Pentecostes (2020)

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3-7.12-13; Jo 20,19-23).

1. De tempos em tempos, a solenidade de Pentecostes coincide com a festa da Visitação de N. Senhora, onde muitas comunidades fazem também a coroação da imagem da Virgem no encerramento do mês de maio. Pois bem, é com ela que nos recolhemos em oração, com os apóstolos, para acolher o Espírito Santo, fonte de vida e guia no caminho.

2. Era lugar comum dizer que o Espírito Santo era o grande desconhecido ou esquecido; assim iniciava o curso meu professor de pneumatologia. Eu diria, hoje, que Ele se aproxima sempre mais do centro da nossa vida cristã, na tomada de consciência de Quem tudo conduz para a realização da vontade divina.

3. É claro que não chegamos à plenitude do conhecimento, nem nos será possível sem aquele ‘face a face’ da vida eterna, mas há um esforço sempre maior em mergulhar no ‘oceano do Espírito’ vasculhando as suas imagens simbólicas quando percebemos que nos falta um vocabulário e definições mais precisas.

4. As imagens que brotam no Antigo e Novo Testamento O colocam constantemente em saída, agindo, seja no mistério de Jesus, da Sua encarnação até a Sua ressurreição, ou mesmo como braço de Deus que opera maravilhas na vida de cada pessoa, na Criação que se renova, na vida das comunidades e dos seus membros.

5. Se o Espírito é ‘resultado’ desse amor que se movimenta entre o Pai e o Filho como expressão de comunhão, de unidade, a vinda e a vida do Espírito sobre nós e em nós quer ‘operar’ essa mesma comunhão e unidade como expressão de nossa fé em Jesus e nosso reconhecimento como filhos e filhas de Deus.

6. Quem bem sabe disso é a Virgem Maria em sua relação com o mistério Trinitário. Não é à toa que muitas imagens da coroação da Virgem se dá num contexto das três Pessoas divinas que a ‘envolvem num abraço’.

7. Assim, depois do retorno de Jesus ao seio do Pai, passamos a viver o tempo do Espírito, que impulsiona a Igreja em sua ação evangelizadora. Assim lemos de novo, o nascimento da Igreja, na compreensão de alguns, a partir do evento de Pentecostes. Uma nova linguagem é capaz de restaurar a unidade perdida.

8. A chama de Pentecostes jamais se apagou dentro e fora da Igreja. Só os tempos que mudaram e os carismas são outros para novos tempos. Não falta testemunho de Sua ação nas novas configurações que a Igreja, em suas comunidades de fé, foi assumindo para levar adiante  a fé em Jesus e em Sua presença santificadora e libertadora.

9. Quão espetacular é a ação do Espírito na vida dos crentes de um modo geral. Homens e mulheres são movidos a um testemunho por vezes silencioso da fé que os leva a uma vida quase heroica nas diversas relações que a vida exige como expressão do amor em seus corações abertos à ação de Deus.

10. Ampliemos o nosso horizonte de percepção da ação do Espírito no mundo ao nosso redor. Homens e mulheres buscam manter acesa a esperança humana colocando ao serviço de todos seu talento, energias, tempo e vida em busca de um mundo mais justo, defendendo a dignidade humana, o desenvolvimento pleno, à ecologia e vivendo a fraternidade. Nada disso pode passar despercebido, pois o ‘Espírito sopra onde quer’, reflexo do próprio amor de Jesus pela humanidade.

“A nossa oração comunitária e pessoal, Pai de todos, é da glorificação, ação de graças, louvor e alegria pelos sinais da presença do teu Espírito no mundo. Perdoa, Senhor a nossa ineficácia de cristãos covardes, e dá-nos a força do teu Espírito para anunciar Cristo, hoje, como esperança da humanidade e verdade que vence a mentira, como paz e liberdade que fundamenta a dignidade humana, como vida que supera a morte, o desamor e a opressão, como amor e fraternidade que derrotam o ódio e a violência, como única libertação, capaz de criar pessoas livres que amam. Vem, Espírito divino! Enche os corações dos teus fiéis e acende neles o fogo perene do teu amor. Amém” 

Pe. João Bosco Vieira Leite