Tríduo Pascal (Quinta, Sexta e Sábado Santo) –Visão Global para esses três dias solenes.



1. Queridos irmãos e irmãs, a Igreja divide em três dias, ou três celebrações o mistério central da nossa Redenção: Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Começamos hoje pela Última Ceia do Senhor; a Missa Crismal que ocorre pela manhã, de caráter diocesano, os sacerdotes, junto ao Bispo local renovam as promessas de Ordenação, tem uma certa ligação com tríduo, mas não faz parte do mesmo. Três elementos ganham destaque nessa celebração da Última Ceia: a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial junto com o mandamento novo: o amor fraterno.

2. O Senhor antecipa a Sua entrega na Cruz se dando a cada um de nós de modo mais íntimo, ligando nossa vida com a Sua. Com o gesto do Lava-pés somos convidados a imitá-lo no amor concreto que se faz serviço ao outro. João não narra a Instituição, mas ela está subtendida no contexto da narrativa e para melhor iluminar nossa compreensão, o texto da 2ª leitura nos ajuda nesse ‘memorial’. Encerramos a celebração prestando uma pequena homenagem a essa presença sacramental numa atitude de vigília e oração.

3. A entrega vivida e antecipada no mistério sacramental se faz sensível ao nosso olhar contemplativo quando acompanhamos a narrativa da paixão juntamente com os outros textos que lhe fazem referência. Mesmo não tendo a celebração Eucarística, nos reunimos para rezar pelas necessidades da Igreja e do mundo, tentamos tocar o mistério pelo gesto de aproximação da Cruz e comungamos do santo ‘resto’ da última Ceia. Cada local acrescentará a essa oração algum gesto que compõe a piedade popular por uma procissão ou representação teatral. Quem estiver impedido de participar desse ato pode rezar, em casa, a Via Sacra meditando as suas estações. A celebração se encerra em silêncio, pois busca meios externos de mergulhar no mistério.

4. O silêncio do dia anterior se prolonga pelo sábado durante o dia, aguardando o grande acontecimento da Ressurreição. A vigília Pascal, celebrada ao pôr do sol, antecede o domingo da ressurreição. A comunidade reunida em torno da fogueira, abençoa o fogo que acenderá o Círio Pascal, presença luminosa do Ressuscitado que nos ajudará a compreender esse grande mistério que já estava contido nas páginas do Antigo Testamento e que o Novo proclama na vitória de Cristo sobre a morte. Pedimos ao Senhor Jesus que com sua força de ressurreição afaste as trevas do coração e do espírito, iluminando cada ser humano. Em meio aos elementos simbólicos dessa noite renovamos a nossa fé batismal e acolhemos aos novos membros que serão batizados. Um clima de alegria nos envolve e renova a fé que deve ser vivida e difundida, como uma luz que não se pode reter.

5. Uma palavra final do nosso Papa Emérito Bento XVI: “Reviver os Mistérios de Cristo significa também viver em profunda e solidária adesão ao hoje da História, convictos de que quanto celebramos é a realidade viva e atual. Tenhamos, portanto, presente em nossa oração a dramaticidade de fatos e situações que nestes dias afligem tantos irmãos nossos em todas as partes do mundo. Sabemos que o ódio, as divisões, as violências nunca têm a última palavra nos acontecimentos da História. Estes dias reanimam em nós a grande esperança: Cristo crucificado ressuscitou e venceu o mundo. O amor é mais forte que o ódio, venceu e devemos associar-nos a esta vitória do amor. Portanto, devemos partir de novo de Cristo e trabalhar em comunhão com ele para um mundo fundado sobre a paz, sobre a justiça e sobre o amor. Neste empenho, que a todos compromete, deixemo-nos guiar por Maria, que acompanhou o Filho divino pelo caminho da Paixão e da Cruz e participou, com a força da fé, na concretização do seu desígnio salvífico” (Audiência Geral – praça de São Pedro, 19 de março de 2008).

6. Para mais algum outro detalhe sobre o Tríduo podemos ver os anos anteriores. A todos desejo uma vivência santa desse mistério central da nossa fé, e me antecipo nos votos de uma Feliz Páscoa! Voltamos no domingo com nossas reflexões diárias.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de março de 2018


(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25) 
Semana Santa.

O texto da 1ª leitura, o terceiro canto do servo, foi proclamado nesse domingo de Ramos, como todos os anos, aqui é proposto numa versão mais extensa. Numa atitude profética ele escuta e proclama a Palavra, que não é dele, tendo em conta as suas consequências, como o foi para Jesus. O salmo 69 (vv. 8-10.21-22.31.33-34), atribuído a Davi, amplifica o sofrimento deste servo e nos traz alguns elementos que encontramos na Paixão de Jesus. “Davi fala por todos aqueles que sofrem insultos, humilhação ou perseguição por causa de sua lealdade a Deus. O máximo que muitos de nós sofremos é um pouco de escárnio ou de riso por causa da fé. Alguns cristãos que conheço perderam o emprego ou foram preteridos em promoções porque procuravam viver em obediência a Cristo. Em algumas partes do mundo a miséria ou a prisão são consequências de se crer em Cristo. Escravidão e morte também são possibilidades reais. A resposta de Davi à perseguição foi clamar a Deus por proteção e libertação. Fico me perguntando quanto clamaríamos se enfrentássemos perseguição por causa de nossa fé. Fico imaginando quantas vezes oramos por nossos irmãos e irmãs no Senhor que enfrentam opressão e insultos todos os dias por sua fidelidade a Jesus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de março de 2018


(Is 49,1-6; Sl 70[71]; Jo 13,21-33.36-38) 
Semana Santa.

Nesse segundo canto o servo se apresenta, tendo uma intervenção de Deus após a confissão do seu desalento para dar-lhe nova força, ampliando a sua missão. O salmo 71 (vv. 1-6.15.17) amplia sua súplica recheada da certeza de salvação. “As primeiras pessoas que cantaram os salmos sabiam a importância de uma fortaleza. A vida no antigo Israel era tão difícil que os israelitas muitas vezes precisavam de um lugar seguro de proteção contra inimigos. No mundo moderno, normalmente não precisamos de um lugar para proteção física, mas ainda precisamos de locais de segurança, lugares onde nos sentimos amados e cuidados [...] em certo sentido, construímos a fortaleza segura para a nossa vida. Todas as experiências de confiança, todas as circunstâncias que nos obrigam a esperar pelo Senhor, todos os testes que fortalecem nossa fé edificam a torre forte de nosso relacionamento com o Senhor. Então, quando o exército inimigo aparece, quando problemas surgem ou quando tragédias acontecem, temos um lugar de refúgio para o coração e a mente. As circunstâncias podem não mudar, mas estamos protegidos pela poderosa mão de Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de março de 2018


(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11) 
Semana Santa.

Desde ontem, domingo de Ramos, nesta segunda, terça, quarta e sexta-feira Santa acompanharemos como primeira leitura os ‘cânticos do servo do Senhor’, atribuídos ao profeta Isaias. Os estudiosos dividem-se em ver neles uma experiência pessoal ou mesmo comunitária, representando todo o Israel. No novo testamento os quatro cânticos são aplicados a Jesus, como uma grandiosa profecia de sua missão, paixão e glorificação. Hoje temos a vocação e a missão do servo, típica do profeta. É possível perceber o cuidado especial de Deus por ele. A pregação e a ação do servo estão marcadas por um estilo que dificilmente encontraríamos numa só pessoa. Ao mesmo tempo aqui se levanta os conflitos que o servo encontrará em sua missão, por isso a liturgia nos traz o salmo 27 (vv. 1.5.2-3.13.14): “’O Senhor’, disse ele, ‘é o meu forte refúgio; de quem terei medo?’ (v. 1). A confiança de Davi estava no próprio Senhor, não apenas naquilo que o Senhor era capaz de fazer. [...] O medo é um dos problemas mais paralisantes da vida. Tememos o conhecido e tememos o desconhecido. O salmo 27 é um cântico que tem por objetivo matar aquele dragão em sua vida, ou pelo menos mantê-lo acuado e sob controle”  (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Domingo de Ramos – Ano B


(Mc 11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21[22];Fl 2,6-11; Mc 15,1-39)

1. A cada ano em nossa liturgia os textos litúrgicos se repetem mudando apenas o evangelho que antecede a procissão e a narrativa da paixão conforme o evangelista do ano. É sob o olhar de Marcos que caminhamos. Assim acompanhamos a narrativa de sua entrada em Jerusalém, até o ponto culminante da sua existência entre nós.

2. Como ouvimos no domingo anterior, ao ser elevado na cruz, Ele atrairá a si toda a humanidade, oferecendo-se a si mesmo num ato redentor.

3. Na sua subida com os doze, pouco a pouco se foi unindo a eles outros peregrinos. Antes de chegar a Jerusalém, um fato acaba por suscitar ainda mais a atenção das pessoas sobre Ele. Trata-se de um cego que sabendo de sua passagem, lhe implora por piedade, chamando-o de “Filho de Davi”. O cego é curado, mas a nomenclatura “Filho de Davi” reacende a esperança messiânica naquela multidão

4. Isso cria um alvoroço a respeito de quem era Jesus e se perguntam se por acaso não era agora que Deus iria restaurar o reino de Davi.  A isso se soma o próprio percurso escolhido por Jesus para entrar na cidade, a estrada por onde deveria vir o Messias.

5. O entusiasmo se apodera dos discípulos e da multidão e com expressões do salmo 118, expressam a sua compreensão de que em Jesus Deus visitou o seu povo. Assim, na luz de Cristo, a humanidade reconhece a bênção divina. E nós somos convidados a reconhecer esse olhar sapiencial e amoroso de Cristo, capaz de captar a beleza do mundo e apiedar-se de sua fragilidade.

6. Mas a grande questão está na expectativa daqueles que aclamavam a Jesus. Que pensavam a respeito dele? Que esperavam em termos de ação? Tal como os discípulos, a multidão esperava por alguém que agisse como o rei prometido pelos profetas e há muito esperado. Não foi por acaso que a multidão dias depois, não o aclama, mas pede para crucifica-lo.

7. Na celebração de hoje retorna a pergunta: para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que ideia temos do Messias, que ideia temos de Deus? Ao acompanha-lo no processo da paixão, não podemos evitar essa pergunta. Jesus se guia pelo caminho da cruz e não nos garante uma felicidade terrena fácil, mas deixa claro que só será plena em Deus.

8. Com que motivações faremos esse caminho de seguimento? Que esperamos? Quais desejos nos animam a vir aqui e iniciar essa Semana Santa?

9. Nosso louvor nesses dias deve expressar nossa gratidão, por isso cantamos também “Hosana” àquele que vem em nome do Senhor! Recordamos sua vida entregue não só na cruz, mas no dom maior de Seu amor no Corpo e Sangue que comungamos.

10. Mas todo dom exige que saibamos retribuir de maneira adequada, pois Jesus espera o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso compromisso com a vida em suas múltiplas expressões.

11. Bento XVI nos lembra que os Padres da Igreja, os primeiros teólogos cristãos, comentavam que esse gesto de estender os mantos diante do Senhor poderia nos sugerir uma reflexão sobre o que estenderíamos diante de Jesus em sinal de gratidão e adoração e cita Santo André, Bispo de Creta: “Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu vigor, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele mesmo (...); sejamos como mantos estendidos a seus pés (...), para oferecermos ao vencedor da morte já não ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamamo-lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel’”. Amém.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de março de 2018


(Ez 37,21-28; Sl Jr 31; Jo 11,45-56) 
5ª Semana da Quaresma.

Ezequiel teve que ser o porta voz da esperança para o seu povo exilado, pois apesar de tudo, Deus sempre pode fazer tudo novo de novo. Olhando para semana santa que se aproxima, podemos ver como a liturgia nos convida a meditar sobre o mistério pascal de Cristo que nos purifica e santifica nessa nova aliança que Deus estabelece conosco. Para ilustrar essa realidade, a liturgia insere esse canto de Jeremias 31,10-13: “Ao anúncio de alegria de Ezequiel, a assembleia litúrgica responde com um cântico extraído do Livro de Jeremias. Deus fez pressentir a este profeta a libertação e a recomposição do seu Povo. À purificação obtida mediante o sofrimento, seguir-se-á a explosão de uma alegria indizível” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de março de 2018


(Jr 20,10-13; Sl 17[18]; Jo 10,31-42) 
5ª Semana da Quaresma.

O profeta Jeremias empresta voz a todos os que são perseguidos, mas que aprenderam a esperar em Deus, ligando-se ao evangelho fala da experiência de Jesus, perseguido e acusado, mesmo não encontrando nele nenhuma culpa. Tudo é coroado pela oração do salmo 18,2-7: “Na angústia, o crente lança a Deus um grito que é, ao mesmo tempo, de súplica, de confiança, de esperança e de manifestação de amor. A situação mais desesperada torna-se para o justo ocasião de professar a sua fé em Deus, visto como ‘força’, ‘fortaleza’, ‘refúgio’, ‘libertador’, ‘protetor’, ‘salvador’” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus). 

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de março de 2018

(Gn 17,3-9; Sl 104[105]; Jo 8,51-59)
5ª Semana da Quaresma.

A figura de Abraão domina a liturgia da palavra citado nos três textos que se ligam pela palavra ‘descendência’, num sentido forte de lembrança das promessas divinas. Primeiro, aquela que Deus prometeu a Abraão, numerosa, como era o desejo de todo o israelita, juntamente com a terra nova onde iriam habitar. No evangelho Cristo o cita como aquele que exultou em ver o Verbo encarnado na história humana, Aquele que desde sempre existiu, que foi esperado também desde sempre. O salmo 105,4-9 recorda aos descendentes de Abraão a aliança que Deus fez com o mesmo: “É o cântico da fidelidade de Deus. Como dirá São Paulo: ‘Os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis’ (Rm 11,29), a sua Aliança e as suas promessas são para sempre. O Povo, reconhecendo a sua inconstância, apoia-se na fidelidade e no amor perene do Senhor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).
 
 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de março de 2018


(Dn 3,14-20.24.49.91-92.95; Sl Dn 3; Jo 8,31-42) 
5ª Semana da Quaresma.

O episódio dos três jovens lançados na fornalha ardente e que saíram ilesos, foi escrito para incentivar a fidelidade ao Deus de Israel, mesmo vivendo em terra estrangeira em meio aos seus ídolos. Essa narrativa serviu para encorajar os primeiros cristãos em meio as perseguições sofridas, dando-lhes a certeza que Deus não abandona quem lhe é fiel. Como salmo temos um pequeno trecho do chamado ‘canto dos três jovens’ (Dn 3,52-56: “A assembleia litúrgica reza com o cântico dos três jovens na fornalha ardente para bendizer a Deus e louvar a Sua grandeza, confiante de que Ele faz ainda hoje maravilhas, manifestando o Seu poder e a Sua glória” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de março de 2018


(Nm 21,4-9; Sl 101[102]; Jo 8,21-30) 
5ª Semana da Quaresma.

No 4º domingo da quaresma desse ano ouvimos Jesus mencionar esse episódio da serpente levantada numa haste ao falar de Sua morte e da nossa contemplação, um olhar de fé, para sermos também curados, pois na Cruz se manifesta o amor infinito de Deus, que vem guiando e cuidando do seu povo ao longo da história da salvação, apesar de suas murmurações. O Salmo 102,2-3.16-21 traz a voz confiante dos aflitos e enfermos que elevam seu olhar a Deus carregado de esperança. Desconhecemos o autor, mas se revela em sua linguagem um momento ruim de sua vida. É considerado um salmo penitencial. “Vivemos em um mundo em mudança: a moda muda, a tecnologia muda, os governos mudam, os relacionamentos mudam. Acima disso, eu mudo. Cada dia traz novos desafios, novas oportunidades, toda uma gama de escolhas, e tudo isso exige mudança. O autor do salmo 102 enfrentou a mudança também. Na verdade, ele estava tão consumido com as mudanças em seu mundo e com a brevidade da própria vida que não conseguia comer ou dormir. Ele continuava a procurar alguma âncora em uma tempestade de mudança, algo ou alguém com quem pudesse contar. Ele encontrou essa âncora em um Deus imutável” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de março de 2018


(2Sm 7,4-5.12-14.16; Sl 88[89]; Rm 4,13.16-18.22; Mt 1,16.18-21.24) 
Solenidade de São José, esposo de Maria e padroeiro da Igreja.

Com uma pequena pausa em nossa quaresma, fazemos memória de São José, esposa da Virgem Maria. Nossa liturgia se abre com essa recordação da Aliança que Deus estabelecerá a partir de um descendente de Davi. É disso que nos fala o salmo 89,2-5.27.29. “Deus é realmente fiel à Suas promessas! É o que afirma este salmo, com insistência e com uma terminologia nova na primeira parte, do tipo hínico (vv. 2-5). Os versículos 27-29 exprimem a ligação particular entre Javé e David. O rei reconhecerá Deus como seu pai e Este assegura-lhe graças e fidelidade” (Giuseppe Casarin –Lecionário Comentado – Paulus). É nessa fidelidade divina que hoje pedimos, por intercessão de são José, esse olhar de Deus sobre a Sua Igreja e Seu rebanho.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Quaresma – Ano B


(Jr 31,31-34; Sl 50[51]; Hb 5,7-9; Jo 12,20-33).

1. Mais próximos ainda da celebração da Páscoa, a liturgia da palavra nos traz esse texto de Jeremias, onde Deus promete fazer uma nova aliança com o seu povo, mas não sem antes recordar o que não deu certo no passado. A novidade é que essa nova Aliança deve partir do coração; mais que uma mera observância externa, ela parte do íntimo, da necessidade de agir corretamente, guiado pelo Espírito de Deus.

2. É a Páscoa de Cristo que nos trará essa nova compreensão da necessidade de renovação continua de nossa aliança com Deus por uma compreensão sempre maior e melhor de sua lei ou seus mandamentos.

3. Como a que nos preparar para o processo da paixão o autor da carta aos Hebreus nos fala da humanidade de Cristo, daquilo que o toca enquanto sofrimento comum a todo mortal.

4. Ele também orou diante do sofrimento, para ter a força necessária de suportar e realizar a vontade do Pai. O autor quer apenas nos lembrar que a sua encarnação foi total, ainda que fosse Deus em sua essência. Tocando a nossa humanidade e sendo por ela tocado. Dando-lhe uma compreensão do que significa ser humano, e assim melhor nos entender.

5. João nos narra um episódio que aconteceu antes da Páscoa de Jesus. Um grupo de estrangeiros quer ver Jesus. ‘Ver’, segundo João é acreditar, mais que simplesmente contemplar com o olhar. Esses homens fizeram um caminho de fé que os trouxe a esse momento. Eles representam todos os que, independente da nacionalidade buscam a Jesus. Os discípulos podem ser esse canal de apresentação.

6. O texto parece ser interrompido por uma auto apresentação de Jesus a partir do mistério da sua entrega, comparada a um grão de trigo e ao mesmo tempo uma revelação do que significa segui-lo: entrega e doação de si. Há sementes que não se pode guardar uma vida toda; ou ela se dá, se entrega à terra ou se perderá para sempre.

7. Jesus toma a palavra para pronunciar um discurso conclusivo, reunindo e afirmando vários ensinamentos. São frase breves, quase aforismos e paradoxos. Um paradoxo central percorre o desenvolvimento: a paixão é glorificação.

8. João não narra a agonia de Jesus no horto, e assim ele quer suprir tal narrativa que Jesus vive uma certa agitação interior; mesmo considerando a possibilidade de que o Pai o livre ou dispense da paixão, afirma sua vontade de enfrenta-la. Tudo se encerra com uma teofania, um trovão, uma voz.

9. A cruz de Jesus já é o julgamento desse mundo, de um poder sobre o qual Jesus já tem a vitória. A cruz, como testemunho de amor e de revelação do amor do Pai, terá força de atração universal. É o que se pode dizer ou deduzir desse emaranhado de frases soltas colocadas pelo autor.

10. O que importa para nós é que, se queremos ver Jesus, essa é a sua face que se revela para nós a partir de sua paixão. O que nos exige, desses dias de sua paixão que se aproximam, um olhar mais contemplativo, para que entendamos, a partir de dentro, de uma comunhão íntima com o Pai, o que significa seguir a Jesus.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de março de 2018


(Jr 11,18-20; Sl 7; Jo 7,40-53) 
4ª Semana da Quaresma.

Ontem e hoje as imagens traduzidas na primeira leitura nos aproximam do mistério da paixão. O profeta Jeremias eleva o seu lamento diante de Deus. Sente-se oprimido pelos próprios amigos, pois sabe-se inocente, a ponto de comparar-se com um cordeiro. Só lhe resta colocar a sua causa diante d’Aquele que sonda os sentimentos e o coração. O salmo 7,2-3.9-11.18 prolonga a oração do profeta. Composto por Davi quando vítima de uma campanha difamatória de um indivíduo chamado Cuxe ou Kush, da tribo de Benjamim; ele pede proteção a Deus e ao final eleva o seu louvor.  “Você já foi alvo de uma mentira? Normalmente você é a última pessoa a ouvir sobre ela. O inimigo permanece abaixado, fora da vista. Ele sussurra seu segredinho para um grupo seleto, que espalhará o boato por toda a empresa ou por toda a igreja. Quando ouve o que está sendo dito, você mal consegue acreditar. Porém, quanto mais se defende, mais fundo você cava o poço da desconfiança que os outros têm. O que podemos fazer quando nossa integridade é atacada? Fazer o que Davi fez. Contamos para Deus e pedimos que ele nos defenda. Nós nos refugiamos no Senhor, atrás do seu escudo de proteção. Deixamos as consequências virem sobre as pessoas que estão falando mal de nós. 'Quem cava um buraco e o aprofunda cairá nessa armadilha que fez. Sua maldade se voltará contra ele; sua violência cairá sobre a sua própria cabeça’ (vv. 15-16). Davi parou de tentar responder aos seus acusadores. Ele simplesmente deixou que Deus tratasse disso. Deus deve ter silenciado Cuxe, porque não lemos mais sobre ele em nenhum lugar da Bíblia. Deus não faz coisas pela metade. Ele é o altíssimo – acima de nossos inimigos. Conseguimos ter paz quando permitimos que Deus nos proteja” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de março de 2018


(Sb 2,1.12-22; Sl 33[34]; Jo 7,1-2.10.25-30) 
4ª Semana da Quaresma.

Nessa imagem do justo que se vê diante do ímpio e do seu ódio, o texto nos conta das artimanhas preparadas para eliminá-lo. O texto faz emergir o rosto de Jesus, o justo por excelência que sofre e morre por causa da impiedade humana, ao mesmo tempo dessa comunhão de Cristo com os perseguidos da história. O nosso salmista (Sl 34,17-21.23) diz que só Deus poderá confortá-lo e salvá-lo. “Mil anos depois de Davi escrever esse salmo, Deus permitiu a outro servo seu passar por uma terrível experiência: a morte de Jesus na cruz. João, um dos seguidores mais próximos de Jesus, registrou os acontecimentos daquele dia, e se impressionou com algo que provavelmente teríamos negligenciado. Os soldados romanos vieram para quebrar as pernas dos homens crucificados para acelerar a morte deles. Eles descobriram que Jesus, no entanto, já estava morto. Suas pernas não foram quebradas. João disse que isso aconteceu para que as escritura se cumprissem. Diz o Salmo 34,20 ‘mesmo os seus ossos ele os guarda e protege, e nenhum deles haverá de se quebrar’. Será que Davi sabia, quando escreveu o salmo, que estava escrevendo sobre o Messias que haveria de vir? De jeito nenhum! Mas Deus, o Espírito Santo, que moveu Davi para escrever o salmo, fez com que essas palavras fossem incluídas – para se cumpri dez séculos mais tarde” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de março de 2018


(Ex 32,7-14; Sl 105[106]; Jo 5,31-47) 
4ª Semana da Quaresma.

Hoje a liturgia lembra o triste evento do bezerro de ouro feito pelo povo de Deus na impaciência de sua espera por Moisés e esquecidos de Quem os libertou nesse contínuo pecado da idolatria. Moisés coloca-se no meio dessa delicada situação e intercede pelo povo apelando para a infinita misericórdia de Deus. O salmo traz a intepretação poética dos fatos (Sl 105,19-23). “A assembleia cristã canta este salmo que recorda os acontecimentos principais da história de Israel, fazendo menção sobretudo do grave pecado narrado no capítulo 32 do Êxodo. Ainda hoje, depois da extrema manifestação do amor de Deus para conosco na Cruz de Cristo, continuamos a cair na infidelidade e precisamos do Seu perdão” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de março de 2018


(Is 49,8-15; Sl 144[145]; Jo 5,17-30) 
4ª Semana da Quaresma.

Os textos seguem acompanhando a dinâmica do quarto domingo quaresmal que nos convida a alegria pela proximidade da festa da Páscoa. O profeta convida e envolve seus ouvintes nesse alegre anúncio de esperança, pois acabou o exílio e Deus fará novas todas as coisas, reunindo os filhos dispersos e os reconduzindo à casa numa atitude amorosa. É essa bondade, ternura, misericórdia, justiça e santidade de Deus que o nosso salmo (Sl 145,8-9.13-14.17-18) proclama: “Você já louvou a Deus apenas por ser quem é? Normalmente louvamos pelo que tem feito por nós (seus atos), mas eu gostaria de saber quanto tempo faz que louvamos a Deus simplesmente por seu maravilhoso caráter. Talvez você devesse voltar a orar a lista de Davi do começo ao fim. Se você não consegue pensar em exemplos de santidade ou justiça de Deus, ou se não consegue entender algumas dessas qualidades, leia um bom livro de teologia sobre o caráter e a natureza de Deus. Comece a inserir em suas orações e seus cânticos de louvor gratidão por quem é Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de março de 2018


(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 
4ª Semana da Quaresma.

Outra imagem alegre nos é oferecida por Ezequiel. Esta água que sai do Templo é a imagem simbólica de tempos novos que brota dessa única fonte de vida que é Deus, e assim nos remete ao seu ato criador. E como vimos no domingo anterior, Jesus é o novo Templo, e dessas águas que brotam de seu lado aberto nos vem o Espírito que derramado desde o batismo sobre nós, regenera, cura, transforma e comunica a vida de Deus, a Sua santidade e a Sua alegria. O salmo 46,2-3.5-6.8-9 celebra a grandeza da cidade santa, fazendo menção a alegre presença de um rio que alimentava suas fontes: “A segunda estrofe retrata a segurança e proteção de habitar na cidade de Deus, na presença de Deus. Para o fiel do Antigo Testamento, essa cidade era Jerusalém, o lugar da presença visível de Deus com o seu povo. Para os seguidores de Jesus na era do Novo Testamento, o lugar de proteção é na percepção consciente da presença imediata de Deus. O Espírito Santo vive em nós, carregamos a presença direta de Deus conosco. É possível que haja algum local de entretenimento que evitaríamos se nos déssemos conta de que Jesus está sentado ali conosco. A consciência da presença de Deus deveria fazer diferença no modo como trabalhamos, no modo como falamos com nossos filhos e no modo como dirigimos. Exércitos de inimigos podem se juntar contra nós, mas permaneceremos perto da cidade de Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de março de 2018


(Is 65,17-21; Sl 29[30]; Jo 4,43-54) 
4ª Semana da Quaresma.

O alegre texto que a liturgia nos oferece situa-se num tempo em que o povo havia voltado para sua terra, mas não para o seu Deus com todo o seu coração. A salvação que Deus oferece é essa harmonia entre os dois corações, pois assim é possível que algo novo se concretize. Aqui, nesse contexto quaresmal, sabemos que celebrar a Páscoa é celebrar essa comunhão nova com Deus revelada no mistério da entrega do Filho por amor a humanidade. É esse sentir-se amado que canta o nosso salmista (Sl 30,3-6.11-13) em sua ação de graças a um Deus que cura, liberta e salva. “O salmo 30 é um bom cântico a ser entoado quando Deus cura você – de doenças, da destruição do pecado, das cicatrizes devastadoras da desobediência ou da divisão em sua família ou igreja. Deus trouxe Davi de volta da beira da morte – e ele pode fazer o mesmo em suas situações desesperadas” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo da Quaresma – Ano B


(2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136[137]; Ef 2,4-10; Jo 3,14-21)

1. O autor do Livro das Crônicas atribui a ação divina, as desventuras vividas por Israel naquele período, mas deixa claro que Deus não agiu assim por capricho, como quem retribui na base do ‘olho por olho’. Israel enveredou pelo caminho da negligência, como o nosso país, não fazendo aquilo que é correto. Deus  até que tentou advertir, mas se viu ‘vencido’ pela opção do seu povo.

2. O que está por trás do nosso texto não é tanto a ação de Deus, mas as consequências de uma escolha atrapalhada. Deus deu um tempo, diz o texto, depois o trouxe de volta à sua terra. Assim ele responde, anos depois, às perguntas que se faziam os que tinham retornado, uma nova geração, de como tudo isso pode acontecer.

3. A celebração da Páscoa exige de nós esse olhar retroativo de onde estamos para o caminho que fizemos, o que aprendemos ao longo do mesmo para não repetirmos certos erros. Mas a mensagem final é certa: Deus nunca abandona, ainda que soframos por um tempo as nossas escolhas.

4. Se notamos, a segunda leitura é quase um refrão nessa quaresma cantando a ação redentora de Deus em Cristo Jesus ao ressuscitá-lo, a nosso favor e por pura bondade. Que resta se não esperar que nos motivemos pelo gesto divino a uma resposta amorosa?

5. O evangelho nos lança a um encontro noturno que Jesus teve com um notável judeu chamado Nicodemos. Um trecho desse diálogo nos é proposto como reflexão.

6. A certa altura, Jesus fala de sua morte que irá acontecer, comparando com um episódio do passado em que Moisés ergueu uma serpente de bronze como sinal ao povo que havia sido picado no deserto. Esse evento do passado está carregado de simbolismos e explicações, mas o que Jesus está propondo não é um simples olhar miraculoso para o crucifixo.

7. A cruz de Jesus é a expressão máxima do amor de Deus e que exige muitas leituras para entendermos sua mensagem e nos deixemos também curar. A salvação que se busca com o olhar se deve traduzir numa identificação com o caminho de entrega a Deus que fez Jesus de si.

8. Como diz Ariano Suassuna, ver é uma coisa, enxergar é outra bem diferente. Muitos olharão, mas não compreenderão exatamente o que quer dizer tudo isso. Um gesto que a Igreja repete a cada Sexta-feira Santa e a cada instante de nossa vida exige releituras.

9. É na segunda parte que o evangelho se encontra com a 1ª leitura. Deus não condena ninguém, nós nos condenamos a partir das escolhas que fazemos, por não aceitarmos ou não compreendermos. Não se trata de um juízo de tribunal ou de prestação de contas, mas de uma mudança de rota ao pesarmos o caminho que estamos fazendo com aquilo que Ele nos propõe.

10. Assim, parafraseando Pe. Zezinho, um Deus apaixonado mandou o seu recado, em Jesus aprendemos a ler ou enxergar o rosto do Pai e sua amorosa e insistente proposta de salvação que se torna luz, um olhar que se dilata.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de março de 2018


(Os 6,1-6; Sl 50[51]; Lc 18,9-14) 
3ª Semana da Quaresma.

Continuamos com Oseias, só que desta vez o encontramos num contexto penitencial onde o povo exprime a intenção sincera de voltar ao Senhor, pois este não falta em seu perdão, mas conhece as inconstâncias do seu povo, por isso pede uma prática muito mais pautada pelo amor do que a repetição de meros sacrifícios. O salmo 51,3-4.18-21 verbaliza essa tomada de consciência do penitente. “Este salmo, um dos mais belos do saltério, evidencia três atitudes necessárias para uma verdadeira penitência dos pecados: consciência das culpas cometidas, enquanto grave injustiça feita a Deus, confiança ilimitada n’Aquele que pode perdoar; participação na oração da parte de toda a comunidade eclesial” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 9 de março de 2018


(Os 14,2-10; Sl 80[81]; Mc 12,28-34) 
3ª Semana da Quaresma.

Ao final do seu livro Oseias proclama o retorno de Israel ao seu Senhor, recordando as suas ilusões anteriores, para voltar a experimentar a ternura de Deus pelo seu povo. O salmo 81,6-11.14-17 canta o louvor da libertação realizada pelo Senhor; não há outro deus como Ele. Se permanecermos nessa comunhão poderemos ser alimentados por seus cuidados. Esse permanecer está também numa atitude de escuta. “Alguns amigos me disseram que logo no início da vida [cristã] foi-lhes dada uma clara percepção de quando Deus estava com eles. Eles aprenderam a reconhecer certos movimentos do coração e da mente como sendo a voz de Deus, do mesmo modo como as crianças aprendem a reconhecer a voz da mãe. Essa era uma parte tão natural da vida que meus amigos não refletiam muito sobre ela. Mas essa não é minha experiência. Nunca ouvi literalmente a voz de Deus, e não cresci com um discernimento intuitivo quanto ao momento em que Deus estava se comunicando comigo. Na verdade, sempre fui propenso a suspeitar de pessoas que falam com facilidade dessas coisas. Passei a acreditar que essa suspeita não é de todo uma coisa boa. Percebo agora que, se eu quiser um relacionamento pessoal com Deus, devo estar aberto à possibilidade de que, às vezes, ele fala diretamente comigo”  (John Ortberg in Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite