador por excelência das divinas revelações: anuncia ao profeta Daniel o retorno do exílio do povo eleito; leva a Zacarias a notícia da iminente concepção do precursor do Messias. Depois, é-lhe confiada a missão mais alta que possa ser dada a uma criatura: o anúncio a Maria da Encarnação do Filho de Deus. São Rafael é nomeado em um único livro das Escrituras: tem a missão de acompanhar o jovem Tobias para tornar-lhe seguro o caminho por estradas desconhecidas e lhe sugere a receita para curar o pai da cegueira temporária (Rafael significa de fato ‘Deus cura’´), sendo por isso o invocado de quem se dedica à cura dos doentes” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).              

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de setembro de 2022

(Jó 9,1-12.14-16; Sl 87[88]; Lc 9,57-62) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”

Lc 9,62.

“Temos aqui outro caso de vocação. Alguém que se dispõe a seguir a Cristo, mas pede um tempo. Quer primeiro se despedir dos familiares. A resposta de Jesus é incisiva: ‘quem põe a mão no arado e olha para trás não serve para o Reino de Deus’. Jesus quer gente disposta e decidida. Não admite os indecisos. Os que dão um passo à frente e outro para trás. Os que não são capazes de cortar a corda e ter a coragem de se lançar água a dentro, para depois seguir navegando com liberdade. Aquele vocacionado se mostrou preocupado com sua família, sentiu a responsabilidade por seu velho pai. Mas, no entender de Cristo, nem a família pode servir de pretexto para não segui-lo. Quem entende isto vai perceber que a própria família encontra no Evangelho um espaço maior de vivência, de realização, de plenitude. É toda a família que pode se lançar, com fé e decisão, no seguimento de Cristo. E todos encontrarão mais sentido para a sua vida, mais abertura para o seu espírito, e mais energias para o seu amor. -  Senhor Jesus, dai-nos coragem para vos seguir prontamente. E abençoai as famílias para que encontrem no seguimento de vosso Evangelho o espaço para seu amor e para sua realização mais profunda. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zenilde Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de setembro de 2022

(Jó 3,1-3.11-17.20-23; Sl 87[88]; 9,51-56) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém” Lc 9,53.

“Má acolhida em um povoado samaritano; para entende-la é preciso recordar que os samaritanos eram inimigos dos judeus a ponto de não manterem comunicação entre si e mostravam-se especialmente hostis dos judeus já há muito tempo, sobretudo por suas diferenças religiosas e seu templo cismático no monte Garizim; era frequente impedirem a passagem dos judeus por seu território, principalmente para irem cumprir as festas de preceito em Jerusalém. Jesus, ao atravessar a Samaria, indo de passagem para Jerusalém, encontra nessa caminhada a má vontade dos samaritanos, que lhe negaram hospitalidade. Temos aqui Jesus rejeitado pelos samaritanos e incompreendido pelos seus, e em ambas as atitudes pode cair você em sua vida: atitude de rejeição e atitude de incompreensão. Por mais que a rejeição de Deus seja algo sumamente grave e de consequências fatais para nossa alma, não devemos descartar essa possibilidade, talvez inconsciente, mas possibilidade: podemos rejeitar Deus, podemos opor-nos a seu plano de salvação, podemos impedir a obra da graça em nós ou nos outros. Existe uma rejeição aberta e consciente, carregada de responsabilidade, quando, conhecendo qual a vontade de Deus, não queremos aceita-la, nem segui-la, seja por comodidade, seja por fugir ao sacrifício, seja pelo egoísmo, sempre e em última análise, por falta de amor: de amor verdadeiro, intenso e de entrega. E existe uma rejeição oculta, ou subconsciente, mas real e obstinada, quando nos esforçamos por seguir em tudo nossos gostos e inclinações, nossos critérios e modos de ver e de julgar coisas, acontecimentos e pessoas, em lugar de orientar-nos sempre e em tudo pelos critérios do evangelho, pelas normas de conduta que o Senhor nos dá, pelas inspirações da graça, ou os impulsos do Espírito Santo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de setembro de 2022

(Jó 1,6-22; Sl 16[17]; Lc 9,46-50) 

26ª Semana do Tempo Comum.

“Houve entre os discípulos uma discussão para saber qual deles era o maior” Lc 9,46.

“Jesus e os discípulos caminhavam em direção opostas. Enquanto Jesus preanunciava seu destino e sofrimento e morte, os discípulos nutriam ideias de grandeza, preocupados em saber quem dentre eles seria o maior. Descurando as exortações recebidas, anteviam um destino de glória e esplendor para si e para o Mestre. E procuravam organizar seu futuro a partir desta lógica mundana. Em outras palavras, eram incapazes de imaginar um projeto de vida fora de relações desiguais, próprias de uma sociedade de classes. Jesus tentava fazê-los compreender ser possível viver de uma maneira nova, dentro e fora da comunidade. Dentro da comunidade, as relações interpessoais seriam regidas pelo princípio da igualdade e do serviço. Prestígio, poder e autoridade nenhuma importância teriam. Com os de fora da comunidade, o Reino exigia ser tolerante e respeitoso, superando toda tentação de sectarismo e de fanatismo. Os velhos esquemas deveriam ser invertidos, ou melhor, substituídos pela novidade do Reino. Grandes seriam os menores da comunidade. Os desprezados, como as crianças, tornar-se-iam objeto de atenção. O Messias gloriosos deveria ser encontrado nas pessoas marginalizadas, pois a grandeza do Reino é bem diferente daquela que os discípulos imaginavam. – Espírito de igualdade, tira de mim todo ideal de grandeza que consiste no domínio sobre meus semelhantes, e torna-me servidor humilde dos mais pequeninos” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

26º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Am 6,1.4-7; Sl 145[146]; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31)

1. A parábola que acabamos de escutar pode ser perigosa pela simplificação que se pode dar à mesma. Como, por exemplo, tudo se resolverá no além, que tudo se inverterá: os ricos vão para o inferno e os pobres para o paraíso. Que a justiça será feita.

2. Aos pobres caberá ter paciência e esperar que o rico termine o seu banquete e que tenha uma bela sepultura.... Porque no paraíso, os pertencentes a categoria de Lázaro terão a revanche.

3. Nenhuma concepção é mais inadequada ao espírito bíblico do que essa ‘resignação’ de remandar aos céus a solução de todas as injustiças presentes. A fé, não esqueçamos, é antes um princípio de indignação, de luta, não só de resignação.

4. O juízo de Deus também se dá na história presente e não só no juízo final. Precisamos colher dessa parábola seu significado mais genuíno.

5. O pobre tem um nome: Lázaro, que significa ‘Deus ajuda’. O rico não tem nome. Segundo a concepção semítica, o nome exprime a realidade profunda da pessoa, resume sua história. Esse rico não tem nome porque não tem história, constrói a sua existência sobre o vazio.

6. Não são poucas as pessoas que perderam o próprio nome, porque o substituíram por outros: ‘riqueza’, ‘carreira’, ‘poder’, ‘sucesso’, ‘trabalho’... Nos perguntamos: é verdade que na eternidade as situações presentes se invertem? No caso do rico parece que não. Sua sorte por lá outra coisa não é do que a fixação definitiva do que viveu aqui.

7. Ele é um isolado. Separado. A riqueza o fecha em seu egoísmo. Empenhado em olhar sempre o prato cheio, não vê o pobre à sua porta. Os cães veem melhor que ele. O inferno não é outra coisa que a consagração desse estado de separação, de distanciamento.

8. Separação de Deus e dos seus amigos (Abraão, Lázaro), porque aqui viveu distante dos outros, separado dos verdadeiros valores, preso ao ter. Talvez nos perguntemos, mas lá ele vive também os tormentos como consequência, de ter vivido a felicidade de uma vida de luxo, acumulando dinheiro...

9. Talvez devamos pensar que não há maior tormento do que uma vida vazia ou cheia de coisas inúteis, que dá no mesmo. Não há tortura maior que o isolamento, o fechamento aos outros, de não ver além do próprio umbigo. De não estender a mão ao outro, de sufocar as exigências do espírito. Existem infernos dotados de todo conforto.

10. Portanto, a parábola não tem a intenção de nos revelar o que se passa na eternidade, mas quer nos advertir seriamente que a sorte do ser humano se define aqui, hoje, neste momento. É o presente que se fixa na eternidade. O rico só se dá conta que precisa dos outros quando não há mais tempo.

11. Parece preocupar-se dos irmãos, mas os encontros se dão aqui, as relações se estabelecem sobre essa terra. É somente hoje que nos libertamos do próprio passado, e garantimos assim o futuro. Para tudo isso, nos lembra a Parábola, temos a Palavra de Deus.

12. Não precisamos de milagres excepcionais, como aquele de um morto que vem nos trazer alguma mensagem. A fé não nasce dos milagres. A palavra é o verdadeiro milagre que pode provocar uma ressurreição.

13. Jesus não busca assustar-nos com uma visão do inferno futuro ou consolar-nos com um paraíso futuro. Ele que mostrar-nos que um caminho para o céu se faz sentir onde ressoa a Palavra de Deus e que esse caminho nos leva ao encontro do outro.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de setembro de 2022

(Ecl 11,9—12,8; Sl 89[90]; Lc 9,43-45) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto” Lc 9,45.

“A forma como Jesus introduz sua admoestação aos discípulos demonstra a gravidade de sua fala: ‘Prestem bastante atenção ao que eu vou dizer a vocês!’ De fato, a revelação de seu destino haveria de pegar desprevenidos os discípulos. Eles jamais poderiam imaginar o que o Mestre lhe queria comunicar. Os discípulos haviam conhecido um aspecto da realidade de Jesus: seu poder taumatúrgico, sua capacidade de fazer-se próximo dos pobres e dos pequeninos, sua autoridade para veicular ensinamentos jamais ouvidos, sua relação profunda com o Pai. Embora os mestres da Lei e os fariseus demonstrassem má vontade, as multidões ouviam-no empolgadas. Aderir a ele precisa ser um passo acertado. Quando Jesus anunciou estar ‘para ser entregue nas mãos dos homens’, os discípulos foram incapazes de compreender plenamente estas palavras, pois lhes pareciam obscuras. E receavam pedir explicações ao Mestre. A revelação de Jesus colocou em xeque tudo quanto os discípulos pensavam a seu respeito. Pensa-lo sofredor, humilhado, aviltado nas mãos dos inimigos seria demais. Isto significava o fracasso das esperanças acalentadas até então. Só Jesus era capaz de compreender que a perspectiva de morte não significava o fracasso de seu projeto. Aí, também, se realizava o desígnio do Pai. – Espírito de sintonia com Jesus, dá-me inteligência para compreender a morte de Jesus, na perspectiva da realização do projeto do Pai, e não como frustração” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de setembro de 2022

(Ecl 3,1-11; Sl 143[144]; Lc 9,18-22) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“E acrescentou: ‘O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” Lc 9,22.

“Sem dúvida nenhuma, nisto como em outras coisas, os planos de Deus e os métodos empregados por sua Providência não coincidem com os dos homens: ‘Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor’ (Isaías 55,8). Para nós, se Jesus Cristo é o eleito de Deus, deveria ter aparecido assim diante dos homens, a fim de chegar a uma vitória sobre o mundo, vitória pública e manifesta, definitiva, arrasadora e gloriosa. Para Deus, seu eleito deveria humilhar-se, passar despercebido e, quando começasse a se tornar conhecido, deveria sofrer toda espécie de contradições e perseguições, até terminar abrindo seus braços na cruz e morrendo aparentemente vencido e definitivamente apagado do mundo na escuridão do sepulcro. O próprio Jesus adverte o apóstolo São Pedro, quando lhe diz que ‘é necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte’; porém, termina dizendo ‘que ressuscitará ao terceiro dia’ (v. 22). Jesus é o ungido de Deus, destinado a morrer por todos os homens; mas é também o Cristo destinado a ressuscitar não somente a ele mesmo, mas a ressuscitar por todos os homens. Por que não pensa que agora você está no lugar de Cristo e que, por isso mesmo, você também é destinado por Deus a morrer primeiro e depois ressuscitar? Você está destinado a sofrer; não estranhe, pois, que sofra, não tenha sua atenção atraída pelo fato de tropeçar em sua vida com o sofrimento sob alguma de suas numerosas arestas. Mas você também deve perceber que esse seu sofrimento destina-se a remir você e seus irmãos, os outros homens; finalmente você descobriu o sentido e a razão de seu sofrimento em sua vida” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de setembro de 2022

(Ecl 1,2-11; Sl 89[90]; Lc 9,7-9) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Então Herodes disse: ‘Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?’

E procurava ver Jesus” Lc 9,9.

“A simples evocação do nome de Herodes é motivo de apreensão. Filho mais novo de Herodes, o Grande, governou com o título de tetrarca. Popularmente, era chamado de rei. Indivíduo astuto, ambicioso, amante do luxo e do prazer. Violento como o pai. Foi ele quem mandou prender e degolar João Batista, por ter-lhe censurado a injustiça cometida contra o próprio irmão, cuja mulher tomara por esposa. Herodes é uma pessoa a quem os milagres de Jesus deixa perplexo. Por quê? Supersticioso como era, poderia estar pensando que o Mestre fosse a reencarnação de João Batista, com a possibilidade de ser castigado pelo mal cometido contra ele. Se fosse Elias, seria sinal de consumação dos tempos, quando o Senhor viria para fazer a humanidade passar pelo crivo de sua justiça. Caso fosse um dos antigos profetas ressuscitados era de se esperar a realização das antigas esperanças de Israel. Nenhuma destas explicações deixava Herodes tranquilo. As notícias a respeito de Jesus superavam todos esses esquemas messiânicos-escatológicos. A compreensão de Jesus e da sua ação dependem de um envolvimento pessoal com ele e da disposição de acolher sua mensagem, deixando-se transformar por ela. Em outras palavras, é preciso ter fé. Exatamente isto é que faltava a Herodes, com relação a Jesus. Desejar vê-lo por mera curiosidade ou pseudo-interrogações não basta para conhecer quem ele, de verdade, é. – Espírito de compromisso, liberta meu coração de falsas interrogações a respeito de Jesus, e leva-me a compreender que só a fé engajada pode levar-me a conhece-lo” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de setembro de 2022

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19A]; Mt 9,9-13) 

São Mateus, apóstolo.

“Há um só corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados” Ef 4,4.

“Temos aqui uma tríade: corpo, espírito, esperança. O corpo é a Igreja de Cristo, essa Igreja que em seu sentido espiritual se mantém una e indivisível tanto vertical (do tempo dos apóstolos até o juízo final) quanto horizontalmente (em todos os quadrantes da terra). Vemos pessoas que se dizem pertencentes a ela, mas não vemos seus corações. Por isso, cremos. É o que todos os cristãos confessam dominicalmente: ‘Creio na santa Igreja cristã – a comunhão dos santos...’ A realidade visível é, desse modo, suplantada por uma invisível, maior e mais abrangente, englobando eras e distâncias e, com toda a certeza, aterrando nossos julgamentos e preconceitos. Da mesma forma, há um só Espírito, o Espírito que nos chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. O Espírito não está preso, sopra onde Ele quer e, assim, efetiva sua obra. No entanto, para não nos deixarmos seduzir pelos inúmeros ‘espíritos’ que rondam por aí, Ele próprio estabelece um canal de comunicação, que é também a pedra de toque da sua atuação e verdade: a Palavra de Deus, o Evangelho. E a única esperança é, sem dúvida, a salvação. Lembremos, porém, que a salvação não significa apenas o que vem após o fim (isso, aliás, por si só já seria algo maravilhoso), mas também o que sucede no dia a dia. Salvação é viver na presença de Deus sem culpa, sem temor de castigo, disposto a realizar a obra do amor de Deus em relação ao próximo. Juntando, pois, a tríade – corpo, espírito, esperança –, veremos que temos um status, uma guia e uma tarefa. Que Deus, pois, nos ajude nessa unidade. – Senhor Jesus, é um privilégio sem tamanho pertencermos ao teu corpo. Não nos desligues dele como algo imundo. Conserva-nos sob a firme liderança do Espírito e faze da nossa esperança algo útil voltado para o próximo. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de setembro de 2022

(Pr 21,1-6.10-13; Sl 118[119]; Lc 8,19-21) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Minha mãe e meus irmãos são aquelas que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática’”

Lc 8,21.

“A vivência sincera da Palavra de Deus estabelece entre o discípulo do Reino e Jesus uma profunda comunhão. Mas também, entre os mesmos discípulos, a Palavra produz frutos de fraternidade e solidariedade. Em ambos os casos, os laços interpessoais podem mostrar-se mais fortes que os provenientes das relações familiares. Disto resulta a nova família do Reino em que a paternidade provém de Deus, e a convivência entre os membros pauta-se pelo amor e pela igualdade, para além de raça, de condição social e de diferença de gênero. Ser judeu ou pagão, escravo ou livre, homem ou mulher são distinções irrelevantes para a família do Reino. A possibilidade de viver a comunhão desponta no horizonte, deixando de lado tudo o que possa ser motivo de divisão. Desta forma, no contexto do Reino, relativiza-se a família natural de Jesus. O fato de ser sua mãe ou seus irmãos tinha pouca relevância. Esta familiaridade não lhes dava precedência na relação com o Mestre. Será inútil exigir este direito, já que o haviam perdido. Tanto a mãe quanto os seus parentes deveriam fazer o caminho de sua relação com Jesus passar pela submissão à Palavra de Deus. Doravante, serão seus familiares os que, como ele, ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática. – Espírito de submissão à Palavra de Deus, que a escuta e a prática da Palavra de Deus, que a escuta e a prática da Palavra me tornem membro da família do Reino, a nova família de Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).      

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de setembro de 2022

(Pr 3,27-34; Sl 14[15]; Lc 8,16-18) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, tudo que está escondido deverá tornar-se manifesto; e tudo o que está em segredo deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto” Lc 8,16-18.

“Nosso Deus não é o Deus das exterioridades; nosso Deus não se satisfaz somente com ritos, cerimônias, observâncias e mandamentos; tudo isso será necessário fazer e exercitar, mas somente terá sentido e significação quando corresponder a uma realidade interior. A Bíblia adverte-nos que Deus olha o coração: ‘O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração’ (1Samuel 16,7). A purificação do interior é obra do Espírito Santo; quando se abre o coração ao Espírito, quando o Espírito se apossa de um coração, começam a cair todas as escamas que o mundo, o demônio e a carne tinham deixado nesse coração e assim, purificado, frutifica nele a ação do Espírito, que é obra de santificação, de elevação, de deificação. Em última análise, como diz o evangelho, ‘não há coisa oculta que não acabe por se manifestar’ (v. 17). Do coração possuído pelo Espírito de Deus surgem os sentimentos retos, as boas obras, a ação apostólica. A coisa oculta também se manifestará quando o oculto for vergonhoso e inconfessável diante dos outros; as estreitezas do espírito, os sentimentos egoístas, os motivos secretos, as verdadeiras intenções que nos incitaram a atuar. A semente esconde-se na terra, na escuridão do sulco; ninguém a vê, ninguém sabe que está ali; sua presença não se dá a conhecer; é essa a primeira etapa da vida: de obscuridade e desconhecimento; etapa necessária, etapa vital; porém, etapa transitória. Não pode ser isso o definitivo e o fim. Superada essa etapa, a semente deverá sair à luz do sol, desenvolvendo-se, crescendo, mostrando à luz sua vitalidade. O fato é que a sua vida espiritual deve também passar pela etapa do aprofundamento de suas raízes em você. A vida espiritual é essencialmente uma vida de interioridade, de intimidade, de profundidade; será ter Deus, possuir Deus, viver Deus, entregar-se a Deus; porém, em seguida, essa vida interior terá de sair para o exterior, deverá manifestar-se aos outros, de maneira que possa contagiar todos os que o rodeiam” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

25º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Am 8,4-7; Sl 112[113]; 1Tm2,1-8; Lc 16,1-13).

1. Nossa parábola é um tanto embaraçosa. Um comerciante capta alguns comentários a respeito de um administrador que está cometendo algumas irregularidades. O chama e este nem se desculpa. Sua preocupação é com o seu futuro. Como não é versátil para outras atividades, resolve buscar ou fazer amigos.

2. Convoca os devedores do seu patrão e reduz notavelmente suas dívidas. A uma série de irregularidades se remedia com outras irregularidades. E tudo com a bênção do patrão. Para alguns estudiosos, a aprovação não seria do patrão, mas do próprio Jesus. O que no mínimo seria estranho, mas não nos precipitemos.

3. A aprovação a esse administrador desonesto, não diz respeito a sua desonestidade, mas a sua esperteza, por isso Jesus não pronuncia nenhum juízo moral.

4. Na interpretação de uma parábola, é necessário evitar o erro de encontrar a todo custo um significado, uma aplicação prática, ou algo edificante em cada elemento. O importante é recolher o ‘ponto central’, o motivo dominante, a lição por trás, sem determo-nos nos elementos do contorno.

5. Em nossa parábola, a lição fundamental não é a da injustiça, mas da capacidade de saber sair de uma situação crítica. Deus ama aqueles que são capazes de agir, que não esquecem que têm um cérebro, que recorrem à própria imaginação.

6. De repente, em sua situação dramática, o administrador se lembra dos outros. Não pensava na existência dos mesmos, voltado para si e seus interesses. Descobre a realidade da amizade. Dispõe, mais uma vez dos bens que deve administrar, mas não para si, mas em vantagem do outro. Sua salvação vem dessa abertura ao outro.

7. É uma lição essencial para a Igreja, que não é dona, mas simples administradora e dispensadora dos tesouros do seu Senhor. Portanto, não pode viver num circuito fechado, pensado só em si, na própria segurança, direito, prestígio, poder. Deve fazer circular os bens do seu Senhor.

8. Como o administrador que se declara incapaz de outra atividade, a Igreja deve compreender que o seu serviço, sua especialização é perdoar, usar de misericórdia, compadecer-se, compreender, abrir, libertar.

9. A lição também diz respeito a nós. Ninguém tem as contas em dia. Se Deus resolver dá uma olhada, tremeremos na base. Esse tipo de conta jamais fecha. A parábola nos ensina a agir de modo ‘irregular’. De uma outra maneira, em favor do próximo.

10. De diminuirmos as suas culpas, e não aumentá-las, como fazemos habitualmente, reduzir os seus defeitos, cancelar suas ofensas, não raciocinar em termos de direitos, mas em termos de amor. Nossas mãos se tornam limpas quando nos abrimos a esse gesto de esbanjarmos alegria, luz, esperança.

11. O Senhor espera de nós esse excesso, não a medida justa. Nossa administração pode não ser das melhores, mas ele sabe, ou espera, que encontrará nos outros os pontos positivos, o bem que praticamos. São os outros, são os nossos amigos que nos abrirão as portas do céu que buscamos.       

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de setembro de 2022

(1Cor 15,35-37.42-49; 55[56]; Lc 8,4-15) 

24ª Semana do Tempo Comum.      

“Reuniu-se uma grande multidão, e de todas as cidades iam ter com Jesus. Então ele contou esta parábola” Lc 8,4.

“Esta parábola foi dita por Jesus não no começo do seu ministério, mas quando as pessoas, atraídas pelos sinais que realizava, começaram a interrogar-se: como é que a Palavra de Jesus não obtém o fruto que tínhamos esperado? Como é que muitos não O seguem? É a nossa pergunta de hoje: por que é que o Evangelho não nos muda a nós mesmos e ao mundo? Por que é que a Igreja não é muito escutada? Por eu é que há tanta violência, tanta injustiça? Jesus responde que a sua Palavra é boa, é forte, é capaz de dar a salvação, mas nem todos a acolhem no modo devido. Há quem a acolha superficialmente e logo a esquece. Há quem a acolha com alegria, mas, ‘quando chega a provação’ (cf. v. 13) logo se cansa. Há quem, depois de ter escutado a Palavra, se deixa transviar pelo dinheiro, pelo sucesso, por tudo o que constitui o que é do mundo. A parábola é narrada por Jesus especialmente para sublinhar que a Palavra de Deus é eficaz e, quando é acolhida e conservada com coração generoso, produz fruto inesperado” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de setembro de 2022

(1Cor 15,12-20; Sl 16[17]; Lc 8,1-3) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa-nova do Reino de Deus. Os doze iam com ele” Lc 8,1.

“Essa foi a missão de Jesus: proclamar a mensagem de salvação. Era esse seu alimento, para isso vivia e a isso dedicava toda sua atividade. Pregava pelos povoados e cidades, a todos anunciava e lhes proclamava a boa nova da salvação. A própria vinda de Jesus à terra já é uma proclamação do Kerigma; é Jesus quem nos vem anunciar que o Pai quer perdoar e salvar o homem, e que ele vinha exatamente para isso e, mais ainda, que ele era a própria salvação. E Jesus proclama a salvação com suas palavras, com suas ações, com seus milagres, com todo o seu evangelho. Porém, como lhe tenho repetido com alguma frequência, o Cristo de hoje e daqui é você, deve ser você e, consequentemente, é você aquele que agora deve pregar a boa nova, deve ser agora o Messias enviado por Deus ao mundo de hoje, o profeta destinado por Deus para a salvação de todos os que o rodeiam e deve anunciar essa salvação, como o fez Jesus, com suas palavras, com o testemunho de sua vida, com as atitudes que você deve adotar. Quando Jesus se despede de seus apóstolos, dá-lhes a missão de propagar sua doutrina: ‘Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar o que vos prescrevi’ (Mateus 28,19-20). A Igreja está no mundo, a fim de evangeliza-lo, mas a Igreja evangeliza por você, por seu intermédio, por sua ação; daí que toda a sua vida seja evangelizadora e que você tenha de converter-se em um evangelho vivo, em um evangelho semeado no mundo para cristianizá-lo, para salvá-lo. Se a Igreja é ‘sacramento de salvação’ para o mundo, sê-lo-á por seu intermédio; você é Igreja e consequentemente é o verdadeiro sacramento de salvação para o mundo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de setembro de 2022

(Hb 5,7-9; Sl 30[31]; Jo 19,25-27) 

Nossa Senhora das Dores.

“Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena” Jo 19,25.

“Eis a novidade e a beleza da nossa fé cristã: cremos num divino que assumiu a fragilidade de nossa vida e experimentou as dores e as alegrias da nossa existência; cremos num divino que, por fidelidade e amor ao Pai e ao ser humano, esteve conosco até o fim, amou-nos até as últimas consequências (Jo 13,1). Para nós cristãos, a encarnação de Jesus é um mistério de fé e de amor. Como diz a Escritura: Deus amou o mundo de tal maneira que enviou-nos o seu Filho para nossa salvação (cf. Jo 3,16s). Ou ainda: Deus demonstrou seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5,8). Sim, caro leitor, o Natal e a Paixão do Senhor fazem parte do mesmo Mistério de amor e jamais podem ser compreendidos separadamente. Da manjedoura à cruz, a vida de Jesus foi de total encarnação. Ele tocou na carne de muitos enfermos, abençoou as crianças, fez-se próximo das mulheres, perdoou os pecadores e fez refeição com eles; enfim, tocou nas pessoas e deixou que outros também o tocassem. No alto da cruz, agonizante, Ele ainda demonstrou preocupação com os que estiveram ao seu lado. Como um bom filho judeu, preocupou-se com sua imá – a sua mamãe – e preocupou-se também com os seus amigos, os seus discípulos, e por isso pediu-lhes que cuidassem um do outro, que se protegessem mutuamente (Jo 19,25-27). Hoje, portanto, ao contemplarmos a encarnação e a paixão do Senhor, devemos ter bem claro esse modo de ser de Jesus. O verdadeiro amor encarna-se, não fica só em palavras; o verdadeiro amor concretiza-se, torna-se realidade: toca, ampara, cura, liberta, suja-se, fere-se, aniquila-se, e nisso encontra sua alegria e sua paz. – Ajuda-nos, Senhor, para que nosso amor seja concreto, verdadeiro. Ensina-nos, com a força do teu amor, a tocar as realidades feridas deste mundo e a socorrer os pobres e enfermos do nosso tempo. Amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de setembro de 2022

(Nm 21,4-9; Sl 77[78]; Jo 3,13-17) 

Exaltação da Santa Cruz.

“Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna” Jo 3,14-15.

“A Festa da Exaltação da Santa Cruz é de antiga data: remonta a 335, quando foram inauguradas – ou melhor, dedicadas – as duas basílicas constantinas de Jerusalém no Gólgota: Ad Crucem e Anàstasis ou Ressurreição. Entretanto, a celebração deste dia não pretende recordar somente o reencontro da Cruz (obra da piedosa Helena, mãe de Constantino) e a dedicação das duas basílicas. Neste dia, como naquela época, todo cristão deve fortificar a própria alma com a imagem salvífica do crucifixo e de seu triunfo final com a Ressurreição, pois a exaltação de Cristo Crucificado passa pelo sacrifício do Gólgota; a antítese sofrimento-glorificação se torna fundamental na história da redenção e em toda pessoa redimida pelo crucifixo. A cruz se torna o símbolo e o compêndio da religião cristã. ‘Será bom’, escreve J. G. Brousolle na Enciclopédia cristológica, ‘para reagir contra um perigoso pessimismo, revigorar nossa fé no contato com um crucifixo francamente triunfal, ao qual pedimos algo mais do que aumentar nossa capacidade de sofrimento, nossa possibilidade de resignação. Ele fortificará nossa debilidade, infundirá vigor a nossa coragem. O crucifixo não seria um remédio eficaz contra a desilusão, se não nos incutisse a esperança certa da glorificação, que o fiel, por mais miserável que seja, entrevê e espera contemplando docemente sua imagem. E é assim que ele nos conduzirá; mas, encaminhemo-nos na via inteiramente sobrenatural, rumo àquele amor de dileção, que é a divina caridade’, porque o Reino de Cristo não é um reino ou um presídio de renúncia e de sofrimento, mas um reino de glória. Por trás da imagem da cruz está a aurora da ressurreição, até para todo fiel. Pois que, diz são Paulo, se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé e nossa esperança seriam vãs. ‘Não só não nos devemos enrubescer com a morte do Senhor’, diz santo Agostinho, ‘mas também confiar muito nela e ver nisso motivo de suma glória: aceitando, de fato, a morte, que ele encontrou em nós, esposou de modo mais fiel a vida que nos tinha dado, que nós não podíamos ter por nós mesmos. Com efeito, aquele que nos amou tanto, sofreu por nós, pecadores – ele, sem pecado – aquilo que nós, pecadores, merecemos pelo pecado... Cristo foi crucificado por nós: não vos assusteis, mas estejais na glória, proclamando-o não com vergonha, mas com glória’” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de setembro de 2022

(1Cor 12,12-14.27-31; Sl 99[100]; Lc 7,11-17) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chores!’” Lc 7,13.

“Não chore, mulher. Deixe o choro para quem não tem fé, para quem perdeu toda a esperança. Deixe-o para quem voluntariamente vive na dúvida, porque rejeitou conscientemente a verdade. Deixe-o para quem, nas coisas da vida, busca antes o prazer que o dever e, consequentemente, não se encontra senão com a frustração e a amargura. Se você não quer chorar, creia. Mas se você crê, por que chora? Não crê na Providência de Deus? Não crê na bondade infinita de Deus? Não crê que Deus é seu Pai, e como verdadeiro Pai quer seu bem, busca seu bem, mesmo naquelas coisas que você não pode compreender como possam ser para seu bem? O Senhor teve compaixão da pobre mãe sem o filho. Você deve ter compaixão de todos que sofrem. Todos eles devem inspirar em você compaixão e deve sofrer com os que sofrem, angustiar-se com os oprimidos, chorar com os que choram, alegrar-se com os que se alegram” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de setembro de 2022

(1Cor 17-26.33; Sl 39[40]; Lc 7,1-10) 

24ª Semana do Tempo Comum.

“O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado” Lc 7,3.

“O diálogo entre Jesus e os emissários do oficial romano mostra como a Palavra produz frutos no coração humano. O desfecho da conversa – ‘Nem em Israel encontrei tanta fé!’ – sublinha o foco do interesse de Jesus ao ser abordado por um grupo de judeus, que lhe solicitaram um favor para o pagão. É verdade! A Palavra deu mostras de eficácia até no coração dos pagãos. A atitude do oficial romano é modelar. Estava à beira da morte um servo pelo qual tinha grande estima. Reconhecendo ser Jesus a única pessoa que poderia curar o doente, dirigiu-lhe um pedido, por meio de alguns anciãos dos judeus. Estes achavam que o pedido do oficial merecia ser atendido, já que sempre dera mostras de bondade em relação ao povo judeu, a quem tratava com deferência. Quando Jesus estava pronto para atender o pedido, eis que o oficial o surpreendeu com uma declaração carregada de fé. Ele acreditava que Jesus tinha suficiente poder para realizar o milagre, sem precisar dar-se ao trabalho de ir até sua casa. Bastaria uma só palavra, e o servo ficaria curado. Tinha consciência de ser pobre e limitado, por isso julgava-se indigno de receber em sua casa alguém com tanta força e autoridade divinas. A força incomparável da palavra do Mestre seria capaz de eliminar as doenças, independentemente de sua presença física. Para o oficial pagão, uma ordem militar, embora cumprida disciplinarmente, era coisa mínima, comparada a tamanho poder de Jesus. – Espírito que dá eficiência à Palavra, abre meu coração para acolher a mensagem de Jesus, e deixar que ela transforme a minha vida (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

24ª Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ex 32,7-11.13-14; Sl 50[51]; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32).

1. Esse domingo nos oferece uma mesa da palavra farta, e para não causar indigestão, fixemo-nos num dado fundamental que emerge das três parábolas contadas no evangelho.

2. O pastor não se sente rico ou se dá por satisfeito tendo a suas noventa e nove ovelhas seguras. Ele sai a buscar aquela que se perdeu. As 99 que restaram não lhe preenchem a ausência da que se perdeu.

3. A mulher também não se consola contando as nove moedas que tem em mãos. É pobre e não se resigna a ser empobrecida daquela moeda que sabe lá onde foi parar. Ela faz todo um movimento para encontra sua preciosa moeda.

4. Um pai tem dois filhos, um se vai numa atitude bastante discutível. Mas aquele que ficou, que parece alguém exemplar, ao menos pela aparência, não o consola da ausência daquele que os deixou batendo a porta atrás de si.

5. A conclusão é evidente: a contabilidade de Deus é diferente da nossa. Não se baseia em critérios quantitativos. Basta um sinal de menos, uma subtração, mesmo pequena, e as contas para Ele estão no vermelho. Cada pessoa tem um valor único aos olhos de Deus. Um valor “irrepetível”. Não substituível.

6. Cada um de nós é precioso, importante. A ponto de requerer obstinada preocupação, solicitude e espera paciente da parte de Deus. Deus é pobre, se diz. Mas não se resigna de ser empobrecido de uma só de suas criaturas. Um filho perdido, em seu inventário, representa um dano irreparável. Não há como compensar.

7. Deus é pobre, mas possui um patrimônio imenso. O que para nós pode parecer uma perda irrelevante, quase vantajosa para a tranquilidade da casa, uma cifra irrisória, no seu coração provoca uma laceração dolorosa que só pode ser recomposta unicamente com a recuperação daquele minúsculo, incalculável tesouro.

8. O ser humano pode deixar de ser filho, pode rejeitar o pai, pode estar sem Deus, pode fugir. Mas Deus não se resigna a ficar sem o ser humano. Mesmo em meio aos seus bens, até mesmo as boas obras do filho mais velho, aquela casa parece vazia, porque falta um filho.

9. Quando buscamos o sacramento da penitência, devemos recordar que recebemos um dom maior da parte de Deus, como esse filho que é surpreendido pela generosidade do pai. E nós, por sua vez, devolvemos a Deus algo que lhe tiramos, algo que ele espera: a nossa comunhão com Ele.

10. Confessar-se significa receber e dar. Acolher e restituir. A nossa alegria é também aquela de Deus. Não é exatamente os nossos pecados que levamos a Ele. Levamos a nossa presença, o nosso retorno, a possibilidade da festa. A possibilidade de um pai ser ‘enriquecido’ de um filho.

11. A Deus não interessa tanto o elenco dos nossos pecados, mas o desejo de voltarmos a ser ‘filhos’. Mas a parábola também nos faz ver que a distância de Deus não se mede por quilômetros. Há filhos que, mesmo em casa, não sentem alegria por observar o que lhes pede o Pai.

12. As parábolas nos desafiam a uma visão mais ampla da misericórdia divina, que não deve ser só para mim, mas que se derrama sobre todos. A questão não é ir embora ou permanecer. Mas permanecer ‘de um certo modo’, com uma ‘certa compreensão’. Quem sabe assim consigamos nos alegrar com Ele.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de setembro de 2022

(1Cor 10,14-22; Sl 115[116]; Lc 6,43-49) 

23ª Semana do Tempo Comum.

“Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos em espinheiros nem uvas de plantas espinhosas” Lc 6,44.

“A árvore é reconhecida pelo fruto, afirma Jesus. A advertência é clara: não bastam as boas intenções, não basta dizer ‘Senhor! Senhor!’; a nossa prática é que revelará os valores que predominam no mais íntimo de nós, o verdadeiro amor que temos por Ele (Lc 6,43-49). Jesus não fala da árvore e do fruto por acaso. Na verdade, Ele fazia um alerta aos doutores e aos fariseus – não em tom de desafio, querendo comprar briga, mas como simples advertência; queria apenas que eles abrissem os olhos; queria que eles fossem capazes de ir além da letra da Lei: ‘Eu pergunto a vocês: a Lei permite no sábado fazer o bem ou fazer o mal...?’ (Lc 6,9); ‘Se vocês fazem o bem somente aos que lhe fazem o bem, que gratuidade é essa?’ (Lc 6,33). Jesus não tinha problemas com as limitações e contradições humanas; ao contrário, ele sempre se mostrou compreensivo com os pecadores. E foi justamente essa sua compreensão e generosidade que despertou em tantos homens e mulheres o firme desejo de uma nova vida, de uma mudança de valores e de atitudes. O Mestre, porém, sempre mostrou enorme preocupação quando estava diante de pessoas que se julgavam perfeitas e exaltavam suas próprias qualidades. Isso, sim, inquietava-o, irritava-o: ‘Hipócritas! Tire primeiro a trave do seu próprio olho...’ (Lc 6,42b). Em resumo: Jesus não está condenando a nossa fragilidade humana, as nossas limitações. Deixa-nos, porém, um alerta: pede que gastemos mais energia cuidando de nossa própria conversão, e deixemos de lado essa obsessão em querer julgar e condenar os irmãos; pede, ainda, que sejamos misericordiosos e menos juízes (Lc 6,35-36). – Ajuda-me, Senhor. Que eu procure mais compreender, do que ser compreendido; amar, do que ser amado; pois é dando que se recebemos; é perdoando que somos perdoados; e é fazendo morrer em nós o egoísmo, que encontraremos a vida eterna. Amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).    

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de setembro de 2022

(1Cor 9,16-19.22-27; Sl 83[84]; Lc 6,39-42) 

23ª Semana do Tempo Comum.

“Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre” Lc 6,40.

“O Senhor faz-nos esta pergunta incisiva: ‘Pode um cego guiar outro cego?’ (v. 39). Todos nós sofremos de algum grau de cegueira, mas em meio a essa cegueira todos ansiamos pela luz; todos nós buscamos a luz da verdade e buscamo-la em nosso derredor e em nosso interior e, quando divisamos algum raio de luz, corremos atrás dele desesperadamente, com avidez. Porque nenhum homem, e em parte alguma, vemos a luz completa, mas simples raios de luz, que nos orientam para chegar a Jesus Cristo, que é a luz perfeita e em plenitude. Nós, os homens, não possuímos a plenitude da luz. Vê como vagam sem rumo certo, em busca da verdade. Todos os homens desorientam-se, todos nós nos enganamos, todos nós mudamos, todos entendemos mal as coisas ou não entendemos, todos deformamos a realidade das coisas ou distorcemos o sentido dos acontecimentos. Nós, os homens, convertemo-nos, assim, em cegos que pretendem guiar outros cegos. E os que se apoiam num cego, não tardarão a cair; se um homem apoia-se noutro homem, ambos chegarão às maiores vilezas e o farão invocando o direito à justiça e à moral. Agora você pode explicar o fato de ter o homem chegado a defender as mais impossíveis doutrinas, a praticar as morais mais injustas, a implantar os direitos mais arbitrários, a defender os erros mais crassos, a propagar as doutrinas mais nefastas, a acender os ódios mais destruidores, a iniciar as guerras mais desumanas. Não confie, pois, nos homens, mas coloque sua confiança em Jesus Cristo e em mais nada, além dele; assim, você se verá livre do erro e de suas consequências; não caia na armadilha que lhe preparam e assim você não se enganará, pensando que é uma sólida e bem fundamentada coluna, o que não era mais que fraco caniço” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 08 de setembro de 2022

(Mq 5,1-4; Sl 70[71; 12[13]; Mt 1,1-16.18-23) 

Natividade de Nossa Senhora.

“Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” Mt 1,21.

“Tudo o que José queria era livrar-se de Maria, aquela jovem, sua noiva, que na sua opinião o havia traído. Mas não queria difamá-la e muito menos incriminá-la. Com certeza, ele a amava e não lhe queria mal. Em tempo: naqueles tempos, a traição da mulher redundava em apedrejamento. Pois bem, com um enredo inicial de um clássico tango argentino ou de lacrimosa novela mexicana, a história envereda para outro rumo bem diferente, o rumo da redenção da humanidade: José é advertido em sonho de que o menino que estava para nascer era o esperado pelo povo de Israel há centenas e centenas de anos. E era esperado não para ser mais uma grande figura no panteão dos heróis hebraicos como Abraão, Davi ou Moisés, mas para salvar o povo dos seus pecados. Esse negócio de salvar dos pecados naquela hora talvez soasse como algo sem importância, pois o que se queria era salvar dos romanos e da sua fúria arrecadatória, motivo pelo qual os publicanos (cobradores de impostos) eram tão odiados. Devemos, porém, lembrar-nos de que Deus, com a implacável justiça da lei, é o grande e invencível inimigo. O tão apregoado ‘Deus é amor’ só é de fato amor para nós quando aquele Menino Jesus intermedeia nossas relações com Deus. Mais tarde, ele diria: ‘Ninguém vem ao Pai senão por mim’. É evidente que Deus, muito antes de Jesus vir ao mundo, é nosso Pai e nosso maior Amigo, e a prova disso é que Ele nos envia o Filho para nos redimir. No entanto, não adianta procurarmos o Pai se não olharmos para aquela criança que nos vem no Natal e em cada pregação do Evangelho. O menino do sonho de José é a realidade do nosso encontro com Deus. – Senhor Deus, encontrarmo-nos contigo no tribunal da lei é termos por antecipação a condenação eterna. Por isso queremos encontrar-nos contigo tendo como nosso intermediário, advogado e redentor aquele que enviaste através da tua serva Maria. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 07 de setembro de 2022

(1Cor 7,25-31; Sl 44[45]; Lc 6,20-26) 

23ª Semana do Tempo comum.

“Jesus, levando os olhos para os seus discípulos, disse: ‘Bem-aventurados vós, os pobres,

porque vosso é o Reino de Deus!’” Lc 6,20.

“São Lucas não especifica aqui tão bem quanto o faz São Mateus, que diz: ‘Bem-aventurado os que têm um coração de pobre’ (Mateus 5,3), abrangendo os humildes, ou simples de coração, os pequenos, e, se bem que a fórmula de Mateus 5,3 saliente o espírito de pobreza, tanto para o rico quanto para o pobre, Jesus refere-se, geralmente, a uma pobreza efetiva, especialmente para os seus discípulos que, desejosos de segui-lo o mais próximo possível, tendo abandonado tudo para segui-lo, têm o espírito desprendido dos bens terrenos. O Senhor promete a todos os pobres um reino, e nada menos que o reino dos céus, o ‘Reino de Deus’, como diz São Lucas; não é um reino terreno cheio de angústias e de temores, mas o Reino de Deus onde tudo é fartura, onde não existe dor, nem lágrimas, nem sofrimento de nenhuma espécie, mas onde tudo é paz, tranquilidade, alegria e felicidade para sempre. É assim que Deus paga; você lhe entrega suas poucas e pobres coisas, seus breves sofrimentos da vida, seu coração despojado de tudo que é terreno, e ele, em troca, sacia você abundantemente com as riquezas de seus dons e de suas graças, com a alegria de seu reino e de sua eterna posse. Não lhe cause demasiado sofrimento o fato de ver-se despojado dos bens da terra, mas procure com todas as forças conseguir os bens do céu” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite