26º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ez 18,25-28; Sl 24[25]; Fl 2,1-11; Mt 21,28-32)

1. Mais uma parábola nos é dirigida. Objetivamente, o filho que diz ‘sim’, mas não vai, representa aqueles que conheciam Deus e seguiam sua Lei, mas quando se tratava de acolher Jesus que era ‘a plenitude da Lei’, não o aceitaram.

2. Aquele que disse ‘não’, mas revê sua atitude representa os que viveram fora dessa Lei e da vontade de Deus, mas diante de Jesus foram capazes de rever sua atitude. Daí a conclusão de Jesus diante dos sacerdotes e anciãos do povo: os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus.

3. Como podemos entender esse evangelho de maneira direta e prática? Para Deus, palavras e belas promessas contam pouco se não vem acompanhada da ação concreta. Entre o dizer e o fazer há um oceano. Não basta dizer: Senhor, Senhor, é preciso fazer a vontade de Deus para chegar ao Reino dos céus.

4. O que Deus espera de nós é o que esperamos uns dos outros na vida. Os pais esperam dos próprios filhos uma obediência real, não só verbal; uma incoerência particularmente terrível é a do cristão entre aquilo que professa e promete na igreja, ou em sua oração pessoal, e aquilo que vive e faz fora, em casa ou no trabalho. (“não adianta ir à igreja, rezar...”)

5. O mundo nos julga mais pelos fatos do que pelas palavras. ‘É melhor ser cristão sem dizê-lo, do que dizê-lo, sem sê-lo’, dizia o mártir Santo Inácio de Antioquia. Mas mesmo aqui há quem se aproveite de tal situação para dizer que os que vão a igreja são piores que os outros, justificando de não frequentar igrejas ou mesmo rezar...

6. Tal critério é muito discutível. Bem e mau são estabelecidos só em base aos seus gostos e interesses. Sem levar em conta que quem reza e se esforça para viver o Evangelho é um ser humano que também tem seus limites e suas lutas. A incoerência não é uma desculpa para ninguém, cada um responde a Deus, em própria consciência por aquilo que faz, não por aquilo que faz os outros.

7. Voltando à conclusão apresentada por Jesus, é preciso tomar certo cuidado para não criar uma espécie de aura evangélica em torno da prostituição, idealizando-a como algo ‘bom’. A literatura é plena de prostitutas ‘boas’. Quem conhece ‘La Traviata’ de Verdi ou ‘Crime e Castigo’ de Dostoievsky sabe do que estou falando. Ou mesmo o filme “Uma linda mulher”, com Julia Robert.

8. Pode se fazer uma certa confusão com o dizer de Jesus. Ele está usando um caso limite, para dizer ‘até mesmo as prostitutas lhes precederão...’. A prostituição é vista aqui em sua seriedade e tomada como termo de comparação para estabelecer a gravidade do pecado de quem rejeita obstinadamente a verdade. 

9. Ele não está idealizando nem as prostitutas e muito menos os publicanos, os toma como referência porque ambas categorias colocam o dinheiro acima de tudo em suas vidas. Seria trágico se pensássemos que o Evangelho fosse conivente com tal comportamento. Jesus tinha muito respeito pelas mulheres e sofria pelo que elas podiam se tornar.

10. O que faz Jesus usar a prostituta como exemplo não é o seu modo de viver, mas sua capacidade de mudar e de colocar a serviço do bem sua capacidade de amar. Como Maria Madalena, que se supõe ter sido uma prostituta, que se converte e segue Jesus até a cruz e torna-se a primeira testemunha da ressurreição.

11. O Evangelho não quer promover campanha moralista contra elas, ou mesmo brincar com tal fenômeno que em nossos tempos se expandiu em outras formas para além daquelas que vivem condenadas ao relento. Ela acontece hoje de forma tranquila por trás de uma máquina fotográfica ou de uma câmara, sob a luz de refletores. Já nem chamamos mais de pornografia o excesso da publicidade que vende corpos e suscita desejos...

12. O que nos interessa aqui é recordar esse olhar, agir e falar de Cristo que suscita em mulheres e homens a esperança, de que ninguém está constrito a fatalidade de permanecer aquilo que se é. Ele provoca, como em muitos momentos do evangelho, uma revolução silenciosa, capaz de mudar o rumo de uma vida. É possível sempre repensar a resposta. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 30 de setembro de 2023

(Zc 2,5-9.14-15; Sl Jr 31; Lc 9,43-45) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido,

de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de perguntar sobre o assunto” Lc 9,45.

“O anúncio da paixão que se aproximava soou, aos ouvidos dos discípulos de Jesus, como palavras obscuras. Eles se maravilhavam com os feitos de Jesus, manifestações de um poder até então desconhecido. Suas palavras cheias de sabedoria e autoridade não deixavam margem para dúvida: ele só poderia ter vindo de Deus. A maneira lúcida como enfrentava os adversários, impedindo que o enredassem em suas artimanhas, dava margem para nutrirem fundadas esperanças a respeito dele. Por isso, o anúncio de que o ‘Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens’ tomou-os de surpresa. Estavam despreparados para compreender que o caminho de ingresso no Reino passaria, inevitavelmente, pela cruz. Eram incapazes de compreender que o mistério de Jesus, enquanto fundado na dinâmica do Reino, estava fadado a estabelecer uma luta feroz contra seus opositores. E como Jesus se recusaria a lançar mãos de meios violentos para se defender, embora pudesse suplicar a intervenção do Pai, chegaria o tempo em que não teria como se safar da fúria sanguinária de seus inimigos. A compreensão dos discípulos só seria superada se fossem capazes de avaliar os acontecimentos ligados a Jesus, a partir da ótica de Deus. Apegados à sua mentalidade humana, estariam condenados a permanecer na obscuridade. Ainda que interrogassem Jesus e tivessem melhores informações, haveriam de continuar na mesma situação. – Pai, dá-me a graça de considerar a paixão de Jesus a partir de teu modo de pensar. Só então compreenderei que se tratou da prova máxima de fidelidade a ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de setembro de 2023

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51) Santos Miguel, Gabriel e Rafael, arcanjos.

“E Jesus continuou: ‘Em verdade, em verdade, eu vos digo, vereis o céu aberto

e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem’” Jo 1,51.

“São os anjos que louvam continuamente a Deus e ‘participam, do modo que lhes é próprio, do governo de Deus sobre a Criação como ‘poderosos executores das suas ordens’ (Sl 109), conforme o plano estabelecido pela Divina Providência. Os anjos têm por missão cuidar com especial solicitude de todos os homens, em favor dos quais apresentam a Deus as suas súplicas e orações’ (São João Paulo II, Audiência Geral). A sua função como embaixadores de Deus estendeu-se a cada um dos homens, principalmente àqueles que têm como responsabilidade específica no plano salvífico (aos sacerdotes, por exemplo), e a todas as nações. Todos os dias, a todas as horas, no mundo inteiro, ‘no coração da santa missa’, apela-se aos Anjos e aos Arcanjos para cantar glória a Deus. Hoje, é particularmente oportuno considerarmos que a Igreja honra na sua liturgia ‘três figuras angélicas a quem a Sagrada Escritura chama com um nome. O primeiro é o Arcanjo Miguel (cfr. Daniel 10,13.20; Ap 12,7; Jd 9). O seu nome expressa em síntese uma atitude essencial dos espíritos bons: Mica-El significa Quem como Deus?’ O segundo é Gabriel, ‘figura ligada sobretudo ao mistério da Encarnação do Filho de Deus. O seu nome significa: O meu poder é Deus ou Poder de Deus’. Por último, Rafael, cujo nome ‘significa: Deus cura’. Meditando sobre a missão que lhes foi confiada, compreendemos o ensinamento contido na Epístola aos Hebreus: ‘Porventura não são todos esses espíritos ministros de Deus, enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão de receber a herança da salvação?’ (Hb 1,14). A existência dos anjos e a sua proximidade nos nossos afazeres quotidianos movem-nos a pedir com Liturgia da Missa: ‘Ó Deus, que organizais de modo admirável o serviço dos anjos e dos homens, fazei que sejamos protegidos na terra por aqueles que Vos assistem continuamente nos céus’ (Oração de Coleta da missa). Devemos incontáveis ajudas diárias aos nossos Anjos da Guarda, cuja festa celebraremos dentro de uns dias, bem como aos Santos Arcanjos. São uma prova palpável do amor que Deus Pai tem pelos seus filhos. Recorremos a eles com frequência no meio de nossos trabalhos diários? Tratamo-lo com confiança, pedindo-lhes que nos ajudem a servir a Deus e que nos protejam na nossa luta diária? Sentimo-nos seguros na sua companhia ao longo do dia, especialmente quando chega a tribulação ou quando estamos prestes a perder a serenidade e a paz dos filhos de Deus” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 7 – Quadrante).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de setembro de 2023

(Ag 1,1-8; Sl 149; Lc 9,7-9) 25ª Semana do Tempo Comum.

“... mas subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; ela me será aceitável, nela me glorificarei,

diz o Senhor” Lc 9,8.

“O nome Ageu significa ‘aquele que nasceu em dia de festa’. Depois de o édito de Ciro ter concedido aos deportados licença para regressarem à pátria, com a finalidade de reconstruírem o Templo, começou o retorno dos israelitas exilados à Judeia. Mas estes encontraram, ao chegar, uma situação precária, sobretudo porque a maioria dos Judeus que tinham permanecido na terra não os via com agrado. De fato, muitos dos que tinham permanecido, tinham-se apoderado das casas e dos bens dos exilados. Ageu encoraja e ampara Zorobabel e Josué, os responsáveis pelos judeus retornados, na obra da reconstrução do Templo de Jerusalém, o qual foi inaugurado no ano de 515 a.C., pouco mais de vinte anos depois do regresso. [Compreender a Palavra:] O texto não traz a vocação do profeta Ageu, mas subentende-a. Deste profeta, de resto, não sabemos praticamente nada, senão que se identifica completamente com a sua mensagem. A leitura de hoje evidencia a missão principal confiada por Deus a este homem, ligada à reconstrução do Templo, garantia de uma nova habitação de JHWH no meio do seu Povo. Na perspectiva da pregação de Ageu não está o Templo como lugar de sacrifícios, mas como morada do Senhor e, portanto, como lugar de encontro da comunidade com o Deus da Aliança, presente com a Sua graça. O povo diz, ‘Não chegou ainda o tempo de reconstruir o templo do Senhor’, porque somos muito pobres. Mas Ageu responde: Vós sois pobres porque não reconstruís o Templo. Nele, de fato, é possível encontrar o Senhor, que dá alimento a todas as Suas criaturas. O profeta compreende a importância do Templo, enquanto lugar capaz de dar significado à vida de cada um e das comunidades, de restituir a coragem que tinha esmorecido. A sua reedificação pode marcar uma reviravolta na consciência do povo e na capacidade de recuperação, sob todos os pontos de vista” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de setembro de 2023

(Es 9,5-9; Sl Tb 3; Lc 9,1-6) 25ª Semana do Tempo Comum.

“... e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos” Lc 9,2.

“Jesus veio do céu para a terra, a fim de pregar e proclamar o Reino de Deus; entretanto, veio proclamar não só a um grupo reduzido de homens, mas a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares. Daí a necessidade que Jesus teve de prolongar-se no tempo e no espaço, e isto foram e são os seus discípulos do passado e do presente: prolongamento de Jesus no tempo e no espaço. Os discípulos do Senhor imitaram o Mestre, pregaram o que pregava o Mestre e ainda fizeram os mesmos milagres que viram Jesus fazer: ‘Designou doze dentre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviaria a pregar, com o poder de expulsar os demônios’ (Marcos 3,14-15). Na missão dos doze, você deve ver a missão de todos os outros discípulos do Senhor que ao longo do tempo e do espaço são enviados, são os missionários do Reino de Deus. O fato de sentir-se enviado pelo Senhor, de ser missionário do Senhor, deve aguçar sua responsabilidade: você é enviado para alguma coisa. Você cumpre a finalidade de sua missão? Falta-lhe muito ainda para cumpri-la? Porque só então, quando você a cumprir, é que poderá fruir a paz de sua consciência” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de setembro de 2023

(Es 6,7-8.12.14-20; Sl 121[122]; Lc 8,19-21) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus

e a põem em prática’” Lc 8,21

“A presença inesperada da mãe e dos irmãos, seus parentes próximos, ofereceu a Jesus a chance de explicar o tema da ligação entre ele e os discípulos, bem como de repensar a questão dos laços que o ligavam à sua família de Nazaré. Jesus relativizou a vinculação familiar, à base dos laços de sangue. Existe algo mais fundamental que estabelece vínculos profundos com ele, para além do círculo familiar: a escuta e a prática da Palavra de Deus. Portanto, é a vontade do Pai o elo de ligação entre Jesus e os discípulos do Reino. Ele é quem vincula a grande família do Reino, encabeçada por Jesus. E o sinal de que todos pertencem à mesma família é dado pelo modo como agem. Não se trata de genealogias, nem de nomes, e sim da ação compatível com a vontade do Pai. Todos sabem que pertencem à mesma família por terem idêntico modo de proceder. Os irmãos e as irmãs se reconhecem mutuamente pela mesma prática do amor, pela disposição a perdoar e viver reconciliados, pelo desejo de formar comunidade, recusando-se a oprimir e explorar o semelhante. É assim que se comportam os familiares do Mestre. Quanto à mãe de Jesus, ela, mais do que ninguém, sabe ouvir a Palavra de Deus e pautou por essa Palavra toda a sua existência. O novo critério enunciado por Jesus de forma alguma a diminui, antes, confirma-a na sua condição de mãe. Sua fidelidade a Deus foi a toda prova. – Pai, que minha condição de membro da grande família do Reino se expresse no meu modo de proceder. Pela disposição a amar, quero dar provas de ser teu filho” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 25 de setembro de 2023

(Es 1,1-6; Sl 125[126]; Lc 8,16-18) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Quem, dentre vós todos, pertence ao povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele, e que se ponha a caminho e suba a Jerusalém, e construa o templo do Senhor, Deus de Israel, o Deus que está em Jerusalém” Es 1,3.

“No começo do Livro de Esdras, que constituía leitura de hoje, é transcrito o édito de Ciro, com o qual se põe ponto final ao período do exílio dos hebreus em Babilônia, e lhes é concedida a possibilidade de regressar à pátria e de reconstruir o Templo, símbolo da sua fé e do culto. As palavras de Ciro não devem ser entendidas como a sua conversão a JHWH. Trata-se de uma legitimação do culto de um povo súdito, ditada sobretudo por oportunidades políticas. O versículo 4-6 narram a partida dos hebreus para regressarem à pátria, com tonalidades que lembram a saída do Egito, aquando do êxodo. [Compreender a Palavra:] A história do Livro de Esdras é não só narrada, mas também interpretada à luz da fé no Senhor. Isto sobressai claramente a partir do primeiro versículo do Livro, no qual se dão as coordenadas teológicas em que se coloca tudo o que depois será narrado: ‘... para se cumprir a palavra do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias...’ A maioria da população de Judá não foi deportada para a Babilônia. Depois do exílio, o impulso para a renovação foi dado precisamente pelos exilados regressados à pátria. O decreto de Ciro, incluído neste texto, recorda que a dominação persa (539-331 a.C.) foi entendida por Israel como uma libertação, ao invés da dominação babilônica. Segundo o historiador judeu, não foi Ciro, mas sim a palavra inspirada do profeta Jeremias (cf. v.1) que deu origem a libertação. Através dessa palavra, Deus age sobre Ciro, o qual permite o regresso dos deportados à pátria e a reconstrução do Templo” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

25º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 55,6-9; Sl 144[145]; Fl 1,20-24.27; Mt 20,1-16)

1. Acompanhamos a parábola do patrão que contrata operários em horas diversas, mas ao fim do dia paga a todos o mesmo valor. E aqui já começa a dificuldade do leitor de entende-la e as perguntas brotam: é aceitável o modo de proceder do dono da vinha? Não estaria sendo injusto? Os sindicalistas certamente não aprovariam tal atitude.

2. A dificuldade nasce de um equívoco: não prestamos atenção a introdução: Jesus está falando do Reino dos Céus, da possibilidade de fazer parte da salvação por Ele trazida e cujas obras geram tal recompensa. É esse o tema que está no centro da nossa narrativa.

3. Também a parábola discute a posição entre judeus e pagãos, ou dos justos e dos pecadores com relação a salvação anunciada por Jesus. É como se os pecadores, que diante da pregação de Jesus se aproximaram dessa realidade, fossem considerados cidadãos de 2ª categoria.

4. Os pecadores mostraram uma abertura maior ao Evangelho do que os ditos ‘justos’ (fariseus e escribas) e assim entendemos a conclusão da parábola: ‘Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos’. Uma vez abraçada a fé, se percebe a diversificação de posições.

5. É preciso que tomemos o cuidado de não interpretarmos de maneira superficial julgando que é idêntica a sorte de quem serviu a Deus por toda uma vida ‘suportando o cansaço e o calor do dia’, como diz a parábola, de quem lhe oferece as migalhas de uma existência, de qualquer modo, num último momento.

6. Se Jesus nos descrevesse o que aconteceu no dia seguinte quando os operários já conheciam o caminho para a vinha, certamente a conclusão seria bem diferente e a recompensa não seria a mesma.

7. Isto posto, podemos voltar ao ensinamento principal dessa parábola: Deus chama a todos e chama a toda hora. E isso não diz respeito tão somente às vocações religiosas e sacerdotais, mas se estende a todos. O mais importante é o chamado, não tanto a recompensa.

8. Um leigo, em sua vocação pessoal também pode se colocar a serviço da Igreja e da evangelização, não só naquilo que chamamos engajamento pastoral, mas particularmente na sua inserção no mundo, nas realidades temporais. Ele deve santificar-se no ordinário de sua vida profissional e social, ensinava São João Paulo II, na sua exortação sobre a ‘vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo’ (Christifideles laici).

9. Há um elemento marginal nessa parábola que se faz presente de um modo mais acentuado nos últimos anos que é a questão do desemprego. Nas diversas horas que o patrão sai ele sempre encontra ‘desocupados’. Toda a parábola é inspirada, mesmo na linguagem, na vida e nos problemas decorrentes do desemprego.

10. ‘Porque ninguém nos contratou’ pode ser a resposta carregada de tristeza de milhões de desempregados. Parece que essa realidade não escapava ao olhar de Jesus em seu tempo. Suas histórias estão carregadas de vida e suas problemáticas.

11. Isso nos leva a olhar de outra maneira o gesto do patrão que pagando o mesmo a todos, reconhece que independente da hora que chegaram, todos têm as mesmas necessidades de sobrevivência. A questão aqui não é o mérito, mas a necessidade. Pensemos em quantos desempregados têm uma família para manter, ou mesmo a um jovem que busca uma chance de entrar no mercado de trabalho.

12. Um emprego seguro se tornou um dos bens mais preciosos. Há quem tenha vários empregos por necessidade, outros por ganância. São Francisco de Assis, que vivia de esmolas, não aceitava mais que o necessário, para não ‘tornar-se um ladrão de esmolas’, dizia ele.

13. Sei que essas poucas palavras não mudam a situação dramática de milhões de desempregados. E queremos rezar por todos eles nessa manhã, que possam ouvir também o convite a trabalharem, a se ocuparem, com o devido ganho. E não esqueçamos que somos todos chamados a trabalhar na vinha do Senhor, pela recompensa eterna. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de setembro de 2023

(1Tm 6,13-16; Sl 99[100]; Lc 8,4-15) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Guarda o teu mandamento íntegro e sem macha até a manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo” 1Tm 6,14.

“O responsável da comunidade, como de resto qualquer cristão, é chamado a viver o seu compromisso de fidelidade total a Deus Pai durante toda a vida; até a aparição de Jesus e à sua manifestação final. Para manter viva essa fidelidade, Paulo conclui a Primeira Carta a Timóteo com uma doxologia, composta por sete versos que recordam a doxologia inicial, mais breve (cf. 1Tm 1,17): nela celebra o senhorio único e universal de Deus, a Sua plenitude de vida e de luminosidade. A ele devem ser atribuídos a honra e o poder. [compreender a Palavra]: Paulo ordena solenemente a Timóteo que ‘guarde o mandamento do Senhor sem mancha e acima de toda a censura’ (v. 14). Com esta expressão indica as responsabilidades do serviço que Timóteo deve exercer perante uma comunidade nem sempre fácil, e o compromisso de permanecer fiel à doutrina da gratuidade absoluta do dom de Deus e da Sua misericórdia sem limites, que salva e vem ao nosso encontro, mesmo no nosso pecado. Paulo adverte-o que coloque toda a sua vida à disposição do Senhor e mantenha firme a sua fidelidade no serviço, em qualquer circunstância, mesmo perante um eventual martírio. Todos somos chamados a perseverar no amor de Deus e a comprometer-nos na Igreja e no mundo, até o momento em que Jesus Se manifestar plenamente. A doxologia final, que pode ter sido composta antes da Carta, proclama a grandeza de Deus: o nosso coração é elevado até ao Deus invisível e misterioso, o qual, no entanto, continua presente na nossa vida” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de setembro de 2023

(1Tm 6,2-12; Sl 48[49]; Lc 8,1-3) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado

e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas” 1Tm 4,12.

“Já dizia um poeta: ‘Viver é lutar’. Ora, fé é vida. Sendo assim, nada mais natural ser a fé uma constante luta, um combate incessante não apenas contra aquilo que a ameaça, mas também a favor daquilo que a fé tem como objetivo neste mundo: a prática do amor, da justiça etc. O jovem Timóteo, ao receber essa epístola do seu mentor, Paulo, com certeza, não a recebeu unicamente para si. Evidente, era para ele, cura d’almas de uma congregação cristã, em primeiro lugar, mas deve ter observado: não é isso que eu, Paulo, e os demais pregadores anunciam a todo mundo? Em que, pois, sou diferente do cristão comum? Na verdade, nada, meu caro Timóteo. Tu és um cristão como qualquer outro. Deves ter a mesma fé e o mesmo zelo pela sua conservação. E a tua vida viverás como uma pessoa que tem perante si a própria vida eterna. Reflitamos, porém, um pouco no que é essa tal de vida eterna. Como o nome indica, é a vida plena, bem-aventurada, que nunca termina. É uma vida absoluta. Frente a ela, tudo mais se relativiza. Vamos, então, relativizar o mundo e a nossa existência atual? Não. De modo algum. A vida eterna é um tempo futuro. Mas também um tempo já presente porque é o tempo vivido na presença de Deus. É, por isso, um tempo fora do tempo, é o tempo de Deus que premia tudo. – Senhor Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, vivemos numa dupla dimensão de tempo, o que muito nos angustia. Por um lado, vivemos na expectativa e contemplação da vida eterna, já aqui e no futuro. Por outro, vivemos o ramerrão do dia a dia cheio de angústias e infortúnios. Faze-nos escolher a dimensão correta para a nossa vida aqui, que é o tempo contigo. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 21 de setembro de 2023

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19ª]; Mt 9,9-13) São Mateus, apóstolo.

“Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz” Ef 4,3.

“O texto bíblico de hoje pertence à Carta de Paulo aso Efésios (Ef 4,1-13). Encontramos nesses versos uma exortação para o cultivo da paz e a busca da unidade. A princípio, isso pode aparecer um pedido apenas para que sejamos bons uns com os outros, a fim de criar um ambiente melhor para todos. Em parte, é isso mesmo, até porque Paulo pede para que sejamos mais humildes, amáveis e pacientes uns com os outros; porém, não é só isso. Na verdade, Paulo está preocupado com a unidade do Corpo de Cristo; ele está lembrando aos irmãos de Éfeso qual é o verdadeiro sentido de ser Igreja, de fazer parte da Igreja de Cristo; não é por um simples acaso que ele fala de um só corpo e um só Espírito, uma só fé e um só batismo. Como Paulo mesmo nos ensinou, nós, os batizados, somos os membros de um corpo – a Igreja – cuja cabeça é Cristo. Ou seja, estamos todos ligados a Cristo e, por causa dele, estamos profundamente ligados uns aos outros. A unidade desse corpo, por sua vez, encontra sua origem no Deus Uno e Trino – um Deus que, desde sempre e para sempre, é pura comunhão, puro relacionamento. Como disse um conhecido teólogo, nosso Deus não é solidão, e também não nos criou para a solidão. Nosso Deus é um Deus de amor, de comunhão, e para o amor e a comunhão Ele nos criou. Paulo, portanto, está recordando aos irmãos de Éfeso que a comunhão deve ser a meta de todas as comunidades cristãs. Devemos esforçar-nos para que esse sonho se concretize, evitando também tudo aquilo que possa gerar desunião. Como arremata Paulo, de forma belíssima: A meta é todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é plenitude de Cristo (Ef 4,13) – Que todos sejamos um, ó Deus, como Tu e o Cristo eram um; e o teu Espírito sempre nos acompanhe, para que sejamos perfeitos na unidade (cf. Jo 17). Amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de setembro de 2023

(1Tm 3,14-16; 110[111]; Lc 7,31-35) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘Ele é um comilão e beberão,

amigo dos publicanos e dos pecadores!’” Lc 7,34.

“Jesus veio para salvar os homens, por isso quis assemelhar-se ao homem em tudo, menos no pecado, como diz São Paulo. Jesus tinha de apresentar-se perante nós como modelo e exemplo em todas as circunstâncias. Jesus comia e bebia, equiparava-se aos homens; não só jejuava, porque sabia que o homem sim é que necessita do jejum como ato de penitência, necessita também alimentar-se para poder cumprir todas as suas obrigações a ele impostas por Deus, por seu modo de ser pela própria sociedade. Isso deve levar você à seguinte reflexão: como ser humano que é, você tem suas necessidades humanas – comer, beber, dormir, descansar, divertir-se –, e como ser humano insere-se em uma sociedade familiar e civil, constituída por todos aqueles que o rodeiam em sua vida diária, em seu trabalho, no exercício de sua profissão. Tudo isso faz surgir uma série de deveres e obrigações que você precisa cumprir com todo cuidado. Não tem importância se os outros interpretam mal o que você faz. Você atua não porque o interpretem bem ou mal, mas para cumprir sua obrigação, que, em último caso, é uma obrigação para com o próprio Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de setembro de 2023

(1Tm 3,1-13; Sl 100[101]; Lc 7,11-17) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Pois os que exercem bem o ministério recebem uma posição de estima

e muita liberdade para falar de fé em Cristo Jesus” 1Tm 3,13.

“Como dissemos anteriormente, a carta a Timóteo reflete o cotidiano das comunidades cristãs já mais próximas do final do primeiro século da era cristã. Nesse momento da história, a fé cristã tinha se espalhado por inúmeros lugares e, para continuarem vivas e levarem adiante o anúncio do Evangelho, as comunidades começaram a se organizar. E aqui está outra chave para a compreensão dessa carta: com a organização das comunidades, começam a surgir as primeiras orientações, as primeiras regras. O texto de hoje (1Tm 3,1-13), por exemplo, fala dos critérios para a escolha e admissão de novos ministros. Eu não sei, caro leitor, se você exerce algum serviço ou algum ministério na sua comunidade religiosa. Caso você exerça, considere os critérios que o texto bíblico apresenta: ser ajuizado, equilibrado, educado, acolhedor, capaz de ensinar ou de partilhar o que já aprendeu, não dado à bebida, nem briguento, nem interesseiro, mas sim indulgente, amoroso e pacífico. Pergunte a você mesmo, ou você mesma, se a sua vida condiz com esses critérios, se é com sinceridade e amor que vive a sua missão. Qualquer que seja a resposta, aproveite e peça a Deus a graça de viver cada vez mais com coerência a fé que você professa. Como você sabe, nós que estamos à frente da comunidade temos que ser, o quanto possível, irrepreensíveis em nossa conduta. Nosso exemplo pode aproximar ou afastar as pessoas, fortalecer ou enfraquecer uma comunidade. Caso você não exerça algum serviço na comunidade, reze por aqueles que trabalham e servem em todas as comunidades. Peça a Deus que conceda a todas essas pessoas aquelas qualidades e aquela sabedoria que Paulo tão bem indicou. – Concede sabedoria, Senhor, aos teus servos e à tua Igreja. Ajuda-nos a ser dignos do teu nome e do teu Evangelho. Ajuda-nos a ser mais fiéis ao teu amor e ao teu chamado. Amém” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de setembro de 2023

(1Tm 2,1-8; Sl 27[28]; Lc 7,1-10) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito e que estava doente,

à beira da morte” Lc 7,2.

“O oficial romano, apesar da sua patente militar, a mais alta graduação nas províncias romanas, deu provas de possuir duas virtudes importantes: mostrou-se benevolente e humilde. Por isso, apesar de pagão, tornou-se um exemplo para os discípulos. A benevolência desse oficial expressa-se no trato com o seu servo e no trato com os judeus. Preocupou-se com um empregado que estava para morrer, pois ‘lhe tinha grande apreço’. A atitude mais comum de um patrão em relação ao seu empregado é a indiferença, pois a situação do servo não lhe interessa. Entretanto, o oficial romano não agiu assim. Sua preocupação levou-o a buscar ajuda junto a Jesus. Servindo-se da mediação da liderança judaica, mandou um recado ao Mestre, o qual se predispôs a ir curar-lhe o servo. A cura desejada aconteceu. O argumento que os anciãos dos judeus encontraram para convencer Jesus a atender o pedido do oficial romano fundou-se exatamente no relacionamento bondoso que tinha com eles. ‘Ele merece que lhe concedas este favor, pois ama o nosso país e foi quem construiu a nossa sinagoga’. Embora a serviço dos opressores romanos, esse oficial sabia tratar bem os judeus. Sua humanidade ficou patente ao reconhecer sua pequenez diante de Jesus e confessar-se indigno de recebê-lo em sua casa. Seu poder de oficial militar nada significava, se comparado com o de Jesus. Bastaria que, de longe, dissesse uma palavra para curar-lhe o servo. – Pai, dá-me um coração misericordiosos e humilde que me eleve a compadecer-me do meu semelhante” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

24º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Eclo 27,33—28,9; Sl 102[103]; Rm 14,7-9; Mt 18,21-35)

1. O tema do perdão está no centro da nossa reflexão. À pergunta de Pedro, Jesus responde com um simbólico número que quer dizer: sempre. O perdão é uma coisa séria, humanamente difícil, para alguns, impossível. Não podemos falar de forma rápida, sem levarmos em conta o que se pede àquele que foi ofendido. Ao pedido de perdoar é preciso acrescentar um motivo para que o faça. 

2. É isso que faz Jesus ao contar a parábola que se segue. Dela concluímos claramente que devemos perdoar porque Deus perdoou e perdoa a nós. O próprio Jesus não se limita a mandar-nos perdoar, Ele o fez primeiramente quando estava pregado na cruz. O ato mais heroico sobre a face da terra.

3. Jesus não só perdoa, mas até justifica. Assim fazendo não nos dá tão somente um exemplo sublime de perdão, mas concede a graça de perdoar. Nos proporcionando uma força e uma capacidade nova, que não vem da natureza, mas da fé.

4. Assim, Cristo não se limita a acrescentar uma via de perfeição, ele nos dá a força para percorre-la. Não manda tão somente que a façamos, mas faz conosco. Para superarmos a lei do ‘olho por olho e dente por dente’, o critério não é mais aquilo que o outro me fez, mas o que farei por ele.

5. Aquilo que Deus fez a você, faz você pelo outro. Neste sentido, o perdão cristão vai além do princípio da não-violência ou do não-ressentimento budista. Por isso mesmo, é preciso ir devagar no exigir a prática do perdão àqueles que não codividem a nossa fé. Isso não é algo que brota da lei natural ou da simples razão humana, mas do Evangelho.

6. Nós devemos nos preocupar em praticar o perdão, mais que exigir que os outros o façam. Devemos mostrar com os fatos que o perdão e a reconciliação é – também humanamente e politicamente falando – a via mais eficaz para por fim a certos conflitos. Mais eficaz que toda vingança e represália, porque quebra a corrente do ódio e da violência não lhe acrescentando um novo elo. 

7. Poderíamos nos perguntar: perdoar assim, como nos indica Jesus, não seria encorajar a injustiça e deixar um caminho livre à prepotência? Não, o perdão cristão não exclui que se possa também, em certos casos, denunciar a pessoa e leva-la diante da justiça, sobretudo quando está em jogo os interesses dos outros.

8. Mas aqui não se trata só dos grandes perdões, em situações trágicas, mas também o perdão de cada dia: na vida a dois, no trabalho, entre parentes, entre amigos, colegas, conhecidos.

9. Casais que experimentaram a traição do cônjuge se perguntam se é possível perdoar ou é melhor separar-se? Algo delicado, que nenhuma lei externa pode reger. A pessoa deve descobrir em si mesma que coisa deve fazer. A parte ofendida pode encontrar forças na oração e na certeza de que a outra parte está sinceramente arrependido. Um matrimônio pode renascer das cinzas, mas não se pode pretender aqui um ‘setenta vezes sete’.

10. Alguns querem perdoar, mas não conseguem esquecer. A presença do outro lhe faz reviver o ocorrido. Cada um reage a seu modo. Mas o importante aqui não é o que se sente, mas o que se quer. Se quer perdoar, se o deseja, há já perdoado. A força que buscamos não está em nós mesmos, mas em Cristo Jesus.

11. Não caiamos na armadilha de achar que somos nós que sempre temos algo a perdoar aos outros. Lembremos que também nós precisamos ser perdoados pelos outros. Mais importante que perdoar, é pedir perdão.

12. Jesus resume seu ensinamento sobre o perdão nas poucas palavras que inseriu na oração do Pai-nosso, para que recordássemos sempre: ‘perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’. Esforcemo-nos por perdoar quem nos ofende, caso contrário, cada vez que pronunciarmos essas palavras, estamos pronunciando nossa própria condenação ou ao menos o nosso fracasso.    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de setembro de 2023

(1Tm 1,15-17; Sl 112[113]; Lc 6,43-49) Santos Cornélio e Cipriano, papa e bispos mártires.

“Por que me chamais: ‘Senhor! Senhor!, mas não fazeis o que eu digo?” Lc 6,46.

“É inútil o discípulo fazer sua confissão de fé e proclamar ‘Senhor, Senhor’, quando sua vida destoa deste testemunho de adesão a Jesus. De nada vale o palavreado vazio sem o respaldo das boas obras. A sua condição de discípulo revela-se com gestos concretos de amor e misericórdia no trato mútuo, de modo especial com os mais pobres. Jesus ofereceu um critério de discernimento, útil para distinguir os verdadeiros dos falsos profetas e líderes da comunidade. Servindo-se de linguagem metafórica, formulou-o assim: a qualidade da árvore é conhecida pela qualidade de seu fruto. Os frutos bons provêm de árvores boas. Pelo contrário, as árvores ruins produzem frutos ruins. Aplicado ao discipulado cristão e à liderança eclesial, significa que a bondade ou a maldade dos discípulos e dos líderes manifesta-se não pelo que dizem, mas pelo que fazem. Se a vida deles for um testemunho inequívoco de amor solidário aos demais, pode-se dar crédito aos seus ensinamentos e segui-los. Mas urge acautelar-se dos indivíduos que se mostram pródigos no falar e parcos no fazer, ou então, pregam o amor e são opressores do próximo; ensinam a justiça e se destacam por serem injustos; exigem solidariedade e partilha e se fecham egoisticamente em torno do que acumularam; proclamam o valor do perdão, mas cultivam no coração o ódio e o rancor. – Pai, desejo viver com coerência minha fé. Seja o meu agir uma expressão transparente de minha adesão ao Senhor, e o meu amor, uma prova de que sou teu filho (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de setembro de 2023

(Hb 5,7-9; Sl 30[31]; Jo 19,25-27) Nossa Senhora das Dores.

“Perto da cruz de Jesus estavam de pé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena”

Jo 19,25.

“O novo calendário romano, em sintonia com a Constituição sobre a Igreja do Concílio Vaticano II, enfatizou o papel de Maria na redenção, no tocante a sua particular dependência do Filho. Mesmo a festividade deste dia segue essa diretiva conciliar, propondo a nossa reflexão o momento que resume a indizível dor de uma paixão humana e espiritual única: a conclusão do sacrifício de Cristo, cuja morte na cruz é o ponto culminante da redenção e da ‘co-redenção’ de Maria, uma vez que, como mãe, ela vive na própria alma os sofrimentos do Filho.  A teologia e a piedade cristã na Idade Média puseram em relevo a Paixão de Cristo e a compaixão de Maria, o Homem das dores e a Dolorosa. O ‘Stabat Mater’, de Tiago de Todi, é o exemplo mais notável. A lírica intensidade deste ‘Pranto’ comoveu gerações no devoto exercício da via crucis. A devoção a Nossa Senhora das Dores fixou, simbolicamente, em sete as dores da co-redentora, segundo outros tantos episódios narrados no Evangelho: a profecia do velho Simeão (uma espada transpassará a alma); a fuga para o Egito; a perda de Jesus aos 12 anos, durante a peregrinação a Jerusalém; a caminhada de Jesus até o Gólgota; a crucifixão; a deposição da cruz e a sepultura. A ordem dos Servos de Maria, que inicialmente tinha como nome Companhia de Maria das Dolorosa, obteve em 1667 a aprovação das celebrações litúrgicas das sete dores de Maria, que Pio VII inseriu no calendário romano, colocando-a no terceiro domingo de setembro. São Pio X fixou a data em 15 de setembro e o novo calendário litúrgico, embora reduzindo a celebração a simples memória, conservou-a com a denominação mais apropriada de Nossa Senhora das Dores, enfatizando a co-participação da mãe nas dores do Filho crucificado e no mútuo amor sacrificial e sofredor de Jesus e Maria” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de setembro de 2023

(Nm 21,4-9; Sl 77[78]; Jo 3,13-17) Exaltação da Santa Cruz.

“Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto,

assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado” Jo 3,14.

“Para João, a salvação consiste, sobretudo, na cura de nossas feridas e na transformação da morte. Quem olhar para o Jesus levantado na cruz, e crer nele, terá a vida eterna (3,15). A chave para a verdadeira vida está em encarar a verdade: ‘O reconhecimento da verdade, mesmo que esta seja trágica, tem sempre um efeito libertador. Friedrich Nietzsche observou que a capacidade de conviver com a tragédia não é um sinal de fraqueza, e sim de força’ (LEONG, 2000, p. 88). A imagem do Filho do Homem a ser levantado como a serpente pede-nos, segundo a opinião do mestre zen Leong, que ‘superamos o grande número de componentes da vida, afirmando a nossa humanidade apesar de todas dificuldades’ (ibid.). A redenção consiste justamente nisso: que tenhamos a coragem de encarar na cruz a tragédia da vida humana. Só assim ela pode ser mudada. Só assim podemos viver a nossa vida, sem precisar desviar o olhar de seus lados obscuros e destrutivos” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de setembro de 2023

(Cl 3,1-11; Sl 144[145]; Lc 6,20-26) São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja.

“Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele,

revestidos de glória” Cl 3,4.

“Aos olhos humanos, ele foi apenas um homem. Porém, em toda a sua existência terrena, do nascimento à terrível morte na cruz, Ele ultrapassou de tal modo as dimensões do humano, que abriu para nós uma porta e nos deixou entrever a transcendência da existência humana (cf. Rudolf Schnackenburg). É verdade que Ele foi um sinal de Deus nesse mundo; mas é verdade, também, que Ele foi um sinal do verdadeiro humano, do humano plenamente realizado, do humano embebido de graça e beleza divinas. Com a sua humanidade, Ele nos fez perceber a profundidade e a riqueza da existência humana. Com a sua humanidade, ele mostrou como é o verdadeiro humano criado à imagem e semelhança de Deus. Mais ainda. Com a sua ressurreição, Ele mostrou para qual realidade nós fomos chamados. Tem razão aquele apresentador de TV quando diz que nós, humanos, somos ‘mal-acabados’. De fato, ainda não somos aquilo que Deus sonhou para nós. Ainda não alcançamos aquela beleza e aquela graça para a qual fomos chamados. Agora, porém, já não temos mais desculpas. Jesus é nosso modelo, o exemplo que podemos e devemos imitar. Por tudo isso é que Paulo nos diz que a ‘nossa vida está escondida com Cristo em Deus’. Por isso Paulo nos exorta a abandonar os vícios de uma humanidade decaída e a abraçar cada vez mais as virtudes de uma nova humanidade, de uma humanidade que se espelha em Cristo e nele busca sua inspiração e sua renovação (Cl 3,1-11). Portanto, não percamos mais tempo. Em Cristo uma nova vida está a nossa disposição – uma vida transfigurada pelo amor divino e pela força do Ressuscitado. – Criaste-nos a tua imagem e semelhança; queria-nos transparentes para a tua graça e o teu amor; o pecado, porém, tornou-nos opacos e assim repercutimos a tua glória. Agora, pois, pedimos: socorre-nos, Senhor! Ajuda-nos para que sejamos verdadeiramente imagens da tua beleza e da tua bondade. Amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de setembro de 2023

(Cl 2,6-15; Sl 144[145]; Lc 16,12-19) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite em oração a Deus” Lc 6,12.

“A vida de Jesus foi de uma atividade fora do comum, de um apostólico dinamismo inalcançável por nós e, no entanto, apesar de tudo isso, Jesus ‘passava a noite em oração a Deus’, e Jesus não fez isso só uma vez, de quando em quando, algo assim como às vezes nós fazemos por exemplo uma ‘noite heroica’ por um motivo ou por outro. O evangelho repete-nos, várias vezes, que Jesus ‘passava a noite em oração’, ou ‘retirava-se numa montanha para orar’. Você deve orar como uma exigência íntima de seu próprio coração; não suspenda o tempo que deve destinar à oração, mesmo que seja com o pretexto do apostolado; aprenda a deixar os homens por Deus, para que em seguida você possa dar Deus aos homens. Não caia no erro nefasto de pensar que tudo que se faz a Deus é oração e, assim, lançar-se a um torvelinho de coisas que não deixam tempo nem apetência para a oração. Tudo o que se faz por Deus será oração, se verdadeiramente se faz por Deus; mas não poderá fazer-se verdadeiramente por Deus, se, antes de realizar a ação, não se lhe tiver dado vida por meio da oração. De tudo isso você pode deduzir que a oração, mais que um ato, um momento, uns minutos, é um ambiente no qual se deve desenvolver a atividade do homem cristão; é a respiração da alma que não pode ser suspensa, que em seu espirar e inspirar tem Deus presente, é olhar fixamente e com doçura o rosto de Deus, e não tirar a vista dele em nenhuma circunstância, por mais amarga e contrária seja. Porém, se a oração é um ambiente, o ato e o exemplo que Jesus nos dá de afastar-se para orar, convence-nos de que é preciso destinar à oração determinados momentos no dia e na semana, nos quais você se dedique à oração, à meditação da palavra de Deus de um modo exclusivo e de um modo intensivo; devem ser os momentos fortes de sua vida nos quais você viva suas relações com Deus de modo consciente, profundo e intenso. Quanto maiores forem os problemas que o/a preocupem e as angústias que o/a façam sofrer, tanto mais deve rezar e tanto melhor deve ser sua oração. Seja uma pessoa que se dedica à oração e você será uma pessoa espiritual” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de setembro de 2023

(Cl 1,24—2,3; Sl 61[62]; Lc 6,6-11) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja” Cl 1,24.

“Todo mundo sofre. Sofre por si mesmo. É doença. Pancada. Pobreza. Fome. Desilusão. Velhice. Decrepitude. Angústia pela vida a se escoar em dias e anos. Mas há também um sofrer pelo outro. E esse tipo de sofrimento se torna insuportável porque é ver uma tragédia sem nada poder fazer para evita-la. É a mãe, por exemplo, que vê o filho se desmanchar nas drogas ou na sua pura ausência de juízo. É o pai que vê o filho desperdiçar talento em coisas de pouco ou nenhum valor. Por isso, não causa estranheza um homem como Paulo, o Apóstolo, sofrer como as pessoas a quem havia pregado o Evangelho. De fato, ele tinha inúmeros motivos para sofrer não só em decorrência de si próprio como também em decorrência da situação em que se achavam seus filhos espirituais. Embora fosse aparentemente mais fácil crer naqueles tempos, pois as religiões pululavam, na verdade não era fácil porque a mensagem cristã trazia componentes diferentes: rejeitava o politeísmo e, principalmente, recusava o culto ao imperador. Além do mais, colocando o escravo no mesmo nível do seu dono, solapava o modo de produção daquela época, todo ele baseado na escravidão, a qual tinha como justificativa ideológica a opinião de ser o escravo um ser inferior, um instrumento capaz de falar. Juntando isso a lembrança pessoal de haver sido ele próprio um perseguidor da Igreja cristã, Paulo não só podia imaginar a angústia dos seus paroquianos como ainda sofrer por eles numa escala tão grande que seria como um sofrimento redentor. – Senhor Jesus, faze-nos ter a solidariedade e compaixão do Apóstolo Paulo para de fato nos importarmos com os sofrimentos dos nossos irmãos ao redor do mundo, que estão sofrendo por causa da confissão de teu nome, a fim de realizarmos ações concretas para ajuda-los. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite