Segunda, 01 de novembro de 2021

(Rm 11,29-36; Sl 68[69]; Lc 14,12-14) 

31ª Semana do Tempo Comum.

“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus!

Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos!”

Rm 11,33.

“Profundo conhecedor das Escrituras, educado pelo Mestre Gamaliel, Paulo sabe muito fazer a Palavra de Deus chegar até junto dos seus ouvintes, com a segurança de quem conhecia as interpretações das escolas rabínicas. Neste pequeno texto, Paulo tenta explicar por que, ao mesmo tempo em que seu povo rejeita o Evangelho, este mesmo povo está chamado à conversão. Para Paulo, a novidade amorosa trazida por Jesus reafirma o amor de Deus para com seu povo, afirmada inúmeras vezes pelos patriarcas. Este é o maior dom de Deus, a chamada que permanece e cujos dons são irrevogáveis. Deus não se arrepende de amar; Deus não se arrepende de ter amado. E isto é tudo porque Deus é amor, como diz a Primeira Carta de João (cf. 1Jo 4,16). E a maior prova do amor gratuito, benevolente e misericordioso de Deus é Jesus, crucificado, morto e ressuscitado, que salva a todos e a todas, indistintamente. Já não é necessária a sobrecarga do cumprimento da Lei porque aquele que encontra Jesus e tem com Ele uma revelação de vida, que acolhe a Boa notícia e a transforma em vida, este será salvo. O Evangelho como acontecimento sempre será atual, nunca se acabará, porque a graça de Deus não sofre alternâncias. Esta longanimidade do nosso Deus nos convida a uma vida humilde, de constante agradecimento, de renovada esperança no caminho a ser feito. Este amor gratuito é o segredo de Deus que Paulo descobriu, acolheu e comunicou ao seu povo e aos gentios: ninguém ama como Deus! Esta é a riqueza de Deus, tão profunda e tão sensível! Esta é a sabedoria e a ciência de Deus, que tudo sabe e tudo governa. Esta é a sua insondável decisão de amar até aos extremos limites. – Deus de bondade, nossos caminhos não são os vossos. Dai-nos humildade e sensibilidade para perceber ‘quão insondáveis são as vossas decisões e impenetráveis os vossos caminhos’ (cf. Rm 11,33)”. (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

31º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dt 6,2-6; Sl 17[18]; Hb 7,23-28; Mc 12,28-34)

1. ‘Qual é o primeiro de todos os mandamentos?’ A pergunta nasce de uma exigência particularmente sentida no meio judaico. A grande preocupação de Israel é fazer a vontade de Deus, de modo que a sua conduta fosse agradável a Deus.

2. Para isso existia a lei de Moisés, os dez mandamentos, mas ao longo do tempo esse recinto sacro foi se enchendo de outras normas ou observâncias, para que nenhum elemento da vida cotidiana, nenhuma situação fugisse de rigorosa codificação de como se comportar em todas as circunstâncias. 

3. E assim ao que era importante se misturava coisas de pouca importância. O equívoco era achar que tudo isso tinha vinha do próprio Deus. Logo surgiu a necessidade de fixar uma hierarquia de valor, de chegar a uma simplificação, de maneira a deixar claro o que era mais importante e o que era menos.

4. De fato, antes de Jesus, alguns rabinos já reconheciam a necessidade do amor a Deus e ao próximo como realidades próximas e que a caridade era o melhor modo de agradar a Deus. Mas permaneciam várias incertezas e sobretudo não se realizou de maneira explícita essa ligação que Jesus fará entre os dois mandamentos.

5. Na reposta de Jesus ao escriba, ele une dois textos do Pentateuco, um do Dt citado na 1ª leitura. Uma espécie de profissão de fé com a qual todo israelita abria e encerrava o seu dia. E o segundo texto vinha do Livro do Lv 19,18. O escriba queria saber qual o primeiro mandamento, mas Jesus cita um segundo, tornando-os o mandamento maior.

6. Na citação de Jesus está a fé monoteísta. O Deus único exclui toda espécie de ídolo. Na dependência d’Ele está a fonte da liberdade. Ele não concorre com César. É o Deus não dos mortos, mas dos vivos. E ainda exige um pertencimento e um amor total. Que se exprime com todas as faculdades: coração, alma, mente, força.

7. Sem precisarmos analisar cada uma dessas expressões, recolhamos a ideia de fundo que é a de totalidade, de plenitude. É necessário amar a Deus com um amor que brota do centro da pessoa e envolva todas as suas faculdades. A resposta do ser humano deve ser completa, inteira.

8. Na menção ao amor ao próximo, é importante levar em conta esse: ‘como a ti mesmo’. Nos vem sugerida a possibilidade e o dever de amar a si mesmo (o que é obviamente diferente de ser egoísta). Tem um sã amor a si mesmo que está na base do verdadeiro amor ao próximo.

9. Não são poucos os cristãos ou pessoas religiosas que são incapazes de aceitar e amar verdadeiramente os outros porque radicalmente são incapazes de amar e aceitar a si mesmos.

10. O escriba aprova incondicionalmente a resposta de Jesus. Compreende que a primazia desse duplo mandamento tem precedência sobre todo o resto, até mesmo sobre o culto. E olha que estamos no próprio Templo. Coloca-nos atento ao risco do legalismo que mede a relação com Deus tão somente em observar normas.

11. O que diz o escriba faz eco a toda tradição profética que compreendia que o culto, a adoração a Deus não pode limitar-se as palavras e ao âmbito do Templo. Deve envolver o ser humano em sua interioridade e nos seus precisos deveres para com o próximo.

12. Na surpreendente conclusão de Jesus, ele percebe no escriba uma busca desinteressada da verdade, e uma abertura para o Reino presente no próprio Jesus. Por fim, lembremo-nos que todo aquele que tem a intenção de ser fiel a Deus, deve amar também o seu irmão, mas não o poderá vivê-lo se não recebe esse dom de amar, do próprio Deus.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 30 de outubro de 2021

(Rm 11,1-2.11-12.25-29; Sl 93[94]; Lc 14,1.7-11) 

30ª Semana do Tempo Comum.

“Deus não rejeitou o seu povo, que ele desde sempre considerou” Rm 11,2.

“A Carta aos Romanos, neste cap. 11, começa com a pergunta do apóstolo: ‘Teria Deus rechaçado seu povo?’ Ao que ele mesmo se apressa em responder, dizendo que não e colocando-se, ele próprio, como exemplo desta realidade imutável. Deus não rechaça e não se afasta de seu povo, mesmo que ele, deliberadamente, se afaste de seu Deus. O mais importante é que este afastamento do povo judeu servirá para atrair outros povos em cuja árvore serão enxertados, para a salvação de todos. Se deixaram de acolher a Boa notícia, afastando-se de Deus, os pagãos serão acolhidos e beneficiados. Mas o princípio primeiro está firmado: os dons de Deus e a eleição do povo de Israel são irrevogáveis! Deus não volta atrás em sua palavra de amor e de escolha, como bem diz o salmista: ‘Lembra-te, Senhor, de tua compaixão e de tua lealdade, pois elas duram para sempre’ (Sl 25,6). Deus permanece fiel, apesar de toda a negação da parte do povo escolhido. Não há volta no caminho de amor uma vez traçado. Não há retorno em sua palavra de vida! A constância e a fidelidade de Deus ao seu plano de amor e salvação motiva ao apóstolo a exortar aos romanos para que não se envaideçam do privilégio de terem sido escolhidos, antes saibam que todo o povo de Israel é parte da herança de Deus. Paulo descortina, assim, o caminho a ser feito pelo Evangelho, que será anunciado a todas as nações. A Boa notícia não conhece fronteiras, nem raça: é boa notícia para todos e todas! Desta maneira, os gentios, ao acolherem a Boa-nova, despertam o povo de Israel para que também possa acolher a ação salvadora de Deus. – Deus de bondade e misericórdia, desperta-nos para acolhermos a vossa ação salvadora, com alegria e gratidão, mesmo sabendo que somos infiéis ao seu chamado de amor! (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).     

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sexta, 29 de outubro de 2021

(Rm 9,1-5; Sl 147[147B]; Lc 14,1-6) 

30ª Semana do Tempo Comum.

“... a ponto de desejar ser eu mesmo segregado por Cristo em favor dos meus irmãos, os da minha raça”

Rm 9,3.

“Jesus entregou-se para nos salvar. Esta paixão da salvação a encontramos numa expressão apaixonada de Paulo. Ele pensa em seus correligionários de antes, e sofre grande tristeza e dor contínua – diz –, e quereria ele mesmo ser uma ‘oferenda votiva’ em vantagem de seus irmãos, os israelitas, aqueles que, embora possuíssem a adoção, a aliança, o culto, as promessas, os patriarcas, não aceitaram Cristo. Este é o sofrimento contínuo do Apóstolo que, entretanto, aceitou Jesus e nele reconhece o Salvador de todos. A inexplicável recusa por parte de seus amigos é causa de sofrimento de Paulo. Quando a Apóstolo diz: ‘Desejava ser eu próprio segregado por Cristo pelos meus irmãos’, não afirma que renunciaria a Cristo, mas que estaria disposto a passar por todos os sofrimentos espirituais de quem se sente separado do Senhor, em vantagem dos seus irmãos. É zelo pela salvação do próximo. O verdadeiro amor aos irmãos é acompanhado do desejo de que se salvem, da oração para que se salvem, do sofrer para que se salvem, do testemunho e do esforço contínuo para que se libertem de todo tipo de opressão. O cristão, porque é luz, deve ser ativo. Se é sal, tem que ser dinâmico, disposto a fazer o bem. O zelo para que os outros conheçam Cristo foi sempre uma das grandes forças do cristianismo na história dos homens. Há de ser também uma das nossas grandes forças. - Dai-nos, Senhor, o zelo de Paulo. Que apesar de nossas limitações saibamos também gastar nossa vida pelo bem espiritual dos irmãos. Amém (Ralfy Mendes de Oliveira – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de outubro de 2021

(Ef 2,19-22; Sl 18[19A]; Lc 6,12-19) 

São Simão e São Judas, apóstolos.

“É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor” Ef 2,21.

“No contexto deste verso (Ef 2,19-22) constatamos que Paulo está lembrando aos cristãos de Éfeso que a separação entre judeus e gentios não faz mais sentido; e que por meio da cruz estamos todos unidos em Cristo, constituindo uma família de fé (v. 19). Para ressaltar essa verdade, Paulo faz um comparativo. Para ele, essa família unida, composta por pessoas de todas as raças, forma um edifício cujo fundamento é o próprio Cristo. Que mensagem belíssima, que é tão necessária à nossa realidade! Falar de unidade entre os cristãos é um grande desafio e, talvez, para muitos, seja algo utópico. Entretanto, este é o ideal de Cristo para os seus filhos. Como poderemos alcançar tal êxito? A resposta é: nele, em Cristo Jesus, é possível estabelecer tal unidade que gera crescimento. Tudo depende dele e se dá por meio dele; Ele é a pedra angular, isto [é, a pedra de esquina que estabiliza estruturalmente um edifício. Ele é a pedra que estabelece o fundamento e ajusta a edificação, mantendo tudo unido. Em Cristo, nós, o seu povo, somos estabelecidos em unidade. E assim, o povo de Deus, unido entre si e com Cristo, vivencia o crescimento, afinal todo o corpo vivo deve crescer. O crescimento, como um ato presente e contínuo, ocorre de forma harmoniosa, firme, articulada e bem-ajustada. É dessa forma que Deus, nosso arquiteto, inclui todos os seus projetos, isto é, a sua Igreja. Dessa forma, a bênção se confirma com o povo de Deus sendo percebido como um santuário, um templo vivo e santo, por meio de uma completa dedicação a Deus. Deixamos de ser um simples edifício para ser a habitação de Deus por meio de seu Espírito (v. 22). Que grande privilégio! Somos o templo de Deus e Ele vive em nós, para que, por nosso intermédio, Ele seja apresentado ao mundo. – Senhor, faze com que nossa forma de viver seja harmoniosa e unida, evidenciando Cristo em nós. Amém! (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de outubro de 2021

(Rm 8,26-30; Sl 12[13]; Lc 13,22-30) 

30ª Semana do Tempo Comum.

“Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?’” Lc 13,23.

“As exigências do reino apresentadas por Jesus levaram os discípulos a se perguntarem pelo número dos quais seriam salvos. Imaginavam serem poucas as pessoas predispostas e fiéis ao projeto apregoado pelo Mestre. A dinâmica do Reino, como Jesus entendia, rompia com os esquemas mundanos e só podia ser vivida por quem, de fato, se predispunha a enfrentar a cruz, como caminho necessário para a glória. A questão levantada pelos discípulos pareceu ser irrelevante para Jesus. Era inútil saber se os salvos seriam poucos ou muitos. Importava, sim, empenhar-se continuamente para, com a graça de Deus, entrar no Reino, através da porta estreita. Portanto, era tempo de refletir e tomar uma decisão sábia, para evitar o risco de ser deixado do lado de fora. A exclusão do Reino poderá ser uma experiência trágica. O choro e ranger de dentes expressam o desespero de quem desperdiçou a chance que lhe fora oferecida. A segurança fundada em elementos inconsistentes frustrar-se-á quando o cristão comparecer diante do Senhor. Ter comido e bebido na presença de Jesus e tê-lo visto ensinar nas praças não será suficiente para garantir a salvação. Jesus só reconhecerá como discípulo e salvará quem, como ele, tiver sido capaz de colocar-se a serviço do próximo, sem medo de perder tudo por causa do Reino. – Senhor Jesus, que eu me esforce sempre para entrar no Reino pela porta estreita do serviço ao próximo e da disposição de perder tudo por causa de ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 26 de outubro de 2021

(Rm 8,18-25; Sl 125[126]; Lc 13,18-21) 

30ª Semana do Tempo Comum.

“Pois já fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo; como pode alguém esperar o que já vê?” Rm 8,24.

“Paulo fala ao cristão que, como nós, vive sua fé num mundo cheio de contradições e sofrimento. Onde, não raro, se levanta a pergunta: onde está Deus? Estamos mesmo a caminho do Reino como proclamar a salvação numa realidade tão hostil? Paulo fala também de dores de parto: sofrimento que vai fazer nascer algo novo. Mas às vezes este novo custa muito a parecer. Não se vê saída, o mal parece ignorar nossa busca de mais vida. E Jesus disse que o Reino já está entre nós. Nele reside nossa força, nossa fé, nossa esperança. Também ele passou por aparentes fracassos antes de ser proclamado vitorioso na ressurreição. E nós, às vezes, queremos sucesso imediato, como se fosse o servo maior que o seu Senhor. Ser cristão é ser pessoa de esperança. Para si e para os irmãos. O que nem sempre é fácil. Sobretudo neste tempo em que tantas situações parecem obscurecer qualquer esperança. Em que temos a sensação de esperar contra toda esperança de vida digna para tantos irmãos. Contudo, Paulo nos garante: existe a esperança de que um dia todo o universo, todos nós, tomaremos parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Aguardamos na esperança e na paciência a nossa completa libertação. Como também toda a criação sabe esperar pela plenitude do tempo que lhe dá sentido e colhe a esperança em punhados de júbilo. Cultivar a serena, mas inquieta esperança é tarefa nossa de cada dia. Ser sinal dessa esperança é algo que devemos a esse nosso mundo sofredor. – Senhor, ponho em vós minha confiança. Alimenta também a esperança de quem caminha na estrada escura do sofrimento e do desânimo. Anima a esperança de todos na libertação plena que há de vir, pela salvação que Cristo nos alcançou. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de outubro de 2021

(Rm 8,12-17; Sl 67[68]; Lc 13,10-17) 

30ª Semana do Tempo Comum.

“Pois, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se, pelo espírito, matardes o procedimento carnal,

então vivereis” Rm 8,13.

“’Questão de vida ou morte!’ Esse é o resumo da mensagem de Paulo em Rm 8, aonde há um verdadeiro contraste entre aqueles que vivem de acordo com a carne, isto é, a natureza humana é pecaminosa e aqueles que vivem de acordo com a vontade de Deus, marcada por uma vida no Espírito. Viver na carne ou segundo a natureza humana e pecaminosa se caracteriza por uma decisão pessoal. Assim, por meio de escolhas, prefere-se viver separado de Deus, agindo de acordo com sua própria vontade. Trata-se de uma força e capacidade fora do plano de Deus. Não se trata de uma simples fraqueza; pelo contrário, é uma força poderosa que se coloca contra a vontade de Deus (Rm 8,7) e leva a um caminho de morte (Rm 8,6). É uma deliberação, a partir de um desejo humano, que não leva Deus em conta! Paulo, porém, oferece uma saída. Quando, pelo poder do Espírito Santo, nos afastamos do pecado, as obras da carne são derrotadas e podemos viver com uma vida que agrada a Deus (Gl 5,16.24). De fato, podemos e devemos nos esforçar para subjugar a carne. Mas somente pela ação do Espírito, concede-nos força, dia após dia, venceremos a batalha contra nossa natureza carnal. Enquanto a vida na carne gera afastamento e inimizade com Deus que leva à morte; a vida no Espírito, isto é, a vida que é vivida de acordo com a vontade de Deus, nos dignifica, tornando-nos seus filhos e herdeiros por meio da habitação de Espírito em nós. Essa é a nossa esperança, pois num mundo de tantos desejos e tentações, pecados e desesperanças, percebemos que, por meio do Espírito, podemos fazer morrer as obras da natureza humana para desfrutar do grande para o ser humano: viver de forma abundante (Jo 10,10). – Senhor, precisamos vencer nossos desejos e nossos pecados. Que teu Espírito nos fortaleça para negarmos nossa carne e dizermos sim a uma vida no Espírito. Amém!  (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

30º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jr 31,7-9; Sl 125[126]; Hb 5,1-6; Mc 10,46-52).

1. Os caminhos foram feitos para se andar, ou melhor dito, andando se fizeram os caminhos. Mas eis que temos um homem, cego, sentado à beira do caminho, mendigando. Esse relato de Marcos se assemelha com o da cura dos dois cegos de Jericó. Muitos consideram tal narrativa uma repetição desnecessária da narrativa de Mateus (Mt 20,29-31). 

2. Jericó é uma das cidades mais antigas habitadas pelo ser humano; ocupa um lugar privilegiado, tanto na geografia como na história da salvação. Bartimeu, filho de Timeu, havia perdido a vista num acidente o que imediatamente causou a sua exclusão da herança de seu pai, restando-lhe sobreviver às custas de esmolas.

3. Ele ocupa um lugar estratégico por onde passam as caravanas, os ricos comerciantes e os piedosos judeus que subiam para Jerusalém. Nota-se, pela narrativa, que era alguém bem conhecido. Sua rotina é quebrada, um dia, por uma multidão alvoroçada que saia da cidade. Algo estava acontecendo.

4. Com algum esforço, descobriu que se tratava de Jesus de Nazaré. Sabendo quem era Jesus, começou a gritar com todas as forças do seu coração. Chama Jesus pelo nome, sem cerimônias, mas ao mesmo tempo percebe o que os demais não podiam ver: Jesus de Nazaré é o descendente de Davi! O messias anunciado pelas Escrituras.

5. Ao revelar o que os demais não percebiam, de certa forma exigia dele, diante de todos os que haviam escutado seu poderoso grito em oração, que respondesse de alguma maneira. Bartimeu se sente único e diferente dos demais, pede com a segurança de quem vai ser escutado, indiferente ao pedido de calar-se. 

6. Quem sabe esse calar-se não seria por erroneamente ele atribuir a um galileu o título de filho de Davi, pois de Nazaré nada de bom tinha saído até então. Mas nenhuma razão intelectual foi capaz de apagar a convicção do coração. Ele insiste num aumento progressivo da voz. Jesus resolve atendê-lo, antes que aquela gritaria se torne insuportável.

7. Se alguns tentavam impedi-lo, outros o animavam. De um salto, deixando tudo para trás, vai até Jesus. Difícil dizer quem dos dois contagiava a quem com a sua alegria. A pergunta de Jesus parece desnecessária. Que outra coisa poderia solicitar um cego?

8. Jesus queria escutar dos seus próprios lábios a petição. Bartimeu responde com a oração mais curta e eficaz de todo o Evangelho. Ele queria ver essas coisas prazerosas da natureza que nossos olhos não se cansam de contemplar. Caminhar sem ter que apoiar-se em coisas ou pessoas; reconhecer os autores de tantas vozes amigas; distinguir o essencial do acidental e ver o que é invisível para os olhos.

9. A palavra de Jesus é eficaz. Aquele que outrora era cego, recobrou a vista imediatamente. Nesse ‘vai’ de Jesus, ele dá a entender que já está feito. Que ele deve retirar-se. Jesus deve continuar o seu caminho. Bartimeu pode retomar o seu lugar perdido na família, mas em vez de ir-se, fica. Em vez de voltar, vai com Jesus.

10. Várias linhas de reflexão brotam desse evangelho: a importância da manifestação externa da fé. Não basta crer com o coração. É preciso confessar a fé com a boca; a cura leva-nos a pormo-nos de pé e empreender a caminhada. A verdadeira cura nunca é passiva. Seguir a Jesus pode significar uma busca contínua do próprio Senhor. Ele é o caminho, a cura perfeita; a pérola preciosa a ser adquirida.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de outubro de 2021

(Rm 8,1-11; Sl 23[24]; Lc 13,1-9) 

29ª Semana do Tempo Comum.

“Os que vivem segundo a carne aspiram pelas coisas da carne;

os que vivem segundo o Espírito aspiram pelas coisas do Espírito” Rm 8,5.

“Depois dos capítulos precedentes, carregados de tons dramáticos, entramos no capítulo oitavo da Carta aos Romanos, um dos mais belos textos do Novo Testamento. Ecoam nele palavras que esclarecem o mal que há em nós e que, sobretudo, abrem-nos à esperança por causa da estupenda libertação do pecado realizada por meio de Cristo Jesus. Já não estamos sob o domínio do mal, mas sob a força do Espírito. A libertação do ser humano foi realizada por Cristo não como ato vindo de fora, mas como obra que se realiza a partir de dentro. Cristo se encarnou, trazendo o Espírito de Deus para dentro da própria condição humana, que é dominada pelo egoísmo. Desse modo, o ser humano pode seguir a Cristo que passou da morte para ressurreição, passando do egoísmo para a doação de si aos outros. A entrada do Espírito de Deus no ser humano, mediante Cristo, determina uma renovação pela qual o ser humano sente, pensa e age conforme a vontade de Deus. Em lugar da lei dos instintos egoístas, surge a ‘lei do Espírito que dá a vida’. Em lugar do pecado e do egoísmo, que determina o ser e ação do ser humano, existe agora o Espírito ou Amor; em lugar da morte, existe a vida. A unidade entre querer o bem e realiza-lo é recomposta. Com isso, as relações sociais podem ser refeitas e a estrutura social injusta e opressora pode ser superada. O Espírito é em nós uma fonte de paz, uma torrente de alegria, uma luz maravilhosa que nos dá uma sensibilidade para a Palavra e para os caminhos de Deus. Conforme a promessa de Deus, o Espírito põe em ação uma força irresistível e doce que guia para a verdade total e liberta dos vínculos da ‘carne’. O caminho de conversão, a que somos chamados, passa por uma docilidade cada vez maior ao Espírito. – Senhor Jesus, alcança-me a graça da fidelidade ao Espírito Santo, para que me conduza, com força e suavidade, aos braços do Pai na simplicidade e na alegria” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de outubro de 2021

(Rm 7,18-25; Sl 118[119]; Lc 12,54-59) 

29ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero,

então já não sou eu que estou agindo, mas o pecado que habita em mim” Rm 7,19.

“Hoje, Paulo, no texto que escutamos, fala que a vida cristã tem sempre algo de dramático. Embora salvos pela fé, precisamos continuar a combater para alcançar a salvação. Uma coisa é conhecer a Lei de Deus, e outra é observá-la. Também não é suficiente saber que a fé é capaz de nos salvar por um ato de abandono total ao amor misericordioso de Deus. Do mesmo modo, não basta assumir pela fé o mistério pascal de Cristo, que toda via sustenta e anima a vida do verdadeiro discípulo. Paulo descreve a sua própria experiência de luta para nos ajudar a viver o drama de não fazermos o bem que queremos e de fazermos o mal que não queremos. Se é verdade que fomos libertados da escravidão de satanás, também é verdade que continuamos expostos à escravidão da carne, do mal, dos nossos desejos inconfessáveis, dos nossos afetos desordenados. Por isso, sentimo-nos muito identificados com a luta do apóstolo e com os seus anseios. Tanto Paulo como Jesus, alertam-nos para a presença do mal em nós. Jesus chama-nos de hipócritas. Paulo fala de modo incisivo e dramático do mal com que continua a debater-se de si mesmo. A linha de divisão entre o bem e o mal passa pelo nosso coração. Por isso, a luta contra o mal não se trava fora, mas dentro de nós. Se, por um lado, sentimo-nos fascinados e atraídos pelo bem, por outro lado também sentimos o apelo e a sedução do mal. Paulo não se limita a contemplar o seu drama, ergue os olhos para o céu e descortina o olhar amoroso de Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. O crente se dá naturalmente conta das suas limitações e do seu pecado com uma agudeza superior à de quem não tem fé e que o remédio para a sua situação é Jesus, nossa paz e reconciliação, que veio colocar-se no coração da nossa aventura humana. – Senhor Jesus, ajuda-me a ter consciência da incapacidade que tenho para fazer o bem, porque ela me leva a unir-me cada vez mais a ti” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de outubro de 2021

(Rm 6,19-23; Sl 01; Lc 12,49-53) 

29ª Semana do Tempo Comum.    

“Com efeito, a paga do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor” Rm 6,23.

“Quem adora e venera os ídolos de madeira, de pedra, de gesso, recebe a recompensa deles. Quem serve à bebida, aos vícios, à droga terá a recompensa provinda dessas coisas e nada mais. Quem servir a Deus, dedicando-se conscientemente, com fé e ardor missionário aos pobres, aos excluídos e famintos, aos velhos e encarcerados, receberá uma recompensa sem cálculos, transbordante e eterna. Dedicar-se com alma e coração à causa do Evangelho, nas lutas populares, nos movimentos transformadores e geradores de justiça e solidariedade é caminhar nas trilhas de Deus. Quem vive gananciosamente consagrado à riqueza, construindo monumentos para que seu nome seja cantado e citado nas praças e em dias de festa nacional, e nada constrói para a justiça, para a ética pessoal e social, constrói sua casa sobre a movediça areia dos sonhos e dos devaneios. Não estamos nessa caminhada para fazer uma negociata com Deus. A salvação não é negócio. Trata-se de mais lídima e autêntica gratuidade de Deus. Deus é só amor. Gratuidade total. Oxalá cresça em nós o sentido verdadeiro da vida cristã. Ser seguidor de Jesus é doar, gratuitamente, a vida, os dias, as etapas da nossa existência ao Senhor, aos empobrecidos. Gastar a vida em favor do Reino e dar sentido básico à vida. – Senhor, que eu não faça negócio de minha vida. Ensina-me a alegria da gratuidade. Que eu saiba fazer da vida um dom à comunidade. Que eu não viva senão para doar a vida. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de outubro de 2021

(Rm 6,12-18; Sl 123[124]; Lc 12,39-48) 

29ª Semana do Tempo Comum.

“De fato, o pecado não vos dominará, visto que não estais sob o regime da Lei, mas sob o regime da graça” Rm 6,14.

“Hoje, Paulo lembra aos romanos e a todos nós que o batismo tem exigências. Quem foi batizado em Cristo, foi sepultado e ressuscitou com Ele e pode caminhar ‘numa vida nova’ (Rm 6,4). É sobre esta realidade que Paulo apoia todo o seu discurso. É preciso sermos o que somos, atuar de acordo com o dom recebido, viver o mistério pascal de Cristo, morrer ao pecado e viver em Cristo. É preciso comprometer-se na luta contra o pecado e aderir à graça de Deus. O apóstolo termina dando graças a Deus pelos cristãos de Roma, que já tinham percebido as exigências da sua fé em Cristo, libertando-se da escravidão do pecado e tornando-se ‘escravos da justiça’. Há em nós uma enorme ânsia de alegria e de privilégios. Mas corremos o risco de errar no caminho para alcançá-los. Jesus promete-nos a alegria, e já nos dá muita neste mundo, mostrando-nos o seu amor. Mas o amor de Jesus é exigente. Não podemos descuidar-nos de estar prontos e vigilantes. O egoísmo tenta sempre infiltrar-se nos nossos pensamentos. Por isso, é preciso dar-lhe luta sem tréguas, para nos libertarmos do pecado e nos colocarmos ao serviço de Deus. Quanto mais experimentamos em nós, ou nos outros, a verdade de que o pecado escraviza e leva à morte, mais pode o nosso coração dilatar-se em servir a Deus com alegria. O caminho consiste em obedecer cordialmente aos ensinamentos de Jesus, em unir-nos a Ele e ao seu amor oblativo, para glória e alegria de Deus, e para o bem da humanidade. Esse caminho vai da escuta da Palavra ao partir juntos o pão da caridade, ao reconhecer Cristo presente nos pequenos e nos pobres, ao serviço generoso dos irmãos pelos quais todos somos responsáveis. – Senhor Jesus, não permitas que eu seja ocasião de pecado para os pequeninos que se aproximam de ti e querem fazer-se discípulos do teu Reino (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

   Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de outubro de 2021

(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39[40]; Lc 12,35-38) 

29ª Semana do Tempo Comum.

“Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça” Rm 5,17.

“Todos nós preferimos a vida à morte e estamos apegados à vida. Dançamos diante das promessas de mais vida e paz. Damos tudo à vida, à libertação. Nada, nada contra vida. A vida supera em milhões de pontos a morte. Paulo faz, como consta em toda a Bíblia, uma contraposição entre a vida e a morte, noite e luz, pecado e graça, bem e mal, Adão e Cristo. Adão personifica a morte. Jesus Cristo a vida. Jesus é a luz, a graça, a paz, a esperança que inunda o mundo, a terra e os corações. Somente as pessoas maldosas, com coração de pedra, os indiferentes, preferem a morte à vida. Cristo é o novo Adão que nos trouxe a abundância do amor e da ternura. Veio para os últimos, os descartados pelos grandes e impiedosos. Paulo nos mostra a grandeza, a bondade, a Pessoa indescritível, carinhos de Jesus. Nem tem comparação nenhuma com Adão. O pecado fica minimizado perante a presença amiga, fraterna, misericordiosa, acolhedora de Jesus. A cruz, a encarnação, as palavras de carinho, a companhia de Jesus, vencem de longe, de muito longe, infinitamente, quaisquer comparações com o velho homem, com a pessoa sem amor, com a injustiça, com a idolatria, com a mediocridade e a indiferença. E com isto se coloca diante de nós o valor da vida com essência de todas as bênçãos que Deus concede ao ser humano. E a certeza da salvação trazida por Jesus para todos nós. Sua salvação é libertação e vida. Quem a acolhe também se torna promotor de vida e libertação para os irmãos. – Senhor, morrer, mais que fechar para sempre os olhos, parar o coração, é deixar de amar, de querer bem aos outros. Quero exaltar e vibrar com a presença salutar, confiante e misericordiosa de Jesus entre nós. Ajuda-me a ser testemunha viva desta gratuidade. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de Outubro de 2021

(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) 

São Lucas, evangelista.

“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir” Lc 10,1.

“Três breves notas nas cartas de são Paulo são as únicas notícias que a Sagrada Escritura nos oferece sobre são Lucas, o solícito investigador da ‘Boa Nova’, ao qual devemos o terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos. Das suas anotações de viagem, isto é, das páginas dos Atos dos Apóstolos, em que Lucas fala na primeira pessoa, podemos reconstruir parte da sua atividade missionária. Ele foi companheiro e discípulo dos apóstolos. O historiador Eusébio sublinha: ‘... teve relacionamento com todos os apóstolos e foi muito solícito’. Dessa sua sensibilidade e disponibilidade para com o próximo nos dá testemunho o próprio Paulo, a ele unido por uma grande amizade. Lemos na epístola aos colossenses: ‘Saúda-vos Lucas, o médico amado...’. A profissão de médico pressupões que ele tenha dedicado muitos anos ao estudo. A sua formação cultural transparece nos seus livros: o Evangelho foi escrito num grego correto, cristalino e bonito, rico de vocábulos. Há outra consideração a fazer sobre o seu Evangelho, além do fator estilo e história: Lucas é o evangelista que mais pintou a fisionomia humana do Redentor, a sua mansidão, as suas atenções para com os pobres, para com os desprezados, para com as mulheres, e para com os pecadores arrependidos. É o biógrafo de Nossa Senhora e da infância de Jesus. É o evangelista do Natal. Pelos Atos e pelo terceiro Evangelho conhecemos também o temperamento de são Lucas: homem conciliador, discreto, dono de si mesmo, minimizando ou omitindo expressões que poderiam ferir algum leitor, quando isso não comprometia a fidelidade da história. Revelando-nos os íntimos segredos da Anunciação, da Visitação, da Natividade faz-nos entender que conheceu pessoalmente Nossa Senhora. Lucas nos adverte que fez pesquisas e tomou informações sobre os fatos referentes à vida de Jesus junto àqueles que conviveram com o Mestre. Um escrito do século II, o Prólogo antimarcionita do Evangelho de Lucas., assim sintetiza-lhe o perfil biográfico: ‘Lucas, um sírio de Antioquia, médico de profissão, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até seu martírio. Serviu sem restrições ao Senhor, nunca se casou, nem teve filhos. Morreu coma idade de oitenta e quatro anos em Beócia, repleto do Espírito Santo’. Estudos recentes concordam com essa versão” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

29º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Is 53,10-11; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45).

1. No caminho que faz com os seus discípulos, nem sempre é Jesus que vai à frente, às vezes são seus discípulos que se antecipam, como fazem Tiago e João, que já pensam na glória de Jesus, sem mesmo ter atravessado o caminho da cruz.

2. Mais uma vez Jesus é obrigado a fazer a eles e a nós, retornarem. Não é lícito exorcizar a ideia do calvário, transferindo-se logo para o Reino. Não é consentido remover a imagem da cruz, substituindo-a por um lugar de honra. Ao discípulo não basta só compreender o que o Mestre fala, é preciso estar com Ele no lugar justo, no momento justo.

3. Se a nossa obsessão é a de ‘chegar’, Jesus nos diz que devemos ‘acompanhar’. Por vezes pretendemos que Deus assine uma folha em branco. Ainda bem que Ele não entra em nosso jogo de astúcia, pois nem sempre sabemos o que pedimos.

4. Na realidade somos nós que, na oração, deveríamos assinar uma folha em branco e deixar que Deus livremente nos faça conhecer. Paradoxalmente, temos mais a ganhar quando Deus não nos concede o que ‘queremos que faça por nós’. O principal problema da oração está no ‘saber que coisa pedir’. Assim, o mais seguro seria deixar que ele nos peça.

5. Os discípulos querem um lugar de honra, certamente com autoridade e segundo a visão hierárquica que têm do Reino messiânico. A única coisa que Jesus assegura é a participação deles em seu sofrimento e os convida a abandonar qualquer contabilidade de recompensa, pois estão em boas mãos.

6. A renúncia a certas ambições demonstra que confiamos naquilo que o Pai nos preparou. O discípulo é chamado a viver no presente, deixando que Deus programe livremente o futuro. A recompensa já está no próprio seguimento, no ser discípulo.

7. Jesus os faz vislumbrar rapidamente a tirania reinante daqueles que se dizem chefes e parecem grandes no campo político. Diante desse espetáculo de escala de poder e sucesso, os discípulos devem tomar consciência que a opção de Jesus seria o caminho oposto e assim denunciar o aspecto prevaricador do poder.

8. Jesus formula assim um projeto de comunidade, caracterizado pelo anti-poder, no serviço e na dependência uns dos outros. A tentativa de Jesus é abolir certa mentalidade, convertendo ‘libido do poder’ na alegria de servir e assim eliminar o instinto de domínio de um ser humano sobre o outro.

9. Para que as coisas ainda fiquem mais claras, Jesus se apresenta como modelo, justamente Ele que, segundo a tradição bíblica, foi dado ‘todo poder, glória e reinado’ (Dn 7,14). Jesus descontrói essa imagem; seu poder é serviço, sua glória vem na humilhação e sua autoridade régia é dar a própria vida.

10. Jesus apresenta um projeto de comunidade sem poder, não sem autoridade. Mas tal autoridade é caracterizada pelo serviço. É significativo que os três anúncios que Jesus faz de sua paixão se concluem com o verbo ‘servir’. Seu caminho da cruz não é ‘sofrer’, mas ‘servir’, dando a vida. A grandeza está no dom de si. E este não tem limites. Felizes seremos se compreendermos isso, nos dirá Jesus.      

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de outubro de 2021

(Rm 4,13.16-18; Sl 104[105]; Lc 12,8-12) 

28ª Semana do Tempo Comum.

“Pois nessa hora o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer” Lc 12,12.

“A vida do discípulo explica-se como serviço total e exclusivo a Jesus e ao Reino anunciado por ele. Sua função é a de dar testemunho e levar adiante sua missão, não retrocedendo diante das dificuldades e dos desafios. A glória do discípulo consiste exatamente em poder ser considerado digno de dar a suprema prova de sua fé: entregar a própria vida. É assim que ele comprova seu amor a Jesus e a sinceridade de sua opção. Existem, porém, discípulos que, quando confrontados por causa de sua fé, sentem-se incapazes de mostrar-se valorosos. Chegam até mesmo a negar Jesus, declarando desconhecê-lo, como se não fossem do número de seus seguidores. É a negação da condição de discípulo e uma forma de desprezo pelo Mestre. Por isso, quando chegar a hora de comparecer diante do Pai, Jesus não os reconhecerá como discípulos seus. O gesto de renegar Jesus é expressão da falta de fé. O Mestre havia garantido que os discípulos poderiam contar com a ajuda do Espírito Santo, nos momentos de dificuldade. Este seria seu defensor, dando-lhe coragem para enfrentar toda sorte de acusação. Quem fraqueja, é porque não tem suficiente confiança na ajuda prometida pelo Senhor. Pelo contrário, quem confia em Jesus e no Espírito prometido, dará seu testemunho de discípulo servidor do Reino. – Senhor Jesus, dá-me sempre o teu Espírito Santo para me sustentar e inspirar quando eu for chamado a dar testemunho de ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de outubro de 2021

(Rm 4,1-8; Sl 31[32]; Lc 12,1-7) 

28ª Semana do Tempo Comum.

“Ora, para quem faz um trabalho, o salário não é creditado como um presente gratuito,

mas como uma dívida” Rm 4,4.

“Hoje, Paulo afirma que Abraão foi justificado, ainda antes de oferecer Isaac em sacrifício, pela sua fé na promessa de Deus, porque esperou ‘contra toda a esperança’. Só a fé justifica, isto é, torna-nos santos diante de Deus, fonte de toda santidade e justiça. Mas esta fé não é uma atitude passiva. Assim fica provada a sua tese de que Deus salva por meio da fé e antes das obras. A figura de Abraão, nosso pai na fé, ilustra a verdade da salvação pela fé. Submetido à prova, respondeu com um esplêndido ato de obediência. Mas, já antes, Deus lhe tinha feito a promessa, que acolheu na fé (cf. Gn 15). Assim, em Abraão, a fé precedeu claramente as obras, e as suas obras são fruto da fé. Jesus também convida os seus ouvintes a uma atitude de confiança e de abandono incondicional diante de Deus Pai. Ele cuida de nós com uma ternura atenta, a que nenhum pormenor pode escapar. Até os cabelos de nossa cabeça estão contados. Somos, pois, chamados a contemplar Deus sempre presente e ativo na nossa própria vida e na nossa história. Assim se assume a obediência da fé e se alcança o fruto da paz. Nada nem ninguém podem fazer mal a quem crê. Paulo aproxima ao tema da fé e o tema do perdão dos pecados. Ao fim e ao cabo, que é o pecado se não uma tentativa deliberada de nós pôr à margem do olhar bondoso e amigo de Deus, para, usando mal a liberdade, tentar afirmar-nos? Se o ícone do pecador é o ‘filho pródigo’ que parte para longe do pai, o ícone do crente é Jesus, o Filho muito amado que, no meio dos tormentos da paixão, agarra-se confiadamente ao Pai e se entrega em suas mãos. Só nestas circunstâncias o amor pode cantar a vitória que o torna mais forte que a morte. O supremo grito de confiança de Jesus na cruz manifesta a união de amor entre o Pai e o Filho. – Senhor Jesus, sustenta a minha fraqueza e ajuda-me a ser, como Tu, perfeitamente fiel ao Pai (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de outubro de 2021

(Rm 3,21-30; Sl 129[130]; Lc 11,47-54) 

28ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes

e ainda impedistes os que queriam entrar” Lc 11,52.

“Os doutores da lei tinham recebido a grande incumbência de colocar a Palavra de Deus ao alcance do povo. Mas não foram capazes de entende-la. E acabaram deformando-a, preocupados com as ninharias de suas tradições. ‘Vocês esvaziam a Palavra de Deus com as tradições que transmitem’ (Mc 7,13). Assim, com a chave na mão, não só não souberam entrar, mas impediam o povo de entrar. Ao contrário dos fariseus, Jesus ensinava com autoridade, e o povo se encantava com sua Palavra e se mostrava pronto a segui-la. Jesus não tem só a chave. Ele é a própria porta. ‘Eu sou a porta. Quem entra por mim será salvo. Entrará, e sairá, e encontrará pastagens’ (Jo 10,9). O contraste entre Cristo e os fariseus é flagrante. Eles amarravam e fechavam. Jesus abria e deixava liberdade para buscar pastagens abundantes. Isto coloca para nós o desafio de como tratar a Palavra de Deus. A tarefa do teólogo, do pregador, do ministro da Palavra. A Palavra abre, não fecha. Toda vez que reduzimos o significado da Palavra aos limites de nossa compreensão, fechamos a porta, e dificultamos a entrada dos que buscam os espaços abertos que agora a Palavra descortina para a generosidade de quem se lança em busca de pastagens infinitas. Não cabe a nós reduzir o sentido da Palavra. Nossa missão é indicar a porta, por onde todos são convidados a entrar. Mesmo que muitos possam ir à nossa frente e chegar mais longe. – Obrigado, Senhor, porque vossa Palavra nos abriu a porta da vida. Ajudai-nos a entrar por ela, sem que fechemos a porta aos nossos irmãos. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de outubro de 2021

(Rm 2,1-11; Sl 61[62]; Lc 11,42-46) 

28ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas,

mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus” Lc 11,42.

“No tempo de Jesus, uma ala do farisaísmo tendia a inverter o valor das coisas. Davam muita importância às coisas secundárias, enquanto as essenciais não recebiam a devida atenção. O pagamento do dízimo, por exemplo, era uma exigência irrecusável, e cumprida mesmo em relação às insignificantes hortaliças. Entretanto, os fariseus não se preocupavam, minimamente, em praticar a justiça para com o próximo e dedicar a Deus um amor verdadeiro. A prática religiosa do dízimo era, desta forma, esvaziada de sentido. Ao pagá-lo, os fariseus pensavam estar sendo fiéis à vontade divina. Todavia, enquanto cometiam injustiças contra o próximo, cultivavam a vanglória e agiam como hipócritas acabavam por desagradar a Deus. Invalidava-se, deste modo, sua piedade exterior, à qual se entregavam apenas para serem louvados pelos outros. O amor e a justiça ocupam o lugar central na vida do discípulo do Reino. Nisto, ele se distingue dos fariseus. Amor e justiça, quando postos em prática, revelam o mais íntimo do ser humano. Outras práticas podem ser enganosas, revelando apenas uma piedade aparente. De fato, podem ser uma máscara da hipocrisia humana e esconder a maldade que a pessoa traz no coração. Por isso, em primeiro lugar, é preciso praticar a justiça e o amor. Com este pano de fundo, as outras práticas de piedade terão mais solidez. – Senhor Jesus, ajuda-me a centrar minha vida sempre mais na justiça e no amor, para que tudo o mais tenha sentido para mim (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de outubro de 2021

(Est 5,1-2; 7,2-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.513.15-16; Jo 2,1-11) Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

“Jesus respondeu-lhe: ‘Mulher, por que dizes isso a mim? Minha hora ainda não chegou’.

Sua mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que ele vos disser’” Jo 2,4-5.

“Embora as atenções do texto evangélico se concentrem em Jesus, não se pode subestimar o papel de Maria mãe e discípula, no primeiro sinal que Ele realizou, como manifestação do amor misericordioso de Deus derramado sobre a humanidade. Fazendo uso de nossa imaginação podemos recriar este dia de festa e alegria no qual Jesus participava como convidado com sua mãe e amigos. Para os novos discípulos de Jesus que tinham vivido com o Batista anteriormente, era sem dúvida contrastante estar com seu novo Mestre numa festa de casamento! A imagem de Jesus é totalmente diferente: é um Messias que partilha sorridente as alegrias do povo. Desta maneira, o evangelista mostra o essencial que Ele veio nos revelar, uma nova imagem de Deus! O Deus que Jesus revela é um Deus alegre, simples, terno, que celebra a vida. Entra em cena Maria, trazendo no meio da festa a necessidade dos noivos: ‘Eles não têm mais vinho!’ Que necessidades Maria sinalizaria hoje, na festa da vida: ‘Eles não têm o que comer’, ‘Eles trabalham como escravos’, ‘Eles não têm moradia digna’, ‘Eles não encontram sentido para a vida’... Cada um(a) de nós pode se sensibilizar  e solidarizar com Maria olhando para a realidade na qual vivemos, e como, ela apresentá-la a Jesus. Que diríamos para Ele? Maria espera que seu Filho atue, confia nele. Ela simboliza todos aqueles que, em Israel, esperam a realização das promessas messiânicas. Representa aqueles que conscientes da realidade, aguardam algo novo, não só não se conformam senão querem e esperam algo mais! Sua condição de ‘mãe de Jesus’, sua maternidade e os vínculos de dependência com seu filho passam para um segundo plano. Destaca-se, sim, sua adesão pessoal e sua confiança radical em Jesus. – Pai, que o testemunho de Maria cale fundo no meu coração, transformando-me em perfeito discípulo de Jesus. E que eu possa conduzir muitas outras pessoas a crerem em teu Filho” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de outubro de 2021

(Rm 1,1-7; Sl 97[98]; Lc 11,29-32) 

28ª Semana do Tempo Comum.

“A vós todos que morais em Roma, amados de Deus e santos por vocação, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” Rm 1,7.

“Por muito tempo a carta aos Romanos foi considerada o texto, o livro mais importante do Novo Testamento. Em nossos tempos, tão invadidos de muitas direções e de variados convites e opções religiosas, é bom que todos nós cristãos leiamos com muita atenção esta carta de Paulo. A comunidade cristã romana era constituída por cristãos precedentes da Grécia e da Ásia Menor. Paulo lhes traz a mensagem da unidade. Ele acaricia ternamente um sonho: chegar aos extremos do mundo conhecido, aos extremos do Ocidente, onde Hércules havia plantado suas colunas, além das quais não haveria mais nada. Anunciar a Jesus Cristo até os confins da terra. Paulo chama os cristãos de Roma de ‘santos’. No Novo Testamento, este é o indicativo dos cristãos. Tal nome era atributo primeiramente aos membros da comunidade primitiva de Jerusalém e especialmente ao pequeno grupo de Pentecostes (At 9,13). Depois foi estendido a todos os fiéis da Judéia (At 9,31-41). Todos os cristãos, também os romanos, formam a nação santa. São a comunidade eleita, escolhida, vocacionalmente responsável pela divulgação do amor, do Evangelho vivo de Cristo. Todos os cristãos, pela graça, participam da própria santidade divina. Todos somos ‘templo santo’ (1Pd 2,9), amados de Deus. Esta santidade provém de uma ‘eleição’ (Rm 1,7). Todo esse dom vem da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo. Diante de tamanha e admirável amizade e caridade, somos chamados a divulgar o rosto de Deus e entoar mil e mil canções de festa ao Senhor. Através de nossa vida santa, digna, carregada de boas obras. – Senhor, obrigado porque vossa santidade nos habita. Tornai-nos sempre mais dignos deste privilégio. Dai-nos sempre a graça e a paz por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Que elas nos façam crescer no amor e na alegria de sermos santos e justos. Amém (Luiz Demétrio Valentini e Zeldite Burin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

28º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30)

1. O ponto principal da reflexão do nosso evangelho é certamente esse encontro entre Jesus e esta pessoa que busca dar à sua vida religiosa um significado maior. É um homem de posses e de conduta irrepreensível. Mas algo lhe falta. Jesus o faz ver que na realidade ele se encontra apegado aos seus bens, enquanto seu espírito tem desejos maiores.

2. Mas eu gostaria de voltar o nosso olhar para essa pergunta de Pedro diante da dificuldade de alguém preso às suas posses encontrar o caminho do céu: ‘Eis que deixamos tudo e te seguimos’. Poderíamos nos perguntar se por trás da pergunta estaria algum fim interesseiro, um vago sentimento de desgosto ou mesmo um furtivo olhar para trás.

3. O contexto em que se encontram nos atestam que não. Sua preocupação é com o futuro, pois o jovem com quem Jesus acabara de conversar ambicionava a vida eterna. Pedro e seus companheiros não eram ricos, deixaram o pouco que possuíam, sem hesitação, para segui-lo.

4. Ele não duvida das anteriores promessas de Cristo, mas quer uma confirmação. Sua franqueza de caráter não lhe permite calar o que vai no coração. No mais, o que será deles, pois Jesus caminha em direção a Jerusalém, e por duas vezes já havia anunciado o que o aguarda. O futuro parece terrivelmente incerto.

5. Talvez, no nosso caminhar, no meio de nossas observâncias religiosas e ‘quebrar de cabeça’ com os problemas da vida, nos venha no coração também a mesma pergunta. Por certo, como eles, não abandonamos tudo para seguir a Cristo, mas não é menos certo que não se pode ser discípulo sem ter abandonado alguma coisa.

6. Na realidade, não é o momento em que nos decidimos que nos é custoso. A ferida abre-se mais tarde. Por vezes temos tentações em lamentar o que deixamos, sentimos certa diminuição do fervor, desgosto ou desejos que significam querer recuperar o que generosamente se tinha oferecido a Deus.

7. Para alguns a dificuldade de viver a castidade pessoal; o sacrifício é duro para os esposos que descobrem uma falha no ouro da aliança; para uma jovem que espera alguém verdadeiramente cristão para desposar e esse não surge; se pudéssemos voltar atrás, será que teríamos renunciado àquele meio escuso de, quem sabe, enriquecer?

8. Vamos parar por aqui, pois teríamos um rosário de situações em que questionaríamos se vale ou valeu a pena tantos sacrifícios. Talvez, como Pedro, sentimos a necessidade de perguntar: ‘Senhor, apesar de tudo, estamos na verdade? Diz-nos se nos enganamos quando, para te seguir, fizemos os sacrifícios e renúncias.

9. Nesse texto de Marcos, diferente de Mateus (19), Cristo promete uma recompensa singular aos que abandonaram tudo para segui-lo, e acrescenta um estranho favor: perseguições! O pensamento de Jesus não muda. Ele já o havia dito nas bem-aventuranças.

10. Por vezes recebemos ingratidão, a incompreensão e todo gênero de maldade humana, mas esta prova é também uma recompensa. É algo que nos cura dos perigos egoístas da vaidade ou do apreço pelos elogios humanos. Pois só se ataca aquilo que tem força e valor.

11. Que será de nós que damos ao Cristo tudo que podemos? A sorte do Cristão, como entendeu Pedro, não está tanto no que receberá, mas naquilo que a força do Evangelho e a perseverança na fé nos faz experimentar: a certeza de não caminharmos sozinho, que a nossa recompensa é o próprio Cristo, é para Ele que caminhamos.  

Pe. João Bosco Vieira Leite