Sábado, 01 de agosto de 2020

(Jr 26,11-16.24; Sl 68[69]; Mt 14,1-12) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“Herodes queria matar João, mas tinha medo do povo, que o considera como profeta” (Mt 14,5)

“A cena evangélica confronta duas figuras contrastantes: João Batista e Herodes. E isto com o objetivo de mostrar aos discípulos a que ponto se pode chegar, quando se assume uma postura profética. No fundo, alertava para o que aconteceria com o Jesus. Por ser profeta como João, sorte semelhante à deste lhe estava reservada. Seria ingenuidade pensar de maneira diferente, ao perceber a coerência da ação do Mestre. Herodes é apresentado como um indivíduo imoral, que não teve escrúpulo de tomar como esposa a mulher do seu irmão. Homem violento, ficou cheio de ódio por ter sido censurado por João. Não o matou logo, por temer o povo que tinha o Batista na conta de profeta. Mas o encarcerou. Homem sem discernimento. Seu juramento imponderado obrigou-o a agir contra a própria consciência. Apesar de ter se entristecido quando a filha de sua concubina lhe pediu a cabeça de João numa bandeja, atendeu-lhe o pedido mandando-o decapitar. Logo, foi um cruel assassino. João Batista é um homem livre e temente a Deus. Não suporta o abuso dos grandes, mesmo que seja contra outro grande, como foi o caso de Filipe, irmão de Herodes. Homem corajoso nem a prisão nem a ameaça de morte fazem-no voltar atrás. Sua figura recorda a dos antigos profetas, rejeitados e assassinados por terem sido fiéis à sua vocação. Acima de tudo, João encarna a figura do homem de Deus, inabalável quando se trata de testemunhar a verdade. – Pai, na qualidade de discípulo de teu Filho Jesus, quero inspirar-me na coragem inabalável de João Batista, denunciando profeticamente a prepotência dos grandes” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de cada dia – Paulinas).

 

Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja. Nasceu em 27 de setembro de 1696, de família nobre de Nápoles. Foi um menino prodígio pela facilidade com que aprendeu todas as disciplinas, das línguas às ciências, da arte à música. Aos 19 anos era advogado formado. Desiludido após um erro cometido nessa profissão, abandonou a toga e enveredou nos estudos eclesiásticos. Aos trinta anos era ordenado sacerdote e desenvolveu suas missões entre mendigos da periferia de Nápoles e os camponeses. Aos 36 anos com a colaboração de um grupo de leigos, fundou a congregação do SS. Salvador, cujo nome mais tarde passou para SS. Redentor (redentoristas). Foram aprovados por Bento XIV em 1749. Aos 60 anos foi eleito bispo de Santa Águeda dos Godos e dirigiu a diocese por 19 anos, quando já quase cego e surdo, foi pedir hospitalidade aos filhos espirituais, numa casa de Nócera, onde viveu até a morte, que o encontrou aos 91 anos no dia 1º de agosto de 1787. Nestes últimos doze anos de vida, para não faltar ao programa que se propusera quando jovem de não perder tempo jamais, dedicou-se à redação de outros livros, enriquecendo a já numerosa coleção de obras ascéticas e teológicas que trazem a sua assinatura. Entre seus livros ascéticos mais conhecidos entre os cristãos estão A prática do amor a Jesus Cristo e Preparação para a morte. Suas prédicas tinham três temas constantes: o amor de Deus, a Paixão de Jesus e a meditação sobre a morte e o mistério do além túmulo.  Expressou sua devoção a Nossa Senhora com o livro As glórias de Maria. Por tudo isso e muito mais foi declarado doutor da Igreja e proposto como patrono dos confessores e teólogos de teologia moral. Santo Afonso foi canonizado em 1832.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 31 de julho de 2020

(Jr 26,1-9; Sl 68[69]; Mt 13,54-58) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: ‘Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!’” Mt 13,57.

“Os habitantes de Nazaré ficaram admirados com a sabedoria e os milagres de Jesus, que de resto reconhecem como extraordinários, mas, em vez de se abrirem ao mistério, fecham-se nos preconceitos. A pergunta legítima deles, ‘De onde lhe vem...?’ (vv. 54.56), na realidade não está aberta à procura de uma resposta que possa servir de discussão sobre o que eles já sabem acerca de Jesus: por mais que Ele atue de modo extraordinário, Ele não pode ser diferente do homem normal e comum, cujas origens simples se conhecem bem. Jesus não foi aceite pelos Seus por causa da Sua ‘carne’, da Sua ‘fraqueza’ humana. É o escândalo, sempre recorrente na História, embora sob forma diversas, do homem perante o mistério da Encarnação. O que causa problema não são nunca as teorias, mesmo as mais obscuras acerca de Deus, mas sim o fato de que Ele tenha aparecido no mundo, na carne, na História, na liberdade concreta e particular de um homem, que viveu num momento particular do tempo, num pedaço de terra bem circunscrito. Por isso é que, já na Primeira Carta de João, encontramos estas palavras: ‘Para saber se alguém é inspirado por Deus, segui esta norma: fala da parte de Deus todo aquele que reconhece que Jesus se encarnou’. ‘Todo aquele que não reconhece a Jesus não fala da parte de Deus’ (1Jo 4,2-3). A rejeição de Nazaré, por um lado concentra no Mestre a rejeição de todos os profetas precedentes (v. 57b), e por outro abre-se à rejeição radical do Messias, no Seu milagre maior: o dom da Salvação através da morte na Cruz. Ainda hoje é possível rejeitar um Deus que seja como nós e que manifeste o Seu poder divino na fraqueza humana (cf. 1Cor 1,18-31)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum] – Paulus).

 

Santo do Dia:

Santo Inácio de Loyola, presbítero. Nasceu em Azpzitia em 1491. Último rebento de família nobre, aos 14 anos já havia recebido a tonsura, mas não se sentia inclinado à carreira eclesiástica. Preferiu a espada do cavaleiro. Durante a defesa do castelo de Pamplona, sitiado por Francisco I da França, quebrou uma perna. Para lhe cortar a carreira militar foi suficiente a leitura preguiçosa de alguns livros amarelecidos, que a cunhada lhe trouxe para passar o tempo da convalescência. A Vida de Jesus e A lenda áurea determinaram a escolha mais importante de sua vida. Por um tempo levou uma vida de penitência como peregrino e mendigo. Quando voltou da Terra Santa completou os estudos. Trocou o nome de Iñigo por Inácio, e reuniu junto a si o primeiro núcleo da Companhia de Jesus, um grupo cada vez maior chamado Soldados de Cristo, que lutavam e se sacrificavam sob a insígnia da divisa: Para maior glória de Deus. Carregavam consigo um livro: Os exercícios Espirituais, escrito e vivido por santo Inácio na solidão de Manresa. Aqui está o segredo deste santo, o segredo de sua dedicação, sua mística do serviço pela alegria de amar a Deus – como frequentemente repetia: “com todo coração, com toda a alma, com toda a vontade”.  Morreu em Roma a 31 de julho de 1556.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 30 de julho de 2020

(Jr 18,1-6; Sl 145[146]; Mt 13,47-53) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão separar os homens maus dos que são justos

e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes” Mt 13,49-50.

“No momento presente vivemos uma mistura de bem e mal, de verdade e mentira, de alegria e tristeza, de pecado e graça. Vivemos a situação humana de uma maneira ambígua. Nem sempre a verdade é puramente verdade. Existe a mais ou menos verdade. É nossa condição humana. Condição de mistura. Um dia não será mais assim. Diante de Deus a situação será outra. O mal não se suportará diante do bem infinito, que é Deus. Os maus não suportarão a beleza e a perfeição de Deus. Deus não condenará ninguém. Cada um se verá um salvo ou condenado. Diante de Deus não há mentiras nem tapeação. Tudo será claro como o dia. Na situação humana em que vivemos, todos tentamos ser bons, porém, nossa bondade muitas vezes esconde a mentira, esconde nossas frustrações e medos. A morte é a queda de todas as máscaras. Não haverá mais o carnaval da tapeação e da mentira. Cara a cara com a vida, cara a cara consigo mesmo, cara a cara com o universo e com Deus. Tudo será claro e tudo será espelho. A situação de cada um será revelada totalmente. Cristo afirma que os maus serão jogados na fornalha de fogo, onde haverá choro e ranger de dentes. É o desespero. Ter nascido para ser feliz, ter sido escolhido para participar do banquete da vida e não recusar esta escolha. Recusar o privilégio de ter nascido para a vida e amor é negar-se a si mesmo. É escolher a solidão total. Condenar-se a escolher a solidão eterna. É escolher a impossibilidade de amar e de dizer ‘eu te amo’. Escolher a si mesmo em vez de escolher o Deus da vida e do amor é criar para si o inferno, quando nosso destino é o céu. – Deus do amor e da vida, que saibamos escutar nosso coração, feito para a vida e o amor. Libertai-nos da solidão que leva à fornalha do desespero e da destruição. Salvai-nos por vossa graça e vosso poder, vós que nos criastes para a vida e para o amor. Amém” (Wilson João Sperandio – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 

Santo do Dia:

São Pedro Crisólogo, bispo e doutor da Igreja. Nascido em Ímola em 380, eleito bispo de Ravena em 424, mereceu o apelido de Crisólogo, isto é palavra de ouro, por ser autor de estupendos sermões, ricos de doutrina, que lhe deram também o título de doutor da Igreja, decretado em 1729 por Bento XIII. Foi um pastor prudente e sem ambiguidades doutrinais. Humildes e poderosos eram por ele escutados com igual condescendência e caridade. Viveu num período marcado por heresias. Temos dele 176 homilias de cunho popular, muito expressivas, nas quais explicava o Evangelho, o Creio, o Pai-nosso, ou são sugestões de exemplos de santos a imitar, ou exaltação das virtudes do verdadeiro cristãos. A autoridade do bispo de Ravena era conhecida num largo raio da Igreja. Morreu em Ímola, a 31 de julho de 451, segundo outros, a 3 de dezembro de 450.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 29 de julho de 2020

(1Jo 4,7-16; Sl 33[34]; Jo 11,19-27) 

Santa Marta.

“Respondeu ela: ‘Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias,

o Filho de Deus, que devia vir ao mundo’” Jo 11,27.

“Marta é a irmã de Maia e Lázaro de Betânia, um povoado a cerca de três quilômetros de Jerusalém. Em sua casa hospitaleira, Jesus gostava de descansar durante a pregação na Judéia. Por ocasião de uma dessas visitas aparece pela primeira vez Marta. O evangelho no-la apresenta como a dona de casa, solícita e atarefada em acolher dignamente o agradável hóspede, enquanto a irmã Maria prefere ficar quieta excitando as palavras do Mestre. Não admira, portanto, a reclamação que Marta faz contra Maria: ‘Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixa sozinha a fazer o serviço? Diz-lhe, pois que me ajude”. A amável resposta de Jesus pode parecer uma repreensão à atitude da agitada dona de casa: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto só uma coisa é necessária. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada’. Mas isso não é uma repreensão, comenta santo Agostinho: ‘Marta, você não escolheu mal, Maria, porém, escolheu melhor que você’. Não obstante isso, Maria, considerada modelo evangélico das almas contemplativas já por são Basílio e são Gregório Magno, parece não figurar no calendário litúrgico (22 de julho): a santidade desta doce figura de mulher está fora de discussão, pois foi confirmado pelas palavras de Cristo. Mas somente Marta, nem Maria nem Lázaro, aparece no calendário litúrgico universal, como para recompensar suas solicitudes e atenções para com a pessoa do Salvador e como a propô-la para as mulheres cristãs como modelo de operosidade. A humildade e incompreendida profissão de doméstica está nobilitada por esta santa trabalhadeira de nome Marta, que significa simplesmente senhora. Marta reaparece no Evangelho no dramático episódio da ressurreição de Lázaro, onde implicitamente pede o milagre com uma simples e estupenda profissão de fé na onipotência do Salvador, na ressurreição dos mortos e na divindade de Cristo, e durante um banquete do qual participa o próprio Lázaro, há pouco ressuscitado, e também desta vez se nos apresenta em funções de dona de casa atarefada. A lição do Mestre não se referia à sua louvável operosidade, mas ao exagero de preocupações com as coisas matérias em detrimento da vida espiritual. Sobre o tempo posterior da vida da santa nada sabemos de historicamente aceitável, mas existem muitos contos lendários. Os primeiros que dedicaram à santa Marta uma celebração litúrgica foram os franciscanos em 1262, a 29 de julho, isto é, oito dias após a festa de santa Maria Madalena, impropriamente identificada com sua irmã Maria” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 28 de julho de 2020

(Jr 14,17-22; Sl 78[79]; Mt 13,36-43) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“O Filho do homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar

e os que praticam o mal; depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes”

Mt 13,41-42.

“Explicando a Parábola do Joio e do Trigo, Jesus anuncia um futuro julgamento. Segundo o Mestre, esse julgamento tornará evidente o que está de acordo ou em desacordo com o reinado de Deus. O que estiver em desacordo será banido deste mundo. Os justos, ao contrário, gozarão de paz (Mt 13,36-43). A promessa de Jesus responde ao nosso anseio por um mundo mais justo e pacífico. Contudo, a parábola também nos deixa em estado de alerta: o quanto temos desejado e contribuindo, efetivamente, para que a justiça e a paz se concretizem em nosso mundo? A questão é séria e a resposta não é tão simples. Em cada momento de nossa vida, em cada ação praticada, somos desafiados a trabalhar pela realização do Reino de Deus. Nossas ações contribuem para a realização do reinado de Deus? Nossos projetos e valores estão em sintonia com o reinado de Deus? Nossa compreensão de justiça coincide com a justiça do Reino? A paz que almejamos é a mesma paz que o Cristo nos ensina e nos oferece? O texto de Mateus oferece oportunidade para uma boa reflexão. Antigas canções, do tempo de nossos avós, apresentam reflexões semelhantes. Recordo Nelson Cavaquinho, em Juízo final, sonhando com o dia em que a maldade desapareceria deste mundo e o amor seria eterno.  Agepê, em Lá vem o trem, falava de um comboio que chegaria para levar embora aqueles que tivessem amor no coração. Assim como o texto bíblico, essas canções deixam a pergunta: Vou entrar nesse trem? Vou presenciar o dia da melhora? – Javé firmou o seu trono para o julgamento. Ele julga o mundo com justiça e governa os povos com retidão. Que Javé seja fortaleza para o oprimido, fortaleza nos tempos de angústia. Em ti confiam os que conhecem o teu nome, pois não abandonas os que te procuram, Javé (Sl 9,8-11)” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Santo Inocêncio I, papa. Eleito pontífice em 401, governou a Igreja por 16 anos, num período histórico muito difícil para os destinos do império romano do Ocidente e particularmente para Roma, que a 24 de agosto de 410 foi conquistada e saqueada pelos godos de Alarico. Mesmo assim sua autoridade pontifícia não se deixou apagar. A solicitude para com todas as Igrejas é demonstrada por um grande número de cartas, trinta e seis das quais constituem o primeiro núcleo das coleções canônicas, ou cartas encíclicas, que fazem parte do magistério ordinário dos pontífices. Estabeleceu assim um ponto muito importante na disciplina eclesiásticas, isto é, a uniformidade que as várias Igrejas devem ter com a doutrina e as tradições da Igreja de Roma. A solicitude do papa não se dirigia somente à defesa da doutrina tradicional da Igreja: com humaníssima sensibilidade ele sabia confortar e aliviar sofrimentos. Morreu em Roma no ano 417, a 28 de julho segundo o Liber pontificalis, e foi sepultado no cemitério de Ponciano na via Portuense.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 27 de julho de 2020

(Jr 13,1-11; Sl Dt 32; Mt 13,31-35) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus contou-lhes outra parábola: ‘O Reino dos céus é como uma semente de mostarda

que um homem pega e semeia no seu campo’” Mt 13,31.

“As duas parábolas, do grão de mostarda e do fermento, são contadas por Mateus (!3,31-33) quanto por Lucas. Os Padres da Igreja veem no grão de mostarda a fé que é plantada no interior do ser humano, de repente, vira árvore. Outros se apoiam nele. Forma-se uma comunidade ao seu redor e as aves do céu constroem ninhos nos galhos da árvore. Vitalidade, leveza, abertura para o céu são as características de um homem imbuído de fé. O fermento que é misturado a três sat de farinha de trigo, como se diz literalmente no texto grego, é para Agostinho uma imagem do amor que impregna tudo em nós. Os Padres da Igreja deram um sentido alegórico aos três sat de farinha, comparando-os às três esferas que existem no ser humano: o pensar, o sentir, o desejar, ou seja, o corpo, os sentidos e a razão. As três esferas precisam ser penetradas pela fé ou pelo amor. Aí então nos tornamos pão para os outros. É uma mulher que mistura o fermento à farinha. A mulher é a imagem do lado feminino do ser humano, lado esse que tem um tino especial para o todo, o renascimento, a transformação. A farinha pode representar também aquilo que deixamos escapar entre os dedos. Às vezes, temos a sensação de que a nossa vida parece farinha. Não conseguimos segurar os nossos pensamentos e as sensações. Há tantas coisas em nós que ficam lado a lado e, no entanto, não se comunicam. O inconsciente é como uma poeira que se deposita em tudo. Não sabemos de onde ela vem, mas tudo fica empoeirado. Quando o fermento do amor impregna tudo que há em nós, o múltiplo, o centrífugo, o impalpável se transforma em unidade. Da noite para o dia fica tudo levedado, podendo transforma-se em pão que alimenta” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 

Santo do Dia:

São Celestino I, papa. Sucedeu Bonifácio I. Num pontificado de dez anos (10/09/422 a 27/07/432) marcado por grandes realizações, Celestino era um homem de grande energia e ao mesmo tempo de comovente liberalidade. Defendeu o direito de o papa receber apelos de qualquer cristão, leigo ou clérigo, e era solícito em responder a tudo e a todos. Ao papa era pedido sobretudo fixar normas às quais todo fiel devesse conformar o próprio comportamento. Com essas respostas, conhecidas com o nome de Decretais, tomou forma o primeiro embrião do direito canônico. Teve cordial correspondência com o amigo bispo de Hipona, santo Agostinho, cuja doutrina defendeu calorosamente, na disputa antipelagiana, com palavras que consagraram definitivamente sua autoridade e santidade. Morreu a 27 de julho de 432 e foi sepultado no cemitério de Priscila, numa capela ilustrada com episódios do recente Concílio de Éfeso, que havia proclamado solenemente a divina maternidade de Maria. No ano de 817, as relíquias do santo pontífice foram colocadas na basílica de santa Praxedes e parte delas parece terem sido transportadas para a catedral de Mântua. 

Pe. João Bosco Vieira Leite


17º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(1Rs 3,5.7-12; Sl 118[119]; Rm 8,28-30; Mt 13,44-52)

1. Concluímos neste domingo o discurso das parábolas sobre o Reino de Deus com as três últimas imagens apresentadas por Jesus. As duas primeiras nos dizem que o Reino é como um bem maior que nos causa alegria quando o encontramos, seja de maneira programada ou ao acaso.

2. Independentemente do modo, afortunado quem o encontra e faz dele o centro de sua vida. A terceira parábola traz uma mensagem parecida com as anteriores, sobre o fim positivo e sobre a separação que se fará ao final, lembrando-nos do Joio e do Trigo.

3. A compreensão do Reino de Deus como um tesouro requer discernimento e sabedoria, como nos indica a 1ª leitura; se traz consigo alegria, traz também exigências radicais, pois para tê-lo é preciso deixar muitas outras coisas. Só quem consegue captar o seu significado é capaz de abrir mão de todo o mais para com ele ficar.

4. Quando contemplamos a vida dos santos, podemos intuir o porquê de deixarem tudo para abraçar a dinâmica do Reino, desde Paulo, passando por Santo Agostinho e São Francisco, até chegar a uma Madre Teresa ou Ir. Dulce dos nossos tempos. Sem falar daqueles que anonimamente seguiram a Cristo e o seguem até hoje.

5. O Reino que vislumbramos através dessas parábolas que ouvimos ao longo de três domingos, sempre esteve no centro da pregação de Jesus e que os seus discípulos foram enviados a anunciar, que estava muito próximo, pois se identificava com o próprio Jesus, ele mesmo, uma parábola viva do Pai e do Reino.

6. Mesmo estando no centro de Sua pregação, Jesus não deu uma definição fechada, mas nos ofereceu um mosaico de imagens, parábolas, sentenças que são dados e notas de uma realidade que temos de assimilar meditando sobre os mesmos.

7. Para acolhermos o Reino é preciso de nossa parte um esforço de conversão que nos levará uma nova alegria, um modo novo de ver a vida onde a vontade de Deus e a felicidade do ser humano coincidem.

8. Suas parábolas trazem imagem do cotidiano, pois tudo que é humano encontra eco no coração, e falam dessa presença misteriosa do Reino entre nós. Muitas delas marcadas pela alegria da salvação oferecida por Deus em Sua misericórdia. 

9. Para os cristãos de todos os tempos, a compreensão da dinâmica do Reino e a busca do mesmo é a fonte e o ponto de referência para a compreensão e a vivência da salvação que Cristo veio realizar. Compreender e viver essa soberania de Deus em nossa vida e na nossa história.

10. Abrir-se ao Reino determina as atitudes evangélicas com as quais viveremos as nossas relações com o próximo e com os pobres do mundo. Ele vai formatando uma espiritualidade que tem como base uma alegre esperança e a vivência do compromisso temporal que faz parte da fé. Por isso rezaremos sempre: “Venha a nós o vosso reino...”.

11. “Cheios da felicidade que o Espírito infunde no nosso coração, bendizemos-Te, Senhor Jesus, por descobrirmos no teu evangelho, na tua pessoa, em toda a tua vida e no teu amor para conosco, o tesouro escondido e a pérola valiosa do reino de Deus, pelo qual vale a pena arriscar tudo, sábia e generosamente. Bendito sejas, também porque nos falaste do reino com parábolas e sinais de libertação que unem o anúncio do reino de Deus com a salvação e a felicidade do homem. Faz, Senhor, que a boa nova do tesouro do teu reino transforme as nossas pequenas vidas à medida do teu projeto, e alcançaremos pelo teu amor todo o resto por acréscimo. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 25 de julho de 2020

(2Cor 4,7-15; Sl 125[126]; Mt 20,20-28) 

São Tiago Maior, apóstolo.

“De fato, nós, os vivos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que também

a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal” 2Cor 4,11.

“Tiago (o Maior), filho de Zebedeu e de Salomé, irmão mais velho do evangelista João, aparece entre os seguidores de Jesus desde o começo da pregação do Messias. Os dois irmãos estavam na margem do lago de Genesaré, quando Jesus os chamou. A resposta foi pronta e total: ‘eles abandonando o barco e seu pai, o seguiram’. Também neste particular se revela a índole forte e ardente, pela qual tiveram de Jesus o apelido, entre elogio e reprovação, de ‘filhos do trovão’. Seu comportamento posterior confirma isso, pelo menos em duas ocasiões: a primeira vez diante do comportamento hostil dos samaritanos, que negaram hospitalidade a Jesus e aos seus discípulos: ‘Senhor – disseram Tiago e João – devemos invocar o fogo do céu para que os devore?’ Mais tarde na última viagem a Jerusalém, ambos ousaram fazer aquele presunçoso pedido de sentar-se um à direita e outro à esquerda do Cristo triunfante. Em ambos casos demonstram não terem entendido as lições de amor e de humildade do Mestre. Todavia são generosos quando se trata de jogar-se à luta. À pergunta de Jesus: ‘Podeis vós beber o cálice?’ Tiago foi o primeiro a responder: ‘Podemos’. Jesus colocou-o contra a parede e Tiago respeitou pontualmente a palavra dada. Após o dia de Pentecostes, no qual tinha vindo não o fogo destruidor do castigo, mas o fogo vivificante do amor, também Tiago como os outros apóstolos foi vítima da perseguição movida pelas autoridades judaicas: foi jogado no cárcere e flagelado, ‘alegrando-se muito, por ter sido digno de sofrer torturas pelo nome de Jesus’ (como se lê nos Atos dos Apóstolos). Houve uma segunda perseguição, da qual foi vítima ilustre o diácono santo Estevão, e houve uma terceira, mais cruel que as precedentes, desencadeada por Herodes Agripa para agradar os judeus. Este Herodes (mostrando-se digno do nome do tio, o assassino de João Batista, e do avô Herodes, dito o Grande, que tentou matar Jesus logo que nasceu), por um simples cálculo político, durante as festas pascais de 42 ‘começou a perseguir alguns membros da Igreja, mandou matar à espada Tiago, irmão de João, e, vendo que isto agradava os judeus, mandou prender Pedro’. Segundo uma tradição, não anterior ao século VI, o apóstolo Tiago teria sido o primeiro evangelizador da Espanha. Para revigorar esta tradição, no século IX o bispo Teodomiro de Iria afirmou ter reencontrado as relíquias do apóstolo e desde aquela época, Iria, que tomou o nome de Compostela, tornou-se a meta preferida de todos os peregrinos da Europa” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 24 de julho de 2020

(Jr 3,14-17; Sl Jr 31; Mt 13,18-23) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“Ouvi a parábola do semeador” Mt 13,18.

“Jesus começa a falar com simplicidade do semeador que sai para semear. Uma parte das sementes cai à beira do caminho, em lugares pedregosos e entre espinhos. A parábola se dirige à comunidade cristã. Todos os cristãos ouviram a palavra de Jesus descrita pela imagem das sementes. Mas, em algum cristão, a alma se parece com o caminho: eles não conseguem ficar arados, não têm profundeza. Tudo permanece na superfície, tudo é público. Assim, a palavra de Deus não consegue penetrar. Os pássaros acabam comendo as sementes. A grande quantidade de pensamentos que esvoaçam em sua cabeça impede que a palavra de Deus penetre na alma. De tantos pensamentos em Deus, este não tem oportunidade de chegar ao nosso coração. O terreno pedregoso é a imagem das pessoas que se entusiasmam pela palavra de Deus. Mas falta-lhes persistência. A palavra só penetra nas emoções, na camada externa. A profundeza do coração não é atingida. Os espinhos são imagem das paixões e dos ferimentos, dos acúleos que nos machucam ou com os quais nós mesmos nos ferimos. Os espinhos não permitem que as sementes brotem. Jesus diz que os espinhos sufocam as sementes porque não lhes deixam espaço para respirar. Quem se sente atormentado pelas preocupações ou quem não para de remexer em suas próprias feridas impede o crescimento das sementes. Mas a maior parte das sementes cai na terra boa, onde produz uma rica colheita, cem, sessenta, trinta por um. Em cada um, as sementes têm outro crescimento. Vemos que Mateus junta o ouvir e o fazer. O fruto da existência cristã é um novo comportamento. Mas há uma segunda imagem que transparece nessas palavras. Vitalidade e fecundidade são os sinais da verdadeira espiritualidade. Quem se deixa transforma por Deus destaca-se pela fecundidade; dele irradiam vitalidade, fantasia e criatividade (13,4-9)” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 

Santo do Dia:

Santa Cristina, mártir. Do culto dessa jovem mártir existem muitas narrativas de valor pouco histórico. Ela aparece nas descobertas arqueológicas do século XVII, conclui-se que ela era venerada desde o século IV em Bolsena, de onde é padroeira. A santa aparece entre as virgens mártires dos mosaicos da igreja de santo Apolinário de Ravena do século VI. Outros artistas também se inspiraram em narrativas de sua Paixão para compor suas obras. “Conta-se que uma jovem de onze anos, de nome Cristina de extraordinária beleza foi segregada pelo pai, Urbano, oficial do imperador, numa torre, em companhia de doze servas. Com esta atitude o pai queria obrigar a filha, tornada cristã, a abjurar a fé e subtraí-la às leis da perseguição. Mas a menina despedaçou as preciosas estatuetas dos deuses, que o pai havia colocado no seu quarto, e deu os metais aos pobres. O pai passou então da delicadeza às percussões: fê-la flagelar e fecha-la num cárcere. Como Cristina persistisse na sua profissão de fé, Urbano a entregou aos juízes que lhe infligiram vários e terríveis suplícios. No cárcere, onde foi jogada desmaiada e coberta de feridas foi consolada e curada por três anjos. Como também este castigo falhasse, passou-se à solução final: amarraram uma pesada pedra no pescoço, jogaram-na ao lago, mas a pedra, sustentadas pelos anjos, ficou boiando e levou a menina à margem. O desnaturado pai foi punido por Deus com a morte; mas as torturas de Cristina não acabaram. Os juízes se enfureceram contra ela condenando-a, com bárbara perseverança, às mais terríveis e ineficazes torturas, como a grade de ferro quente, a fornalha superaquecida, a mordidas de cobras venenosas, o corte dos seios, enfim, não tendo mais o que inventar, trucaram aquela jovem existência com duas lançadas, transplantando aquela flor incontaminada para os jardins do paraíso” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de julho de 2020

(Jr 2,1-3.7-8.12-13; Sl 35[36]; Mt 13,10-17) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque, olhando, eles não veem e,

ouvindo, eles não escutam nem compreendem” Mt 13,13.

“Em seu ministério, Jesus deparou-se constantemente com o fenômeno da incredulidade. Com o passar do tempo, crescia a oposição dos seus inimigos, que o tornavam alvo de maledicências e perseguições. Um texto da profecia de Isaias ajudou-o a compreender essa experiência. O profeta falara do ‘endurecimento do coração’ de seus contemporâneos, insensíveis à sua pregação. Quanto mais o profeta falava, convidando-o a conversão, tanto mais recrudescia o fechamento do povo. A postura dos mestres da Lei e dos fariseus levou Jesus a instruir os discípulos servindo-se de parábolas, de forma a velar seus ensinamentos. O pré-requisito para o entendimento das parábolas consistia em estar sintonizado com Jesus, para ser capaz de interpretá-las. Caso contrário, seriam apenas simples histórias sem graça. Quem não as ouvir como se deve, será incapaz de compreendê-las com o coração. O modo parabólico da fala revela uma clara distinção entre quem é e quem não é discípulo do Reino. Os primeiros são capazes de captar os mistérios do Reino escondido em cada parábola. Os segundos são incapazes de ir além da materialidade das palavras, permanecendo na ignorância das coisas do Reino. Feliz quem se torna discípulo de Jesus, porque realiza um sonho acalentado por muitos profetas e justos: contemplar o Reino de Deus. – Pai, dobra a dureza do meu coração que me impede de ouvir e compreender a palavra do teu Filho. Faze-me penetrar nos mistérios do Reino escondido nas parábolas” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de cada dia – Paulinas).

 

Santo do Dia:

Santa Brígida, religiosa. Brígida, ou Brigite, nasceu em Finstad perto de Upsala, na Suécia em 1303 e morreu em Roma em 23 de julho de 1373, e é por isso contemporânea de santa Catarina de Sena. Elas têm em comum não só singulares dons carismáticos, como êxtases e visões, mas também um vivo interesse pela paz entre os Estados e pela unidade dos cristãos. As revelações que Brígida teve durante os frequentes êxtases, foram por ela escritas em e depois traduzidas em latim, formando oito grandes volumes. Teve uma rígida educação cristã que lhe fora dada por uma tia austera. Casou-se com menos de 18 anos e teve oito filhos. Ulf, seu marido, após tê-la acompanhado em peregrinação ao santuário de Compostela, na Espanha, foi fechar-se no mosteiro cisterciense de Alvastra, onde já vivia um filho deles, concluindo aí sua santa vida em 1344. Ela seguiu o exemplo do marido e do filho abraçando também o ideal monástico. Assim fundou em Vadstena uma ordem religiosa inovadora para homens e mulheres que teriam como único ponto de encontro a igreja para a oração em comum. A ordem seguia a regra de santo Agostinho e se expandiu pela Europa. Com o apoio do rei da Suécia, a Ordem foi aprovada pelo papa Urbano V e dirigida de Roma pela santa fundadora, que em 1349, tinha se mudado para a praça Farnese, no lugar onde surgiria depois a igreja a ela dedicada.  Após sua morte a direção da Ordem coube a sua filha santa Catarina. Brígida da Suécia foi canonizada em 1391, 18 anos após a morte.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de julho de 2020

(Ct 3,1-4; Sl 62[63]; Jo 20,1-2;11-18) 

Santa Maria Madalena.

“Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’ e contou o que Jesus lhe tinha dito”

Jo 20,18.

“A Igreja latina costumava celebrar juntas na sua liturgia as três mulheres de que falava o Evangelho, e a liturgia grega comemora separadamente: Maria de Betânia, irmã de Lázaro e de Marta; Maria denominada pecadora ‘a quem muito foi perdoado porque muito amou’; e Maria Madalena ou de Magdala, a possessa curada por Jesus, que seguiu e o assistiu com as outras mulheres até a crucifixão e teve o privilégio de vê-lo ressuscitado. A identificação das três mulheres foi facilitada pelo nome comum aos menos a duas delas e pela opinião de são Gregório Magno que viu indicada em todas as passagens do Evangelho uma única e mesma pessoa. Os redatores do novo calendário, reconfirmando a memória de uma só Maria Madalena sem outra indicação, com o adjetivo penitente, entenderam a santa mulher a quem Jesus apareceu após a ressurreição. No capítulo VII de são Lucas, após haver descrito a unção da pecadora que aparece de repente na sala do banquete e derrama nos pés de Jesus perfumados unguentos que depois enxuga com os próprios cabelos, prossegue assim o Evangelho: ‘Depois disso ele andava por cidades e aldeias, ... Os doze o acompanhavam, assim como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças, Maria, chamada Madalena da qual haviam saído sete demônios, Joana... e várias outras, que os serviam com seus bens’. A desconhecida pecadora, que pela contrição perfeita mereceu o perdão dos pecados, não é a Madalena, bem conhecida, que segue constantemente o Mestre da Galileia à Judeia, até aos pés da cruz, cujo ardente amor Jesus recompensa no dia da Ressurreição. Ela está inconfundivelmente ‘junto à cruz de Jesus’, depois em vigília amorosa ‘sentada em frente ao sepulcro’, enfim, na madrugada do novo dia é a primeira a ir de novo ao sepulcro, onde vê e reconhece o Cristo ressuscitado. À Madalena, em lágrimas por ter encontrado o sepulcro vazio e retirada a pesada pedra, Jesus se dirige chamando-a simplesmente pelo nome: ‘Maria!’ e a ela confia a notícia do grande mistério: ‘Vai dizer aos meus irmãos: eu subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus’. É esta a Madalena que a Igreja hoje comemora e que, segunda uma tradição grega, teria ido viver em Éfeso, onde teria morrido. Nesta cidade morava também João, o apóstolo predileto, e Maria, Mãe de Jesus” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de julho de 2020

(Mq 7,14-15.18-20; Sl 84[85]; Mt 12,46-50) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“A Palavra do Evangelho, que poderia parecer um sinal de ingratidão ou de esquecimento em relação a Maria (‘Quem é minha Mãe?’: Mt 12,48), é pelo contrário um louvor à Mãe. Jesus alarga os confins da Sua família a todos aqueles que escutam a sua Palavra e fazem a vontade do Pai. Escutar a Palavra de Jesus faz-nos entrar cada vez mais na família de Deus, na qual já entramos por força do nosso Batismo; a escuta, portanto, faz-nos tornar aquilo que já somos. As palavras do Evangelho soam como um apelo a viver como filhos que procuram a vontade do Pai, a conhecem, desejam cumpri-la e a realizam inteiramente. Neste sentido, Maria é modelo e guia para cada um de nós: Ela é a crente que viveu até o fim este itinerário. Santo Ambrósio e Santo Agostinho falam de Maria como Aquela que gerou duas vezes o Filho, e que, portanto, foi mãe duas vezes, fisicamente e, ainda antes, quando acolheu a Palavra” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum] – Paulus).

 

Santo do Dia:

São Lourenço de Brides, presbítero. Seu nome de cartório era Júlio César Russo, nascido em Brindes em 1559. Desde os seis anos ele enchia de orgulho os corações dos pais pela extraordinária facilidade em aprender de cor páginas inteiras de livros, que depois declamava em público, até do púlpito da catedral. As costas da península eram seguidamente castigadas por sarracenos, sobretudo na Púglia, nas proximidades da Albânia. A família dos Russo, como tantas outras, vivia no terror de horríveis surpresas; por isso a mãe de Júlio Cesar, assim ficou viúva, pensou logo em arrumar as malas e se mudar para Veneza, para confiar seu filho de 14 anos aos cuidados de um tio. Dois anos após o jovem entrava no convento dos frades menores conventuais, para passar pouco depois aos capuchinhos de Verona, junto aos quais emitiu os voos religiosos com o nome de frei Lourenço de Brides, completando sua formação na universidade de Pádua. Sua vasta erudição aliada ao extraordinário conhecimento das línguas, entre as quais o grego e o hebraico, obtiveram-lhe muitos encargos na sua Ordem e da parte do papa. Foi provincial da Toscana, de Veneza, de Gênova, da Suíça, comissário no Tirol e na Baviera. Foi sobretudo um grande animador de todos que combatiam contra a ameaça dos turcos e um aplaudido pregador da ortodoxia católica contra a reforma protestante. A serviço do papa Paulo V, foi embaixador de paz junto aos príncipes e reis em discórdia. A morte o colheu de fato durante a sua segunda viagem à península ibérica. Morreu a 22 de julho de 1619 em Lisboa e foi sepultado em Vilafranca del Bierzo. Incluído no álbum dos santos em 1881, teve o título de doutor da Igreja (doutor apostólico) em 1959 pelo papa João XXIII. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de julho de 2020

(Mq 6,1-4.6-8; Sl 49[50]; Mt 12,38-42) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também

o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra” Mt 12,40

“Os fariseus pediam um sinal para crerem em Jesus. No entanto, o Mestre sabia que nenhum sinal seria suficiente para aqueles homens (Mt 12,38-42). Referindo-se aos episódios de Jonas e da rainha de Sabá (1Rs 10,1-13), o texto de Mateus evidencia a incredulidade de muitos homens, até mesmo daqueles que se consideram sábios e religiosos. Crer em Jesus nunca foi algo fácil. Ainda em seu tempo, o Mestre encontrou resistências. E mesmo hoje, séculos depois, muitas pessoas afirmam serem descrentes pela falta de sinais. Contudo, rezando esse texto e recordando de outras passagens, poderíamos dizer que a fé independe dos sinais, assim como os sinais pouco acrescentam à qualquer pessoa. Conhecida é a história do oficial romano que acreditou em Jesus, mesmo sentindo-se indigno de recebe-lo em sua casa (Mt 8,8; Lc 7,6), e conhecida também é a história da mulher fenícia que insistiu com Jesus para que Ele curasse sua filha (Mt 15,27; Mc 7,28). Considerados pagãos, ambos creram em Jesus e foram elogiados por Ele. Também são conhecidos os lamentos de Jesus sobre Corozaim, Betsaida, Cafarnaum (Mt 11,20-24) e Jerusalém (Lc 13,34). Nesses casos, afirmam os textos, os milagres aconteceram, mas foram poucos os que se converteram. Para os que creem, os sinais inexistem, e, caso ocorram, pouco acrescentam. Para os que acreditam, os sinais são importantes, mas não fundamentais. Contudo, a prova maior acerca da nossa fé não são os sinais, propriamente, mas sim a nossa conversão. Em outras palavras, a conversão é o verdadeiro indicador de uma fé viva e forte. Pense nisso. – Disse o apóstolo: ‘Ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, eu não seria nada’ (1Cor 13,2). Por isso, Senhor, eu peço: ensina-me a crer; mas, sobretudo, ensina-me a amar” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 

Santo do Dia:

Elias e Eliseu, profetas. Mais dois personagens do Antigo Testamento entram no rol dos nossos santos. Elias, com Eliseu e Samuel, é um dos profetas de ação (para distinguir dos profetas escritores como Isaias, Jeremias, Ezequiel e Daniel), e sua missão foi a de conclamar o povo à fidelidade ao único Deus verdadeiro, sem se deixar de influenciar pelo culto da idolatria e da licenciosidade de Canaã. Elias, cujo nome significa o meu Deus é Javé, nasceu pelos fins do século X a.C. e desenvolveu grande parte de sua missão sob o reinado do fraco Acab (873-854), dócil instrumento nas mãos da sua terrível esposa Jezabel, de origem fenícia, que tinha primeiro favorecido e depois imposto o culto a Baal. A saga de Elias pode ser conferida no Livro de 1º Reis, a partir do capítulo 17 até o início de 2º Reis com a sucessão de sua função profética por Eliseu. O continuador da obra de Elias era um rico proprietário, originário de Abelmeula. O seu nome Eliseu (Deus salva) corresponde bem à natureza de sua missão desenvolvida entre o povo de Israel, sob o reinado de Jorão (853-842), Jéu (842-815) e Joacaz (814-798). Eliseu era um homem decidido e isso transparece na prontidão com que respondeu ao gesto simbólico de Elias, que por ordem de Javé, o consagrava profeta e seu sucessor (1Rs 19,19-21). Eliseu foi também a única testemunha do misterioso fim de Elias, acontecido pelo ano 850 a.C. sobre um carro de fogo. A espera pelo retorno de Elias dentro do povo Judeu levava a contínuas identificações com outros personagens de caráter profético que iam surgindo ao longo da história. João Batista e Jesus foram confundidos com a figura ou retorno de Elias. Eliseu foi o maior taumaturgo entre os profetas. Morreu no ano 790 e foi sepultado perto de Samaria. 

Pe. João Bosco Vieira Leite


16º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Sb 12,13.16-19; Sl 85[86]; Rm 8,26-27; Mt 13,24-43).

1. Ao ouvirmos a explicação da parábola do trigo e do joio que nos vem no próprio texto, pode surgir em nosso coração um certo temor do juízo divino. Talvez por causa disso, a 1ª leitura nos venha dizer que Deus não é um juiz a quem se deve temer. Seu agir e seu cuidado, manifestam bondade para com todos.

2. Nos textos sagrados, por muitas vezes nos surpreende a paciência divina na espera da resposta humana. Talvez agindo assim queira nos ensinar a ser pacientes e justos no agir para com o outro. O salmo da nossa liturgia nos convida a louvar a bondade de Deus, sua paciência e seu perdão.

3. Paulo prossegue o seu discurso sobre a ação do Espírito Santo em nossa vida. Hoje nos diz que Ele vem em auxílio da nossa fraqueza e nos orienta na oração, reza em nós.

4. É difícil descrever Sua ação, quase imperceptível, mas na realidade ele age em profunda comunhão com Cristo, trabalhando em nós o querer e o agir. Isso exige da nossa parte docilidade, deixar-se guiar.

5. Um novo conjunto de imagens do cotidiano da vida do povo serve a Jesus para continuar a falar do Reino. De certo modo ele reforça o que havia dito no domingo anterior retomando a imagem da semente.

6. Ele vem na contramão dessa impaciência e desse desânimo que se abate sobre o cristão quando se dá conta do mal presente no mundo. Por que Deus não age com mão firme?

7. É preciso aguardar, como na parábola anterior, o desfecho de tudo isso; pois a força de Deus está aí, no milagre da pequena semente de mostarda, na ação do fermento na massa. Aos cristãos de todos os tempos, Mateus pede que aguardemos o desfeche final dessa realidade do Reino não de maneira passiva.

8. Também nos tira a ideia ou ilusão de que vivemos numa comunidade de perfeitos, puros e santos. Esta presença do mal está no mundo que nos rodeia, nas comunidades e grupos que pertencemos, tanto quanto no íntimo de cada um de nós.

9. Tudo parece uma grande contradição, pois foi Ele que tudo criou. O texto apenas nos diz que o mal continua a agir contra o ser humano e contra o projeto de Deus. É uma ilusão pensar que podemos eliminá-lo. Mas isso não significa que devemos nos resignar diante de tudo.

10. Essa presença do Reino segue entre nós como uma semente de mostarda semeada no coração humano, que uma vez crescida favorece a outros, ou funciona como fermento na massa. Assim somos convidados a não render-nos, mas orientar o nosso agir em sintonia como agir do Pai e do Filho, que são mansos de coração.

11. O desejo de tudo extirpar pode gerar prejuízos e nos fazer agir de modo injusto. Deus sabe dos nossos sofrimentos, por isso o Espírito reza em nós e conosco. A semente da ressurreição pascal segue nesse mundo marcado pelo pecado. E nós seguimos acreditando na força de Cristo e do seu Espírito em nós. 

“Ampare-nos sempre, ó Pai, a força e a paciência do Vosso amor; frutifique em nós a vossa Palavra, semente e fermento da Igreja, para que se reanime a esperança de ver crescer a nova Humanidade, que o Senhor, no Seu regresso, fará resplandecer como o sol no vosso Reino” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 18 de julho de 2020

(Mq 2,1-5; Sl 9B[10]; Mt 12,14-21) 

15ª Semana do Tempo Comum.

“Os fariseus saíram e fizeram um plano para matar Jesus” Mt 12,14.

“Os contínuos ‘desrespeitos’ à Lei, por parte de Jesus, só fazia crescer a aversão de seus inimigos por ele. Norteando-se pelo princípio da misericórdia, o Mestre não se importava de fazer o bem em dia de sábado. Por exemplo: curar a quem recorria a ele ou carecia de seu auxílio, mesmo sem ser solicitado, como foi o caso do homem de mão seca. Ele transmitia aos discípulos esta mesma mentalidade, ensinando-os a serem livres diante das tradições religiosas, quando se tratava de fazer o bem. O foco de desentendimento entre Jesus e os fariseus não consistia em minúcias da Lei, discutidas entre as escolas rabínicas da época. Girava em torno de questões mais radicais. As atitudes de Jesus chocavam-se com a Lei no seu conjunto, no modo como era entendida pelos fariseus fanáticos. Jesus não questionava o mandamento do repouso sabático. Somente recusava-se a aceitar o valor absoluto que lhe era dado. Por isso, entrava em desacordo com os inimigos. A situação ficou insustentável. Seus opositores reuniram-se em conselho, para decidir sobre a melhor maneira de eliminar o incomodo Jesus de Nazaré. O fato de ser visado por seus inimigos não foi obstáculo sério para Jesus. Sua consciência de estar em comunhão com a vontade do Pai dava-lhes a segurança necessária para seguir em frente. – Pai, meu único desejo é estar em comunhão contigo, para que, como Jesus, eu saiba discernir, em cada circunstância, a melhor maneira de agir (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de cada dia – Paulinas).

 

Santo do Dia:

São Francisco Solano, missionário. Nasceu em Montilia, na Andaluzia, em 1549, filho de Mateus Sanchez Solano e Ana Gimenez. Foi batizado no mesmo dia do nascimento. Seus pais eram profundamente cristãos. Colocaram-no logo no Colégio dos jesuítas, onde rapidamente ganhou a estima de todos; era vigoroso, sensível e dotado de uma vontade firme. Aos 20 anos, em sua cidade natal, tomou o hábito franciscano. Foi um frade exemplar, o que fez com que logo merecesse a confiança dos seus superiores. Teve cargos importantes na Ordem, mas gostava da pregação, acolhida por seus ouvintes dada sua fé e convicção. Teve sempre o desejo de ir para as terras de missões. Seu desejo foi realizado em 1589, sendo escolhido para ir para o Peru. Numa viagem marcada por acidentes, chegou em Lima, mas aí não se demorou indo para Tucumán, seu futuro campo de ação. Durante quinze anos foi o viajante incansável de Deus no novo continente. Familiarizou-se com os dialetos indígenas; anunciava Deus, e de tal modo que todos compreendiam; tinha o dom das línguas; Deus mesmo era seu intérprete para aqueles corações americanos. Muitos doentes recuperaram a saúde pela simples imposição do cordão do religioso. Percorreu 3.000 quilômetros entre Lima e Tucumán (na Argentina), e foi até o Paraguai e Chile. Os últimos cinco anos de sua vida foram passados em Lima, para, em cumprimento de ordem superior, restabelecer a disciplina interior da Ordem. Foi esse um tempo abençoado, em que, pelas práticas, quer nas igrejas, quer nas praças públicas, fez um bem enorme a muitas almas. Características na vida de S. Francisco Solano é sua alegria espiritual. Nunca ninguém o viu triste ou acabrunhado. De forte espiritualidade, sempre celebrava num profundo recolhimento e piedade. Morreu em 14 de julho de 1631. Foi canonizado em 1726. 

Pe. João Bosco Vieira Leite