Sexta, 01 de julho de 2022

(Am 8,4-6.9-12; Sl 118[119]; Mt 9,9-13) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’.

De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” Mt 9,13.

“A censura dos fariseus por Jesus se ter sentado à mesa com os cobradores de impostos e os pecadores serviu de ocasião para explicar um aspecto fundamental de sua ação missionária: no trato com as pessoas, buscava ser o máximo misericordioso, não se deixando levar por preconceitos, nem se desesperando quanto à possibilidade de conversão de seus interlocutores. Exatamente o contrário da atitude dos fariseus! Como a missão de Jesus consistia em colocar-se a serviço dos pecadores, nada mais conveniente do que ser misericordioso para com eles. Sendo o Messias, podia dar-se ao luxo de assumir uma postura de juiz e condená-los desapiedadamente. Ou então, mantendo-se à distância, denunciar-lhe o pecado e tentar arrancá-los do mundo pecaminoso em que viviam. A opção de Jesus vai numa outra direção. Coloca-se no meio daqueles aos quais veio anunciar a salvação, exercendo sua missão mediante a partilha de vida. Este é o canal pelo qual o amor de Deus atinge aqueles que o preconceito religioso relegou à condição de malditos e condenados. Jesus salva pela misericórdia! Sua ação pauta-se por uma lógica irrefutável: coloca-se entre os pecadores, por ter vindo para eles. Assim como os médicos vão em busca de pessoas doentes, Jesus vai ao encalço de quem, de fato, necessita ser salvo. Portanto, longe de estar agindo de maneira censurável, seu gesto é cheio de sentido divino. – Espírito de acolhimento, torna-me sensível e misericordioso, sobretudo, para aqueles aos quais a salvação deve ser anunciada (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 30 de junho de 2022

(Am 7,10-17; Sl 18[19]; Mt 9,1-8) 

13ª Semana do Tempo Comum.    

“Vendo isso, a multidão ficou com medo e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens” Mt 9,8.

“O Povo, a multidão, estavam admirados por tudo que viam e ouviam e tudo movia-os a dar graças a Deus, a glorificar a Deus; tudo que viam e ouviam leva-os para Deus. O testemunho de nossa vida deve levar todos para Deus; se nossa vida deve ser um sinal, aqueles que nos circundam devem ver esse sinal, a fim de que o sinal de nossa vida os leve ao conhecimento e à vivência da realidade assinalada: o futuro Reino de Deus, que haverá de ser reino de justiça, de verdade, de amor e de paz. As pessoas que viam os sinais de Jesus, que perdoava os pecados, argumentavam: ‘Só Deus pode perdoar os pecados; Jesus Cristo perdoa-os; logo Jesus Cristo é Deus’. Quando se aproximam de nós, deverão raciocinar de maneira semelhante: vemo-los que vivem sem pecado; isto somente se pode conseguir, vivendo em Deus; logo, se nós quisermos purificar nossa vida, devemos aproximar-nos de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 29 de junho de 2022

(Am 5,14-15.21-24; Sl 49[50]; Mt 8,28-34) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Quando Jesus chegou à outra margem do lago, na região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois homens possuídos pelo demônio, saindo dos túmulos. Eram tão violentos, que ninguém podia passar por aquele caminho”

Mt 8,28.

“O incidente com a vara de porcos, em território pagão, esconde uma temática teológica, retrabalhada pelo evangelista a partir de um motivo folclorístico, com traços de comicidade: o Filho de Deus venceu o mal, libertando a humanidade do poder demoníaco. Os espíritos malignos, tendo-se apoderado dos dois gadarenos, tornaram-se refratários a Jesus, levando-os a rejeitar sua presença. Insociáveis e violentos, esses homens viviam no mundo da morte, pois moravam nos sepulcros, seu lugar de habitação, tendo sido reduzidos a um estado de total desumanização. A presença de Jesus reverteu este quadro. Era impossível que ele ficasse impassível diante de uma situação tão deplorável! Sua atitude imediata foi libertar os gadarenos, ordenando aos demônios que voltassem para o mundo da impureza, simbolizada pelos porcos presentes nas imediações. Foi deles a iniciativa de pedir para serem mandados para lá. Afinal, os homens tinham sido recuperados para a vida, libertados do mal. Os habitantes de Gadara não foram capazes de reconhecer de Jesus. Um misto de medo, confusão e ressentimento pela perda dos porcos apoderou-se deles. Por isso, pediram que ele se retirasse de seu território. Em todo caso, doravante os dois homens miraculados seriam um símbolo vivo do poder libertador do Messias Jesus. – Espírito que liberta do mal, purifica meu coração de tudo quanto me desumaniza e me impede de viver em comunhão com meus semelhantes” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de junho de 2022

(Am 3,1-8; 4,11-12; Sl 05; Mt 8,23-27) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Os discípulos aproximaram-se e o acordaram, dizendo: ‘Senhor, salva-nos, pois estamos perecendo!’” Mt 8,25.

“Esta cena não deixa de ter um certo encanto: Jesus dormindo sobre o travesseiro e isto apesar do fragor da tempestade e da fúria dos ventos. Isso mostra-nos Jesus, como um de nós, cansado e extremamente fatigado e extenuado, as forças físicas esgotadas pelo trabalho prolongado. Por isso, esta passagem do evangelho é para nós de certo modo simpática: mostra-nos Jesus com todas as limitações da natureza humana, ‘passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado’ (Hebreus 4,15). Ele também precisa restaurar suas forças pelo sono. Esgotam-se nossas forças, não só físicas, mas também psíquicas e espirituais; sentimo-nos fracos no corpo e no espírito; experimentamos a debilidade humana e estamos a ponto de perecer na tentação. Por isso, como os apóstolos, surge com tanta frequência em nosso espírito aquele chamado angustioso: ‘Senhor, salva-nos, porque estamos em perigo!’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de junho de 2022

(Am 2,6-10.13-16; Sl 49[50]; Mt 8,18-22) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Então um mestre da Lei aproximou-se e disse: ‘Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás’” Mt 8,19

“O seguimento de Jesus tem seus pré-requisitos. Além da disposição de tornar-se discípulo, é preciso saber o que o seguimento exige de cada categoria de pessoas. O Evangelho refere-se ao caso de um escriba e de um discípulo. São dois exemplos ilustrativos do que se passa com quem se predispõe a seguir Jesus. O mestre da Lei judaica é advertido para não tomar uma decisão apressada e superficial. Talvez confundindo Jesus com os rabinos da época, não tinha consciência de um dado importante: para seguir o Mestre Jesus era preciso estar pronto para abraçar a pobreza e o despojamento. Seria ilusório escolher segui-lo, pensando em poder levar uma vida de bem-estar e segurança. As exigências da pobreza deveriam ser previamente conhecidas e aceitas. Quanto ao discípulo, parece não ter-se dado conta das reais exigências de sua opção. Por isso, pede ao Mestre para interromper sua missão e voltar para casa, a fim de cumprir seu dever de filho, e dar uma sepultura digna a seu velho pai. O pedido não é aprovado, pois, na família, deve haver quem se preocupe em fazer este gesto de misericórdia. Qualquer que seja a questão, Jesus pensa o discipulado como uma escolha coerente, total e radical, feita para toda a vida, e que se torna a opção fundamental do discípulo. Diante dela, tudo é relativizado, mesmo as coisas mais caras ao ser humano. – Espírito de afeição ao Reino, predispõe-me a ser discípulo de maneira radical e coerente, a ponto de relativizar tudo, mesmo aquilo que considero mais querido” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

13ª Semana do Tempo Comum – Ano C

(1Rs 19,16.19-21; Sl 15[16]; Gl 5,1.13-18; Lc 9,51-62)

1. Nessa leitura que estamos fazendo do Evangelho de Lucas aos domingos, chegamos em sua parte central, onde, em quase doze capítulos, ele nos fala dessa viagem que Jesus faz em direção a Jerusalém. Enquanto Marcos e Mateus resumem tudo em poucos versículos, para Lucas, a cidade é o cume, o ponto de chegada de todo o itinerário de Cristo.

2. Ele segue para Jerusalém com firmeza, pois lá se dará a sua ‘passagem’ para o Pai. Uma espécie de ascensão. Uma viagem ideal e real ao mesmo tempo. A história se conclui em Jerusalém e dela reiniciará com a missão dos apóstolos no anúncio do Evangelho, apenas para termos ciência da importância desse fato para o nosso autor.

3. Mas não esperemos de Lucas uma meticulosa precisão cronológica ou topográfica dessa viagem; é uma ‘geografia teológica’, marcada por vários acontecimentos, milagres, instruções aos discípulos, por exemplo. Ele vai construindo uma moldura que envolve uma parte consistente do ministério de Jesus.

4. Os versículos iniciais já indicam a realização de um misterioso projeto divino, fazendo referência a sua morte e sua exaltação à direita do Pai. Para isso ele toma uma firme decisão, de ir até o fim, vencendo todas as resistências externas e internas.

5. Jesus e os discípulos devem atravessar a Samaria, mas a inimizade entre samaritanos e judeus se faz sentir. Os discípulos pensam em reagir, mas Jesus, que veio para salvar, em sua humildade e tolerância se opõe à vingança e ao fanatismo. Isso revela que Jesus não é só não compreendido pelos samaritanos, mas também pelos discípulos.

6. Neste ponto se inserem três breves narrativas de candidatos ao seguimento do Mestre. Cenas rápidas, se limitam ao essencial, repostas concisas, quase brutais. Tudo isso para sublinhar a urgência da missão e as escolhas radicais que isto comporta, com relativos distanciamentos.

7. Nesse estranho ‘recrutamento’, Cristo não insiste, não ameniza, não ilude. Parece não encorajar. Não concede desconto. Apresenta seu ideal de um modo difícil, quase impossível. Sublinha o desconforto, insegurança e provisoriedade que caracteriza sua vida nômade que divide com seus discípulos.

8. Com relação ao sepultar os mortos, estaria Jesus falando das longas e complicadas celebrações praticadas pelos judeus? Ou seria uma reflexão do discípulo sobre onde inicia e onde termina o reino da morte, já que ele caminha para a morte para chegar à vida? Seria a questão de não protelar a decisão?

9. Jesus não pensa em colocar em discussão os deveres da piedade familiar, mas abrir o discípulo a um novo modo de julgar a vida e a morte. De certo modo é como se a nossa vida se organizasse em direção ao nosso morrer, e Jesus se preocupasse com a ressurreição.       

10. Ao terceiro, Jesus salienta a urgência da missão e a necessidade de ruptura imediata, com a total e definitiva decisão pelo reino. Assim, o que temos não são casos individuais, mas são exemplos que interessam e envolvem os leitores do evangelho.

11. Na nossa vida há momentos que nos impõem uma escolha decisiva, onde não nos é permitido hesitar ou mesmo meias medidas. É na maneira de viver a realidade familiar, profissional e social que o discípulo deverá demonstrar, guiado pelo Espírito, a expressão de sua preferência pelo seu Senhor. “A decisão é sua... a decisão é sua!”  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de junho de 2022

(Is 61,9-11; Sl 2; Lc 2,41-51) 

Imaculado Coração de Maria.

“Jesus respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa do meu Pai?’” Lc 2,49.

“[...] Maria começa a compreender por experiência pessoal que a sua separação do Filho não ´sinal de afastamento, mas indício de uma nova relação. Há, contudo, um aspecto válido para qualquer mãe (e pai) se o filho tem de saber acolher com respeito e devoção os pais e o seu amor, os pais têm de saber que o seu filho tem um destino que eles não podem predeterminar. Eles podem-no sonhar à sua imagem, mas no fim de contas, têm de o acolher como ele é, com seus dotes específicos e com a sua vocação. Saber aceitar é sinal de amor. Dominar ou considerar o filho (ou a mulher ou o marido) como propriedade privada é sinal, pelo contrário, de egoísmo e mesquinhez. ‘É preciso que ele cresça e eu diminua’: palavra de João Batista que são também as palavras de Maria e daqueles pais que compreendem a função e os limites da sua missão. Maria está agora diante de nós como aquela que caminha no mistério do Filho, passando de segredo em segredo, de surpresa em surpresa. Alguns escritores orientais pensam que a fé de Maria era imperfeita. Na realidade, por sua natureza, a fé, mesmo na plenitude, permanece sempre ‘fundamento das coisas que se esperam e prova daquelas que não se veem’ (Hb 12,1). Está, portanto, ligada à esperança e ao ‘não ver’, admite a dialética, introduz a pessoa na luz, mas também na obscuridade” (Gianfranco Ravasi – Os Rostos de Maria – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de junho de 2022

(Ez 34,11-16; Sl 22[23]; Rm 5,5-11; Lc 15,3-7) 

Sagrado Coração de Jesus.   

“Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto

e vai atrás daquela que se perdeu até encontrá-la?” Lc 15,4.

“A parábola da ovelha desgarrada evidencia, de maneira excelente, o que se passa no coração de Jesus: seu extremo amor pelos pecadores e marginalizados. O pretexto da parábola foi dado pela murmuração dos escribas e fariseus diante da liberdade com que Jesus convivia com os pecadores e gente de má fama. Parecia-lhes inconveniente que um rabi pudesse permitir-se tal comportamento. A prudência aconselhava distância e reserva em relação a este tipo de pessoa. Rejeitados por Deus, deviam sofrer também a rejeição de seus semelhantes. Este seria o preço do pecado! Sem se importar com tais preconceitos, Jesus seguia na direção contrária. E se sentia bem, exatamente quando se encontrava na companhia dos excluídos, pois por causa deles tinha sido enviado pelo Pai. Sua ação pautava-se por princípios diferentes daqueles de seus adversários. Ele bem sabia que ‘o Pai não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva’. E mais: ‘é maior motivo de alegria no céu a conversão de apenas um pecador, do que a vida piedosa de noventa e nove pessoas, tidas como justas, sem necessidade de conversão’. Sendo assim, a convivência com os pecadores corresponde a um dever de Jesus. Seu amor misericordioso deve ser manifestado a eles, de modo particular. E só quem se sabe carente do amor de Jesus, será capaz de conhecer a grandeza de seu coração. – Espírito de comiseração pelos pecadores, leva-me a buscar quem vive transviado pelo pecado e pelo egoísmo, e a manifestar-lhe a grandeza do amor do coração de Jesus” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 23 de junho de 2022

(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) 

São João Batista.                                   

“Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: ‘João é o seu nome’. E todos ficaram admirados” Lc 1,63.

“O nascimento de João Batista corresponde ao passo decisivo em direção ao cumprimento da promessa divina, de conceder ao mundo um Salvador. A importância da presença do Precursor, na história humana, é visível no conjunto dos fatos que circundam o seu nascimento. Seus pais eram idosos. Sua mãe, estéril, quando concebeu. A mudez inexplicável do pai, Zacarias, apontava para alguma experiência, extremamente forte, feita no Templo, relacionada com a gravidez de Isabel. As divergências em torno do nome a ser dado à criança foram fora do comum. Quiseram dar-lhe o nome de Zacarias, que significa ‘Deus se lembra’. O pai, porém, insistiu para que se chamasse João, que significa ‘Deus é propício’, conforme as instruções que tinha recebido. A decisão a respeito do nome do recém-nascido foi, para Zacarias, penhor de graças. Com isso pôde recobrar a fala e bendizer publicamente a Deus. Este conjunto de fatos explica o porque da perplexidade e do espanto de parentes e vizinhos, a respeito do futuro do menino. Podia-se notar como ‘a mão do Senhor estava com ele’, guiando-o desde a mais tenra idade. Se já agora estava acontecendo nisso, o que seria de seu futuro? Coisas grandiosas lhes estavam reservadas! Desde o início, as comunidades cristãs souberam reconhecer a importância de João. Apesar da provisoriedade de sua missão, ela foi relevante, por estar relacionada com o Messias Jesus. – Espírito providente, faze-me compreender que minha vida está nas mãos do Pai. Inspira-me a ser, João Batista, sempre fiel à vontade divina (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de junho de 2022

(2Rs 22,8-13; 23,1-3; Sl 118[119]; Mt 7,15-20) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Cuidado com os falsos profetas: eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes” Mt 7,15.

“O discípulo do Reino sabe compaginar, perfeitamente, palavra e ação. Sua vida decorre de sua pregação, a ponto de seu testemunho de vida ser o melhor atestado da veracidade de suas palavras. Caso contrário, atuaria na comunidade como um falso profeta. A falsidade, neste caso, poderia acontecer de duas formas. A primeira consistiria em desconectar vida e pregação. A outra se dá, quando alguém cultiva uma virtude aparente, sem consistência. É o que se chama hipocrisia. Por fora, dá mostra de ser virtuosos, quando, de fato, é um grande perverso. A comunidade cristã não está isenta de ver-se às voltas com pessoas deste tipo. Jesus alertou os discípulos e lhes indicou um critério para verificar a autenticidade das palavras do pregador cristão: observar se ele as pratica. De nada valem suas palavras bonitas, bem expressadas e convincentes, se não são vividas por quem as anuncia. Será preciso acautelar-se de tais pregadores, pois dizem, mas não fazem. Se, pelo contrário, a vida do pregador cristão corresponde à sua pregação, aí sim, será prudente dar-lhe ouvidos, pois ‘toda árvore boa dá bons frutos’. Com este critério, os discípulos estavam aptos para precaver-se dos lobos infiltrados na comunidade. – Espírito de sinceridade, faze com que minha vida seja sempre mais coerente com minha fé e minhas palavras (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de junho de 2022

(2Rs 19,9-11.14-21.31-36; Sl 47[48]; Mt 7,6.12-14) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Não deis aos cães as coisas santas nem atireis vossas pérolas aos porcos, para que eles não as pisem com os pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem” Mt 7,6.

“Os manjares sagrados, os alimentos que foram santificados, por terem sidos expostos no sacrifício do templo, não podem ser destinados a usos profanos, como, por exemplo, serem comidos pelos animais. Assim também as coisas de Deus são santas e santificadoras; para entende-las e para vive-las é necessário estar em disposição para recebe-las. A santa e preciosa doutrina do Senhor não deve ser proposta a pessoas incapazes de recebê-las bem e de vive-la em plenitude. Deus quer a salvação de todos e a todos estende a mão para a salvação e a santificação; mas esse gesto salvador de Deus pode tornar-se ineficaz, se nós não o aproveitamos, segurando-nos fortemente nessa mão redentora. Quantas inspirações do espírito de Deus, destinadas à nossa santificação, aproximando-nos mais de Deus, caem no vazio e não encontram em nós a resposta suficiente e, por conseguinte, o esforço do Espírito não alcança o que pretende! É possível que o próprio Espírito de Deus deixaria cair em nós maiores graças, se fôssemos capazes de compreendê-las, aceita-las e vivê-las!” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de junho de 2022

(2Rs 17,5-8.13-15.18; Sl 59[60]; Mt 7,1-5) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Não julgueis e não sereis julgados. Pois vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes;

e sereis medidos com a mesma medida com que medirdes” Mt 1-2.

“Com muita facilidade pessoas são julgadas e ‘medidas de alto a baixo’ sem piedade e restrição. De alguma forma o outro é o inimigo que precisa sair da frente, ser destruído, sair do páreo. Saber que os outros poderão usar os mesmos critérios para destruir é, no mínimo, bastante reflexivo. Julgar o outro implica seguramente se colocar no lugar de Deus e emitir pareceres condenatórios. Estão por aí pessoas legalistas que assim agem afirmando serem melhores e, óbvio, os outros piores. Este é um vício humano que deve ser corrigido à medida que se imagina estar do outro lado sendo julgado e medido com os mesmos critérios cruéis usados por mim anteriormente. Aos nossos olhos os erros dos outros parecem maiores. É, talvez, um cisco pequeno que, ampliado pela nossa imaginação, torna-se grande. Esta é a forma doentia que, por vezes, nos faz sentir melhores destruindo outros. Não conseguimos ver a trave que está em nossos próprios olhos. É bem caracterizado no dito popular: ‘o macaco senta-se sobre o próprio rabo quando critica os outros’. Atitude correta é corrigir-se primeiramente, deixar de ser hipócrita, tirar dos próprios olhos a trave que cega e, então, ajudar o irmão a tirar o cisco que o incomoda. Jesus conhece bem a raça humana e oferece boa reflexão para todos. O ser que prima em ver defeitos nos outros ignorando o seu próprio terá que se contentar quando, inversamente, estiver na berlinda. O critério é infalível: mediu e julgou o outro terá o julgamento recíproco e cruel. – Vem, dissipa em nós a treva que o pecado traz, e da perdição nos leva à mansão da paz. Grande Mestre, Bom consolador, teu poder em nós se mostre regenerador. Amém” (João Bosco Barbosa – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24)

1. Essa espécie de sondagem que Jesus faz aos seus discípulos é um dos textos que mais retornam em nossa liturgia. Brevemente voltaremos a ela na versão de Mateus. Primeiramente Jesus quer saber o que dizem as pessoas. Estas classificam Jesus do ponto de vista da fé hebraica, entre os grandes personagens (o Batista, Elias, os profetas).

2. Mas Jesus separa os discípulos da multidão e os interpela de modo pessoal. Isso era inevitável. Depois de tanto tempo com Ele. É uma pergunta da qual nunca poderemos fugir: ‘E tu, quem dizes que eu sou?’. Não podemos responder com as definições dos teólogos, com as belas expressões literárias, ou mesmo frases feitas.

3. Precisamos inventar uma resposta a partir da nossa experiência. E depois da resposta, Jesus nos fala do próprio caminho desconcertante que deve atravessar, sublinhando a rejeição de sua pessoa por parte das pessoas importantes de seu tempo.

4. Assim, a resposta ao ‘quem é Jesus? Significa aceitar uma mudança brusca na própria existência para aceitar que é preciso caminhar com ele ao longo de uma inquietante estrada onde a cruz projeta a sua sombra. Toda resposta compromete: “Se alguém me quer seguir, tome a sua cruz...”.

5. A figura do discípulo se caracterize por um esforço de conformidade às escolhas e atitudes ao estilo de vida do Mestre. Não há duas estradas. É uma única que Jesus percorre. Sabemos que a vida de Cristo deve prolongar-se na existência de todos aqueles que se empenham a viver as exigências do Evangelho.

6. Que significa ‘renunciar a si mesmo’? Literalmente o verbo quer dizer ‘não reconhecer’, ‘não ter nada a ver com outros’. Não reconhecer mais aquele que tem sido até então. Uma mudança radical da própria vida que toca o ser na sua profundidade. Estabelecer um outro centro da vida que não seja eu.

7. “Tomar a sua cruz....”. Uma das expressões mais citadas do Evangelho, usada, abusada até ser esvaziada de seu verdadeiro sentido. É como se a cruz fosse reduzida a um objeto ornamental, algo a se levar e de onde desapareceu o peso real.

8. Quem escutava Jesus, tinha à sua frente uma imagem de uma realidade cruel e constante. A crucifixão era um espetáculo que muitos haviam assistido e até participado. Isso deve ter feito os discípulos pensarem e repensarem o seguimento.

9. Dizer quem é Jesus significa precisar os próprios passos do discipulado e do seu reconhecimento enquanto cristão. Saber o que isso significa quanto à conduta e comportamentos práticos. Assim temos os elementos para avaliar quem é discípulo de fato, e quem faz de conta. Quem tem o nome de Jesus nos lábios e quem tem uma cruz nas costas.

10. O Evangelho nos informa sobre a estrada, para que não se erre de caminho. O discípulo é alguém condenado à liberdade de uma única estrada... Diga-me por onde tens andado e te direi quem tu és.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de junho de 2022

(2Cr 24,17-25; Sl 88[89]; Mt 6,24-34) 

11ª Semana do Tempo Comum.

“Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro.

Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” Mt 6,24.

“O batismo consagrou-nos ao Senhor. Portanto nós, sentindo em nossa consciência o chamado de Deus a viver essa consagração em plenitude de vida, voluntariamente abraçamos essa realidade: pertencer totalmente ao Senhor e para ele viver. Os principais inimigos dessa pertença total a Deus somos nós mesmos, com nosso egoísmo, nosso orgulho, nossa comodidade e falta de espírito de sacrifício, nossa sensualidade e nossa preguiça. Tudo isso é o que pretende compartilhar nossa vida com Deus e de tudo isso é que precisamos desapegar-nos, a fim de que a nossa vida seja de Deus, somente de Deus e toda de Deus. Porém o Senhor especifica, de modo particular, que não se pode servir a Deus e às riquezas, que em hebraico se diz ‘mamon’ e em aramaico se diz ‘mamona’; na literatura rabínica, as riquezas referem-se não somente ao dinheiro, mas a todos os bens materiais em geral. ‘Servir’ às riquezas é tornar-se escravo delas; servir aos bens e comodidades materiais é permitir que elas afastem do serviço de Deus, em lugar de servirem de instrumentos para a prática da justiça, da caridade e do desapego. Não se pode levar uma vida consagrada às comodidades, entregue ao apostolado e ao mesmo tempo fruída da preguiça e nas próprias preferências” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite       

Sexta, 17 de junho de 2022

(2Rs 11,1-4.9-18.20; Sl 131[132]; Mt 6,19-23) 

11ª Semana do Tempo Comum.

“Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem

e os ladrões assaltam e roubam” Mt 6,20.

“A parábola do tesouro imperecível está calcada numa ideia corrente no judaísmo, segundo a qual existe um tesouro celeste, não sujeito à corrupção. Imaginava-se que as boas obras acumulavam crédito, a ser resgatado no dia do juízo final. Por isso, no AT, o velho Tobias aconselhou seu filho a dar esmolas, segundo suas posses. Na abundância, deveria ser generoso com os pobres. Na carência, deveria partilhar do seu pouco. A motivação dada era a seguinte: ‘Assim acumulas em teu favor um precioso tesouro para o dia da necessidade’. O discípulo do Reino ajunta um tesouro no céu, mediante suas boas obras. No contexto do Sermão da Montanha, estas correspondem ao conjunto de atitudes e comportamentos compatíveis com os ensinamentos precedentes – Bem-aventuranças e Antíteses –, e com o que seguirá. O discípulo encontra, neste Sermão, as pautas de ação correspondentes à vontade do Pai, para as quais está reservada a devida recompensa. Deixar-se guiar por outros parâmetros é pura insensatez. Seria semelhante a ajuntar tesouros efêmeros, fáceis de serem destruídos e roubados. O mais sensato é optar pelos ensinamentos de Jesus e deixar-se guiar por eles, pois são portadores de recompensa e podem garantir a vida eterna, junto do Pai. Fora das palavras de Jesus, só existe frustração. – Espírito de discernimento, que eu não me engane, ajuntando tesouros na Terra, quando só os do Céu podem garantir a vida eterna, junto do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 16 de junho de 2022

(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17) 

Corpo e Sangue de Cristo.

“Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os,

partiu e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão” Lc 9,16.

“É grande o simbolismo da cena. Em pleno deserto. Deserto verdadeiro e deserto simbólico. De um lado, o símbolo da maldição, da infertilidade, da desgraça. De outro lado, da presença misteriosa de Deus, que se esconde no silêncio desabitado. Uma das utopias dos profetas eram a transformação do deserto em vergel (Is 41,18-20). Poderia dizer que uma das utopias de Deus é transformar a humanidade desgraçada e por si só improdutiva em sua moradia, Cristo tornou possível a utopia. Lá está o Filho de Deus no meio do deserto. Lá está o Filho de Deus no meio da multidão sem rumo, sem guia e faminta (Mc 6,34). O deserto sozinho não poderá transformar-se. A humanidade sozinha não encontrará o alimento e a força de que precisa para se levantar, tomar a decisão de ‘voltar para a Casa do Pai’ (Lc 15,18), pôr-se a caminho e chegar para o banquete festivo da glória. Lá está o Filho de Deus multiplicando o pão de cevada, símbolo do alimento que necessita o homem para ‘entrar em si’ (Lc 15,17), para caminhar da maldição para a graça, da morte para a vida: ‘Se alguém comer deste pão viverá para sempre. O pão, que dou, é minha carne para a vida do mundo!” (Jo 6,51). Pedreiro nenhum fabrica este pão. Ele ‘desce do céu’ (Jo 6,32-33), dado por Deus. Mas cabe a nós a missão de apanhá-lo e distribuí-lo. Sempre de novo Deus associa o homem ao cultivo do campo, à semeadura e à colheita. Porém, como um segundo momento, uma resposta à graça. A iniciativa sempre é de Deus. Mas ela se concretiza com nossa colaboração. Somos um deserto. Mas Deus já começou a multiplicar o pão. – Senhor, tenho fome. Tenho medo do deserto. Mas estou disponível como os apóstolos. Se me alimentas, tornar-me-ei tua mão que abençoa, multiplica e dá com abundância. Amém (Clarêncio Neotti – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).                        

  Pe. João Bosco Vieira Leite       

Quarta, 15 de junho de 2022

(2Rs 2,1.6-14; Sl 30[31]; Mt 6,1-6.16-18) 

11ª Semana do Tempo Comum.

“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles.

Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus” Mt 6,1.

“Urra! Bravo! Palmas para o artista que no palco da vida escolhe e finge ser vários personagens. A recompensa é certa e eternizada com títulos, estatuetas e prêmios. Ótimo para aqueles que buscam estes valores e se empenham pelo reconhecimento e aplausos. Ruim quando esta situação é notada na vida cristã. Ajudar os outros com bens próprios ou públicos buscando vantagens pessoais equivale ao serviço teatral e hipócrita sem valor para Deus. A oração exigente e ostensiva nada mostra senão petulância e vanglória pessoal. O jejum afligido e penalizado somente acentua a teatralização. As obras de justiça não visam agradar plateias e multidões. Quando sinceras e verdadeiras, agradam ao Pai celestial. A esmola. A oração e o jejum devem ser discretos. A mão esquerda não deverá saber o que a direita fez. Os segredos serão mantidos em secreto. O rosto lavado demonstrará paciência e resignação. A recompensa virá na hora certa. Na vida real, ser ator e personificar papéis diferenciados são atitudes que não agradam a Deus. Fingir ser cristão é inadequado e demostra incoerência. Bom mesmo é ser autêntico e verdadeiro e, sem nenhuma hipocrisia, evitar praticar obras aparentes. – Senhor! Sabemos que não desejas obras infladas pela hipocrisia e aplausos humanos. Perdoa-nos por isso e aumenta a nossa fé em Cristo Jesus. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite   

Terça, 14 de junho de 2022

(1Rs 21,17-29; Sl 50[51]; Mt 5,43-48) 

11ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” Mt 5,48.

“A exigência de amar os inimigos revolucionou a mentalidade dos discípulos do Reino. O AT recomendava agir com deferência em relação aos inimigos, mormente em certas circunstâncias especiais. A Lei obrigava a reconduzir o boi do inimigo, caso se tivesse desgarrado da manada. Ao inimigo faminto e sedento, dever-se-ia dar comida e bebida. Ninguém poderia alegrar-se com a aqueda do inimigo. No entanto, não encontramos aí um ensinamento preciso acerca do amar os inimigos. Jesus deu um passo considerável em relação à tradição judaica. O amor evangélico supera o nível de puro sentimento ou o da relação de amizade. Amar consiste em estabelecer uma comunhão profunda com o outro, tornar-se seu intercessor junto do Pai – ‘Orai por aqueles que vos perseguem e caluniam’ –, deseja-lhe, ao saudá-lo, um shalom pleno, ou seja, saúde, prosperidade e bem-estar, e implorar para ele as bênçãos divinas – ‘Bendizei aqueles que vos maldizem’. O amor recusa-se a nutrir desejos de vingança contra o inimigo. Antes, esforça-se continuamente para fazer-lhe o bem. A motivação do amor ao próximo funda-se no modo de agir do Pai. Quando se trata de fazer o bem às pessoas, ele não as divide entre más e boas, justas e injustas, de forma a conceber benefícios a umas e punição a outras. A perfeição do amor consiste na imitação do modo divino de agir. Por isso, o ideal do discípulo é ser perfeito como o Pai dos céus. – Espírito de amor perfeito, coloca-me no caminho da perfeição do Pai, que ama a humanidade, fazendo o bem a todos os seres humanos, sem distinção (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite       

Segunda, 13 de junho de 2022

(1Rs 21,1-16; Sl 05; Mt 5,38-42) 

11ª Semana do Tempo Comum.

“Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!” Mt 5,41.

“Contra a chamada ‘lei do talião’, do ‘olho por olho e dente por dente’, Jesus propõe a gratuidade como medida, não a vingança. Um critério novo, baseado em relações novas com tudo e com todos, essa é a novidade do Evangelho. Se alguém te bate na face, oferece a outra, se alguém te pede o manto, dá também a túnica.... Ser bom não é ser bobo, mas sim valorizar aquilo que realmente tem valor. Não pode ser o orgulho mesquinho ou o egoísmo a ditar as normas e os critérios em nossa vida. Nossa conduta não pode ser friamente pautada na lei de causa e efeito. Nosso coração precisa ser maior do que isso. Nossa fé precisa alargar esses horizontes para novos critérios surgirem, enraizados numa experiência nova de vida e de fé. Jesus rompe com o formalismo que exclui, que alimenta a vingança, travestindo-a de falsa justiça. Valorizar nossa vocação enquanto humanidade, que é a vocação ao cuidado, é forjar novos conceitos e referências. É sermos capazes de vencer até mesmo nosso orgulho e autorreferencialidade, rompendo a fronteira de costumes que não levam à caridade. A proposta do Evangelho escandaliza justamente porque vai de encontro a valores estabelecidos e que geram a competição, que estimulam a cada um pensar em si primeiro. A boa notícia é que nosso Deus ama antes de julgar, perdoa antes mesmo de o merecermos. – Nossa alma engrandece ao Senhor, e exulta nosso espírito em Deus, nosso Salvador! Porque Ele olha para a humildade de seus servos, e exalta a simplicidade e a boa vontade, a disposição e a caridade. Queremos, sim, glorifica-lo com nosso sim diário, fazendo nossa vida total entrega e doação. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite       

Santíssima Trindade – Ano C

(Pr 8,22-31; Sl 08; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15)

1. A Trindade é um mistério que ainda hoje ‘atormenta’ tanto aqueles que creem ou não. Uma espécie de quebra-cabeça. Deixamo-nos dominar por esse exercício de álgebra banal: 1=3. É provável que pela lógica dificilmente compreenderemos esse mistério, mas podemos abordá-lo do ponto vista existencial.

2. Essa proposta vem de um escritor francês, que tentarei aqui resumir. Ele nos diz que o ser humano autêntico, verdadeiro, completo, vive em três dimensões: vertical, horizontal e de profundidade. Isso podemos exprimir em três termos: Acima, ao redor, e dentro.

3. Na dimensão vertical o ser humano se vê em relação ao que está acima dele: por exemplo o pai, ou a mãe, seus superiores, ou mesmo alguma autoridade. Lhes reconhece os valores que são encarnados especialmente na imagem do pai: obediência, docilidade, dependência, ordem.

4. Se aceita viver nesta dimensão, ele se torna filho. Se a rejeita radicalmente, permanece adolescente, numa revolta estéril contra o pai, e se debate numa contestação confusa e anárquica.

5. A dimensão horizontal diz respeito ao que lhe está em torno: irmãos, irmãs, amigos, companheiros. Os valores essenciais são aqueles da fraternidade e igualdade.

6. A pessoa que vive esta dimensão horizontal se torna irmão. Se a rejeita, permanece um menino egoísta e caprichoso, fechado em seu pequeno mundo, preocupado exclusivamente do próprio bem-estar (mesmo espiritual), indiferente às exigências do mundo que o circunda, insensível aos problemas da justiça.

7. Por fim, tem a dimensão interior, pela qual o ser humano entra em relação, em sintonia com o que está ‘dentro’ dele, com o seu ser mais profundo. É o mundo da alma, do espírito, da intuição, da criatividade. A pessoa descobre os valores da interioridade, do silêncio, reflexão, liberdade, contemplação, poesia, chega às próprias fontes e raízes.

8. Torna-se um ser espiritual. E, notemos bem, o espiritual não é uma criatura que vive nas nuvens, desencarnada. É, simplesmente, alguém que vive em profundidade. A pessoa privada desta dimensão interior se condena à superficialidade, à vaidade, à agitação exterior. Permanece na superfície de tudo.

9. Portanto, um ser humano completo deve viver uma relação com o que está acima, ao redor e dentro dele. A confusão em nosso mundo vem justamente de que essas dimensões se colocam em oposição, ou concorrência, ao invés de conviverem, se harmonizarem e se completarem.

10. O que isso tem a ver com a Trindade? O crente não encontra em Deus um ser unidimensional, mas encontra, ao contrário, as suas três dimensões fundamentais. Pelo Evangelho conhecemos um Deus que está acima. Que é nosso Pai. Terno misericordioso, respeitoso da liberdade, disposto a perdoar.

11. Mas esse Deus, em Jesus, assumiu um rosto humano, fraterno, um Deus em meio a nós. Nosso irmão. E, por fim, um Deus que se encontra na dimensão interior, no profundo de nosso ser. Ele é ‘dentro’ de nós. Assim, Deus é nosso Pai, nosso Irmão, nosso Espírito.

12. Para entendermos Deus, nossa reflexão deve ir na perspectiva da comunhão. Nesta linha, um garoto expressava maravilhado: ‘Deus é uma família!’. O cristão que crê na Trindade, se esforça em viver tal mistério rejeitando o egoísmo, ou fechamento sobre si mesmo, para ser imagem de um Deus que é comunhão e relação.  

Pe. João Bosco Vieira Leite       

Sábado, 11 de junho de 2022

(At 11,21-26; 13,1-3; Sl 97[98]; Mt 10,7-13) 

10ª Semana do Tempo Comum.


“Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios.

De graça recebestes. De graça deveis dar!” Mt 10,8.

“Importante considerar que os discípulos tinham recebido o poder de fazer milagres já no início do capítulo, porém estas tarefas envolviam o cuidado, o serviço, a terapia exercida com os doentes e o consolo aos que perderam os familiares. Os leprosos, por serem considerados imundos, são mencionados com a devida atenção ao lado dos demônios, também imundos. Não temos nenhum registro de que algum discípulo tenha ressuscitado uma pessoa morta nesta turnê evangelística. O poder de fazê-lo foi estabelecido na posse de cada um, mas isto não aconteceu neste momento. Os quatro primeiros verbos foram ditos, originalmente, indicando uma ação imperativa. Eles haveriam de lidar no cuidado com os doentes, na valorização da vida, no perdão dos pecados. Isto incluiria os leprosos. Deveriam também ser constantes no aprendizado e ensinar da verdade que, por consequência natural, expulsaria a ignorância e todos os tipos de demônios. Os dois últimos verbos não estão interligados aos primeiros quatro. Isto significa que o receber e dar não faz referência direta aos dons miraculosos, mas sim a toda graça adquirida. Esta graça deveria ser distribuída sem ônus algum. Esta era a principal missão dos Doze. Há grupos extremados que concentram todos os seus esforços em curar, ressuscitar e expulsar demônios. Não se quer duvidar que Deus tenha poder para tal; no entanto, tais grupos esquecem o cuidado com os doentes, o amparo aos familiares enlutados e a educação profunda da palavra que, pela graça divina, influencia positivamente. – Dai-nos, Senhor, capacidade para cuidar e servir nossos doentes físicos, forças para levantar aqueles que estão espiritualmente mortos, lavar e limpar pecados e capacidade intelectual para abolir a ignorância. Amém” (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de junho de 2022

(1Rs 19,9.11-16; Sl 26[27]; Mt 5,27-32) 

10ª Semana do Tempo Comum.


“Ouviste o que foi dito: não cometerás adultério’” Mt 5,27.

“Na perspectiva de Jesus, a maneira como se encarava o 6º mandamento do Decálogo era insuficiente. Considerava-se o adultério como uma espécie de injustiça cometida contra uma propriedade alheia, um atentado ao bem mais precioso de um homem: sua mulher. O casamento era a uma transação de compra e venda, pela qual um homem adquiria uma mulher como esposa, a qual passava a fazer parte de seus bens. O respeito pela mulher do próximo, portanto, colocava-se no contexto de respeito ao conjunto de seus bens. O mandamento assim interpretado fundava-se na coisificação da mulher, cuja dignidade não era reconhecida. Colocada no rol dos bens do marido, ela se via privada da igualdade com o homem, o que não corresponde ao desejo do Criador. Assim, Jesus viu-se forçado a opor-se a isso, pois era contrário ao projeto do Pai. A exigência do Mestre recupera o respeito pela mulher, enquanto ser humano. O discípulo do Reino é exortado a olhar para a mulher do próximo com pureza de coração, sem se deixar envolver pelo desejo de possuí-la. Caso isto aconteça, infringirá o mandamento de Deus, a partir do momento em que consentir nos pensamentos libidinosos. Enquanto seus contemporâneos preocupavam-se com o ato exterior do adultério, Jesus preocupava-se com o ato interior, onde tem início o desrespeito ao mandamento divino. – Espírito que dignifica, reforça no coração de todos o sentimento de respeito ao ser humano, especialmente às mulheres, cuja dignidade é vilipendiada, sem escrúpulos (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 09 de junho de 2022

(1Rs 18,41-46; Sl 64[65]; Mt 5,20-26) 

10ª Semana do Tempo Comum.          


“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus,

vós não entrareis no reino dos céus” Mt 5,20.

“Uma justiça maior desejada por Jesus não está no rigorismo com que viviam a lei os mestres e os fariseus, mas na vivência da real intenção que está por trás da mesma. Jesus nos convida a um modo de viver que não para na letra: “Jesus se destaca por seu radicalismo, colocando o amor no centro de todos os mandamentos e interpretando-os de uma maneira que diz respeito à pessoa humana como um todo, sobretudo, porém, ao coração. Jesus não anuncia uma simples ética de propósitos, e sim uma ética que exige um novo comportamento, mas um comportamento que vem do coração que se abriu de par em par para Deus. Jesus começa pelos e sentimentos. Quem observa a lei apenas externamente. Guardando em seu coração sentimentos de ira e amargura, não pode ser justo nem estar repleto do amor de Deus. Por isso importa, em primeiro lugar, limpar o coração de ira e rancor. Mas isso só é possível quando o ser humano faz as pazes com seu adversário interior (5,21-26)” (Anselm Grun – Jesus, Mestre da Salvação – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 08 de junho de 2022

(1Rs 18,20-39; Sl 15[16]; Mt 5,17-19) 

10ª Semana do Tempo Comum.


“Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento” Mt 5,17.

“A história da manifestação de Deus no mundo é a história do próprio mundo. Deus transborda em si mesmo de amor e a criação é essa manifestação exterior sua. Toda a caminhada da humanidade para despertar essa consciência do transcendente, para se voltar para sua vocação primeira de comunhão plena com Deus e em Deus tem sua plenitude em Jesus Cristo, que é a revelação máxima de Deus. Esses povos que caminham, mais voltados para esse ou aquele aspecto da revelação de Deus, rumam com o mesmo objetivo. As condições que cada um conseguir criar para a realização desse objetivo é que são diferentes. Todos buscam a Deus, mas cada um só pode buscar de acordo com o que lhe é possível, enquanto possibilidades históricas e contextuais. Cada povo tem sua caminhada. Em cada época dessa caminhada, conceitos novos, novas compressões desse Deus que se revela à humanidade se tornam possíveis. Procurou-se conservar essa experiência de Deus através da Lei e da tradição dos profetas, preservando seus ensinamentos. Jesus não contradiz essa tradição, Ele representa uma nova luz para compreender a revelação sobre a qual a Lei e os Profetas se referem. Trata-se de um processo, de uma caminhada rumo à vivência plena da comunhão com Deus, que cada povo, cada época busca de acordo com aquilo que lhe é possível. Nessa busca por viver da melhor forma possível a vontade de Deus, o que conta verdadeiramente é a nossa boa vontade, o esforço possível e necessário, e a gratuidade de todo o processo. – Pai Santo, Deus eterno e misericordioso, em Jesus Cristo, teu Filho, nosso irmão e Senhor, Tu nos revelas tua face mais amorosa e compassiva. Queremos acolher essa manifestação verdadeira tua, e nos esforçar para vivenciar o exemplo que Jesus nos deixou em vida, fazer de suas escolhas nossas escolhas, vivermos voltados para os amados de Cristo: os pobres, os pequenos, os desamparados. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 07 de junho de 2022

(1Rs 17,7-16; Sl 04; Mt 5,13-16) 

10ª Semana do Tempo Comum.


“Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras

e louvem o vosso Pai que está nos céus” Mt 5,16.

“As pessoas que olham para nós cristãos, o que veem? Será que percebem os valores do Reino como critérios de nossas decisões? Será que notam como o amor, a misericórdia e o serviço fraterno são os pilares de nosso modo de ser no mundo? Quem assume a fé cristã deve brilhar não para se destacar dos outros, para nutrir seu ego e se valorizar como melhor que os outros. Quem assume a fé cristã deve brilhar como opção, como alternativa em um mundo marcado pelo consumismo e pela exploração. O que deve brilhar são as suas atitudes de misericórdia e seus gestos de compaixão; por mais simples e humildes que sejam, são esses gestos que dão testemunho, que professam a fé. É muito estranho se o fato de sermos cristãos não muda nada em nossa vida. Há algo errado. Isso porque a fé está além de algumas palavras decoradas e repetidas, mesmo que com piedade. Fé tem muito mais a ver com decisões, com posicionamentos, com trabalho e serviço. O que nossas escolhas dizem de nós? Elas testemunham e iluminam nossa opção pelos valores do Reino que Jesus deu a vida para defender? Valores como justiça, fraternidade, paz e misericórdia? Ou nosso agir diário obscurece a realidade turvando nossos dias com a névoa do egoísmo, da ganância e com a postura de quem só pensa em si mesmo? A vocação do cristão é ser luz. Nas trevas de nosso coração habitam nosso egoísmo, nossa ganância, nossa falta de caridade. Nossa fé precisa iluminar essas trevas, pois só nos confrontando com nossas limitações e dificuldades podermos superá-las. – Ilumina, Senhor, as trevas de nossos corações. Dá-nos uma fé verdadeira, uma esperança firme e uma caridade perfeita, a fim de que nossos atos deem testemunho de tua bondade e misericórdia. Dá-nos, Senhor, o reto sentir e conhecer, e que nossas vidas se voltem sempre para o sonho do teu Reino. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite