Segunda, 01 de agosto de 2022

(Jr 28,1-17; Sl 118[119]; Mt 14,13-21) 

18ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, porém, lhes disse: ‘Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!’” Mt 14,16.

“A ordem dada aos discípulos – ‘Deem-lhes de comer!’ – pode ter-lhes soado como uma ironia. Havia condições de saciar uma multidão, reunida num lugar deserto para escutar Jesus? Não seria lógico despedi-la para que pudesse comprar alimentos nas aldeias vizinhas? A ordem do Mestre parecia impossível de ser executada. Contudo, começou a ser superada, quando os discípulos apresentaram a quantidade de alimentos disponível: cinco pães e dois peixes. Bastou-lhes coloca-los à disposição de todos, para que ninguém voltasse para casa faminto. Assim aconteceu! Num gesto quase litúrgico, Jesus tomou os pães e os peixes, ergueu os olhos para os céus, abençoou-os, partiu-os, deu-os aos discípulos e estes, à multidão. A pequena porção de alimento começou a ser condividida. E todos comeram até à saciedade. E mais, sobraram doze cestos cheios, apesar da enorme quantidade de gente. Este episódio contém um claro ensinamento. O problema da fome resolve-se com a partilha. Se tivessem ido às aldeias, quem tivesse dinheiro e fosse mais esperto, fartar-se-ia. Quanto aos pobres e menos ágeis ficariam em desvantagem, permanecendo famintos. Esta situação é incompatível com o Reino, cujo projeto de fraternidade supera todo tipo de desigualdade. – Espírito de fraternidade, não permitas que eu me apegue àquilo que possuo, quando tantas pessoas estão à espera da minha generosidade para sobreviver (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

18º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89[90]; Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21)

1. Nessa parábola que Jesus nos conta, a coisa que chama mais atenção, e é algo terrível, é este homem que conversa consigo mesmo, com os seus bens. Expressando a sua profunda solidão. Ele não tem nome. Não se menciona a mulher, os filhos ou mesmo amigos. É ele e seu bens. É uma coisa em meio a outras coisas. 

2. Os bens, longe de serem veículo de comunicação, de relação com os outros, são para ele, coisa para acumular, conservar, proteger, defender. Tudo isso acaba por colocá-lo numa espécie de prisão. Sem futuro. Próprio ele que se ilude de estar seguro por muitos anos.

3. Nesse quadro geral vem anunciada a terrível sentença, se bem que ele já estava morto a um certo tempo. É uma sentença que ele mesmo se deu. Ele vem definido como ‘louco’. Porque colocou sua segurança no ter e não no ser. Preferiu possuir, acumular, não tanto a crescer.

4. É ‘louco’ porque se identifica com as coisas e não as transformou em sacramento de comunhão com os irmãos. Porque pensa que a posse egoísta lhe dará alegria. Porque não vê que a vida se preencher com amizades, dons, relações, não com coisas.

5. A posse é sempre uma limitação da liberdade. Basta que eu tome esse relógio em minha mão e diga: ‘Esse relógio é meu!’, e fecho minha mão sobre ele para, de fato, ter um relógio e perder uma mão. O nosso espírito, o nosso coração tende a restringir-se às dimensões dos bens sobre os quais nos apegamos.

6. É falsa a nossa relação com as coisas se pensamos possui-las. As coisas, como as pessoas, possuem sua própria individualidade, sua própria essência, mesmo se elas, ‘aparentemente’, me pertencem. Permanecerá sempre ‘estranha’, por mais que tente retê-la.

7. Para possuir verdadeiramente uma coisa, é preciso estabelecer com ela não uma relação de posse, de agressividade, mas de participação, de admiração, de contemplação. A faculdade de possuir se coloca num nível muito mais profundo de nós mesmos.

8. Os mansos possuirão a terra, rezam as bem-aventuranças, porque estes não reivindicam nada como seu. Só podemos rezar tendo as mãos vazias, livres, para rezar nas coisas e com as coisas. Isso distingue o homem econômico do homem litúrgico. Entre aquele que pede aos bens terrenos segurança e o que exige deles ‘comunicação’.

9. O primeiro acumula. O outro divide. Na própria missa recordamos essa necessidade da partilha, do ofertar-se no próprio gesto de quem oferece a si mesmo, mas no ato concreto de mãos que se abrem para dar e não simplesmente reter.

10. Tanto quanto nos alegra ver os primeiros passos de uma criança que aprende a caminhar, também deve ser uma alegria ver suas mãos aprenderem a abrir-se, a dar, a partilhar. Lembremo-nos de que nossas mãos só se sujam quando seguram demasiadamente alguma coisa.      

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 30 de julho de 2022

(Jr 26,11-16.24; Sl 68[69]; Mt 14,1-12) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão por causa de Herodiades,

a mulher de seu irmão Filipe” Mt 14,3.

“O assassinato de João Batista recoloca um tema comum, no âmbito da história do profetismo bíblico: a imposição do silêncio ao enviado de Deus. Quem recebeu a missão divina de convocar o povo à conversão, acaba sendo silenciado por quem deveria escutá-lo. Outro tema é o da intrepidez dos profetas. Embora devendo defrontar-se com forças hostis e refratárias à sua pregação, não se deixaram intimidar, por terem consciência do caráter divino da missão recebida. A intrepidez de João Batista revela-se na coragem com que se defronta com um governante ímpio, reconhecidamente prepotente, Herodes apoderou-se, sem escrúpulo, da esposa do seu irmão, tomando-a como mulher. Sem medo, o profeta João denuncia a injustiça cometida, e sofre as consequências de sua ousadia. A decisão de jogar o Batista na prisão funciona como uma maneira de calá-lo. Encarcerado numa fortaleza romana, ele teve a sua liberdade cerceada, e a voz calada. Mas isso ainda foi pouco, no parecer da mulher ilegítima de Herodes. Era preciso fazer calar João definitivamente. A oportunidade para isso surgiu por ocasião de uma festa. Embora a contragosto, Herodes atendeu o pedido da mulher e mandou decapitar o profeta incômodo. O destino de João Batista prenunciara o de Jesus. Também a este procuravam calar, por causa da liberdade com que denunciava os desmandos dos prepotentes de seu tempo. – Espírito de intrepidez, dá-me a coragem dos profetas para denunciar as injustiças cometidas pelos grandes e potentes” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de julho de 2022

(1Jo 4,7-16; Sl 33[34]; Jo 11,19-27) 

Santa Marta, Maria e Lázaro, discípulos de Jesus. 

“Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão” Jo 11,19.

“Seria fazer injustiça àquela que ‘escolheu a melhor parte’ reservar uma ‘memória obrigatória’ no calendário litúrgico a santa Marta sem incluir Maria, somente porque houve época em que esta foi identificada na liturgia ocidental como Maria de Magdala, e com a harmonia pecadora do evangelho de Lucas. Hoje, de acordo com a Igreja oriental, tal identificação não mais é aceita e, em seguida à revisão do Calendário dos santos (de 1970), ao menos os beneditinos podem festejar conjuntamente as duas irmãs de Betânia: Marta (o nome em aramaico significa ‘senhora’) e Maria, bem como seu irmão Lázaro, que era comemorada em 17 de dezembro. Assim a família, tão estimada por Jesus e da qual foi apreciado hóspede, reuniu-se também no calendário. A santidade de Maria está fora de discussão. É considerada, de fato, modelo evangélico da alma contemplativa, ainda que Marta tenha tido preeminência nesse dia, como se quisesse recompensá-la pela solicitude para com o Mestre. ‘Senhor’, ela diz a Jesus, ‘a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude’. E Jesus lhe dirige uma afetuosa repreensão: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só...’. Equivale a dizer: há valores mais importantes aos quais devemos dar precedência. De qualquer modo, Marta fizera do ensinamento do Mestre um tesouro. Quando da ressurreição de Lázaro, enquanto pedia implicitamente o milagre, faz uma clara profissão de fé na onipotência de Jesus, na futura ressurreição dos mortos e na divindade do Messias. Depois da ressurreição nada mais se conhece sobre as duas irmãs e Lázaro. Este – provavelmente confundido com o homônimo bispo de Aix, na França – é considerado, sem nenhum fundamento histórico, o evangelizador de Marselha, coadjuvado pelas duas irmãs, veneradas nessa cidade. Em lugar disso, a tradição grega faz de Lázaro o primeiro bispo de Kitio, na ilha de Chipre. Marta é a padroeira dos caseiros” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de julho de 2022

(Jr 18,1-6; Sl 145[146]; Mt 13,47-53) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo” Mt 13,47.

“O texto de hoje pertence ao conjunto das parábolas sobre o Reino de Deus (Mt 13). Entre as muitas imagens utilizadas, Jesus compara o Reino a uma rede de pesca lançada ao mar e fala sobre a separação dos peixes. Aqui temos um aviso para permanecermos vigilantes: nem todos estão prontos para acolher o Reino e, portanto, sem conversão, corremos o risco de não participarmos da realização da promessa (Mt 13,47-53). O Reino de Deus é o encontro de duas buscas, de duas procuras, de duas vontades. A humanidade busca a felicidade, como o comprador busca a pérola mais preciosa (v. 45-46). Mas Deus também está sempre em busca dos seres humanos, assim como o pescador, todos os dias, lança suas redes ao mar. Os evangelhos falam de pescadores, redes e pescas ao narrar a vocação dos discípulos e tantos outros acontecimentos acerca do Mestre. Não oferecem, porém, apenas uma informação, um dado cultural a respeito daqueles homens. Querem apontar para outra realidade. Querem falar do Senhor que sempre está em nossa busca. Ele é o pescador que, com alegria, avança para águas mais profundas a fim de pescar para si aqueles que ama e deseja salvar, convidando-nos também a ajudá-lo nessa tarefa. Sinto-me em busca de Deus, mas ainda me vejo encantado com o brilho de outras tantas pedras que encontro pelo caminho. Às vezes sinto-me um peixinho perdido na imensidão do mar, nadando ao sabor do acaso.... Se um dia eu encontrar o meu Senhor, certamente esse encontro terá sido muito mais obra dele, que com sua ampla rede acolhe o maior número de desavisados. – Eu te busco de todo o coração, não me deixes afastar dos teus mandamentos. Abre meus olhos para eu contemplar as maravilhas da tua vontade. Evita que meus olhos vejam o que é inútil; dá-me vida, pela tua palavra. Eu pertenço a ti: salva-me! (Sl 119,10.18.37.94)” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).   

    Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de julho de 2022

(Jr 15,10.16-21; Sl 58[59]; Mt 13,44-46) 

17ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantem escondido.

Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” Mt 13,44.

“Temos aqui duas parábolas que São Mateus nos oferece e que pretendem ilustrar uma mesma verdade: o valor inestimável do Reino de Deus. Aquele que consegue descobrir esse valor, renuncia com alegria a tudo o que possui para adquirir esse tesouro e assim realiza muito bom negócio, o melhor negócio de toda sua vida. Aquele que encontra o Reino dos céus, deve abandonar tudo para entrar nele. É preciso desapegar-se de tudo o que é da terra, pois a posse de Deus é incompatível com a desmedida ânsia pelos bens da terra. O próprio Senhor nos diz: ‘Não podeis servir a Deus e as riquezas’ (Mateus 6,24). Quando Jesus nos pede que, para possuir o tesouro de Deus, deixemos tudo, não pede a você, como o pede aos religiosos, que você se despoje de tudo o que é terreno, visto que o próprio Deus situou você no contexto temporal; o que lhe pede e exige é que você não deixe que seu coração fique aprisionado pelas coisas terrenas e que elimine dele tudo o que seja desordenado e excessivo. Porém, se para possuir a Deus, você precisa despojar-se de tudo que não é você, você terá de desprender-se acima de tudo e antes de mais nada de tudo o que é você: seus pensamentos, seus afetos e preferências, suas inclinações e convivências, suas paixões, seus instintos na medida em que tudo isso possa impedir no seu coração a posse de Deus: se seu coração não está vazio de você mesmo, não poderá ser ocupado por Deus. Aquele que encontra o Reino de Deus deve deixar tudo para entrar nele. Quem tem fé no valor do Reino não se entregará ao repouso, nem evitará esforços para conseguir a vida do Reino, mesmo que a custo de qualquer preço. Será isto o que de mais contrário existe em relação ao conformismo com o status de vida espiritual e com mediocridade de uma vida que paralisaria o Reino de Deus em si e no mundo. O tesouro de que nos fala esta parábola é a posse de Deus, um tesouro inestimável, comparado ao qual nada representam os bens da terra” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de julho de 2022

(Ecl 44,1.10-15; Sl 131[132]; Mt 13,16-17) 

São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria Santíssima.

“Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações” Ecl 44,1.

“Ana – do hebraico Hannah, graça – é um nome apropriado, atribuído à mãe da Bem-aventurada Virgem na liturgia oriental, desde o fim do século VI. No mesmo período vem honrado, sempre no Oriente, o pai Joaquim, denominado entretanto de vários modos: Eli, Cléofas, Eliacim, Jonaquin e Sadoc. O Evangelho silencia acerca dos pais de Maria; o vazio foi preenchido pelo apócrifo protoevangelho de Tiago. Neste, entre os elementos fantasiosos, é possível extrair algumas notícias úteis para delinear o perfil dos santos cônjuges. Seu culto, tão antigo no Oriente quanto o culto mariano, floresce no Ocidente em 1584, quando foram instituídas a festa litúrgica de santa Ana (fixada em 25 de julho) e a de são Joaquim (em 20 de março). Esta, depois, foi integrada à oitava da Assunção, passando em 1913 para o dia 16 de agosto e, finalmente, para 26 de julho, com o novo calendário litúrgico – o qual associa oportunamente os dois santos cônjuges, de cuja união advém, por sumo privilégio divino, a imaculada conceição da Virgem. Embora o dia 26 de julho – quando as crianças estão de férias e os avós permanecem frequentemente sozinhos em casa – não se preste a profícuas manobras consumistas, há quem proponha essa data como festa dos avós. E, além de Ana e Joaquim, quem pode ostentar melhores títulos? ‘Pelos frutos conhecereis a árvore’, diz Jesus no Evangelho. E talvez pensasse, nesse momento, nos dois santos avós. Conhecemos o fruto de seu amor, a Virgem Imaculada, santificada desde o primeiro momento no seio materno, portanto, um fruto não deteriorado pelo pecado original; a ‘cheia de graça’, que tão-só pela sua presença santificou Batista no seio de Isabel. E uma vez que Maria, ‘termo fixo do eterno conselho’, como diz Dante, é ‘aquela que a natureza humana enobrece’, pode bem se dizer mediadora da graça sobretudo para seus privilegiados pais. O belo nome de Ana, que frequentemente segue o de Maria, foi honrado por cinco santas e sete beatas” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de julho de 2022

(2Cor 4,7-15; Sl 125[126]; Mt 20,20-28) 

São Tiago Maior, apóstolo.

“Trazemos esse tesouro em vaso de barro, para que todos reconheçam que esse poder extraordinário vem de Deus

e não de nós” 1Cor 4,7.

“Paulo tem razão: todo nosso ministério é obra de Deus, um tesouro que Ele compartilha conosco, frágeis criaturas, suscetíveis de tantos males (2Cor 4,7-15). Essa constatação, porém, longe de provocar algum desânimo, enche-nos de gratidão, alegria e esperança. A obra não é nossa, mas sim de Deus (1Cor 3,7). Nós somos apenas um instrumento –e um instrumento muito frágil. A consciência de nossa fragilidade deve despertar em nós a humildade e, também, a gratidão. Humildade porque todo ministério pertence a Deus (2Cor 4,7); é sempre Ele quem realiza tudo em todos (1Cor 12,6). Gratidão porque, mesmo conhecendo nossa fraqueza, Ele quis contar conosco. A consciência de nossa fragilidade nunca deverá ser motivo para a tristeza ou vergonha. Aquele que tem um conceito mais honesto a respeito de si mesmo alcançará a verdadeira alegria em Deus, pois nele depositará sua confiança e nele encontrará sua força. Saberá que não caminha sozinho, mas que sempre poderá contar com a ajuda de Deus que o criou, e com o auxílio dos outros irmãos que caminham na mesma fé. Terá muito mais sabedoria para enfrentar os desafios desse mundo e realizar a obra que lhe foi confiada. E também descobrirá que em seu corpo frágil, destinado à morte, brota a força do ressuscitado, que o conduzirá mais e mais para a plenitude da vida (2Cor 4,10). Compreender tudo isso é profundamente libertador. Aquele que confia demais em si mesmo é um infeliz, que vive imerso nas próprias vaidades e fantasias, distante da realidade e do bom-senso. Por isso devemos buscar sempre essa humildade – para sermos verdadeiramente livres e fortes. – Javé é minha força e meu escudo, nele confia meu coração. Eu fui socorrido, minha carne refloresce, e de todo o coração eu lhe agradeço. Por isso, digo: salva o teu povo, Senhor! Abençoa a tua herança! Apascenta-os e conduze-os para sempre! (Sl 28,7-9) ” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

17º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,20-32Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13)

1. O nosso evangelho é muito rico na temática da oração, em seus vários aspectos. Mas gostaria de tomar como ponto de partida essa parábola do amigo inoportuno. Ela se situa no campo da temática geral da oração confiante, insistente e até mesmo teimosa.

2. Se olharmos a parábola de modo simplório poderíamos deduzir que Deus é aquele que dorme, e eu, com a oração, vos despertá-lo, torna-lo consciente das minhas necessidades. Mas talvez seja o contrário. Na realidade Deus não dorme. É Ele que vem me despertar, através da oração, da sua Palavra.

3. Se não rezo, não desperto. Frequentemente vivemos num estado de torpor, de sonolência, de sono profundo ou sonambulismo. A vida vai de forma mecânica, no automático. As coisas, situações e pessoas vão passando sem que entremos em comunhão de fato com eles.

4. Um dos temas fundamentais da Bíblia e da primitiva pregação cristã é aquele do despertar. Despertar através da luz que atravessa a janela do nosso ser. Despertar através de Alguém que bate à nossa porta e pede para entrar.

5. Diz um autor que, com a civilização, passamos do homem da caverna para a caverna do homem. Tudo que o ameaçava de fora, os grandes perigos, o escuro da noite, a fome, a sede, os fantasmas, os demônios, tudo que o mantinha em uma insegurança fundamental, tudo se transfere para dentro e o ameaça a partir de dentro.

6. A oração me ilumina a partir de dentro. Faz luz nas minhas profundezas para que eu venha ao aberto, me torne livre do medo e do sono. A oração cristã é uma tomada de consciência de todo o ser. Rezar é despertar, prestar atenção, ser presente. Responder ‘sim’ Àquele que me desperta e me convida a caminhar.

7. O outro aspecto dessa parábola é Jesus nos dizer ‘pedi e recebereis’. Nos vem um desejo de contestar. Quantas vezes rezamos, insistimos em nosso pedido, segundo o conselho evangélico, sem obter nada. Deus permaneceu mudo. É difícil continuar quando o que pedimos vem continuamente não atendido.

8. Será que Deus se diverte mandando-nos de volta de mãos vazias? Como conciliar essa certeza de sermos atendidos com essa experiência cotidiana? A certeza de sermos atendidos se coloca num outro plano.

9. Existe a certeza que a nossa oração chega à Deus. Ele se faz inteiramente disponível. Escuta pacientemente. Basta rezar para que a comunicação se estabeleça. E Deus intervém, sem dúvida. Ainda que não seja sempre ‘quando’ e ‘como’ queremos.

10. Ele pode agir de duas maneiras: pode fazer desaparecer milagrosamente os obstáculos que atrapalham o nosso caminho, as situações que nos oprimem, as coisas desagradáveis que nos perturbam, a cruz que pesa sobre nosso ombro.

11. Ou mesmo pode deixar as coisas como estão (ao menos aparentemente). Mas Ele se coloca na estrada conosco, nessa mesma aventura, partilhando os mesmos riscos, as mesmas dificuldades. Parece que Deus prefere mais esta maneira. Com o seu silêncio nos diz: vai adiante, caminha e verás.

12. A estrada é a mesma com seus obstáculos, mas você não é mais o mesmo. A oração nos transforma e nos permite enfrentar a estrada de sempre não somente com a nossa força. Não lamente o fato de não ter obtido exatamente o que queria. Agradeça e reconheça a graça d’Aquele que se tornou nosso companheiro de viagem.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 23 de julho de 2022

(Jr 7,1-11; Sl 83[84]; Mt 13,24-30) 

16ª Semana do Tempo Comum.   

“Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora” Mt 13,25.

“O joio é daninho, pois seu grão, apesar de ser semelhante ao do trigo, se comido causa náuseas e enjoos. No campo do Pai de família, nem sempre é fácil distinguir o bom trigo da verdade e o joio do erro, porque o erro sempre se apresenta camuflado de verdade. Doutrinas não evangélicas, que se vestem com roupagem evangélica, orientações doutrinais que são apresentadas como confirmadas por textos do Concílio Vaticano II, posições vitais que se esforçam por parecer encarnadas em uma realidade existencial; tudo isso pode ser muito bem trigo; mas pode ser apenas hábil joio e, como tal, daninho e contrário à vontade do Pai celestial. Surge daí a necessidade de confrontar, com muita seriedade, tudo quanto chegue a nossos ouvidos com os mais puros princípios do santo evangelho: se vier do amor, será amor e produzirá amor. O coração humano é campo onde Deus e o demônio semeiam; esse campo é disputado por ambos; nele Deus semeia sementes de bondade, de amor, de singeleza e de humildade; mas nele também o Maligno semeia sementes de ideias perversas, de práticas anticristãs, de costumes imorais; joio são as paixões desordenadas, a vaidade, a soberba, o egoísmo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de julho de 2022

(Ct 3,1-4; Sl 62[63]; Jo 20,1-2.11-18) 

Santa Maria Madalena.

“Jesus disse: ‘Não me segures. Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos:

subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” Jo 20,17.

“Maria toca em Jesus. Ela o abraça. Experimenta o seu amor que não se quebrou nem mesmo na morte de Jesus e continuará sempre. Ela gostaria de segurá-lo, como faz a noiva do Cântico dos Cânticos: ‘Seguro-o e não o largo, até tê-lo introduzido na casa de minha mãe” (Ct 3,4). A noiva do Cântico quer levar o amado para a casa de sua mãe. Mas Jesus quer ir para à casa do Pai. Por isso diz a Maria: ‘Não me retenhas, pois eu ainda não subi para o meu Pai’ (20,17). Quando queremos compreender algo, valemo-nos daquilo que conseguimos apreender. Tocar e apreender são as nossas maneiras de compreender. Mas, o ressuscitado ainda não pode ser entendido. Não se trata de um entendimento à maneira do mundo, antes é necessária da fé. O ressuscitado está inalcançável. Não conseguimos pegá-lo. Ele nos remete ao Pai para o qual há de subir. A subida de Jesus para o Pai será a razão da verdadeira união com Jesus” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de julho de 2022

(Jr 2,1-3.7-8.12-13; Sl 35[36]; Mt 13,10-17) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender” Mt 13,13.

“Ver sem ver e ouvir sem ouvir, à primeira vista, pode parecer um absurdo, mas na realidade, isto acontece. E quando? Quando olhamos tudo, mas não olhamos com profundidade. Quando olhamos as coisas e não vemos a mensagem que cada uma delas transmite. Quando vemos as realidades e não vemos o que está por trás de todas. Quando vemos superficialmente o que se encontra em derredor de nós e não mergulhamos em sua essência. Quando vemos só o que está acontecendo hoje e não vemos o que pode acontecer amanhã. Quando só vemos de modo global, e não vemos também, de modo particular. Exemplificando. Quando só vemos o prédio construído e não vemos o trabalho sacrificado do pobre peão que deu toda a sua energia em prol do seu soerguimento. Quando vemos a beleza e a majestade da árvore e não vemos a pequenez da semente que nela se transformou. Quando vemos a doença que estamos tendo e não vemos o infinito número de dias que passamos gozando de perfeita saúde. Quando só vemos o que Deus quer dos outros e não vemos o que ele quer de nós. A mesma coisa podemos asseverar a respeito do ‘ouvir sem ouvir’, do ‘ouvir sem entender’. É que não deixa de existir uma certa diferença entre o ouvir e o escutar. O ato de ‘escutar’ é quase que só fisiológico, enquanto o ato de ouvir é mais espiritual. Escutamos o que, às vezes, nem desejamos escutar, mas só ouvimos aquilo que nos interessa ouvir. Daí, existirem os que não põe em prática a palavra de Deus porque escutaram, mas não a ouviram. Perceberam-lhe o som, mas não sua mensagem. Em meio de quais estamos? – Senhor, favorecei-nos com a graça de ver com os olhos e ver com o coração, também em consequência de termos ouvido quem nos ensina uma coisa e outra. Amém (José Gilberto de Luna – Graças a Deus (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de julho de 2022

(Jr 1,1.4-10; Sl 70[71]; Mt 13,1-9) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“Outras sementes, porém, caíram em terra boa e produziram à base de cem,

de sessenta e de trinta frutos por semente” Mt 13,8.

“Nas parábolas ensina-se alguma verdade de ordem sobrenatural. Em toda parábola existe uma imagem material e um ensinamento espiritual, fundamentado em alguma semelhança que se encontra entre uma e outra. Frequentemente, alguns detalhes meramente descritivos, que se encontram na imagem ou relato, são elementos literários sem maior significação para o ensinamento fundamental que se pretende expor. Como o povo simples conhecia bem as tarefas do campo, Jesus empregava-as como comparações, para tornar mais facilmente inteligíveis as verdades espirituais. Nesta parábola do semeador, Jesus diz que parte da semente, lançada aos punhados sobre o campo, foi comida pelos pássaros.... Como Jesus esclarece que a semente é a palavra de Deus, devemos pensar que em alguns cristãos, em cujos corações cai a semente da palavra divina, não chega a soltar raízes, porque os pássaros das preocupações materiais não permitem ao cristão a tranquilidade suficiente para poder meditá-la. Outras sementes foram pisadas pelos caminhantes... Quando no coração humano existe muito ir e vir, por coisas que distraem, a palavra de Deus não encontra o ambiente que sua fecundação exige. A terra pedregosa impede que a semente possa deitar raízes fortes e termina por ser queimada pelo calor do sol. Os cardos e os espinhos, que na Palestina atingem a altura de cerca de um metro, afogam também a semente que cai próxima deles; a palavra de Deus fica afogada pelos cardos e espinhos das paixões humanas; é preciso ter a alma muito acima das tensões passionais, a fim de que possa ser fecunda e eficiente. Porém, a semente, que caiu em terra fértil e livre de empecilhos, deu fruto em maior ou menor abundância, conforme a preparação da terra. Ou seja, com estas palavras o Senhor pretende descrever a atitude e a disposição diferentes que se podem ter diante de sua doutrina, isto é, a diversidade dos efeitos da palavra de Deus, segundo as disposições diferentes com que é recebida. A sorte dos grãos de trigo que caem das mãos do semeador é muito diversa, conforme o lugar onde caírem; e a eficácia da palavra de Deus que cai em nossos corações dependerá de como seja aceita por nós. Por mais que a palavra de Deus ou a palavra dos irmãos chegue até nós carregada de sentido e de espiritualidade, se nós nos fecharmos com a couraça da suscetibilidade, do orgulho enervante, que nos faz descobrir tudo que é mau e negativo, e fechar os olhos a tudo que é bom e positivo, nada conseguirá em nós a própria palavra de Deus, embora seja o próprio Jesus quem no-la diga. É preciso preparar a terra, abrir nosso sulco, para que ele possa semear sua palavra e, portanto, é preciso apresentar um espírito sensível a essa palavra” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de julho de 2022

(Mq 7,14-15.18-20; Sl n84[85]; Mt 12,46-50) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus perguntou àquele que tinha falado: ‘Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos?’” Mt 12,48.

“A ruptura com os laços familiares foi uma das exigências do serviço ao Reino, com as quais Jesus se defrontou. Também por exigência do Reino, foi levado a constituir, sobre novas bases, uma comunidade cujo relacionamento interpessoal deveria ter a profundidade do relacionamento familiar. A comunidade do Reino, cuja característica são os laços fraternos que unem seus membros. Nesta perspectiva, fica em segundo plano a consanguinidade. Doravante, ser mãe ou irmão de sangue não tem importância. O critério de pertença à família do Reino consiste em submeter-se à vontade do Pai, sendo-lhe obediente em tudo. Importa mostrar, com ações concretas, esta submissão. Aí o agir do discípulo identifica-se com o agir do Mestre, a ponto de Jesus poder considera-lo como irmão: a vontade do Pai é o imperativo na vida de ambos. Assim, a ligação entre Jesus e os seus discípulos era muito mais profunda do que a sua convivência física com eles. Havia algo de superior que os unia, sem estar na dependência de elementos conjunturais, quais sejam, a pertença a uma determinada família, raça ou cultura. Basta alguém viver um projeto de vida fundado na vontade do Pai, para que Jesus o reconheça como pertencente à sua família. Para ele, estes são seus irmãos, suas irmãs, suas mães. São irrelevantes outros títulos de relação com Jesus, quando falta este pré-requisito. – Espírito de adesão à vontade do Pai, faze-me sentir sempre mais membro da família do Reino, levando-me à perfeita submissão ao querer divino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de julho de 2022

(Mq 6,1-4.6-8; Sl 49[50]; Mt 12,38-42) 

16ª Semana do Tempo Comum.

“Alguns mestres da Lei e fariseus disseram a Jesus: ‘Mestre, queremos ver um sinal realizado por ti’” Mt 12,38.

“Os judeus pediam a Jesus ‘um sinal’... como se ele lhes tivesse dado poucos, como se os que lhes tinha dado não tivessem sido suficientemente convincentes. Pediam um milagre, algo extraordinário, fora do comum, algo que golpeasse a imaginação e os sentidos, algo exterior e estupendo. Pediam um prodígio que justificasse e exprimisse a autoridade com a qual falava e procedia. Queriam alguma manifestação extraordinária e sensacional. Também o homem de hoje sente-se insuficiente com o que lhe é dado e pede mais, e pede outras coisas. E isso pode ser porque está totalmente fora de foco em relação ao que pretende, mas também poderia dever-se a que o que lhe foi dado até o presente atualmente não se lhe mostra convincente, porque não corresponde à problemática do mundo e do homem de hoje. Daí que o cristão da atualidade deve estudar mais atentamente se nessa exigência do mundo atual se encontra um questionamento legítimo e uma exigência à qual tenha pleno direito. Não se pedirão milagres raros e notáveis, mas se pedirá sim o milagre da vida de testemunho de uma fé comprometida com o homem e com o mundo. Com efeito, aos antigos judeus, Jesus não quis dar outra prova senão a de Jonas, isto é, sua própria ressurreição. E essa ressurreição seria verdadeira prova divina que o homem não poderá deturpar nem imitar. E, ao mundo de hoje, Jesus não quer dar outra prova a não ser a prova que ele ressuscitou e que, consequentemente, está vivo e vivificante em cada um dos cristãos. Daí que é o próprio Jesus quem insiste continuamente a que deem ao mundo não-crente a prova que ele ressuscitou e que vive nele por eles. É a comunidade cristã e religiosa que deve proclamar ao mundo: esta vida que temos, esta oferenda que fazemos de nossa vida não seriam possíveis se Cristo não vivesse em nós: se vocês virem nossa vida, aceitem o Cristo que é quem justifica e lhes dá razão de ser” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

16º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,1-10; Sl 14[15]; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42)

1. Não é difícil reconhecer-nos em Marta que se preocupa e se agita por muitas coisas. Quem sabe, podemos até rir de Maria, que, segundo nós, escolheu a parte mais cômoda. Mas segundo Jesus, aquela é a parte melhor. Ou seja, a parte da escuta, da contemplação, da adoração, do maravilhar-se.

2. A vida cristã vive cotidianamente esse paradoxo, duas exigências, a princípio, contraditórias: antecipar-se naquilo que é necessário e ao mesmo tempo ser sinal de que é preciso ir devagar. Mas ao nosso redor, o mundo segue sempre mais veloz em muitas áreas.

3. Não é difícil perceber que tudo isso nem sempre nos faz melhores ou dá qualidade à nossa existência. É quase impossível não lembrar a crítica de Chaplin no seu filme ‘Tempos Modernos’, de 1936. Tão antigo e tão atual.

4. Na pressa em que muitas vezes vivemos, algumas coisas vão esquecidas. Correr, nem sempre quer dizer crescer. O verdadeiro progresso não consiste em andar mais rápido, mas no desenvolvimento harmonioso da pessoa, entre as pessoas e da pessoa com a natureza.

5. Às vezes a pressa é tanta que deixamos para trás o nosso espírito, ou seja, corremos o risco de perder a nós mesmos, a nossa identidade. Nos tornamos incapazes de silenciar, de maravilhar-se, de apreciar, de rezar. Quando sufocamos o nosso espírito isso gera um desequilíbrio que tentamos compensar no álcool e outras ‘drogas’.

6. O aumento do conhecimento só é útil quando vem acompanhado de um aumento de consciência. O aumento do poder se torna um perigo quando não vem acompanhado de sabedoria. O progresso técnico pode se traduzir num gritante falimento se não reencontra uma autêntica dimensão humana.

7. Muitas coisas nos empobrecem. Por isso vivemos uma crise de significado, sem nos darmos conta de que precisamos saber reduzir o ritmo, parar. Mesmo essas viagens organizadas terminam por transportar as pessoas quase como bagagens, no maior número de lugares possíveis, na maior rapidez possível e por breve tempo.

8. Tudo muito programado, roubando o tempo de parar, admirar, contemplar. Parece que a gente só consegue se admirar com fatos de proporções gigantescas, e mesmo assim, esse fato excepcional vem absorvido pela indiferença ou anulado pelo próximo acontecimento.

9. Sem a capacidade de admiração, desse maravilha-se, de apreciação, o mundo vai perdendo seu encanto, a vida vai perdendo seu sentido.

10. O Senhor nos pede ou nos lembra, de parar um instante. A parte melhor não é aquela que multiplica coisas, atividades. A parte melhor é aquela que se dá conta da Sua presença. E assim o silêncio se torna mais eloquente que todas as palavras.    

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de julho de 2022

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 

Nossa Senhora do Carmo.

“Jesus perguntou àquele que tinha falado: ‘Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos?’” Mt 12,48.

“Santo Agostinho no seu discurso (XXV,7-8) colhe de forma perspicaz os dois aspectos da fé da Mãe do Senhor e da fé que os fiéis de Cristo hão de viver se quiserem tornar-se seus irmãos. Eis suas palavras: ‘Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, a qual acreditou em virtude da fé, concebeu em virtude da fé, foi eleita como aquela da qual haveria de nascer o nosso salvador entre os homens, foi criada por Cristo, antes que Cristo fosse criado nela? Maria Santíssima fez certamente a vontade do Pai e por isso conta mais para Maria ter sido discípula de Cristo que ter sido a mãe de Cristo.... E quando Jesus diz ‘irmãos e irmãs’, é claro que quer falar de uma só e mesma herança. Por isso, Cristo, embora sendo único, na sua misericórdia, não quis ser só, mas fez de modo que fôssemos herdeiros do Pai e seus co-herdeiros na sua própria herança’” (Gianfranco Ravasi – Os Rostos de Maria – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite                

Sexta, 15 de julho de 2022

(Is 38,1-6.21-22.7-8; Sl Is 38; Mt 12,1-8) 

15ª Semana do Tempo Comum.

“Se tivésseis compreendido o que significa: ‘Quero a misericórdia e não o sacrifício’,

não teríeis condenado os inocentes” Mt 12,7.

“Famintos, os discípulos de Cristo, passando perto de umas plantações de milho, arrancaram suas espigas, a fim de comê-las. Os fariseus, que se apresentavam como integérrimos defensores da lei, ficaram incomodados com a atitude dos discípulos, uma vez que era dia de sábado e, sendo dia de sábado, não deveriam partir para este tipo de operação. Queixam-se do gesto ‘criminoso’ a Jesus que, então, os repreende, dizendo-lhes estarem eles condenando quem não tinha culpa. As palavras reprobatórias de Cristo, aos fariseus, se constituem, igualmente, numa espécie de condenação a todos aqueles que não sabem catalogar as coisas, de acordo com o seu grau de importância. E chegam ao absurdo de achar que mais vale o cumprimento cego de uma lei que a defesa da sobrevivência de um ser humano. Estas palavras de Jesus se constituem uma condenação à atitude tacanha dos fariseus que, incapazes de perceber que a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei, preferem ver uma pessoa definhar de fome a violar um dispositivo legal, cuja transgressão não acarretaria males maiores.  As palavras de Jesus foram, ontem, uma condenação aos ‘zeladores’, aos ‘guardiões’ da lei, como ainda hoje também o são, a quantos, possuidores de mentalidade estreita, como a deles, dão maior valor ao jardim que ao jardineiro, ao prédio da escola que ao estudante, ao fogão que à cozinheira, ao Estado que ao homem, mesmo sabendo ter existido este, antes daquele. Aquilo que para nós está sendo prioritário merece mesmo a prioridade que lhe estamos dando? – Senhor, premiai-nos com a graça de, aos construirmos, todos os dias, a escada da vida, sabermos acertar na escolha de cada um dos seus degraus. Amém” (José Gilberto de Luna – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de julho de 2022

(Is 26,7-9.12.16-18; Sl 101[102]; Mt 11,28-30) 

15ª Semana do Tempo Comum.

“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso”

Mt 11,28.

“O Senhor não poderia ter pronunciado palavras mais encorajadoras e que maior confiança nos dessem; palavras que ressoarão em nosso coração cada vez que a aflição e a dor nos atacarem. Jesus chama para si e convida a todos aqueles que se encontram oprimidos por alguma preocupação, aos que sofrem qualquer dor e miséria e a todos promete consolo e alívio. Em sua companhia e em seu trato encontrarão a paz para a alma e o alívio para todos os sofrimentos. Belo texto este do evangelho, não só para nossa meditação, mas sobretudo para nossa vida. Às vezes o peso da vida, com suas várias circunstâncias, pode tornar-se difícil e penoso; o cumprimento do dever, com muita frequência, é duro e árduo. O Senhor também permite, com alguma frequência, que até os mesmos que nos rodeiam, talvez ainda que involuntariamente e com a melhor boa vontade, nos façam sofrer, produzam um vazio à nossa volta, esqueçam nosso atuar, suspeitem em suas intenções coisas que nunca passaram sequer por nossa cabeça.... Em circunstâncias tais ou parecidas, o recurso ao coração de Cristo é o lenitivo mais eficaz e seguro; nele encontramos paz e alívio, suavidade e calor de compreensão e afeto” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de julho de 2022

(Is 10,5-7.13-16; Sl 93[94]; Mt 11,25-27) 

15ª Semana do Tempo Comum.

“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” Mt 11,25b.

“A oração de Jesus resulta de uma experiência vivida no seu ministério. Enquanto os líderes religiosos do povo resistiam em aceita-lo e converter-se ao Reino, o povo simples e inculto mostrava-se receptivo diante de sua mensagem, deixando-se tocar por ela. O fracasso junto aos sábios e doutores era, pois, compensado pelo êxito junto aos pequeninos. Refletindo sobre este episódio, Jesus detecta a ação do Pai no coração de quem é tido como incapaz de penetrar nas profundezas do saber teológico. Evidentemente, o saber revelado pelo Pai aos pequeninos não é de caráter intelectual. Pouca serventia teria para eles um saber que leva ao orgulho e à arrogância. Esses carecem de um saber existencial, que lhes toque o fundo do coração, predispondo-o para assimilar a sabedoria do Reino. Esta, sim, pode trazer a salvação, por gerar solidariedade, partilha, reconciliação, vida em comunhão. A sabedoria revelada por Deus leva os pequeninos a se reconhecerem todos como irmãs e irmãos, convocados pelo Pai para viverem o amor. Quem adquire este tipo de sabedoria, coloca-se no caminho da salvação, o caminho de Deus. Quanto aos sábios, a autossuficiência impede-os de entrar numa dinâmica de amor-comunhão, por recusarem a se colocar no mesmo nível dos demais. Instruídos por si mesmos, estão fadados a cultivar uma sabedoria puramente humana, ineficaz em termos de salvação. – Espírito de revelação, liberta meu coração da arrogância que me impede de captar a revelação transformadora do Pai aos pequeninos” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de julho de 2022

(Is 7,1-9; Sl 47[48]; Mt 11,20-24) 

15ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres,

porque não se tinham convertido” Mt 11,20.

“Dois grupos de três cidades: por um lado, três cidades da Palestina, Corozaim, Betsaida, Cafarnaum; por outro lado, três cidades que não eram consideradas integrantes do povo de Deus: Tiro, Sídon e Sodoma. Os ouvintes de Jesus conheciam muito bem tanto a situação de umas quanto a das outras; sabiam que as segundas eram consideradas historicamente más, tanto pelos costumes depravados, quanto pelo materialismo devido à sua prosperidade econômica; ao passo que as três primeiras tinham sido percorridas frequentemente pelo Mestre nazareno, pregando a boa nova, ensinando a nova doutrina evangélica, curando doentes, ressuscitando mortos e perdoando os pecadores. Esse era o quadro histórico no qual Jesus se firmou para explanar sua censura. Com efeito, Jesus ‘começou a censurar as cidades... por terem recusado arrepender-se’. A expressão ‘maldizer’ é forte; porém, a realidade é grave: censurou, repreendeu, increpou os habitantes daquelas cidades, porque não se tinham convertido, porque nessas cidades, à vista de seus moradores, o Senhor tinha feito seus milagres tinha-lhes ensinado sua maravilhosa doutrina e, no entanto, eles não tinham feito penitência, não se haviam convertido e não tinham aceitado o reino de Deus, tema central da pregação do Mestre. O Senhor toma como ponto de reflexão os habitantes das cidades que vivem no luxo, na prosperidade material, nas excessivas comodidades, que os afastam do espírito do evangelho, que é espírito de austeridade; o Senhor não recrimina o fato de que se mora na cidade. Sempre dentro desta reflexão, não poderei permitir que o fato de integrar uma sociedade ‘desenvolvida’ apague no meu espírito o desejo de viver em conformidade com as exigências do evangelho e mesmo com as obrigações testemunhais que a minha consagração ao Senhor impõe. Aquelas pessoas não se converteram... e isso indignou o Senhor; mas o que levou o Senhor a censurar-lhe a dureza de coração foi o fato de eles terem sido objeto de sua missão apostólica e neles haver ressoado a palavra de Deus, testemunhada até com milagres. Nós nos encontramos em circunstâncias idênticas, agravantes de nossa falta de conversão verdadeira; fomos objetos da predileção do Senhor, que nos distinguiu com a abundância de suas graças e quis que seu Espírito descesse sobre nossa mente. Devemos examinar se verdadeiramente somos o que parecemos e parecemos o que na realidade somos. Não aconteça que no dia do Juízo sejamos tratados com maior rigor, graças à nossa maior responsabilidade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de julho de 2022

(Is 1,10-17; Sl 49[50]; Mt 10,34-11,1) 

15ª Semana do Tempo Comum.

“Quem procura conservar a sua vida vai perde-la. E quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la”

Mt 10,39.

“Perder e ganhar é um dilema constante da vida humana. Todos os dias perdemos e ganhamos algo. Nosso time preferido ganha e perde. Há, no entanto, uma perda irreparável – a vida eterna. Não há preocupação geral sobre o assunto e, provavelmente, muitos não estão demonstrando tanto interesse por ele. Quando a ignorância predomina prevalece a liberdade e o desinteresse pelos assuntos religiosos. Procurar a vida no mundo é não se importar com as coisas de Deus. É viver a presente vida centrada nos interesses pessoais. Fácil entender que, concentrando-se em demasia, olhando e vivendo as coisas aqui de baixo, perde-se, inegavelmente, as regalias de cima. Perder a vida não significa viver totalmente `a parte de tudo que aqui está, mas deixar Cristo ser o centro de tudo. Por causa de Cristo perde-se vantagens pessoais, algumas festas, prazeres espúrios, investimentos inadequados e tantas outras coisas ilegais e contrárias à vontade do Pai. De certa forma é uma troca. Não perco algo que julgo importante, porém troco o ruim pelo melhor. Viver o Cristo não é, necessariamente, viver uma vida ascética e longe da sociedade, mas encontrar sentido e razão para cada ato no viver. O amor de Cristo é atrativo. Não tem lero-lero nem gingado sensual. É verdadeiro e sincero. É sacrifício e bondade. É ternura e alegria. É justiça e fé. É esperança e sabedoria. É tudo de melhor que precisamos para viver uma vida digna e respeitosa. É também graça divina. Garante o céu. Por que perder o melhor? Se levarmos em conta aquilo que Cristo fez pela humanidade haveremos de dar créditos maiores ao seu sacrifício e morte. Crer nele é o começo da vida. Agarre a vida e emprenha-te por alcança-la. – Senhor! Neste perde e ganha da vida aprendemos contigo a focar mais as coisas espirituais. Queremos a vida com tua presença. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

15º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37)

1. “E quem é o meu próximo?” Pergunta o doutor da Lei. Uma questão que nos desafia. Ele não pergunta “quem é Deus?”. Em seu mundo invisível, Deus está bem, conta com suas orações, suas práticas e observâncias da Lei. Tem com Ele um ótimo relacionamento. Deus não é o problema.

2. O problema é aquele que se vê, se sente, se toca, se encontra, que nos embrulha o estômago. Que é mais difícil de amar. Os estudiosos da Lei seguiam discutindo sobre essa ideia do próximo entre um universalismo abstrato que dizia para amar a todos e um particularismo exclusivista e discriminatório (os da mesma nação, os bons, os justos...).

3. Se intuía que ‘amar a todos’ poderia levar a não amar a ninguém. E amar uma categoria, um grupo, excluía os outros, o que não seria amar de fato. Mas vejamos as duas posições em nosso texto.

4. O escriba quer uma definição de ‘próximo’, segura, precisa definitiva, para estar bem com sua consciência. Pensa primeiramente em si. Quer garantir a vida eterna, certamente com um mínimo de esforço e o máximo de certeza. Até onde devo ir? A que sou obrigado? Onde e quando termina o meu dever?

5. Jesus evita fornecer uma definição. Porque a definição sempre deixa de fora alguma coisa ou alguém. Prefere deixar a porta aberta. Mais que deixar a consciência tranquila, Jesus quer deixa-la inquieta, insatisfeita. Faz entender que o próximo não é um objeto, mas o encontro entre duas pessoas.

6. Não é alguém que se encontra pronto, definido por um ato de piedade ou por uma esmola oferecida, mas de fazer-se próximo, avizinhar-se, porque o próximo é sempre distante. Distante da estrada dos nossos interesses, simpatias, gostos, ideias, programas.

7. O próximo é distante: antipático, maldoso, prepotente, indiscreto. Ele não vem ao nosso encontro, não favorece o contato, não se faz amável. Ao contrário, parece que faz de tudo para tornar difícil o mandamento do amor. Ele é distante. Difícil de ver, de aceitar, de suportar.

8. Ele só se torna próximo, vizinho, se nos aproximarmos. Não o escolhemos, mas ele nos escolhe, nos provoca. Está para além de nossas definições, classificações, gostos e definições. Temos uma resistência terrível a vencer para aproximar-nos do ‘próximo’. Amar, pode se dizer, que é eliminar distâncias. Algo mais interior que físico.

9. A parábola de Jesus fala de encontro entre duas pessoas. Não se trata de um samaritano e um judeu. Duas pessoas que se desfazem de seus papéis, de suas máscaras, de suas raças. Somente duas pessoas. O samaritano não pergunta sobre sua religião, seu partido. Ele tem diante de si simplesmente alguém que se encontra em necessidade.

10. A aproximação é determinada deste simples contato: um ser humano. Sem adjetivo, sem títulos. Seu único título é a necessidade. Assim Jesus faz ver ao escriba que o seu ponto de vista estava errado. Ele partia de si mesmo, quando na realidade deveria partir do outro, das suas necessidades.

11. Para Jesus, o preceito de amar não tolera limites restritivos e seguranças. A questão não é: ‘até que ponto sou obrigado?’ Mas ‘que coisa espera de mim esse pobre?’ Do meu ponto de vista, levantam-se barreiras. Do ponto de vista do outro, horizontes sem limites se abrem.

12. O objetivo da parábola é ensinar-nos a justa perspectiva e não uma questão linguística. Ela nos leva a olhar, julgar, definir, partindo daquele ‘que caiu nas mãos dos assaltantes’. O problema principal não é a ‘vida eterna’, mas o sujeito ferido. Resolvendo esse, se resolve o outro. O amor é movimento e ação: vá e faça.

13. O escriba queria saber, e por fim encontra algo que ‘fazer’. Ou seja, o Cristo exige dele, de nós, um saber ‘diferente’. Um saber para amar.    

 Pe. João Bosco Vieira Leite