Sábado, 01 de julho de 2023

(Gn 18,1-15; Sl Lc 1; Mt 8,5-17) 12ª Semana do Tempo Comum.

“O oficial disse: ‘Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa.

Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado’” Mt 8,8.

“Cafarnaum foi centro de cobrança de impostos. Havia nela um posto militar do Império Romano. Um centurião se apresenta a Jesus e implora pela cura de seu criado. Ele estava em sua casa, de cama, paralítico e sofrendo horrivelmente.  Interessante observar que, após Jesus se mostrar disponível, o centurião apenas deseja que Jesus dê uma ordem. Ele confia que tudo sucederá favoravelmente. Jesus admirou e afirmou aos que o seguiam: ‘nem mesmo em Israel achei fé como esta’. Nenhum humano é dono da fé. Ela, no entanto, existe e é demonstrada em coisas simples, como o foi na vida deste incógnito centurião. Ele conhecia Jesus e tinha, por verdade, aquilo que a Escritura dizia a seu respeito. Ele confiou e esperou plenamente. Mostrou-se indigno em recebe-lo em sua casa. Acreditou firmemente na sua palavra. O ser servo foi curado. De fato, todos nós, por natureza, somos indignos e nada merecemos. Quando exigimos de Deus algo e desejamos respostas imediatas só demonstramos ainda mais nossa falta de fé. Uma teologia da glória está invadindo o espaço cristão com slogans: ‘sou filho do dono, tenho direitos’, ‘isto não posso suportar’, ‘preciso ser próspero’, ‘isto não acontecerá comigo’, ‘sou vencedor’. Estas expressões sublimadas não procedem de Deus. Em Cristo e com Cristo haveremos de sofrer com Ele aquilo que chamamos teologia da cruz. Por graça divinal venceremos muitas batalhas. Seremos provados muitas vezes e haveremos também de passar por angústias e dores. Importante sempre confessar e confiar em Jesus como fez o centurião: ‘Não sou digno [...], mas dize uma só palavra [...]’ e serei consolado, ficarei bem. – A minha fé, Senhor, ponho em teu grande amor e em teu poder. Ouve ao que vem clamar, e humilde suplicar: teu sempre, e seu cessar, desejo ser. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de junho de 2023

(Gn 17,1.9-10.15-22; Sl 127[128]; Mt 8,1-4) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Deus disse a Abraão: ‘Quanto à tua mulher, Sarai, já não a chamarás Sarai, mas Sara” Gn 17,15.

“O tema bíblico da imposição do nome é muito importante, porque o nome identifica-se com a pessoa a quem é imposto. Assim, ao nascituro é dado um nome que exprime a alegria de Deus em fazer brotar a vida de um útero estéril; mas também os nomes de Abrão e Sarai são alterados, com uma mudança de grafia, recebem uma luz nova: Abram, ‘de pai nobre’, torna-se Abrahám, ‘pai de multidão’; Sarai, ‘minha princesa’, torna-se Saráh, ‘princesa’, mãe de todo o povo. O outro elemento característico do texto é a ligação da circuncisão com a Aliança ou pacto: este rito perde assim o significado arcaico de rito de iniciação da puberdade para a vida adulta e adquire um significado histórico, torna-se memória de um gesto salvífico de Deus. Com a maturação da espiritualidade profética, compreender-se-á que a circuncisão da carne, sinal visível de inclusão no Povo de Deus, de nada vale sem a circuncisão do coração, ou seja, a espoliação interior de si mesmo, a libertação das resistências do orgulho e do pecado” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).    

Pe. João Bosco Vieira Leite     

Quinta, 29 de junho de 2023

(Gn 16,1-12.15-16; Sl 105[106]; Mt 7,21-29) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Naquele dia, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?’” Mt 7,22.

“O Evangelho não esconde a decepção e a surpresa que haverá no dia do julgamento. Às moças sem juízo que chegam atrasadas na festa o Senhor dirá: ‘não conheço vocês’. Enquanto os justos são recebidos na casa do Pai, os que ficaram para fora perguntarão: ‘quando foi que te vimos com fome, com sede, sem roupa, sem moradia?...’ O convidado que estava sem a veste nupcial fica fora do banquete. Costumamos usar como critério para distinguir entre bem e mal a ‘voz da consciência’. Se a nossa consciência está em paz, tudo bem. O critério do Evangelho, porém não é esse. Tanto as moças imprudentes, como os cabritos do juízo final pareciam estar com a consciência tranquila. Daí o convite à vigilância permanente e à fidelidade até nas coisas pequenas. Acomodamo-nos com facilidade em nossa fé e nossas práticas de vida cristã, como se viajássemos no ‘piloto automático’ da religião. E quantas coisas fazemos em nome da religião, em nome de Deus, que passam longe daquilo que o Evangelho propõe. Basta dar uma olhada na convivência entre os membros de nossas próprias comunidades, na pilha de interesses que gira em torno das nossas instituições de caridade, na incoerência que se instala entre o nosso discurso e as nossas atitudes. – Não são aqueles que dizem ‘Senhor, Senhor’ que têm lugar garantido na mesa do Pai. Livra-nos, Jesus, enquanto caminhamos, de toda falsidade e acomodação, para que estejamos vigilantes e atentos aos teus sinais. Amém” (João Bosco Barbosa – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de junho de 2023

(Gn 15,1-12.17-18; Sl 104[105]; Mt 7,15-20) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas?” Mt 7,16.

“O cristão consagrado a Deus pode ser um falso profeta. Isso acontecia na época de Jesus Cristo e o mesmo acontece hoje, em nossos dias. Por isso, é preciso que você se examine e se autoanalise para verificar se você é falso ou verdadeiro profeta. O cristão, consagrado a Deus e comprometido na instauração de seu Reino, é verdadeiro profeta, fala com sua palavra e com sua vida em nome de Deus. Sua vida de consagração a Deus faz com que você apareça como profeta do Senhor; mas se a essas circunstâncias exteriores não corresponder a realidade íntima, você será com certeza um falso profeta, um profeta que engana, que mostra uma coisa e é outra, que aparece como sinal e não o é. E é então que surgem os antitestemunhos que confundem, desorientam e escandalizam o povo de Deus. E é então que surge a severa advertência do Senhor: ‘Guardai-vos dos falsos profetas’ (v. 15). Como se reconhecerá se você é falso ou verdadeiro profeta? Por suas obras, não tanto por suas palavras” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de junho de 2023

(Gn 13,2.5-18; Sl 14[15]; Mt 7,6.12-14) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Não dei aos cães as coisas santas nem atireis vossas pérolas os porcos, para que eles não as pisem com os pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem” Mt 7,6.

“Soa enigmática a orientação de Jesus aos discípulos: não dar aos cães as coisas sagradas, nem jogar pérolas aos porcos. A que estaria se referindo? As palavras do Mestre exortam a cautela no trabalho pastoral. Era uma forma de precaver os missionários contra a ingenuidade de partilhar a mensagem do Reino com gente despreparada para recebe-la, ou pior ainda, avessa ao Reino e a seus mensageiros. Seria um trabalho inútil, com o risco de provocar uma reação violenta. Esta norma pastoral de Jesus pressupõe um mínimo de boa vontade e de abertura por parte de quem é evangelizado. É inútil querer levar alguém a converter-se ao Reino, contra a sua vontade. Será pura perda de tempo! A Palavra só produz frutos no coração de quem recebe com liberdade e alegria. Seria fazer mau uso da Palavra querer forçar alguém a acolhê-la. Jesus entrevê até mesmo um risco para a vida do apóstolo, ao dizer que os porcos poderiam voltar-se contra ele e despedaçá-lo. Não valeria a pena correr tal risco! A experiência missionária de Jesus ofereceu-lhe as bases para chegar a esta conclusão. Ao longo de seu ministério, ele se deparou com pessoas absolutamente refratárias à sua mensagem, numa evidente atitude hostil. Por isso, não nutria a ilusão de poder convertê-las. As coisas santas e as pérolas teriam destinatários melhores. – Pai, faze-me capaz de reconhecer quem está predisposto a acolher a tua mensagem, de forma que eu não semeie a tua Palavra no coração de quem lhe é refratário (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de junho de 2023

(Gn 12,1-9; Sl 32[33]; Mt 7,1-5) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Por que observas o cisco no olho do teu irmão e não prestas atenção à trave que está no teu próprio olho?” Mt 7,3.

“O ser humano enquanto busca legítima por sua realização plena, em Deus, tende a forjar elementos que lhe deem segurança ou uma ideia de controle em sua vida. Criamos uma autoimagem que busca garantir um aspecto como referência e um ponto de segurança para nosso agir. Essa autoimagem nem sempre corresponde suficientemente com a realidade; pelo contrário, muitas vezes maquia a situação a fim de preservar ou criar benefícios para si. Um dos mecanismos de proteção mais comuns no ser humano é a projeção, quando você vê no outro aquilo que na verdade são os seus defeitos e dificuldades. O alerta de Jesus no texto bíblico, entretanto, é muito mais amplo do que isso. Refere-se ao preceito maior de não julgar o outro. Para dar ênfase à importância de não julgar, Jesus acrescenta que, com a medida com que julgarmos, seremos julgados, indicando com isso não que Deus é um juiz inflexível, mas que o próprio ato de julgar nos incorre em julgamento. E insiste ainda na incoerência do julgamento, lembrando que a realidade humana não está acima da lei para julgar, ou seja, ninguém que aponta um crime está totalmente isento dele. (Por que apontas o cisco no olho do irmão, tendo uma trave no teu?) A dinâmica da gratuidade pressupõe a disposição ao perdão. Pressupõe também compromisso com o irmão, de modo a ajuda-lo a superar suas dificuldades, mas nunca de forma interventora, como quem aponta em atitude superior alguma falha ou pecado. Diante de Deus, todos somos pecadores, o que realmente brilha nas trevas de nossos erros é sua misericórdia, não nossos critérios. – Senhor, tem piedade de nós! Cristo, tem piedade de nós! Senhor, tende piedade de nós! Queremos ser arautos do teu perdão, Senhor. Queremos viver em nossas vidas essa conversão constante que nos aproxima cada vez mais de ti. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 

12º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Jr 20,10-13; Sl 68[69]; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33)

1. No grande discurso missionário de Mateus (9,36—11,1), nos vem apresentado o programa da missão, o estilo de pobreza que a deve caracterizar e o método que a deve animar. Jesus instrui e exorta os discípulos, preparando-lhes a enfrentar provas e perseguições.

2. O texto de hoje se coloca no contexto da perseguição e registra, junto com o convite a ter confiança no Pai, uma advertência sobre a confissão da fé em Cristo nas circunstâncias mais difíceis. ‘Não tenhais medo’ retorna com insistência para indicar essa necessidade de confiança, mas também de um testemunho corajoso.

3. É necessário registrar o primeiro dado fundamental: o envio em missão da parte de Jesus, mesmo com toda autoridade-poder que lhes confere, não garante necessariamente o sucesso, não os protege das tempestades. Eles devem levar em conta a possibilidade da rejeição e até mesmo da perseguição.

4. Aliás, não devem surpreender-se de tal situação, pois Jesus já havia dito que “o discípulo será como o mestre”. O modelo deles é o próprio Jesus que conheceu a rejeição, hostilidade, abandono e a prova mais atroz. Mas a participação ao sofrimento do Mestre só tem sentido na participação em sua glória de ressuscitado.  

5. A perseguição não é uma eventualidade remota, mas uma possibilidade sempre atual. Como não existe seguimento que não implique conflito e rupturas dolorosas, mesmo no âmbito familiar, assim não existe missão marcada pela tranquilidade. Mesmo sendo inevitável, o discípulo não vai atrás da perseguição para fazer-se de vítima.

6. A perseguição não impede que a missão siga adiante. Ela é um momento de verificação da autenticidade da própria fé. Mesmo na perseguição, o discípulo manifesta uma mentalidade filial. Deus é Pai e, se não dispensa da provação, assegura, porém, que não abandona os filhos no meio da tempestade. Essa é a única certeza que carregará consigo. 

7. O texto traz uma perspectiva de um juízo final, num encontro entre Deus e o ser humano, ao estilo ‘olho por olho’. Jesus havia dito que tudo que fizermos ao nosso semelhante, fará Ele por nós. Se o negamos, Ele nos negará. Devemos agir diferentemente de Pedro durante o processo da Paixão.

8. Para alguns discípulos do nosso tempo a perseguição pode ser aberta, declarada, mas também ela reside na indiferença. Em ser ignorado, não tomado seriamente. Há significado num testemunho, numa pregação que vai de encontro a uma parede blindada pela indiferença? Vale a pena continuar a falar?

9. E aqui tenho que me voltar sobre mim mesmo, como pregador. Muitas vezes é difícil falar. Sei que muitos veem a celebração porque falo pouco, e mesmo esse pouco me custa. Devo esperar contra toda esperança que esse pouco possa surtir algum efeito.

10. Gosto de falar olhando as pessoas, mesmo preso às minhas anotações, pois me dá a impressão de fazer chegar as palavras através dos olhos, não tanto dos ouvidos. Alguns olhares são sombrios, sérios, estranhos, cansados, incomodados, indiferentes ou mesmo hostis.

11. E me vejo obrigado, às vezes, a buscar, como um mendicante, um rosto acolhedor. Dois olhos que me ‘hospedem’. Me pergunto se vale a pena insistir sobre determinado assunto, quando se tem a sensação de que nada muda. Me vem o desejo de renunciar. A palavra parece inútil.

12. No entanto, é propriamente esta inutilidade a prova decisiva da palavra. Continuar a semear, nos ensina Jesus, mesmo quando nem um broto aparece. Continuar a esperar, mesmo se os fatos contradigam. A palavra deve seguir, mesmo em meio a obscuridade, a rejeição, a incompreensão. O preço da paciência é o preço da esperança.

13. Nem sempre estou inspirado. Há momentos em que fico a ruminar o que foi dito. Mas já foi dito. Peço a Deus que acalme o coração e me dê a certeza de que quando parecer que as palavras não mudam nada, parecerem ditas ao vento, elas cheguem longe e iniciem a sua silenciosa ação revolucionária, transformadora, fecunda, que só o Espírito de Deus pode realizar. A mim cabe o papel de pregador, falar, valendo a pena ou não.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de junho de 2023

(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) Natividade de São João Batista.              

“Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho” Lc 1,57.

“O texto evangélico sublinha a intensa manifestação divina nos fatos ligados ao nascimento de João Batista, a quem seria confiada a tarefa de preparar os caminhos do Messias Jesus. E isto, a tal ponto que, por toda a redondeza, espalhou-se um temor divino, levando o povo a se perguntar: ‘O que será que esse menino vai ser?’. A mudez inexplicada de seu pai Zacarias foi um evidente indício de algo maravilhoso estava acontecendo. Ele só voltou a falar quando cumpriu a ordem divina de dar ao filho o nome de João, que significa ‘Deus é favorável’, embora sua parentela julgasse que o mais normal seria chama-lo de Zacarias, como o pai. O parto de Isabel também foi interpretado como ‘demonstração de uma grande misericórdia do Senhor’ para com ela. De fato, sem a ajuda divina jamais poderia conceber e dar à luz, dado a sua idade avançada e sua esterilidade. A proteção divina dispensada a João Batista enquadrava-se no projeto de Deus de confiar-lhe a tarefa de preparar o povo para acolher o Messias, predispondo-o à conversão. A gravidade desta tarefa exigia que fosse ‘robustecido’ pelo próprio Espírito, de modo a capacitar-se para o cumprimento do desígnio divino. João Batista soube corresponder à ação do Espírito. Sua vida haveria de ser um testemunho fulgurante de temor a Deus, de cujos caminhos jamais se desviou, mesmo devendo padecer o martírio. – Pai, toma-me sob a tua proteção e robustece-me com o teu Espírito, de modo que eu possa cumprir, com coragem e fidelidade, as tarefas do Reino que me são confiadas (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).     

Pe. João Bosco Vieira Leite      

Sexta, 23 de junho de 2023

 (Jr 1,4-10; Sl 70[71]; 1Pd 1,8-12; Lc 1,5-17) Vigília da Natividade de São João Batista.

“E há de caminhar à frente deles, como espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto” Lc 1,17

“O anjo do Senhor, aparecendo a Zacarias, profetiza sobre João, chamado de Batista e que seria enviado por Deus para preparar os caminhos do Salvador, Jesus. Zacarias e sua esposa Isabel eram, sabemos, ‘de idade avançada’, sendo ela, inclusive, estéril. Ambos, certamente, já estavam resignados com a impossibilidade de terem filhos, grande desonra entre o povo eleito. Desempenhavam, no entanto, suas funções corretamente: ele, no Templo, como sacerdote, ela, no aconchego de seu lar, como dona-de-casa e mulher temente a Deus. Nada mais esperavam, nada mais pediam, senão a graça de serem abençoados pelos céus e fiéis a seus ministérios. Dentro deste quadro, o milagre acontece. Nasce João Batista, o precursor do Messias, ‘o maior nascido de mulher’, na afirmação de Jesus. Este milagre, ou intervenção divina, nos faz pensar. Nunca, para ninguém, é tarde para acontecer o inesperado, o ‘milagre’ que vai mudar sua vida. Quando menos se espera, o anjo de Deus pode e há de aparecer. Sua mensagem será de espanto e surpresa, de graça e alegria para muitos em Israel. E a pessoa, então, ficará muda de admiração, como Zacarias. Sua língua somente se soltará pela irrupção da alegria interior, que jorrará desatada, sem poder ser contida. Deus, às vezes, parece se comprazer em trabalhar com nossas desesperanças, sem, no entanto, abandonar-nos. No momento preciso, seu anjo está ao nosso lado, fazendo florir o deserto e colocando vida em úteros ressequidos pela idade. Grande Deus, o nosso Deus! Ele é a fonte do que somos e a garantia do que, sozinho, não podemos, nem ousamos esperar – Senhor Deus, grande e bom, vosso é tudo que somos e temos, nossa idade avançada, nossa resignação, nossa desesperança. Fazei vossa graça acontecer em nosso deserto e brilhar em nosso céu, por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de junho de 2023

(2Cor 11,1-11; Sl 110[11]; Mt 6,7-15) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Acaso cometi algum pecado pelo fato de vos ter anunciado o Evangelho de Deus gratuitamente, humilhando-me a mim mesmo para vos exaltar?” 2Cor 11,7.

“Parece estranho o Apóstolo Paulo perguntar se errou ao ter anunciado o Evangelho de Deus sem cobrar nada. Ele teria errado se tivesse ensinado que para ser salvo deveriam pagar-lhe certa quantia em dinheiro ou algo semelhante. Paulo não acredita que ele errou, ele apenas quer fazer pensar sobre o que é o Evangelho de Deus. Evangelho significa boa notícia. Então, esta é a boa notícia de Deus. Ora, receber uma boa notícia de graça não acontece todo dia, ainda mais se essa boa notícia vem de Deus! Logo, ficamos desconfiados quando recebemos algo de graça, até alguns costumam dizer popularmente que, ‘quando a oferta é demais, o santo desconfia!’. Pois bem, Deus nos deu uma boa notícia de graça. A boa notícia de Deus é que pela fé em Jesus Cristo nós somos salvos. Não é preciso pagar nada! Simples assim. O que complica tudo é o nosso coração pecaminoso, que insiste em pagar de alguma forma pelos nossos pecados. Ora, o preço a ser pago era alto demais, tão alto que somente o sangue do Filho de Deus pôde chegar. A nossa tarefa é anunciar esta boa notícia ao mundo para que mais pessoas recebam a bênção da salvação. Por isso nós trabalhamos, procuramos ser dignos, respeitamos o próximo. Amamos as pessoas. Fazemos isso tudo para que, por meio de nossas boas obras, as pessoas louvem a Deus, e não a nós mesmos! Cabe a nós nos humilharmos em favor do nosso próximo, a fim de que ele seja exaltado, isto é, que seja também considerado como filho de Deus. Deus abençoe tanto o nosso querer quanto a nosso agir. – Deus misericordioso, muito obrigado pela boa notícia da salvação que recebemos de graça. Pedimos forças para anunciarmos ao mundo esta boa notícia por meio da palavra e de ações para que muitos creiam em ti e sejam salvos. Por amor de Cristo. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de junho de 2023

(2Cor 9,6-11; Sl 111[112]; Mt 6,1-6.16-18) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Quem semeia pouco colherá também pouco, e quem semeia com largueza colherá também com largueza” 2Cor,9,6.

“O que acontece ao nosso redor nem sempre é consequência de alguma ação nossa. A lei de causa e efeito definitivamente não é absoluta quanto aos eventos que presenciamos ou que afetam nossa vida. Ou seja, não estamos presos numa eterna roda de carma sob a máxima ‘aqui se faz, aqui se paga’. Não. Muitas coisas que acontecem são frutos do acaso, ou da insensatez humana de um modo geral. Muitas tragédias e acontecimentos claramente não são a vontade de Deus, nem culpa imediata de nossas ações. Entretanto, essa aparente falta de ordem da realidade também não é absoluta. Em alguma medida sim, somos responsáveis por aquilo que cultivamos em nossa vida. Diante de uma realidade tão complexa, de tantos fatores desconhecidos que afetam nossa vida, não é atoa que uma das definições de virtude (e de busca da felicidade) seja encontrar a justa medida das coisas. Certo é que, em algum nível, só podemos acreditar naquilo que de fato colocamos nosso coração, nosso tempo, nosso esforço. Só podemos alimentar a esperança de realização plena de toda a criação e das nossas vidas, no encontro de comunhão com Deus, se, dia após dia, a todo momento, cultivamos com afeto, com esforço e boa vontade as sementes que reconhecemos serem sementes do bem, do amor, da caridade, misericórdia e perdão. Sementes que floresçam no experimentar Deus mais próximo de nós. – Tua Palavra, Senhor, é semente de vida e esperança, que floresce e frutifica, embelezando e alimentando nossa vida e caminhada. Que possamos com sabedoria e humildade cultivar tua Palavra como alimento diário, fazendo de nossos corações terreno fértil para que ela cresça. Amém!” (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de junho de 2023

 (2Cor 8,1-9; Sl 145[146]; Mt 5,43-48) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons

e faz cair a chuva sobre justos e injustos” Mt 5,45.

“Jesus apresentou aos seus discípulos um ideal de vida elevado. Em seu comportamento e ações, deveriam inspirar-se no modo de ser divino, tornando-se imitadores de Deus. Em cada circunstância, deveriam perguntar-se: como agiria Deus? Nas situações normais da vida, o mandamento de Jesus pode ser facilmente posto em prática, mormente quando nos encontramos entre pessoas às quais queremos bem e com as quais o relacionamento é fácil. Tudo muda, quando somos vítimas do ódio e da violência alheia, de forma a recair sobre nós a perseguição e calúnia. Uma ação divina a ser imitada consiste em não fazer acepção de pessoas, uma vez que o Pai as considera em sua globalidade, sem classifica-las de boas ou más, justas ou injustas. Os benefícios divinos são distribuídos igualmente entre todos, embora nem todos saibam reconhece-los. A condição de filhos do Pai celeste exige dos discípulos do Reino bendizer quem os maldiz, fazer o bem a quem os odeia, rezar por quem os persegue e calunia. Evidentemente, é grande a tentação de pagar com a mesma moeda a maldição, o ódio, a perseguição e a calúnia recebidos. Este modo de agir não comportaria nenhuma novidade, pois é assim que, em geral, as pessoas agem. Mas a imitação do Pai exige que os discípulos trilhem o caminho contrário. – Pai, faze-me teu imitador, e não me deixes cair na tentação de fazer acepção de pessoas. Que eu ame a todos, sem qualquer distinção (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de junho de 2023

(2Cor 6,1-10; Sl 97[98]; Mt 5,38-42) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo: não enfrenteis quem é malvado!” Mt 5,39a.

“Com o ensinamento deste evangelho, Jesus reforma a legislação então vigente no meio rabínico. Tudo isso é mais que uma confirmação do que já fora afirmado anteriormente e que vai constantemente sendo repetido: ‘Ouviste o que foi dito aos antigos..., porém eu vos digo...”. Ou seja, em poucas palavras, uma reafirmação da autoridade divina de Jesus que está acima de todos os profetas e legisladores do povo de Deus e acima da própria lei. É uma clara e definitiva afirmação da divindade de Jesus. As exemplificações continuam no Evangelho segundo São Mateus e se sucedem umas as outras vertiginosamente. A lei de Talião era uma lei do direito romano: olho por olho, isto é, castiga-se o ofensor com o mesmo dano que tenha causado ao ofendido. Essa lei vigorava em todo o Oriente, não somente entre o povo de Deus. Jesus, porém, veio também aperfeiçoar este ponto. Essa lei do talião favorecia mais o lado da justiça do que o da misericórdia. Mas Jesus prefere a misericórdia. Por isso, em outro lugar adverte: ‘Ide e aprendei o que significam estas palavras: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’’ (Mt 9,13). Deus prefere o sentimento interior de um coração sincero e compassivo à prática rigorosa e exterior da lei. Por isso, se a lei de talião podia corresponder a um espírito de justiça, não corresponde ao espírito do evangelho, que é um espírito de caridade, nem mesmo corresponde ao conceito de justiça que encontramos nas palavras de Jesus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

11ª Semana do Tempo Comum – Ano A

(Ex 19,2-6; Sl 99[100]; Rm 5,6-11; Mt 9,36—10,8)

1. Dois fios condutores nos permitem ler esta página do Evangelho: A compaixão e o caminho. Por 5 vezes, Mateus usa o verbo ‘ter compaixão’. Incluso esse versículo de hoje: “vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas”. É por causa dessa compaixão que ele confia aos seus apóstolos uma missão.

2. É essa mesma compaixão que deve inspirar a vocação missionária da Igreja. A expressar a ternura de Deus. O seu amor gratuito pela humanidade. Não se trata de uma sensação interior ou passageira. Ter compaixão ou piedade significa exercitar a compaixão em ato, estamos diante de um ato a cumprir. Um amor-intervenção ante a miséria humana.

3. Tudo isso se desenvolve pelo caminho, pela estrada. Assim age Jesus ao longo das cidades e vilarejos. Para um pouco para ‘tomar pé’ da situação, vê as necessidades. Ver, escutar, captar, entender, interpretar as exigências. Para também para pregar (a necessidade mais urgente), dar oportunas instruções aos ‘enviados’. Depois retoma o caminho.

4. Jesus está a caminho com os doze, a marcha vem multiplicada. Isso nos lembra que o dinamismo missionário da Igreja vai numa linha que se dispersa em mil direções. A preocupação de Jesus não é feita só de discursos, mas de passos concretos. De uma busca pelo que está disperso.

5. Mateus nos diz que são ovelhas sem pastor. Marcos acrescenta que estão ‘cansadas e abatidas’. Israel tinha seus pastores a serviço: os sacerdotes, os escribas, fariseus... Sabemos da polêmica de Jesus com esses grupos, muito rígidos nas aplicações da Lei, mas sem misericórdia. O que significa: ‘sem pastor’.

6. Jesus deixa claro que o testemunho de Deus que seus apóstolos devem dar vem em palavras e atos. É preciso produzir sinais de que o Reino já está presente. Não é algo distante, pra depois. Jesus fala de sinais que pertencem ao campo dos milagres.

7. Sem excluir essa realidade, somos chamados não tanto ao excepcional, mas a sinais mais modestos. Também nos gestos ordinários, na solidariedade para com o outro, podemos ‘ensinar’ sobre o propósito do Reino e tornar credível as nossas palavras. O que conta não é o extraordinário, mas o autêntico que aponta para a possibilidade de um novo e diferente modo de viver e ver.

8. Nessa lista dos doze há uma surpreendente diversidade de temperamentos, condições sociais, mentalidade, talento. Mais surpreendente é a notificação sobre Judas: ‘que foi o traidor de Jesus’. Todo os evangelhos fazem questão de sublinhar. Poderíamos passar sem essa observação, mas parecem não ter vergonha de terem tido tal companhia.

9. Sempre nos perguntaremos por quê dessa escolha. É inútil pedir explicação. Deus age em sua liberdade amorosa. Judas é um dos doze. Chamado como os outros, não por ser traidor, mas se tornará, em sua liberdade. Judas é sempre uma possibilidade.

10. Assim somos lembrados deste inquietante mistério do mal. Uma presença nem sempre fácil de sistematizar, de separar. Por vezes procuramos um ‘judas’ fora de nós, sem nos darmos conta que ele cresce silenciosamente dentro de mim, pronto a vir fora no momento oportuno. O traidor mais perigo é aquele que está dentro, que se sente tranquilo e se convence da sua fidelidade observando as infidelidades dos outros.

11. Jesus limita a ação dos apóstolos. Não devem ir aos pagãos, ainda. Os israelitas são os primeiros destinatários de sua mensagem. A obediência é também desapropriação dos próprios projetos pessoais, para abraçar um projeto comum. E no mais, temos nossos próprios limites. A questão não é fazer muitas coisas, mas fazer a vontade de Deus, que nesse momento é o que me foi confiado.

12. Mas essa regra não vai interpretada de modo literal e não pode tornar-se algo absoluto. Sabemos que a porta aos pagãos logo se abrirá. Paulo viu outros horizontes. Enquanto Moisés sobe para encontrar Deus, em Jesus, é Deus que vem ao nosso encontro, caminha conosco, nos busca. Nem sempre somos nós a busca-lo. Por vezes nosso papel é deixar-se encontrar.

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 17 de junho de 2023

 (Is 61,9-11; Sl 1Sm 2; Lc 2, 41-51) Imaculado Coração de Maria.

“Sua mãe, porém, conservava no coração todas as coisas” Lc 2,51b.

“O Coração Imaculado de Maria é chamado sobretudo santuário do Espírito Santo, em virtude da sua Maternidade divina e da inabitação contínua e plena do Espírito divino na sua alma. É uma maternidade excelsa, que coloca Maria acima de todas as criaturas, e que teve lugar no seu Coração Imaculado antes de se ter realizado nas suas entranhas puríssimas. O Verbo que Maria deu à luz segundo a fé no seu coração, afirmam os Santos Padres. Foi em vista do seu Coração Imaculado, cheio de fé e de amor humilde, que Maria mereceu trazer o Filho de Deus no seu seio virginal. Como não havemos de recorrer continuamente a esse Coração dulcíssimo? ‘Sancta Maria, Stella maris – Santa Maria, Estrela do mar, conduz-nos Tu! Clama assim com energia, porque não há tempestade que possa fazer naufragar o Coração Dulcíssimo da Virgem. Quando vires chegar a tempestade, se te abrigares nesse Refúgio firme que é Maria, não haverá perigo algum de que venhas soçobrar ou afundar-te’ (José Maria Escrivá). Nele encontraremos um porto seguro que tornará impossível naufragar” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 6 – Quadrante)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de junho de 2023

(Dt 7,6-11; Sl 102[103]; 1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30) Sagrado Coração de Jesus.

“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração,

e vós encontrareis descanso” Mt 11,29.

“Ao se apresentar como modelo para os seus discípulos: ‘Aprendam de mim!’, Jesus frisou duas posturas pelas quais pautava a sua vida: a mansidão e a humildade. Elas são o reflexo das bem-aventuranças, as quais sempre buscou praticar. A mansidão de Jesus expressou-se no trato paciente com os pobres e pequeninos, na acolhida dispensada aos marginalizados, na atitude benévola em relação aos pecadores, na valorização de quem era desprezado, no respeito pelos estrangeiros. Nada, em seu comportamento, denota arrogância, superioridade. Aliás, seus adversários, chocados com seu modo fraterno e próximo de estar com as pessoas, taxavam-no de ‘comilão, beberrão, amigo dos pecadores e das pessoas de má fama’. A opção de Jesus pela mansidão não o impedia de ser severo, quando se fazia necessário. Seus adversários, sempre cheios de malícia e de segundas intenções, experimentaram a dureza de suas palavras e a intransigência de suas posturas. A humildade de Jesus manifestou-se especialmente em sua relação com o Pai. Jamais teve a pretensão de ocupar uma posição que não lhe pertencia. Antes, tinha consciência de ser o enviado do Pai, e de estar a serviço dele. Tudo quanto fazia tinha o objetivo de reconciliar as pessoas com o Pai, cuja vontade era o imperativo de sua ação. Por isso, ao concluir seu ministério, Jesus pode afirmar: ‘Tudo está consumado!’, isto é, fiz tudo que o Pai me incumbiu de fazer. A humildade levou-o à cruz! – Pai, dá-me um coração manso e humilde, a exemplo de teu Filho Jesus, cujo testemunho de vida deve inspirar toda a minha ação (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de junho de 2023

 (2Cor 3,15—4,1.3-6; Sl 84[85]; Mt 5,20-26) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus,

vós não entrareis no reino dos céus” Mt 5,20.

“Uma justiça maior desejada por Jesus não está no rigorismo com que viviam a lei os mestres e os fariseus, mas na vivência da real intenção que está por trás da mesma. Jesus nos convida a um modo de viver que não para na letra: “Jesus se destaca por seu radicalismo, colocando o amor no centro de todos os mandamentos e interpretando-os de uma maneira que diz respeito à pessoa humana como um todo, sobretudo, porém, ao coração. Jesus não anuncia uma simples ética de propósitos, e sim uma ética que exige um novo comportamento, mas um comportamento que vem do coração que se abriu de par em par para Deus. Jesus começa pelos sentimentos. Quem observa a lei apenas externamente, guardando em seu coração sentimentos de ira e amargura, não pode ser justo nem estar repleto do amor de Deus. Por isso importa, em primeiro lugar, limpar o coração de ira e rancor. Mas isso só é possível quando o ser humano faz as pazes com seu adversário interior (5,21-26)” (Anselm Grun – Jesus, Mestre da Salvação – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de junho de 2023

(2Cor 3,4-11; Sl 98[99]; Mt 5,17-19) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus” Mt 5,19.

“O modo como Jesus se comportava e ensinava os discípulos a se comportarem fez com seus adversários suspeitassem de que o Mestre fosse um anarquista. Numa sociedade firmemente alicerçada sobre os ditames da Lei mosaica seria uma loucura contrariar algo inquestionável. A prudência aconselhava a submeter-se sem muitas delongas. Além disso, os fariseus funcionavam como uma espécie de fiscais do cumprimento da Lei. Ai de quem ousasse contrariá-la por menor que fosse! Era denúncia na certa. Por outro lado, os discípulos mal avisados poderiam enganar-se e pensar que, de fato, com suas palavras e gestos, o Mestre estivesse propondo uma independência radical em relação à Lei, declarando, desta forma, inútil um elemento venerável da piedade popular. Qual foi a verdadeira postura de Jesus em relação à Lei? Ele não a proclamou inútil, mas também recusou-se a se submeter a ela de maneira servil e ingênua. Antes, introduziu uma maneira diferente de obedecer às exigências dela. Como? Superando a materialidade da letra para buscar o desígnio divino que a inspirou. Diante de cada mandamento concreto, importava colocar-se a questão: o que o Pai estava desejando ao dar este preceito ao povo? A obediência de Jesus tocava este nível de profundidade. Por isso, sua obediência era tão diferente da de seus adversários, a ponto de dar-lhes a impressão de parecer uma perigosa desobediência. – Pai, livra-me do perigo de reduzir minha obediência aos teus mandamentos à execução mecânica de gestos exteriores. Revela-me, cada vez mais profundamente, a tua vontade” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de junho de 2023

(2Cor 1,18-22; Sl 118[119]; Mt 5,13-16) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte” Mt 5,14

“Os cristãos são a luz do mundo. A sua luz brilha no mundo quando os homens veem as suas boas obras e glorificam, por causa delas, o Pai do céu. No meio da pequena comunidade insignificante deverá brilhar a luz que há de iluminar o mundo. É uma outra maneira de o Reino de Deus vir aos homens. Por meio de nós. Trata-se de uma mensagem importante que Mateus não se cansa de anunciar. Para ele, o Reino de Deus está sempre ligado à ‘dikaiosyne’, que não se refere à justiça no sentido em que Paulo entende, e sim ao agir correto do ser humano. Quando o homem age corretamente, cumprindo o mandamento de Jesus, vem ao mundo o Reino de Deus. A imagem da luz não se prende apenas ao indivíduo que se mostra permeável à luz de Deus, ela se estende também à comunidade cristã, que é uma luz para o mundo porque o relacionamento entre os seus membros é marcado pelo perdão e pela conciliação. Quando dois ou três realizam entre si o amor de Deus, desencadeiam uma mudança no mundo inteiro” (Anselm Grun – Jesus, Mestre da Salvação – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de junho de 2023

(2Cor 1,1-7; Sl 33[34]; Mt 5,1-12) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”

Mt 5,4-5.

“É preciso chorar para ser consolado. É preciso ser manso para possuir a terra. Verdades bíblicas que não devem ser banalizadas pelo dito popular do ‘quem não chora não ama, então vou chorar’ ou pela atitude do manso que se apropria da omissão e deixa tudo acontecer à sua volta. A proposta de Jesus inclui reflexão profunda e ação contínua no Reino de Deus. O chorar aqui é, sem dúvida, a consequência do sofrer as perturbações que estão por aí. É também expressão inconformada do cristão frente às barbáries sociais. Lamenta-se pelo exercício contínuo dos maus políticos. Pranteia-se pelos assassinatos que ocorrem diariamente no país. Reclama-se pelo trânsito caótico. Geme-se pela saúde deplorável. Queixa-se pelo pouco investimento na educação. Lastima-se pela falta de moradias e segurança. Aflige-se pelos erros e pecados. O choro existe e, provavelmente, irá continuar por muito tempo. Há, no entanto, esperança em um Deus que se preocupou e deu diretrizes. Ele quer encher os cristãos de conhecimento e sabedoria para ficarem plenamente satisfeitos e consolados. O cristão chora neste mundo tenebroso e cruel, mas age semeando a esperança em tempos melhores. Ele próprio é consolado nesta esperança. Ser manso é refletir os conteúdos que o envolvem como membro ativo do Reino de Deus. É conhecer os objetivos e participar dele como proposta sustentável. É esperar escatologicamente a misteriosa terra prometida e trabalhar na conquista deste planeta para Deus. Não é uma tarefa fácil. Impossível aos seres humanos, porém possível a Deus e àqueles que nele acreditarem. Confiemos nele. – Senhor! Por vezes tenho vontade de cantar ‘pare o mundo, eu quero descer’. Sei que isso não é possível. Quero chorar na esperança de ser consolado. Quero ser manso no teu viver. Anseio por tua graça. Quero herdar a terra. Amém” (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes)  

Pe. João Bosco Vieira Leite 

10º Domingo do Tempo Comum – Ano A

 (Os 6,3-6; Sl 49[50]; Rm 4,18-25; Mt 9,9-13)

1. Esse relato que acompanhamos compreende a história de um chamado, uma refeição e uma lição. Esses três elementos formam uma unidade coerente que tem como objetivo precisar o significado e os destinatários da missão de Jesus.

2. O chamado se situa em Cafarnaum e diz respeito a Mateus, cuja profissão era de cobrador de impostos. Com todas as implicações que já conhecemos. Onde há tarifas, há sempre um largo espaço para ganância e a possibilidade de fácil ganho.

3. Sua banca ocupa um lugar estratégico na estrada comercial para Damasco. Seu serviço beneficiava o tetrarca Herodes, mas também os romanos. Mas sua profissão, na mentalidade comum era o equivalente a ‘pecador’.

4. Os judeus evitavam certas ocupações por considerarem uma desonra. Aqui entram os pastores, os vendedores ambulantes e também os cobradores de impostos ou publicanos. Além de serem tratados como pecadores se viam privados dos seus direitos civis. Seus serviços eram considerados desonestos, o que impedia o conhecimento da Lei.

5. O relato da vocação segue o esquema comum: Jesus passa, vê o indivíduo, o escolhe e chama: ‘Segue-me’, ou seja, prenda-se a mim. A resposta de Mateus vem no ‘levantando-se’ e ‘seguindo’ a Jesus. Como sempre, o chamado implica uma separação, deixar algo ou alguém. Lhe coloca em movimento, num itinerário surpreendente e imprevisível.

6. No caso de Mateus há uma característica irrevogável. Que não foi o caso dos pescadores, que sempre voltavam às suas redes e barcos. Ele enfrenta o risco do seguimento, abandonando suas seguranças. Sua vida é transformada por uma palavra, um convite. O desequilibra para colocá-lo na busca de uma nova harmonia.

7. A refeição vem assinalada pela presença de outros pecadores, cobradores de impostos. Jesus exige a renúncia, mas não corta as raízes da pessoa. Se pergunta: na casa de quem isso acontece? Não importa. Cristo é o protagonista, é Ele quem convida. Aqui importa os convidados. Estamos em outra mesa.

8. O encontro com Cristo não estabelece somente uma relação pessoal com Ele, mas põe em relação com os irmãos. A refeição é sinal de uma dupla comunhão. Mas alguém torce o nariz; seu comportamento se torna escandaloso para aqueles que dividem o mundo de modo rigoroso em duas partes: os justos e os pecadores.

9. Os fariseus de todos os tempos estão sempre aparte, observando as coisas à distância. Permanecem em seus lugares, em suas restritas visões. Para entender é preciso vir fora e entrar no mundo do outro. Ver as coisas a partir de dentro. Julgar participando, observar comprometendo-se.

10. Cristo, ao contrário, veio ao encontro do ser humano não pretendendo manter distância, mas participando totalmente da nossa condição. Para sentar-se à mesa com Cristo é preciso deixar seu posto de observação privilegiado, somente misturando-se aos demais começaremos a entender alguma coisa.

11. Ao fariseu também é possível a conversão. Depende dele, colocar-se à mesa com os demais. Eles perguntam aos discípulos, mas é Jesus que explica a todos, pois é uma resposta que interessa a todos. Jesus articula sua resposta em três frases progressivas.

12. Cita um provérbio, buscando a sabedoria popular. Cita o profeta Oseias, aplicando a sabedoria bíblica e termina com o paradoxo evangélico: ‘eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores’. Assim revela sua identidade e missão. Os pecadores, os rejeitados da sociedade do seu tempo podem nos ensinar alguma coisa sobre Jesus.

13. Fica a pergunta: de que parte nos colocamos? Não é que os justos venham excluídos. Mas se excluem na medida em que se acham justos de modo definitivo, que se convencem que nunca precisaram de médico e resistem à solidariedade com os pecadores. Um médico nunca vem em nossa casa para uma visita de cortesia ou para assegurar que estamos bem. Se o vemos chegar, é porque não estamos bem, mesmo sem nos darmos conta.

14. Uma última pergunta: Será que nós, como os fariseus, não hesitamos de sentar-se à mesa, torcemos o nariz, por que não é de nosso gosto o prato da misericórdia servido por Cristo?

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de junho de 2023

  (Tb 12,1.5-15.20; Sl Tb 13; Mc 12,38-44) 9ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus chamou os discípulos e disse: ‘Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas’” Mc 12,43.

“Este é um texto que nos ensina a misericórdia de Deus. Deus pode transformar aquilo que parece insignificante aos olhos humanos em algo de grande valor. Foi o que Deus fez com esta viúva pobre. Ela é mencionada no versículo 43, mas no anterior o evangelista nos lembra de que muitos davam grandes quantias em dinheiro, enquanto que ela dera duas moedinhas de pouco valor. Se fossemos perguntar no mercado, no banco ou em outro lugar o que valia mais, se essas duas moedinhas de pouco valor ou essa grande quantidade de dinheiro que os outros depositavam? Não sabemos os valores exatos, mas o evangelista faz questão de mostrar que a diferença era grande. A resposta parece óbvia, mas não é. Nós costumamos atribuir valor àquilo que parece grandioso, mas Deus vai além das aparências e enxerga o coração. A questão é: Como é o coração daquele que oferta? É um coração que crê ou que deseja apenas ficar exibindo o que ele chama de boas obras? Ora, as boas obras dependem de um coração que crê. Quando recebemos de Deus um coração que crê, mesmo aquelas obras que parecem desprezíveis são cercadas de grande honra. Assim essa oferta foi honrosa, assim tem honra a mãe que cuida do seu filho, o empregado que cumpre o seu dever, o patrão que respeita seus empregados, a pessoa que ouve a palavra de Deus. Jesus viu na viúva mais do que a sua oferta. Ele viu o seu coração. Deus também conhece teu coração. E isso não é motivo de medo. A fé em Jesus tira todo o medo e fortalece a prática das boas obras. Esta é a misericórdia de Deus. -  Senhor misericordioso, peço-te perdão por minhas falhas. Suplico-te que tenhas misericórdia de mim afastando todo julgamento. Dá-me um coração que crê para que possa realizar boas obras. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de junho de 2023

 (Tb 11,5-17; Sl 145[146]; Mc 12,35-37) 9ª Semana do Tempo Comum.

“’Portanto, o próprio Davi chama o Messias de Senhor. Como é que ele pode então ser seu filho?’

E uma grande multidão o escutava com prazer” Mc 12,37.

“O Messias é o cumprimento da Promessa, a realização do amor de Deus para com seu povo. Aqueles que ouviam Jesus não o reconheciam, deleitavam-se com sua pregação, com seu ensinamento, mas eram incapazes de dar o passo do discípulo, não conseguiam ver, reconhecer e aceitar Deus diante deles, presente, atuante, gerando comunhão e vida. A figura do Rei Davi exerce tanta importância em Israel, até como legitimação da descendência nobre. Mas apontar o Messias como filho de Davi é dizer que o Messias é menor em seu papel e significado. Jesus aponta para a oração do próprio Davi, que chama de seu Senhor aquele que há de vir, aquele que sentará à direita de Deus. Jesus é maior do que a tradição, maior do que os profetas, maior de que os reis. Jesus é maior que a promessa, pois Ele é a realização da promessa, o sinal de fidelidade de Deus, fidelidade no amor, compromisso de doação. Deus não pode ser submetido a qualquer coisa. Tudo o que construímos, enquanto povo, enquanto identidade, instituição, só tem sentido se nos levar a Deus. Não tem valor à parte de Deus. Jesus é o Senhor de tudo. Ele é quem dá sentido e valor a todas as coisas. – Altíssimo Senhor do céu e da terra, tudo é teu. Teus são o louvor, a honra, toda nossa vida e o nosso coração apontam para a realização da tua glória. Tu és quem nos doa a vida e quem a mantém, quem dá sentido e valor a tudo o que somos e queremos ser. Só em ti, Senhor, nossa vida é real e verdadeira. Queremos ser, Senhor, humildes em nossos corações, e reconhecer a cada instante, com nosso agir e nossas escolhas, que Tu és o único referencial possível, a única fonte de sentido, garantia de vida e vida em abundância. Amém!” (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 08 de junho de 2023

(Dt 8,2-3.14-16; Sl 147[147B]; 1Cor 10,16-17; Jo 6,51-58) Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” Jo 6,54.

“As palavras de Jesus quanto a ‘comer a sua carne’ e ‘beber seu sangue’, causaram dúvidas em seus adversários e até em seus discípulos. O linguajar do Mestre pareceu-lhes duro e exagerado. Quem, em sã consciência, podia fazer tal afirmação? Jesus foi taxativo. Falava claramente, em mastigar a sua carne e ingerir o seu sangue, no sentido material, e não em sentido figurado. Daí o mal-entendido. Entretanto, o bom entendedor – o cristão iniciado na doutrina de Jesus – sabe perfeitamente que se tratava do sacramento da Eucaristia. A comunidade que celebra ‘come o corpo de Cristo’ e ‘bebe o sangue de Cristo’, sob a figura do pão e do vinho. Este gesto, no entanto, tem como efeito gerar uma verdadeira comunhão de vida entre Jesus e o discípulo. Assim como comer e beber tornam o alimento e a bebida parte do organismo humano, ao serem assimilados, o mesmo acontece, quando se participa da Eucaristia: por meio dela, o discípulo entra na mais profunda comunhão com Jesus ressuscitado, tornando-se uma só coisa com ele. Somente quem participa da comunidade cristã experimenta esta comunhão com o Senhor. Ninguém celebra a Eucaristia sozinho. Vivendo em comunhão com os irmãos e irmãs de fé, os discípulos, pela Eucaristia, têm garantida a vida eterna, que brota do Ressuscitado.  – Pai, faze que eu entenda cada vez mais o sentido da Eucaristia, sacramento de comunhão transformadora com o teu Filho Jesus. Que ele seja, para mim, fonte de vida eterna (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 07 de junho de 2023

(Tb 3,1-11.16-17; Sl 24[25]; Mc 12,18-27) 9ª Semana do Tempo Comum.

“Quanto ao fato da ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés, na passagem da sarça ardente, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó?” Mc 12,26.

“Os saduceus, diferentemente dos fariseus não estavam interessados em eliminar Jesus. A questão que lhe propuseram não era de caráter político ou ideológico. Dizia respeito às divergências doutrinárias existentes entre as várias correntes do judaísmo da época. Uma delas versava sobre a existência ou não da ressurreição dos mortos. O intento dos saduceus era o de expor Jesus ao ridículo, diante das pessoas que simpatizavam com ele. Dada a complexidade da questão apresentada, o ‘mestre’ ficaria embaraçado, sem saber como responde-la. Que moral tem um ‘mestre ignorante?’ Além disso, se respondesse afirmativamente, o seu ensinamento sobre a ressurreição ficaria desacreditado, por faltar-lhe fundamentos lógicos. A resposta de Jesus desmonta a segurança dos saduceus. A impossibilidade de aceitar a ressurreição não se deve a dificuldade por eles apresentadas, e sim à sua formação religiosa deficiente. Se tivessem estudado com atenção as Escrituras, teriam percebido a imagem de Deus que elas transmitem: o Deus de Israel é o Deus dos vivos, não dos mortos. Por isso, referem-se aos patriarcas, falecidos há muito tempo, como pessoas que ainda estão vivas. Daí a expressão tantas vezes repetidas nas Escrituras: ‘Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó’. Por que só os pais do povo estariam vivos para Deus, e não todas as pessoas de todos os tempos? Portanto, só nega a ressurreição quem não compreendeu quem é, de fato, o Deus de Israel. – Pai, tu és o Senhor da vida e me conduzes para a vida eterna junto de ti. Aumenta a minha fé de que não estou destinado à morte, e sim, à comunhão contigo” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 06 de junho de 2023

(Tb 2,9-14; Sl 111[112]; Mc 12,13-17) 9ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus disse: ‘Dai, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’. E eles ficaram admirados com Jesus”

Mc 12,17.

“O que pertence a Deus? No primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, lemos logo no início do relato da criação, onde Deus, a partir do nada, concede existência a toda a criação. Deus transborda de amor em si mesmo, e concebe toda a realidade criada. Ora, se tudo vem de Deus, tudo não só a Ele pertence, pois o conceito de posse é pequeno para explicar nossa relação com Deus, como o sustento último de nossa existência, mas sim tudo dele depende. Esse mesmo Deus, ao criar o ser humano, o toma pela mão e lhe mostra toda a criação, exortando-lhe ao cuidado. Isso é que significa ser imagem e semelhança de Deus, participar da obra da criação pelo cuidado com responsabilidade. O que pertence a Deus, então? Se olharmos para a vocação primeira do ser humano, esta é de dar graças a Deus. Pois Deus, olhando para a criação, viu que tudo era bom. E esta obra boa que Ele confia ao ser humano. Concede à humanidade responsabilidade, concede poder para servir à criação, como o jardineiro no Jardim do Éden. Ao dar uma resposta para a tentativa de engodo que lhe apresentavam, Jesus recupera a vocação primeira do ser humano e a expõe de uma maneira sem igual. Perguntado se era lícito pagar imposto, Ele mostra, através da moeda com o rosto de César cunhado, que o ser humano tenta se apropriar da criação, ao invés de assumir seu papel responsável. Dai a César o que lhe pertence. Restituí a Deus o que Ele espera do ser humano, de cada um de nós. Como é a nossa resposta a essa situação? Quem deixamos ser senhor de nossas escolhas, de nossos sonhos, de nossa vida? Assumimos a vocação dada com tanto amor à humanidade e nos sentimos responsáveis pelo cuidado das coisas de Deus, de tudo o que há? – Senhor, ensina-nos gratidão e reconhecimento, para fazermos de nossas vidas ação de graças pela tua bondade e generosidade. Queremos servir, Senhor, e proclamar na tua obra o quanto és grandioso. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 05 de junho de 2023

(Tb 1,3; 2,1-8; Sl 11[112]; Mc 12,1-12) 9ª Semana do Tempo Comum.

“Que fará o dono da vinha? Ele virá, destruirá os agricultores e entregará a vinha a outros” Mc 12,9.

“As parábolas da Bíblia, quando o ser humano é a figura central, há complicações dramáticas, conflitos, desgraça e morte. Jesus havia entrado triunfalmente em Jerusalém. Sua autoridade estava sendo questionada pelos representantes das várias categorias do clero judaico. Ela é uma resposta à questão. Na Galileia, região de latifúndios, a corte distribuía as glebas. O caso dos arrendatários não era sempre fácil de ser resolvido. A ausência do dono dificultava a comunicação e fazia com que os arrendatários pudessem se comportar como se fossem donos. Jesus falou de algo comum e começou contando que o dono de um campo plantou uma vinha e a rodeou de todos os cuidados, para que ela pudesse crescer em segurança e seu tempo, dar frutos. Esse proprietário teve que viajar e arrendou a vinha para vinhateiros que, no devido tempo, lhe entregariam os lucros obtidos com a produção. Quando chegou a época, o proprietário mandou emissários seus para receber o que lhe era devido. Mas os vinhateiros os espancaram e os mandaram de volta sem nada. Um segundo emissário foi enviado e também foi insultado. A outros mataram. O dono pensou então: vou mandar meu próprio filho, a ele certamente respeitarão. Mas foi pior. Os vinhateiros malvados se alvoroçaram completamente: ‘É o herdeiro! Vamos, matemo-lo! E ficaremos donos da herança’. Assim fizeram. Arrastaram-no para fora da vinha e mataram. O que fará o dono da vinha? Óbvio, restaurará o que é seu e exterminará os infratores. O juízo é certo e o direito de ser filho será repassado a outros. A única saída que existe é buscar a misericórdia divina e se arrepender e crer na pedra angular que é Jesus. ‘Isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’ – Senhor! Participamos indiretamente na morte de Jesus por causa dos nossos pecados. Perdoa-nos. Queremos permanecer em ti. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Santíssima Trindade – Ano A

(Ex 34,4-6.8-9; Sl Dn 3; 2Cor 13,11-13; Jo 3,16-18)

1. Nesse pequeno trecho da 2ª leitura, encontramos uma das saudações de Paulo que utilizamos em nossas celebrações: “A graça do Senhor Jesus, o amor de Deus e comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”. Aqui ele menciona as três pessoas divinas cuja festa celebramos nesse dia.

2. Nossa vida cristã se desenvolve sob o sinal e a presença da Santíssima Trindade. Do nosso batismo, cujo sinal foi traçado em nossa fronte e da água derramada, até nossa partida dessa vida, o nome do Pai que nos criou, do Filho que nos redimiu e do Espírito Santo que nos santifica, foi proclamado sobre nós.

3. E entre esses dois momentos extremos, se colocam outros momentos de ‘passagem’, em que nossa vida cristã é marcada pela invocação trinitária. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que os noivos se dão um ao outro, que os sacerdotes Veem consagrados pelo bispo. Em nome da Trindade, no passado se iniciavam os contratos, as sentenças, todo ato importante da vida civil e religiosa.

4. A Trindade é o seio onde fomos concebidos e o porto para o qual navegamos. Portanto, não é um mistério remoto, irrelevante para a vida de cada dia. Estas são as Pessoas mais íntimas na nossa vida. Nós somos o seu templo, a sua morada.

5. Talvez alguém nos pergunte: Por que os cristãos acreditam na Trindade? Já não é bastante difícil crer que existe Deus, para ajuntar ainda essa ideia de ‘uno e trino’? Isso não prejudica ainda mais nosso diálogo com Judeus e Mulçumanos que professam a fé num Deus rigidamente único?

6. A nossa resposta seria que acreditamos que Deus é trino, porque cremos que Deus é amor. Essa revelação nos vem do próprio Jesus. Não é uma invenção humana. Não estamos aqui para explicar o que é a Trindade, racionalmente é impossível fazê-lo, pois ela não é fruto da razão humana.

7. Se a Bíblia nos diz que Deus é amor, então quem ama, ama alguém. Não existe o amor vazio, não direcionado. Quem Deus ama, para ser definido como amor? A nossa 1ª resposta seria: ama os seres humanos. Mas estes só existem há alguns milhares de anos, não mais.

8. Então, quem Deus amava antes, para ser definido como amor? Amava o cosmo, o universo. Mas esse também existe a alguns milhões de anos. E antes, quem amava Deus para ser definido como amor? Não podemos dizer que amava a si mesmo, porque amar a si mesmo é egoísmo ou, como diz a psicologia: narcisismo.

9. A Igreja recolhe a resposta dos seus teólogos: Deus é amor em si mesmo, antes dos tempos, porque desde sempre há nele mesmo um Filho, o Verbo, que ama com amor infinito, isto é, no Espírito Santo. Em cada amor estão sempre três realidades ou fontes: um que ama, um que é amado e o amor que os une.

10. O Deus cristão é uno e trino porque é comunhão de amor. A doutrina cristã sobre a Trindade não é um retrocesso, um acordo entre monoteísmo e politeísmo. Ao contrário, é um passo avante que só Deus mesmo poderia realizar na mente humana.

11. Isso pode nos soar um pouco difícil de entender? Não nos preocupemos. Quando nos encontramos na margem de um lago ou do mar, se queremos saber o que está na outra margem, a coisa mais importante não é aguçar o olhar perscrutando o horizonte, mas subir na barca que nos levará à outra margem.

12. Com relação ao mistério da Trindade, a coisa mais importante não é especular sobre o mistério, mas permanecer na fé da Igreja que é a barca que nos leva à Trindade. As comunidades com as quais interagimos, as nossas famílias, buscam, nessa relação da Trindade um modo de viver também suas relações, permitindo que a dinâmica do amor se sobreponha sobre as nossas diferenças.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 03 de junho de 2023

(Eclo 51,17-27; Sl 18[19B]; Mc 11,27-33) São Carlos Lwanga e Companheiros mártires.

“Na minha juventude, antes de andar errante, procurei abertamente a sabedoria em minhas orações” Eclo 51,18.

“Carlos, criado do palácio do rei Muanaga, do antigo reino independente de Buganda (hoje província da República de Uganda), recebeu o batismo durante a evangelização dos padres brancos, ordem fundada pelo cardeal Lavigérie. Era 1885. No ano seguinte ele seria queimado vivo em Namogongo com outros doze companheiros, entre guardas reais e pajens, todos jovens. À grande fogueira de 3 de junho seguiu-se o horrendo massacre iniciado a 15 de novembro de 1885, com a decapitação de José Balikuddembe, mordomo do rei, seguido a breve distância pelo martírio de outros cristãos, horrendamente mutilados. Calcula-se que mais de 100 cristãos foram trucidados de 15 de novembro de 1885 a 27 de janeiro de 1887, dia em que João Maria Muzey foi decapitado e lançado em um pântano. Hoje o calendário comemora 22 mártires de Uganda, beatificados por Bento XV a 6 de junho de 1920, e canonizados por Paulo VI a 8 de outubro de 1964. Os padres brancos haviam iniciado a evangelização do país em junho de 1879, inicialmente bem acolhidos pelo próprio rei Mutesa e pelo jovem sucessor, o rei Muanga. Este, porém, se deixou influenciar pelo chanceler do reino e pelos chefes tribais. Mudada a atitude favorável em relação aos cristãos, o rei ordenou a supressão deles e não hesitou em matar alguns com as próprias mãos. Aos 22 santos ugandenses foi erigido em Namugongo um grande santuário, consagrado por Paulo VI durante sua viagem a Uganda, em julho de 1969” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

                  

Sexta, 02 de junho de 2023

(Eclo 44,1.9-13; Sl 149; Mc 11,11-26) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Chegaram a Jerusalém. Jesus entrou no templo e começou a expulsar a expulsar os que vendiam e os que compravam no Templo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” Mc 11,15.

“Como para ilustrar a maldição proferida, Jesus entra com seus discípulos no Templo. Expulsa os vendedores e os compradores e derruba as mesas dos cambistas e dos vendedores de pombas. Depois explica seu gesto combinando a citação da passagem de Isaías (56,7) e Jeremias (7,11): ‘Minha casa será chamada casa de oração para todas as nações’. O Templo não é só dos judeus, ele pertence também aos pagãos. Jesus deve estar se referindo ao Templo espiritual que continuará existindo na comunidade cristã, porque Marcos não conta com a reconstrução do Templo destruído. Nas palavras de Jesus transparece também uma recriminação dirigida aos sumos sacerdotes e aos líderes do povo, por terem transformado o Templo num covil de ladrões. Interesses profanos foram associados ao espaço sagrado, que ficou aviltado. Essa censura é também uma advertência dirigida aos cristãos, para que não lidem com sua comunidade à maneira dos sumos sacerdotes. Estes e os escribas reagem à intervenção de Jesus com a decisão de mata-lo. Eles entenderam muito bem o que Jesus quis dizer com seus atos simbólicos: com Jesus acaba a utilização do Templo no sentido tradicional; com Jesus começa a surgir um novo Templo aberto a todos os povos. Eles procuram matar Jesus, mas têm medo da reação do povo: ‘porque a multidão era tocada por seu ensinamento’ (11,18). Os atos de Jesus são vistos também como parte de seus ensinamentos. Quando Jesus fala de Deus, ele consegue tocar as pessoas. Em seu primeiro relato de uma cura, Marcos já tinha mostrado como os demônios reagiam diante de seus ensinamentos. A maneira de falar de Jesus já mostra concretamente o que ele quer dizer. Assim, expulsando os vendedores do Templo, ele mostra claramente que esse espaço deve ser um lugar de oração e do diálogo íntimo com Deus” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite