Quarta, 01 de fevereiro de 2023

(Hb 12,4-7.11-5; Sl 102[103]; Mc 6,1-6) 

4ª Semana do Tempo Comum.

“Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas, de Simão?

Suas irmãs não moram aqui conosco?’ E ficaram escandalizados por causa dele” Mc 6,3.

“A baixa condição social de Jesus deu motivo para a incredulidade do povo da cidade onde crescera e fora educado. Sua volta a Nazaré foi ocasião de contratempos. O filho do carpinteiro, que tomara a palavra na sinagoga, não era um desconhecido. Antes, estava rodeado de discípulos cujas vidas estavam ligadas à dele. Apresentava-se, agora, como um rabi cujos ensinamentos rompiam as barreiras da normalidade e seu saber superava, em muito, o dos que o haviam preparado para função de rabino. Daí todos se perguntarem qual a origem de tamanha ciência. Sobretudo, seus milagres chamavam a atenção. Tratavam-se de prodígios espetaculares, coisa jamais vista! Como tudo isso era possível? Havia contradição entre o que viam e ouviam e a origem humilde daquele novo mestre. O povo de Nazaré foi incapaz de superar a incredulidade e dar crédito ao testemunho de Jesus. Mesmo constatando os feitos grandiosos do Mestre, os nazaretanos sempre tinham à mão um argumento para desqualifica-lo. Eles se viam às voltas com um problema sério: acreditar que Deus opera maravilhas servindo-se de meios humanamente frágeis. A grandeza de uma ação não se mede pela grandeza de quem é escolhido como instrumento para realiza-la. Por conseguinte, se para os conterrâneos de Jesus era impensável que o filho do carpinteiro ensinasse e agisse com tamanha autoridade, o mesmo não acontecia com Deus Pai. – Pai, abre minha mente e meu coração, para que eu possa compreender que tu te serves de meios humanamente modestos para realizar tuas maravilhas” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 31 de janeiro de 2023

(Hb 12,1-4; Sl 21[22]; Mc 5,21-43) 

4ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele. E, voltando-se no meio da multidão, perguntou:

‘Quem tocou na minha roupa?’” Mc 5,30.

“A misericórdia de Deus não tem fronteiras geográficas. Toda pessoa que clamar por Deus obterá sua resposta (cf. Rm 10,13). Nesse texto, a misericórdia adquire o nome de compaixão, que é o sentir a dor da outra pessoa. A compaixão não descrimina e nem separa. A compaixão não cobra ingresso para que as pessoas tenham acesso aos bens necessários. A compaixão abre caminho e não põe barreiras. A compaixão facilita o acesso à graça de Deus. Jesus é o homem-Deus da compaixão. Tão sensível que é capaz de sentir a diferença entre um toque de fé em meio à multidão que o comprime, e um esbarrão. Somente quem ama sente as realidades sem necessidade de palavras. Jesus tinha a virtude de sentir as realidades sofredoras e de ser expressivo nos gestos de resposta aos seus sentimentos (Mt 9,36; 14,14; 15,32; Mc 5,19; Hb 4,15-16). Isto é próprio de quem ama e conhece o ser humano, não só pela aparência, mas a partir do seu interior. Geralmente, pessoas com esse comportamento são sofredoras e aprenderam a se importar com os outros a partir das suas dores pessoais. De Jesus, sabemos que Ele foi experimentado no sofrimento (Is 53,3), homem das dores que aprendeu com a obediência sofredora a fazer a vontade de Deus. Faz-se urgente uma saída estratégica de nosso quadro existencial e sentirmos com quem nos é apresentado a sua dor. Jesus é o mestre por excelência no uso dos sentidos. Seu Olhar, sua audição, seu tato, sua sensibilidade, todo seu corpo está impregnado de ‘detectores’ do sentimento humano. Nada ao seu redor passa despercebido. – Ó Altíssimo Pai, concede-nos a graça de usarmos nossa experiência de dor e sofrimento para compreender a dor alheia. Assim seja! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 30 de janeiro de 2023

(Hb 11,32-40; Sl 30[31]; Mc 5,1-20) 

4ª semana do Tempo Comum.

“Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles” Mc 5,17.

“Os donos dos porcos se aproximaram para analisar a situação. Não compreendem o que aconteceu. Só percebem que seu patrimônio se foi com a breca. Não estão nada satisfeitos com o que veem. Por isso pedem que Jesus se retire de suas terras. Para que lhes serviria um taumaturgo desses? Ele só atrapalharia as relações e a ordem estabelecida. Seria um estorvo em sua vida. O homem curado sente a força que emana de Jesus. Gostaria de ficar com ele. Quando Jesus embarca com os discípulos, dispõe-se a ir com eles. Ele sentiu em si o efeito benfazejo da proximidade e do amor de Jesus. Ele precisa continuar perto dele, para consolidar sua identidade. Mas Jesus não lho permite. Ele o manda para casa, onde deve contar à sua família o que Jesus fez em sua misericórdia. Para ficar totalmente curado, é necessário que se reconcilie com aqueles que o magoaram. É preciso recuperar sua identidade no meio em que a perdeu. Jesus manda aquele que estivera gravemente doente como missionário seu para a região pagã da Decápole. As pessoas o ouvem e ficam admiradas. Quem passou por uma crise tão grave como a do possesso tem uma outra maneira de falar de Deus e da ação de Jesus. Ele toca o coração de seus ouvintes. Eles se abrem ao mistério de Deus. ‘E todos se admiravam’ (5,50)” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

 

4º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Sf 2,3; 3,12-13; Sl 145[146]; 1Cor 1,26-31; Mt 5,1-12)

1. O Evangelho do domingo anterior finalizava nos remetendo aos ensinamentos e ação em favor dos pobres e necessitados por parte de Jesus. Humildes e pobres, nos diz a 1ª leitura, é algo mais que uma simples carência material, é uma virtude; assim, os filhos do Reino podem confundir a sabedoria humana, nos diz Paulo.

2. O ensinamento sobre o monte se abre com as bem-aventuranças. É significativo que o programa de vida destinado aos filhos do Reino venha apresentado não com um imperativo ‘você tem que’, mas com uma surpreendente e insistente: ‘Bem-aventurado... Bem-aventurado...’ (Felizes, felizes!).

3. O código da ‘nova justiça’ promulgado por Cristo não é outra coisa senão um grandioso e insistente apelo à felicidade. A vocação do cristão é uma vocação a alegria. E sua estrada não vem pontuada de ameaças, mas de repetidas motivações para a exultação.

4. As bem-aventuranças já se encontravam, de formas isoladas no AT, sobretudo nos salmos, na literatura sapiencial e apocalíptica. Não se tratam de bênçãos ou simples desejos de felicidade, mas da constatação de um estado de felicidade que já se tinha ou estava se realizando.

5. As bem-aventuranças que acompanhamos têm uma estrutura bem definida: a declaração da bem-aventurança; a descrição dos destinatários, quem é feliz, quais as condições exigidas para obter a felicidade proclamada. E se indica a causa que justifica a declaração inicial: por que é feliz? Porque dele é o Reino dos céus.  

6. As bem-aventuranças só podem ser compreendidas tendo presente um acontecimento essencial: o Reino de Deus chegou, ele está presente na pessoa de Jesus. Esta realidade decisiva envolve todos os valores comuns e critérios habituais de felicidade.

7. Ao mesmo tempo se apresentam de maneira paradoxal, pois são “felizes”, do ponto de vista de Deus, precisamente aquelas pessoas que se encontram em situações que, segundo critérios humanos, são situações desagradáveis. Deus diz sim ao que o mundo diz não. Deus se congratula com aquele por quem o mundo se compadece.

8. As bem-aventuranças têm uma dúplice polaridade: presente-futuro. A felicidade não é assegurada somente para o Reino definitivo, ao que virá, mas diz respeito também ao presente, ao hoje. É certo que é uma felicidade diferente, que não vem do mundo, mas do seguimento de Cristo.

9. A moral das bem-aventuranças não é uma moral de obediência, mas da graça. Deus vem como um doador e o ser humano como humilde acolhedor destes dons. O ser humano não conquista, mas é receptivo. Para Mateus se exige uma resposta concreta, um aspecto ético, um esforço. O dom de Deus determina uma exigência.

10. Não estamos aqui falando nove maneiras diferentes de ser, como se Cristo nos oferecesse uma escolha: se você não pode ser alguém puro de coração, seja ao menos um construtor da paz, se não consegue viver a pobreza, há sempre a possiblidade de exercitar a misericórdia.

11. Trata-se da personalidade cristã vista de ângulos diferentes. Uma bem-aventurança reclama pela outra. Elas se harmonizam e se complementam.

12. Devemos ler as bem-aventuranças sob a autoridade de quem as proclamas. Podemos aderir sua mensagem, acolher suas felicitações, mas só a podemos fazer na fé, na pessoa de Jesus. Pois Ele simplesmente não as proclamas, ele as viveu. É Ele o pobre, o humilde, o puro de coração, o misericordioso, artífice da paz, o perseguido.

13. Nós olhamos para Ele não somente como Mestre, mas como Modelo. “Vem, e eu mostrarei que o meu caminho te leva ao Pai...”.

 

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 28 de janeiro de 2023

(Hb 11,1-2.8-19; Sl Lc 1; Mc 4,35-41) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Pela fé nós compreendemos que os mundos foram organizados pela palavra de Deus. Segue-se daí que o mundo visível não tem suas origens em aparências” Hb 11,3 (versículo omitido em nossa liturgia).

“Tudo foi criado por Deus e colocado nas mãos do ser humano para sua administração. A grandeza e beleza da natureza nos enchem os olhos de alegria e satisfação. Como é bom contemplarmos a natureza! E diante da mesma só nos resta agradecer a Deus por tudo o que fez e o fez do nada. O ser humano poderá criar muitas coisas belas. E o faz de forma espetacular. Mas somente Deus é capaz de criar do nada. E o seu poder criador está na autoridade de sua Palavra que tudo pode. ‘Para Deus nada é impossível!’ (Lc 1,37). A Palavra de Deus no tempo é eficaz e criadora. A Palavra de Deus é como semente lançada na terra e pacientemente espera que a mesma brote, cresça e produza frutos. A Palavra tem poder de trazer a vida de onde se esperava nada. Tendo confiança em Deus podemos experimentar a vida renascendo do nada, do invisível. Vida que nasce de onde todos esperavam a morte. A Palavra de Deus age pela fé silenciosa e, às vezes, quando não esperamos mais nada e/ou ninguém. A Palavra de Deus é sempre eficaz em si mesma produzindo a vida onde, aparentemente, só existe o nada e a morte. Entretanto, nós podemos resistir-lhe com nossa liberdade e torna-la estéril em nossa vida. Assim como a luz é única, e suscita muitas cores – branca, vermelha, amarela etc. – de acordo com a constituição dos corpos sobre os quais se reflete, assim a Palavra de Deus é sempre viva e eficaz, mas poderá produzir efeitos e frutos diversos de acordo com a qualidade dos corações nos quais ela penetra (Raniero Cantalamessa). Sendo assim, a Palavra de Deus não é mágica, mas torna-se eficaz quando nos deixamos moldar por ela. – Obrigado, ó Deus Criador, pela exuberância de tua criação. Ela nos mostra o quanto és grande e quão poderosa é tua Palavra. Assim seja! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de janeiro de 2023

(Hb 10,32-39; Sl 36[37]; Mc 4,26-34) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse à multidão: ‘O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” Mc 4,26-27.

“Quão maravilhoso é esse Evangelho! Você percebeu que ele está falando no nosso livre-arbítrio? Livre-arbítrio é aquele dom que o Criador concede a cada homem e mulher que ingressa neste mundo (Gn 2,15-17), que nos permite escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado, o amor e o egoísmo. Hoje, Jesus nos diz que ‘um homem joga a semente na terra’, mas que semente é essa? A que ele quiser. Só que tem um porém: ‘a semente germina e cresce’, e isso não está mais no controle do ser humano. Ou seja, a mensagem é: você pode semear o que quiser, mas o que você semeou, invariavelmente, você colherá. Nossas sementes são os nossos pensamentos, pois somos o que pensamos e escolhemos. Por isso, não entendo gente que critica a autoajuda. Pergunto: Como devo viver então? Na autocastração? Autoflagelação emocional? Prefiro me ajudar e ser feliz! Favor não confundir autoajuda (ajudar-se a si mesmo através de bons pensamentos e uma atitude positiva frente à vida) com a ilusão do tipo ‘tapar o sol com a peneira’. Existe autoajuda séria. Jesus fala que o homem semeia, isso é constatação factual, todos nós espalhamos sementes no decurso de nossas vidas. Temos bons e maus pensamentos diariamente, cumpre-nos selecionar qual ficará sendo alvo de nossa meditação. Ao ler essas ‘Meditações para o dia a dia’ você está nutrindo sua cabeça com boas sementes. Sempre sementes que te farão uma pessoa melhor. Que tal espalhá-las e deixa-las frutificar para o bem dos outros também? Tenho um amigo que comprou vários exemplares deste livro e presenteou pessoas queridas. Desta forma, ele arranjou um jeito de semear a semente do bem que, com certeza, dará fruto segundo a sua espécie, ou seja, frutos bons. – Jesus, que sempre semeemos os bons pensamentos a fim de que gerem boas ações. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes). Janeiro.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 26 de janeiro de 2023

(2Tm 1,1-8; Sl 95[96]; Lc 10,1-9) 

Santos Timóteo e Tito, bispos e discípulos de Paulo.

“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente,

a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir” Lc 10,1.

“Logo, se considerarmos uma a uma as figuras de Timóteo e de Tito, observamos alguns dados muito significativos. O mais destacado é que Paulo se serviu de colaboradores para realizar as suas missões. Converte-se por isto no apóstolo por antonomásia, fundador e pastor de muitas igrejas. Parece claro que não fazia tudo sozinho, mas que se apoiava em pessoas de confiança que compartilhavam suas fadigas e suas responsabilidades. O outro dado relevante tem a ver com a disponibilidade destes colaboradores. As fontes relativas a Timóteo e Tito manifestam a rápida disposição em assumir tarefas variadas, que frequentemente consistiam em representar a Paulo, inclusive em situações nada fáceis. Em resumo, eles nos ensinam a servir ao Evangelho com generosidade, sabendo que isto implica também um serviço para a própria Igreja. Lembremos por último a advertência que Paulo faz a Tito na carta que lhe dirige: ‘essa é uma palavra digna de fé. Por isso quero que você insista nessas coisas, a fim de que aqueles que acreditam em Deus sejam os primeiros a praticar o bem. Essas coisas são boas e úteis para os homens’ (Tt 3,8). Por meio de nosso compromisso pessoal devemos e podemos descobrir a verdade destas palavras, e neste tempo de Advento sermos também ricos em boas obras para abrir as portas do mundo a Cristo, nosso Salvador” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de janeiro de 2023

(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) 

Conversão de São Paulo.

“Eu perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ Ele me respondeu: ‘Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu estás perseguindo’”

At 22,8.

“Acredito que Deus falou com outras pessoas antes de mim, que suas inspirações resultaram em muitas vidas e muitas façanhas admiráveis por amor a Deus e pela humanidade. Sempre acreditei nisso, que ele parou Saulo de Tarso na estrada de Damasco, que perseguiu o relutante santo Agostinho pelos labirintos da fraqueza humana, que inspirou o fundador de minha ordem, santo Inácio de Loyola, a pendurar sua espada de soldado e lutar apenas pelo Reino de Deus. Oh, sim, Deus realizou esses grandes feitos nesses grandes homens. Mas será que viria até mim? Isso era mais difícil para eu entender, até que parei de fazer a pergunta errada e comecei a fazer uma pergunta significativa. Eu havia perguntado: ‘Quem sou eu, meu Deus, para que viesse com ternura e intimidade? Como eu poderia chegar a ter essa importância para você? O que tenho a oferecer?’ Eu estava aprisionado em minha velha preocupação com o ego. A verdadeira questão é, evidentemente: ‘Quem é você, meu Deus? Quem é você que viria a mim e falaria comigo, que encheria minha pobre inteligência finita com seus pensamentos e perspectivas, que me tornaria capaz de ver este mundo através de seus olhos, que colocaria sua força e seus desejos em minha frágil vontade, que derramaria sua graça divina nesse receptáculo de barro? Quem é você que graciosamente aceita os pães e peixes de minha vida para alimentar os famintos do mundo? Quem é você? Mostre-me o teu rosto, tome minha pessoa e minha vida em seus braços amorosos, deixe-me sentir seu fogo e o toque refrescante de sua mão em minha alma sedenta’” (Jonh Powell, sj – As Estações do Coração – Loyola). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de janeiro de 2023

(Hb 10,1-10; Sl 39[40]; Mc 3,31-35) 

3ª Semana do Tempo Comum. 

“E, olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos.

Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” Mc 3,34-35.

"Muito desavisadamente, há os que pensam que Jesus, com estas palavras, estaria desacreditando sua mãe. Longe disto! Muito pelo contrário, bem sabia Jesus que sua mãe fora a primeira a inteiramente fazer a vontade do seu Pai, quando lhe deu seu 'sim' para que se iniciasse, no tempo, a obra redentora de Deus. Ela vivia mais do que ninguém e, por isso, era sua verdadeira mãe também no plano de uma relação familiar, inteiramente ligada à vontade de Deus, mesmo nos momentos difíceis e incompreensíveis do sofrimento. Esta maternidade espiritual irá encontrar sua definição e dolorosa bem-aventurança aos pés da cruz, quando ela, junto com seu filho, tomou o cálice do sofrimento redentor para a salvação de toda a humanidade. O que Jesus estabelece, com suas palavras, é um novo relacionamento familiar, já não mais nascido dos laços perecíveis do sangue, mas da imperecível e eterna vontade de Deus. Todo aquele, disse Jesus, que fizer esta vontade, será, em verdade e para sempre, seu irmão, sua irmã, sua mãe. Cria-se, com isto, uma nova família humana, na qual não são importantes os fatores genéticos e as dependências do destino temporal, mas, sim, aquelas que se fundamentam na imortalidade do Pai celeste, a quem esta nova família é chamada a obedecer e honrar. Todos os seres humanos podem ser, numa relação divina de eternidade, nossos irmãos, irmãs e mães. Basta para tanto que, juntos, façamos a vontade de Deus. Não será preciso nem mesmo que estejamos debaixo do teto de uma mesma igreja. Mais importante é que estejamos de joelhos diante do mesmo Deus e O honremos devidamente, por nosso Senhor, Jesus Cristo. - Senhor Deus, grande e bom, permiti que, hoje, rezemos com e por nossos irmãos, irmãs e mães que nem conhecemos. Queremos fazê-lo com Cristo e em Cristo, para que vosso nome seja glorificado e honrada seja vontade. Amém" (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de janeiro de 2023

(Hb 9,15.24-28; Sl 97[98]; Mc 3,22-30) 

3ª Semana do Tempo Comum.

“Cristo é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna” Hb 9,15.

“O cordeiro usado por Moisés, no Egito, que teve seu sangue aspergido nos umbrais das portas da casa dos hebreus, é sinal do verdadeiro Cordeiro de Deus. Se aquele sangue usado pelos hebreus teve poder de salvar seus filhos do anjo exterminador, o sangue de um homem, Jesus, salvou a humanidade definitivamente da morte. O sangue de Jesus derramado renovou o pacto de salvação entre Deus e a humanidade, fazendo surgir uma nova e definitiva aliança. Com a entrega de Jesus está especificado o propósito de oferecer remissão total, uma vez por todas, para libertar as pessoas dos seus pecados. Jesus tornou-se assim o mediador da Nova e Eterna Aliança. Ele, agora, é o Cordeiro sacrificador para tornar real, concreta a aliança definitiva pela qual muitos seres humanos serão libertos do pecado para herdar a vida definitiva (Tesfaye Kassa). As promessas de salvação tornaram-se concretas na pessoa de Jesus. E deram-se não somente na cruz, mas em toda a sua vida por meio de gestos e palavras. Isto é, nos gestos e palavras de Jesus acontecia a salvação. Uma vida tão ampla que não cabe nesse estágio terrestre, mas que poderá continuar no âmbito almejado: no novo céu e na nova terra (cf. Ap 21,21). A morte expiatória de Jesus tornou obsoletos os rituais antigos de perdão. E executou não mais um ritual, mas uma entrega real para a salvação definitiva da humanidade. Em Jesus, o mediador eterno, temos a garantia de vida definitiva e plena. Ele é o sacrifício completo e final pelos pecados cometidos contra Deus (Tesfaye Kassa) – Obrigado, Senhor, pela nova e definitiva aliança no sangue de teu Filho Jesus que nos é oferecida gratuitamente. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 8,23—9,3; Sl 26[27]; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4,12-23)                 

1. Com esse terceiro domingo do Tempo Comum iniciamos a leitura semicontínua do Evangelho de Mateus. O 1º e 2º domingos ficam, por assim dizer, atrelados ao Tempo do Natal. Jesus, já batizado, é apresentado por João Batista, este desaparece de cena com a sua prisão e assim tem início a atividade pública de Jesus.

2. Assim como os primeiros discípulos, seguimos Jesus, luz do mundo, para que tenhamos “a luz da vida” e, como na nossa oração inicial, dirija nossa vida segundo seu amor e faça frutificar em boas obras, a graça que viemos receber, alimentando-nos de Sua Palavra e da Eucaristia. Sob o aspecto da luz, gostaria de conduzir nossa reflexão.

3. “Luz, mais luz”, teriam sido as últimas palavras de um poeta alemão. “Onde há muita luz, mais forte é a sombra”, havia sentenciado. Mas se é verdade que luz e sombra andam de mãos dadas, também é verdade que onde resplende muitíssima luz divina, faz-se luz sem sombras.

4. Assim Isaías profetiza sobre um tempo em que o norte da Palestina, considerada terra das trevas, em oposição ao sul, onde estava Jerusalém, a terra santa da Judeia, seria inundada por uma grande luz. A Galileia era a terra escura e precisamente o espaço escolhido para ressaltar muito mais o efeito da luz.

5. Deus chega luminoso para quebrar a vara do opressor e tirar o jugo que pesa sobre o povo. Neste contexto, os bons israelitas costumavam cantar o salmo 26: “O Senhor é minha luz e salvação, de quem terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem eu tremerei?”

6. Assim não devemos ter medo se as trevas nos invadem, porque é a então que a luz pode aparecer, e aparecerá, se a acolhermos, em todo seu esplendor. Os místicos nos falam da ‘Noite escura’. Temos de passar por áreas tenebrosas, nas quais escutamos a voz do Senhor que nos dirige e afugenta nossos terrores.

7. Assim Mateus se serve dessa profecia para introduzir a ação de Jesus que começa a ser luz dos territórios paganizados da Galileia. Jesus é a Luz missionária, Luz itinerante. Por onde Ele passa tudo se ilumina, tudo recobra vida. Sua passagem acendeu os corações dos primeiros discípulos, levando-os a tomada de decisões.

8. Hoje padecemos de uma enorme falta de sentido. Não nos bastam as análises de jornalistas especialistas em questões atuais, não nos bastam as explicações científicas. Para que nos serve uma certeza de morte, depois de uma análise exaustiva? Jesus e seus discípulos não atestavam a morte, iluminavam, davam sentido à vida.

9. Muita gente admirava e seguia Paulo. Porém, ele cuidava de identificar-se bem com a luz. Não queria fanatismo em torno da sua pessoa. Renuncia inclusive às palavras de sabedoria para não anular a cruz de Cristo. A luz só nos vem dele. Quem ama Jesus, apaixonadamente como Paulo, se oculta, desaparece como um humilde servo.

10. Que boa advertência para nós quando pretendemos ocupar postos brilhantes e até acreditamos ser luminares que esperam a admiração dos que nos contemplam! Tempo estranhos esses que contabilizamos os seguidores e até nos frustramos com os números. Alguns são até influenciadores. Afinal de contas, quem é a nossa luz?

11. Por fim, lembremos que Jesus veio trazer fogo à terra e como gostaria que já estivesse aceso! Sua aspiração era conseguir que tudo ardesse, que tudo fosse iluminado. Ele nos chama e nos envolve nessa grande linha de transmissão que chegue até os últimos rincões da terra para que ninguém fique às escuras. “Somos velas acesas por ti...”.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 21 de janeiro de 2023

(Hb 9,2-3.11-14; Sl 46[47]; Mc 3,20-21) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” Mc 3,21.

“Ser diferente simplesmente para se dizer diferente é imaturidade, trocar valores eternos por supostos amores efêmeros é temeridade. Com o tempo aprendemos que o que realmente vale a pena é o eterno, o atemporal. O que adianta chegar no fim da vida e dizer: ‘fui diferente de meus pais’, ‘fui feliz’, ‘estou bem’, e estar eternamente separado daqueles que se ama? No caminho do progresso espiritual precisamos escolher aquilo que nos acompanhará sempre e não apenas nesta vida. Indubitavelmente, Jesus amava os seus parentes, mas Ele não podia permitir que suas afeições terrenas suplantassem sua missão divina. O fato de eles o considerarem ‘louco’ não merecia nenhuma atenção do Cristo, que desconsiderou completamente a tentativa da família de interferir em sua missão (Mc 3,31-35). O que isso significa? Não devemos amar nossos familiares quando a serviço de Deus? Muito pelo contrário. Temos que amar nossos parentes sempre (Ex 20,12), mas o que Jesus ensina aqui é que existem prioridades e que o mandamento mais importante é ‘amar a Deus sobre todas as coisas; só depois é que vem ‘amar o próximo como a si mesmo’. Logo, nenhum relacionamento humano pode ser maior do que a obediência e o amor a Deus (Lc 14,26). Aqui fica um alerta para quem está se preparando para o matrimônio: um casamento errado pode destruir uma vida espiritual. Deus é a nossa prioridade. Portanto, quem vai se casar procure um cônjuge que ame a Deus e também o tenha como prioridade absoluta. – Deus e Pai, ajuda-nos para que Tu sejas prioridade em tudo na nossa vida, e para que alcancemos a verdadeira felicidade neste mundo e no outro. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de janeiro de 2023

(Hb 8,6-13; Sl 84[85]; Mc 3,13-19) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Assim, ao falar da nova aliança, declarou velha a primeira.

Ora, o que envelhece e se torna antiquado está prestes a desaparecer” Hb 8,13.

“O povo de Israel manifestava a sua aliança com Deus visualizada na lei e no culto. O Profeta Jeremias apresentou parte de sua profecia referindo-se a uma nova aliança criticando a forma como o povo vivia a sua relação com Deus e da esperança para o futuro de uma nova aliança (Jr 31,31-34). A Sagrada Escritura anuncia uma nova situação religiosa para o povo de Israel: Deus não vai mais se relacionar com a humanidade tendo como base a outra observância da lei ou das instituições estabelecidas. Mas o fundamento da Nova e Eterna Aliança agora terá um nome: Jesus Cristo. Ele é o único mediador das relações vitais entre Deus e a humanidade (cf. 1Tm 2,5). Ele é o único sacerdote capaz de fazer essa interligação. Isto nos espanta? Isto nos deixa perplexos? Este é um ensinamento novo? Este ensinamento não é novo, não nos deve deixar perplexos e, muitos menos, espantados. É a realidade verdadeira de nossa fé em Jesus Cristo. Nós mesmos podemos nos entregar nas mãos de Deus e confiar-lhe tudo o que se passa em nossa vida. A liberdade que Jesus nos oferece, concede-nos a graça de uma nova aliança no seu sangue. O culto, por causa da Nova Aliança, não é mais algo burocrático e cheio de etiquetas. Mas é uma ceia de irmãos e irmãs comprometidos(as) com Jesus na pessoa pobre (Mt 25,31-46; 5,1-7). A lei da Nova Aliança não é mais prescrição ritualista, mas um único mandamento, o mandamento também novo: ‘Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ (Jo 13,34). – Ó Pai Misericordioso que nos amas muito mais do que nossos méritos. Dá-nos a graça de compreender que queres o amor, a misericórdia, o perdão e não o sacrifício. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de janeiro de 2023

(Hb 7,25—8,6; Sl 39[40]; Mc 3,7-12) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus se retirou para a beira do mar junto com seus discípulos. Muita gente da Galileia o seguia. E também muita gente da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e Sidônia foi até Jesus, porque tinham ouvido falar de tudo que ele fazia” Mc 3,7-8.

“Para falar da atração exercida por Jesus, o Evangelho faz um elenco dos lugares de origem das multidões que assediavam o Mestre. Os locais mais próximos eram as cidades da Galileia, especialmente as que ficavam à beira do lago. Este foi o palco privilegiado do ministério de Jesus. A fama de seus milagres e de seus ensinamentos deve ter chegado imediatamente aos ouvidos das populações daquela região. Até gente da capital da Judeia, Jerusalém, vinha ouvir o Mestre. Com que intenção? Os judeus desprezavam os galileus. É bem possível que muitos tenham ido ver o galileu Jesus, movido por preconceitos, quiçá com a intenção de ‘desmascará-lo’. Também vinha gente do estrangeiro: da Idumeia, ao sul da Judéia, do outro lado do rio Jordão – a Transjordânia –, e das cidades fenícias de Tiro e Sídon. Todos estes lugares eram habitados por judeus que, sem dúvida, junto com estes pagãos também ficavam atraídos pelo que Jesus fazia. O Mestre limitava-se a fazer o bem a todos, indistintamente. Ao se confrontar com a multidão, não fazia a distinção de espécie alguma. Judeus ou pagãos, todos eram igualmente curados e libertados da opressão do mau espírito. Assim, o Reino de Deus deixava as marcas de sua eficácia na vida de todos que se aproximavam de Jesus. Excluía-se, apenas, quem a ele se dirigia em intenções escusas. O Mestre tinha o dom de fazer renascer no povo a vida e a esperança! – Pai, conduze-me ao teu filho Jesus, por meio do qual o Reino mostra sua eficácia em mim, fazendo a vida e a esperança renascerem em meu coração (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de janeiro de 2023

(Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110]; Mc 3,1-6) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus então olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração” Mc 3,5a.

“A dureza e a insensibilidade dos que dizem seguir o projeto de Deus é a provocação da ira e indignação de Jesus. Parece que, quanto mais sabem sobre Deus e seus preceitos, tonam-se mais carrancudos e frios diante do sofrimento humano. A cena (Mc 3,1-6) da qual foi extraído o versículo acima é fortíssima. É dia de culto a Deus. Um sábado. E lá no lugar sagrado existe um homem com a mão deformada. Isto lhe causa exclusão. Jesus se sente observado e parece que seus perseguidores estão presentes. Ele, conhecendo a maldade de seus pensamentos, utiliza-se do homem doente para explicar objetivamente uma lição. E a lição aplicada por Jesus é a da misericórdia. Todo dia é tempo de misericórdia divina. A indignação e a tristeza de Jesus se dão pelo fato de seus interlocutores serem incapazes de fazerem da lei um meio de responder positivamente aos problemas da humanidade. A dureza de seus corações unida à sua indiferença frente à exclusão social e religiosa é digna do olhar fulminante de Jesus. Esse olhar também se pode encontrar dirigido para nós se fechamos nosso coração às necessidades que gritam aos nossos ouvidos. Quando percebemos em nossas comunidades pessoas escanteadas por inúmeros preconceitos e nada lhe fazemos para recuperar-lhes a vida, o olhar de Jesus nos censura. Seu olhar também nos censura quando fazemos de nossas doutrinas algo mais elaborado e transformador do que suas palavras e gestos. Como seria bom assumirmos os gestos de misericórdia de Jesus como projetos para nossos calendários das comunidades. – O teu nome é amor, ó Deus. Faz com que sejamos mais parecidos contigo nas palavras e nos gestos para com as pessoas excluídas. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 17 de janeiro de 2023

(Hb 6,10-20; Sl 110[111]; Mc 2,23-28) 2ª Semana do Tempo Comum.

“E [Jesus] acrescentou: ‘O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.

Portanto, o Filho do Homem é o senhor do sábado’” Mc 2,27-28.

“Jesus justifica o comportamento de seus discípulos com a novidade da sua doutrina. O que ele traz aos homens é realmente algo novo. Ele não é simplesmente um rabi entre muitos, e sua mensagem não combina com as práticas antigas. Essa ideia fica clara na imagem do vinho velho e do novo que Jesus usa em sua parábola. O vinho novo exige odres novos (2,22). Os ensinamentos novos de Jesus requerem novas formas de expressão. Nessas palavras manifesta-se uma espiritualidade que difere da dos fariseus. Estes se preocupam em adaptar os mandamentos de Deus à vida do dia-a-dia. Sua orientação é voltada ao passado. Pretendem atualizar os mandamentos promulgados no passado. Jesus, no entanto, tem a coragem de inovar. No Evangelho de Mateus, esse espírito de inovação volta a ser religado ao antigo. Na interpretação de Mateus, Jesus não pretende abolir nenhum mandamento. Mas em Marcos se realça o frescor original das convicções de Jesus. Certamente, Jesus se coloca dentro da tradição judaica, mas ele não analisa receoso toda e qualquer letra da lei. Ele confia em sua intuição. E ele confia na novidade trazida ao mundo por ele. Ele se fia no Deus sempre novo que renova tudo” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Segunda, 16 de janeiro de 2023

(Hb 5,1-10; Sl 109[110]; Mc 2,18-22) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens nas coisas que se referem a Deus,

para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” Hb 5,1.

“No tempo de Jesus, o sumo sacerdote tinha uma função específica: oferecer sacrifícios. O sumo sacerdote, tal qual o modelo de Aarão, possui um duplo direcionamento: está direcionado às pessoas, por sua condição humana, e por ser constituído oficialmente a favor da humanidade; e com Deus, que procura as boas relações com os seres humanos. O sumo sacerdote apresenta, por sua natureza, três condições: a natureza humana, com a qual ressalta a sua fragilidade e, por si mesmo, sua capacidade de compreender os pecados dos outros; a oferenda dos dons e sacrifícios, expressão com que se resume toda a atividade sacerdotal que pretende restabelecer as relações com Deus, iluminando os obstáculos que a Ele se opõem (religare), isto é, o pecado; a vocação (chamado de Deus para esse ofício) ou escolha divina, com a qual se tem a exclusão da busca de privilégios e honrarias. Tudo isso foi realizado em Jesus (cf. Hb 5,5-10) (Luís Rúbio Morán). Jesus não era de família sacerdotal e, portanto, nos seus dias de vida humana não exerceu nenhuma função desse grupo. Segundo as Sagradas Escrituras, Deus o proclamou solenemente sacerdote (cf. Sl 110,4). E isto não foi como um prêmio, uma honraria. Mas sua obediência o levou a viver a sua vida em função do Pai e de seus irmãos e irmãs. Os atos de Jesus eram atitudes de cumprimento de sua vontade. Ele veio num corpo humano para realizar a vontade do Pai. Fazer a vontade do Pai e assumir o sofrimento como consequência de sua missão constituem o caráter fundamental da consagração de Jesus como sumo sacerdote. Ele reúne em si as prerrogativas necessárias e exigidas para se concretizar na sua vida a realidade sacerdotal. – Ó Deus de amor e compaixão, não nos permita sucumbir diante dos desafios da missão assumidos por nós e nossas comunidades. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 49,3.5-6; Sl 39[40]; 1Cor 1,1-3; Jo 1,29-34)

“João viu Jesus aproximar-se dele e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo’” Jo 1,29.

“Para entendermos um pouco o versículo citado é necessário procurarmos observar algum comportamento cultural. Por exemplo, em muitas sociedades africanas, quase todas as calamidades são tradicionalmente interpretadas como consequência de uma ofensa direta contra Deus ou algo que desagradou os espíritos dos antepassados ou os que protegem os valores divinos. Um sacrifício é necessário para se aclamar a fúria divina. E em tempos passados esse sacrifício era geralmente um cordeiro. João Batista possuía esse pensamento quando, durante dois dias consecutivos, chamou a atenção de seus seguidores em relação a Jesus ao anunciar: ‘Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’ (Jo 1,29). Isto é, a origem deste cordeiro é Deus. Já entre os judeus, quando alguém pecava, um cordeiro tinha que ser sacrificado, porque Deus não podia simplesmente  ignorar o pecado. Era necessário haver a expiação pelo pecado (Lv 4,20.26.31.35; 5,10-13). Conclusão óbvia: Jesus veio ao mundo como o Cordeiro, providenciado por Deus, para remover o pecado do mundo (Samuel Ngewa). Mas que pecado é esse? Longe de ser algo praticado egoisticamente sozinho, pecado, neste contexto, refere-se à recusa e negação do projeto de Deus que é de desobediência e de não acolhida à fraternidade. O pecado no singular é uma opção de vida que prioriza o ‘Eu’ em detrimento do ‘Nós’. É uma negação da comunidade. Acolhendo a Jesus verdadeiramente, temos a oportunidade de alcançarmos a verdadeira libertação. E vivemos uma experiência de vida nova centrada na vivência do projeto de Deus, anunciado por Jesus. – Jesus, nosso Deus amado, ajuda-nos a compreender e viver o seu projeto de libertação na realidade em que nos encontramos inseridos. Amém! (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de janeiro de 2023

(Hb 4,12-16; Sl 18[19B]; Mc 2,13-17) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos e disse-lhe:

‘Segue-me!’ Levi levantou-se e o seguiu” Mc 2,14.

“A passagem de Jesus pela vida de Levi provocou nele uma transformação considerável. Ele saiu imediatamente da marginalização sócio-religiosa para ingressar no discipulado, ao aceitar o convite do Mestre, exigindo dele a renúncia a uma atividade odiosa aos olhos de seus contemporâneos. Doravante, Levi não seria mais um publicano, e sim um discípulo de Jesus. A opção religiosa desse discípulo teve consequências também no plano social. Na percepção de Jesus, porém, a mudança na vida de Levi deu-se num nível bem diverso. A discriminação, devida à profissão de cobrador de impostos, era irrelevante para o Mestre. Este procurava colocar-se acima dos preconceitos humanos. Importava-lhe, antes, o que se passava no coração de Levi, sentado no seu local de trabalho. Embora vivendo num ambiente corrompido e corruptor, sem dúvida, ele mantinha um elevado padrão de religiosidade. Os preconceitos que recaiam sobre sua categoria profissional não foram suficientes para leva-lo a apegar-se aos bens materiais. Assim, quando Jesus o chama, estava suficientemente livre para segui-lo, sem restrições. Ninguém ficou sabendo da mudança operada na vida de Levi, além dele mesmo, e do próprio Mestre. O homem de fé viu concretizar-se o que, até então, era objeto de esperança. Seguir o Messias Jesus significava ver realizada a promessa divina. Assim, mais que uma marginalização social, Levi superou a verdadeira marginalização religiosa, ao se fazer discípulo do Reino. – Pai, coloca-me, cada dia, no seguimento de Jesus, pois assim, estarei no bom caminho que me conduz a ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de janeiro de 2023

(Hb 3,7-14; Sl 94[95]; Mc 1,1-12) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os teus pecados estão perdoados” Mc 2,5.

“Jesus vê a fé dos quatro homens que levam o paralítico até ele. Não se trata da fé do doente, mas da fé dos seus carregadores. Jesus se dirige ao paralitico: ‘Meu filho, teus pecados estão perdoados’ (2,5). O doente quer recuperar a saúde. Para que, então, o perdão dos pecados? Jesus percebe que a paralisia está ligada à sua atitude interior. Pecado significa errar, enganar a própria vida. O paralítico engana-se quando pensa que deveria ser perfeito, que não deveria revelar suas fraquezas. Como não quer se mostrar fraco, não ousa levantar-se em sua fraqueza, e esta o prende à cama. Quem se levanta sabe que pode cair. Quem evita qualquer risco de cair permanece deitado para sempre na cova de seu medo. É provável que o doente nem tenha infringido nenhum mandamento, mas ele se recusou a viver. A verdadeira culpa está no fato de não vivermos a vida que Deus nos confia. É a essa vida não vivida, a essa atitude negativa que Jesus se refere quando se dirige ao doente. Concedendo-lhe o perdão dos pecados, mostra-lhe que é incondicionalmente aceito por Deus, de modo que passa a existir a possibilidade de um novo começo: ‘Deixa de lado teus sentimentos de culpa! Para de atormentar-te e de ficar à margem da vida! Tem coragem de ser tu mesmo, de levantar-te com todas as tuas falhas e fraquezas! Abandona a negação da vida! Ousa viver!” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de janeiro de 2023

 (1Sm 4,1-11; Sl 43[44]; Mc 1,40-45) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Falando com firmeza: ‘Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece,

pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!’” Mc 1,44

“À primeira vista, a reação de Jesus parece estranha. A palavra grega até exprime cólera: ele ‘ficou irritado, indignou-se, censurou o curado’. Talvez tenha percebido que o curado queria atrair atenções sobre si. Por isso diz que deve seguir o caminho usual, apresentando-se ao sacerdote. Deve reintegrar-se à comunidade. Mas o curado espalha em toda parte e em qualquer oportunidade o que aconteceu com ele. Com isso, ele faz de Jesus um excluído. Este já não pode mostrar-se nas cidades. ‘Jesus não podia mais entrar abertamente numa cidade, mas ficava fora nos lugares desertos’ (1,45). Inverteu-se a situação: Jesus, que se encontrava no meio da comunidade, curou aquele que estava excluído e o readmitiu na comunidade, mas agora o curado excluiu Jesus e o obrigou a manter-se fora da comunidade. Jesus queria curar completamente o homem. Mas para tanto este deveria ter guardado silêncio, para que a cura pudesse estender-se também à sua alma e não só ao corpo. No entanto, parece que o leproso não estava disposto a proceder assim. Vive agora à custa de Jesus. Penso que se trata de uma referência à morte na cruz, pela qual ele foi excluído da comunidade humana e marginalizado para que fôssemos curados e nos soubéssemos amados incondicionalmente. Na cruz, Jesus foi expulso para que nossa expulsão fosse anulada e nós pudéssemos morar novamente perto de Deus. A cura do ser humano custa a Jesus, o Filho de Deus, a vida” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 11 de janeiro de 2023

(Hb 2,14-18; Sl 104[105]; Mc 1,29-39) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“Quando o encontraram, disseram: ‘Todos estão te procurando’” Mc 1,37.

“Os apóstolos, com íntima e mal dissimulada satisfação, disseram a Jesus as três breves significativas palavras: ‘Todos te procuram’. Essa frase também tem valor hoje: existem os que o procuram de um modo consciente, e existem os que procuram de um modo inconsciente, mas não menos realmente que os primeiros. Giovanni Papini pôde escrever: ‘Tu sabes quão grande é, exatamente nos tempos atuais, a necessidade de teu olhar e de tua palavra. Tu bem sabes que um olhar teu pode comover e mudar nossas almas; que tua voz pode tirar-nos da esterqueira de nossa infinita miséria. Tu sabes melhor que nós, que tua presença é urgente e impreterível nestes dias. Queremos ouvir tua voz, tão forte que espante os demônios e tão suave que encante as crianças’. Busque a Jesus e busque-o em todos os momentos de sua vida; procure conhecer mais a Jesus, procure servi-lo cada vez mais e com maior entrega, para amá-lo com toda sua alma; porque se você o procura, encontrará, com ele e nele, a paz, alegria do coração, a infinita felicidade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de janeiro de 2023

(Hb 2,5-12; Sl 8; Mc 1,21-28) 

1ª Semana do Tempo Comum.

“E todos ficavam muito espantados e perguntavam uns aos outros: ‘O que é isso?

Um ensinamento novo, dado com autoridade: ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” Mc 1,27.

“Marcos descreve a reação das pessoas diante das palavras de Jesus sobre Deus no exemplo de um homem que está possuído por um espirito impuro. O espírito começa logo a gritar: ‘Que há entre nós e ti, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder?’. O espírito representa as imagens impuras, débeis e demoníacas que fazemos de Deus, e as imagens que fazemos de nós próprios e nos impedem de viver. Muitas vezes fazemos em nós uma imagem de Deus que desfigura seu verdadeiro ser, por exemplo a imagem de um Deus ‘contador’ que lança tudo a débito e a crédito, a imagem de um Deus arbitrário que a todo momento frustra nossos planos, de um Deus-juiz que nos controla e julga a todo instante. Essas imagens demoníacas de Deus turvam também a imagem que temos de nós mesmos. Vemos a nós mesmos de maneira errada. Usamos Deus como garantia contra todas as vicissitudes da vida. Usamos Deus para encher nosso próprio eu, vendo-nos acima dos outros. Gostaríamos de poder dispor de Deus, colocando-o a nosso serviço. Pessoas com esse tipo de imagem de Deus não conseguem ficar quietas na presença de Jesus. Elas começam a gritar. O demônio precisa manifestar-se. Ele percebe que chegou sua hora. Jesus sacode os homens e os acorda quando fala de Deus. Uma maneira excitante de falar de Deus. Abrem-se os olhos dos ouvintes e, de repente, eles se dão conta daquilo que eles mesmos são. Antes se tinham escondido atrás das imagens que eles próprios tinham feito de Deus, assim como tinham feito a imagem de si mesmos que se opõe à sua imagem verdadeira” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 09 de janeiro de 2023

(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; Mt 3,13-17) Batismo do Senhor.

“Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele” Mt 3,13.

“Jesus, depois de Se ter colocado na fileira dos pecadores que pedem o Batismo de penitência, desce às águas do Jordão. Atravessar essas águas significa entrar na Terra prometida: Jesus é o verdadeiro Israel, que inaugura uma nova época de fidelidade ao desígnio de Deus. Ele, de fato, ‘cumpre’ assim ‘toda justiça’ (v. 15). Sobre Ele abrem-se os Céus, e a voz do Pai exprime a Sua complacência. A pomba atesta que no Filho se cumpre a verdadeira salvação. No Evangelho de Mateus, a narração do Batismo inaugura a vida pública de Jesus. É um texto marcado pelo assombro do João Batista que pergunta: ‘Tu vens ter comigo?’ (v. 14): Tu, o Santo, Tu o Cordeiro sem macha, vens colocar-te no número dos pecadores? Eis até ande chega o abaixamento d’Aquele que ‘que não se apegou à sua igualdade com Deus’ (Fl 2,6). João, o último dos profetas, reconhece em Jesus o servo sofredor, que veio para carregar as nossas culpas. E é precisamente neste momento de humilhação máxima que se reabrem os céus fechados pelo pecado dos homens, um pecado que tem a sua origem na rejeição em escutar a Palavra e, portanto, em obedecer a ela. Agora, de novo, o Pai faz ouvir a Sua voz, porque existe Alguém pronto a cumprir a Sua vontade. Ele reconhece solenemente em Jesus o Filho amado, o verdadeiro Israel, o servo no qual encontra a Sua alegria” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Domingo, 08 de janeiro de 2023

(Is 60,1-6; Sl 71[72]; Ef 3,2-3.5-6; Mt 2,1-12) Epifania do Senhor.

“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?

Nós vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’” Mt 2,1-2.

“A história dos magos do Oriente foi sempre muito popular. Os magos são orginalmente sacerdotes persas, mas também astrólogos, sábios que dispõem de um conhecimento sobrenatural. Eles viram uma estrela. Os astrônomos falam de uma aproximação de Júpiter e Saturno ocorrida no ano 7 a.C. Como Júpiter era o astro dos reis, e Saturno, a estrela da Palestina, era perfeitamente possível que os astrólogos babilônicos tivessem interpretado essa constelação como sinal do nascimento de um filho real em Israel. Chegando a Jerusalém, perguntam: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?’ (2,2). Eles usam os mesmos termos para falar de Jesus, os quais, no fim, identificarão o crucificado. Trata-se novamente de um lampejo de força literária de Mateus. Os sábios do mundo reconhecem em Jesus o rei dos judeus e o adoram. Seu próprio povo entregará Jesus aos romanos, justamente por ser seu rei. Os amigos encontram o rei dos judeus em exercício, um tirano cruel que mandou executar os próprios filhos por suspeita de traição. Jerusalém põe a sua esperança no rei recém-nascido. Mas o poderoso rei Herodes está com medo da criança. Está assustado. É uma situação recontada por muitas lendas e que foi fonte de inspiração para Johann Sebastian Bach em seu ‘Oratório de Natal’. Nessa peça, Bach faz o soprano cantar as palavras: ‘Basta um aceno da sua mão, para derrubar o poder dos homens impotentes. Zomba-se de toda força’. As lendas giram sobretudo em torno das personagens dos magos. A fantasia enriqueceu a história de suas vidas com inúmeros detalhes, interpretando a sua caminhada como uma imagem de nossa própria peregrinação em busca de Jesus. Assim como os magos, seguimos a estrela dessa aspiração que nasce no horizonte de nosso coração. Ela nos conduz por caminhos frequentemente emaranhados até chegarmos à nossa meta, à casa onde estão a mãe e seu filho, onde podemos sentir-nos realmente em casa” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite