Quarta, 01 de julho de 2020

(Am 5,14-15.21-24; Sl 49[50]; Mt 8,28-34) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Quando Jesus chegou à outra margem do lago, na região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois homens possuídos pelo demônio, saindo dos túmulos” Mt 8,28a

“O episódio dos endemoninhados de Gadara é, ao mesmo tempo, misterioso e desconcertante. Desconhecemos o fato que deu origem à narração evangélica, visto ser impossível que uma manada de porco tenha se precipitado de um despenhadeiro, dentro do lago de Genesaré. Simplesmente não existe um tal despenhadeiro nas imediações do lago. Em todo caso, fica patente o domínio soberano de Jesus sobre as forças demoníacas que oprimem o ser humano, e mostra como a salvação oferecida por Jesus atinge também os pagãos. O Reino não é exclusividade dos judeus. Chama a atenção, no texto evangélico, a inimizade insuperável entre Jesus e as forças demoníacas. O Mestre recusa-se a contemporizar com elas, e as submete sem piedade. São os possessos, encarnação dos demônios, que se põem a gritar que não existe nada em comum entre eles e o Filho de Deus, cuja missão é tirar-lhes o sossego, quer dizer, privar-lhes do poder de manter as pessoas cativas. A cura do endemoninhado caracteriza-se como uma luta entre dois inimigos figadais. Entretanto, os demônios reconhecem sua inferioridade e incapacidade de fazer frente a Jesus. E obedecem, sem demora, a ordem de sair daqueles homens, e deixa-los em liberdade. A vitória do Senhor é, de antemão, garantida. Quem deseja vencer as forças do maligno deve colocar-se do lado de Jesus. – Pai, coloca-me bem junto de teu Filho Jesus, para que as forças do mal não prevaleçam contra mim nem me mantenham prisioneiro de seu poder opressor” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de cada dia – Paulinas).

 

Santo do Dia:

Santo Aarão. Sim, estamos falando do sacerdote do Antigo Testamento irmão carnal de Moisés, foi seu colaborador na condução do povo para a terra prometida. Sua biografia deve ser recolhida diretamente das Sagradas Escrituras, particularmente o Pentateuco (Ex 4,14.16.17; 7,7; Lv 8,12; 9,22, 16,3; Nm 16,47; 20,28; 33,38) e mais dois trechos, um na carta aos Hebreus (5,1-4) e outro no livro do Eclesiástico (45,6-22). Homem frágil e pecador, como todos, Aarão é, todavia, o modelo de colaboração com Deus para a realização do seu desígnio de amor. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 30 de junho de 2020

(Am 3,1-8; 4,11-12; Sl 05; Mt 8,23-27) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Os homens ficaram admirados e diziam: ‘Quem ´este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?”

Mt 8,27.

“Um fato corriqueiro – tempestade, medo. Uma companhia ilustre – Jesus. A pergunta: ‘Quem é este...?’, carregada de admiração e espanto, era o início de uma experiência inédita, pois mais tarde Pedro confessou: ‘Tu tens as palavras de vida eterna’ (Jo 6,68). Uma tempestade de qualquer natureza causa nos seres humanos receios, medos e insegurança. Muitos fogem de suas dificuldades. Escondem-se ou tiram suas vidas. Nem sempre é percebida a presença de Jesus. Ele ordena em sua graça e muitas dificuldades são resolvidas ou, pelo menos, atenuadas. Pensemos nas tempestades de ideias que assolam a humanidade. Uma filosofia que deveria estar a serviço de Deus, às vezes, nega sua existência. Ser e ter qual é a diferença? Quem é Jesus em relação a tantos outros deuses? Por que não relativizar a verdade? As respostas não estão prontas ao gosto de cada um. É preciso viver Deus a cada momento. É preciso ser um crítico inteligente que percebe nas coisas simples um Deus único que está preocupado em valorizar e não explorar. Mesmo em suas manifestações de poder não faz exigências. Apenas desejou atender os pedidos de salvação: ‘levantando-se, repreendeu os ventos e o mar; fez-se grande bonança’. ‘Quem é este...’ que tudo fez por mim? Na cruz morreu e perdoou-me de todos os pecados. Iluminou-me com os seus dons e me conservou na fé verdadeira. A resposta é imediata: é Jesus que acalma todas as tempestades de minha vida agitada e insegura! Nele podemos confiar! – Guia, ó Cristo, a minha nau sobre o revoltoso mar, que tão enfurecido e mau quer fazê-la naufragar. Vem, Jesus, oh! Vem guiar, minha nau vem pilotar. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Sando do Dia:

Santos Protomártires da Igreja de Roma. Como falamos ao comentar a solenidade de Pedro e Paulo, a perseguição de Nero não só vitimou os apóstolos, mas, acusados do incêndio de Roma, e para livrar-se da culpa que lhe imputavam, o louco imperador condenou muitos cristãos a cruéis sacrifícios. Nero teve a responsabilidade de dar início à essa hostilidade do povo romano aos cristãos, a ponto de serem responsabilizados por toda espécie de calamidade pública e de todo flagelo. Assim a liturgia inclui em seu calendário essa recordação de homens e mulheres condenados pela loucura e intolerância do simples fato de serem cristãos logo após a solenidade de Pedro e Paulo.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 29 de junho de 2020

(Am 2,6-10.13-16; Sl 49[50]; Mt 8,18-22) 

13ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus lhes respondeu: ‘As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos;

mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça’” Mt 8,20.

“A expressão ‘Filho do homem’ (v. 20) é usado no Evangelho de hoje num contexto de humildade e de escondimento, contratante com a aura de glória que no Antigo Testamento revestia essa figura, típica da linguagem apocalíptica na qual designava o Messias. ‘Filho do homem’ é de fato o único título que Jesus atribuiu a Si mesmo, mas Ele cita-o utilizando um duplo registo de glorificação e de sofrimento, completamente original num tempo em que ao Messias eram reconhecidos somente atributos de glória e de honra. Identificando-se com a sorte do Filho do homem, Jesus indicará o Seu sucesso glorioso à direita do Pai, mas também o caminho de serviço que O conduzirá à Paixão.  O Mestre traça com radicalidade as linhas da sequela: antes de mais, seguir o Filho do homem comporta um desapego drástico dos bens terrenos, diversamente do que faziam os escribas, categoria de peritos da Lei, que constituíam uma classe honrada, senão rica; em segundo lugar, significa segui-lo no mundo novo que está nascendo, abandonando um mundo já incapaz de dar a vida” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum] – Paulus).

 

Santo do Dia:

São Pedro e São Paulo, Apóstolos e mártires. “A festa, ou melhor, a solenidade dos santos Pedro e Paulo é uma das mais antigas e mais solenes do ano litúrgico. Ela foi inserida no santoral muito antes da festa do Natal e havia desde o século IV o costume de celebrar neste dia três Missas. A primeira na basílica de são Pedro no Vaticano, a segunda na basílica de são Paulo fora dos Muros e a terceira nas catacumbas de são Sebastião, onde as relíquias dos dois Apóstolos tiveram de ser escondidas por algum tempo para subtraí-las à profanação. Há um eco deste costume no fato de que além da Missa do dia é previsto um formulário para a Missa vespertina da vigília. Depois da Virgem Santíssima, são precisamente são Pedro e são Paulo, juntamente com João Batista, os santos comemorados mais frequentemente e com maior solenidade no ano litúrgico: além da festa do dia 29 de junho há de fato o dia 25 de janeiro (conversão de São Paulo), 22 de fevereiro (cátedra de São Pedro) e 18 de novembro (dedicação das basílicas dos santos Pedro e Paulo). Por muito tempo se pensou que 29 de junho fosse o dia em que, no ano 67, são Pedro na colina Vaticana e são Paulo na localidade agora denominada Três Fontes testemunharam sua fidelidade a Cristo com o derramamento do sangue. Na realidade, embora o fato do martírio seja um dado histórico incontestável, e está além disso provado que isto aconteceu em Roma durante a perseguição de Nero, é incerto não só o dia, mas até o ano da morte dos dois apóstolos. Enquanto para são Paulo existe uma certa concordância entre testemunhas antigas indicando o ano 67, para são Pedro há muitas discordâncias, e os estudiosos parecem preferir agora o ano 64, ano em que, como atesta também o historiador pagão Tácito, ‘uma enorme multidão’ de cristãos perecem na perseguição que se seguiu ao incêndio de Roma. Parece também que a festa do dia 29 de junho tenha sido a cristianização de uma celebração pagã que exaltava as figuras de Rômulo e Remo, os dois fundadores da Cidade eterna. São Pedro e são Paulo de fato, embora não tenham sido os primeiros a trazer a fé a Roma, foram realmente os fundadores da Roma cristã: um dos hinos do novo breviário fala de Roma que foi ‘fundada em tal sangue’. A palavra e o sangue são a semente com que os santos Pedro e Paulo, unidos com Cristo, geraram e geram a Roma cristã e a Igreja inteira” (Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

São Pedro e São Paulo

(At 12,1-11; Sl 33[34]; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

1. Encerramos o mês de junho, tão festivo, com a solenidade de Pedro e Paulo, no que diz respeito ao martírio de ambos. Deixando de lado as tradições populares, nosso olhar se dirige à entrega de vida desses homens pela causa do Reino e no que diz respeito a nossa Igreja, um dos resultados dessa pregação apostólica.

2. Desde o séc. III a liturgia reúne esses dois personagens numa única celebração. Caminho diferentes deram formato à Igreja de Cristo. Pedro, apóstolo dos judeus; Paulo, dos gentios ou pagãos. Pedro era um simples pescador; Paulo vinha do ciclo farisaico e com boa formação. Ambos judeus, ambos de vigorosa personalidade.

3. Eles foram tocados por Cristo e se enamoraram d’Ele até o martírio em Roma, por volta de 64 d.C, Pedro, e, 67 d.C, Paulo. A Liturgia faz duas referências a Pedro: 1ª leitura e o Evangelho, que reúne sua confissão de fé e primado; Paulo nos deixa seu testemunho na 2ª leitura.

4. A liturgia quer nos deixar claro que a nossa Igreja tem sua base nos apóstolos de Cristo e por expressa vontade d’Ele, Pedro, o primeiro papa e seus sucessores, buscam manter a unidade da Igreja e seu trabalho de evangelização do mundo inteiro. Essa é a nossa compreensão do seu ser apostólico que rezamos no credo.

5. Por muito tempo predominou em nossa Igreja essa visão hierárquica e desigual que separava clérigos e leigos. Ao longo dos séculos, uma reflexão que remonta as origens do cristianismo, vai dando corpo a uma compreensão da Igreja a partir da sua realidade de comunhão.

6. A Igreja entende-se e constrói-se como uma comunidade de irmãos iguais entre si, mesmo com serviços e carismas diversos. Muitos séculos depois, o Vaticano II nos trouxe uma renovada visão da Igreja chamando-a de povo de Deus.

7. Assim passamos a compreender que o nosso bispo, juntamente com o bispo de Roma, que tem o título da primazia, trabalham juntos, construindo uma unidade em torno de Cristo para servir o povo de Deus. Daí o título do papa como ‘servo dos servos de Deus’. Para caracterizar o serviço do próprio Cristo à humanidade.

8. Quando ouvimos falar de sínodos dos bispos, conferências de bispos, como a do Brasil, conselhos pastorais da diocese, do vicariato, da paróquia, etc., vamos compreendendo que a Igreja caminha a partir da corresponsabilidade de seus membros.

9. Ainda que tenhamos presente a imagem hierárquica do papa, dos bispos, do padre, a Igreja só estará verdadeiramente representada, onde os leigos também se envolvem e assumem juntamente com eles as tarefas do fazer existir e ser de uma comunidade de fé.

10. “Bendito sejas, Deus nosso Pai, Deus dos apóstolos, por nos teres chamado à fé dentro do teu povo, a Igreja, que tem fundamento em Cristo e na palavra e testemunho dos apóstolos, escolhidos por Ele como sucessores. Louvamos-Te hoje com estas testemunhas qualificadas do Evangelho e colunas da Igreja, os Apóstolos Pedro e Paulo. Concede-nos, Senhor, responder à tua eleição de amor para satisfazer as esperanças depositadas nesta hora do mundo, para mostrar o teu rosto autêntico aos nossos irmãos, os homens, para irradiar a luz do evangelho de Cristo no nosso meio, para apresentar diante do mundo o rosto jovem da tua Igreja. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 27 de junho de 2020

(Lm 2,2.10-14.18-19; Sl 73[74]; Mt 8,5-17) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Levanta-te, chora na calada da noite, no início das vigílias, derrama o teu coração, como água, diante do Senhor; ergue as mãos para ele, pela vida de teus pequeninos, que desfalecem de fome em todas as encruzilhadas” Lm 2,19.

“O Livro das Lamentações é formado por cinco cânticos fúnebres compostos após a queda de Jerusalém, acontecida em 586 a.C. por obra de Nabucodonosor. O povo está disperso e não tem pontos de referência, o Templo está destruído e não há liturgia. Quando tudo parece perdido e a Aliança parece ter-se tornado vã, Israel compreende que os dolorosos fatos acontecidos têm um significado: então chora a sua cidade e os seus filhos, mas na confiança de que Deus não falta à sua Palavra e levantará o povo que volta para Ele o seu coração. O problema de fundo, agudo e lancinante também para o crente, pode sacudir os alicerces da fé. Deus será indiferente ou injusto, se permite o mal? Deus não existe, se o mal atinge o inocente? A lamentação, corajosamente, descreve a ação ‘sem compaixão’ com que Deus destruiu Jerusalém, uma ação desapiedada que parece renegar o amor. As crianças desfalecem ao colo de suas mães (cf. v. 12), o luto e a aflição não têm fim. Aquele que entoa a lamentação está desfeito até às entranhas, devido à ruina do seu povo, porque Deus parece ter-Se tornado inimigo sem piedade. Apesar disso, o lamento não se fecha no desespero. Existe um sentido na História: o mal é de algum modo fruto da iniquidade do homem, e o Senhor tolera-o como dolorosa consequência da livre vontade humana, mas está pronto ao perdão e à pacificação se Jerusalém clamar a Ele de coração e sem tréguas. Mesmo na profundidade da angústia, o crente sabe que Deus é fiel, e tudo n’Ele encontrará paz” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum] – Paulus).

 

São Cirilo de Alexandria, bispo e doutor da Igreja. Nasceu em 370. De 412 a 444, ano de sua morte, teve nas mãos, com toda a firmeza, as rédeas da Igreja do Egito, empenhando-se ao mesmo tempo, numa das épocas mais difíceis da história da Igreja do Oriente, na luta pela ortodoxia, em nome do papa são Celestino. Nesta firmeza no serviço da doutrina e na coragem demonstrada na defesa da verdade católica está a santidade do batalhador bispo de Alexandria, embora tardiamente reconhecida, ao menos no Ocidente. De fato, somente no pontificado de Leão XIII o seu culto foi estendido a toda a Igreja latina e lhe foi atribuído o título de doutor. Participou do Concílio de Éfeso. Teólogo de olhar penetrante, foi ao mesmo tempo um pastor vigiante das almas. De fato, ao lado dos tratados estritamente doutrinais, temos dele 156 homilias sobre são Lucas, de caráter pastoral e prático, e as mais conhecidas Cartas Pastorais, expressas em 26 homilias pascais.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de junho de 2020

(2Rs 25,1-12; Sl 136[137]; Mt 8,1-4) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus estendeu a mão, tocou e disse: ‘Eu quero, fica limpo’.

No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra” Mt 8,3

“Não é a vontade de Deus que ninguém sofra. O sonho de Deus é um sonho de comunhão, de fraternidade, onde o ser humano tenha desenvolvido suas capacidades e se comprometa ao cuidado com o outro e com toda a criação, sabendo reconhecer e celebrar seu Criador nesse serviço. A situação da lepra no tempo de Jesus não era apenas uma doença de pele, mas indicava um fator social de exclusão. O leproso era considerado marcado por Deus com uma maldição. Tanto é que era excluído do convívio, relegado liberalmente à marginalidade. O desejo de Jesus é limpar essa concepção da realidade, purificar o coração de uma sociedade que exclui por medo e ignorância, seja quanto à higiene, seja quanto à religião. É justamente ao marginalizado que Jesus estende a mão. É ao desamparado que Jesus fala, que Jesus quer ajudar e recuperar. Não é simplesmente uma ovelha perdida, mas uma ovelha abandonada, sacrificada em prol de um suposto bem maior, coletivo, tanto era o medo de contaminação física e espiritual. O toque de Deus santifica, renova o mesmo toque da criação, que tudo já criara bom. Cura a maldade, transforma e renova o próprio mundo e a realidade. Deus toca porque é presente, companheiro, próximo de nós. Porque nos ama. – Senhor, após o sexto dia da criação. Tu viste que tudo era bom. Por que nosso egoísmo teima em espalhar a maldade pelo mundo? Queremos viver a liberdade que nos deste como dom para o cuidado da criação, dom que santifica ainda mais tua obra. Queremos superar o moralismo e a amargura de nosso coração, que dualiza a realidade e tem o mundo por mau. Ilumina nosso coração, Senhor, abre nossos olhos. Amém (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santos João e Paulo, mártires. Irmãos de sangue e de fé, nascidos no séc. IV, eram ricos e generosos para com os pobres. Foram vítimas de perseguição do imperador romano (talvez Juliano, o Apóstata) que também desejava tomar-lhes os bens. Por rejeitarem o culto à estátua de Júpiter, foram decapitados secretamente em sua casa e aí sepultados, na noite de 26 de junho de 362. Tempos depois, sobre essa casa foi erguida uma igreja.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 25 de junho de 2020

(2Rs 24,8-17; Sl 78[79]; Mt 7,21-29) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus” Mt 7,21.

“O caráter ameaçador de uma existência dividida é de tal modo excessivamente aguçada que a exortação é revestida de uma cena de juízo apocalíptico. O Senhor escatológico sentenciará ao anátema os cristãos que levaram ‘uma vida dupla’, na qual seu ‘exterior’ e seu ‘interior’ não se harmonizam. Eles devem estar sempre conscientes de que a observância formalmente exata de normas exteriores não recebe aprovação por parte de seu Senhor, mas somente uma vida de fé dinâmica, fundada na disposição de fazer a vontade do Pai de Jesus Cristo por amor a Deus e aos semelhantes. Com isso, a seção açoita um fenômeno que estava presente desde o começo da Igreja e que foi mantido como uma acusação permanente contra cristãos confessos e anunciadores até hoje (cf. Mt 23,27-28). Na discrepância entre ser e parecer reside o perigo íntimo do cristianismo. Se o Sermão da Montanha traça o cristão ideal, então se trata de, comparando-se a ele, mudar constantemente a própria vida e revisá-la no sentido do quadro ideal. A última seção (vv. 24-27) contém a defesa conclusiva em prol do ‘ensinamento sobre a montanha’. Escolhê-lo como base da própria vida é sinal de prudência. Ele é a ‘rocha’ que não pode ser autoconstruída. Ele contém as palavras autorizadas do Senhor, sobre as quais a vida pode significativa e seguramente transcorrer e desenvolver-se. A antítese mostra aquele insensato leviano que transcura o ensinamento do Senhor como fundamento da vida e, consequentemente, constrói apenas um ‘castelo no ar’, pois a obsequiosa palavra de Cristo só salva a pessoa que a põe em prática. Se isso não acontece, pode-se contar com a ruína daquilo que o ser humano fez por si e para si: nada subsiste. Visto que se oferece a possibilidade de uma vida bem-sucedida, os cristãos devem livremente decidir-se por ela, senão eles desprezam o próprio Jesus, o ‘Mestre sobre a Montanha’, como o ‘Deus-conosco’” (Franz Zeilinger – Entre o Céu e a Terra – Paulinas).

 

Santo do Dia:

Santos Guilherme de Vercelli e Máximo de Turim, abade e bispo. Guilherme nasceu em Vercelli em 1085 de uma família nobre. Aos quinze anos vestiu o hábito monástico, fez peregrinações pela Europa visitando os santuários famosos. Tendo sofrido um assalto e sendo ferido, refugiou-se na desabitada montanha de Montevergine, onde fundou uma congregação beneditina, tendo fundado outras congregações monásticas, o abade Guilherme faleceu no dia 24 de junho de 1142 no mosteiro de Goleto. Seu corpo foi transferido em 1807 para Montevergine. Em 1942 Pio XII declarava-o padroeiro principal da Irpínia. São Máximo foi bispo de Turim, nascido mais ou menos na metade do séc. IV no Piemonte e morreu entre 408 e 423. É considerado o fundador da diocese de Turim. Seu grande empenho apostólico teve destaque pelos seus sermões, claros e persuasivos. Quando tratava dos temas de catequese dogmática, sua palavra iluminadora hauria plenamente das páginas da Sagrada Escritura, que interpretava com perfeita ortodoxia.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 24 de junho de 2020

(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) 

São João Batista.

“Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho” Lc 1,57.

“Zacarias e Isabel eram velhos e ainda não tinham filhos. Zacarias era sacerdote e Isabel vivia para os trabalhos domésticos. Para uma mulher judia, era vergonhoso não ter filhos. Eles estavam ligados a bênçãos divinas. Ser estéril era considerado um castigo divino, e isso era humilhante e doloroso para uma mulher. Certamente isto lhe causava tristeza, mas não era uma mulher amargurada. Um milagre estava para acontecer. O Anjo Gabriel veio a Zacarias e disse-lhe que suas orações foram ouvidas e que Isabel teria um filho. Para Deus nada é impossível. Deus concedeu ao casal o desejo de ter um filho. Eles eram justos diante de Deus. O anjo lhe disse que a criança se chamaria João e que se tornaria um grande homem. Desde o seu nascimento estaria cheio do Espírito Santo e converteria muitos à vontade de Deus. Zacarias duvidou, porém em nenhum momento Isabel titubeou da promessa do Senhor. Reconheceu a ação divina e ocultou sua felicidade durante cinco meses. Está na hora de tudo acontecer. Imaginemos os preparativos, os cuidados e o anúncio esperado por todos os parentes e vizinhanças: nasceu! Este acontecimento, aparentemente muito simples, é carregado de emoção e alegria. O pai fica bobão, fala do filho a toda hora. A mãe, mesmo que tenha passado por fortes dores, agora vive um momento de glória. No caso específico de Zacarias e Isabel, o cumprimento da promessa, a maneira de dar o nome a seu filho e o seu cântico expressando a fé. Deus manteve Isabel estéril para um propósito especial. O que parecia um castigo agora se torna uma bênção. Deus queria dar a Isabel um filho muito especial, um filho que teria que teria um lugar único na história, o de precursor dos caminhos do Senhor. Isabel foi realmente abençoada. – ‘Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plana e poderosa salvação’ Visita todos nós. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São João Batista, o precursor. Hoje celebramos sua natividade, um caso a aparte, juntamente com Jesus e Maria. Seus país, Zacarias e Izabel tinham idade avançada. Pertenciam a estirpe sacerdotal. Foram visitados pelo anjo do Senhor que lhes anunciou o nascimento de João (‘Deus é propício’), já profetizado no Antigo Testamento como precursor do Messias, tendo o caráter forte de Elias. Quando da gravidez de sua mãe, foi visitado pela Virgem Maria que já trazia no seu seio Jesus; a criança presente a presença do Messias e assim o autor sagrado nos diz de sua disposição de preparar o caminho do mesmo. A determinação dessa data é um ajuste litúrgico que coloca seu nascimento três meses após a Anunciação e seis meses antes do Natal. Na história da redenção, João Batista está entre as personalidades mais singulares: é o último profeta e o primeiro apóstolo, enquanto precede o Messias e lhe dá testemunho. “É mais que um profeta – disse ainda Jesus. É dele que está escrito: eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele prepara o teu caminho diante de ti” (Mt 11,9-10).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 23 de junho de 2020

(2Rs 19,9-11.14-21.31-36; Sl 47[48]; Mt 7,6.12-14) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a lei e os profetas”

Mt 7,12.

“Não é preciso tomar todo o caldeirão de sopa para saber se o tempero está bom. Basta misturar bem e experimentar uma pontinha de colher. Assim acontece com certos preceitos do Evangelho. Eles misturam um pouco de tudo, um punhado de amor, uma pitada de perdão, dois dedinhos de renúncia e assim por diante. Está aí um resumo de toda a Escritura. Este preceito é bem uma inversão daquele outro, negativo, ‘não faças aos outros o que não queres que te façam’. O positivo tem uma vantagem de capital importância: coloca-nos a responsabilidade da iniciativa. Se alguém deve começar a amar sou eu, como eu gostaria de ser amado. Agindo assim, somos parecidos com Deus que nos amou primeiro, ainda quando estamos no pecado. O Mestre já havia resumido ‘toda a Lei e os Profetas’ em apenas dois mandamentos: o primeiro e o maior, amar a Deus de todo o coração; o segundo, semelhante ao primeiro, amar ao próximo com a si mesmo. Aqui, por um momento, ele deixa até de lado o primeiro, como a dizer: se a nossa religião não serve para nos ensinar o amor, o respeito, a partilha, a justiça, a solidariedade, a alegria de conviver entre os homens, então para que serve amar a Deus? Suspeito que as nossas solenes liturgias, nossos cultos festivos, nossas lições de teologia devem sempre ficar engasgados ao celebrar os dois milênios ouvindo a Lei e os Profetas, ainda estamos na primeira lição. – Justo Juiz, Misericordioso Senhor, nossa prova final já está preparada. ‘Eu tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber...’ Muitos, segundo o Evangelho, ainda serão pegos de surpresa: ‘quando foi, Senhor, que te vimos com fome?’ Dai-nos a coragem de entender como nossa responsabilidade de tomar a iniciativa de praticar gestos de amor. Amém (João Bosco Barbosa – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São José Cafasso, presbítero. Nascido em Castelnuovo d’Asti, Itália, em 1811. De caráter reflexivo, manso, estudioso, gostava de dedicar várias horas à meditação diante do Santíssimo. Contemporâneo de Dom Bosco. Foi ordenado padre aos 22 anos. Era magro e encurvado por causa de um desvio da espinha dorsal que o obrigava a estar inclinado também nas poucas horas do dia que passava fora do confessionário. Morreu aos 49 anos em 1860. Declarado santo em 1947, foi declarado o patrono dos encarcerados e dos condenados à pena capital, pois durante a vida tinha feito do cárcere o lugar preferido para o seu apostolado sacerdotal.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 22 de junho de 2020

(2Rs 17,5-8.13-15.18; Sl 59[60]; Mt 7,1-5) 

12ª Semana do Tempo Comum.

“Não julgueis e não sereis julgados” Mt 7,1.

“O cristão que julga, ou seja, condena seu próximo, é, de fato, em primeiro lugar, aquele que lhe nega o perdão. Todavia, para os cristãos que lhe acolheram em plena fé a oferta do Reinado de Deus, o julgamento escatológico de Deus, em razão da morte de Jesus, tornou-se objetivamente uma sentença misericordiosa. Quando cristãos julgam e criticam seus co-cristãos, então julgam e condenam co-agraciados. Seu ‘julgamento’ tornar-se-á autojulgamento no conspecto de Deus, e o julgamento de Deus sobre eles será idêntico ao próprio. Aquilo que os cristãos atribuem a seus co-cristãos atribuem a si mesmos em Nome de Deus. Somos também advertidos por Mateus em relação ao hipócrita no próprio coração, o qual não se deixa reconhecer a si mesmo e se afasta do processo de autoconhecimento, uma vez que isso desmascara dolorosamente seu interior. Paulo leva a exigência ao ponto-chave: ‘Ou pensas tu, ó homem, que julgas os que tais ações praticam e tu mesmo as praticas, que escaparás ao julgamento de Deus? [...] Ou desconheces que a benignidade de Deus te convida à conversão?’ (Rm 2,3.4). Uma correção entre ‘irmãs e irmãos’ cristãos só é possível com base no autoconhecimento e no plano de um amor humilde: ‘Somente então poderei assemelhar-me a Jesus [...] e tornar-me um mestre (porque irmão ou irmã) para os demais. Somente como nova criatura é que lhe posso [...] sugerir, mas não prescrever, uma mudança mínima’ (Bovon)” (Franz Zeilinger – Entre o Céu e a Terra – Paulinas).

 

Santo do Dia:

São Paulino de Nola, bispo. Paulino era um Jovem de temperamento artístico. Descendia de uma família patrícia romana (nasceu em 355 em Bordeaux, onde o pai era funcionário imperial) e, favorecido na carreira política por grandes amizades locais, tornou-se cônsul substituto e governador da Campânia. Sua conversão se deu sob a influência de Santo Ambrósio e St. Agostinho. Recebeu o batismo aos 25 anos. Depois da morte de seu único filho, com a sua esposa Teresa, dedicou-se inteiramente à ascese cristã, conforme o modelo de vida monacal em moda no Oriente. Foi ordenado sacerdote, mas continuou a sua vida monástica até ser nomeado bispo de Nola. Estavam para chegar à Itália anos de grandes tempestades. Paulino revelou-se um verdadeiro pai, preocupado com o bem espiritual e material de todos. Morreu aos 76 anos, em 431, um ano depois do amigo St. Agostinho. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite


12º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Jr 20,10-13; Sl 68[69]; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33).

1. Uma vez tendo escolhido os doze, Jesus dá-lhes uma série de orientações de como agir em continuidade com o seu próprio ministério, mas também lhes adverte dos possíveis perigos do caminho e da missão. Por isso iniciamos a nossa liturgia da Palavra com esse desabafo de Jeremias, o profeta perseguido.

2. O texto transita entre o desconforto atravessado em seu ministério e a esperança que o sustenta. A história bíblica está atravessada por essa realidade, com as dificuldades enfrentadas por Moisés, passando pelos profetas, vividas por Jesus e que continua na vida de cada cristão que carrega consigo uma Palavra que pode ser rejeitada.

3. O salmista canta um tempo de sofrimento, do seu amor pelas coisas de Deus, de sua confiança e a ação de Deus em seu favor. Ele convida seus ouvintes, em seu testemunho, a alegrarem-se com ele. 

4. Acompanhando esses trechos que nos são apresentados nesses domingos da carta de Paulo aos Romanos e já tendo falado do amor de Deus pela humanidade, o Apóstolo envereda por um caminho de comparação entre Cristo e Adão, para nos dizer que Cristo nos redime da culpa de Adão.

3. Se pela culpa de um só um homem o pecado entrou no mundo, por Cristo, a graça de Deus alcança todo ser humano, por sua entrega na cruz. Paulo fala da superioridade daquilo que em Cristo se realiza.

5. Chegando ao nosso evangelho, acompanhamos a continuidade das instruções de Jesus aos Doze. Ele os orienta para as situações de rejeição e perseguição. Eles não devem temer a morte, pois este não é um acontecimento definitivo. Deus não é indiferente à sorte daqueles que chama e envia.

6. Ser cristão comporta um peso, e Jesus nunca omitiu isso aos seus discípulos. O próprio destino sofrido por Jesus sinaliza o caminho de quem quiser seguir os seus passos. Mas Jesus quer também alargar o horizonte da existência cristã sinalizando não só os cuidados divino, mas a vida plena com Ele.

7. A liturgia nos faz recordar aqueles que primeiro foram chamados de santos pela Igreja: os mártires, pela identificação da entrega de vida; não porque fossem desinteressados da própria vida, mas por causa da confiança que carregavam consigo da proximidade de Deus.

8. O cristão não é chamado a procurar o martírio como prova de sua fé, mas a viver na presença de Deus, compreendendo que tudo nessa existência é passageiro.

9. O Evangelho nos convida a ficar atento para quando as circunstâncias exigirem de nós o testemunho da fé. Talvez Mateus esteja pensando nos judeus da comunidade que se tornaram cristãos e eram rejeitados por seus familiares e amigos. Uma realidade que, por circunstancias diversas, continua acontecendo até hoje.

10. “Levantar o olhar para a vida a que Cristo nos chama quer dizer viver a força de contestação profética que viveu Jeremias, que Jesus levou perante as autoridades judaicas e romanas e conduziu os Apóstolos ao martírio. É na relação íntima e comunitária que vivemos com Deus, no desejo de sermos ‘reconhecidos’ por Ele que se reforça a adesão a Cristo e ao seu Evangelho, com a esperança libertadora de vivermos confiando no Pai” (Giuseppe Casarin – Leccionário Comentado – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 20 de junho de 2020

(Is 61,9-11; Sl 1Sm 2; Lc 2,41-51) 

Imaculado Coração de Maria.

“[...] Sua mãe, porém, conservava no coração todas essas coisas” Lc 2,51b.

“Chega sempre o momento em que se perde de vista o Cristo. Aconteceu também para Maria e nos perguntamos, discretamente, como foi possível perder este único, importantíssimo filho. Foi descuido dela ou foi Jesus que deu um passo a mais, convidando-a a procura-lo? Os pais procuram primeiro entre os parentes e conhecidos e depois, angustiados, retornam a Jerusalém: é preciso procurar Jesus onde ele está, e não onde nossa inteligência nos faz suspeitar. Acontece assim nos dias da paixão, quando os apóstolos, amargurados e chorando pela ‘perda’ do Mestre, o ‘procuram’ entre os mortos, porém sem encontrar. Depois de três dias, Maria e José reencontram Jesus: teriam vontade de dizer que não o compreendem mais. A Sabedoria divina os chama a uma relação mais íntima: ‘Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me com as coisas do Pai?’ (Lc 2,49). Aquele deve ocupar-se com as coisas do Pai encerra toda a sua missão: a fidelidade até o fim o fará retornar à casa do Pai como Novo Adão, levando consigo inumeráveis irmãos. O evangelista escreve que Maria e José ‘não compreenderam as suas palavras’. A mesma coisa aconteceu quando Jesus pôs os discípulos a par do mistério da cruz-ressurreição que o aguardava. A paixão não se compreende a partir de mecanismos intelectuais, mas a partir do amor que confia... De fato, Maria ‘conservava todas essas coisas meditando-as em seu coração’. À luz da memória bíblica, a Virgem sábia é projetada para frente a fim de decifrar o sentido, aberta e envolvida pelo Mistério. Guarda no coração as difíceis palavras do Filho do Altíssimo com silêncio reverente e ativo: é a atitude característica do discípulo que aprende, em contraposição à atitude do discípulo sabido” (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em oração – Paulus).

 

Santo do Dia:

Santos João Fisher e Tomás More, bispos e mártires. João Fisher nasceu em Beverly em 1469, e ordenado padre aos vinte e dois anos, foi, como o amigo Tomás More, um homem de grande cultura. Mas a vasta erudição, que fez dele um verdadeiro filho de sua época, uniu um grande zelo e uma total abnegação no exercício de seus deveres de bispo da pequena diocese de Rochester, para cuja sede tinha sido eleito em 1504, juntamente com o cargo de Chanceler da Universidade de Cambridge. Aceitou serenamente a morte, que foi executada a 22 de junho de 1535, um mês após sua elevação à dignidade cardinalícia, com a qual Paulo III quis honrá-lo pela sua fidelidade e coragem. Quinze dias após foi condenado Tomás More, também ele réu de não ter reconhecido ao rei a pretensa supremacia espiritual. Nascido em Londres em 1477, quando jovem, Tomás queria consagrar-se totalmente a Deus, em um mosteiro cartuxo; empreendeu, porém, a carreira legal, subindo ao ápice da notoriedade com a nomeação de chanceler da Inglaterra em 1529. Pai de quatro filhos teve sempre um comportamento exemplar. Foi preso na Torre de Londres, onde aguardou o processo, mantendo sua vida de oração e intelectual. Considerado o santo do bom humor. Em 1935, Pio XI canonizou no mesmo dia estes dois santos que sofreram a decapitação pela coragem como defenderam sua fé; os propôs como ‘dois exemplos de fidelidade aos cristãos da nossa época’. O machado que decepou as suas vidas em 1535, atingiu muitos outros católicos, réus por não haverem aderido ao assim chamado: ‘Atos de supremacia’, mediante o qual o Henrique VIII tinha se proclamando chefe da Igreja nacional inglesa, porque o papa se negara a dar-lhe o divórcio de sua primeira mulher, Catarina, para ele poder desposar Ana Bolena. Os dois santos de hoje são as duas vítimas mais ilustres das pretensões do rei.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de junho de 2020

(Dt 7,6-11; Sl 102[103]; 1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30) 

Sagrado Coração de Jesus.

“Caríssimo, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus

e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus” 1Jo4,7.

“A Primeira Carta de João sabe apresentar harmoniosamente um argumento antes sob o ponto de vista doutrinal, e depois sob o ponto de vista prático. É o que podemos extrair do texto de hoje. Na primeira parte (vv. 7-10) o autor descreve o amor no seu aspecto plenamente teológico, movimentando-se no plano da História da Salvação, que exprime na Encarnação redentora de Jesus, enquanto fonte de vida divina. Na segunda parte (vv. 11-16) concentra-se no aspecto atual e eclesial, ou seja, na resposta que o crente deve dar a tanto amor. Alcançados e conquistados pelo amor de Deus, devemos esforçar-nos no amor mútuo (cf. vv. 7.11.12), tal como devemos acreditar ‘no amor que Deus nos tem’ (cf. v. 16) de modo a permanecermos no amor. O Espírito Santo que nos foi dado atua para que ‘permaneçamos’ em Deus e Deus em nós (cf. v. 13), e verifica se se realiza esta sublime imanência (cf. vv. 12.15.16). Deus concede-nos o Seu amor mediante Jesus Cristo e move-nos interiormente com a ação do Espírito. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, mediante o ‘Espírito’, consiste em receber muito amor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum] – Paulus).

 

Santo do Dia:

São Romualdo, abade. Pai dos monges camaldulenses, desde muito jovem mostrou uma forte inclinação à vida solitária e à oração, embora vivendo no meio de várias tentações e exemplos de mundanismo, uma vez que era filho do duque de Ravena. Após haver professado a regra cisterciense por três anos no mosteiro de santo Apolinário, não satisfeito com aquela vida, aos vinte e três anos obteve a licença de viver como eremita, sobre as colinas de Vêneto, em companhia do eremita Marino. A partir daí passou a visitar outros locais onde vivam outros eremitas. Quando voltou Ravena convenceu também seu pai a fazer-se monge, são Severo. Suas peregrinações tinham escopo bem definido: a reforma dos mosteiros e dos eremitérios, conforme o modelo dos antigos cenóbios orientais. Nasceu assim entre as densas matas alpinas, às costas do alto Casentino, o ermo de Camaldoli, que toma o nome de um terreno de um certo Máldolo, que fez presente deste lugar ao homem de Deus em busca de solidão. Mesmo assim não deixou de seguir suas peregrinações em busca de novas aventuras espirituais, reformando mosteiros, e fundando outros novos. Morreu no dia 19 de junho de 1027.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de junho de 2020

(Eclo 48,1-15; Sl 96[97]; Mt 6,7-15) 

11ª Semana Comum.

“De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometerem,

vosso Pai que está nos céus também vos perdoará” Mt 6,14.

“A medida do amor e da misericórdia de Deus não é dependente da nossa própria misericórdia, mas a supera substancialmente. Isso significa que Deus nos ama sempre, que Ele nos perdoa mesmo quando somos incapazes de fazer o mesmo, pois sua misericórdia não tem limite algum. Entretanto, o perdão é, antes, um processo. Lembra muito o caminho do filho pródigo (Lc 15,11-32), que, para voltar para casa, precisa antes perdoar a si mesmo. Mesmo o amor do Pai estando desde o início o esperando, o filho precisava encontrar em si mesmo coragem e força suficientes para aceitar esse perdão. Para isso foi preciso vencer seu orgulho. Para aceitar o perdão precisamos vencer nosso orgulho, e isso não significa apenas admitir que erramos, mas principalmente admitir que não damos conta de tudo sozinho, que não somos autossuficientes nem autorreferentes. E isso é muito difícil, doloroso para o ego, dá trabalho. Esses passos são muito similares aos necessários para perdoarmos de verdade. Perdão que não é mera concessão de absolvição, ou revogação de pena. Perdoar de verdade exige reconhecer no outro um valor maior que o dano, que a ofensa, que nosso orgulho ferido ou magoado. Em outras palavras, perdoar de verdade é também um processo que aprendemos a nos familiarizar com o inverso, com o sermos perdoados. Livres de qualquer legalismo, vivenciando a realidade nova dos filhos e filhas amados de Deus, que se amam, respeitam e cuidam entre si. – Fonte de misericórdia e do perdão, Tu, Senhor, és quem dá sentido ao gesto de perdoar e quem o torna possível ao ser humano. A força necessária para sairmos de nós mesmos, vencermos nosso orgulho e teimosia, ela vem de ti. Queremos abrir espaço em nossos corações para essa experiência de doação total, de amor incondicional que transforma a própria realidade em Reino de Deus, reino de paz e do perdão. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santa Juliana de Falconieri, virgem. Nasceu em 1270, filha de Caríssimo e Ricordata. Caríssimo era irmão de são Alexis Falconieri, um dos fundadores dos Servitas. Este faleceu pouco tempo depois do nascimento da filha e era um homem caridoso. Juliana recebeu o hábito da ordem terceira na Congregação dos Servitas em 1284, dado por São Filipe Benício. Praticava penitências. Após a morte de sua mãe, ocupou-se em reunir aquelas que, querendo se consagrar a Deus como ela, viviam com suas famílias. O Papa Bento XI, em1304, declarou essa Congregação uma verdadeira ordem religiosa. Dois anos mais tarde, Juliana aceitou ser superiora. Procurava sempre os serviços mais humildes, mulher de profunda oração. Pacificou discórdias civis, interessou-se pelos pobres e doentes, que ela curava ao contato de suas mãos. Morreu em 19 de junho de 1341 com uma doença de estomago em que não suportava alimento algum, nem mesmo a comunhão. Suplicou que colocassem um corporal sobre seu peito e nele a santa hóstia. Esta assim que foi depositada, desapareceu. Enquanto preparavam seu corpo para o sepultamento, encontrou-se sobre o coração da Santa, a marca da hóstia como um selo, com a imagem de Jesus crucificado. Em memória desse milagre, as irmãs trazem sobre o lado esquerdo do escapulário a imagem de uma hóstia.

Pe. João Bosco Vieira Leite