Sexta, 31 de janeiro de 2020


(2Sm 11,1-10.13-17; Sl 50[51]; Mc 4,26-34) 
3ª Semana do Tempo comum.

“Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo,
mas ele não sabe como isso acontece” Mc 4,27.

“Jesus está se referindo ao Reino dos Céus que, aqui, vem comparado a um homem ‘que joga a semente na terra’ e se vai. Esta, garante Jesus, a faz germinar e crescer por si mesma, ‘sem que saiba como’. Assim, o Reino de Deus dará ‘talo, grão, espiga’ pela força de Deus, mesmo que o homem não o queira. Os desígnios de Deus, assevera Cristo, se cumprirão 'de dia e de noite’ e as sementes de sua graça germinarão e crescerão infalivelmente. Que é, pois, o ser humano dentro do Reino dos Céus e dos projetos de Deus? Nós somos apenas instrumentos e servos deste eterno projeto, grande demais para nossas pequenas mãos, sempre fascinante, no entanto, para os sonhos de nossa fé e coração. Não somos, por isto, os últimos responsáveis pela vitória final. Somos chamados, é verdade, para testemunhar o Reino, pregar o Evangelho, anunciar a graça, mas nem a graça é nossa, nem a verdade do Evangelho nos pertence. Tudo é de Deus que, em seus misteriosos desígnios, joga a semente a seu bel-prazer, em todos os campos, dentro e fora de nossas igrejas, e se compraz em vê-la crescer, mesmo quando o homem se vai. E como cresce esta semente, devemos admiti-lo em nossa humana presunção, em terrenos que nos pareceriam impróprios para uma rica semeadura! Para a graça de Deus, no entanto, nada é impróprio, a não ser que não nos abramos a Ele. Isto leva a nós, cristãos, a interrogar-nos sobre o como de nosso trabalho missionário e, principalmente, sobre nossas atitudes interiores ao pregarmos e testemunharmos o Evangelho de Jesus. Como o fazemos e o que nos motiva? Será a beleza da mensagem, a fecundidade da graça, o sangue do nosso Redentor? Ou nossas vaidades, nossa soberba, nossas preocupações estreitamente religiosas? O que importa essencialmente é a semente de Deus. Nosso trabalho é importante, mas sempre secundário. – Senhor Deus, grande e bom, muito obrigado porque somos mensageiros do Evangelho de Jesus. Perdoai nossas presunções e dai-nos a alegria do semeador que planta e se vai. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 30 de janeiro de 2020


(2Sm 7,18-19.24-29; Sl 131[132]; Mc 4,21-25) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus dizia ainda: ‘Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes,
também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais’” Mc 4,24.

“Toda a Bíblia esta permeada deste princípio espiritual: seremos tratados como tratamos os outros. Muitas vezes as pessoas têm a tendência ao julgamento pelo fato único de se sentirem mal consigo mesmas, sentirem-se culpadas, e aí se lançam ferozmente contra o outro. Culpa! Não se deixe levar pela culpa! Deus não culpa ninguém. Perdoe-se e perdoe o próximo e você será livre, curado, restaurado e feliz. Haja o que houver, no presente, no passado e no futuro, afirme sempre o perdão a si mesmo e aos outros, pense sempre no perdão e receba-o de coração em sua vida. Você merece ser feliz! Você já é perdoado! Todas as batalhas da vida são travadas em nossas mentes. Por isso, alguém disse certa vez: ‘Sua vida só muda quando seus pensamentos mudam’. Essa é a mais pura verdade. Se medirmos (e o fazemos mentalmente) o próximo com pensamentos de bondade, amor, respeito, caridade, paciência e perdão receberemos de Deus e dos outros o mesmo tratamento, mas se optarmos por medir os irmãos com dureza, egoísmo, falso moralismo, inclemência, também receberemos o mesmo. A escolha é sempre nossa. Por isso, o nosso desafio, nesse dia, é olhar a todos com bondade. – ‘Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te saúde, força, paz e sabedoria. Quero olhar hoje o mundo com olhos cheios de amor, ser paciente, compreensivo, manso e prudente. Ver, além das aparências, teus filhos como Tu mesmo os vês, e assim não ver senão o bem em cada um. Cerra meus ouvidos a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade. Que só de bênçãos se encha meu espírito. Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos quantos chegarem a mim sintam a tua presença. Senhor, reveste-me de tua beleza. E que, no decurso deste dia, eu te revele a todos. Amém!’ (Autor desconhecido)” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 29 de janeiro de 2020


(2Sm 7,4-17; Sl 88[89]; Mc 4,1-20) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galileia. [...]
Jesus ensinava-lhes muitas coisas em parábolas” Mc 4,1a.2a.

“Marcos faz Jesus interromper suas atividades para dar lugar a um longo discurso. Na primeira parte do evangelho, durante a atuação de Jesus na Galileia, Jesus explica por meio de três parábolas qual deve ser sua atividade. Na terceira parte, que descreve a estada em Jerusalém, num segundo grande discurso Jesus fala do fim dos tempos e daquilo que haverá de acontecer no mundo a partir de sua morte na cruz e em consequência dessa morte e de sua ressurreição, ou seja, como o mundo haverá de chegar ao fim por sua intervenção. No capítulo quatro, o tema central é a atuação de Jesus, que inclui suas obras poderosas e a proclamação da palavra. Jesus está a serviço de Deus lançando a semente divina para que esta brote no coração dos homens. Jesus explica a chegada do Reino: este virá por meio do próprio Jesus, por meio de suas obras e da palavra semeada por ele. Mas sua palavra não encontra terreno fértil em todas as pessoas. Ela cai no caminho, cai em solo pedregoso e entre os espinhos. Mas quando cai em terra boa produz muitos frutos. O próprio Jesus explica a seus discípulos porque fala em parábolas (4,10-12). O Reino de Deus só pode ser entendido pelos homens aos quais foi confiado o mistério do Reino. Os discípulos se tornam iniciados no mistério de Deus. Para os outros, ‘os de fora’, as parábolas guardam um caráter enigmático. Hoje, essa afirmação nos parece estranha. Mas é dessa maneira que Marcos justifica o número reduzido de pessoas que acreditam em sua mensagem. Tudo permanece enigmático para aqueles que não adotaram o caminho proposto por Jesus. É uma palavra consoladora para nós que vivemos hoje. Muitos cristãos sofrem com o fato de serem tão poucos os que se abrem à mensagem de Jesus. Quem está do lado de fora, quem não entrou no Reino de Deus, quem não está em contato com seu mundo interior, com sua alma, não pode entender as palavras de Jesus. Elas continuam enigmáticas até que Deus mesmo toque o coração do indivíduo para abri-lo ao mistério de sua palavra” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de janeiro de 2020


(2Sm 6,12-15.17-19; Sl 23[24]; Mc 3,31-35) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” Mc 3,31-35.

“Jesus é Deus encarnado entre nós. Segui-lo significa fazer uma escolha pessoal por Deus que exige tomada de posicionamentos e direções diferentes em relação à sua família de sangue. Optar por Jesus é ter coragem de fazer a vontade de Deus. E isto significa ver como Jesus age em relação àquilo que ele recebeu do Pai. Fazer escolha por Jesus como o centro de nosso comportamento é ter um projeto de vida que norteie o que somos e o que fazemos. Há uma diferença nos laços que unem as pessoas. Existem os laços de sangue, os laços surgidos pela fé, entre tantos outros. Os que desejam fazer a vontade de Deus formam uma família. Não mais unida pelos laços de sangue, mas pelas expressões da fé. Aquilo que identifica aqueles que fazem a vontade de Deus não é algo externo, mas é o amor que lança as pessoas ao encontro das outras. Fazer a vontade de Deus não é simplesmente ser uma pessoa religiosa de práticas externas. Essas poderão ajudar, mas não é o essencial. O essencial é aquilo que Jesus nos propõe no Sermão da Montanha (cf. Mt 5—7). Na profecia de Isaías (58,7) lemos: ‘Não desatenda à carne de seu irmão’. Esse texto está relacionado com o texto do Juízo Final em Mt 25,31-46. Daí se percebe que na fé cristã é compromisso com o corpo. Não basta que enviemos doações para as instituições que trabalham com os pobres para desencargo de consciência. Essa atitude ajuda, mas não exime da obrigação de estabelecer contato com a pessoa necessitada... O pobre não tem que ser um eterno marginalizado. Ele tem que progredir. A tarefa de quem deseja fazer a vontade de Deus é a de integrar os mais empobrecidos na comunidade (Papa Francisco). – Ó Jesus, homem e Deus verdadeiro, ensina-nos a acolher as pessoas a partir de sua dignidade e não pelas etiquetas sociais. Amém! (Gilberto Orácio Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de janeiro de 2020


(2Sm 5,1-7.10; Sl 88[89]; Mc 3,22-30) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será culpado de um pecado eterno”
Mc 3,29.

“Conheço muitas pessoas que vivem preocupadas com essa advertência que fala do pecado contra o Espírito Santo. Elas se perguntam se seus próprios pecados não poderiam ser também pecados contra o Espírito Santo, o que os classificaria como pecados imperdoáveis, mas Jesus não está falando genericamente. Ele quer caracterizar um procedimento bem determinado: a recusa de envolver-se com a mensagem de Deus, apesar de saber em seu íntimo que ela está certa. E mais: tachar coisas santas falsamente de demoníacas, demonizando aquele que, em nome de Deus, pretende tocar os corações. Nossos pecados do dia-a-dia não são pecados contra o Espírito Santo, são pecados de fraqueza e de covardia. O pecado contra o Espírito Santo é a perversão consciente de uma coisa santa em seu contrário” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Tempo Comum – Ano A


(Is 8,,23b--9,3; Sl 26[27]; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4.12-23).

1. Estamos ao início da missão de Jesus e o evangelho nos traz algumas informações. Primeiro nos diz da morte de João Batista em seu compromisso com a verdade, com aquilo que é justo; este fato, mais que uma mera informação, aponta para o futuro do próprio Jesus em seu ministério.

2. Mateus nos diz que Jesus volta para a Galileia e cita o profeta Isaias, que ouvimos na 1ª leitura. Jesus é a luz que vai iluminar essa sombria região da Palestina que foi invadida em 732 pela assíria e para lá transferiu povos pagãos de outros credos e culturas, daí entendermos o preconceito para com essa região.

3. O fato de Jesus iniciar a sua pregação nessa região torna-se uma surpresa e também um escândalo os leitores, por isso Mateus tenta justificar e iluminar citando o profeta.

4. Jesus rompe a escuridão daquela região num convite à conversão. Deus mesmo toma a iniciativa de percorrer essas estradas e visitar esses que se encontram nas trevas, e é dessa alegria da inciativa divina que nos fala o profeta. Antes mesmo que nos interessemos por Ele, Ele vem a nós.

5. E para deixar ainda mais visível essa iniciativa divina, Mateus nos fala desse convite personalizado que faz a Simão e André, a Tiago e João, que deixam tudo de modo imediato para segui-lo. Um convite que parte da realidade imediata em que se encontram, do seu trabalho.

6. Talvez pudéssemos esperar que tal chamado se desse no Templo ou na sinagoga, ou mesmo depois que aprendêssemos alguma coisa especifica da fé. Deus nos chama a partir do nosso espaço existencial e partilha conosco a Sua vida.

7. O chamado é para o seguimento, desse colocar-se atrás, como a recordar que seremos sempre discípulos, só Ele é o Mestre. É importante que nos coloquemos a caminho com Ele, até o momento em que Ele mesmo nos enviar pelas as estradas da vida.

8. Continuando a nossa leitura da Carta aos Coríntios, Paulo nos lembra que independente de quem tenha nos introduzido na vivência da fé, seremos sempre discípulos de Jesus Cristo, pois nele não há divisão nem decepções do humano em sua fragilidade.

9. “Carl Gustav Jung, um dos pais da psicanálise, mandou esculpir sobre a porta da sua casa, em Kusnacht, na Suíça, esta frase: ‘Chamados ou não chamados, Deus está sempre presente’. Nunca se vai embora. Fica sempre por perto, à espera de nos abraçar” (D. António Couto – Quando Ele nos abres as Escrituras). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de janeiro de 2020


(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) 
Conversão de São Paulo.

“Ele então disse: ‘O Deus de nossos antepassados escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires a sua própria voz’” At 22,14.

“Existem dois aspectos neste versículo que parece nos saltar aos olhos: o ato de experimentar Deus e o ato de transmiti-lo. Experimentar Deus requer silêncio e observação do que ele fez e faz na nossa vida. E isso, a partir dos tempos passados, com nossos pais e pessoas mais idosas. Olhar para trás e perceber Deus agindo refaz nossa fé e fortalece nossas opções em relação à experiência do Altíssimo. O outro aspecto é a transmissão dessa experiência. Para que conhecer a vontade de Deus, ver Jesus agindo e ouvir sua voz, se não implicar um testemunho autêntico de vida? As palavras de Ananias para Paulo ecoam também para nós de forma questionadora: O que sabemos sobre a vontade de Deus a nosso respeito e a respeito de nossas comunidades? Temos exercitado momentos de silêncio para escutar Deus? O nosso compromisso cristão é exigido quando estamos no trabalho, no esporte, na escola, nas rodas de conversa, na rua, num lugar com pessoas desconhecidas... a nossa fé é provada, inicialmente, na nossa família quando nossa relação de cuidado é testada. Cuidado com as crianças, com os idosos, com os doentes, paciência com quem nos faz a mesma pergunta várias vezes ou nos conta a mesma história diversas vezes. Sempre que fazemos uma experiência com Deus que nos marca, ela se torna um alicerce para a superação de obstáculos que até certo momento desconhecíamos. A experiência com o nosso Deus ilumina a escuridão de nossa vida, possibilitando-nos ações que sem essa fé não seríamos capazes de suportar. Ele nos prepara, alimentando nossa fé e nos capacitando para as lutas que teremos que travar no cotidiano. – Jesus, filho do Deus Vivo. Obrigado por te revelares a nós por meio de pessoas que muitas vezes nem conhecemos. Obrigado pelo seu testemunho. Amém! (Gilberto Orácio Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de janeiro de 2020


(1Sm 24,3-21; Sl 56[57]; Mc 3,13-19) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus designou doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar” Mc 3,14.

“Ser discípulo de Cristo e viver em sua companhia é a suprema glória que um mortal possa aspirar. Já seria muita honra servir a um rei deste mundo ou ser convidado por uma alta autoridade eclesiástica para ser seu comensal e participar de alguma missão religiosa. Imaginemos o que não significa, então, ser discípulo daquele que se apresentou como o Filho do Homem e de Deus, servindo sob seu comando e abraçando seu destino e missão? Foi para eles que os doze discípulos foram escolhidos, com a graça suplementar de viver em sua companhia. Ninguém de nós se consideraria digno de tal chamamento, e não o somos, em verdade. Mas a dignidade, que não é nossa, no-la é oferecida por quem no-lo chama. Ela nos é conferida por Cristo, ainda que nos consideremos pecadores e incapazes de corresponder a ela. Assim devem ter-se sentido os doze, gente simples e rústica, pescadores incultos e pecadores sinceros e sem hipocrisia. Somos até tentados, às vezes, a nos comparar com os primeiros apóstolos e, se caíssemos nesta tentação, talvez nos sentíssemos melhores que eles. Mas esta comparação seria falsa, além de inócua. Estaríamos, com isso, medindo apenas valores humanos, sempre relativos e até volúveis. Deus nos mede diferentemente. O metro é dele, como também sua graça e fortaleza. Qualquer pessoa pode ser discípula de Jesus, contanto que Deus a escolha e a envie a sua frente para pregar o seu Evangelho. Não coloquemos nossas qualidades como mérito em nosso favor. Antes, abramos o coração para a voz de Deus, aceitando-nos em nossa pobreza e confiando em sua graça. Só ela é salvadora. Nós somos apenas instrumentos em suas mãos onipotentes e misericordiosas. – Senhor Deus, bom e grande, aceita-nos como somos e modelai-nos como quiserdes. Somos pouco ou nada, mas estamos a vosso dispor. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de janeiro de 2020


(1Sm 18,6-9; 19,1-7; Sl 55[56]; Mc 3,7-12) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Jesus ordena severamente para não dizerem quem ele era” Mc 3,12.

“Quem é Jesus? Não ofendemos ninguém com a pergunta, pois supomos que todos vós sabeis atribuir a Jesus a definição que nos oferece o catecismo: é o Filho de Deus feito homem; e supomos que todos tendes d’Ele uma informação abundante, proporcionada pelas narrações evangélicas e pelas noções teológicas, bem como, eventualmente, por imagens devotas ou artísticas também. Tudo isto está muito bem, e pensamos que é normal em todos os que têm o nome de cristãos. Mas, a primeira nota característica e fundamental do nosso conhecimento de Jesus Cristo é a seguinte: o fato de, se verdadeiramente o conhecemos, advertimos que não o conhecemos suficientemente. O que sabemos d’Ele não tranquiliza a nossa necessidade, o nosso dever de um conhecimento inteligente, mas estimula, excita, inflama tanto aquela necessidade como aquele dever. Todos nos sentimos convidados, quase forçados, lógica e espiritualmente, a conhece-lo melhor, a formarmo-nos d’Ele um conceito mais claro, mais concreto, mais completo. E esta nova curiosidade não nos deixa em paz, apodera-se-nos do espírito com uma pergunta implacável: quem é Jesus? Assim se chega, irmãos e filhos caríssimos, a uma segunda observação relativa ao conhecimento do Senhor Jesus: este conhecimento é gradual. Não só se não confina a uma simples imagem sensível: um quadro, uma cena evangélica, uma narração biográfica...; mas, se realmente se encontra de algum modo impresso no nosso espírito, desperta o desejo de o identificar melhor, de o aprofundar, de lhe comprovar o significado e o conteúdo. Torna-se problema: afinal que é esse Jesus? ... Jesus é mistério. Não podermos nunca penetrá-lo suficientemente, nunca podermos compreendê-lo inteiramente. O nosso conhecimento d’Ele ao fim de tudo teve que traduzir-se na fé, isso é, num conhecimento super-racional; certíssimo, mas fundado em testemunhos que ultrapassam, parcialmente, a nossa possibilidade de verificação experimental. Estes testemunhos têm, contudo, em si mesmos, força de convicção, porque, no fundo, são divinos e por isso exigem de nós aquele modo expansivo de conhecer (com a mente e com o coração, sem se compreender tudo, porque neles é demasiado o que há de ser compreendido) o que, precisamente, chamamos de fé. Jesus deve ser estudado com toda a tensão da nossa capacidade compreensiva: e a capacidade de compreensão do amor ultrapassa a da mera inteligência. Foi assim para a Igreja: repensou, estudou, discutiu, contou com a luz do Espírito Santo; com uma preocupação prudentíssima e fidelíssima, prolongada por séculos, conseguiu formular a doutrina exata, mas sempre sem fronteira, sempre aberta, sobre o mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo: quem foi Ele, que fez Ele por nós; e depois, como Ele se nos dá e se nos dará” (Paulo VI – Conhecer Cristo – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de janeiro de 2020


(1Sm 17,32-33.37.40-51; Sl 143[144]; Mc 3,1-6) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“E perguntou-lhes: ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixa-la morrer?’ Mas eles nada disseram” Mc 3,4.

“Parece uma pergunta dura. Os fariseus só queriam ver respeitadas as ordens que vinham de Deus. Tinham tentado interpretá-las para o uso cotidiano. Mas com a pergunta que lhes dirige Jesus lhes mostra que a sua interpretação faz mal às pessoas, destruindo a vida delas. Quem dá mais importância à lei do que ao ser humano, quem coloca a norma acima da aflição do doente, pratica o mal. Num ambiente em que prevalece princípios e normas, o ser humano fica sem ar para respirar. Ele definha, sua vida é destruída. Quem se concentra apenas no cumprimento dos mandamentos acaba matando a sua alma. Em grego se usa nessa passagem o termo ‘psique’, que significa tanto alma quanto vida. A palavra se refere à pessoa, à vida pessoal. A pessoa morre quando se vê confinada entre normas rígidas. A alma não consegue mais respirar quando é sufocada pelos princípios. Ela precisa de asas, e não de um espartilho apertado que a comprime” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de janeiro de 2020


(1Sm 16,1-13; Sl 88[89]; Mc 2,23-28) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus lhes disse: ‘Por acaso, nunca leste o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidades e tiveram fome? Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus e os deu também aos companheiros?
No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães’” Mc 2,25-26.

“Jesus ainda parece estar com paciência com os fariseus e doutores da Lei, coisa que só virá a perder, bem mais tarde, quando derramará sobre eles seus sete ‘ais’. E, por isto, pacientemente, argumenta contra eles que reclamavam pelo fato de seus discípulos terem colhido espigas de trigo num sábado. Além de recrimina-los pela intolerância diante de pessoas famintas, afirma-se como senhor do sábado, isto é, faz-se Deus, a quem o sábado é consagrado. No fundo, o que interessava aos fariseus e seus asseclas era a intriga e não, propriamente, a observância do sábado. Por serem pequenos de coração e intolerantes de espírito, reclamavam dos outros as obediências absurdas, impondo-lhes obrigações que nem eles mesmos conseguiam observar. Por isto Jesus os enfrenta com argumentos que lhes eram próprios. Não diz: ‘Vocês deveriam ser mais amáveis com os outros’ ou ‘não sejam tão duros com as pessoas’, mas simplesmente lhes lembra o que o grande e inquestionado Rei Davi fizera, de forma ainda mais grave, comendo os pães da proposição e profanando, dentro da visão deles, o próprio Templo de Deus. Argumento por argumento, Cristo os vence, mas não é isto que Ele realmente quer. Deseja conquista-los para a Boa-Nova. Tê-lo-á conseguido? Sabemos, hoje, que não, porque o coração deles era mau e sua cerviz, dura. Talvez seria importante perguntar-nos, a nós que somos religiosos e tementes a Deus, como nos comportamos diante de nossos irmãos que não seguem as observâncias da nossa religião. Como agimos? Como fariseus intolerantes ou como Cristo, paciente e bondoso? – Senhor Deus, grande e bom, dai-nos um coração compreensivo e amigo às necessidades de nossos semelhantes. Que não os escandalizemos com nossas observâncias religiosas, mas os cativemos com nosso amor. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de janeiro de 2020

(1Sm 15,16-23; Sl 49[50]; Mc 2,18-22) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar”. Mc 2,19.

“Em muitas lendas, o casamento é a imagem da realização plena do indivíduo. Todos os antagonismos do ser humano se fundem: homem e mulher, céu e terra, luz e trevas. Assim, Jesus mostra, nessa imagem do casamento, o que ele entende por espiritualidade: esta não é, em primeiro lugar, o caminho da renúncia, e sim o caminho da integração. Ela tenta unir em si e em Deus o céu e a terra e todos os antagonismos da alma humana. Sua imagem de Deus e do homem é marcada pela alegria e confiança, pela disposição de comemorar com uma festa a dedicação de Deus e do ser humano. Essa comemoração não combina com o jejum. Os discípulos não jejuam porque experimentam a proximidade de Jesus como sendo a proximidade do noivo divino. Mas Jesus declara aos fariseus que os discípulos também deverão jejuar um dia, ou seja, quando ele lhes for tirado pela morte. Será então um jejum motivado pelo luto. Na Igreja primitiva, cedo passou a ser adotada a prática do jejum dos judeus. A diferença estava nos dias escolhidos para o jejum: as quartas e sextas-feiras. Pelo jejum, os primeiros cristãos se uniam àquele Jesus que supera o poder dos demônios com sua impotência, cujo caminho levou pela cruz à ressurreição. Nosso caminho espiritual inclui os dois aspectos: a festa da união com Deus, mas também o jejum que nos faz suportar os momentos de ausência de Deus, quando nosso caminho se transforma numa via-sacra em que nós também precisamos enfrentar as forças demoníacas que se opõem à nossa realização individual plena” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

2º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 49,3.5-6; 1Cor 1,1-3; Jo 1,29-34).

1. Nesse 2º domingo do Tempo Comum somos novamente acolhidos pela pessoa de João Batista que por sua vez nos apresenta Jesus, hoje sob a imagem do ‘Cordeiro de Deus’. A palavra ‘Cordeiro’ na língua aramaica, falada naquela época, significa também ‘servo’, ‘filho’ e ‘pão’. Sob esses significados se traça a identidade de Jesus.

2. Na preparação e compreensão desse nome novo dado pelo Batista, a liturgia nos traz o 2º Canto do Servo do Senhor’, aqui apresentado para o serviço exclusivo do Senhor num ministério que busca primeiramente reconduzir Israel para Deus, de quem se tinha afastado física e moralmente.

3. Mas irá não somente aos filhos de Abraão, deverá ir também aos filhos de Adão. É necessário que seja luz para as nações, como será Jesus para todos os seus escolhidos e enviados.

4. Nosso salmo retoma as disposições daquele que vem para fazer a vontade de Deus, cujo canto fazemos também nosso, na disposição de vivermos o nosso batismo conforme a liturgia do domingo anterior.

5. Paulo se apresenta, na 2ª leitura, com a disposição de também ser servo e luz para as nações. Assim chega a Corinto para acender nela a luz de Cristo e velar por essa luz. Esse é o princípio da Carta que acompanharemos nos próximos domingos.

6. João Batista, segundo o nosso evangelho está em Betânia, cujo nome significa ‘Casa de passagem’. Ele está na outra margem do Jordão. Dentro da proposta do 4º evangelho, ele se encontra num lugar de passagem, nesse limiar entre o Antigo e o Novo Testamento. E nós com ele acompanhamos e fazemos essa travessia.

7. João está como um guarda ou sentinela vigilante. Ele vê Jesus passar e vir ao seu encontro. A imagem reflete o Deus que vem ao nosso encontro, aqui apresentado como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Assim João nos faz essa rica apresentação de Jesus.

8. O Espírito de Deus entra na nossa história, descendo e permanecendo na humanidade de Jesus. A humanidade de Jesus é a porta por onde entra em nossa casa o Espírito de Deus. É esta novidade que, do seu posto de sentinela, João Batista está a ver e dela dá testemunho.

9. O Filho de Deus feito homem, sobre quem desce e permanece o Espírito de Deus, vem ao nosso encontro em Betânia, para nos conduzir nessa travessia, para além do Jordão, para entrarmos em nossa Casa, na Terra prometida. Ver e acolher a pessoa de Jesus salienta a nossa disposição de fazermos essa passagem.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de janeiro de 2020


(1Sm 9,1-4.17-19; 10,1; Sl 20[21]; Mc 2,13-17) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Tendo ouvido, Jesus respondeu-lhes: ‘Não são as pessoas sadias que precisam de médicos, mas os doentes. Eu não vim para chamar os justos, mas sim, pecadores’” Mc 2,17.

“Já visitei igrejas e comunidades de várias religiões e uma coisa que tem me incomodado é uma espécie de ‘sadomasoquismo teológico’. As pessoas adoram santificar e enfatizar o sofrimento, a pobreza, a tristeza, mas quando olho para o universo vejo Deus bem diferente disso. Já percebeu que tudo na natureza é abundância, beleza e felicidade? Se é assim, é porque o Criador desejou que assim o fosse. Então, se as coisas de Deus são abundantes, alegres e felizes, por que a religião enfatiza o sofrimento como se esse fosse meritório? Podemos viver em felicidade, podemos viver em abundância, por que enfatizar a tristeza se posso buscar e alcançar a vida plena? Como dizia Sandra de Sá: ‘Eu não tô aqui pra sofrer, vou sentir saudade pra que? Quero ser feliz, bye bye tristeza, não precisa chorar’. Os enfermos precisam de médico não para continuar enfermos, mas para se curarem e ter uma vida de saúde plena. Os pecadores precisam do Salvador não para permanecer na sua condição anterior de distância de Deus, mas para poder se aproximar dele pelos méritos de Cristo. Logo, o que Jesus quer não é o sofrimento, mas acabar com ele e trazer o benefício da abundância de vida a todos e todas (Jo 10,10). Se você semeou más sementes e colheu seus frutos, não se entregue a esta sorte. Mude agora mesmo as sementes, semeie o que é bom e o que é bom desintegrará os maus frutos anteriores e trará bons frutos de cura, paz, prosperidade, saúde e alegria. Sempre há esperança para o bem. Jesus veio salvar o que se havia perdido, resgatar o que estava longe, consolar o que chorava. A questão é: Nós queremos participar do projeto dele? Oramos com sinceridade ao dizer ‘venha a nós o vosso Reino’? Pensemos. – Deus de toda abundância, ajuda-nos a repartir a felicidade com todos, inclusive com aqueles que ainda não a encontraram. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 17 de janeiro de 2020


(1Sm 8,4-7.10-22; Sl 88[89]; Mc 2,1-12) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens” Mc 2,3.

“Alguns dias depois dessa cura [do leproso], Jesus retorna a Cafarnaum. É tanta gente que se junta para ouvir suas palavras que já não é possível passar pela porta. Chegam, então, quatro homens carregando um paralítico. Subindo no telhado, abrem um buraco no teto para baixar por ele o paralítico que jaz numa maca. Esta toca o chão precisamente diante dos pés de Jesus. Na minha infância já me senti fascinado por essa cena. Destroem a casa para que o paralítico possa ser curado. A multidão reunida não os impede de leva-lo até Jesus. Eles precisam chegar até ele, custe o que custar. Trata-se de um paralítico. Se perguntarmos o que significa paralisia para a nossa alma, encontraremos o medo como uma verdadeira causa de paralisia. O medo me paralisa, me bloqueia, me inibe. Sinto-me paralisado porque tenho medo de falar diante dos outros. É o medo de ser julgado pelos outros. Mas existem outros medos que têm efeito paralisante sobre mim: o medo diante de uma situação difícil, diante de um homem poderoso, diante de um perigo, e o medo diante da própria culpa, o medo de que a culpa seja descoberta” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 16 de janeiro de 2020


(1Sm 4,1-11; Sl 43[44]; Mc 1,40-45) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: ‘Se queres, tens o poder de curar-me’” Mc 1,40.

“Na época de Jesus, os leprosos eram excluídos da convivência humana. Eram obrigados a viver em colônias próprias. Eles são a imagem de homens que não ‘suportam’ nem a si próprios. Como não conseguem aceitar-se a si mesmos, sentem-se rejeitados, excluídos, marginalizados. Não se sentem bem nem entre os homens nem consigo próprios. É na pele que se pode ver se estamos bem ou não. A pele coberta de lepra significa que há muita coisa ruim em nós que não queremos aceitar. Aquilo que não aceitamos se manifesta na pele em forma de eczemas ou espinhas. Um homem desses, que não consegue amar-se e que se sente rejeitado pelos outros, aproxima-se de Jesus. Ele sente que não pode continuar vivendo assim, porque ninguém consegue viver apenas como marginalizado, rejeitado e sem-teto. Todos querem alguma atenção e amor. O leproso reconhece a impossibilidade de sair pelas próprias forças do círculo vicioso da rejeição. Por isso vai ao encontro de Jesus e se lança a seus pés. Dirigi-lhe o apelo: ‘Se queres, podes purificar-me’ (1,40). Parece que está empurrando para Jesus a responsabilidade por sua pureza. Ele recusa qualquer responsabilidade própria. Afinal, não é dele a culpa de ser rejeitado” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 15 de janeiro de 2020


(1Sm 3,1-10.19-20; Sl 39[40]; Mc 1,29-39) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu, e ela começou a servi-los” Mc 1,30-31.

“Trata-se, por um lado, de uma cena familiar e, de outro, de um gesto de consideração de Cristo por uma doente que, no caso, era a sogra de um amigo seu, Pedro. Jesus não hesita em curá-la, livrando uma família daquele mal-estar que é comum sempre que se tem alguém doente em casa. Todos querem ajudar na cura do doente, porque quando alguém está mal em casa todo mundo se sente um pouco mal também. Jesus cura a todos: a sogra que estava com febre e aos demais devolve a alegria. Mas a cura também por deferência ao seu amigo Pedro, de quem ela era sogra. Podemos imaginar que a mulher de Pedro lhe tenha segredado que recorresse a Jesus em favor de sua mãe. Pedro poderá muito bem tê-lo feito. E Jesus o atendeu ‘tomando-a pela mão e levantando-a da cama’. E ela ficou logo boa e, agradecida, ‘pôs-se a servi-los’. Tudo parece tão simples, mas esta corriqueira cena familiar guarda inúmeros ensinamentos que merecem destaque. Jesus se faz sensível à vida familiar, onde se desenvolve a alegria e a tristeza das pessoas. Ele, inclusive, sempre se mostrou muito familiar. A família, para ele, sempre foi um espaço especial e querido, apreciado e sagrado. Aproxima-se com inteira simplicidade daquela mulher, toma-a pela mão e tira-a da cama. Manifesta, assim, mais uma vez, que viera para os doentes e não para os sadios, para os pecadores e não para os santos. E o faz em atenção ao seu amigo, que será, mais tarde investido de poder de apascentar os cordeiros e ovelhas de seu Reino. Eis, numa comezinha cena familiar, a integridade e a grandeza da pessoa de Jesus! – Senhor Deus, grande e bom, dai-nos a sensibilidade de sermos plenos e atentos às necessidades dos outros. Hoje, vos pedimos, dai-nos amar e falar bem das sogras que nem sempre são devidamente amadas e bem faladas. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 14 de janeiro de 2020

(1Sm 1,9-20; Sl 1Sm 2; Mc 1,21-28) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau.” Mc 1,23.

“A primeira história de cura tem sentido programático para Marcos. É a cura de um possesso. Por meio dela, quer mostrar que a doença significa sempre uma possessão. Os demônios que dominam o ser humano representam coerção, ideias fixas, complexos neuróticos. Marcos fala também em espíritos turvos. Estes turvam a imagem que o homem tem de si, mas também a imagem que ele tem de Deus. São forças estranhas que dominam o ser humano. Marcos descreve o homem possuído como um homem que está dentro de ‘um espírito impuro’. Ele está no poder desse espírito impuro. Ao contrário dos discípulos que acreditam ‘dentro do evangelho’, trata-se de um homem que mora dentro de um espírito impuro, dentro da confusão, da obnubilação, do obscurecimento. Um espírito impuro como esse pode ser, por exemplo, a amargura que turva o pensamento. Mas pode tratar-se também de um ideal hipertrofiado de pureza que fecha os olhos diante de toda impureza, fazendo com que o ser humano fique justamente por isso repleto de imundície recalcada. Para Marcos, curar significa sempre que Jesus liberta o ser humano para este voltar a ser ele mesmo. Ele o arranca do poder dos espíritos turvos e impuros e o devolve a si próprio, ao seu verdadeiro ser. A primeira história de cura já revela a construção em forma de ‘sanduiche’ que Marcos usa para descrever cenas importantes para ele. O evangelista começa a cena com a informação de que Jesus estava ensinando na sinagoga de Cafarnaum. Os ouvintes se espantam com seus ensinamentos. Eles entram num estado de susto ou admiração, em êxtase, como diz original grego: ‘Pois ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas’ (1,22). Depois conta a história da cura do possesso e, no fim, volta a descrever a reação das pessoas: ‘Eis um ensinamento novo, cheio de autoridade! Ele manda até nos espíritos impuros, e eles lhe obedecem’ (1,27). Com essa narração concêntrica, Marcos mostra que os ensinamentos de Jesus não são inócuos: ele cura justamente por meio de seus ensinamentos. Falando corretamente de Deus, Jesus liberta o homem para este ser ele mesmo. A imagem de Deus e a imagem de si próprio estão intimamente ligadas. Anunciando ao homem o Deus que cura e liberta, que confirma e encoraja, ele livra as pessoas de suas ideias doentias de Deus e as ergue, para que sejam plenamente elas mesmas” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite