Terça, 01 de setembro de 2020

(1Cor 2,10-16; Sl 144[145]; Lc 4,31-37) 

22ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus o ameaçou, dizendo: ‘Cala-te e sai dele!’ Então o demônio lançou o homem no chão,

saiu dele e não fez mal nenhum” Lc 4,35.

“A primeira maneira que Jesus encontrou para implementar o Reino de libertação foi a de resgatar o ser humano das forças malignas que o oprimiam. Por estas forças, a pessoa torna-se escrava e é reduzida a condições sub-humanas. O resgate da dignidade humana exigia uma imediata atuação de Jesus. Alguns elementos da cena evangélica chamam a atenção. O homem possuído por um espírito impuro encontrava-se num espaço sagrado – a sinagoga. A sacralidade e a santidade do local não foram suficientes para libertá-lo. Foi preciso que alguém intervisse num nível mais elevado. Por outro lado, o demônio, falando pela boca do possesso, reconheceu que Jesus viera arruiná-lo. Chegava ao fim a tirania que Satanás impunha às pessoas. O reino do mal estava irremediavelmente abalado. Outro detalhe: o possesso confessa a identidade messiânica de Jesus, de maneira correta, coisa que não acontecera em sua cidade natal. ‘Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!’ – proclama o demônio. Exclamação que deveria estar na boca de cada pessoa de fé. O demônio reconhecia a identidade de Jesus, mas recusava-se a submeter-se a ele. O Mestre curou o possesso pelo poder de sua palavra. Dispensou as palavras mágicas ou os ritos cabalísticos. Bastou uma única ordem dele para que o demônio deixasse o homem em paz. Desta forma, o Reino de Deus irrompia na história humana pela ação de Jesus. – Pai, faze-me forte para enfrentar e vencer as forças malignas que cruzam meu caminho, tentando afastar-me de ti. Como Jesus, quero abalar o poder do mal deste mundo” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

 

Santo do Dia:

Santo Egídio, abade. A época em que viveu o nosso santo não se sabe com certeza. Alguns historiadores identificam-no com o Egídio mandado a Roma por são Cesário de Arles no início do século VI, outros colocam-no um século e meio mais tarde e outros ainda datam sua morte entre 720 e 740. O túmulo do santo, venerado em uma abadia da região de Nimes, remonta provavelmente à época merovíngia, embora a inscrição não seja anterior ao século X, data em que também foi composta a vida do santo abade. Entre as narrações que mais têm contribuído para a popularidade do santo está aquela da corça enviada por Deus para levar leite ao piedoso eremita, que havia muitos anos vivia num bosque, distante do convívio humano. Um dia a benéfica corça complicou-se numa caçada onde estava o rei em pessoa. O caçador real perseguiu a presa, mas no instante de atirar a flecha não percebeu que o animal amedrontado estava já aos pés do eremita. Assim a flecha destinada ao manso quadrúpede feriu, ainda que de leve, o piedoso anacoreta. O incidente teve uma consequência que facilmente intuímos: o rei tornou-se amigo de Egídio, obteve o perdão dando-lhe de presente todo aquele terreno, no qual mais tarde surgiu uma grande abadia. Aqui o bom ermitão, em troca da solidão perdida irremediavelmente, teve o conforto de ver prosperar uma ativa comunidade de monges, dos quais Egídio foi o abade. Numerosos são os testemunhos do seu culto na França, Bélgica e Holanda, onde é invocado contra a convulsão da febre, contra o medo e a loucura.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 31 de agosto de 2020

(1Cor 2,1-5; Sl 118[119]; Lc 4,16-30) 

22ª Semana do Tempo Comum.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção

para anunciar a Boa-nova aos pobres” Lc 4,18a.

“Ele estava na sinagoga, participando do culto semanal. Alguém o convidou ou Ele mesmo manifestou o desejo de proclamar a leitura a fazer a interpretação do texto sagrado. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. E Ele, respeitando as tradições do seu povo, leu a passagem que lhe foi indicada: O Espírito do Senhor está sobre mim... (cf. Is 61,1-2). As palavras do profeta ganharam vida e sabor na boca de Jesus. Ali estava um programa de vida, algo que ele mesmo cumpria: anunciar aos pobres boas notícias: curar os enfermos e libertar os cativos; devolver ao seu povo a esperança, a alegria e a vontade de viver. E foi essa a intenção que Ele manifestou ao comentar a passagem: aquelas palavras não cairiam no vazio. Elas seriam o seu programa de vida. Infelizmente, nem todos o compreenderam, e alguns não quiseram mesmo compreendê-lo. O texto de Lucas, ainda, faz alusão ao ano jubilar (cf. Lv 25). Jesus é aquele que veio anunciar o início do tempo da graça do Senhor, o tempo da libertação, do cancelamento das dívidas. O Filho não veio para condenar, mas para salvar; portanto, é hora de pôr a casa em ordem e recomeçar, pois o Senhor concedeu a todos a chance de uma nova vida. O texto de Lucas (Lc 4,16-30), portanto, convida-nos a dar fim a todas as formas de violência, dominação e exclusão. Somos especialmente chamados a trabalhar pela construção do Reino. Lembremo-nos do que o Mestre dizia: muito mais felizes são os semeadores da paz e os buscadores da justiça (cf. Lc 6,20-38). – Liberta-nos, Senhor, e ensina-nos a ser libertadores; perdoa-nos e ensina-nos a ser perdoadores; cura-nos e ensina-nos a ser cuidadores; pacifica-nos, Senhor, ensina-nos a ser pacificadores; ajuda-nos, Senhor, a colher a tua graça e faz de nós os buscadores de tua justiça, os servidores do teu Reino, amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Raimundo Nonato, religioso. Raimundo, chamado de nonato porque foi extraído do corpo da mãe morta no parto, veio à luz em 1220 em Portell nas proximidades de Barcelona, de família nobre. Vestiu o hábito dos mercedários aos vinte e quatro anos e seguindo o exemplo do fundador (São Pedro Nolasco), se dedicou à libertação dos escravos da Espanha ocupada pelos mouros e à pregação no meio deles. Um dia, após a volta de uma viagem de Roma, ultrapassou o estreito e foi à Argélia, tornando-se escravo entre os escravos para manter acesa entre eles a chama da fé com a palavra e com o exemplo da caridade ativa. Assim viveu vários meses como refém e submetido a reiteradas e cruéis malvadezas para levar o evangelho aos mulçumanos. O papa Gregório IX quis render-lhe uma homenagem pública por tão grandes virtudes conferindo-lhe em 1239, apenas libertado, a dignidade cardinalícia, convocando-o como conselheiro. Mas Raimundo veio a morrer antes de receber tal honraria no dia 31 de agosto de 1240 em Cardona, perto de Barcelona. Foi sepultado na igreja de são Nicolau, que a popular devoção do santo, inserido no Martirológio Romano em 1657 pelo papa Alexandre VII, transformou em meta de peregrinações. Pela sua difícil vinda à luz do mundo, ele é invocado como o patrono e protetor das parturientes e das parteiras.

Pe. João Bosco Vieira Leite

22º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Jr 20,7-9; 62[63]; Rm 12,1-2; Mt 16,21-27)

1. Nossa liturgia se abre com essa confissão de Jeremias, enamorado por Deus, seduzido por Ele, aceita segui-lo, mas faz a dolorosa experiência de sentir-se só e rejeitado por causa da palavra que deve anunciar; pensa abandonar seu ministério, mas algo dentro dele o faz continuar.

2. Talvez as palavras do profeta sejam inseridas aqui para traduzir os sentimentos de Pedro, elogiado por um momento, rejeitado por outro, mas que não abandonou o caminho do seguimento do Mestre. Talvez os nossos próprios sentimentos ao perceber a dificuldade em seguir Jesus.

3. Jesus anuncia sua paixão e temos a reação de Pedro. Jesus aproveita, então para expor as condições do seguimento. Se reconhecemos verdadeiramente quem é Jesus, conforme o evangelho do domingo anterior, outra resposta não podemos dar se não colocar-nos em seu seguimento.

4. Seguir a Cristo significa abraçar o caminho do discipulado, que tem matiz própria em cada vocação. Paulo entende esse seguimento como uma entrega ou oferecimento de si mesmo a Deus, como a própria liturgia nos convida a colocar nossa vida em comunhão com a entrega de Cristo, colocando nossa existência no próprio altar.

5. Essa comunhão com o destino de Jesus pode concretizar-se em nosso tempo como uma abertura às realidades que nos cercam, como fez Jesus, particularmente a realidade da pobreza que contemplamos em seus vários aspectos.

6. Certamente o tempo de Jesus era diverso do nosso, mas os critérios e atitudes que guiaram o seu agir são perenes, como no sermão da Montanha apresentado por Mateus cuja síntese se encontra nas bem-aventuranças.

7. Se no nosso seguimento encontramos dificuldades, qualquer forma de oposição, devemos ser conscientes que o programa das Bem-aventuranças colide frontalmente com os critérios do mundo e os interesses materialistas do nosso tempo.

8. Disse alguém que o ser humano em nosso tempo, qual criança mimada no capricho e na abundância, não aprecia valores do espírito como a renúncia e a ascese.

9. Quando Jesus nos convida a assumir a cruz e praticar a abnegação, como condição para o seguimento, não é um atentado à personalidade, mas libertação do eu egoísta e mesquinho, para se abrir ao autodomínio e à entrega aos outros.

10. Isso possibilita uma maior maturidade e plenitude humanas, ou seja, faz-nos crescer como pessoas e como discípulos de Cristo. Ele propõe-nos a libertação do autismo, não a repressão psicológica.

“Bendizemos-Te, Pai, porque Cristo nos chama a todos ao seu seguimento através de uma ascese alegre e libertadora. O próprio Jesus nos precedeu e mostrou com o seu exemplo que a vida brota com pujança da abnegação, da renúncia, da cruz e da morte. Assim somos convidados por Jesus a participar no seu destino. Tu, Senhor, queres que sejamos livres para amar sem medida. Concede-nos seguir Cristo incondicionalmente em todo o momento, sem claudicar nas dificuldades e incompreensões. Ajuda-nos a fazer nossos os seus critérios e atitudes para assimilar e viver com alegria o espírito das Bem-aventuranças, e poder participar um dia da condição gloriosa. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 29 de agosto de 2020

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) 

Martírio de João Batista.

“... ‘eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te’,

diz o Senhor” Jr 1,19.

A celebração de hoje, que na Igreja latina tem origens antigas (na França no século V, e em Roma no século VI), está vinculada à dedicação da igreja construída em Sebaste na Samaria, no suposto túmulo do Precursor de Cristo. Com o nome de paixão ou degolação a festa aparece já na data de 29 de agosto nos Sacramentários romanos, e conforme o Martirológio Romano essa data corresponde à segunda vez que encontraram a cabeça de são João Batista, transportada para Roma. Deixando de lado essas referências históricas, temos sobre João Batista as narrações dos evangelhos, em particular de são Lucas, que nos fala do seu nascimento, da sua vida no deserto, da sua pregação, e de são Marcos que nos refere a sua morte. Pelo evangelho e pela tradição podemos reconstruir a vida do Precursor, cuja palavra de fogo parece na verdade com o espírito de Elias. No ano décimo quinto do imperador Tibério (27-28 a.C.), o Batista, que tinha vida austera, segunda as regras dos narizeus, iniciou sua missão, convidando o povo para preparar os caminhos do Senhor, pois era necessária uma sincera conversão para a acolhê-lo, isto é, uma mudança radical das disposições do espírito. Dirigindo-se a todas as classes sociais, despertou o entusiasmo entre o povo e o mau humor entre os fariseus, a assim chamada aristocracia do espírito, cuja hipocrisia ele reprovava. A estas alturas, figura popular, negou categoricamente ser o Messias esperado, afirmando a superioridade de Jesus, que apontou aos seus seguidores por ocasião do batismo junto às margens do Jordão. Sua figura parece ir se desfazendo, à medida que vai surgindo ‘o mais forte’, Jesus. Todavia, ‘o maior dentre os profetas’ não cessou desfazer ouvir a sua voz onde fosse necessária para endireitar os sinuosos caminhos do mal. Reprovou publicamente o comportamento pecaminoso de Herodes Antipas e da cunhada Herodíades, mas a previsível suscetibilidade deles custou-lhe a dura prisão em Maqueronte, na margem oriental do Mar Morto. Sabemos que fim teve: por ocasião de uma festa celebrada em Maqueronte, a filha de Herodíades, Salomé, tendo dado um verdadeiro show de agilidade na dança, entusiasmou a Herodes. Como prêmio pediu, por instigação da mãe, a cabeça de João Batista, fazendo assim calar o ‘batedor’ de Jesus, a voz mais robusta dos arautos da iminente mensagem evangélica. Último profeta e primeiro apóstolo, ele deu a vida pela missão, e por isso é venerado na Igreja como mártir” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 28 de agosto de 2020

(1Cor 1,17-25; Sl 32[33]; Mt 25,1-13) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo

e saíram ao encontro do noivo” Mt 25,1.

“Dez moças saem ao encontro do noivo a fim de conduzi-lo até a noiva. Elas levam tochas, provavelmente tochas com vasilhas, ‘que eram feitas de uma vara em cuja ponta era presa uma vasilha de fogo cheia de trapos embebidos de azeite’ (Luz III, 471). Essas tochas duravam pouco. Era necessário repor constantemente o azeite para que queimassem durante mais tempo. É de supor que as moças aguardavam na casa da noiva a hora de sair. Quando soa o grito, avisando que o noivo está se aproximando, aprontam suas tochas. Só a essa altura as moças insensatas se dão conta de que não trouxeram azeite. Como acender então as suas tochas e mantê-las acesas? Os exegetas que falam em lâmpadas a azeite supõem que estas ficaram acesas até aquela hora e que as moças insensatas não previram um possível atraso do noivo. Outros exegetas acham que as moças só acenderam as suas tochas na hora que ouviram o grito de aviso. Só então as virgens insensatas teriam percebido que estavam sem azeite. Assim, não estavam em condições de participar até o fim da dança do encontro. No primeiro caso, a insensatez está ligada à falta de previsão de que o retorno de Cristo poderia retardar-se. No segundo caso, ser insensato significaria viver distraído, sem se preocupar com as coisas necessárias à tarefa a ser cumprida; deixar faltar o azeite para as tochas denotaria irresponsabilidade. Prefiro a segunda alternativa. As virgens prudentes se prepararam cuidadosamente para a dança nupcial, as outras se mostram descuidadas e poucos interessadas na cerimônia. Esta confrontação entre a prudência e a insensatez é típica das parábolas de Jesus. Assim ele compara, por exemplo, o homem prudente com o homem insensato: um constrói a sua casa sobre a rocha, o outro sobre a areia (Mt 7,24-27). Na parábola do homem insensato ele não conta com a sua morte prematura (Lc 12,16-21). Na história do administrador injusto ele é elogiado porque age de maneira prudente (Lc 16,1-18). A palavra grega para ‘insensato’ é moros, ou seja, ‘estúpido, bobo’. É aplicada a uma ação que não é adequada à circunstância, denotando a falta de reflexão e inteligência. A insensatez pode ser uma força que confunde a razão, levando o homem a um comportamento contrário ao bom senso (Bertram, 837s). A palavra grega para ‘prudente’ é phronimos que vem de phrenes = diafragma, interior do homem, consciência, razão. As virgens prudentes são, portanto, aquelas guiadas pelo seu entendimento e que têm bom senso. Em Platão, o homem prudente e ponderado é sempre também o homem bom, enquanto o insensato é mau. Quem é ponderado dirige a sua atenção ao que é divino. Na parábola, as virgens insensatas são aquelas que fecham os olhos diante da realidade, enquanto as prudentes sabem avaliar corretamente a situação. Para estas, a realidade exterior é uma imagem da interior, isto é, da sua relação com Deus” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de agosto de 2020

(1Cor 1,1-9; Sl 144[145]; Mt 24,42-51) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso, também vós ficais preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”

Mt 24,44.

“A expectativa da chegada do Messias – parúsia – gerava, no tempo de Jesus, muitas atitudes desencontradas. Havia quem cruzasse os braços, julgando não valer a pena trabalhar, já que ele estava para chegar e criar um mundo diferente. Outros buscavam o caminho da penitência, para não serem rejeitados quando estivessem com ele face a face. Outros, ainda, como não sabiam o dia e a hora, entregavam-se a uma vida desregrada, contando ter, no futuro, tempo suficiente para se preparar. Jesus, por sua vez, exortou os discípulos a levarem uma vida sensata, de modo a estarem sempre preparados para encontrar o Messias. Nada de cruzar os braços! Nada de fazer penitências exteriores! Nada de viver preocupados! Bastava que se pautassem pelo modo de proceder do Reino, vivendo a misericórdia e a justiça. Quando ele viesse, haveria de reconhecê-los, porque seu agir corresponde ao querer do Pai, de quem o Messias será enviado. – Pai, dá-me sabedoria para viver de modo digno de quem à espera de Jesus, o Cristo, dando testemunho de misericórdia e justiça no trato com meu próximo (Jaldemir Vitório – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano A] – Paulinas)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 


Quarta, 26 de agosto de 2020

(2Ts 3,6-10.16-18; Sl 127[128]; Mt 23,27-32) 

21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’” Mt 23,29-30.

“A última invectiva trata da relação com os antepassados. Os fariseus distanciavam-se dos atos de seus pais. Nesse ponto, focaliza-se a maneira de lidar com o passado. Devemos ser muito criteriosos quando escolhemos as figuras do passado à memória das quais erguemos monumentos e que nos servem de modelo. Quando veneramos os mártires pode acontecer que vejamos neles apenas uma justificativa para as tendências assassinas que vicejam em nosso íntimo e que se manifestaram abertamente nos algozes dos santos do início da era cristã ou nos carrascos nazistas que dizimaram as fileiras da resistência. Quando veneramos teólogos como santos devemos lançar também um olhar crítico sobre as consequências provocadas por suas teologias, para verificar se foram benéficas ou desastrosas, do contrário ficamos condenados a repetir a mesma história. Gostaríamos de manter distância em relação aos atos negativos de nossos pais e não percebermos que somos iguais a eles. Essa regra se aplica inclusive à história de nosso próprio pai. Quem pretende ser totalmente diferente de seu pai acaba muitas vezes encarnando justamente aqueles aspectos que recrimina nele. O mesmo se aplica à história de um povo ou de uma Igreja. Jesus nos estimula a manter um distanciamento crítico em relação ao passado e fazer um exame de consciência para ver se não estamos agindo da mesma maneira que os matadores dos profetas de nossa história. Dessa forma, todas as sete invectivas podem ser interpretadas como advertências dirigidas a nós mesmos, para examinarmos a nossa consciência. Onde estamos abusando da espiritualidade para construir diante dos outros uma boa imagem de nós mesmos ou para criar uma dependência em relação a nós, a fim de exercer poder por meio da espiritualidade? Nenhum religioso está protegido contra esse abuso espiritual. Ele pode insinuar-se tanto em grupo conservadores quanto progressistas, tanto no âmbito eclesiástico quanto nos meios do new age. Em toda parte, existem pessoas que, em seu caminho espiritual, não conseguem libertar-se de seu ego; ao contrário, elas se valem da espiritualidade para inflar o seu ego e torna-lo imune a qualquer atitude crítica. Os romanos já diziam: Corruptio optimi pessima, isto é, a pior corrupção é a corrupção do melhor. O abuso da espiritualidade causa os maiores estragos na humanidade” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de agosto de 2020

(2Ts 2,1-3.14-17; Sl 95[96]; Mt 23,23-26)

21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós limpais o copo e o prato por fora,

mas por dentro, estais cheios de roubo e cobiça” Mt 23,25.

“O texto faz parte dos sete ‘ais’ que Jesus dirigiu aos escribas e fariseus. São advertências feitas por Jesus, explicitando suas incoerências. A primeira delas é a mais contundente, e abre o caminho para as outras: ‘Ai de vós escribas e fariseus hipócritas, porque fechais aos outros o Reino dos Céus, mas vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam’. Jesus resolveu fazer o elenco completo das perversidades praticadas pelos escribas e fariseus. A pretexto de se apresentarem como exatos cumpridores da Lei, na verdade a inviabilizam, com suas trapaças de ordem religiosa e jurídica. São palavras claras, ditas sem nenhum rancor nem ressentimento, mas simplesmente com a intenção de alertá-los de seus erros e teimosias em persistirem neles. Na verdade, Jesus precisava usar de firmeza e contundência. Era o jeito de incluí-los entre os destinatários do seu Evangelho. Formando uma série de sete advertências, fica simbolizada a totalidade. Jesus não deixou passar em branco nenhuma das incoerências praticadas. Também a propósito delas, podemos dizer que Jesus ‘fez bem todas as coisas’. Acolheu com carinho as crianças, teve compaixão das multidões, acolheu os simples e os pobres. E advertiu os escribas e fariseus. De diversas maneiras, Jesus flagra a incoerência, denunciada em cada advertência. Eram tão ciosos de limpar por fora os copos e os pratos. Enquanto eles mesmos por dentro estavam cheios de roubo e cobiça. Acostumados como estavam em buscar elogios, dá para imaginar a reação dos fariseus com estas palavras fortes. Não estranha que os mais inveterados começassem a articular a eliminação deste mestre tão incômodo. – Senhor Jesus, as advertências aos fariseus valem para todos. Ajudai-nos a perceber nossas incoerências com o Evangelho, e socorrei-nos com vossa graça. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 24 de agosto de 2020

(Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) 

São Bartolomeu.

“Filipe encontrou-se com Natanael e lhe disse: ‘Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na lei

e também os profetas: Jesus de Nazaré, o filho de José’” Jo 1,45.

“Nas quatro enumerações dos apóstolos, é apresentado com o nome de Bartolomeu. Bar Tholmai, filho de Tholmai (em hebraico Tholmai quer dizer arado ou agricultor). São João não traz o nome de Bartolomeu, mas o de Natanael, por isso os estudiosos concordam em identificar Bartolomeu com Natanael. Foi o apóstolo Filipe quem lhe apresentou Cristo: ‘Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus de Nazaré’. ‘De Nazaré? – replica Natanael – pode vir algo bom de Nazaré?’ Natanael era de Caná, que dista 14 quilômetros de Nazaré e é proverbial o menosprezo que existe entre povoados vizinhos. O Mestre, porém, ofereceu logo uma ponte entre ele e o jovem de Caná: ‘eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento’. Ao ouvir esse elogio, Natanael manifestou a sua surpresa: ‘De onde me conheces? Jesus lhe respondeu: ‘Antes que Filipe te chamasse, eu te vi, quando estavas sob a figueira’. O que se passou debaixo da figueira ficará um segredo entre o límpido apóstolo e o Messias. Após aquele breve colóquio, Bartolomeu (Natanael) manifestou sua incondicionada adesão a Cristo: ‘Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!’ E Jesus: ‘Crês só porque te disse: eu te vi debaixo da figueira? Verás coisas maiores que estas’. Natanael-Bartolomeu viu de fato os prodígios operados pelo Mestre, ouviu a sua mensagem, assistiu a sua paixão e glorificação, depois se tornou arauto da Boa Nova, aceitando com o mesmo entusiasmo as consequências de um testemunho comprometido. De suas atividades apostólicas não temos notícias certas. As lições do breviário romano apresentam informações de uma antiga tradição armênia: ‘O apóstolo Bartolomeu, que era da Galileia, foi para a Índia. Pregou àquele povo a verdade do Senhor Jesus segundo o evangelho de são Mateus. Depois que naquela região converteu muitos a Cristo, sustentando não poucas fadigas e superando muitas dificuldades, passou para a Armênia maior... onde levou à fé cristã o rei Polímio e sua esposa e a mais de doze cidades. Essas conversões, no entanto, provocaram uma enorme inveja dos sacerdotes locais, que por meio do irmão do rei Polímio, conseguiram a ordem de torar a pele de Bartolomeu e depois decapitá-lo’” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

21º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 22,19-23; Sl 137[138]; Rm 11,33-36; Mt 16,13-20)

1. O nosso evangelho de hoje, junto com o da transfiguração de Jesus no Tabor, é um dos que mais se repete durante o ano litúrgico. Por um lado, é bom ouvir de novo e sempre a pergunta de Jesus: “Quem sou eu para você?”; por outro, temos o desafio de encontra coisas novas num terreno já conhecido.

2. Num contexto geral, além da resposta comunitária e pessoal sobre Jesus, o texto também destaca a missão de Pedro perante a Igreja nascente e assim podemos entender, na 1ª leitura, a destituição de Sobna, como administrador do palácio, como a nos lembrar a responsabilidade assumida pelo 1º papa.

3. Antes de ser revestido de tal missão, a pergunta de Jesus a todos, passa primeiro pelo caminho da impressão geral que causa Jesus nas pessoas. Impressionados com sua personalidade, eles se referem, a título de comparação, certamente, a João Batista, Elias ou mesmo Jeremias. Figuras que deixaram forte impressão no judaísmo.

4. Mas Jesus busca uma resposta de cunho mais pessoal e até íntimo, dos seus apóstolos. Na realidade é uma resposta comprometedora. A resposta de Pedro oscila entre o Messias esperado e a realidade pascal que reconhece Jesus como ‘Filho do Deus vivo’. Só Deus poderia dar-lhe essa intuição.

5. Jesus acolhe a resposta de Pedro, ao tempo que lhe confere uma missão através desse jogo de palavras entre Pedro e pedra, chaves, ligar e desligar. Ser pedra indica permanência e unidade. As chaves falam da autoridade e do governo e no ligar e desligar temos o magistério, o discernimento e a sentença de absolvição ou de condenação.

6. Não é pouco o que aparece nesses versículos sobre a missão de Pedro e dos seus sucessores. Talvez por isso seja preciso sempre voltar a esse texto, até mesmo para recordarmos e entendermos a identidade da nossa Igreja, pois continuamente seu papel vem questionado como instituição e presença no mundo.

7. Mas a pergunta que se volta a Pedro vem também a nós, de modo pessoal. É a pergunta central da nossa fé, pois ela fundamenta nossa vida e nossa ação. Ela gira em torno de três compreensões: quem é Jesus em si mesmo: pessoa, doutrina, obra, missão. Segundo: quem é Jesus para mim? Terceiro: quem Ele é para o nosso tempo?

8. Na primeira compreensão nos ajuda o credo, o catecismo. Na segunda está em jogo a nossa vivência pessoal e suscita uma resposta que está para além da bíblia ou mesmo da teologia. Na terceira, qual imagem refletimos sobre Cristo em nossa vivência comunitária?

9. A resposta pessoal estará sempre condicionada a nossa estrutura psicológica, ao centro de nossos interesses em cada idade da vida, pela formação que recebemos, pela prática da fé. Assim, se confessamos que Jesus é mesmo o Filho de Deus, a sua Palavra e o seu estilo de vida acabam julgando-nos com relação ao nosso modo de viver o que acreditamos.

10. Reconhecemos a paternidade de Deus sobre nós e a nossa fraternidade em relação aos demais. Se só se ama o que se conhece, então precisamos saber mais sobre Jesus, seja acompanhando-o nos evangelhos, seja pelo exercício da oração pessoal e espontânea, pois só a amizade e o amor podem levar a um conhecimento profundo.

11. À resposta de nossa fé devemos acrescentar a resposta de nossa vida. Pois a imagem que oferecemos ao mundo de Cristo é fundamental para que outros acreditem n’Ele. A orientação que dermos à nossa existência orientará também a outros. Por isso as figuras dos santos ganham especial destaque em nossa Igreja.

“Senhor Jesus, também hoje nos perguntas: quem dizeis vós que Eu sou? Ou melhor: Quem sou eu para vós? No meio de um mundo que prefere os ídolos e promessas de ilusão confessamos que és o Filho de Deus e único salvador do homem. Quem mais podemos seguir, Senhor, que não nos defraude? Só Tu tens palavras e ações de vida eterna. Acreditamos que estás vivo e ressuscitado no mundo, hoje como ontem, e estamos certos: vives em nós por meio do teu Espírito. Concede-nos que te conheçamos a fundo, por meio da fé, amizade e oração; e faz que, amando os nossos irmãos, nos entreguemos à fascinante missão de amar-Te apaixonadamente. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 22 de agosto de 2020

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) 

Nossa Senhora Rainha.

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’”  Lc 1,28.

“A festividade de hoje, paralela à de Cristo Rei, foi instituída por Pio XII em 1955. Era celebrada, até a recente reforma do calendário litúrgico, a 31 de maio, como coroação da singular devoção mariana do mês a ela dedicado. Para o dia 22 de agosto estava reservada a comemoração do Imaculado Coração de Maria, em cujo lugar entrou a festa de Maria Rainha para aproximar a realeza da Virgem à sua gloriosa Assunção ao céu. Este lugar de singularidade e de proeminência, ao lado de Cristo Rei, deriva-lhe dos vários títulos, ilustrados por Pio XII na carta encíclica À Rainha do Céu (11 de outubro de 1954): Mãe da Cabeça e dos membros do Corpo místico, augusta soberana e rainha da Igreja, que a torna participante não só da dignidade real de Jesus, mas também do seu influxo vital e santificador sobre os membros do Corpo Místico. O latim regina, como rex, deriva de regere, isto é reger, governar, dominar. Do ponto de vista humano é difícil atribuir a Maria a função de dominadora, ela que se proclamou a serva do Senhor e passou toda a sua vida no mais humilde escondimento. Lucas, nos Atos dos Apóstolos, coloca Maria no meio dos Onze, após a Ascensão, recolhida com eles em oração; mas não é ela que dá as ordens, e sim Pedro. E, todavia, precisamente naquela circunstância ela constitui o vínculo que mantém unidos ao Ressuscitado aqueles homens ainda não robustecidos pelos dons do Espírito Santo. Maria é rainha porque é Mãe de Cristo, o Rei. É rainha porque excede todas as criaturas em santidade: ‘Ela encerra toda a bondade das criaturas’, diz Dante na Divina Comédia. Todos os cristãos veem e veneram nela a superabundante generosidade do amor divino, que a cumulou de todos os bens. Mas ela distribui real e maternalmente tudo o que recebeu do Rei, protege com seu poder os filhos adquiridos em virtude da sua co-redenção, e os alegra com os seus dons, pois o rei determinou que toda graça passe por mãos da rainha. Por isso a Igreja convida os fiéis a invoca-la não só com o doce nome de mãe, mas também com aquele reverente de rainha, como no céu a saúdam com felicidade e amor os anjos, os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens. Maria coroada com o dúplice diadema de virgindade e de maternidade divina: ‘O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sobra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus’” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite  

Sexta, 21 de agosto de 2020

 (Ez 37,1-14; Sl 106[107]; Mt 22,34-40) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma

e de todo o teu entendimento’” Mt 22,37.

“O amor ocupou o lugar central na pregação de Jesus. E, também, em seu testemunho de vida. Tudo nele apontava para o amor e aí encontrava sentido. Seu amor manifestava-se como misericórdia e compaixão no trato com os pequenos, os marginalizados e os pecadores. Sem fazer acepção de pessoas e sem desprezar ninguém, seu coração pendia para quem era, especialmente, carente de amor. Sendo assim, é compreensível que transformasse o amor no mandamento por excelência. Dele, dependem toda a Lei e os Profetas. A submissão escrupulosa aos ditames da Lei é desprovida de sentido, se faltar o amor. O legalismo é uma prática vazia, pois falta à obediência cega aos mandamentos o que lhe pode dar consistência, o amor. A compreensão da centralidade do amor na vida e nas palavras de Jesus decorre da experiência de comunhão com o Pai, que é amor. Dele provém todo amor que tem para dar e foi oferecido até o limite da morte de cruz. Essa profundidade na vivência do amor é o reflexo da profundidade de seu enraizamento no Pai. O discípulo do Reino compreenderá a centralidade do amor em sua vida, se, como Jesus, estiver firmado no Pai. Aliás, esta é a maneira incontestável de verificar a solidez de sua fé: viver no amor. E a forma de demonstrar que, de fato, segue os passos do Mestre. – Pai, dispõe-me a seguir os passos de teu Filho, sendo, como ele, compassivo e misericordioso com os pequeninos e marginalizados” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – Dia a dia nos passos de Jesus [Ano A] - Paulinas).

 

Santo do Dia:

São Pio X, papa. Nasceu a 2 de junho de 1835 em Riese, no Treviso. Filho de camponeses. Foi batizado no dia seguinte com o nome de José Melquior. Perdeu seu pai ainda na infância, ao lado de seus nove irmãos. Sua mãe corajosamente cuidou dos filhos. Foi ordenado sacerdote aos 23 anos, por nove anos foi capelão em Tombolo; por outros nove, pároco em Salzano; por outros nove cônego e diretor espiritual em Treviso; nove anos bispo de Mântua e outros nove anos cardeal-patriarca de Veneza; e foi papa durante onze anos (de 1903 a 1914). Morreu a 20 de agosto de 1914, desgostoso pela guerra que já sacudia a Europa. Seu pontificado foi marcado pela organização interna da Igreja (“Restaurar tudo em Cristo”), mesmo muito amável, descuidou das relações diplomáticas e suas implicações políticas, talvez tentando evitar o difundido modernismo que ameaçava a Igreja e o próprio clero. Promoveu a renovação litúrgica, criou o catecismo para instrução religiosa das crianças, permitindo-lhes fazer a comunhão mais cedo. Sorridente e perspicaz, imprimiu em seu pastoreio uma simplicidade e disponibilidade em servir. Um homem pobre que teve que pedir dinheiro emprestado para ir até o conclave que o elegeria papa, e cuja passagem de volta já estava comprada, pois estava convencido que o Espírito Santo não cometeria o erro de sugerir ao sacro colégio a sua escolha.

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 20 de agosto de 2020

(Ez 36,23-28; Sl 50[51]; Mt 22,1-14) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir”

Mt 22,13.

“A atitude de desprezo dos convidados para a festa de casamento do filho do rei é uma metáfora da atitude de Israel em relação aos apelos de Deus para a conversão. Mas tem a ver, também, com comportamento dos discípulos de Jesus. Talvez se iludissem pensando que, pelo simples fato de pertencerem à comunidade, já estavam respondendo positivamente ao convite do rei, quando, na verdade, comportavam-se como os convidados indelicados. A atitude deles era, igualmente, digna de censura. Portanto, estamos diante de duas formas de desprezo do convite de Jesus. A primeira corresponde ao desprezo evidente dos convidados que preferem ir cuidar de seus campos e seus negócios e, pior ainda, maltrataram e mataram os servos enviados para recordar-lhes o convite. É a atitude dos sumos sacerdotes, dos escribas e dos fariseus cujos ouvidos se fecharam à pregação de Jesus. Viravam as costas para o convite que Deus lhes dirigia. A segunda forma revela-se no episódio do conviva expulso da sala do banquete por não trajar as vestes nupciais, ou seja, por não estar de acordo com o modo de proceder característico de quem aderiu ao Reino. É inútil pertencer à comunidade dos discípulos de Jesus sem esforçar-se para modelar a própria ação pelo projeto de Reino proclamado por ele. A pura pertença física à comunidade é insuficiente para garantir a salvação. Responde-se a o convite de Deus com gestos concretos. – Pai, tendo respondido ao teu convite para ser discípulo do Reino, desejo conformar toda a minha vida ao teu querer sendo fiel a ti” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas). 

 

Santo do Dia:

São Bernardo, abade e doutor da Igreja. Nasceu em 1090 no Castelo de Fontaine, próximo de Dijon, o terceiro de seis irmãos. Ainda muito jovem decidiu-se fazer monge em Cister. O seu pai, Bernardo, teve que assistir todos os irmãos seguirem o caminho de Bernardo em sua consagração a Deus. Algo inédito na história da Igreja. E como outros jovens pedissem para entrar entre os cistercienses, foi necessário fundar outros mosteiros. Bernardo teve que cuidar dessas novas fundações acompanhado de outros doze religiosos. Chegando a um vale bem protegido, ali se estabeleceram, dando ao local o nome de Claraval. Daí Bernardo expandia a sua luz sobre toda a cristandade. Embora de saúde frágil, percorreu meia Europa em seu influente ministério. Escreveu obras como o Tratado do amor de Deus e o Comentário ao Cântico dos Cânticos que é uma declaração de amor a Maria. Ainda em homenagem à Virgem compôs o belíssimo hino Ave Maris Stella. É dele a invocação inserida na Salve-Rainha: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria”. Morreu a 20 de agosto de 1153. Foi chamado por Pio XII “o último dos Padres da Igreja, e não o menor”.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 19 de agosto de 2020

(Ez 34,1-11; Sl 22[23]; Mt 20,1-16) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Então o patrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto contigo.

Não combinamos uma moeda de prata?’” Mt 20,13.

“Na criação não existe repetição. Cada criatura é única. Não existem dois insetos que se igualam. Muito menos existem duas pessoas iguais. Não somente no aspecto físico, mas especialmente no mundo espiritual de cada um. Não existem duas idades iguais. Cada pessoa tem seu tempo de vida. Podem igualar-se nos anos, jamais se igualarão nos segundos. Há um tempo diferente para nascer e um tempo mais diferente ainda para morrer. E para Deus não importa o tempo e nem sua quantidade. Para Ele mil anos são como um ano. Nós somos marcados pelo tempo e marcamos tudo pelo tempo. O importante na vida não é a quantidade e sim a qualidade. Pessoas podem ter vivido muitos anos e não terem produzido nada de bom. Outras podem ter vivido poucos anos e terem enchido esse tempo totalmente. Pode ter sido esse o critério de Jesus diante dos operários da vinha. Uns trabalhavam mais tempo e outros menos, e a todos, o dono deu igualdade de recompensa. O operário que se queixou pode ter cumprido o tempo, mas pode não ter dado qualidade ao tempo. Pode não ter feito com amor. O amor é a qualidade máxima da vida. Aquilo que se faz por amor é o tempo contado. Uma hora vivida e trabalhada com amor vale mais diante de Deus do que horas vazias, de apenas obrigação cumprida. Os critérios de Deus não são os nossos. Os critérios de Deus são sempre justos. Alguém pode viver oitenta anos, e tê-los deixados vazios de vida e amor. Um outro alguém pode ter vivido poucos anos e ter cumprido sua missão neste mundo. Isso é que conta diante de Deus. – Deus da vida e do tempo, concedei-me viver em plenitude a vida que me é concedida. Que nenhum minuto se perca em banalidadeO tempo é sagrado. É meu instrumento de realização. Que eu saiba preenche-lo com carinho e amor. Amém (Wilson João Sperandio – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São João Eudes, presbítero. Nascido em Ri, perto de Argetan, na França, em 1601, é um dos mais zelosos reformadores da vida religiosa do seu tempo, enfrentando uma onda de esquecimento e desprezo da espiritualidade cristã. Tendo ingressado na Congregação do Oratório, foi ordenado sacerdote e dedicou-se à pregação. Quando estourou a epidemia da peste na Normandia, João foi para lá prestar assistência. Chegou a contrair a doença, mas recuperou-se e retomou sua pregação em meio ao povo por todos os recantos da França. Em 1643 fundou a Congregação de Jesus e Maria (padres eudianos), formada por padres vinculados somente pelo voto da obediência. A finalidade da nova congregação era a preparação espiritual dos novos candidatos ao sacerdócio e a pregação das missões ao povo. São Pio X definiu João Eudes pai, doutor e apóstolo da devoção aos sacratíssimos corações de Jesus e de Maria. Morreu a 19 de agosto de 1680 com a idade de setenta e nove anos. Foi canonizado em 1925. A influência deste santo foi grande não só em seu país, mas em todo o mundo cristão.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 18 de agosto de 2020

(Ez 28,1-10; Sl Dt 32; Mt 19,23-30) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus olhou para eles e disse: ‘Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível’” Mt 19,26.

“É ainda o mesmo episódio do jovem rico. Como sempre fazia, Jesus valorizava todas as oportunidades para transmitir sua mensagem de amor, a Boa-nova que ele trazia da parte do Pai. Depois da rejeição de sua proposta por parte do jovem rico, Jesus não fica decepcionado nem frustrado diante da negativa. Ao contrário, aproveita o episódio para transmitir duas verdades, difíceis de conciliar, mas ambas importantes: as riquezas atrapalham a adesão ao Evangelho, mas isto não impede Deus de usar sua misericórdia também com os ricos. E explica onde mora a diferença: se apelamos só para nossas forças, a tentação da riqueza frustra a adesão ao Evangelho. Mas se buscamos a graça de Deus, então tudo é possível. Assim fica também demonstrado que Deus não se guia por preconceitos. Ele não exclui os ricos do seu Reino. Contanto que larguem as riquezas, para ficarem desimpedidos e se colocarem no caminho do Mestre. Nem nós devemos ter este preconceito. Até porque estamos sujeitos à mesma tentação do jovem rico. Pois qualquer pequena riqueza pode se tornar um falso tesouro a enganar nosso coração. Assim, podemos ser pobres com cabeça de rico. E por causa de um falso tesouro, podemos perder a vida, como aconteceu com o jovem rico, iludido por suas grandes riquezas. Repete-se a insistência do Evangelho: só em Deus podemos confiar a realização de nossa vida. Pois se assim não fizermos, perdemos a grande oportunidade que Deus nos proporciona. E se repete a sentença: ‘Quem quiser salvar sua vida, a perderá. E quem a perder por causa de mim, a encontrará!’ – Senhor, nosso coração se deixa enganar tão facilmente por falsos tesouros. Pela força da vossa graça, queremos ser atraídos por Vós, para abraçar com alegria o vosso Reino de verdade e de amor. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santa Helena. Nascida em Bitínia, de família plebeia, é a mãe do famoso imperador Constantino, mas por ser plebeia foi repudiada pelo marido, a lei romana não reconhece tão união. Quando Constantino foi aclamado imperador em 306, Helena pôde voltar a conviver com o filho. É com Constantino que se inaugura uma nova era para o cristianismo, quando o imperador se converte ao cristianismo e se faz batizar poucos antes de morrer. Não sabemos se Helena teve algo a ver com a conversão do filho. O historiador Eusébio relata que foi o imperador que conduziu a mãe à fé, embora outros achem o contrário. De qualquer forma, a mãe se destaca do filho pelo seu fervor religiosos que se traduziu em grandes obras de beneficência e na construção de célebres basílicas nos lugares santos. Em seu espírito explorador teria encontrado as três cruzes junto ao túmulo de Cristo em 326. Também teria encontrado a gruta do nascimento de Jesus em Belém. Em sua homenagem se ergueu uma igreja no monte das Oliveiras.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 17 de agosto de 2020

(Ez 24,15-24; Sl Dt 32; Mt 19,16-22) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Por que tu me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom.

Se tu queres entrar na vida, observa os mandamentos’” Mt 19,17.

“Deus e bom! Lembre-se da passagem de Gn 1,4.10.12.18.21.31 em que Ele cria tudo e tudo é bom. Sim! Tudo é bom porque foi Deus quem criou, e criou na maior perfeição e com a intenção de confiá-la como herança aos seres humanos. Jesus aponta um caminho para quem quer entrar na vida. Mas de que vida Ele está falando? Da vida em plenitude, da vida em Deus, uma vida de compromisso e fidelidade para com Ele. O Senhor espera da humanidade uma corresponsabilidade com sua criação, ou seja, da mesma forma que criou tudo por e com amor, Ele espera que os seres humanos cuidem de tudo com amor. Deus criou com carinho e espera a mesma reação carinhosa de suas criaturas. Infelizmente, o mandamento do amor não tem sido vivenciado na sua plenitude. A vida tem sido desrespeitada em todas as dimensões. Não se cuida da natureza, não se respeita aos outros e a si próprios. Tudo isso porque se acredita que se têm muitos bens materiais e que existe a necessidade do outro, ou do cuidado e respeito, ou ainda que o amor é passageiro e efêmero. Ainda não se aprendeu tudo o que Jesus ensinou e mostrou com clareza, parece que se vive na escuridão e cegueira das coisas momentâneas. Mas ainda há tempo de observar os mandamentos, principalmente o mandamento do amor e viver na plenitude de Deus. – Deus de amor e de bondade, ajuda-nos a abrir nossa mente e coração para observarmos o mandamento do amor e para que possamos corresponder ao seu chamado à vida, cuidando da tua criação com carinho e presteza. Assim seja!” (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Roque. Um santo de devoção popular cuja cronologia não é precisa e a biografia está cercada de lendas. Sua origem seria Montpellier, na França, no século XIV. Teria ficado órfão ainda muito jovem e após ter distribuído seus bens aos pobres da cidade, partiu em peregrinação para Roma. Chegando a Acquapendente encontrou a cidade desolada pela peste e prontamente se pôs como voluntário na assistência aos doentes, onde se teria operado as primeiras curas milagrosas. Daqui em diante o seu peregrinar já não era em direção a Roma, mas onde houvesse um foco da peste. Chegando a Roma, restituiu a saúde a um cardeal, este o apresentou ao papa. Em Roma continuou suas obras de misericórdia. Em Placência foi contagiado pela doença e para não ser pesado a ninguém, saiu da cidade para morrer na solidão. Sua imagem o traz em trajes de peregrino com um cachorro que está ao seu lado no ato de dar-lhe um pão. Segundo a lenda, já doente e em uma cabana, foi alimentado diariamente por um cão que lhe trazia um pão e da terra teria nascido uma fonte de água para lhe matar a sede. Teria sido recolhido por um patrício que dele cuidou até recuperar a saúde. Tendo deixado Placência, mas em seu peregrinar teria sido confundido com um espião e jogado na prisão, em Angera, onde abandonado e esquecido teria morrido. Outra versão diz que voltou à sua terra natal para morrer.  

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Assunção de N. Senhora – Missa da Vigília

(1Cr  15,3-4.15-16;16,1-2; Sl 131; 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28)

1. Uma imagem atravessa a 1ª leitura da missa da vigília e do dia: a arca da aliança. Davi fala desse transporte da arca para “o lugar que lhe havia preparado”. O autor do Apocalipse diz que “Apareceu no templo a arca da aliança”. Temos um movimento de transporte e um lugar definitivo.

2. Os dois textos, associados a solenidade de hoje, nos falam dessa passagem, transporte, da Virgem em corpo e alma, para a mansão do grande Rei ou do seu Templo, para compreendermos o dogma da Assunção. Como se dissesse que aquilo que Deus toca, lhe estará consagrado e reservado para sempre.

3. A arca era a depositária dos mandamentos, da palavra escrita por Deus a seu povo. Para Israel, a arca da aliança traz dentro de si o próprio Deus. Assim, na ladainha de N. Sra. Senhora se aplica o título de Arca da Aliança. Os Padres da Igreja e célebres escritores fizeram várias aplicações/comparações marianas a esta imagem da arca. 

4. No texto que acompanhamos na vigília, Davi está transportando para Jerusalém a ‘arca de Deus’ para assim atribuir a Jerusalém uma autoridade sagrada. Um exegeta francês identifica, na narração da visita de Maria a Isabel, uma espécie de decalque dessa narrativa da trasladação da arca para Sião. Assim Lucas vê a alegria e a admiração de Isabel.

5. A arca era uma espécie de caixa de madeira de acácia, revestida de ouro por dentro e por fora, sobre a qual duas esculturas de querubins sustentavam uma placa de ouro, onde Deus repousaria os seus pés. Madeira e ouro simbolizam a união do humano e do divino.

6. Durante a conquista da Terra Prometida a arca era a proteção nas guerras: dela Deus dirigia o exército de Israel. Se Deus deixava a arca, ela era capturada pelos inimigos.  

7. Lucas vê Maria como a arca da nova aliança; ela é o lugar privilegiado da epifania de Deus, nela é-nos apresentado e oferecido o Salvador do mundo. A pregação popular dirá que ela é como um “ostensório” de Cristo.

8. A liturgia copta a invoca muitas vezes como “arca santa, castelo onde o Senhor repousou, trono do Onipotente, tabernáculo puro, casa de Deus, palácio do grande Rei, altar de Deu Pai”.

9. Assim podemos compreender, através dessa imagem e desses títulos a ela atribuídos, que no evangelho as palavras de Jesus não a afastam de si, mas a colocam num patamar todo particular. Se a arca continha os mandamentos, Maria carrega em si a vivência desses mandamentos, cuja essência é fazer a vontade de Deus.

10. Se a arca era a proteção nas guerras: podemos concluir com esta oração à Virgem Maria contra as pestes incuráveis, algo propício ao nosso tempo: “Arca Santa e Imaculada/ tão pura e cheia de Graça/ sede a nossa salvação/ nesse período de desgraças. / És a Mãe de Deus humanado/ que por nós expirou na cruz./ Que pedirás, ó Senhora,/ que vos negue o bom Jesus?/ Advogada Celeste/ desta pobre humanidade/ perdão, Senhora,/ alcançai-nos da divina majestade./ Dissipa a cruel peste/ poderosa intercessora/ como a cabeça esmagaste/ da serpente enganadora./ A natureza, Senhora,/ ao seu Filho obedece,/ e o vosso Filho que a rege/ não resiste à vossa prece. Amém!”.  

Pe. João Bosco Vieira Leite