Sábado, 27 de abril de 2024

(At 13,44-52; Sl 97[98]; Jo 14,7-14) 4ª Semana da Páscoa.

“Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!’” Jo 14,8.

“Como vimos nos evangelhos destes últimos dias, Jesus falou muitas vezes, aos discípulos, a respeito do Pai e das relações que unem ao Pai. A insistência de Jesus em tratar o tema do Pai suscitou em alguns deles o desejo de um conhecimento mais profundo e mais experimental do Pai e, assim, um deles, Filipe, pede a Jesus: ‘Senhor, mostra-nos o Pai’. Filipe e seus companheiros não tinham percebido que ‘aquele que me viu, viu também o Pai’ (v. 9). Em Jesus revela-se o Pai, suas palavras são as palavras do Pai, ele mesmo é a Palavra do Pai feita carne e suas obras são as obras do Pai e mostram que ele é do Pai. O Senhor queixou-se a Filipe de que ainda não o conhecera; os apóstolos, ainda na última ceia, estavam muito longe do conhecimento de Jesus Cristo, apesar de durante três anos terem sido doutrinados incansavelmente. Várias vezes deram motivo para que Jesus se queixasse de que não entediam. Você é motivo de pesar para o coração de Cristo? Talvez você tenha bastante tempo de vida cristã e não tenha penetrado ainda nos segredos íntimos do coração amantíssimo de Jesus. Talvez você tenha sido cristão desde a sua infância e venha recebendo os sacramentos com relativa frequência; mas, apesar de tudo isso, não chegou ainda ao conhecimento experimental religioso de uma vida de íntima união com Jesus, e suas relações com ele sejam pouco menos que simples formalidades” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 26 de abril de 2024

(At 13,26-33; Sl 2; Jo 14,1-6) 4ª Semana do Tempo Pascal.

“Mas Deus o ressuscitou dos mortos e, durante muitos dias, ele foi visto por aqueles que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém. Agora eles são testemunhas de Jesus diante do povo” At 13,30-31.

“A leitura continua com a narração da primeira intervenção de Paulo, na sinagoga de Antioquia da Pisídia, apresentando a parte central: a morte e a ressurreição de Jesus. O Apóstolo detém-se no paradoxo do drama da Paixão: a obstinação dos habitantes de Jerusalém e dos seus chefes fez com que se cumprissem ‘as palavras dos Profetas que se leem cada sábado’ (cf. v. 27). Com efeito, eles condenaram um inocente... ‘Mas Deus ressuscitou-O dos mortos’ (v. 30). O Ressuscitado confirmou os discípulos, os quais se tornaram ‘Suas testemunhas diante do povo’ (v. 31). A promessa feita aos antepassados é assim cumprida (v. 32). [Compreender a Palavra:] As palavras de Paulo parecem severas: evocam a responsabilidade de todos os que, embora não tendo encontrado em Jesus motivo algum de condenação, pediram a Pilatos a Sua morte. Também Pedro, no seu anúncio ao povo, tinha recordado o mesmo tema (cf. At 3,11-26), mas concedendo uma atenuante: a ignorância dos judeus (At 3,17). Uma recusa, a dos habitantes de Jerusalém e dos seus chefes que, se relembra a responsabilidade e a liberdade das pessoas, permite todavia que o desígnio de Deus se cumpra. Com efeito, em primeiro plano está o cumprimento da promessa feita aos antepassados: no meio da infidelidade dos homens permanece firme a fidelidade de Deus cujo poder é tão grande que pode vencer mesmo o mal mais terrível: a morte. É este anúncio incrível, mas verdadeiro: um homem ressuscitou do sepulcro. É o modo imprevisto com o qual Deus cumpriu em nosso favor a promessa de um salvador que tinha feito aos antepassados. A atuação de Deus ultrapassa sempre as expectativas do homem, mas fê-lo percorrendo caminhos que o homem nunca escolheria. Assim, o salvador não o é porque fugiu à Cruz e ao sofrimento, mas precisamente porque passou por eles, experimentando toda amargura, e foi libertado. É interessante notar a interpretação do salmo (proposto hoje pela liturgia) feita por Paulo: as palavras que Deus dirige ao Messias-Rei reconhecendo-O como seu Filho, não são aplicadas ao nascimento de Jesus, mas à Sua ressurreição” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 25 de abril de 2024

(1Pd 5,5-14; Sl 88[89]; Mc 16,15-20) São Marcos, evangelista.

“A Igreja que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho” 1Pd 5,13.

“João, apelidando Marcos, é o autor do segundo Evangelho. O santo bispo Hierápolis, Pápias, morto em 130, escreve: ‘Marcos, intérprete de Pedro, escreveu exatamente tudo aquilo que se lembrava... Marcos não ouviu o Senhor, porém mais tarde ouviu Pedro’. A casa de Marcos, em Jerusalém, era um ponto de reunião para os apóstolos e para a Igreja nascente. Nela encontrou refúgio são Pedro, quando libertado prodigiosamente das cadeias. Ele chama Marcos de ‘meu filho’, talvez por tê-lo batizado e tê-lo tido por companheiro na missão até Roma. O primo Barnabé introduziu Marcos na fervorosa comunidade antioquena, composta prevalentemente de cristãos convertidos do paganismo. Daí Marcos, com entusiasmo juvenil, partiu com Paulo e Barnabé para a primeira viagem apostólica a Chipre. Mas quando os dois missionários se dirigiram à Panfília, planejando avançar para o interior, entre as populações bárbaras do Tauro, Marcos não sentiu coragem para segui-los, como se lê nos Atos dos Apóstolos – ‘separou-se de Paulo e Barnabé e voltou para Jerusalém’. Por isso, Paulo não o quis para a segunda missão e preferiu separar-se do próprio Barnabé, que voltou junto com o primo a Chipre. O desacordo durou pouco. Em 66 é o próprio Paulo que nos dá a última informação sobre Marcos, quando escreve a Timóteo: ‘Toma contigo a Marcos e traze-o, pois me é útil no ministério’. O apóstolo, encarcerado em Roma, recorreu, portanto, outras vezes à ajuda do jovem Marcos. A tradição encarrega-se de preencher o vazio, depois desta breve anotação: Marcos dirigiu-se em missão à Alexandria do Egito e foi o primeiro bispo dessa cidade, onde morreu como mártir; mas sobre isso nem são concordantes. Clemente e Orígenes não dizem nada a propósito. As ‘Atas de Marcos’, um escrito do século IV, estendem-se nas particularidades do martírio: acorrentado e arrastado pelas ruas da cidade, foi depois lançado na prisão e torturado. Seu corpo, entregue às chamas, foi salvo ‘in extremis’ pelos fiéis. No ano de 828, os restos mortais do evangelista teriam sido roubados e levados para Veneza, que elevou em sua honra, entre 976 e 1071, a esplêndida basílica” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 24 de abril de 2024

(At 12,24—13,5; Sl 66[67]; Jo 12,44-50) 4ª Semana da Páscoa.

“Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz:

a palavra que eu falei julgará no último dia” Jo 12,48.

“Jesus ressuscitado é a luz colocada pelo Pai na história humana, para que ninguém fique vagando nas trevas. Mas, é preciso tomar uma decisão. Quem se decide por Cristo, coloca-se no caminho da salvação. A luz do Ressuscitado permite ao seguidor de Jesus detectar os empecilhos que o egoísmo coloca em seu caminho, para desviá-lo do amor e da justiça. Esta luz denuncia as artimanhas do mal que, enganando os incautos, tende a afastá-los de Deus. Ela possibilita vislumbrar a misericórdia do Pai que acolheu e ressuscitou Jesus e quer acolher a todos que nele crerem. Quem rejeita Jesus, toma o perigoso caminho do Julgamento. Por não ser capaz de dar à sua vida o rumo certo, deixará o mal tomar conta de seu coração, não permitindo que nele venha morar. Permanecerá insensível diante da injustiça. O sofrimento alheio lhe passará despercebido. Este centramento do próprio eu só pode gerar a morte. O Ressuscitado propõe-se a iluminar a vida de quem aceita deixar-se guiar por ele. Optar pela luz é optar pela vida e pela salvação. Escutar Jesus é deixar-se guiar pelo Pai que, por amor, nos oferece vida em plenitude. Por conseguinte, é loucura dar costas a Jesus e rejeitar suas palavras. Por meio dele, o Pai quer atrair a si toda a humanidade. – Senhor Jesus, ilumina o meu caminho com tua luz de Ressuscitado, para que eu caminhe com segurança em direção ao Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 23 de abril de 2024

(At 11,19-26; Sl 86[87]; Jo 10,22-30) 4ª Semana da Páscoa.

“Eu e o Pai somos um” Jo 10,30.

“Neste texto, Jesus nos fala de sua mesma e idêntica natureza com o Pai. Existe uma só natureza divina, um só Deus, natureza única em três pessoas divinas: Pai e Filho e Espírito Santo. Jesus Cristo é a segunda pessoa da Santíssima Trindade: o Verbo, o Filho que assumiu a natureza humana sem deixar de ser Deus; por isso Jesus afirma que ele e o Pai são um: um só Deus na única natureza divina. Essa exposição de Jesus, apesar de sua profundidade, foi tão clara que os judeus entenderam bem que Jesus fazia-se e dizia-se Deus como o Pai, e exatamente por isso, porque entenderam que se arrogava a natureza e o poder divinos, tomaram suas palavras como uma blasfêmia e quiseram apedrejá-lo. As palavras de Jesus provam sua consubstancialidade com o Pai e, portanto, sua divindade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 22 de abril de 2024

(At 11,1-18; Sl 41[42]; Jo 10,1-10) 4ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas” Jo 10,1-2.

“Alguns biblistas acham que a alocução do pastor não está corretamente transmitida no evangelho de João. Por isso optam por uma remodelação completa desse texto. Prefiro, no entanto, acompanhar o parecer de Ludger Schenke, que considera o texto perfeitamente coerente em si mesmo. Na discussão com os fariseus, Jesus começa o seu discurso com um enigma (10,1-5). Na descrição dos hábitos pastoris fica óbvio que o pastor entra no redil pela porta e não pule a cerca, pois o porteiro conhece o pastor e abre a porta para ele. Só os ladrões e salteadores penetram no redil por outros lugares. Ladrão é aquele que furta com astúcia e dolo, enquanto os salteadores são imagens daqueles que se apresentam em nome de Deus, mas que não cuidam devidamente das pessoas às quais foram enviados. Abusando de sua missão, oprimem as pessoas às quais deveriam levar a mensagem de Deus. Esse perigo existiu tanto na história de Israel quanto na Igreja primitiva. É uma tentação também nos dias de hoje. São líderes que cometem abusos espirituais. Para João, tudo o que é óbvio se transforma em enigma que indica algo completamente diferente. Quem decifra o enigma é sábio. E o presente enigma só se resolve com uma compreensão correta de Jesus. Os ouvintes daquele tempo, e certamente também muitos leitores de hoje, não compreenderam ‘o alcance do que ele dizia’ (10,6). O evangelho de João não conhece propriamente parábolas, mas apenas alocuções em enigmas e palavras figurativas. Por meio de enigmas e imagens, Jesus aponta para o mistério do homem e para o mistério de Deus. A teologia mística de João que não trabalha com histórias como aquelas que Lucas, o grego, sabe contar tão bem, prefere as imagens que permitem vislumbrar o seu conteúdo enigmático” (Anselm Grüm – Jesus, porta para vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

4º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 4,8-12; Sl 117[118]; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18)

1. O 4º Domingo de Páscoa é chamado de ‘Domingo de Bom Pastor’. Não é difícil entender o porquê assim que escutamos o evangelho. A imagem de Cristo Bom Pastor conquistou o coração dos cristãos e influenciou a arte cristã. As antigas representações nas catacumbas trazem Jesus com vestes de pastor e uma ovelha nos ombros.

2. É uma imagem de forte ressonância bíblica que tem a ver com a origem de Israel, um povo pastoril nômade. Os que fazem viagens por essas regiões encontrarão nos Beduínos do deserto uma ideia de como viviam as tribos de Israel.

3. Nessa sociedade, a relação entre pastor e rebanho não é só de tipo econômico, baseado no interesse. Se desenvolve uma relação pessoal entre pastor e rebanho. São jornadas e jornadas vivendo juntos em lugares solitários. Isso permite ao pastor conhecer cada ovelha; a ovelha por sua vez o reconhece, distingue a sua voz.

4. Podemos tomar aquela antiga imagem de uma mãe que no parque, enquanto tricota, vigia com o canto do olho a sua criança que joga e corre, pronta a correr ao seu encontro ao menor sinal de perigo. Assim podemos entender como Deus se serviu deste símbolo do pastor para exprimir sua relação com a humanidade.

5. O salmo 22[23] é uma expressão dessa fé que constantemente ressoa em nossas assembleias: “O Senhor é meu pastor: nada me faltará”. Mesmo na morte (o ‘vale tenebroso’) não nos causa tanto medo porque também ali chega o olhar do Pastor (exéquias).

6. Mas o ‘vale tenebroso’ não é só a morte; é também a provação, o escuro, a crise dos afetos, a dificuldade econômica, a depressão. E quem de nós não terá que atravessar, cedo ou tarde, algum desses vales tenebrosos?

7. Ainda no mundo bíblico, o título de pastor vem dado, por extensão, também àqueles que fazem as vezes de Deus na terra: os reis, os sacerdotes, os chefes ou líderes de um modo geral. Mas nesse caso o símbolo se divide: não evoca mais só a imagem de proteção e segurança, mas também de exploração e de opressão.

8. Os profetas sempre estiveram às voltas com essa figura do mau pastor, do mercenário e Jesus faz menção aos mesmos também hoje. Nele, aquilo que havia sido prometido através do profeta Ezequiel: Deus mesmo cuidará do seu povo (cf. Ez 34,1ss) supera toda expectativa.

9. Jesus faz o que nenhum pastor, por melhor que seja, estaria disposto a fazer: ele oferece sua vida pelas ovelhas. Para muitos de nós, a imagem do Pastor que busca a ovelha perdida, que lhe cura as feridas, que toma aos braços aquela que está cansada, não são somente imagens poéticas, mas experiências vividas.

10. Quantas vezes nos encontramos feridos, não no corpo, mas na alma, não por culpa de alguém, mas por culpa nossa, e nos sentimos amoravelmente acolhidos, curados e colocados de pé. O evangelho do Bom Pastor é melhor compreendido a partir de nossas experiências pessoais que de comentários...

11. Talvez a imagem de pastor e rebanho não agrade a nossa mentalidade moderna, e ofenda a nossa dignidade de seres livres e no entanto não escapamos da massificação imposta pelos meios de comunicação que nos informam, mas que nos formam, nos moldam, massificam.

12. Sem nos darmos conta nos deixamos guiar por manipulações e persuasões ocultas. Seguimos as novas tendências sejam da moda, do comércio, da economia... É só observar a vida das multidões nas grandes cidades e rimos ou nos admiramos quando vemos aquelas imagens aceleradas em filmes, propagandas, telejornais... que são de nós mesmos...

13. João nos lembra na 2ª leitura que somos filhos de Deus. Essa busca de uma identidade. O evangelho não nos promete mudar a atual sociedade e nem é sua função. Apenas nos lembra a ser nela também indivíduos e famílias que preservam seu espaço inviolável de liberdade e intimidade: não porque todos fazem, mas porque é bom fazer assim.

14. Longe de mortificar a nossa personalidade, Jesus Bom Pastor, ajuda a crescer, nos personaliza com seu conhecimento e seu amor; faz nascer em nós uma criatura nova, consciente e forte, aquela que o mundo não pode manipular ou intimidar porque não é levada por ele.

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 20 de abril de 2024

(At 9,31-42; Sl 115[116B]; Jo 6,60-69) 3ª Semana da Páscoa.

“Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: ‘Isso vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?’” Jo 6,61-62.

“As palavras de Jesus soavam dura aos ouvidos de seus discípulos, por não entrarem nos esquemas já conhecidos. E mais, por esvaziá-los totalmente. De certa forma, Jesus escandaliza os discípulos por apresentar uma imagem não convencional de Deus e uma relação íntima com o Pai, a ponto de dar a impressão da falta de respeito para com Deus. Na verdade, muitos ouviam o Mestre com suspeita e preconceito, e não estavam dispostos a dar crédito às suas palavras. Estas, longe de atraí-los, acabava por afastá-los cada vez mais. Jesus, porém, não adaptou sua mensagem ao gosto dos seus interlocutores. E jamais teve a intenção de enganá-los. Estas dificuldades não foram superadas com o fato da Ressurreição. Não dava para entender como aquele que fora condenado à morte dos malditos podia proclamar-se vivo, por obra de Deus! Não valia a pena ir atrás de alguém que, tendo seus planos frustrados e morrido crucificado, dizia-se, agora, ressuscitado! Estas ponderações afastaram de Jesus muitos discípulos. Só não debandou quem acreditou, realmente, que as palavras de Cristo manifestavam, de fato, sua proximidade com o Pai, e que este dera seu aval a tudo quanto tinha dito e realizado. – Senhor Jesus, tira do meu coração toda suspeita acerca de tua Ressurreição, e ajuda-me a ver nela a manifestação do amor do Pai por ti  (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 19 de abril de 2024

(At 9,1-20; Sl116[117]; Jo 6,52-59) 3ª Semana da Páscoa.

“Então Jesus disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem

e não beberdes o seu sangue não tereis a vida em vós’” Jo 6,53.

“Prossegue o discurso de Jesus pronunciado em Cafarnaum, no qual nos fala muito explicitamente e com clareza sobre a Eucaristia. Aqui se repetem conceitos já expressos anteriormente, ainda que com mudança notável: no lugar de dizer ‘aquele que crê’, como se expressou anteriormente, agora diz: ‘quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna’. O efeito de crer e o de comer a carne e beber o sangue de Cristo é o mesmo: a vida eterna. Essa vida que é a participação da vida que é o próprio Jesus compartilha com o Pai e que vem à alma cristã com a comunhão do corpo e do sangue de Jesus. Jesus fala sem rodeios e com propriedade de termos: ‘...minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida’ (v. 55). Dessa maneira, anuncia-nos a instituição do Sacramento da Eucaristia no qual nos dá a comer sua própria carne e a beber seu próprio sangue sob as espécies de pão e vinho. Sacramento digno da admiração e da adoração agradecida do homem. Porque pela Encarnação, Deus uniu-se a uma só natureza humana, a assumida pela natureza do Verbo; porém Deus queria unir-se a todos e a cada um dos homens, e assim escolheu uma forma admirável de chegar a isso. Pela Eucaristia, Deus une-se a todas as pessoas que comungam. Deus ama-nos, e como o amor tende à união, Deus une-se a nós quando comungamos. ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele’ (v. 56). ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia’ (v. 54); ‘... aquele que comer a minha carne, viverá por mim’ (v. 57); ‘Quem come deste pão viverá eternamente’ (v. 58). A forma iterativa de uma mesma ideia, que Jesus emprega quase até a exaustão, chama a atenção; é que Jesus queria que a sua ideia fosse bem compreendida sem subterfúgios possíveis e a prova de que os discípulos a entenderem bem foi seu protesto ao dizer: ‘Isto é muito duro’ (v. 60). A Eucaristia é vida para a alma; assim como o alimento natural repara nossas forças e nos conserva a vida natural, assim a Eucaristia repara nossas forças sobrenaturais e nos dá a vida eterna. Santo Agostinho adverte: ‘Ao comer a carne de Cristo e ao beber o seu sangue, transformamo-nos em sua substância’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de abril de 2024

(At 8,26-40; Sl 65[66]; Jo 6,44-51) 3ª Semana da Páscoa.

“Eu sou o pão vivo descido do céu” Jo 6,51a.

“O discurso de Jesus sobre o ‘pão da vida’ assume novas tonalidades. No Evangelho de hoje lemos a passagem da primeira parte, de tipo marcadamente sapiencial (cf. Jo 6,35-50), e a segunda, de acento eucarístico (cf. Jo 6,51-58). Segue, entretanto, a incredulidade dos judeus, a murmuração, típica dos pais do deserto (cf. 6,41-42): eles têm diante dos olhos as provas da graça de Deus e não acreditam. A murmuração dá ocasião a Jesus de ensinar como ir até Ele, comendo o pão que Ele dá e que é a Sua carne para a vida do mundo (v. 51). [Compreender a Palavra:] Como é que o carpinteiro, crescido em Nazaré à vista de todos, pode ter ‘descido do Céu’? (cf. Jo 6,42). Ver com os olhos e não reconhecer com o coração é típico de quem se mantém fechado ao dom de Deus, que é a fé. João coloca-nos diante de um grande mistério (a adesão a Cristo Jesus), revelando-nos um aspecto fundamental: a possibilidade da fé é um dom de Deus, não é fruto nem da inciativa nem do mérito do homem (v. 44). Quem aceita a iniciativa divina, deixando-se guiar por ela, encontra a Cristo, o único que viu o Pai e O revela (vv. 45-46)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de abril de 2024

(At 8,1-8; Sl 65[66]; Jo 6,35-40) 3ª Semana da Páscoa.

“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”

Jo 6,35.

“Jesus procurava explicar o sentido de sua vida e de sua presença na história humana. Ele se sabia enviado, com uma missão bem precisa em relação a toda a humanidade. Todos os que lhe foram confiados pelo Pai deveriam ser salvos e ter acesso à vida. Portanto, o objetivo primordial de sua missão era o de saciar a fome e a sede de vida eterna existente no coração de cada ser humano. Ninguém deveria ser privado deste benefício supremo de ação de Jesus. A Ressurreição despontou na existência de Jesus como prova de que ele, de fato, estava em condições de levar, a bom termo, a vontade do Pai. Se a caminhada de Jesus tivesse sido concluída com o fato de sua morte, seria difícil acreditar que dele pudesse nascer a vida. Mas, como a verdade última de sua existência foi a Ressurreição, Jesus pode tornar-se fonte de vida para quem nele crê. A pessoa de fé está destinada a entrar no mesmo processo vivificador que o Pai reservou para Jesus. Assim, quem acolhe o Mestre na fé e dá à vida a mesma impostação que ele deu à sua, está destinado a ressurgir para a vida eterna. O Ressuscitado acolhe a todos, sem exceção, com o desejo de comunicar-lhes vida. Tudo dependerá da coragem do ser humano em crer e permitir que a fé fermente o seu agir. – Senhor Jesus, vieste ao mundo para comunicar-me vida. Acolhe-me como teu discípulo e não permitas que eu me separe de ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 16 de abril de 2024

(At 7,51—8,1; Sl 30[31]; Jo 6,30-35) 3ª Semana da Páscoa.

“É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu

e dá vida ao mundo” Jo 6,32b-33.

“Subjaz a esse texto uma conversa um tanto áspera entre Jesus e os comedores do pão que havia multiplicado (cf. Jo 6,30-35). Embora tivessem comido e estivessem ávidos por mais, contiveram-se quando Jesus lhes falou de fé. Queriam evidências de Ele ser algo especial. Provavelmente só o viam como milagreiro, importante, sem dúvida, mas apenas isso. Ele seria apenas um outro Moisés a trazer um suprimento novo de maná. Por isso, queriam novos sinais, definitivos. Jesus, no entanto, só lhes oferece uma afirmativa: ‘Meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão, pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo’. E, mesmo assim, essa afirmativa tinha um problema: exigia fé. E eles resistiam. Só queriam pão. Pão que só mantém a vida por pouco tempo. Mas o que Jesus queria dizer com esse pão que desceu do céu? Esse pão era Ele mesmo, declaração que ilumina a sequência da metáfora. A exemplo do maná, que também desceu do céu e também foi dado a Deus, Ele desce do céu enviado pelo Pai e mata a fome espiritual, fome da qual sofre toda a humanidade. E é por sofrer dessa fome que essa mesma humanidade se empanturra com todas as espécies de pão que lhe são oferecidas. Mas Jesus é o pão verdadeiro, o pão que não tem bolor nem veneno, o pão que de fato alimenta e dá vida ao mundo. – Senhor Jesus, usaste um símbolo corriqueiro, mas essencial para mostrar o quão importante és para nossa vida. Estamos inclinados a comer qualquer tipo de pão ou a mesmo não comer nenhum, negando nossa fome e condenando-nos à abstinência total até à anorexia total. Livra-nos disso e não te deixes faltar em nossa mesa da fé. Amém (Martinho Lutero Hoffmann  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 15 de abril de 2024

(At 6,8-15; Sl 118[119]; Jo 6,22-29) 3ª Semana da Páscoa.

“Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna

e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo” Jo 6,27

“As pessoas estão impressionadas pelo milagre que Jesus fez, multiplicando os pães. A figura de Jesus aparece diante delas com características extraordinárias e por isso não querem separar-se dele; intuem que enquanto estiverem com ele, não sofrerão mais necessidade e, assim, vendo que Jesus tinha desaparecido com os discípulos, puseram-se à procura; e sempre em busca dele, cruzaram o lago, chegando a Cafarnaum. Ali o encontraram; mas Jesus aproveita a oportunidade para purificar suas intenções e sentimentos. Se buscaram a Jesus, foi por interesse, por causa do alimento material que tinham recebido dele. Por isso, Jesus admoesta-os para que não andem tanto em busca do alimento material, mas do alimento ‘que dura para a vida eterna’. Com muita frequência, acontece que alguém busque a religião, não pela própria religião, mas pela conveniência que dela pode seguir-se; buscam a Deus não por Deus mesmo, mas por causa da ajuda que dele necessitam e esperam; mas se Deus demora em prestar-lhes essa ajuda, que eles de modo algum mereceram, perdem a fé e viram as costas para Deus. Quantas pessoas interesseiras existem na prática de religião, mas interessadas não ‘pelo alimento, que permanece para a vida eterna!’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo de Páscoa – Ano B

(At 3,13-15.17-19; Sl 04; 1Jo 2,1-5; Lc 24,35-48)

1. Poderíamos resumir a mensagem deste domingo com uma palavra: ‘o triunfo da ressurreição’. É dessa ressurreição que Pedro dá testemunho na 1ª leitura. No Evangelho temos mais uma aparição do Ressuscitado. São os discípulos do caminho de Emaús eufóricos para contar o que havia acontecido a eles.

2. Eis que Jesus aparece no meio deles e lhes deseja a paz. O desejo traz uma sequência de reações: susto e medo, como quem vê um fantasma; depois alegria e surpresa. Uma mistura de incredulidade e alegria. É a atitude de quem crê, mas não ousa acreditar no que vê, como quem diz: ‘é bom demais para ser verdade’.

3. Para convencê-los Jesus pede algo para comer, pois não há nada que mais tranquilize e crie comunhão do que comer juntos. Depois Jesus os convida a anunciar ao mundo que Ele, porque ressuscitou, deu a todos a possibilidade de conversão, de receber o perdão dos pecados e de ser feliz.

4. Há nessa sequência uma forte denúncia aos cristãos que têm como única preocupação viver a sua relação com Deus numa relação opressiva, feita de medo, de excessiva sensação de culpa, de penitência, de futuro ameaçador.

5. O pecado e a fragilidade humana são realidades ligadas à nossa experiência cotidiana, e negar-lhes seria uma loucura. O que muitas vezes é incompressível é que a experiência de fé de muitos não traduz esse encontro com o Ressuscitado, como se a Pascoa não significasse passar do pecado a uma vida santa e transbordante de alegria.

6. Há muitos que se deixam paralisar pela fascinante aparição de uma Nossa Senhora que chora. Chora a Virgem porque o mal é mais forte que seu Filho ressuscitado? Pergunta alguém e argumenta: o remédio mais eficaz ao mundo repleto de impurezas, mais que penitências, não seria levar adiante, sob a ação do Ressuscitado, uma vida mais honesta, mais pura, mais humana, mais conforme as exigências do Evangelho?

7. Esse lembrete não quer nos induzir a um certo ceticismo no que diz respeito às aparições, aos eventos que Deus permite em seu misterioso desígnio. Mas que evitemos certas atitudes que não estão em plena sintonia com a fé no Ressuscitado, pois deixam as coisas como sempre foram.

8. Se cremos, verdadeiramente, no Ressuscitado e queremos oferecer uma útil contribuição à cura espiritual do mundo, unamo-nos a Ele e, na sua força, procuremos, dia após dia melhorar a nós mesmos. Só semeando as flores das boas ações podemos dar ao mundo a oportunidade de ser menos deserto e mais jardim.

9. A título de conclusão trago esse conto mulçumano: “Ao início, o mundo era um grande jardim florido. Quando criou o ser humano, Deus lhe disse: ‘Cada vez que realizares uma má ação, eu farei cair sobre a terra um grão de areia’. Mas o ser humano não deu muita atenção. Que poderia significar um, cem, mil grãos de areia nesse imenso jardim florido? Passaram os anos, as más ações aumentaram e torrentes de areia inundaram o mundo. Nasceram assim os desertos que dia a dia vão crescendo. Ainda hoje Deus admoesta ao ser humano dizendo a eles: ‘Não reduza o meu mundo florido a um imenso deserto!’”.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 13 de abril de 2024

(At 6,1-7; Sl 32[33]; Jo 6,16-21)

“Mas Jesus disse: ‘Sou eu. Não tenhais medo’” Jo 6,20.

“As primeiras comunidades cristãs viram-se às voltas com sérios problemas quando se puseram a dar testemunho da Ressurreição. As dificuldades surgiam de todas as partes. Dentro da comunidade, experimentava-se deserções, incredulidade e exigências absurdas de provas da Ressurreição. De fora provinham pressões por parte da comunidade judaica preocupada com o que era proclamado e com os resultados disto na vida das pessoas. Os cristãos viviam como se estivessem-no meio de um mar, dentro de uma pequena barca agitada por ondas violentas. Os discípulos não chegavam a ter plena consciência da presença do Ressuscitado junto deles. Viam Jesus caminhar na direção deles, porém não o reconheceram e sentiram medo. Foi necessário que Jesus mesmo os exortasse a não temer. Afinal, ele estava junto de sua comunidade, especialmente, nos momentos de tribulação e dificuldade. Perceber a presença do Senhor era penhor de segurança e certeza de não sucumbir. Embora a tempestade permanecesse, não podia haver dúvida de que a meta seria atingida. As tempestades que se abatem sobre a comunidade de fé não podem levar os discípulos do Ressuscitado ao desespero. Ele sempre lhe diz: ‘Estou aqui, não temam’. Quem reconhece sua presença, pode estar certo de que as vencerá. – Senhor Jesus, sei que estás ao meu lado, na hora da provação e da dificuldade, dando-me segurança e ajudando-me a atingir a meta estabelecida por ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas). 

   Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 12 de abril de 2024

(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 2ª Semana da Páscoa.

“Levantando os olhos e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: ‘Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?’” Jo 6,5.

“Jesus revela a Sua alteridade divina preocupando-se com a vida dos seres humanos. Com efeito, a superabundância dos recursos tornada disponível pela sua atuação, parte da sua determinação em partilhar com os seres humanos a Si próprio e quanto de material está à sua disposição. O Nazareno atua e a narração evangélica faz compreender quanto seja diversa a relação que aqui se cria entre Deus e os homens a respeito da que fora estipulada com libertação do Egito, do pão ázimo da partida para o maná do deserto. A confiança no Pai – que Jesus vive dando graças antes de repartir os pães e os peixes – está na base de uma existência em que tudo é sinal da benevolência divina para os seres humanos e convite à partilha com os semelhantes daquilo que se é e se tem. Tudo acontece sem o temor, por vezes inibidor, de que tudo aquilo que está em nosso poder seja pouco para tanta gente. O que verdadeiramente conta é partir dos nossos recursos, espirituais e materiais, e levar uma vida que não procure a exteriorização assombrosa como fim em si mesma, mas o nível máximo de felicidade possível ao maior número de pessoas. Procurando que nada se perca, aprendendo a utilizar a inteligência de coração para otimizar as energias e capacidades próprias e alheias, colocando-as ao serviço dos seres humanos, sem distinções nem complexos de superioridade ou inferioridade. Procurando ser à imagem e semelhança do Deus de Jesus Cristo. – Senhor Jesus, que colocastes à disposição dos seres humanos tudo aquilo que sois para o seu bem, ajudai-nos a melhorar constantemente a nossa generosidade a favor de todos os que encontramos na nossa vida (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

 

Quinta, 11 de abril de 2024

(At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 2ª Semana da Páscoa.

“De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o Espírito sem medida”

Jo 3,34.

“A origem divina de Jesus permitiu-lhe falar das coisas de Deus com uma autoridade desconhecida. Até então, os sábios e doutores de seu tempo limitavam-se a interpretar as Escrituras, abusando-lhes sentidos ocultos. Nesse afã, acabavam por complicar tanto a Palavra de Deus a ponto de pensarem que somente um pequeno grupo de privilegiados estavam em condições de compreendê-la e praticá-la. Jesus rompeu com este esquema e se declarou apto para dar testemunho de tudo quanto viu ou ouviu do Pai. Ele não era rabi no sentido tradicional, e sua relação com as Escrituras era de total liberdade. Sua Palavra era a Palavra de Deus, comunicada à humanidade, sem necessitar de interpretações casuísticas e sofisticadas. Por outro lado, Jesus falava pela força do Espírito que lhe fora comunicado pelo Pai. Assim sendo, quem quisesse ter acesso à Palavra de Deus, em sua integridade, sem as deformações das intepretações humanas, necessitava recorrer a Jesus. Esta Palavra era penhor da vida, por colocar no caminho de Deus, quem se abrisse para ela. Pelo contrário, quem se fechasse à Palavra de Jesus e a recusasse, deveria pôr-se de sobreaviso, pois pesava sobre ele a ira de Deus. Isso porque fechar-se para Jesus redundava em fechar-se para Deus. E dar as costas à Palavra de Jesus corresponde a dar as costas para Deus. O discípulo precisa ponderar isso com cuidado. – Senhor Jesus, que a tua Palavra, testemunho do Pai, ecoe profundamente no meu coração e seja penhor de vida eterna (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Quarta, 10 de abril de 2024

(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21) 2ª Semana da Páscoa.

“Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer,

mas tenha a vida eterna” Jo 3,16.

“Deus entregou o próprio Filho para salvar-nos. Não percamos nunca de vista que Deus teria sido igualmente e ditoso, mesmo que todos nós nos tivéssemos condenado. Se nos mandou seu Filho, não foi para conseguir maior glória para si mesmo, mas sim buscando nossa felicidade. Então fez isso porque nos amou e nos amou com seu amor infinito e, por isso, quis salvar-nos. Para salvar-nos, enviou seu Filho e enviou-o não para condenar-nos, mas, bem ao contrário, como adverte este evangelho, ‘para que todo o que nele crer não pereça’ (v. 16). Nós temos de agradecer essa fineza do amor de Deus, e o melhor modo de agradecer-lhe é aproveitando-nos das graças que Jesus mereceu. Como Deus amou ao homem tão infinitamente, pode exigir do homem que ame a ele com todo o seu coração, com todo o entendimento, com todas as suas forças. O amor a Deus deve ser total, e assim como o amor moveu o Pai a entregar-nos seu próprio Filho, assim nosso amor a Deus tem de levar-nos a entregar-nos a Deus e entregar-nos sem restrições, nem limitações de nenhuma espécie. Como é seu amor a Deus? É tão forte, que você será capaz de sacrificar-se, quando for necessário para guardar a fidelidade a Deus? Que provas você dá a Deus de que o ama verdadeiramente e acima de todas as coisas?” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 9 de abril de 2024

(At 4,32-37; Sl 92[93]; Jo 3,7-15) 2ª Semana do Tempo Pascal.

“Vós deveis nascer do alto” Jo 3,8.

“Os cultos dos mistérios dos primeiros séculos conhecem o tema do renascimento. O santuário de Mitra, que ainda hoje pode ser visitado sob a basílica romana de São Clemente, mostra como era entendido esse renascimento. O místico descia à cova onde era aspergido com o sangue de um touro. Assim ficava purificado de todos os pecados. Morrendo para o mundo pode sair da cova, renovado e igual a um deus. A gnose também conhece o tema do renascimento, mas para ela o processo de renascer é indizível. Não pode ser explicado. O seu resultado é a iluminação pela qual o homem se vê a si mesmo em Deus. O renascimento é uma imagem do caminho interior do ser humano para o seu verdadeiro eu. O processo é diferente em cada um. Não se pode observá-lo de fato. O objetivo é sempre o mesmo: ‘O eu, o centro errado da personalidade, é substituído por um centro novo, genuíno’ (SANFORD, 1997, p. 106, v. 1). Nicodemos não entende esse sentido porque está preso ao significado literal. Jesus dirige a sua atenção para uma dimensão mais profunda, espiritual: ‘O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito’ (3,6). João insiste na origem do ser humano. Quem nasceu da carne tem um autoconceito carnal, ou seja, ele se define pelos critérios deste mundo. Quem nasceu do espírito tem a sua origem em Deus. Ele se entende a partir de Deus. Renascer é um despertar espiritual para a realidade. Meus olhos se abrem. Entendo o mundo de uma nova maneira. ‘O renascimento espiritual torna o ser humano capaz de ver a presença da eternidade no tempo, o fim da história, o próprio elemento divino na carne humana de Cristo’ (LEONG, 2000, p.83)” (Anselm Grüm – Jesus, porta para vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Segunda, 08 de abril de 2024

(Is 7,10-14; 8,10; Sl 39[40]; Hb 10,4-10; Lc 1,26-38) Anunciação do Senhor.

“Disse o profeta: ‘Ouvi, então, vós, casa de Davi: será que achais pouco incomodar até meu Deus?’” Is 7,13.

“O capítulo 7 do Profeta Isaías é conhecido como o livro do Emanuel. Neste texto, a palavra do profeta é uma forte denúncia contra a aliança que o rei se propõe a fazer com a Assíria, recusando-se a pedir um sinal de Deus, demonstrando a sua total desconfiança diante da providência e da intervenção divina. Firme em sua opinião, o Rei Acaz não pensa na ajuda que lhe poderá vir de Deus, como em todo o tempo há prometido e cumprido com o povo de Davi, desde que confiem nele e busquem praticar a justiça. Isaías se opõe ao rei e anuncia que a sua recusa em buscar um sinal de Deus trará a ruína total para o país. Isaias insiste com o rei para que não se submeta ao preço das alianças políticas, mas que se coloque reverente e confiante de Javé, o Deus da Aliança, realizador das promessas de libertação do povo. Diante da resistência de Acaz, Isaias anuncia que o próprio Deus dará um sinal ao povo: nascerá um menino, de uma virgem, que será chamado Emanuel – Deus conosco –, cuja bondade, ternura e benevolência se espalharão por toda parte. A tradição cristã tem interpretado este texto (cf. Mt 1,23) como um anúncio do nascimento de Jesus. Profeticamente anunciava que este menino seria o Messias e que a virgem que o traria ao mundo seria Maria de Nazaré. Meditando este texto, podemos perguntar sobre a nossa vida de fé, onde pomos a nossa confiança, de onde e como esperamos a ajuda de Deus... Quando aceitamos que Deus atue em nossa vida, quando fortalecemos a nossa aliança com Ele, somos capazes de viver na esperança, buscando em Deus nossa segurança e salvação, que realiza maravilhas na nossa pequenez! – Ó Deus providente, colocamos em ti a nossa esperança e a certeza de que conduzes a história da humanidade com amor e benevolência insuperáveis (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

2º Domingo da Páscoa – Ano B

(At 4,32-35; Sl 117[118]; 1Jo 5,1-6; Jo 20,19-31)*

1. Também nesse domingo, o evangelho é o mesmo todo ano. Ele traz ao centro o episódio de Tomé que não crê se não vê. Já tendo refletido um pouco sobre o mesmo, podemos meditar sobre um outro elemento presente nessa narrativa.

2. Percebe-se nessa narrativa uma insistência no dado cronológico das duas aparições de Jesus: no primeiro dia da semana. Nesse mesmo dia, ao cair da tarde, aparece aos discípulos reunidos e lhes transmite seu Espírito e sua paz.

3. É assim que o domingo passa a ser o “dia do Senhor”. Como no latim, “Senhor” se diz “Dominus”, o dia do Senhor (dies domenica) se chama Domingo. Esta nova denominação aparece pela 1ª vez no livro do Apocalipse, quando João afirma ter sido raptado em êxtase ‘no dia do Senhor’, isto é, no Domingo (cf. Ap 1,9).

4. Neste dia os cristãos se reúnem; vem entre eles Jesus, não de fora, mas de dentro mesmo, na Eucaristia; dá aos discípulos a paz e Espírito Santo; na comunhão, os discípulos o tocam, antes o recebem, o seu corpo ferido e ressuscitado, e proclamam a sua fé n’Ele.

5. É assim que, com a paz de Constantino, o cristianismo se torna a religião oficial, e o domingo toma o lugar do sábado judaico, como dia de festa também civil, e dá ao 1º dia da semana, que até então se chamava ‘dia do sol’ (que ainda se conserva nos países anglo-saxônicos) o nome de dia do Senhor.

6. A realidade do domingo para nós se insere no 3º mandamento: guardar os domingos e os dias santos. Santificar o domingo significa três coisas: fazer desse dia um dia para Deus, um dia para si mesmo, um dia para o próximo.

7. Um dia para o Senhor pode ser comparado com um grupo de pescadores em alto mar, por horas e horas atentos às redes e à pesca sem pensarem em mais nada. Mas logo chegará o momento que será preciso retomar a direção da barca, consultar o mapa e ver se está na direção correta.

8. Assim é a vida. Depois de seis dias de trabalhos, de preocupações, é necessário parar, ver se estamos na direção certa, se estamos realizando o objetivo de nossa vida. Para aquele que crê, o meio mais justo de fazê-lo é participar da assembleia dominical, da missa.

9. Aqui escutamos a Palavra do Senhor, recordamos sua morte e ressurreição; Ele comunica-se a nós; o tocamos como Tomé. Oxigenamos a fé. Nos congregamos, nos vemos de novo em clima de festa rompendo esse anonimato que tanto desumaniza a vida hoje.

10. O domingo é também um dia para si mesmo. Em sua sabedoria, o Criador estabeleceu um dia para que o ser humano encontre a si mesmo e a sua liberdade. Tome consciência que tem um corpo a restaurar, uma mente a cultivar, uma família ou amigos com quem estar.

11. É sempre um desafio redescobrir a beleza e a necessidade do repouso festivo, mesmo em outro dia, para aqueles que devem trabalhar no domingo, sem perder de vista o seu significado. Ou mesmo se dar ao direito de outras atividades nesse dia.

12. O perigo é quando esse assume uma importância tal que o Senhor fica relegado a segundo plano ou plano nenhum. Temos uma lista de justificações... Muitas vezes não nos damos conta da instrumentalização da indústria do entretenimento que nos rouba o essencial.

13. Enfim, o domingo é um dia para os outros. Há quem se sinta feliz ao fim de seu dia por ter visitado um amigo, um enfermo, ajudado alguém. Cada um de nós tem em torno a si pessoas com particulares necessidades e sofrimentos a serem aliviados. Esse é também modo de observar ou santificar o dia do Senhor. (cf. Ne 8,9-10). Que a alegria do Senhor seja a nossa força e bom domingo a todos!

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 06 de abril de 2024

(At 4,13-21; Sl 117[118]; Mc 16,9-15) Oitava de Páscoa.

“Quanto a nós, não podemos calar sobre o que vimos e ouvimos” Mc 1620.

“Prossegue a ação judicial do Sindicato contra Pedro e João. O texto descreve em primeiro lugar e a reação dos ‘chefes do povo, dos anciãos e dos escribas’ às palavras de Pedro (v. 13) e depois a deliberação entre si (vv. 14-17). À proibição do Sinédrio ‘de falar ou ensinar em nome de Jesus’ opõe-se a objeção de Pedro e João (vv. 18-21). O processo conclui-se com uma simples ameaça verbal do Sinédrio aos Apóstolos (v 22). [Compreender a Palavra:] A reação do Sinédrio é dupla. De um lado há a ‘surpresa’ dos seus membros ao verem a fraqueza e a sabedoria de Pedro, frutos do Espírito (cf. At 4,8), considerada a falta de formação bíblica e retórica dos Apóstolos (v. 13). Do outro, nota-se a incapacidade de ‘rebater’: o coxo está curado e de pé, junto dos dois apóstolos, e este fato as autoridades judaicas não sabem explicá-lo. Realiza-se assim a promessa de Jesus: ‘Eu vos darei palavras de sabedoria, de tal modo nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater’ (Lc 21,15). A consulta em privado dos membros do Sinédrio versa sobre o interrogatório: que se deve fazer aos Apóstolos para que não divulguem mais o anúncio? No texto não aparece nenhuma tentativa da parte do Sinédrio para compreender o milagre, mas sim e somente o baixo cálculo humano de impedir a difusão da Palavra. Quando comunicam aos apóstolos que não voltem a falar ‘em nome de Jesus’, Pedro responde pedindo primeiro aos membros do Sinédrio que julguem não segundo os cálculos humanos, mas segundo Deus, e reafirma depois a fidelidade dos Apóstolos à sua missão de ‘testemunha’”.  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 05 de abril de 2024

(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14) Oitava de Páscoa.

“Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: ‘É o Senhor!’ Simão Pedro,

ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu sua roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar” Jo 21,7.

“Os discípulos fizeram a experiência de encontrar-se com o Ressuscitado, nas mais variadas situações, até mesmo no contexto das atividades diárias. Uma percaria serviu de pretexto para Jesus se manifestar a eles. A pesca comunitária resultou de um convite amigo. A fadiga de uma noite de trabalho que tinha sido em vão. Não tinham conseguido pegar um peixe sequer. Esta era a imagem da comunidade, quando agia sozinha, sem se dar conta da Ressurreição de Jesus. Por mais que se esforçasse, tudo acabava em frustração. A situação, porém, se reverteu quando surgiu o Ressuscitado. No início, era apenas um desconhecido que dava ordens para um grupo de pescadores decepcionados. A ordem foi obedecida sem hesitação, e a rede se encheu de grandes peixes. Só então o Ressuscitado foi reconhecido como o Jesus com quem tantas vezes tinham estado naquele mar. Quando se deixava guiar por ele, a comunidade cristã experimentava o êxito na sua missão e seu trabalho era frutuoso. Sem ele, tudo estava fadado ao fracasso. Só com Jesus ressuscitado, o esforço de levar adiante a missão recebida atingia seus objetivos e os frutos eram palpáveis. A comunidade cristã teve de fazer, muitas vezes, a mesma experiência até se convencer de que o Crucificado estava vivo e presente no meio dela. – Senhor Jesus, ajuda-me a descobrir-te ressuscitado e presente no meu cotidiano, dando um sentido novo à minha vida (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 04 de abril de 2024

(At 3,11-26; Sl 8; Lc 24,35-48) Oitava de Páscoa.

“Ainda estavam falando quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse:

‘A paz esteja convosco!’” Lc 24,36.

“Jesus ressuscitado manifesta-se aos discípulos e os saúda com as palavras que empregaria em todas as outras oportunidades, nas quais aparecera: ‘A paz esteja convosco’, e a liturgia da Igreja põe na boca do sacerdote, que as emprega também como saudação e como despedida da assembleia eclesial. Os corações dos apóstolos não são capazes de resistir a tamanha alegria perante a presença do Mestre glorificado. Por isso o evangelista registra e faz constar por escrito essa reação dos apóstolos, dizendo: ‘Mas vacilando eles ainda, e estando transportados de alegria’ (v. 41). Jesus é condescendente e procura ajudar os incrédulos, mostrando-lhes suas mãos e seus pés e ainda comendo com eles; assim os apóstolos transformam-se, e Jesus faz-lhes entrega de seus poderes. Aonde quer que vá, você deve levar a paz, oferecer a paz; mas não poderá fazê-lo, se você não vive em paz e se não vive a paz. ‘Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus’ (Mateus 5,9)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite