Segunda, 31 de dezembro de 2018


(1Jo 2,18-21; Sl 95[96]; Jo 1,1-18) 
Oitava de Natal.

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus” Jo 1,1.

“O prólogo do Evangelho de São João é incontestavelmente a mais profunda das páginas da história que jamais foi escrita. Os maiores gênios se esforçaram por penetrá-la... E, no entanto detiveram-se no primeiro limiar do abismo que contemplava São João. E pode-se dizer que ele mesmo, o discípulo amado, cujo olhar de águia passara a vida face a este abismo, pode-se dizer que tenha ultrapassado a beira desse abismo? Convém lembrarmos sempre disso quando lemos a Sagrada escritura e principalmente este prólogo do quarto evangelho onde mais contemplativo – por ser o mais amante – dos escritores sagrados, resumiu em algumas linhas preliminares a história daquele que era ‘Luz e Vida’. Estas linhas são apenas uma veste humana, veste curta demais – inexprimivelmente curtas demais – de realidades que ultrapassam a todos para sempre. Quando as meditarmos longamente com toda a alma e durante toda a vida, as perspectivas que elas abrem se estendem cada vez mais, e, numa luz cada vez mais intensa – tão fresca e sempre tão jovem – revelam um mundo que se desdobra além de tudo o que se vê e de tudo o que se diz. É a alegria – às vezes inebriante, sempre suave e incomparável – desta meditação: o que ela dá nada é; o que promete é muito mais: ‘Os que me comem terão sempre fome, os que me bebem terão sempre sede’ (Eclo 24,21). Isso é profundamente verdadeiro. Deus, sua verdade, sua vida, sua beleza, toda sua plenitude sem nome que nossas palavras se esforçam em vão por traduzir, é um alimento que nutre sem saciar. São João, no início do seu Evangelho, nos coloca imediatamente nessas alturas, em face do Verbo, daquele que era quando tudo começou, por quem tudo começou. Ele tem razão: tal é Jesus, antes de tudo. É nessa luz somente que se percebe bem isso: ‘Luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a esse mundo’ (Jo 1,9). Foi para contemplar essa luz que Jesus convidou o discípulo bem-amado acompanhado por André desde a primeira entrevista. ‘Mestre, onde habitas?’ (Jo 1,38) perguntaram-lhe os dois discípulos de João Batista ao quais o Precursor havia dito, mostrando-o: ‘Eis o Cordeiro de Deus’. – ‘Vinde e vede’, respondera simplesmente o Senhor. E ele os levara consigo. Onde habitava ele? O evangelista no-lo diz. Sua verdadeira resposta está contida na primeira palavra do seu Evangelho. A habitação de Jesus, é o Verbo; nele foi são João introduzido desde o primeiro dia. E aí permaneceu. E é até aí que ele nos conduz por sua vez. Sigamo-lo e permaneçamos aí com ele” (A. Guillerand – No Limiar do Abismo de Deus – Benedettine di Priscilla – Roma).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sagrada Família – Ano C


(Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Lc 2,41-52).

1. No mistério do Natal não ficamos na simples contemplação dessa entrada de Jesus no mundo, ou no dizer de João evangelista, de novo modo de se fazer presença. Em cada cena de sua infância se esconde o mistério de toda uma vida que precisamos prestar atenção.

2. O evangelho do ano C pode ser lido de diversos ângulos, por exemplo, num tom mais familiar, olhando a obediência de Jesus a seus pais, mesmo que esses não o compreendam, e assim fazer uma ligação com os textos que precedem o evangelho e tocam na questão das relações e da caridade vivida entre os membros de uma família ou comunidade de fé.

3. Talvez pudéssemos considerar o fato do Menino desde já demonstrar-se bastante prodigioso. Mas tudo isso nos deixaria na superfície, pois o verdadeiro significado do episódio está na revelação da identidade de Jesus e do caminho que Ele deveria percorrer.

4. É no diálogo entre a Mãe e o Filho que vamos encontrar tal significado. Enquanto Maria pensa em José como pai de Jesus, Jesus pensa em seu Pai, o próprio Deus. Nesse contraste significativo, Jesus revela e a firma a sua divindade e a sua obediência sem reserva a Deus e nas coisas que Lhe diziam respeito.

5. Seus pais não entenderam, nos diz Lucas, e certamente não poderiam entender o que se revelaria tempos depois. Esse ‘devo estar na casa do Meu Pai’, na Sua presença ou em obediência, só se revelará na Cruz.

6. É nessa incompreensão que se abre para Maria o espaço do caminho na fé. Se Isabel a reconhece como aquela que acreditou, ela é também aquela que não compreende. E aqui não há contradição. Lucas sabe que a fé não barra o caminho, mas abre-o.

7. Sabemos que a vida de Maria foi uma espécie de passagem da maternidade para o discipulado, de uma maternidade física para uma maternidade vivida cada vez mais espiritualmente. Sua maternidade foi um processo em constante evolução. Assim ela parece como modelo de uma fé firme e inspiradora, em meio as mudanças.

8. Como qualquer crente e qualquer discípulo, ela teve que fazer um itinerário, nos lembra o Vaticano II, seguindo o próprio Filho, descobrindo-O entre a glória e a fraqueza. Não haveria um outro modo de conhecer realmente quem era Aquele garoto que se revelava com ares de mestre.

9. Não podemos esquecer que “a fé não exige que se compreenda tudo imediatamente, mas que se conserve tudo, como fez Maria. Não se podem conservar algumas palavras de Jesus e outras não, alguns gestos e outros não.

10. Não bastam milagres para compreender quem é Jesus, nem bastam os discursos, nem basta a Cruz por si só. O mistério revela-se a partir do conjunto, não de pormenores isolados. A história de Jesus deve conservar-se na sua integridade, senão corre-se o risco de não se compreender” (Giuseppe Casarim – Lecionário Comentado – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Oração- Festa da Sagrada Família
Santa Maria de um amor maior,
Do tamanho do Menino que levas ao colo,
Diante de ti me ajoelho e esmolo
A graça de um lar unido ao teu redor.

Protege, senhora, as nossas famílias,
Todos os casais, os filhos e os pais,
E enche de alegria, mais e mais e mais,
Todos os seus dias, manhãs, tardes, noite e vigílias.

Vela, senhora, por cada criança,
Por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,
A todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,
E deixa em cada rosto um afago de esperança.
Amém!

Sábado, 29 de dezembro de 2018


 (1Jo 2,3-11; Sl 95[96]; Lc 2,22-35) 
Oitava de Natal.

“Naquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado” 1Jo 2,5a.

“As pessoas inteligentes sempre buscam melhorar. A ideia é esta: a cada ano que passa, dentro dos nossos projetos, procuramos subir mais um degrau e aos poucos vamos conquistando experiência. Muitos buscam a perfeição, algo impossível, pois atingir a perfeição é sempre mais complicado e praticamente impossível. Mas sabemos que vamos nos aperfeiçoando aos poucos, à medida que nos esforçamos e buscamos as coisas certas. Com certeza você está pensando num ano que está por chegar. Sempre é hora e oportunidade para mudanças. Mais degrau na vida de cada um. Alguns sobem e outros infelizmente perdem o rumo e descem. Assim, nós também precisamos cuidar para não decair. Mas de que maneira melhorar? Onde podemos focar para que o novo ano seja melhor, mais produtivo? Se você nos outros dias já anotou alguma coisa no seu bloquinho, está na hora de continuar anotando, pois ainda temos mais dois dias para fechar o nosso planejamento. Estas anotações vão servir para que você organize a sua vida e não deixe para segundo plano a vivência cristã que vai te moldando e te lapidando para que você seja luz do mundo. O primeiro ponto está em guardar a Palavra. Já falamos em oração, leitura bíblica, em devoção com a família. Mas agora o apóstolo dá um recado para aquele que guarda a Palavra de Deus. Neste, o amor de Deus tem sido aperfeiçoado. Se buscamos a perfeição, o caminho é este mesmo. Não nos desviemos nem para a esquerda, nem para a direita, mas foquemos no caminho indicado pela Palavra de Deus. E anote mais uma vez aí: continuar orando. Esta é uma atividade que devemos fazer ao começar e ao terminar o nosso dia. A primeira e a última atividade, fundamental para andarmos ao lado, junto com o nosso Deus e Pai. – Preserva, Senhor, em nós a tua Palavra. Que saibamos guardá-la diariamente juntamente com a nossa família e nossos amigos. Obrigado pelo teu amor. Amém (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia (2017) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 28 de janeiro de 2018


(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) 
Oitava de Natal – Santos Inocentes.

“Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos” Mt 2,17.

“A matança dos inocentes de Belém tem comovido o mundo cristão há séculos. Poetas, pintores, cineastas e pregadores têm-se debruçado sobre o triste episódio e dele extraído suculento material para suas obras. O próprio Mateus parece comovido ao evocar o pranto maternal de Raquel, ‘que chora os filhos, e não quer consolar-se, porque os perdeu’ (Mt 2,18). Efetivamente, a poucos quilômetros de Belém, encontra-se o túmulo da esposa amada de Jacó, mãe de José do Egito e Benjamim. Os restos mortais da velha matriarca parecem abalados com o hediondo crime. Tudo se podia esperar da crueldade de Herodes, que já havia assassinado a esposa Mariana e três filhos, por enxergar neles possíveis concorrentes ao trono. Por conseguinte, matar 20 ou trinta meninos não significava nada para ele. Aliás, o que significa isto para o nosso mundo, tão evoluído e civilizado? Quem se comove com os três milhões de abortos que são praticados anualmente só no Brasil? Que diferença há entre matar um garotinho recém-nascido e um outro ainda por nascer? Quem se comove com a terrível mortalidade infantil, que tanto envergonha o nosso país no cenário mundial? É uma pena que poetas, pintores, cineastas e pregadores não se debrucem mais sobre estes e outros descalabros do mundo moderno e deles extraiam fartos materiais para suas obras! Cada criança que deixa de nascer é um sorriso que deixa de acontecer. Cada vez que se perde um sorriso de criança é um degrau mais que se desce na escada da degradação moral. – Senhor Jesus, quiseram matar-vos quando ainda éreis bem pequeno. Recordai-nos sempre que ‘todas as vezes que o fizermos a um desses pequeninos é a vós que o fazemos’ (Mt 25,40). Amém”  (Geraldo Araújo Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de dezembro de 2018


(1Jo 1,1-4; Sl 96[97]; Jo 20,2-8) 
Oitava de Natal – São João Evangelista.

“Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo” 1Jo 1,3.

“Neste final de ano, período em que normalmente as pessoas estão com um pouco mais de tempo para refletir, quem sabe ouvir a mensagem de fé e esperança possa trazer a você a inspiração para anotar no seu bloquinho aquelas coisas que devemos incluir nas ações do ano que está para chegar. Já vimos muito no ano passado e já ouvimos tantas coisas. E é assim que vivemos, lembrando do que vimos e ouvimos e repassamos aos nossos o que de bom podemos tirar de tudo isso. Assim está fazendo João na sua epístola. Ele está anunciando aquilo que viu e ouviu a respeito de Jesus, da sua vida, dos seus milagres, das suas palavras, da sua morte, da sua ressurreição. Este é um assunto capaz de unir e trazer comunhão às pessoas. A mensagem do Evangelho é de amor. Portanto, falar do amor de Deus para com a humanidade é uma forma de unir as pessoas em torno deste mesmo objetivo que é o de viver esta palavra na prática, nas relações com o próximo no dia a dia. Num mundo tão cheio de ódio, de egoísmo, de ganância, de violência, tudo que precisamos é que esta mensagem de Jesus abra e encha o nosso coração de coisas boas. Caro(a) amigo(a), vá anotando no seu bloquinho algumas atividades para o próximo ano: ler mais a Bíblia, juntar as mãos e orar diariamente, reunir a família para um momento de devoção, reunir os amigos para uma hora de louvor, cantar mais, amar melhor, ir ao encontro daqueles que têm necessidades, pensar mais nos outros e menos em si e fortalecer a fé no Salvador Jesus. Já é uma boa lista para começar. Com toda certeza, Deus vai caminhar contigo e também vai te abençoar. Não pelo que você vai fazer, mas pela fé dentro do coração. – Dá força a todos nós, Senhor, para que, com disciplina, mudemos o nosso comportamento, a nossa vida e a vida dos nossos amigos para melhor. Amém (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia (2017) – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 26 de dezembro de 2018


(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10,17-22) 
Oitava de Natal – Santo Estêvão.

“Porém não conseguiram resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava” At 6,10.

“Propondo-se a narrar ‘os atos dos apóstolos’, Lucas terminou deixando oito dos doze apóstolos no completo ostracismo, mencionando lhes apenas os nomes. No entanto, dedicou dois capítulos (6 e 7) para contar a história do diácono Estêvão. Por que tal disparidade? Não podendo abordar todos os personagens que tomam parte da sua narração, Lucas optou por seguir o método seletivo de amostragem. Pedro é uma amostra; são-no igualmente Paulo e Estêvão. Este último, de modo especial, é-nos apresentado como uma cópia fiel do modelo- Cristo.  Frases e atitudes de Jesus, que à primeira vista parecem fora da laçada de qualquer ser humano, acabam por encontrar no jovem diácono a sua plena realização, provando assim que o Evangelho é perfeitamente viável. Momentos antes de sua ascensão ao céu, Jesus afirmou que seus discípulos haveriam de receber uma força, o Espírito Santo, com o qual eles seriam testemunhas em Jerusalém e em todo o mundo. Aí está Estêvão para mostrar que isto é verdade. Bem antes de morrer, Jesus alertara os seus para não se preocuparem muito com sua defesa nos momentos de perseguição, pois ‘Eu é vos darei respostas tão sábias, a que não poderá resistir nem contradizer nenhum dos adversários’ (Lc 21,15). E aí está Estêvão para atestar a veracidade da profecia. Pregado na cruz, Jesus suplica ao Pai que perdoe seus algozes ‘porque não sabem o que fazem’ (Lc 23,24). É o que faz Estêvão ao ser apedrejado: “Senhor, não lhes deves levar em conta este pecado’ (At 7,59). – Senhor Jesus, depois de Estêvão nenhum de nós poderá escusar-se, dizendo que o vosso Evangelho é impossível. De fato, Estêvão é a assinatura humana do vosso projeto divino. Amém (Geraldo Araújo Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de dezembro de 2018


(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-5.9-14) 
Natal do Senhor – Missa do Dia.

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade” Jo 1,14.

“É em todos os dias e em todos os tempos que se apresenta ao espírito dos fiéis que meditam as coisas de Deus, a vinda de nosso Senhor e Salvador, nascido de uma virgem mãe. Seu coração se eleva assim ao louvor do seu Criador e – tanto no meio das lágrimas de súplica, como nas exaltações do louvor e da oblação do sacrifício – nada há em que ele, com mais frequência e fé, fixe seu olhar espiritual do que no fato de Deus, Filho de Deus, gerado por um Pai que lhe é coeterno, ter nascido também de um parto humano. Contudo, nenhum outro dia mais do que o do Natal nos convida a contemplar esse nascimento que deve ser adorado no céu e na terra... Sem dúvida, o estado de infância, que o Filho de Deus não considerou indigno de sua majestade, se transformou, com a idade, no estado de homem feito e, uma vez consumado o triunfo da paixão e ressurreição, terminaram todos os atos derivados de seu abaixamento por nós. Entretanto, a festa do Natal renova, para nós, a vinda de Jesus no mundo, nascendo da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento do Cristo é a origem do povo cristão, e o aniversário do nascimento da cabeça é também do corpo. Embora cada qual seja chamado por sua vez e todos os filhos da Igreja se sucedam nas diferentes épocas, no entanto a totalidade dos fiéis saídos da fonte batismal, - assim como foi crucificada com Cristo em sua paixão, ressuscitou na ressurreição, e foi colocada à direita do Pai, em sua ascensão, também nasceu com ele em sua natividade. Em qualquer região do mundo em que se encontre, todo crente regenerado rompe com a velhice original e, renascendo, se torna um homem novo. Doravante, já não faz parte da descendência de seu pai segundo a carne, mas da raça do Salvador, que se fez filho do homem para que possamos ser filhos de Deus. Pois, se ele não houvesse descido a nós por seu abaixamento, ninguém chegaria a ele por seus próprios méritos. Aqueles, pois, que foram gerados, não pela vontade da carne ou pela vontade do homem, mas por Deus (cf. Jo 1,13), ofereçam ao Pai a concórdia de filhos cheios do desejo da paz; e todos os membros da família de adoção voltem ao verdadeiro caminho no Primogênito da nova criação, o qual não veio fazer a sua vontade, mas a daquele que o enviou. Pois a graça do Pai adotou como herdeiros, não a homens de discórdia e de oposição, mas aos que partilham dos mesmos sentimentos e do mesmo amor. Os que são de novo plasmados segundo a imagem única, devem ter o coração unânime. O nascimento do Senhor é o nascimento da paz. Com efeito diz o apóstolo: “Ele é que é a nossa paz, ele que de dois povos fez um só’ (Ef 2,14). Quer sejamos judeus ou pagãos, por ele é que temos acesso ao Pai, num só Espírito (Ef 2,18)” (S. Leão Magno – VI Sermão para o Natal – Editora Beneditina Ltda.)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Mensagem para o Natal - 2018

“Então é Natal!” e de novo voltamos o nosso pensamento para o nascimento de Jesus. Por causa desse nascimento a história humana ganhou novo rumo. Por isso não podemos esquecer, nem deixar de celebrar, pois esse é o verdadeiro espírito do Natal que faz repensar nossas atitudes, que faz desejar ser criança de novo; de um tempo em que sabíamos pedir desculpas e não levamos tanto a sério certas coisas, porque queríamos preservar os colegas de brincadeiras... Que sentíamos que era bom ser bom... Sem o espírito de Natal, muita coisa em nós se perde, inclusive a voz do Cristo que nos convida a ‘ser perfeitos, como o Pai celeste é perfeito’, a perseguir um caminho de santidade, e porque não dizer de humanidade!
“Então bom Natal!” a você que não se cansou e não deixou de sonhar. E a você que se sente cansado, segue com os pastores e os magos a Belém,  fala a Jesus Menino de seus cansaços e decepções. Pede a Ele que renove os seus passos e lhe devolva a alegria perdida, aquela do coração que se sabe acompanhado de uma Presença particular d’Aquele que veio a nós para ser Deus Conosco. Minha prece por você e por todos! Deus os abençoe!

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 24 de dezembro de 2018


(2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88[89]; Lc 1,67-79) 
Missa da Manhã.

“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque a seu povo visitou e libertou” Lc 1,68.

“É fácil acreditar em Deus quando tudo corre bem, mas é perante o mal que a fé é posta à prova. Considerando o que acontece no mundo, é difícil continuar a acreditar que a humanidade se está encaminhando em direção à luz e à paz. Jesus veio trazer-nos a Palavra da vida eterna, ensinou-nos os caminhos da alegria e da felicidade; mas mesmo quando alguém confia n’Ele nem sempre se verifica a imediata realização das suas promessas. É então que surgem as dúvidas e nos interrogamos se vale a pena acreditar n’Ele, se não será melhor adequar-nos à moral corrente, comportarmo-nos como fazem todos os outros que, como parece, têm sucesso. Em determinados momentos encontramo-nos na situação do salmista, o qual, observando a injustiça existente no mundo, se rebela e chega a um passo de renegar a sua fé. ‘Por um pouco os meus pés tropeçavam, por um nada os meus passos escorregavam, porque invejei o arrogante, vendo a prosperidade dos injustos’ (Sl 73[74],2-3). A história de Israel é a prova da fidelidade de Deus. Mas o Senhor nunca realiza as Suas promessas conforme as expectativas humanas, porque os Seus caminhos não são os nossos caminhos, os Seus desígnios não são os nossos (Is 55,8-9). Por isso só os homens piedosos como Zacarias sabem manter firme a fé no Senhor e podem ver realizados os Seus juramentos imensamente além dos míopes horizontes humanos. Só mulheres santas como Maria podem descobrir, com os olhos da fé, o mundo novo que surge imparável, pela força do Espírito, e a luz da vida que brilha para além da sombra da morte” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Advento – Ano C


(Mq 5,1-4; Sl 79[80]; Hb 10,5-10; Lc 1,39-45)

1. O texto de Miquéias que nos é oferecido como abertura de nossa liturgia da Palavra nos situa na promessa de um novo rei Davi, depois de um tempo de sofrimento e de angústia, a partir desse lugar de onde veio o próprio Davi, contra todas as previsões; é próprio de Deus surpreender.

2. Mateus leu e interpretou esse texto como uma referência ao nascimento de Jesus, o príncipe da paz.  O tempo de sofrimento que precede à intervenção divina é cantado em nosso salmo, nessa lamentação coletiva, onde o Senhor aparece como Pastor e Vinhateiro, imagens carregadas de cuidados.

3. Deus surpreende, chegando a nós através do homem Jesus, que faz de Sua vida o único e verdadeiro sacrifício, numa atitude de entrega absoluta, deixando para trás os antigos sacrifícios. Assim, a nova dinâmica será a nossa capacidade de obediência a Deus que se espelha em Cristo Jesus.

4. Nascimento profetizado, estilo de vida apresentado, o evangelho recua no tempo para nos falar da mãe de Jesus, inserida na história da salvação. O encontro de Maria com Isabel, deixa entrever um pouco desse mistério, como vento que se lança sobre a cortina que esconde o outro lado...

5. Lucas nos leva a esse momento de encontro entre o Antigo e o Novo Testamento, falando dessas duas crianças que ainda devem nascer, que se reconhecem no ventre materno, e trazem consigo o selo da intervenção de Deus na história humana. Estamos diante de uma página teológica.

6. Isabel se torna aquela que primeiro acolhe essa novidade ao tempo que reconhece em Maria a mulher abençoada e feliz, pois está participando de maneira essencial no projeto de Deus.  As duas dizem sim, representando toda uma humanidade desejosa de justiça, paz e esperança, com todos os riscos ou implicações.

7. Como Maria, precisamos também nos apressar, fazer essa ‘viagem’ movidos por Aquele que nos envolve em seu mistério. Como os Magos do Oriente, perseguiremos essa Estrela capaz de iluminar a nossa vida, dando-lhe um novo sentido. São alegrias assim, de caráter espiritual, que vamos celebrar. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 22 de dezembro de 2018


(1Sm 1,24-28; Sl 1Sm 2; Lc 1,46-56) 
3ª Semana do Advento.

“Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” Lc 1,53.

“O magnificat é o espelho da alma de Maria. ‘Neste poema conquista o seu cume a espiritualidade dos ‘pobres de Javé’ e o profetismo da antiga Aliança. ‘É o cântico que anuncia o novo Evangelho de Cristo. É o prelúdio do Sermão da Montanha’ (Puebla 297). Maria, a primeira cristã, é também a primeira revolucionária da nova ordem. A Igreja, da qual Maria é figura, não pode proclamar a boa-nova da Salvação sem concretizar ao mesmo tempo o amor de Deus na defesa da justiça, dos pobres, dos famintos. A Igreja é serva do Senhor, como Maria, quando é pobre como ela, quando com eles sua libertação. João Paulo II foi muito feliz quando definiu o Magnificat como ‘o hino da opção preferencial pelos pobres’. Nele Maria se manifesta como modelo para os que não aceitam passivamente as circunstâncias adversas da vida pessoal e social, nem são vítimas da alienação, mas, ao contrário, proclamam que ‘o Senhor mostrou o poder se seu braço e dispersou os que se orgulham de seus planos; derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes; encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias’ (Lc 1,51-53). A partir do profeta Sofonias, sobretudo durante o longo exílio na Babilônia, desenvolve-se entre os judeus a espiritualidade dos ‘pobres de Javé’, daqueles que, não tendo mais o que esperar dos homens, entrega-se por inteiro nas mão de Deus, cria vulto a teologia do ‘resto de Israel’ – aquela pequena porção da população que se mantém integralmente fiel a Deus e às suas promessas: ‘Deixarei em teu seio um povo pobre e humilde, eles procurarão refúgio no nome do Senhor: o resto de Israel’ (Sf 3,12). - Senhor, Maria e vosso Filho ingressaram voluntariamente na escola dos ‘pobres de Javé’. Colocai-nos também nela, pois temos muito a aprender. Amém (Geraldo Araújo Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 21 de dezembro de 2018


(Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 
3ª Semana do advento.

“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45).

“Deus sempre escolhe as pessoas certas para as horas certas. Precisou em toda a história de homens e mulheres fiéis, dedicados e dispostos a seguir os riscos e os perigos. Assim foi com Noé e sua família, que teve todo aquele trabalho para construir uma arca. Assim foi com Moisés, que liderou seu povo na libertação do Egito, e olha que não foi o trabalho de um mês, mas anos de dedicação exigiram força e coragem. Assim foi com Davi, rei de Israel, com um início corajoso e brilhante ao derrotar um gigante para mostrar a sua fé e quem estava no comando. Assim foi com Isabel e agora é com Maria. Deus escolhe uma serva e ela responde com um coração transbordando de fé. ‘Feliz é aquela que teve a fé no cumprimento do que lhe foi dito da parte do Senhor’. As palavras são da própria Maria quando estava conversando com a sua prima Isabel, que também teve fé. Se nós fôssemos chamados para tamanha tarefa, de que tamanho seria a nossa fé? Será que nós seriamos capazes de tamanha coragem para levar adiante os planos de Deus? Pois saiba você que Deus continua chamando pessoas, envolvendo homens e mulheres na missão de melhorar o mundo e levar paz ao coração das pessoas. Assim são padres, freiras, pastores, diáconos, diaconisas, cristãos fervorosos, todos envolvidos numa única missão: anunciar a Palavra e as obras de Deus. Não precisamos ser iguais a Noé, Moisés, Davi ou Maria para sermos bem-aventurados. Podemos ser nós mesmos, e com nossa humildade também servir e ajudar as pessoas em nosso mundo. São tantos os que precisam de consolo, de uma mão, de um conselho, de uma roupa ou de comida. Diariamente Deus põe diante de nós desafios, e muitas vezes nós ignoramos o seu chamado e pensamos unicamente em nossos interesses. Neste tempo de Natal vamos observar Jesus e abrir o nosso espírito para levar a todos o amor de Jesus ao coração dos que clamam por ajuda. – Como é bom saber, Senhor, que Tu chamas para servirmos e para amarmos o nosso semelhante. Obrigado. Amém” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia(2017) – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite









Quinta, 20 de dezembro de 2018


(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Lc 1,26-38) 
3ª Semana do Advento.

“Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel” Is 7,14.

“O melhor intérprete da Bíblia é a própria Bíblia. Equivale a dizer: quando um livro bíblico interpreta alguma passagem de outro, esta interpretação é autêntica e plena, porque fruto do mesmo espírito Santo que inspirou a dita passagem. Por exemplo, na citação que encabeça esta página, a profecia de Isaías fala de uma jovem mulher grávida. O termo hebraico empregado é ‘almah’, que tanto pode significar uma jovem virgem como uma jovem casada. Mas a tradução grega da Bíblia, chamada ‘Setenta’, seguindo já uma antiga tradição judaica, empregou o termo explícito ‘virgem’ (=partenos). E esta interpretação foi assumida como em caráter definitivo por Mateus, que aplica a Maria a passagem de Isaías: ‘Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta nas palavras: eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, cujo nome será Emanuel’ (Mt 1,22-23). Por sua vez, Lucas vai frisar ainda mais a virgindade de Maria (Lc 1,27). A tradição posterior da Igreja vê em Maria a realização da profecia de Ez 44,1-3, que fala da porta oriental do novo templo de Jerusalém, a qual ‘deverá permanecer fechada. Não deverá ser aberta e ninguém deverá entrar, porque o Senhor Deus de Israel entrou por ela. Por isso ficará fechada’. O seio de Maria foi a porta por onde Deus entrou no mundo através da encarnação do Verbo. Só ele e mais ninguém por ela entrou. Aliás, ainda hoje, a porta oriental da muralha de Jerusalém, chamada de ‘porta dourada’, permanece simbolicamente fechada; só será aberta quando o Messias voltar, pois somente Ele poderá entrar por ela.  – Senhor Jesus, sois chamado Emanuel, Deus conosco. Conosco estais e sois um dos nossos, porque o seio virgem de Maria vos serviu de porta para entrardes na humanidade. ‘Feliz o ventre que vos trouxe e os seios que te amamentaram!’ (Lc 11,27). Amém (Geraldo Araújo Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 19 de dezembro de 2018

(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25) 
3ª Semana do Advento.
“Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida e escondeu-se durante cinco meses. Ela dizia: ‘Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que ele se dignou tirar-me da humilhação pública!’” Lc 24-25.

“A história da infância de Lucas é apresentada em dois quadros paralelos: o anúncio do nascimento de João Batista (1,5-25) e de Jesus (1,26-38), e o nascimento, circuncisão e manifestação dos dois meninos (1,57—2,40). A sequência é interrompida pela visita de Maria a Isabel (1,39-56) e se conclui com a cena do encontro de Jesus no Templo (2,41-52). Zacarias, descendente de família sacerdotal, e Isabel eram um casal piedoso e irrepreensível. Já estavam em idade avançada, mas não tinham filhos. Certo dia, quando Zacarias prestava serviço no Templo e oferecia incenso, foi surpreendido pela visita do anjo Gabriel, que lhe disse: “Não tenhas medo [...] foi ouvida tua oração’. Deus atendeu não apenas a oração que fazia pelo ovo, mas também seu fervoroso pedido pessoal: ‘Tua mulher vai te dar um filho e lhe darás o nome de João’. Esse menino, explica o anjo, trará grande alegria e felicidade não só para o casal, mas para muita gente em Israel. Será cheio do Espírito Santo desde o ventre materno; como o profeta Elias, terá a missão de reconciliar as famílias e ‘preparar para o Senhor um povo bem-disposto’. Zacarias, porém, duvidou que na idade avançada em que ele e Isabel estavam pudessem ainda ter um filho. Por não ter acreditado na Boa-nova que o anjo lhe anunciava, ficou mudo. As pessoas que assim o viram perceberam que ele tinha tido uma visão no santuário. Não demorou muito e Isabel engravidou. Cheia de gratidão, todos os dias louvava a Deus pela felicidade de ser mãe. E a boa notícia, antes apenas conhecida na família, chegou ao conhecimento de todo o povo” – Ó Deus, conforme as promessas feitas ao teu povo Israel, preparaste com carinho a vinda do Messias Salvador. Escolheste um casal estéril para ser pai de João, o precursor do teu ungido. Nós te admiramos e louvamos por assim preparares a vinda do Salvador da humanidade. Amém” (Egon Martin Seibert – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes). 
Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de dezembro de 2018


(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 
3ª Semana do Advento.

“Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar seu povo dos seus pecados”
Mt 1,21.

“No mundo bíblico, o nome tem muita importância; ele é mais do que um rótulo convencional para distinguir uma pessoa de outra. O nome tem uma misteriosa identidade com seu portador; pode ser considerado um substituto da pessoa, agindo e recebendo em lugar dela. O nome, frequentemente, indica algo do caráter da pessoa a quem pertence. Nessa linha de pensamento, Isaías atribui cinco nomes ao futuro Messias, todos plenos de significado: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz e Emanuel. Mas, na hora de nascer, o nome que ele terá definitivamente será anunciado pelo anjo do Senhor e legalmente imposto por José: Jesus. Por que este e não outro? Porque este, melhor do que outro, indica a verdadeira missão do ‘Verbo de Deus feito carne’: salvar o povo dos seus pecados. Etimologicamente, Jesus quer dizer: Javé é salvação. Com efeito, ‘em nenhum outro há salvação, pois nenhum outro nome foi dado sob o céu aos homens por quem possamos ser salvos’ (At 4,12). Como para a Bíblia o nome é a realidade da pessoa, para Jesus seu nome foi fruto de uma autêntica conquista, que muito lhe custou, desde o renunciar à condição divina, de que gozava no seio da Trindade, ao aniquilar-se a si mesmo, assumindo a condição de servo obediente até a morte na cruz... ‘Pelo que Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está sobre todo nome. Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho de quanto há no céu, na terra, nos abismos’ (Fl 2,6-10). Por tudo isso compreende-se o carinho, o amor e a confiança com que gerações e mais gerações de cristãos têm pronunciado este nome ao longo de vinte séculos. E quanto por ele deram a vida! – Senhor Jesus, concede-nos a graça de jamais profanar o vosso santo Nome, pois assim estaríamos profanando a vossa própria pessoa. Amém  (Geraldo Araújo Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 17 de dezembro de 2018


(Gn 49,2.8-10; Sl 71[72]; Mt 1,1-17) 
3ª Semana do Advento.

“O cetro não será tirado de Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha aquele a quem pertencem e a quem obedecerão os povos” Gn 49,10.

“Este texto de difícil tradução é citado sempre em relação à promessa da vinda do Messias. Faz parte da bênção de Jacó (Gn 49,1-28). Prestes a morrer, o patriarca dá bênção a cada um dos filhos, que representam as doze tribos de Israel. Na realidade, os três primeiros, Rúben, Simão e Levi, são repreendidos pelos crimes que cometeram. O quarto filho, Judá, é realmente abençoado. A liderança que exerce entre os irmãos é simbolizada pela força do leão. Será elogiado pelos irmãos, que lhe prestarão homenagem, pois jamais se afastará o cetro de comando de sua tribo. É uma referência clara à promessa messiânica feita a Davi (2Sm 7,4-17), que é da tribo de Judá. Na época pós-exílica é exaltada a figura de Davi, como herdeiro da promessa feita a Judá. Na liturgia católica a promessa messiânica de Gn 49,10 é lida junto com a genealogia de Jesus, apresentada por Mt 1,1-17. Nesta genealogia se diz: ‘Judá foi pai de Farés e Zara, com Tamar’ (1,3) Tamar era nora de Judá, cujos dois primeiros filhos morreram e deixaram-na viúva, sem filho. Judá se negava a dar-lhe o terceiro filho, com quem tinha direito de se casar para gerar um filho para o primeiro marido, conforme exigia a lei do levirato. Ela, então, fingiu-se de prostituta e conseguiu engravidar por uma relação com seu sogro Judá, que a considerou ‘mais justa do que ele’ (Gn 38). Outras três mulheres são mencionadas na genealogia: Raab, a prostituta de Jericó; Rute, uma estrangeira, que foi bisavó de Davi, e a mulher de Urias, Betsabeia, com quem Davi cometeu adultério e depois assassinou seu marido. Assim, Mateus sublinha que o Filho de Deus, o Emanuel, assumiu nossa natureza pecadora para nos salvar. – Ó Deus, na tua sabedoria e bondade, enviaste teu Filho como salvador. Quiseste que Ele fosse descendente da tribo de Judá e de Davi, para mostrar que assumes nossa natureza humana pecadora. Aumenta em nós a fé no Salvador que enviaste para ser o Deus conosco. Amém” (Egon Martin Seibert – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


3º Domingo do Advento – Ano C


(Sf 3,14-18a; Sl Is 12; Fl 4,4-7; Lc 3,10-18).

1. A alegria é a tônica da liturgia desse domingo. Nossa liturgia da Palavra tem início com esse convite alegre do profeta à Jerusalém, pois Deus está em seu meio por amor, para defender e salvar. Deus também se alegra na resposta amorosa de Israel.

2. Não é difícil entender o convite a alegrar-nos com a proximidade do Natal, manifestação do Deus conosco, o Emanuel. Que alegria poderia ser mais verdadeira do que aquela que nos renova em nossa caminhada, voltando o nosso coração para Ele? 

3. Retornamos a mais um trecho da carta aos Filipenses. A fé nos dá a certeza que o Senhor está próximo de cada um de nós. Por que, então, perder a paz dessa presença que ultrapassa todo entendimento e produz uma alegria de caráter espiritual profunda?

4. Se permanecermos serenos, seremos capazes de não só testemunharmos a nossa fé, mas de melhor rezarmos e tomarmos decisões acertadas no caminho.

5. Depois de nos ter apresentado João Batista a partir do seu contexto histórico e geográfico/simbólico, Lucas nos fala sobre a sua pregação. Ela tem um caráter prático e moral, mas também traz o anúncio do Cristo, a boa nova do Pai que renova o mundo.

6. Lucas nos fala da multidão que o busca, ao tempo que destaca algumas camadas sociais de escasso sentido ético, marginalizados que o autor privilegia mostrando a busca que trazem dentro de si. A ênfase, para todos, é o amor fraterno. Seu falar aqui é mais brando que Marcos e Mateus.

7. A palavra é um convite a sermos honestos, fiéis aos compromissos assumidos e principalmente não cometer abusos, em qualquer forma de poder que nos seja concedido sobre coisas ou pessoas. Aqui está a nossa responsabilidade pelo bem comum, um agir generoso e o respeito pelos outros.

8. João coloca-se num segundo plano ao apresentar Jesus, como mais forte do que ele, que traz um batismo no Espírito, que purifica, em seu fogo, mais que a água.  É essa ‘revolução’ no modo de agir que pode nos trazer a alegria verdadeira do Natal, do hoje e do amanhã que nos coloca sempre atentos à Sua presença entre nós.

9. “Senhor, ensina-nos a não nos contentarmos com uma fé tíbia, mais carregada de medo e de pretensões do que de autêntico amor. Fazei que nosso coração se deixe encher pela percepção jubilosa da Vossa presença, e brote em nós a esperança animada pela Vossa doce companhia” (Giuseppe Casarim – Lecionário Comentado – Paulus). Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite