Quinta, 31 de janeiro de 2019


(Hb 10,19-25; Sl 23[24]; Mc 4,21-25) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo da cama? Ao contrário, não a coloca num candeeiro?” Mc 4,21.

“Marcos descreve o fruto que a palavra de Jesus poderá produzir por meio de algumas metáforas. Os outros evangelhos citam essas palavras em outro contexto. Marcos as emprega aqui porque persegue um objetivo particular seu. O fruto que brota em nós pela força da palavra de Deus é como uma luz que ilumina a vida humana, tornando visível o que está escondido (4,21). Quem deixa a luz entrar nos abismos secretos de seu coração, viverá uma vida fecunda. Quem, ao invés disso, subtrai da luz divina amplas áreas de sua lama, impede o fluxo da vida. Ficará paralisado e insensível. Um outro aspecto da vida consiste em distribuir em ampla medida (4,42s). Quem redistribui generosamente o que recebeu verá que suas mãos não ficam vazias, antes não param de se encher. Dar não quer dizer apenas doar bens materiais aos pobres, significa também repassar o que ouviu, o que se experimentou, o que se entendeu. Quem guarda tudo isso apenas para si mesmo acaba sufocado. A vida só flui e frutifica naquele que sabe dar” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de janeiro de 2019


(Hb 10,11-18; Sl 109[110]; Mc 4,1-20) 
3ª Semana do Tempo Comum.

Ainda não concluímos a reflexão em torno dos salmos que aparecem na nossa liturgia durante a semana, por isso, vez ou outra vamos tratar de algum desses salmos restantes, uma interpretação que nos facilite a compreensão e nos ajude a rezar.

“Palavra do Senhor ao meu Senhor: ‘Assenta-te ao lado meu direito até que eu ponha os inimigos teus com escabelo por debaixo de teus pés!” Sl 110,1.

“O salmo 110 é citado no Novo Testamento mais do que qualquer outra passagem do Antigo Testamento. Para os que estão lendo hoje, o salmo parece cheio de perguntas; para os primeiros cristãos, estavam cheios de profecias que se cumpriram em Jesus. Mais de dez livros do Novo Testamento citam o salmo 110 ou fazem alusão a ele, alguns mais de uma vez. O que diferencia este salmo de todos os outros que falam sobre o Messias é que ele é apenas sobre o Messias. Os demais salmos proféticos falam de Davi ou de sua linhagem real em primeiro lugar, e, então, do Messias; mas isso não acontece no salmo 110. O Libertador prometido ocupa cada verso, cada palavra. Temos três caracterizações de Jesus em sete pequenos versículos. Primeiro, Jesus é descrito como um rei divino, sentado à direita de Deus no céu. Ele está assentado em majestade até chegar o dia em que seus inimigos serão colocados debaixo de seus pés. Esse dia chegará quando Jesus retornar com poder e glória para destruir a todos os que se opõe a ele. Quase no fim do ministério terreno de Jesus, alguns líderes religiosos lhe fizeram algumas perguntas capciosas com o intuito de apanhá-lo em algum deslize doutrinário ou político. Jesus vira a mesa contra eles ao fazer-lhes uma pergunta sobre si mesmo: ‘O que vocês pensam a respeito de Cristo? De quem ele é filho?’ Os inimigos de Jesus pensaram que a resposta fosse fácil. ‘É filho de Davi’, responderam. Então, Jesus aperta o cerco: ‘Então, como é que Davi, falando pelo Espírito, o chama ‘Senhor’? Pois ele afirma: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo de teus pés.’ Se, pois, Davi o chama “Senhor’, como pode ele ser seu filho?’ (Mateus 22,41, citando Salmos 110,1). Uma pergunta fácil, de repente, se torna um problema. Se Davi usou o termo Senhor para se referir a um dos seus descendentes físicos, aquilo só poderia significar que o descendente era, de alguma forma, maior que Davi. Isso só poderia acontecer se o descendente fosse mais do que um mero ser humano. Ele teria de ser o Emanuel, Deus conosco. A resposta para a pergunta de Jesus é esta: a pessoa de quem Davi fala no salmo 110 é tanto filho de Davi quanto o Filho de Deus. Jesus, o Messias prometido, era totalmente homem e totalmente Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de janeiro de 2019


(Hb 10,1-10; Sl 39[40]; Mc 3,31-35) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Chegaram a mãe de Jesus e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chama-lo” Mc 3,31.

“Depois desse episódio em que Jesus rechaça os argumentos dos escribas, Marcos descreve uma segunda visita da mãe de Jesus e de seus irmãos. Eles não entram na casa; mandam chama-lo. Querem mandar nele. Mas Jesus nem sai ao seu encontro. Ele aproveita a oportunidade para falar da sua nova família. ‘Eis minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã, minha mãe’ (3,34s). A relação com Deus e a disposição de atender à vontade de Deus criam uma nova comunidade que é mais profunda que os laços familiares. O que mantém uma comunidade profundamente unida não é o aconchego, não são os interesses, e sim a realização da vontade de Deus. Esta é uma experiência bem conhecida por muitos cristãos: sempre que as pessoas se reúnem em nome de Jesus, para procurarem Deus juntos, forma-se o laço forte da comunidade. Mas, por sua estrutura em forma de sanduiche, Marcos adverte também que essa comunidade está sempre em perigo. A comunidade é destruída quando alguns se arvoram em juízes sobre os outros e, mais do que tudo, quando uns demonizam os outros e os tratam como se fossem doentes mentais. Além disso, os membros da comunidade cristã também correm perigo de construir uma imagem errada de Jesus, de demonizá-lo em vez de ouvir atentamente sua mensagem desafiadora. A própria Igreja não está livre do risco de agarrar-se a suas imagens de Deus e de Jesus, em vez de aceitar os desafios que Deus lhe manda. Marcos a exorta a cuidar que todos cumpram a vontade de Deus. Uma comunidade duradora só pode nascer da disposição de todos de perguntar constantemente pela vontade de Deus e cumpri-la” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de janeiro de 2018


(Hb 9,15.24-28; Sl 97[98]; Mc 3,22-30) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Os mestres da lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios” Mc 3,22.

“A estrutura de ‘sanduiche’ (em que duas narrativas são encaixadas de tal maneira que uma serve de moldura à outra), que é típica para o Evangelho de Marcos, estabelece uma ligação entre as duas visitas dos parentes de Jesus e as acusações dos escribas de que Jesus era possuído por Belzebu. Marcos aproveita essa composição do texto para expressar uma verdade teológica: até os parentes mais próximos de Jesus correm o risco de demonizar Jesus. É a forma mais sutil de rejeição: recorrer à patologização do adversário. O outro é apresentado como doente psíquico, como possuído pelo demônio. Essa atitude dispensa maiores atenções e análises. [...] Estes acusam Jesus de estar possuído por Belzebu e de expulsar os demônios com a ajuda do chefe dos demônios. Os exegetas não são unânimes quanto ao significado da palavra Belzebu. É provável que signifique ‘senhor da casa’, o seja, o chefe dos demônios que comanda a casa dos demônios. Como os familiares de Jesus, os fariseus também se recusam a analisar seriamente a mensagem de Jesus. Preferem falar mal dele, acusando-o de estar mancomunado com os demônios. Até hoje é esse o método usual para manter opiniões divergentes a distância. Estas são qualificadas de produtos de alguma doença psíquica, de modo que dispensam qualquer envolvimento mais sério com as respectivas palavras ou atos. Tudo não passa de manifestação dessa doença. Jesus não aceita esse papel de doente mental possuído pelo demônio. Ele refuta seus adversários contando uma parábola: ‘Como é que Satanás pode expulsar Satanás? Se um reino está dividido contra si mesmo, esse reino não pode se manter’ (3,23-24). Assim ele mostra que as acusações dos escribas são absurdas. Porque, nesse caso, os demônios já não possuiriam poder nenhum. Mas o que vale para a casa dos demônios aplica-se também à família. Uma família dividida contra si mesma não poderá subsistir (3,25). Trata-se de uma advertência dirigida à comunidade cristã. Para Marcos, essa associação das duas visitas da família com a acusação da possessão demoníaca vai além do confronto de Jesus com sua família original. Ele visa sobretudo o perigo que ronda a comunidade cristã: a divisão. O risco maior vem do fungo esquizogênico disseminado pela acusação de que membros da comunidade estariam mancomunados com os demônios, de que sua pregação e seu comportamento obedeceriam a ordens vindas dos demônios. Jesus chama essa atitude dos escribas de pecado contra o Espírito Santo. Quem afirma a respeito de um outro, que o deixa inseguro, que é possuído por um espírito impuro peca contra o Espírito Santo que fala por intermédio dele. Uma pessoa dessa age contra sua consciência, pois em seu íntimo sabe bem que o outro tem uma mensagem importante que precisa ser encarada. Mas ela se nega a enfrentar o desafio representado pelo outro. Prefere taxá-lo de doente mental” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18B[19]; 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21)

1. No caminho que fazemos em cada liturgia da palavra dominical até chegar ao evangelho, a primeira leitura tem um papel particular de nos trazer uma chave de leitura ou interpretação. 

2. O texto está situado no retorno de Israel do exílio. É um recomeço marcado pela escuta da Palavra, aquela que dos lábios de Deus criou todas as coisas, e as recria num renascimento também interior. 

3. A palavra não é só lida, ela é explicada, pois foi a falta de conhecimento que os levou ao exílio. O povo chora ao se dá conta do afastamento dos preceitos divinos. Mas Neemias e Esdras os convidam a alegrar-se pela manifestação da bondade divina.

4. Aqui está o gancho que nos permite uma compreensão do evangelho a partir do momento em que Jesus, o Verbo se apresenta e interpreta a si mesmo. A palavra deixa de ser uma coisa para se tornar uma pessoa. 

5. O texto salienta também essa importância do nosso encontro com a Palavra de Deus. É nela que também renovamos e realizamos a comunhão com Deus e com o seu Cristo. O salmo canta o reconhecimento e o valor dessa palavra iluminadora e transformadora de vidas. 

6. Continuando nossa leitura da carta aos Coríntios onde Paulo esclarece a utilidade e função dos dons, temos a comparação da comunidade cristã a um corpo. A ideia não é original, mas ampliada numa relação particular entre o corpo, a igreja em seus membros, e a cabeça que é Cristo.

7. Tudo isso pretende iluminar a comunidade para um caminho de solidariedade uma vez que existe uma diversidade de dons. Quando estes são colocados em comum todos se beneficiam. 

8. O nosso evangelho constitui-se de duas partes: a primeira é a introdução dada por Lucas ao seu evangelho nos indicando as motivações para o mesmo é o esforço da pesquisa, uma vez que não fazia parte dos doze. Ele cria uma obra que permite ao leitor conhecer Jesus para além da narrativa, dos acontecimentos e das palavras proferidas.

9. A segunda parte é o discurso inaugural de Jesus na sinagoga de Nazaré, onde dá início ao seu ministério público, se auto apresentando como aquele que foi profetizado por Isaías, mas no 'hoje' daqueles que o escutavam. 

10. Jesus traz a misericórdia, a liberdade e o auxílio necessário a quem O acolhe em sua Palavra. Lucas não deixa de salientar as pessoas débeis e necessitadas de todos os tempos ao longo do seu evangelho.

11. Por mais avanços tecnológicos a que cheguemos, como em outros tempos, o coração humano corre sempre o risco de permanecer longe de Deus e dos irmãos. Podemos sempre desconsiderar as palavras de Jesus, pois elas nos desconcertam e nos desafiam em seu conhecimento, em sua redescoberta, mas acima de tudo em sua vivência. 

12. Nos diz São João Crisóstomo numa de suas homilias: "As Escrituras não nos foram dadas para que as conservássemos só escritas nos livros, mas para que as gravássemos no coração [...] impressas na nossa alma para que esta fosse purificada" .

13. Façamos juntos esse exercício de recordação e meditação da Palavra de Jesus até que chegue a quaresma, esse tempo de purificação e reavaliação de nossa vivência da mesma. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de janeiro de 2019


(2Tm 1,1-8; Sl 95[96]; Lc 10, 1-9) 
Santos Timóteo e Tito, bispos e discípulos de Paulo.

“Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” Lc 10,3.

“Vivemos em uma sociedade que tem a tendência a desprezar tudo que é cristão, muito embora esta sociedade deva muitíssimo ao cristianismo. Com toda razão, Lobão escreve em seu ‘Manifesto do nada na terra do nunca’ (p. 229): “Ser contra povos cultos e cristianizados, em prol de uma suposta esperteza retro/exotique, não será definitivamente, uma atitude inteligente’. Por isso, ouvimos falar de 50 mil assassinatos por ano no Brasil (organizações internacionais consideram 10 mil assassinatos por ano como guerra civil). ‘Cordeiros para o meio de lobos’: é isso, pessoas prontas para serem atacadas de todos os lados, inclusive atacadas gratuitamente. Não tem nada a ver com passividade ou letargia. Jesus era uma pessoa 100% proativa, e ele nos envia sermos assim também. Ele ordena ‘ide e pregai’ (Mc 16,5), ‘fazei discípulos’ e ‘ensinai-os’ (Mt 28,19). São comandos de ação e não de passividade, e obviamente isto trará a oposição dos ‘lobos’, isto é, gente que não está engajada na luta pelo bem de todos, gente egoísta que não quer que ‘venha o teu Reino’ (Mt 6,10), estes virão, ferozes, combater o nosso trabalho cristão, mas não temos que temer, pois o Supremo Pastor sempre espanta os lobos que incomodam o seu rebanho. Como disse Bob Proctor: ‘fé e medo, ambos exigem que você acredite em algo que não pode ver. Você escolhe’. Então, como cristãos e pessoas de boa vontade, somos desafiados a escolher a fé e seguir os comandos proativos de Jesus pelo bem, apesar de qualquer tipo ou nível de oposição. Com certeza, o bem sempre vence. Nuca desista de ser bondoso, de amar e ser caridoso, para essas coisas não existem restrições. – Jesus querido, que possamos, a despeito das oposições, continuar nossa luta pelo bem de todos e pela implantação dos valores do teu Reino aqui entre nós. Assim seja, amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 25 de janeiro de 2019


(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) 
Conversão de São Paulo.

“E disse-lhes: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho a toda criatura!’” Mc 16,10.

“Os padres da Igreja dizem que todo fiel é um ‘homem apostólico’ ao seu modo... quer dizer ele viva simplesmente, mas plenamente a sua fé, quer ele coloque inabalavelmente ao seu termo. Sim, é preciso dizê-lo e repeti-lo incessantemente, esta vocação não é a expressão de um romantismo místico, mas a obediência no sentido mais direto e mais realista do Evangelho. Tornar-se o homem novo depende da decisão imediata e firme de nosso espírito, de nossa fé que diz ‘sim’ simplesmente, humildemente, e segue o Cristo na alegria: então tudo é possível, e os milagres se realizam... Uma atitude de silêncio recolhido, de humildade, mas também uma ternura apaixonada: os santos diziam que é preciso amar a Deus como se ama sua noiva; é preciso ler a Bíblia como um jovem lê a carta de sua bem-amada: ela foi escrita para mim (S. Kierkegard). Maravilhado pela existência de Deus, o homem novo é também um pouco louco da loucura de que fala São Paulo: é o humor tão marcante dos ‘loucos pelo Cristo’ que é o único capaz de quebrar a seriedade pesada dos doutrinários. O homem novo é, finalmente, um homem que sua fé liberta do ‘grande medo do século XX’: medo da bomba, medo do câncer, medo da morte. É um homem cuja fé é sempre uma certa maneira de amar o mundo seguindo o Senhor até a descida aos infernos. Ser um homem novo é ser aquele que, por toda a vida, pelo que já está presente nele, anuncia Aquele que vem. É ser também aquele que, segundo S. Gregório de Nysse, cheio de ‘sóbria embriagues’ clama a todo transeunte: ‘Vem e bebe’. O cristianismo, religião do absolutismo novo, é ‘explosivo’: no Reino de César, nos foi ordenado procurar o Reino de Deus. Um dos sinais mais certos da aproximação do Reino é a unidade do mundo cristão: é preciso meditar as palavras do Papa Paulo VI e de Atenágoras sobre a caridade fraterna ‘engenhosa em encontrar novas maneiras de manifestar’, pois o mundo cristão ‘viveu na noite negra da separação, os olhos estão cansados de ter o olhar mergulhado na noite’” (P. Evdokimov – Amour fou de Dieu – Editora Beneditina Ltda.).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de janeiro de 2019

(Hb 7,25—8,6; Sl 39[40]; Mc 3,7-12) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“O Evangelho de Marcos é o mais original. Está mais próximo dos acontecimentos em torno de Jesus também sob o ponto de vista cronológico. Por isso encontramos nele o Jesus histórico de forma menos encoberta. Marcos foi o primeiro a lançar no papel a tradição a respeito de Jesus. Em oposição a uma tradição interpretativa que focalizava sobretudo a interpretação teológica de Marcos (a assim chamada escola histórica-redacional), há exegetas modernos (como, por exemplo, Rudolf Pesch) que destacam a importância do primeiro evangelho para a investigação histórica de Jesus de Nazaré. A figura do Jesus histórico aparece em Marcos com maior nitidez. Seu evangelho nos descreve a história de Jesus. Mas ele não se limita a conservar simplesmente essa história de Jesus, ela é também interpretada. Rudolf Pesch observa, porém, que Marcos teve uma atitude conservadora diante da tradição preexistente. É essa proximidade da tradição mais antiga que reveste o evangelho de Marcos de um encanto especial” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola)

“Com efeito, Jesus tinha curado muitas pessoas, e todos os que sofriam de algum mal jogavam-se sobre ele para tocá-lo” Mc 3,10.

“Minha mãe sempre ensinou que em um relacionamento ninguém vigia ninguém, ninguém controla ninguém. Relacionamentos sadios só existem quando as pessoas escolhem livremente estar juntas, e fazem esta escolha novamente a cada manhã. Pode haver escolhas erradas? Sim, somos humanos. E estas podem ser corrigidas? Claro que sim! Afinal de contas, nem tudo que parece bom o é de verdade. Mas seja como for, relacionamento é sempre uma escolha e escolhas precisam ser renovadas. Portanto, se você está em um bom relacionamento, reeleja sempre seu(sua) companheiro(a) e seja feliz, pois este é o objetivo da vida! Era assim o relacionamento das pessoas com Jesus? Lamentavelmente, não. A maioria das pessoas que se relacionava com o Mestre era por interesse: um queria comida, outro cura física e outros alívio ‘de algum mal’. É claro que Jesus atendia boa parte dessa gente, mas ele sabia que o motivo deles não era correto, não era o melhor. E quem saia prejudicado nesse relacionamento? Sempre o pedinte. Por que? Porque deixava, muitas vezes, a oportunidade de ter o Abençoador para ficar somente com a bênção. Ainda é assim hoje, muita gente lota igrejas em busca de uma graça, mas se esquece completamente do Agraciador. Quem busca só a graça tem-na de forma passageira; quem busca a fonte tem-na de forma perene. Foi assim que Jesus ensinou à mulher de Samaria: ‘Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede’ (Jo 4,13-14). Se temos, pela fé, um relacionamento com Jesus, precisamos reelegê-lo em cada dia de nossas vidas, para que essa relação não se desgaste e não esfrie. Estamos dispostos?  - Senhor Jesus, obrigado por me acolheres, apesar de eu às vezes falhar contigo. Perdoa-me e renova o nosso relacionamento para que eu, ao te seguir, possa servir também ao próximo. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia (2015) – Vozes).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de janeiro de 2019


(Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110]; Mc 3,1-6) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca” Mc 3,1.

“Durante o culto na sinagoga, Jesus repara num homem com a mão paralisada. Posso imaginar o que tenha sido o problema desse homem: é com a mão que damos forma à nossa vida, e costuma-se dizer que ‘pomos mão à obra’. Tomamos a vida em nossas mãos. Tomamos o que precisamos e damos o que temos para dar. Damos a mão uns aos outros, tocamo-nos com a mão. Entramos em contato. Damos apoio. Com a mão exprimimos carinho e amor. A mão paralisada revela um ser humano que se conformou, que se retraiu. Não quer queimar os dedos, não quer sujar as mãos. Ele se retirou da luta pela existência, contentando-se com o papel de espectador. De tanto conformar-se, perdeu a força. Não se espera mais nada dele. Já não pode tomar nada em suas mãos, já não pode formar e transformar nada. Tornou-se incapaz de agir. Era sábado. No sábado era proibido curar. Só quando a vida corria perigo, os fariseus podiam curar alguém. Eles davam mais valor à observância do sábado do que à cura dos homens. Assim deturparam o sentido original do sábado. Mas Jesus não se deixa tolher pelos fariseus. Ordena ao homem que tem a mão paralisada: ‘Levanta-te! Vem para o meio’ (3,3). Este, acostumado a encolher-se, a observar tudo a distância. A atirar da segunda linha em vez de assumir a responsabilidade, vê-se na contingência de ter de ocupar o centro, de colocar-se na frente dos outros. Com essa ordem, Jesus parece dizer: ‘Tu és importante. O centro é o lugar para ti’. E para nós ele diz: ‘Levanta-te! Ergue-te nas próprias pernas. Fica no centro. Saíste do teu próprio meio’. É um desafio e tanto para o homem da mão paralisada. Ele precisa abandonar sua posição cômoda de espectador. Precisa enfrentar a atenção dos outros. No centro, ele se vê observado por todos. Acontece-lhe justamente aquilo que ele queria evitar a todo custo. Ele é o centro das atenções. Já não pode esconder-se. Precisa assumir sua realidade. Jesus se volta, então aos outros. Pela observação final em 3,6 sabemos que se trata de fariseus. Mas é provável que tenha havido mais pessoas, ciosas da lei, que queriam ver se Jesus respeitava as regras do sábado. Jesus parece estar sozinho diante de um muro de silêncio e hostilidade. Mas ele está seguro de si, tem consciência do que faz. Quando Jesus aparece, trata-se sempre de uma presença total. Sua vitalidade faz que ninguém possa esquivar-se dele. Não há como desconhecê-lo, porque seu carisma é muito forte. É necessário tomar posição. “Diante dele aflora nosso íntimo”(Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de janeiro de 2019


(Hb 6,10-20; Sl 110[111]; Mc 2,23-28) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“E acrescentou: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Portanto, o Filho do homem é o senhor também do sábado’” Mc 2,27-28.

“A controvérsia com os fariseus continua na questão do preceito da observância do sábado. Deus deu aos homens o sábado para que nesse dia possam descansar de seu trabalho, participando assim do descanso do próprio Deus. O sábado é um benefício para os seres humanos. Os fariseus procuram proteger o sábado por meio de prescrições. Sua intenção era certamente favorável aos homens. Queriam que as pessoas descansassem realmente. Mas eles exageraram na dose. O que se destinava originalmente à fruição do descanso transformou-se em empecilho da liberdade humana. A letra tornou-se mais importante que o sentido dela. Claro, havia também os fariseus mais liberais, como por exemplo os da escola de Hilel, que pensavam mais ou menos como Jesus. Jesus não se opõe radicalmente à tradição judaica e aos fariseus. Ele apenas exige o direito de interpretar as leis à sua maneira. Para tanto, ele não apela para outras escolas de interpretação, mas confia na sua própria sensibilidade a respeito de Deus e dos homens. Para os fariseus da observância estrita, arrancar espigas ao caminhar equivalia a trabalho de colheita. Nos dias úteis era perfeitamente admissível arrancar espigas, mesmo que fosse de plantações alheias, contanto que estivessem com fome. Mas no sábado tal prática era proibida. Jesus argumenta com um exemplo de David, que certa vez entrou na casa de Deus e consumiu os pães sagrados. É um relato livre de 1Sm 21,1-10, em que se diz que David chegou à casa do sacerdote Abimélek para lhe pedir cinco pães. Como o sacerdote não tivesse pão comum, deu-lhes os pães consagrados. Como David, Jesus também se sente livre para permitir a seus discípulos infringir o mandamento de observar o sábado quando estão com fome. E ele justifica essa liberdade com uma referência à vontade original de Deus: ‘O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado’ (2,27). Jesus declara assim conhecer a vontade de Deus. E ela remonta à criação do mundo. Ao pé da letra, Jesus diz o seguinte: ‘O sábado foi criado para o homem (por causa do homem), e não o homem para o sábado’. Com essa afirmação, ele não se coloca fora da tradição judaica. Por volta do ano 180 a.C., o rabi Shimeon formulara essa ideia de maneira semelhante: ‘O sábado foi entregue a vós, não vós fostes entregues ao sábado’ (Gnilka, 123). Na verdade, o rabi Shimeon só estava se referindo a uma situação aguda de perigo de vida. Jesus pronuncia essas palavras com muita liberdade. Até mesmo a fome de seus discípulos é motivo suficiente para não obedecer às normas legalistas que regem a observância do sábado. O que importa é sempre o sentido das leis e não a rigidez da letra”(Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de janeiro de 2019


(Hb 5,1-10; Sl 109[110]; Mc 2,18-22) 
2ª Semana do Tempo Comum.

Retomando as nossas reflexões nessa primeira etapa do Tempo Comum, vamos aproveitar para conhecer um pouco melhor o evangelho de Marcos. Vou recolher do autor Anselm Grun alguns pontos que possam iluminar a nossa compreensão (já o fizemos em anos anteriores, vamos acrescentar novos comentários), juntamente com algum comentário do evangelho do dia. Espero que seja proveitoso para esse maior conhecimento dos textos sagrados.
 “Marcos menciona constantemente a ocorrência de controvérsias entre Jesus e os fariseus. Mesmo assim, o confronto ainda não recebe o mesmo destaque que terá depois no Evangelho de Mateus, que expressa sobretudo o relacionamento entre cristãos e fariseus depois da queda de Jerusalém no ano 70. Os fariseus tinham boa aceitação entre o povo porque se dedicavam ao desenvolvimento de uma religiosidade leiga. Davam mais importância aos mandamentos de Deus do que aos sacrifícios dos sacerdotes. Com suas normas pretendiam aplicar os mandamentos de Deus na vida concreta. Isso onerava as pessoas muitas vezes com novas obrigações. Em muitas questões, Jesus revelava uma certa afinidade com os fariseus. Por outro lado, fazia questão de distanciar-se deles em muitos aspectos. Recriminava em sua religiosidade a importância dada às aparências e ao desempenho em forma de obras” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

“Os discípulos de João batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: ‘Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam e os teus discípulos não jejuam?” (Mc 2,18-22).

“Um exemplo da controvérsia com os fariseus é a questão do jejum. Os discípulos de João e os fariseus jejuavam regularmente nas segundas e quintas-feiras e em certos dias de jejum previstos no calendário anual. Os discípulos de Jesus não jejuavam. Nesse ponto distinguiam-se dos demais. Jesus pergunta aos questionadores: ‘Podem os convidados às núpcias jejuar enquanto está com eles o esposo? (2,19). Nessa passagem manifesta-se o conceito que Jesus tem de si mesmo e a imagem que tem de Deus. Jesus não é um asceta que renuncia a todas as alegrias. Marcos coloca essa controvérsia com os fariseus logo depois da cena que Jesus está à mesa com o coletor de impostos e os pecadores. Nessa ocasião Jesus dispensa a advertência aos pecadores para que se convertam. Ceia com eles. Fala-lhes do amor de Deus. A experiência desse amor os transforma. Jesus se sente no papel do noivo que anuncia aos homens a proximidade de Deus e os convida a celebrar com ele o amor de Deus. Ele  convoca as pessoas ao casamento com Deus que quer unir-se aos homens. E, quando Deus se une ao ser humano, este também se concilia consigo mesmo”(Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Is 62,1-5; Sl 95[96]; 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11).

1. A nossa 1ª leitura é  parte de um poema que canta a reconstrução de Jerusalém; uma espécie de declaração de amor da parte de Deus. Por trás do texto está a imagem simbólica do matrimônio, do amor e da alegria de Deus por Jerusalém. Assim já podemos compreender parte do simbolismo em que se insere a narrativa do evangelho.
* O amor universalista de nosso Deus se expressa em Jesus, o verdadeiro esposo da humanidade.

2. A 2ª leitura é uma resposta de Paulo sobre os dons ou carismas do Espírito na Igreja. Num complexo de unidade e utilidade, ele elenca algumas experiências já vivenciadas por alguns membros antes de se tornarem cristãos, ao tempo que orienta para o uso dos mesmos numa dinâmica cristã, como veremos mais adiante.

3. O evangelista João apresenta Jesus, terceiro momento de epifania em nossa liturgia, a partir de alguns sinais que realiza, mais que simples milagres, aqui se esconde sua pessoa e sua missão. Esse 1º sinal revela que Jesus é o Messias esperado, suscitando a fé dos discípulos.

4. O texto não nos diz qual a relação de Maria com os noivos, mas ela já estava lá quando Jesus chega. Como aquela que precede, espera. João nunca a chama de ‘Mãe’ ou ‘Maria’, ela é a ‘Mulher’, talvez fazendo uma referência a antiga mulher do Gênesis, apresentada sobre nova roupagem e atitude.

5. Segundo João, é ela que provoca o milagre que vai de encontro a uma necessidade dos esposos. Assim Maria é colocada no centro de uma narrativa que manifesta a revelação de Jesus, do mesmo modo que estará ao pé da cruz, junto ao Filho no desenlace final.

6. Ela pede aos serventes, como a nós, o desafio da obediência a uma palavra transformadora. Mas o que interessa ao nosso evangelista é que os discípulos são conduzidos a uma fé plena em Jesus, oxalá também nós, pois Ele veio salvar todo aquele que nele crer.

7. A fé é o acolhimento de Jesus que se vai revelando nos acontecimentos diários da vida. A transformação da água em vinho significa que Jesus pode transformar/modificar/transfigurar as realidades cotidianas em sinais de salvação.

8. Como aos seus discípulos de ontem, ele nos convida a uma atitude se seguimento, de caminhar com Ele até a Cruz e a ressurreição final. Tudo isso pode e deve ser realizado na docilidade ao Espírito, como nos fala Paulo.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de janeiro de 2019


(Hb 4,12-16; Sl 18[19B]; Mc 2,13-17) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos e disse-lhe: ‘Segue-me!’ Levi se levantou e o seguiu” Mc 2,14.

“Jesus o viu, não tanto com os olhos do corpo, mas com o olhar interior do seu amor. Ele viu o publicano, amou-o, escolheu-o e lhe disse: ‘Segue-me’, o que significa: imita-me. Pedindo-lhe que o seguisse, convidava-o, não tanto a caminhar atrás dele, mas a viver como ele; pois ‘aquele que diz estar com Cristo deve conduzir-se como ele se conduziu’ (1Jo 2,6)... Mateus, ‘levantou-se e seguiu-o’. Nada de admirar que, ao primeiro chamado imperioso do Senhor, tenha o publicano abandonado sua procura de vantagens terrestres e, descuidando dos bens temporais, tenha aderido àquele que via estar desapegado de toda riqueza. É que aquele Senhor que o chamava exteriormente pela palavra tocava-o no mais íntimo da alma, nela derramando a luz da graça espiritual, para que ele o seguisse... ‘Como estivesse Jesus à mesa, na casa, muitos publicanos e pecadores vieram sentar-se com ele e com seus discípulos’ (Mt 9,10). A conversão de um só publicano abriu o caminho da penitência e do perdão a muitos publicanos e pecadores... Em verdade, belo presságio: aquele que deveria ser, mais tarde, apóstolo e doutor entre pagãos, arrasta consigo, ao se converter, os pecadores a caminho da salvação; e é desde os inícios de sua fé que ele empreende aquele ministério do Evangelho, que iria realizar depois de ter progredido na virtude. Procuremos compreender mais profundamente o acontecimento aqui relatado. Mateus não ofereceu, apenas, ao Senhor, uma refeição corporal, em sua habitação terrestre; fez muito mais; preparou-lhe um festim na morada do seu coração, pela fé e pelo amor, como testemunha aquele que disse: ‘Estou à porta e bato; se alguém escutar a minha voz, me abrirá, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo’ (Apoc 3,20). Sim, o Senhor está à porta e bate, quando torna o nosso coração atento à sua vontade, seja pela boca do homem que ensina, seja por sua inspiração interior. Abrimos nossa porta ao chamado de sua voz quando damos livre assentimento a suas advertências exteriores ou interiores, e quando pomos em execução aquilo que compreendemos dever fazer. E ele entra para comer conosco, e nós com ele, porque habita no coração dos seus eleitos, pela graça do seu amor, para alimentá-los continuamente com a luz de sua presença, de modo que eles elevem pouco a pouco seus desejos e que ele próprio se alimente do zelo deles pelo céu, como o mais delicioso dos alimentos” (São Beda, o Venerável – Homilias sobre os Evangelhos – Editora Beneditina Ltda).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de janeiro de 2019

(Hb 4,1-5.11; Sl 77[78]; Mc 2,1-12) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Quando Jesus viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os teus pecados estão perdoados’” Mc 2,5.

“A fé, seja em outro ser humano, seja em Deus, significa aceitar a palavra do outro. Implica um novo conhecimento que só pode ser obtido ‘aceitando a palavra do outro’. Se você me explica um problema de matemática e eu entendo a explicação, não preciso que você me dê sua palavra dizendo que a explicação está correta. Posso verifica-la por mim mesmo. Não tenho de investir minha fé em você. Mas, se você me diz que me ama e que vai tentar fazer-me feliz, não há como provar isso e eu não tenho como verificar pessoalmente. Tenho de acreditar em você e em sua palavra. No caso da fé em Deus, é a mesma coisa. Deus me dá sua palavra ou revelação. Se eu a aceito, se acho que Ele realmente falou comigo, prometendo-me amor e dando-me uma razão para viver e uma razão para morrer, se eu O aceito e se aceito sua mensagem de vida, naquele momento tornei-me um fiel” (John Powell – As Estações o Coração – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de janeiro de 2019


(Hb 3,7-14; Sl 94[95]; Mc 1,40-45) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procura-lo” Mc 1,45.

“Diz-se, normalmente, para significar a rapidez de algum acontecimento, que ele corre mais do que notícia ruim. Mas o bem também tem sua irradiação e é ele quem perdura mais longamente, sendo o mal mais facilmente esquecido. As pessoas, em geral, não se esquecem e até fazem questão de repetidamente proclamar o bem que, um dia receberam dos outros. Quem não se lembra de um médico, quando atendeu com atenção, ou de um amigo, quando nos ajudou num momento de aflição, ou de um estranho, quando foi justo conosco? Nestas ocasiões, eles foram Jesus para nós, curando-nos de nossas doenças, dando-nos coragem para continuar vivendo, ou esperança para não desanimar nos perigos. Na verdade, não são necessários grandes milagres; bastam-nos pequenos gestos para redescobrirmos a presença de Deus na vida, graças aos outros. Jesus terá sido esta presença de Deus na vida, graças aos outros. Jesus terá sido presença adensada de Deus na vida das pessoas que o conheceram e a ele recorreram. Ele estendeu a mão e curou a sogra de Pedro e limpou o leproso coma força da sua palavra: ‘Eu quero, fica limpo!’ a partir destes gestos, perdeu aparentemente a paz e a sua privacidade. Todos acorriam a Ele, vindo procura-lo ‘de toda parte’. Cristo, no entanto, não se envaideceu pelo bem que fazia. Ao invés de explorar a repercussão de seus atos, ‘ficava fora em lugares desertos’ deixando aos beneficiados a alegria pela cura experimentada. Para Cristo, o importante era fazer o bem e assistir o povo em suas necessidades. – Deus, grande e bom, arrancai de nós, hoje, toda vaidade do bem. Dai-nos apenas um coração grande e bom, pronto para fazer o bem para a alegria de nossos irmãos. Amém (Neylor J. Tonin –Graças a Deus  (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 16 de janeiro de 2019


(Hb 2,14-18; Sl 104[105]; Mc 1,29-39) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão” Hb 2,16.

“O Deus de Jesus Cristo é o Deus que ama o ser humano. Tanto que assumiu a nossa carne e confundiu-se com o nosso jeito de ser. Apareceu entre nós como igual a nós e, por isso, salvou-nos. Engraçou-se de nós e nos auxiliou, levantando-nos das mais profundas misérias que é o pecado. Ao defender seus irmãos e irmãs, Jesus Cristo estará tomando partido pelos descendentes de Abraão, pela parte feita de húmus. E o que se torna mais interessante nessa relação é que Ele também é constituído de húmus, de fragilidade, ‘vestindo-se’ de um de nós. A sua natureza é também a nossa. Por isso, ele pode ser o nosso verdadeiro advogado junto de Deus. Os anjos não necessitam de salvação. Quem necessita de salvação somos nós, os seres humanos. E é justamente aqui que encontramos o nervo central do plano misericordioso de Deus. Ele não nos salva de fora da nossa história, sentado no seu trono glorioso a olhar de longe a nossa vida. Mas Ele entra na nossa história, entra na nossa vida, entra na nossa casa, come a nossa comida, bebe a nossa bebida, recebe um rosto humano e age tal como um de nossa raça. Em Jesus, Deus se dá a conhecer no ser humano e na sua condição de fraqueza, caducidade e mortalidade. E assim os cristãos proclamam a mais desconcertante novidade: a Palavra viva, o próprio Deus, se fez limitação e fraqueza humana. No homem empoeirado Jesus de Nazaré, fraco, cansado e limitado, encontramos o Deus- salvador, a Palavra encarnada que se dá a conhecer para nos salvar (Alfonso Garcia Rubio). Eis a grande relação de amor e de misericórdia de Deus em favor da nossa pequenez. – Deus misericordioso e compassivo, obrigado por teres um corpo igual ao nosso e assim poderes nos salvar. Amém!” (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite