Sábado, 30 de junho de 2018


(Lm 2,2.10-14.18-19; Sl 73[74]; Mt 8,5-17) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Jeremias já havia advertido Israel dos riscos a que se exporia afastando-se de Deus, por isso a liturgia complementa o texto de ontem com esse texto do Livro das Lamentações, que foi composto após a queda de Jerusalém. Diante da catástrofe surge a pergunta: por que Deus permitiu tamanha desgraça? Ele é indiferente ao sofrimento humano? Quem relata contempla algo impossível de se acreditar, mas não se fecha no sofrimento; humildemente volta-se para Deus. Para isso a liturgia nos oferece o salmo 74,1-7.20-21, atribuído a Asafe ou alguém de sua família que o escreveu após a destruição de Jerusalém num lamento de todo o povo que eleva sua oração. “Parece que o salmista pegou Deus pela mão e o levou para ver a devastação. [...] ‘Vês o que está acontecendo por aqui, Deus? Tu te importas?’ Um comentarista refere-se a isso como ‘uma queixa ferrenha’, uma marca daqueles que vão a Deus em um tempo de crise e exigem algumas respostas. É aqui que o salmo nos toca. Esperamos que nunca tenhamos de passar pela devastação física e espiritual de uma nação destruída, mas há ocasiões em que sentimos como se o nosso mundo pessoal estivesse desmoronando ao nosso redor. Quando um casamento acaba, quando não aparece um emprego e o dinheiro se vai, quando um filho ou um cônjuge sofre por causa de uma doença incapacitante ou até morre em decorrência dela, nós nos chegamos a Deus em desespero e perguntamos: ‘Tu te importas com isso? Como pudeste nos entregar a esse tipo de destruição, dor e perda?’. Asafe não ouviu muita coisa como resposta de Deus. Havia boas razões para a destruição que veio sobre Jerusalém, mas, para um homem piedoso como Asafe, aquelas razões não eram, de fato, válidas. Ele foi pego no contra fluxo da desobediência dos outros. Como Jeremias no livro das Lamentações, Asafe só pôde expressar seu pesar e sua confusão, e, então, se sentar em silêncio esperando pela resposta do Senhor (Lamentações 3,28-29)” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de junho de 2018


(2Rs 25,1-12; Sl 136[137]; Mt 8,1-4) 
12ª Semana do Tempo Comum.

A liturgia da palavra desse dia se abre com a mais triste página da história de Israel, para concluir a nossa leitura dos Segundo Livro dos Reis: a queda de Jerusalém e o exílio Babilônico. Tudo isso é visto como consequência de alianças políticas estranhas e não da reafirmação da Aliança com o Senhor. Algo para não ser esquecido se eterniza também na composição do salmo 139,1-6: “O célebre cântico de nostalgia dos exilados de Babilônia, que inspirou patriotas e artistas, exprime a dor emudecida daqueles que perderam a sua terra, mas não quiseram perder a sua memória. Todavia, o exílio será uma espécie de crisol purificador, através do qual a fé se fortalecerá” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus). O texto vem para nós com uma ‘pesada’ advertência das consequências do pecado na mais trágica das situações: perder-se a si mesmo.

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de junho de 2018


(2Rs 24,8-17; Sl 78[79]; Mt 7,21-29) 
12ª Semana do Tempo Comum.

“Naquele dia, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?” Mt 7,22.

“O Evangelho não esconde a decepção e a surpresa que haverá no dia do julgamento. Às moças sem juízo que chegam atrasadas na festa o Senhor dirá: ‘não conheço vocês’. Enquanto os justos são recebidos na casa do Pai. Os que ficaram para fora perguntarão: ‘quando foi que te vimos com fome, com sede, sem roupa, sem moradia?...’ O convidado que estava sem a veste nupcial fica fora do banquete. Costumamos usar como critério para distinguir entre bem e mal a ‘voz da consciência’. Se nossa consciência está em paz, tudo bem. O critério do Evangelho, porém, não é esse. Tanto as moças imprudentes, como os cabritos do juízo final pareciam estar com a consciência muito tranquila. Daí o convite à vigilância permanente e à fidelidade até nas coisas pequenas. Acomodamo-nos com facilidade em nossa fé e nossas práticas de vida cristã, como se viajássemos no ‘piloto automático’ da religião. E quantas coisas fazemos em nome da religião, em nome de Deus que passam longe daquilo que o Evangelho propõe. Basta dar uma olhada na convivência entre os membros de nossas próprias comunidades, na pilha de interesses que gira em torno das nossas instituições de caridade, na incoerência que se instala entre o nosso discurso e as nossas atitudes. – Não são aqueles que dizem ‘Senhor, Senhor’ que têm lugar garantido na mesa do Pai. Livra-nos, Jesus, enquanto caminhamos, de toda falsidade e acomodação, para que estejamos vigilantes e atentos aos teus sinais. Amém (João Bosco Barbosa – Graças a Deus (1995) – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 27 de junho de 2018


(2Rs 22,8-13; 23,1-3; Sl 118[119]; Mt 7,15-20) 
12ª Semana do Tempo Comum.

“Cuidado com os falsos profetas: eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes” Mt 7,15.

“Quem vê cara não vê coração. Provérbio antigo, porém mais mordente em tempos atuais. A vida social urbana, a rapidez das mudanças, a pluralidade de pensamentos, tudo isso nos faz viver mais desconfiados uns dos outros. Antes, durante uma viagem ao lado de um desconhecido, éramos capazes de contar toda a nossa vida. Agora somos capazes de viver anos no mesmo prédio e nos encontrar apenas com uma rápida saudação, no elevador. Já achamos quase natural que o comerciante, para vender o seu produto, acrescente-lhe algumas falsas vantagens. Que o político, para ser eleito, decline falsas qualidades e prometa o que não poderá cumprir. Que os noticiários para prender a atenção inventem o lado sensacional da realidade... Natural, não. Vício que se instalou na medida que vivemos um distanciamento da ética, em nome do vale tudo do interesse. Também a religião tem seus lobos disfarçados de ovelhas. Já no Antigo Testamento onde apareciam os verdadeiros profetas proliferavam também os falsos. Não falam em nome de Deus, mas em nome de interesses, ou de sua própria ideologia. Critérios para o discernimento só o conhecimento das Escrituras oferece. É conferindo os frutos que se conhece a árvore, diz o Evangelho. Vamos conviver sempre com lobos disfarçados e verdadeiras ovelhas. Mas não será por acaso que sonharemos com o tempo messiânico em que as ovelhas e os lobos poderão pastar, tranquilos, lado a lado. – Jesus Bom Pastor, que conheceis a voz de cada uma das ovelhas, queremos conhecer sempre mais a vossa voz. Ouvintes atentos de vossa palavra saberemos distinguir e acolher a vossa vontade de que produzamos frutos, frutos que permaneçam”.  (João Bosco Barbosa – Graças a Deus (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de junho de 2018


(2Rs 19,9-11.14-21.31-36; Sl 47[48]; Mt 7,6.12-14) 
12ª Semana do Tempo Comum.

A ameaça dos assírios contra Jerusalém serve de ocasião para refletir para certas coisas que passam despercebidas aos olhos da fé. O poder bélico faz parecer ilusória a fé de um povo, mas os acontecimentos humanos concorrem para a realização da promessa divina. O salmo 48,2-4.10-11 contempla a grandeza de Deus e do lugar onde Ele habita e de onde sobem os louvores ao Senhor. “O autor do salmo 48 não estava interessado apenas em seu cântico para sua própria geração. Ele queria que seu louvor se estendesse às nações além da sua e às gerações que ainda nasceriam. Ele termina o salmo com um desafio: ‘Falem à próxima geração’ (v. 13). Nossos filhos e netos precisam ouvir a história de como começamos a crer, de como nossa fé foi alimentada ao longo dos anos e de como Deus manda e dirige nossa vida. Essas memórias espirituais encorajam as gerações futuras a confiarem em Deus e a seguirem sem temor as pegadas do Espírito” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de junho de 2018


(2Rs 17,5-8.13-15.18; Sl 59[60]; Mt 7,1-5) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Este incidente narrado pelo autor sagrado na 1ª leitura nos ajuda a entender a dificuldade que se criou entre os habitantes da Samaria e da comunidade judaica, pois o restante do povo que ali ficou acabou por aproximar-se de outros povos afastando-se da unidade da fé Israelita. Mas o nosso autor lê tal episódio como consequência da infidelidade de Israel. Por isso o salmo 60,3-5.12-13 contempla a tudo isso como uma tentativa de recordar Aquele que se mantém fiel. “Davi viu o ataque como um ato de disciplina de Deus. O povo havia se afastado de seu amor e obediência ao Senhor. Ia à Igreja, mas seu coração estava frio. A condenação de Deus começou com um leve toque para que os israelitas voltassem para ele. Profetas chamaram o povo a se arrepender e aceitar o perdão gracioso de Deus. Quando a misericórdia de Deus foi rejeitada, Deus foi forçado a usar medidas mais drásticas para chamar a atenção de Israel. Um inimigo infestou a terra, e Deus não interveio para afastá-lo. Mas, pelo menos, o Senhor recebeu atenção. Orações começaram a subir ao céu, pedindo ao Senhor que livrasse seu povo. O povo finalmente percebeu que exércitos, armas e líderes políticos fortes não o protegem; somente o Senhor pode preservar seu povo” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

   Pe. João Bosco Vieira Leite

São João Batista – Solenidade 24 de junho de 2018


(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80).

1. A liturgia da Palavra para a solenidade de João Batista vai buscar no Antigo Testamento o texto que fala da vocação do ‘Servo do Senhor’ ou ‘Servo Sofredor’, aplicado no tempo quaresmal a Jesus e aqui àquele que foi escolhido desde o ventre materno para preparar os caminhos do Senhor.

2. Sabemos que a missão de João não foi fácil e não será para ninguém que leve a sério o compromisso de viver o seu batismo na consciência de que também nós, de alguma forma, preparamos os caminhos do Senhor pelo nosso testemunho na vivência da fé.

3. O salmo 139, que bem conhecemos, nos fala dessa experiência de um Deus não apenas onisciente, mas também onipresente. Para qualquer coisa que vivamos, de bom ou de ruim, tudo está na presença de Deus. Nunca nos perdemos e nunca nos separamos dele. Rezamos e cantamos para compartilhar essa experiência de fé de Davi, do Batista e de tantos outros que viveram uma plena entrega de sua vida a Deus e buscaram viver na Sua presença.

4. É Paulo que melhor ilumina a vocação específica de João e o insere na história maior do povo de Deus, apresentando-o como o último dos profetas. É a última etapa da história salvífica que João apresenta, reconhecendo que Quem vem é muito maior que ele.

5. Paulo recorda que sua missão como pregador, sua humildade, ensinando a fixar o olhar em Jesus. A pregação de Jesus também o surpreendeu, teve seus momentos de dúvida. O caminho da fé não lhe foi fácil, pois também teve que se converter à novidade sobre Deus que brotava dos lábios de Jesus. Também para nós nem sempre é fácil acolher Aquele que vem como resposta definitiva para caminho que fazemos.

6. Mais concretamente somos lançados à cena do seu nascimento, motivo da festa de hoje e exclusividade de são João e da Virgem Maria, fora do nascimento de Cristo. Seu nascimento é a aurora de um novo tempo, muitas promessas não muito claras dos profetas anteriores se consolidarão com Aquele que João tem a nobre missão de preparar os caminhos.

7. Se tal nascimento é visto como um ato de misericórdia de Deus para com Isabel, imagine quanto mais para com toda a humanidade. Não é atoa que Lucas enche de alegria esse ambiente do nascimento. Lucas não parece seguir a risca as tradições com relação a imposição do nome da criança e sua circuncisão, fazendo tudo acontecer num único momento.

8. O menino faz parte do povo de Deus, pelo sinal de circuncisão, mas seu nome aponta para outro significado, que não é uma mera continuidade, João traz em seu nome o sentido da manifestação da bondade de Deus, de sua benevolência para conosco.

9. Nosso texto omite o canto entoado por Zacarias, um modo como Lucas traduz teologicamente o nascimento do menino, colocando-o nos lábios do seu pai. Rapidamente sabemos que ele faz um caminho de memória do seu povo com relação ao deserto, e ali se prepara para sua missão.

10. Numa alegria contemplativa, celebramos o nascimento do maior entre os nascidos de mulher, mas ao mesmo tempo o menor no Reino dos céus, pois para cada tempo, outros nascem e são chamados também a viverem sua vocação numa fidelidade À Palavra de Deus. Outros santos e santas são forjados a cada tempo. Que de alguma forma, a vida de João nos sirva de inspiração, na alegre resposta ao chamado divino.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 23 de junho de 2018


(2Cr 24,17-25; Sl 88[89]; Mt 6,24-34) 
11ª Semana do Tempo Comum.

O autor do Livro das Crônicas dá sua interpretação aos ocorridos que acompanhamos no Livros dos Reis lançado uma espécie de juízo. O salmo (Sl 89,4-5.29-34), atribuído a Etã, um homem sábio de Judá, ainda persiste nesse louvor confiante a Deus que permanece fiel a dinastia davídica, mas que permitiu que alguém fora dessa linhagem subisse ao trono. “Etã, o homem sábio que era, levou o problema a Deus várias vezes no salmo. Deus havia prometido abençoar Davi, mas sua coroa agora é lançada no chão. A resposta para o dilema de Etã está no versículo 32. Se os filhos de Davi desobedecessem ao Senhor, ele lhes traria correção e punição. Isso é que Etã estava testemunhando. ‘Mas não afastarei dele o meu amor’ [ou fidelidade na aliança]; jamais desistirei da minha fidelidade’ (v. 33). Mesmo que naquele momento lhe parecesse que Deus havia renunciado à sua aliança, ele não tinha. No tempo de Deus e à maneira de Deus, ele cumpriria fielmente cada palavra de cada promessa” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de junho de 2018


(2Rs 11,1-4.9-18.20; Sl 131[132]; Mt 6,19-23) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Israel viveu momentos particulares de ameaças ao fim da linhagem davídica e de fazer desparecer a si mesmo em meio a intrigas e morticínios. A morte do jovem rei Ocosias leva sua mãe a se apoderar do trono em lugar de Joás, ainda menor, que tem de ser salvo para não ser assassinado. O sumo sacerdote Joiada trama contra Atalia para trazer de volta a descendência davídica ao trono. No meio dessas tramas humanas, o salmista (Sl 132,11-14.17-18) reza a fidelidade da promessa divina à descendência davídica. “Este salmo foi entoado no dia em que Salomão dedicou o templo em Jerusalém ao Senhor. Os versículos 8-10 do salmo 132 são citados por Salomão em sua magnifica oração de dedicação em 1Crônicas 6,41-42. O salmo pode ter sido escrito especialmente para essa ocasião e, então, incorporado mais tarde à coleção dos salmos que lemos hoje. Os editores piedosos colocaram-no entre esses salmos para que os viajantes peregrinos se lembrassem do rei Davi e das promessas que Deus havia feito a ele. Davi estava morto havia muito tempo e o templo de Salomão há muito estava destruído, mas o Deus de Israel ainda permanecia. Ele é um Deus que não pode mentir, um Deus que cumpre suas promessas” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de junho de 2018


(Ecl 48,1-15; Sl 96[97]; Mt 6,7-15) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;” Mt 6,9.

“Pai, na nossa linguagem comum, tem um sentido bastante restrito. É a pessoa do genitor, aquele de quem recebemos a transmissão da vida, traços hereditários, a educação, com ele convivemos mais ou menos anos. Na Bíblia o sentido de pai é mais amplo e figurado. Os pais são os antepassados, são as figuras ilustres da história. Encontramos no Antigo Testamento chamado de Pai, mas sempre com distanciamento e temor: ele é o Criador, a origem de todas as coisas. Jesus causa espanto, entre seus contemporâneos, pela intimidade e proximidade de sua relação com Deus, a quem chama de Pai. Pai, com todo o sentido grandioso e distante, como na mentalidade judaica, mas ao mesmo tempo concreto e presente como um pai ao alcance da nossa mão e do nosso abraço. ‘Abá’, dizia Jesus, Papai, diríamos hoje. Esse Pai ao mesmo tempo tão grande e tão próximo de que fala Jesus está retratado na forma com que ensinamos as crianças bem pequenas a dirigir-se a Deus: ‘Papai do Céu’. Não é especialmente aos ‘pequeninos’, aos humildes, que o Pai se revela e revela os segredos do Reino? – Pai Nosso, olhai os nossos pequeninos. É pena que muitos deles não chegam a compreender a maneira como Jesus nos apresenta seu Pai. Pensam a partir do modelo humano de pai, autoritário, violento ou ausente, nada exemplar. Fazei-nos atentos ao ensinamento de vosso Filho, para que possamos conduzi-los a vós. Amém.” (João Bosco Barbosa – Graças a Deus (1995) – Vozes).
  
Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de junho de 2018


(2Rs 2,1.6-14; Sl 30[31]; Mt 6,1-6.16-18) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo, eles já receberam sua recompensa”.
(Mt 6,2)

“O bom comerciante faz conta na ponta do lápis: anota cada centavo que investe, analisa o retorno, tem consciência de qual é a sua margem de lucro. Por vezes põe mercadoria em oferta. Dá desconto. ‘Toca trombeta’ para que todos saibam que ele está sendo ‘generoso’. Aumentam as vendas e o lucro. Essa é sua recompensa. Candidatos a cargos políticos fazem favores, melhoramentos no bairro, atendem os pobres, são generosos. O voto é a sua recompensa. Era mais ou menos assim que Jesus via acontecer no seu tempo, não entre os comerciantes (como seria compreensível), mas entre os que praticavam a religião. Faziam da esmola, que era um preceito legal, uma forma de promover a si mesmos. Hipócritas existem em todos os tempos. Vi, certa vez, uma senhora, bonita, bem vestida, comprando na loja uma peça de roupa. Queria que a balconista fizesse o pacote deixando o preço bem à vista. Melhor, queria que trocasse a etiqueta por outra de preço mais alto. E explicava sem o menor rubor: ‘é para minha empregada, sabe?!...’. ‘Entre vocês não seja assim... que a mão esquerda não saiba o que faz a direita’. Podemos questionar o sentido da esmola. É assistencialismo, paternalismo, não ajuda a mudar as estruturas injustas... Certo. Não resolve o problema de ninguém. Mas pode começar a mudar alguma coisa em nós mesmos, se aprendemos a simplesmente dar” (João Bosco Barbosa – Graças a Deus (1995) – Vozes).
 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de junho de 2018


(1Rs 21,17-29; Sl 50[51]; Mt 5,43-48) 
11ª Semana do Tempo Comum.

“Porque , se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?” (Mt 5,46).

“’Todo mundo faz’. É a desculpa mais frequente quando se quer justificar uma prática questionável através de comparação com o que faz a maioria. Para os cristãos que já foram chamados de ‘pequeno rebanho’ essa desculpa não cola. Se todo mundo faz do amor uma moeda de troca, nós somos convidados a experimentar e testemunhar o amor incondicional: não importa ser ou não ser amado, importa amar. Embora convictos de que amar incondicionalmente é o maior dos mandamentos (o único, segundo Jesus) como é difícil conviver com o ‘cobrador de impostos’ que mora dentro de nós! Amamos, sim, de coração sincero, uns aos outros. Até procuramos servir com alegria. Somos capazes de fazer um favor, dar uma esmola, e até de renunciar a alguma coisa em favor de alguém. E lá vem o cobrador de impostos que quer, sim, o reconhecimento, o troco, a recompensa, a gratidão, e assim tiramos a gratuidade do gesto de amor. O reconhecimento, a gratidão, a recompensa não são, de modo algum, condenados no Evangelho. O amor recíproco é sempre bem vindo, anima, faz bem. Veneno é o ‘somente’, o amor que só acontece se há retribuição. Só é capaz de amar quem se sente amado. Só pode entregar-se ao amor gratuito quem experimenta em sua própria vida o amor do Pai. Assim entendeu São Francisco com o seu ‘é dando que se recebe’. Ao contrário do uso que fizeram alguns políticos dessa expressão franciscana. Como bons ‘cobradores de impostos’, também eles justificam sua troca de favores dizendo que isso, afinal, ‘todo mundo faz’” (João Bosco Barbosa – Graças a Deus (1995) – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de junho de 2018


(1Rs 21,1-16; Sl 5; Mt 5,38-42) 
11ª Semana do Tempo Comum.

As ações de Jezabel parecem coisa de novela. Assim ela tenta satisfazer as vontades de seu fraco marido e ao mesmo tempo impor seu poder sobre Israel. Mas como todo povo tem o governo que merece, deixar-se corromper é uma forma de aprovar o modo de conduzir as coisas. O salmo 5,2-3.5-7 fica entre a prostração de Acab e a injustiça sofrida por Nabot. Atribuído a Davi, expressa um certo desânimo, mas termina como um cântico de louvor. Pode ter sua origem em algum momento de perseguição ou ataque do inimigo. “Desânimo é um buraco fundo e escuro – e todos já estivemos nele. Já fracassamos em algum projeto; nos demos conta de que um determinado sonho de vida nunca será alcançado; um relacionamento que começou tão bem está rompido à nossa volta. Os que nos criticam também estão sempre prontos para nos dar a mão – não para nos tirar do buraco, mas para cavar um buraco um pouco mais fundo e empurrar-nos um pouco mais. Davi escreveu o salmo 5 a partir dessa perspectiva. Ele estava num buraco emocional, e o único jeito era olhar para cima. [...] ‘Às vezes, não conseguimos colocar nossas orações em palavras. Elas não passam de um choro. Mas o Senhor consegue compreender o significado, pois ele ouve uma voz em nosso choro. Para um pai amoroso, o choro de seus filhos é música, e tem uma influência que seu coração não pode resistir’ (Charles Spurgeon)”  (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

11º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Ez 17,22-24; Sl 91[92]; 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34).

1. Em clara consonância com o evangelho, a liturgia insere esse texto de Ezequiel, uma espécie de alegoria sobre o modo como Deus conduz a história e não os poderosos desse mundo, servindo-se do aparentemente pequeno e insignificante. Aqui, no caso, o povo de Israel. Tema recorrente nas Sagradas Escrituras e a história tem comprovado essa sucessão de grandes povos, cuja grandeza e fim, permanecem apenas como registros.

2. Dando continuidade à reflexão iniciada no domingo anterior, Paulo fala desse trânsito a ser feito entre a vida presente e aquela que nos espera. Como no fim existe um julgamento que liga essas duas realidades, isso exige do cristão certa responsabilidade e vigilância no caminho que faz em direção a esse amor maior de Deus que nos aguarda.

3. O evangelho nos coloca diante do tema principal da pregação de Jesus: o reino de Deus. Para isso Ele recorre a uma série de imagens, em sua maioria tirada da realidade comum aos seus ouvintes, que desfilam nos evangelhos.

4. A primeira imagem tem presente a força que a semente traz em si mesma de germinar e crescer. A segunda, a aparente insignificância de uma semente que pode tornar-se um grande arbusto. Com essa verdade que seus ouvintes têm presente, Ele quer dar-lhes a certeza de que o Reino de Deus tem em si a força para crescer, e de pequeno tornar-se grande a partir desse acolhimento do coração humano.

5. “As parábolas do reino que lemos no Evangelho convidam-nos à esperança e à confiança, não baseada em inquéritos, cálculos, previsões do tipo sociológico, ou pelo menos só humano, mas sim sobre a promessa e sobre a fidelidade de Deus que guia a nossa história e a de todos” (Giuseppe Casarim – Lecionário Comentado – Paulus).

6. Assim a nossa compreensão não deve se ater ao número de cristãos batizados, quantidade de igrejas construídas ou mesmo a influência da Igreja católica. A presença do Reino é sentida pelo cuidado com a vida que se pode sentir através dos movimentos humanos como ressonância do que fez e nos falou a pessoa de Jesus.

7. Em última instância, é Ele o próprio Reino de Deus, e podemos assim verificar o que ficou ou fica em nós do seu ensinamento, capaz de fazer uma verdadeira revolução em nossa vida, ainda que passe de modo despercebido aos olhos humanos.

8. O Reino está presente nesse exercício de confiança de que a história humana e pessoal é guiada por Deus, nessa compreensão popular que “o homem propõe e Deus dispõe”. Mas em tudo isso não se exclui a liberdade de acolhermos ou não essa realidade, pois tudo depende do que cultivamos no solo de nosso coração.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de junho de 2018


(1Rs 19,19-21; Sl 15[16]; Mt 5,33-37) 
10ª Semana do Tempo Comum.

“Seja o vosso ‘sim’ sim, e o vosso ‘não’ não. Tudo o que for além disso vem do maligno” Mt 5,37.
             
“Vinha um homem ao meu encontro com passo trôpego. Pedia dinheiro. Explicava que havia chegado do interior. Tinham-lhe roubado os documentos, o dinheiro e tudo. Pedia porque, segundo ele, errado era roubar. Ia viajar até onde estavam os parentes. Pensei que talvez não fosse verdade nada disso. Mas era verdade que precisava pedir. Aprendeu a viver pedindo. Tinha o discurso adequado, a seu ver, para convencer a caridade das pessoas. Era a sua verdade. A mentira não é privilégio de nenhuma classe social. Estamos até acostumados a conviver com ela na vida social, na família, na vida pública, nos meios da comunicação, em toda parte. É como se uma camada de névoa permanente envolvesse o mundo, confundindo o que está a meia distância, impedindo a visão geral. Acostumados a não ter certeza, concordamos que desconfiar é melhor maneira de não se deixar enganar. Mesmo na relação pessoal não somos mais capazes de confiar. Para empregar, queremos referências; para celebrar um contrato, firma reconhecida, para emprestar, avalista; para acreditar, provas. E como o amor verdadeiro não oferecido garantias, perdemos a oportunidade de amar. O amor supõe a confiança de que um sim, dito hoje, seja um sim para sempre. É dessa forma que Deus nos ama. Ao dizer sim, nos deu a vida. Não para tirá-la depois, mas para fazê-la eterna. Quando dizemos sim para valer, repetimos o modo de Deus amar. Somos sinais de Deus. Dizer ‘sim quando é sim e não quando é não’ é recriar o mundo ensolarado contra a névoa fria da mentira, recobrar a confiança na vida, apostar no amor, acolher a fé. Desmontar as defesas que separam um ser humano do outro ser humano. Estalar as estruturas deste velho mundo que institucionalizou a mentira, o medo, a divisão” (João Bosco Barbosa – Graças a Deus – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de junho de 2018


(1Rs 19,9.11-16; Sl 26[27]; Mt 5,27-32) 
10ª Semana do Tempo Comum.

“Se teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti!” Mt 5,29a.
                
“Quando Jesus diz que devemos arrancar o olho direito, quando este é motivo de tentação, ou que devemos cortar a mão direita, certamente não está querendo incentivar atos de automutilação, que aliás eram proibidos entre os judeus, e nesse ponto Jesus certamente pensava como um judeu. O olho direito é a instância que tudo julga e avalia, que tudo quer possuir e invadir, que tudo expõe e divulga. A mão direita é aquela que tudo se apodera, que quer ‘fazer’ tudo, que acha que pode realizar tudo o quer também internamente. Esse lado consciente precisa ser podado para que o lado esquerdo, o inconsciente, também possa prevalecer. O olho esquerdo é aquele que ainda consegue pasmar-se, que observa sem julgar, que se funde com o observado. A mão esquerda é a mão que recebe, que se raciona. Quem vive de modo unilateral, apenas a partir do seu lado consciente, abandona-se desde logo no inferno de suas necessidades e forças inconscientes que o dilaceram. Todas as palavras de Jesus são palavras que nos convidam à vida, procurando preservar-nos de uma vida uni lateral e autodestrutiva” (Anselm Grun – Jesus, Mestre da Salvação – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de junho de 2018


(1Rs 18,41-46; Sl 64[65]; Mt 5,20-26) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Para ‘celebrar’ as chuvas enviadas por Deus diante da oração do seu fiel profeta Elias, a liturgia nos coloca hoje o salmo 65,10-13, que ainda não comentamos. Atribuído a Davi como resultado de suas reflexões sobre a maravilhosa obra de Deus. Assim ele louva o poder e a bondade de Deus. “Deus, em sua bondade, escolheu abençoar o mundo com abundância. Deus cuida da terra. Ele a rega e dá uma colheita farta ano após ano. Percebo que há lugares onde a fome ou a seca ocorrem, mas, no mundo como um todo, há abundância de alimento para a necessidade de todos. As pessoas sofrem, não porque Deus não provê, mas porque aqueles que têm em fartura nem sempre estão dispostos a compartilhar com os necessitados. Da próxima vez que você sentar para fazer uma refeição abundante ou olhar um cardápio em um restaurante e tiver dificuldade para escolher, agradeça a Deus pela provisão dele. Ele dá constantemente” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de julho de 2018


(1Rs 18, 20-39; Sl 15[16]; Mt 5,17-19) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no reino dos céus. Porém quem as praticar será considerado grande no reino dos céus”. Mt 5,19
                
       Jesus se apresenta como aquele que veio para dar mais claridade e compreensão aos mandamentos divinos, não para revoga-los, adverte aos seus ouvintes (por “lei e os profetas” compreendamos a Sagrada Escritura). Nesse sentido devemos estar abertos ao que Jesus nos diz e praticar o que nos pede sem medo de não ter presente a vontade divina. O ‘pleno cumprimento’ é algo mais amplo do que Ele enquanto judeu viveu e praticou, mas enquanto Messias, ele realiza todas as promessas nelas contidas.  Para quem verdadeiramente se volta para Deus não existe lei maior ou menor, mas o valor, a sabedoria neles contida: “Não se trata de fidelidade formal à letra, mas de uma abertura que assinala o ser humano em sua totalidade, até o cerne de sua pessoa, para o desígnio salvífico de Deus que se revela nas prescrições da Sagrada Escritura. A partir dessa abertura amorosa para Deus cresce aquela atitude que considera a perfeição de Deus (5,48) como medida absoluta do próprio fazer ensinar. Contudo, daí resulta que a pergunta a propósito da hierarquia de mandamentos não corresponde propriamente ao relacionamento novo, verdadeiramente cristão para com a Lei e a legalidade, pois ao amor não interessa se a prescrição é pesada ou leve, significativa ou insignificante, mas se volta para o ser amado por quem ele se sabe interiormente responsável” (Franz Zeilinger – Entre o Céu e a Terra – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de junho de 2018


(1Rs 17,7-16; Sl 4; Mt 5,13-16) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Nesses dias da semana interrompidos por algumas festas litúrgicas tivemos a introdução de alguns trechos do Livro dos Reis, do 1º e 2º que na Bíblia hebraica parece como um único livro e o coloca entre os livros proféticos, enquanto a bíblia católica o coloca entre os livros históricos. Hoje encontramos com Elias que após sua perseguição por prever um tempo de seca, e encaminhado pelo Senhor para Sarepta onde convive com uma viúva e o seu filho com o mínimo necessário para cada dia, mas num ato providente de Deus. O salmo 4,2-5.7-8 que segue fala de confiança e de ação de graças de quem fez sua experiência de Deus e continua a invocar a sua misericórdia. “As pessoas que se mantêm firmes durante os tempos difíceis são aquelas que aprenderam a invocar a Deus. Elas sabem que, mesmo antes de o invocarem, Deus já está agindo para dar-lhes alívio. As pessoas que sabem como Deus é fiel e cuidadoso podem se deitar e dormir em paz. Sua confiança não está nos investimentos que fizeram, nem em seu emprego, nem no governo. Sua segurança está no Senhor” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de junho de 2018


 (At 11,21-26; 13,1-3; Sl 97[98]; Mt 10,7-13) 
São Barnabé, Apóstolo.

Conhecemos Barnabé dos Atos dos Apóstolos como colaborador de Paulo, que se reconheceu necessitado da ajuda de outros em seus trabalhos apostólicos. Isso por si só deve nos dizer alguma coisa.  Barnabé significa ‘filho da exortação’ (At 4,36) e ‘filho da consolação’. Ele é um judeu levita originário de Chipre. Uma vez tendo se estabelecido em Jerusalém, foi um dos primeiros a abraçar o cristianismo após a ressurreição de Jesus. Dele se fala sobre a sua generosidade (cf. At 4,37). Facilitou o acolhimento de Paulo pela comunidade cristã de Jerusalém (At 9,27) e tantas outras ações que podemos vislumbrar na narrativa dos Atos. Teve também seus conflitos dentro da Igreja (cf. At 13,13). Mas como nos lembra o papa Francisco em sua última exortação, a santidade tem aspectos muito humanos. Escreve Bento XVI: “E isto me parece muito consolador, pois vemos que os santos não ‘caíram do céu’. São homens como nós, também com problemas difíceis. A santidade não consiste em não equivocar-se nunca, ou em não pecar. A santidade cresce com a capacidade de conversão, de arrependimento, de disposição para voltar a começar, e especialmente com a capacidade de reconciliar e de perdoar” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

10º Domingo do Tempo Comum – ano B


(Gn 3,9-15; Sl 129[130]; 2Cor 4,13—5,1; Mc 3,20-35)   

1. A liturgia nos oferece mais uma página do Gênesis. O autor na sua narrativa inicial busca, através de uma história, dar algumas respostas a certos enigmas que carregamos ao longo da história sobre o sofrimento e a morte, sobre a relação entre o homem e a mulher, por exemplo.

2. Em nosso texto situamo-nos na questão do mal. De onde vem? Segundo o autor sagrado vem da humanidade e não de Deus, que fez bem todas as coisas. Num dado momento ele pensa na felicidade de uma outra forma, daquela planejada pela divindade, e se deixa conduzir por suas paixões, por isso se pergunta onde ele está, pois encontra-se fora da ótica divina.

3. Quem vivia em harmonia agora tem medo. Afastando-se de Deus, ele afasta-se também do próximo, pois acusa a companheira, e esta por sua vez a serpente, símbolo daquilo que invade sorrateiramente a mente e o coração e ardilosamente conduz à prática do mal, em outras palavras: o pecado.

4. A nudez aparece como símbolo da perda da dignidade e a narrativa aponta para o desequilíbrio que gera o pecado humano, não só para si, mas para o que está ao seu redor, para a própria Criação. Não se trata, devemos compreender, de um pecado, mas de todo e qualquer pecado e de suas consequências.

5. Mas o texto finaliza com uma esperança. A luta entre o ser humano e serpente permanece, mas uma vitória se dará na descendência da mulher que um dia nos dará o Messias.

6. Paulo partilha com a comunidade de Corinto a sua consciência dos limites da natureza humana. O tempo e o cansaço não vencem dentro dele o desejo de ver sempre mais o evangelho se expandir e de um dia estar com Deus de maneira definitiva. Por isso o exercício contínuo de elevar-se espiritualmente, pois tem consciência de estar em transição.

7. Numa narrativa não muito linear, Marcos nos fala do conflito entre Jesus e os seus familiares e também com os escribas. Precisamos separá-los, mas ao mesmo tempo perceber que tudo isso tem a ver com o modo diferente de Jesus no falar e no agir, como vimos no domingo anterior e no conflito que isso vai gerando no meio dos seus e ao seu redor.

8. Jesus vai se afastando do seu núcleo familiar por não corresponder às suas expectativas. Também rompe com as autoridades religiosas por não manter-se fiel às tradições do seu povo, por isso uma nova família e um novo povo vai surgindo lentamente da escuta e de uma prática diferenciada, particularmente no que contradiz a vontade do Deus revelado em Jesus.

9. Na ligação do evangelho com a 1ª leitura, Jesus lembra que satanás é inimigo do homem e que ele não age pelo mesmo, quando é bem do ser humano que seus gestos revelam. Quem está do lado de Deus vai querer sempre o bem do outro. Assim podemos ter um discernimento. Jesus é o descendente, o mais forte, nessa luta contra o mal, se seguirmos os seus passos.

10. E cuidemos de não pecar contra o Espírito Santo, nos opondo aos que fazem o bem, mesmo que não pertençam à nossa comunidade de fé. Há quem se ache mais virtuoso, mais honesto e mais generoso que os outros e tentam combate-los.

11. O texto de Marcos nos fala de um pecado eterno, mas o Gênesis nos fala de um amor que nos busca sempre, e nos acolhe, ainda que nos corrija, quando tomamos consciência de que estamos nos afastando. Talvez essa imagem esteja mais de acordo com o ensinamento de Jesus. Onde estamos nós? Com Jesus ou distante dele?

 Pe. João Bosco Vieira Leite