Santa Maria, Mãe de Deus

(Nm 6,22-27; Sl 66[67]; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21)

1. Na oitava de Natal, ao início do ano civil, a liturgia nos apresenta a figura de Maria, Mãe de Deus.  E assim, nesses dias festivos, temos sua presença discreta, que nos fala da solicitude e da proteção materna que também nos acompanhará ao longo dos dias que virão. 

2. Como estamos iniciando uma nova caminhada no tempo, a 1ª leitura nos recorda a bênção que o sacerdote pronuncia no templo por ocasião do Ano Novo. Só Deus pode realmente abençoar, bendizer, ‘dizer bem’; os humanos abençoam invocando o nome de Deus.

3. Paulo nos fala da humanidade de Jesus, ‘nascido de mulher’, da sua pertença à sociedade humana. Por isso, comemorando a vinda de Cristo, pensamos especialmente na ‘mulher’ que o integrou em nossa comunidade humana.

4. Dando continuidade à missa da noite de Natal, temos além da visita dos pastores, a circuncisão ao oitavo dia e a imposição do nome: Jesus, ‘Deus salva’. Ele é acolhido como qualquer um de nós se tivesse nascido naquela sociedade.

5. Ela é mãe de Jesus, o nazareno, mas como tornou-se mãe de Deus? Como se conjugam essas duas maternidades? Na realidade é uma só. O título de Mãe de Deus foi conferido pelo Concílio de Éfeso no ano de 431.

6. Mas foi vinte anos depois, no Concílio de Calcedônia que se chamou a Jesus de ‘verdadeiro Deus e verdadeiro homem’. É por ser a mãe de Jesus humanamente que Maria é chamada de Mãe de Deus! Pois não podemos separar a humanidade e a divindade de Jesus.   

7. As narrativas da infância de Jesus nesses dias revelam toda essa movimentação de diversos personagens em torno de Jesus, levando sua mãe a refletir sobre o significado de tudo a partir do seu coração. Aprendemos também com ela sobre sua maternidade oblativa, não possessiva e da sua fé vivida no cotidiano.

8. Desde o evangelho de ontem, da Sagrada Família, encontramos na revelação de Simeão a Maria a compreensão que ela buscava para alguns fatos. Seu filho não lhe pertencia. E isso vai ficar bem claro quando voltarem ao Templo na 1ª peregrinação do adolescente Jesus. 

9. Desde que O tinha em seu ventre, ela percebeu que seu Filho veio para ir ao encontro dos outros. É ele que o leva até a casa de Isabel, até João Batista e Zacarias. É na visita a Isabel que Maria exprime seu dinamismo de participação, de partilha, de alegria.

10. Assim, nós cristãos, deveríamos compreender que Cristo não é uma propriedade privada, não é somente nosso. Ele veio para todos. Uma das coisas que me agradam e me fazem rir na série “Os escolhidos” é que os discípulos estão sempre procurando a Jesus, que lhes escapa, que está entre as pessoas, conversando ou ajudando-as.

11. Não estou com isso negando esses momentos de intimidade que cultiva com o Pai, ou mesmo aquele que viveu no seio de sua mãe, ou mesmo na casa de Nazaré, sob os cuidados de seus pais. Mas meditando em seu coração, ela percebe algo bem maior em todo esse movimento ao seu redor...

12. Memória e reflexão foram dois elementos que fizeram parte da vida de Maria, que com a ajuda da própria fé foi avançando em seu caminho nada fácil. Sem o anjo da anunciação, ela deverá interrogar os fatos cotidianos para saber alguma coisa do mistério da própria existência.

13. Cada vez que tiver que dizer ‘sim’, haverá um aumento de consciência, de abandono confiante e de acolhimento antes mesmo de saber toda a resposta. Uma vivência de fé que também nos desafia. Que os novos dias que se aproximam sejam verdadeiramente ‘novos’, porque abertos às surpresas de Deus. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sagrada Família, Jesus, Maria e José

(Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Lc 2,22-40) *

1. A festa de hoje toca essa realidade humana em que Jesus quis nascer: uma família. A família é constituída por um conjunto de relações. Partindo dessa realidade esposo e esposa, esta pode se estender a relação pais e filhos. Hoje há uma tendência, em parte, de fechar aqui o cerco familiar.

2. Mas esta pode abrir-se um pouco mais, incluindo aqui os avós, ampliando ainda mais a relação de gerações. As leituras desse ano nos possibilitam refletir sobre esse componente familiar: os idosos. Estes vivem uma situação nova com todas as mudanças da sociedade moderna. 

3. Seu papel mudou com a moderna organização do trabalho e suas novas técnicas, mais que a experiência, estas favorecem o público mais jovem. Em algumas situações familiares dessa nova formatação marido, mulher e filho, os encontros são menos frequentes gerando solidão, marginalização, empobrecimento da vida familiar, particularmente para as crianças.

4. A Bíblia e, de modo geral, as sociedades antigas, os idosos não constituíam uma idade ‘inútil’, mas eram verdadeiros pilares em torno dos quais giravam a família e a sociedade. Hoje, chamar alguém de ‘velho’ pode soar ofensivo, mas já foi uma honra, simplesmente ‘envelhecer’.

5. Para alguns, aposentar-se pode ser um prazer para outros uma preocupação. Estar fora do mercado de trabalho ou da ‘verdadeira vida’, pode ser um problema. Mas há aqueles que fazem desse momento o início de nova operosidade, de dedicar-se a uma nova atividade gratificante e criativa.

6. Há aqueles que se dedicam a trabalhos voluntários ou mesmo se voltam mais ao sagrado, às comunidades de fé, sejam para colaborar em algo ou mesmo para recuperar o tempo que negligenciaram de sua relação com Deus. Quantos de nós não devemos o nosso êxito do caminho graças a alguém que rezava por nós?

7. No ancião, seja homem ou mulher, podemos encontrar uma certa calma, um certo olhar, que o faz elemento de equilíbrio em uma família, induzindo à reflexão e paciência. Uma das situações mais penosas para os idosos é assistirem impotentes esfacelar-se o matrimônio dos filhos com todas as consequências para os netos. Também aqui vale escutá-los.

8. Em todos os tempos sempre existiu o desafio de adaptar-se às mudanças que vão acontecendo na sociedade, particularmente aos anciãos. Saber apreciar as novidades e os valores positivos que trazem as novas gerações. Não se tornar alguém que simplesmente só sabe louvar os tempos antigos.

9. Todas essas novas realidades estão inclusas na Palavra de Deus. A 1ª leitura comenta o quarto mandamento em ‘honrar’ os pais, seja naquilo que nos tornamos, pois os pais são honrados nos filhos; seja na assistência das necessidades econômicas. Seja no simples reconhecimento: ‘honrar’ quer dizer: você tem importância para mim.

10. Paulo fala de buscar, para as nossas relações, virtudes ou sentimentos que as tornem possíveis: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência. Sejam para as relações de um modo geral ou para o seio familiar, numa clara capacidade de cada um rever suas atitudes.

11. Simeão e Ana, nosso casal idoso do Evangelho nos falam de uma virtude fundamental: a esperança. Simeão esperou uma vida para ver o Messias. Quantos país não desejam verem seus filhos instalados na vida. Verem seus filhos reconciliados com Deus.

12. Continuemos a esperar e a rezar. A esperança é o verdadeiro elixir da eterna juventude. Se dizemos que ‘enquanto há vida, há esperança’, é ainda mais verdadeiro o contrário: ‘enquanto há esperança, há vida’.   

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Sábado, 30 de dezembro de 2023

(1Jo 2,12-17; Sl 95[96]; Lc 2,36-40) Oitava de Natal.

“Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” Lc 2,38.

“Não apenas os pastores e Maria são exemplos de acolhimento dado ao Filho de Deus, Jesus Cristo. Lucas, o narrador, adota ainda um outro tema importante, popular entre os gregos como entre os judeus: o tema do idoso que ainda passa por uma experiência muito importante. E Lucas gosta de narrar encontros para os quais o próprio Deus tomou a iniciativa. Nesses encontros as pessoas experienciam algum mistério de Deus. Para Lucas, o grego, trata-se sempre de encontros com homens e mulheres. Tanto eles como elas compreendem o que acontece e discernem a atuação de Deus. Mas não é apenas a polaridade entre o homem e a mulher que se concretiza nessa história. É também o contraste entre a Lei e o Evangelho, e entre a alegria e o sofrimento, a animação e a dor que Jesus há de causar à sua mãe. Não é um mundo ileso que espera Maria. Na alegria por seu filho, o ungido de Deus, mistura-se a dor pelo destino que ele terá de sofrer. Aqui Lucas sugere também o caráter contraditório da nossa própria vida. Nós também experienciamos a Deus como aquele que alegra o nosso coração, mas também como o incompreensível, como aquele que prova os nossos protestos, e que exige de nós uma penosa mudança” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de dezembro de 2023

(1Jo 2,3-11; Sl 95[96]; Lc 2,22-35) Oitava de Natal.

“O que ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar” 1Jo 2,10.

“Depois de ter afirmado que Deus é luz (1Jo 1,5) e ter indicado o caminho para a libertação do pecado e alcançar essa luz (1Jo 1,6—2,2), são agora propostos critérios para ver que caminhos encontramos: o verdadeiro conhecimento de Cristo alcança-se só com a observação dos mandamentos (1Jo 2,3-6); a experiência do amor leva à perfeição a Palavra antiga e torna verdadeiro o mandamento novo (1Jo 2,7-8); a diversidade dos dois caminhos manifesta-se na contraposição entre o ódio e o amor (1Jo 2,9-11). [Compreender a Palavra:] Depois dos conceitos negativos de comunhão (1Jo 1,--2,2), a leitura joanina apresenta os aspectos positivos (1Jo 3,3-11). Esta seção sublinha a ideia bíblica de que o conhecimento de Deus se consegue ‘observando os mandamentos de Deus’. Para não correr o risco de separar o conhecimento de Deus da conduta ética, o trecho articula-se em três reivindicações, cada uma das quais é completada por uma dimensão moral: se alguém diz: ‘Conheço-O’ (ou seja, a ‘Jesus Cristo, o justo’), esse deve obedecer-lhe; se outro diz: ‘Eu habito em Cristo’, esse deve comportar-se como Ele se comportou (v. 6); se depois outro diz: ‘Eu estou na luz’, esse deve amar os seus irmãos (v. 9). ‘O amor de Deus é verdadeiramente perfeito’: o genitivo ‘de Deus’ pode referir-se ao amor humano por Deus ou ao amor de Deus pelos homens; ou então ao amor como essência da revelação de Deus. A ligação entre amor, observância dos mandamentos e habitação aparece também em Jo 14,23-24. O amor de Deus realiza-se na comunidade e na observação da Palavra de Jesus que, na Carta, se exprime no ‘novo mandamento’, definido paradoxalmente, com um jogo de palavras ‘antigo’ porque remonta ao próprio ensinamento de Jesus (Jo 13,34), um fato já acontecido, historicamente datado e, portanto, antigo” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 28 de dezembro de 2023

(IJo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) Santos Inocentes – Oitava de Natal.

“Depois que os magos partiram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse:

‘Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito!” Mt 2,13a.

“Na realidade, na Sagrada Família, José era a pessoa de menor dignidade, comparado com Jesus e Maria; mas era ele a autoridade, e por isso o anjo apareceu-lhe, e ele é quem dá a ordem de partir para Egito e é quem se coloca à frente, na marcha. Aqui, em primeiro lugar, temos de admitir a humildade e a obediência do santo Patriarca. Antes de tudo a humildade, pois sabia muito bem quem era aquele Menino Jesus e sua Mãe Maria; ele tinha consciência, pela revelação do anjo, de que sua missão não era outra senão a de proteger aquelas duas vidas e cuidar delas com todo esmero e carinho, e assim fez, mas sem ultrapassar a posição que lhe fora destinada naquela Sagrada Família. Em segundo lugar, a obediência de São José foi modelo e exemplo para todos nós. O anjo ordena-lhe: ‘Levanta-te!’ E José não pergunta, não indaga, não vacila. Obedece à ordem de Deus, nesse momento, para ele, tão inexplicável e tão difícil. Uma viagem para o Egito com a precariedade dos meios de que São José dispunha deve ter constituído algo muito penoso, cansativo e arriscado. Mas São José não hesita um só instante: nessa mesma noite fez os preparativos e saiu depositando sua confiança em Deus. Belo exemplo para nós que, como José, devemos guiar-nos em nossa vida pela palavra de Deus, que nos fez conhecer sua vontade por meio de nossos superiores. O superior nem sempre será necessariamente o mais santo ou o mais sábio, como no caso da Sarada Família, mas é sempre a autoridade, é sempre representante de Deus e o caminho pelo qual chega até nós a vontade do Senhor. E se isso deve aplicar-se a toda autoridade legítima, com maior razão devemos afirmá-lo em relação a autoridade eclesiástica, ao magistério da Igreja, visto que sabemos, pela fé, que nele age o Espírito Santo, que não permitirá que sua Igreja caia no erro” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de dezembro de 2023

(1Jo 1,1-4; Sl 96[97]; Jo 20,2-8) São João Evangelista - Oitava de Natal

“Maria Madalena saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava...” Jo 20a.

“A acolhida de Jesus e sua mensagem deram à comunidade de discípulos aos quais foi confiada a tarefa de levar adiante a missão do Mestre: estender, a toda humanidade, os benefícios da salvação. A convivência com Jesus como também o testemunho de seu modo de ser e de agir predispunham os corações dos discípulos para o aprofundamento da adesão a ele, explicitada no ato de fé. A profundidade do relacionamento com Jesus variava de discípulo para discípulo. Esta é a dinâmica própria da realidade humana. A figura do ‘discípulo amado’ evocava um tipo de relacionamento profundamente afetivo com o Senhor. Relacionamento de confiança, de entrega da própria vida nas mãos do Mestre, de comunhão de sentimentos, de transparência mútua. Não se tratava, porém, de uma escolha arbitrária de Jesus, privilegiando, indiscriminadamente, certas pessoas e marginalizando outras. Antes, foi este discípulo que se deixou amar por Jesus e soube corresponder ao amor que lhe fora oferecido. Todos os discípulos poderiam ter feito o mesmo. Ser discípulo amado, de certa forma, dependo do próprio discípulo, uma vez que o Mestre quer fazer morada no mais íntimo de cada um dos seus seguidores. Deixar-se amar por Jesus comportava deixar-se plasmar e transformar por ele. Por isso, muitos se recusaram! – Senhor Jesus, quero viver a experiência de ser amado por ti, a ponto de minha existência ser plasmada e transformada por tua presença em mim (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de dezembro de 2023

(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10,17-22) Santo Estevão - Oitava de Natal.

“Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados em como falar ou com o que dizer.

Então, naquele momento, vos será indicado o que deveis fazer” Mt 10,19.

“Em Mateus, Jesus escolhe dentre os discípulos doze apóstolos e os envia em missão, com recomendações como deviam proceder. A missão seria restrita ‘às ovelhas perdidas da casa de Israel’. Deviam fazer o que Jesus fazia: curar os enfermos, expulsar os demônios e proclamar a proximidade do Reino dos Céus. Na segunda parte (Mt 10,17-33) o discurso missionário se dirige aos missionários do futuro, quando deviam pregar o Evangelho a todos os povos. Jesus foi rejeitado em Nazaré, sua terra natal; sua mensagem não foi acolhida em Cafarnaum, Corozaim e Betsaida. Foi perseguido, condenado à morte pelo Sinédrio e executado pelos romanos. A sorte dos missionários não seria melhor do que o Mestre Jesus. A oitava bem-aventurança já incluía a perseguição futura dos discípulos: ‘Felizes sereis quando vos insultarem e perseguirem e, por minha causa, disserem todo tipo da calúnia contra vós’. De fato, os apóstolos foram presos, interrogados pelo tribunal judaico, açoitados e ameaçados de morte. Mesmo assim, ‘cheios do Espírito Santo’, continuaram corajosamente a testemunhar sua fé em Cristo e anunciar o Evangelho (At 4,1-22; 5,27.40). proibidos de falar do nome de Jesus, Pedro e os apóstolos responderam: ‘É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens’. E continuaram a anunciar Jesus. Impulsionados pela força do Espírito prometido por Jesus aos discípulos, tornaram-se suas testemunhas na ‘Judeia e Samaria, até os confins da terra’. O testemunho, ‘martyria’ em grego, não se resumia no falar da mensagem e da pessoa de Jesus. Exigia não poucas vezes a própria vida, como aconteceu com o primeiro mártir, Estevão, e os apóstolos Tiago, Pedro e Paulo. – Senhor Jesus, ao anunciar o Reino de Deus, sofreste perseguição, ameaças de morte e o martírio da cruz. Muitos cristãos nos dias de hoje sofrem ameaças de morte, como tuas testemunhas. Fortalece teus servos para que continuem dando o testemunho de sua fé. Amém (Ludovico Garmus – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Missa de Natal – Missa do Dia

(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-18)*                     

1. Estamos ainda em pleno dia. Dia do Natal. A liturgia do dia expressa menos que da noite: a misteriosa transparência do divino na condição do menino de Belém; mas proclama abertamente a sua glória. Se, na missa da noite e da aurora, o acento cai na humildade do Messias, na Missa do Dia é realçada sua eterna grandeza.

2. Em síntese: Jesus se despojou assumindo nossa condição humana, para que nós participássemos da sua glória de Filho de Deus.

3. A 1ª leitura proclama com alegria a Boa-nova da salvação universal ao comentar sobre a beleza dos pés daquele que anuncia e prega a paz, o bem e a salvação. Aquilo que os dirigentes de Israel não fizeram, Deus fará pelo seu povo, pois não o abandona. Por isso a Ele se entoa um canto novo, reza o salmista.

4. A palavra do profeta foi uma palavra provisória, nos lembra o autor da 2ª leitura, mas nesses últimos tempos Deus nos falou pelo seu Filho, a Palavra definitiva de Deus, no qual se plenificam todas as manifestações de Deus.

5. E numa expressão maior desse mistério de salvação, o evangelista João anuncia que a Palavra de Deus se tornou existência humana (‘carne’) e, por isso, luz para todos os que a acolheram. Jesus é autocomunicação, a ‘Palavra’ de Deus para nós, desde a criação, e mesmo antes!

6. Deus vem a nós, na existência humana mortal, morada carnal da glória de Deus no meio de nós. João e o autor da carta aos Hebreus querem nos dizer que o que Jesus diz e faz, Deus é quem diz e faz. Jesus assume a nossa humanidade de modo pleno, por isso devemos, com Cristo, viver nossa existência humana assim como Deus mesmo a viveria.

7. A manifestação de Deus em Jesus, superou de longe aquilo que divisou o profeta Isaías. A mensagem, a Palavra de Deus, tornou-se carne, existência humana. A Palavra de Deus veio mostrar aquilo que Deus sempre nos quis dizer: “Eu vos amo”.

8. O próprio João nos lembra que “Deus é Amor”. E foi na cruz que esse amor se expressou de um modo particular: mais humano, frágil e mortal. A festa da Encarnação não é só Natal, mas também Sexta-feira Santa. O presépio, a manjedoura, é da mesma madeira da cruz.

9. Tudo o que Jesus nos manifesta é Palavra de Deus falada a nós, palavra de amor eterno. E, à medida que nós formos novos Cristos, também nossa ‘carne’, nossa vida e história será uma Palavra de Deus para nossos irmãos e irmãs, e mostrará ao mundo o verdadeiro rosto de Deus: um rosto de amor. E seremos também nós um com Ele.

* Essa reflexão tem por base o livro “Celebrar o Dia do Senhor” (Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Missa de Natal – Noite –

 

(Is 9,1-6; Sl 95[96]; Tt 2,11-14; Lc 2,1-14) *

1. Ao celebramos o nascimento de Jesus, filho de Deus, uma primeira verdade nos é recordada. Deus não é perene solidão, mas um círculo de amor no recíproco dar-se e um dar-se sem cessar. Ele é Pai, Filho e Espírito Santo. Em Jesus Cristo, o próprio Deus se fez homem.

2. Deus é tão grande que se pode fazer pequeno. Deus é tão poderoso que se pode fazer inerme e vir ter conosco como um menino indefeso, para que o possamos amar. Deus é tão bom que renuncia ao seu esplendor divino e desce ao estábulo para que o possamos encontrar e, assim, a sua bondade chegue também a nós, se nos comunique e continue a agir por nosso intermédio.

3. O profeta Isaías nos diz que para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplendeceu. A palavra ‘luz’ permeia toda a liturgia desta Missa. Paulo nos diz que a graça de Deus se manifestou. Manifestação, epifania, é a irrupção da luz divina no mundo cheio de escuridão e problemas insolúveis.

4. Por fim, o Evangelho narra-nos que apareceu a Glória de Deus aos pastores e os envolveu em luz. Deus é luz. A luz é fonte de vida. Mas a luz significa sobretudo conhecimento, significa verdade em contraposição com a escuridão da mentira e da ignorância.

5. Além disso, enquanto gera calor, a luz significa também amor. Onde há amor, levanta-se uma luz no mundo; onde há ódio, o mundo permanece na escuridão. É verdade, no estábulo de Belém, apareceu a grande luz que o mundo espera. A luz de Belém nunca mais se apagou.

6. Ao longo dos séculos, envolveu homens e mulheres, ‘cercou-os de luz’, onde despontou a fé naquele Menino, aí desabrochou também a caridade - a bondade para com todos, a carinhosa atenção pelos débeis e doentes, a graça do perdão.

7. Nesse rasto de luz, desde Paulo e Agostinho até São Francisco e são Domingos, desde Francisco Xavier e Teresa de Ávila até Madre Teresa de Calcutá e Ir. Dulce – vemos esta corrente de bondade, este caminho de luz que se inflama, sempre de novo, no Mistério de Belém, naquele Deus que se fez Menino. Contra a violência deste mundo, Deus opõe, naquele Menino, a sua bondade e chama-nos a seguir o Menino.

8. Deixemos que se comunique a nós esse esplendor interior, que acenda no nosso coração a chama da bondade de Deus; todos nós levemos, com o nosso amor, a luz ao mundo! Não deixemos que esta chama luminosa se apague por causa das correntes frias do nosso tempo.

9. A outra palavra-mestra da liturgia desta noite santa é ‘paz’. Isaias chamava a esse Menino de ‘Príncipe da Paz’. Aos pastores se anuncia a paz. E aos homens por ele amados. Os pastores o são em sua simplicidade e abertura a Deus. Eles se colocam a caminho para levarem a Sua paz.

10. Deus ama a todos, porque todos são criaturas suas. Mas, algumas pessoas têm a sua alma fechada; o seu amor não encontra qualquer acesso a eles. Pensam que não têm necessidade de Deus; não O querem. Outros, que moralmente talvez sejam igualmente miseráveis e pecadores, pelo menos sofrem com isso. Estes esperam Deus. No seu íntimo, aberto à expectativa, a luz de Deus pode entrar, e com ela a sua paz.

11. Peçamos-lhe para fazer com que não encontre fechado o nosso coração. Esforcemo-nos por nos tornarmos capazes de ser portadores ativos da sua paz – precisamente no nosso tempo.

12. É na celebração Eucarística que nós cristãos buscamos essa paz de Cristo. Assim, estende-se uma rede de paz sobre o mundo inteiro. Quando celebramos a Eucaristia, encontramo-nos em Belém, na ‘Casa do Pão’. Cristo dá-se a nós, e assim nos dá a sua paz. Levando-a em nosso íntimo, comuniquemos aos outros.

13. Por isso, concluímos com esta súplica: Senhor, realizai a vossa Promessa! Fazei que, onde houver discórdia, nasça a paz! Fazei que desponte o amor, onde reinar o ódio! Fazei que suja a luz, onde dominarem as trevas! Fazei que nos tornemos portadores da vossa paz! Amém. 

* Essa reflexão tem por base texto de Bento XVI.

Pe. João Bosco Vieira Leite

IV Domingo do Advento – Ano B

 

(2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88[89]; Rm 16,25-27; Lc 1,26-28) *

1. A liturgia do Advento nos apresenta uma progressão. A 1ª semana é dominada pela figura de Isaías, o profeta que anunciou a vinda do Messias desde longe; na 2ª e 3ª semana, é João Batista que se destaca, como aquele que aponta o Messias entre nós. Na 4ª semana, a figura central e guia espiritual é Maria, a Mãe que dá à luz o Messias.

2. Nosso Evangelho é um texto bastante conhecido, mas vamos nos reter nas palavras finais de Maria ao anjo: ‘Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra’. Eis aqui o seu ato de fé. Crê em Deus, O acolhe em sua vida e a Ele se confia. Como uma folha em branco onde Deus escreverá o que quiser.

3. Pode nos passar pela mente que a fé de Maria foi fácil. Afinal de contas, tornar-se mãe do Messias era o desejo das jovens de seu tempo. Mas as coisas, bem o sabemos, não foram assim tão simples. A quem ela poderia explicar o que se dava em sua vida? Quem lhe dará crédito ao afirmar que a criança em seu ventre é obra do “Espírito Santo?” Sua experiência é única na história.

4. O filósofo Kierkegaard dizia que crer é como enveredar por uma estrada onde todas as placas sinalizadoras dizem: volte, volte! É como encontrar-se sozinho em mar aberto com toda a sua dimensão horizontal e vertical; é sentir-se completamente lançado nos braços do Absoluto.

5. Assim poderíamos descrever o estado em que se encontrava Maria: em total solidão, sem ter com quem falar, a não ser o próprio Deus. Assim ela experimenta o conhecido ‘risco da fé’. Em desertos a serem atravessados.

6. Temos em nossa narrativa a gravidez fora da coabitação com José com todas as implicações legais do seu tempo; e para isso sua confiança em Deus teve que ser plena, teve que dizer ‘Amém’, palavra que herdamos do judaísmo, e que nós repetimos constantemente.

7. Uma das poucas palavras hebraicas que não ousamos traduzir. Nesta pequena palavra se diz muitas coisas: “Se assim te agrada, Senhor, assim também acolho eu”. É como um ‘sim’ total e alegre que a esposa diz ao esposo no dia do casamento.

8. Maria não dá o seu consentimento com a mesma resignação de quem diz: ‘bem, se não pode ser de outro jeito, que se faça a vontade de Deus’. Seu ‘sim’ é melhor compreendido quando ela canta o seu Magnificat, onde sua alma engradece a Deus e seu espírito exulta de alegria no Senhor. A fé a faz feliz e crê de maneira livre e inteligente.

9. É propriamente essa a dificuldade que encontramos em nosso tempo e que mantém há muitos na incredulidade. Dizer ‘amém’ a alguém, até mesmo a Deus, parece lesar a nossa liberdade e independência. Discordar, não consentir, parece a palavra de ordem em todos os ambientes: político, cultural, social, familiar.

10. E que alternativa temos? O pensamento moderno, partindo dessa premissa, chega, por sua conta à conclusão que na vida é preciso dizer ‘amém’. E se não diz a Deus, dirá a qualquer outro: ao fato, ao destino. O ser humano não tem outro meio de tornar autêntica a própria existência se não aceita o seu destino, que é fixado para sempre na história e na sociedade a que pertence.

11. Mas, deixando de lado aqueles que não creem e respeitando sua liberdade de consciência, a fé é o segredo para vivenciarmos um verdadeiro Natal. Imitamos a Maria na sua concepção espiritual. Crer é ‘conceber’, é dar carne à palavra.

12. Concebe a Cristo a pessoa que toma a decisão de mudar de conduta. Dá à luz a Cristo a pessoa que uma vez tendo tomado tal decisão, a traduz em atos. Cada um sabe o que deve gestar em si e trazer ao mundo como expressão concreta de vida.

13. Concluindo: talvez seja necessário darmos um belo ‘amém’, um ‘sim’ à situação em que neste momento nos encontramos, para sermos mais próximos à Maria e dizermos junto com ela: faça-se em mim segundo a tua palavra. 

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de dezembro de 2023

(Ml 3,1-4.23-24; Sl 24[25]; Lc 1,57-66) 3ª Semana do Advento.

“E todos os que ouviam a notícia ficavam pensando: ‘O que virá a ser este menino?’

De fato, a mão do Senhor estava com ele” Lc 1,66.

“Todos os fatos relacionados com o nascimento de Jesus aconteceram sob a ação de Deus. Cada pormenor manifestava a misericórdia divina e o carinho com que a vinda do Messias estava sendo preparada. O nascimento de João Batista foi visivelmente conduzido pelo Pai. Quando o menino foi dado à luz, os vizinhos e parentes reconheceram, no fato, uma demonstração do amor de Deus para com os pais dele – Isabel e Zacarias –, bem como para todo o povo. Quando se perguntavam o que seria deste menino, já estavam intuindo a grandeza da missão que o esperava. O sinal da benevolência divina manifestou-se, também, na recuperação da fala de Zacarias, assim que ordenara dar ao filho o nome de João, embora a contragosto da parentela. De acordo com o seu nome, o menino seria um sinal permanente de que ‘Deus usa de misericórdia e é favorável’. Sendo assim, seria portador de esperança e de consolação, transmitindo a certeza de que haveriam de se cumprir as antigas promessas divinas de salvação. Da boca de Zacarias saiu, também, um hino de louvor a Deus. Mais que ninguém, o pai de João Batista fora testemunha da presença providente de Deus na vida do seu povo. Seu louvor tinha fundamento. A salvação do Senhor já começara a se manifestar. – Senhor Jesus, faze-me reconhecer tua vinda, como fruto da benevolência do Pai, sempre providente em relação a humanidade” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de dezembro de 2023

(1Sm 1,24-28; Sl 1Sm 2; Lc 1,46-56) 3ª Semana do Advento.

“Maria disse: ‘A minha alma engrandece o Senhor” Lc 1,46.

“Ao ‘abençoada és tu’, Maria responde com um cântico de louvor, que Lucas formula de tal maneira que pode se tornar também o nosso cântico. No Magnificat, Maria interpreta o acontecimento que ela viveu na Anunciação, e que há de se completar no Nascimento de Jesus. Nele, Maria é a representante de Israel, mas também a porta-voz de todos os pobres e injustiçados, que pelo nascimento de Jesus terão garantidos os seus direitos. No nascimento de Jesus, Deus derruba os poderosos do trono, e os pobres são enaltecidos. A teologia da libertação descobriu novamente, hoje em dia, o Magnificat como o cântico da esperança dos pobres. Teólogas feministas veem nele o cântico de libertação das mulheres. Ambos esses movimentos retomam anseios importantes do evangelista, pois Lucas é o advogado tanto dos pobres como das mulheres. Cada um pode pessoalmente cantar esse cântico maravilhoso, louvando a Deus, porque também sobre a sua insignificância Deus pôs os olhos, e lhe fez grandes coisas. Nesse cântico expressa-se que Deus inverte todos os nossos critérios, e enaltece exatamente o que em nós é humilde, e sacia o que em nós é faminto” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 21 de dezembro de 2023

(Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 3ª Semana do advento.

“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” Lc 1,45.

“Elisabete elogia Maria por ser ‘aquela que creu, que haveria cumprimento para aquilo que lhe foi prometido pelo Senhor’ (Bovon, p. 80). É a única vez no seu Evangelho que Lucas usa a palavra ‘teleiosis’, ‘cumprimento’, ‘plena realização’. O nascimento de Jesus é o cumprimento de todas as promessas feitas por Deus no Antigo Testamento. Nisso resume-se tudo o que Deus já prometeu aos homens. Em Jesus, Deus mostra o caminho da vida, que o liberta do cativeiro e cura todas as suas feridas. Não se trata de relacionar apenas algumas promessas com o nascimento de Jesus, mas de ver em Jesus o cumprimento de toda a Sagrada Escritura. Elisabete vê em Maria aquela que crê, modelo também para a nossa fé. Deus há de cumprir também em nós aquilo que nos prometeu. Há de fazer também em nós grandes coisas, se confiarmos, como Maria, nas suas palavras” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de dezembro de 2023

(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Lc 1,26-38) 3ª Semana do Advento.

“Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho

e lhe porá o nome de Emanuel” Is 7,14.

“O rei Acaz é um jovem que deve enfrentar uma coligação de inimigos que o querem destronar. É um descendente de Davi, ao qual Natã, em nome de Deus, prometera um reino eterno (2Sm 7,12-16). Não deveria por isso temer, mas a sua fé em Deus era fraca, e prefere confiar em cálculos humanos e opções políticas arriscadas para a sobrevivência do seu reino, e sobretudo, para fé e pureza religiosa do seu povo. Tendo conhecido a sua decisão, Isaías intervém. As palavras que o profeta dirige a Acaz estão referidas na leitura. [Compreender a Palavra:] Isaías sabia muito bem que é difícil convencer a mudar de ideias quem decidiu tomar opções sem ter em conta o pensamento do Senhor. Todavia, para evitar consequências catastróficas ao seu povo, decidiu fazer uma nova tentativa e foi ter com Acaz, ao qual Deus tinha pedido que pedisse um sinal. O rei não estava disposto a voltar atrás, e por isso não estava interessado em pedir nada a Deus. Quer o aceitasse ou não, através do profeta de Deus deu-lhe na mesma um sinal: ‘A jovem concebeu e dará à luz um filho, e chamá-lo-á Emanuel’. Alguém pensou que Isaías estava a predizer, com sete séculos de antecedência, a concepção virginal de Maria, mas um sinal assim não teria nenhum sentido para Acaz. A ‘virgem’, de que fala Isaías, é provavelmente a esposa do rei. Esta jovem – assegura o profeta – terá um filho, cujo nome será ‘Emanuel’, que significa ‘Deus conosco’. O anúncio realizou-se: o filho de Acaz foi concebido, nasceu e tornou-se sinal da presença de Deus no meio do seu povo; foi a prova da fidelidade do Senhor às suas promessas. Foi chamado Ezequias, e também a ele se pôde com justiça aplicar o título de ‘Emanuel’, isto é, ‘Deus conosco’. Foi um bom rei, mas não o soberano excepcional que porventura o próprio Isaías esperava. Por isso, em Israel começou-se a esperar um outro rei, um filho de Davi que cumprisse plenamente a profecia, que fosse realmente o ‘Deus conosco’ (Mt 1,22-23)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de dezembro de 2023

(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25) 3ª Semana do Advento.

“Nos dias de Herodes, rei da Judeia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, do grupo de Abia.

Sua esposa era descendente de Aarão e chamava-se Isabel” Lc 1,5.

“A chegada do Messias Jesus, além de ter sido preparada ao longo da história de Israel, teve, também, uma preparação imediata. Uma série de fatos colaboraram para isto. Entre eles, o nascimento miraculoso de João Batista, a quem seria confiada a missão de ser o Precursor do Messias Jesus, para preparar-lhe o caminho. O anúncio do nascimento de João está calcado na história do nascimento de grandes personagens do Antigo Testamento. Aparece, a Zacarias, um mensageiro divino, encarregado de ajudá-lo a compreender o que lhe haveria de acontecer, por obra de Deus. Zacarias apresenta ao anjo empecilhos para a concretização do plano divino, como o da velhice e esterilidade de Isabel. Foi necessário um sinal para confirmar a veracidade das palavras do mensageiro divino. E este sinal consistia nisto: Zacarias ficaria mudo até que as palavras do anjo se realizassem. O nome que o velho sacerdote deveria dar a seu filho, seria já um prenúncio da chegada do Messias. João significa ‘o Senhor mostrou o seu favor’. Sendo assim, o Messias, cujos caminhos seriam preparados por seu Precursor, estava destinado a ser uma manifestação da misericórdia de Deus pela humanidade, que não havia sido esquecida, nem tinha sido relegada ao desprezo, por causa do pecado. Competia a João levantar esta bandeira. – Senhor Jesus, que eu te reconheça sempre como a manifestação da misericórdia divina pela humanidade, como o nome de João indica” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de dezembro de 2023

(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 3ª Semana do Advento.

“José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo” Mt 1,19.

“Para entender corretamente este evangelho é necessário saber que a celebração do matrimônio entre os judeus constava de dois atos: os esponsais ou promessa solene de casamento, que supunham um compromisso tão real que ao prometido se chamava já de ‘marido’ e não podia ficar livre senão pelo repúdio; e as bodas propriamente ditas, que eram a cerimônia completar ao contrato matrimonial. A justiça de José consiste, sem dúvida, em não desejar encobrir com seu nome uma criança cuja filiação ignora; mas também porque, convencido da virtude de Maria, nega-se a entregar ao rigoroso procedimento da lei esse mistério que não compreende. São José desconhecia o mistério da Encarnação. Sua perturbação é explicável, então, diante do fato que tem à frente dos seus olhos, por uma parte, e por estar convencido da santidade de Maria, por outra, encontra-se diante de um mistério que não consegue compreender e, por isso, pensa em deixar Maria. Como na vida de São José, às vezes também se nos apresentam situações difíceis e obscuras. Dentro dos planos de Deus encontram-se com frequência as provações e as tribulações que servem para purificar-nos e aproximar-nos mais de Deus. Daí que devemos receber as provações e tribulações como vindas das mãos de Deus e, em consequência, como meios para nossa própria santificação. Deus nunca nos enviaria a dor e a provação se não pudessem redundarem nosso benefício espiritual” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

3º Domingo do Advento – Ano B

(Is 61,1-2.10-11; Sl Lc 1; 1Ts 5,16-24; Jo 1,6-8.19-28) *

1. Voltamos à figura de João Batista, a quem Jesus define como “o maior dos profetas”. Basicamente é a mesma apresentação do domingo anterior, mas quem nos escreve é o evangelista João, com quem nos encontraremos diversas vezes nesse ano de Marcos.

2. Assim, podemos nos voltar sobre um outro tema presente nas leituras e que dá nome a esse domingo: ‘a alegria’, marcando assim, essa passagem de um caráter mais penitencial da 1ª parte do advento para a 2ª, dominada pela expectativa da salvação já próxima.

3. É Paulo quem dá o tom da liturgia, nesse seu convite a alegrar-se. O tema da alegria está presente também nas palavras de Isaias que exulta de alegria no Senhor, no salmo que toma o Magnificat de Maria para intercalar as leituras.

4. Ser feliz talvez seja o desejo humano mais universal. A palavra Evangelho significa ‘alegre’ ou ‘boa notícia’. Mas o discurso da Bíblia sobre a alegria é um discurso realístico, não idealístico. Nesse mesmo evangelho de João, Jesus a compara a uma mulher em trabalho de parto (16,20-22).

5. De um modo geral, a gravidez não é um período fácil para a mulher: desconfortos, limitações: não pode fazer, comer, vestir tudo o que gostaria. Contudo, quando se trata de uma gravidez desejada, vivida em clima sereno, não é tempo de tristeza, mas de alegria.

6. O porque é simples: se olha para o futuro nesse desejo contínuo de ter em seus braços a própria criatura. Muitas mulheres testemunham que não há nenhuma outra experiência humana a que se possa comparar com a felicidade que se experimenta ao se tornar mãe.

7. Tudo isso quer nos lembrar algo bem preciso: as alegrias duradouras amadurecem sempre no sacrifício. Dizemos que não há rosa sem espinho. Prazer e dor se seguem um ao outro com a mesma regularidade das ondas que se desmancham na areia da praia.  

8. Nós sempre buscamos separar esses dois ‘irmãos siameses’, de isolar o prazer da dor. Mas não conseguimos, porque é sempre o prazer desordenado que se transforma em amargor. Um viciado bem o sabe. Não podendo separar prazer e dor, é preciso escolher: ou um prazer passageiro que leva a uma dor duradoura, ou uma dor passageira que leva a um prazer duradouro.

9. Isto não vale apenas para um prazer espiritual, mas para toda alegria humana honesta: aquela de um nascimento, de uma família unida, de uma festa, de um trabalho levado de maneira feliz até fim, a alegria de um amor abençoado, de uma amizade, de uma boa colheita para o agricultor, da criação artística para o artista, de uma vitória para o atleta.

10. Todas essas alegrias requerem também sacrifício, renúncias, fidelidade ao dever, constância, esforço; mas o resultado é bem diferente do prazer fácil que termina em si mesmo. No 1º caso a felicidade de um é também a felicidade dos outros, é uma alegria comum, partilhada; no 2º quase sempre a felicidade de um é paga pela infelicidade de um outro, ou de vários. A alegria é como água: pode ser límpida ou turva.

11. Para quem crê, a felicidade será sempre algo a esperar? Estará só para o céu? Não necessariamente. Há uma alegria secreta e profunda que consiste na própria espera. Talvez seja esta, no mundo, a forma mais pura da alegria. A alegria que está no esperar.

12. Uma das mentiras com que o maligno seduz as pessoas, é fazer crer que Deus é inimigo do prazer, e no entanto, o prazer é uma invenção divina. Não precisamos ter medo de admitir que experimentamos prazer ou alegria em determinado momento: seria um bem para os que estão ao nosso redor. 

13. Não derramemos sobre os outros sempre e só as nossas tristezas, nossos males e preocupações. Para as nossas crianças e jovens o melhor presente, é respirar o ar da alegria em seus lares. Sem ela, os presentes se tornam inúteis ou mesmo danosos...

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite