Sexta, 01 de setembro de 2023

(1Ts 4,1-8; Sl 96[97]; Mt 25,1-13) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, desprezar estes preceitos não é desprezar um homem, e sim a Deus, que nos deu o Espírito Santo” 1Ts 4,8.

“Fundada três séculos antes da era cristã, Tessalônica é hoje uma das maiores cidades da Grécia. Banhada pelo mar Egeu, essa antiquíssima cidade sempre se destacou por ser o centro das rotas marítimas e terrestres. A localização privilegiada fez dela um grande centro comercial e cultural, atraindo pessoas das mais diversas culturas, filosofias e crenças. E foi nessa cidade, desde sempre muito movimentada, que Paulo e seus companheiros lançaram as sementes da fé cristã em meio a muitas adversidades (cf. At 17,1-15). Paulo não ficou muito tempo em Tessalônica. Porém, mesmo distante, preocupava-se com a comunidade; desejava que aqueles irmãos perseverassem na fé e não se deixassem levar pelos costumes pagãos. Por isso, na primeira carta que escreveu aos tessalonicenses, exortou-os a tomarem cuidado com algumas ideias e comportamentos da grande cidade. No trecho que lemos hoje, as exortações tocam especialmente o tema da sexualidade (1Ts 4,1-8). Eis aí um tema delicado, mas extremante urgente e necessário. A sexualidade continua a ser um desafio para o ser humano. Não importa se somos homens ou mulheres, jovens ou adultos, solteiros ou casados, país ou filhos, irmãos ou amigos; o fato é que todos precisamos aprender a lidar com essa energia poderosa que é a nossa sexualidade, e aprender a lidar com essa energia em todos os nossos relacionamentos. Com o cônjuge, com os filhos, com irmãos ou mesmo entre amigos, sempre precisamos aprender a amar e aprender a ser amado; a construir relacionamentos equilibrados e significativos; a sentir e demonstrar de forma saudável nossos sentimentos; a respeitar este templo sagrado que é o corpo, o nosso e o dos outros; aprender, enfim, a buscar em Deus o caminho para o amor e a felicidade verdadeiros que tanto desejamos. - Senhor, és a única e verdadeira fonte do Amor. Ensina-nos, pois, a amar. Amém” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 31 de agosto de 2023

(1Ts 3,7-13; Sl 89[90]; Mt 24,42-51) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Qual é o empregado fiel e prudente que o senhor colocou como responsável pelos demais empregados,

para lhes dar alimento na hora certa?” Mt 24,45.

“Nesta segunda parábola, Jesus recomenda a fidelidade à vontade de Deus. O Senhor colocou na mão e a sob a responsabilidade de cada um de nós alguns bens espirituais e deles devemos dar conta depois de tê-los administrado com retidão para o próprio bem e para o bem dos outros. É essa a nossa responsabilidade: administrar devidamente os dons de Deus. ‘Duas coisas deseja e quer o Senhor em seus servos: a prudência e a fidelidade: a prudência para conhecer como e quando dispensar o que lhe foi confiado; a fidelidade para não usurpar, nem fazer seu nada de quanto pertence ao amo’ (São João Crisóstomo). Servo fiel e prudente deve ser em tudo quanto se refira à sua vida espiritual, suas relações pessoais com Deus; fiel a todas as graças recebidas de sua paternal bondade; fiel a seus compromissos batismais ou de consagração a Deus e à extensão de seu Reino. E servo prudente com a prudência do Evangelho e não com a prudência da carne que não busca senão o que é de seu agrado e prazer” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de agosto de 2023

(1Ts 2,9-13; Sl 138[139]; Mt 23,27-32) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos,

mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão!” Mt 23,27.

“A aparência engana. Nem sempre. É bonito quando o externo combina com o interno. Quando o dentro e o fora são uma unidade. Quando o fora reflete o dentro. Quando os olhos verdes refletem o verde da vida. Cristo toma o exemplo dos cemitérios. É uma realidade crua e verdadeira. Lindos mausoléus. Lindas capelas. Pinturas bonitas. Dentro de tudo isso a mesma realidade: podridão, ossos, cheiro insuportável, larvas… Assim, diz Jesus, é o coração de toda pessoa que luta para manter as aparências. Que vive o conflito da verdade por fora e a mentira por dentro, do riso nos lábios e da lágrima no coração, da palavra bonita para outros e do grito de dor por dentro, do entusiasmo externo e da derrota interna. Luta-se hoje em dia para que as pessoas se realizem na inteireza. Ser pessoa inteira. Ser pessoa global. Pessoa em todos os sentidos: corporalmente e intelectualmente. Ser inteiro em todas as ocasiões e ações. Colocar-se inteiro naquilo que se faz, sem usar das aparências, mas fazer aquilo que se é. Porém, como somos humanos ententamos nos defender a qualquer preço, cada um de nós se torna um especialista em máscaras. Para cada ocasião estudamos o uso para superar o que não somos. Mas viver mascarados cansa. O tempo do carnaval é curto. A máscara cria situações permanentes de conflitos e os conflitos causam grande desgaste e o desgaste conduz à morte. É necessário ser simples. Ser o que a gente é. Ser por fora o que se é por dentro. Ser como Jesus Cristo. - Senhor Deus, liberta-me de ser mentira. Que eu seja simples. Minhas palavras sejam reflexo e a revelação dos meus sentimentos e de meus pensamentos. Minhas ações sejam parte de mim que se revela no meu fazer cotidiano. Que eu seja nas mãos e nos olhos o que sinto e penso. Amém” (Maria Luiza Silveira Teles – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de agosto de 2023

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) Martírio de São João Batista.

“Herodes tinha mandado prender João e coloca-lo acorrentado na prisão” Mc 6,17a.

“A Igreja celebra a natividade do Batista (24 de junho), pois foi santificado no seio materno, quando a Bem-Aventurada Virgem esteve na casa da prima Isabel, depois do anúncio do anjo. Ela hoje celebra o martírio do ‘maior dos profetas’. Quem o diz é o próprio Jesus: ‘Ele é mais que um profeta...’. a celebração deste dia tem origem antiga tanto no Oriente como no Ocidente. A própria data (29 de agosto) aparece nos sacramentários romanos, para recordar o reencontro da cabeça do Batista, colocada na igreja romana de são Silvestre em Campo de Marte. A vida que este santo precursor de Cristo levou no deserto fascinou os antigos monges, que o escolheram como modelo em seus eremitérios. O Evangelho informa-nos até sobre o início da missão do Precursor, cuja palavra de fogo o faz ser tomado por Elias ressuscitado. No décimo quinto ano do imperador Tibério (27 d. C.), João abandonou a solidão do deserto para convidar o povo a ‘preparar o caminho do Senhor’ e acolher o Messias com uma sincera conversão. Sua palavra era dirigida a todos, mas nem todos estavam dispostos a acolher sua mensagem. Ao entusiasmo do povo fez contraste a irritação dos fariseus, os puros, cuja hipocrisia o Batista – como faria Jesus – condenava. Suas invectivas não agradaram sobretudo ao rei Herodes Antipas e em particular a sua cunhada, Herodiades, cuja pecaminosa convivência era objeto das invectivas do santo. Pagou sua coragem, como era previsível, com a prisão e o duro cárcere em Maqueronte, na extremidade oriental do mar Morto. Daí fez ouvir ainda uma vez sua palavra em forma de convite dirigido a Jesus: ‘És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?’. Uma provocação para induzir o Messias a declarar-se publicamente e fazer-se conhecer pelos comuns discípulos. Depois sua voz calou-se para sempre. Salomé, filha de Herodiades, por instigação desta, pediu ao ‘tio’ Herodes a cabeça de João Batista como prêmio por ter executado uma bela dança” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de agosto de 2023

(1Ts 1,1-5.8-10; Sl 149; Mt 23,13-22) 21ª Semana do Tempo Comum.

“E quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado” Mt 23,22.

“O que é o principal a ser observado na vida de alguém? Será que se observa mais as coisas mínimas e se esquece das principais? O que está por trás do interesse mínimo? Pois bem! Preocupar-se com o mínimo é olhar somente para si próprio e não voltar o olhar para os mais necessitados ou para aquele que vive a seu redor; e fechar as possibilidades de cumprir a vontade de Deus; é adorar outros deuses como o dinheiro, atores e atrizes da TV e até mesmo as drogas lícitas e ilícitas. Mas, e então, o que é o principal? O principal é a justiça, a misericórdia e a felicidade. Se Deus está sentado sobre o céu, então ali é seu trono, se jurar pelo céu, ou pelo trono, se está jurando pelo próprio Deus. A ação pós-juramento, ou entrega, ou dispor-se ao Senhor deve ser uma ação de justiça, pois Deus age com justiça com cada um dos seus filhos. Ele espera que sejam todos coerentes com o seu projeto de vida e que vivam intensamente o seu amor. Outra ação importante é a misericórdia, pois um olhar misericordioso é capaz de mudar muitos sentimentos ruins entre as pessoas. Não distante às duas ações anteriores, a felicidade é a concretude deste tripé que deve ser observado sempre. Ser feliz é cumprir o projeto de Deus e usar de misericórdia com os irmãos e irmãs, é abrir-se para a graça de Deus e deixa-lo realizar maravilhas através do seu servir. Esteja atento ao principal e não se prenda ao supérfluo. Seja feliz e não se canse de servir ao Senhor e ao próximo, pois o grande veio para servir e não para ser servido. – Senhor da Verdade, abri o nosso coração para que possamos abraçar confiantes a vossa justiça e que sejamos justos, que possamos sentir a vossa misericórdia para sermos misericordiosos e, no fim, todos alcancemos a felicidade. Assim seja! (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

21º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 22,19-23; Sl 137[138]; Rm 11,33-36; Mt 16,13-20)

1. Tem, na nossa cultura e na sociedade atual, um fato que nos pode introduzir na compreensão do Evangelho deste domingo, é a chamada pesquisa de opinião. Essa é praticada em vários setores, mas sobretudo no âmbito político e comercial. Também Jesus um dia quis fazer uma pesquisa de opinião, mas para fim diverso: não político, mas educativo.

2. Estamos em Cesareia de Filipe, bem ao norte de Israel, num momento de pausa, bem tranquilo onde estão só Jesus e os apóstolos. Jesus sai com uma pergunta como a queima-roupa. E por sua vez os apóstolos parecem que não esperavam a hora de poder falar do que circulava sobre Jesus. 

3. Mas a Jesus não interessa medir o nível de sua popularidade ou o seu índice de aceitação entre as pessoas. O seu objetivo é outro, por isso já emenda com a pergunta: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’. Essa segunda pergunta os pega de surpresa. Silêncio e troca de olhares. Se à 1ª pergunta responderam em sincronia, desta vez só um responde.

4. ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo’, diz Pedro. Entre as duas respostas há um salto abissal, uma ‘conversão’. Se para a 1ª resposta bastava olhar ao redor e escutar as pessoas, para a 2ª foi preciso olhar para dentro, escutar uma voz bem diversa, que não vem da carne nem do sangue, mas do Pai que está nos céus. Pedro foi o objeto dessa iluminação.

5. É o 1º reconhecimento nos evangelhos da verdadeira identidade de Jesus. O 1º ato público da fé em Cristo da história. Pensemos àquele rastro produzido por um grande navio que vai alargando-se à medida que esse avança até perder-se no horizonte, mas tudo começa ali, na ponta do navio. Essa ponta é o ato de fé de Pedro.

6. Assim é a fé em Jesus Cristo, que foi se alargando até chegar aos confins da terra. Depois Jesus usa uma outra imagem, que mais que movimento, faz ressaltar a estabilidade: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja’.

7. Comumente interpretamos que essa mudança de nome faz parte, como no Antigo Testamento, desse rito que aponta para uma nova importante missão. Mas a Bíblia Ecumênica, TEB, nos diz que se trata de um apelido, um segundo nome. Pois Jesus é a ‘pedra angular’ de nossa Igreja. Quando essa tornar-se invisível, será necessário um sinal que a represente. Assim entendemos a função de Pedro e de seus sucessores.

8. Mas voltando à pesquisa de opinião, esta permanece uma contínua provocação ao longo dos tempos. Sobre as opiniões alheias, não faltam livros, vídeos que fazem referência ao que pensam sobre Jesus os filósofos, os teólogos, os literários, até mesmo os ateus.

9. Tudo isso permite às pessoas uma certa neutralidade em relação a Jesus. Como se entre Jesus e nós se colocasse uma tela protetiva entre as tantas opiniões contra e favor. Tudo nos deixa tranquilos, pois não precisamos tomar uma decisão. É como andar por aí com um celular na mão e perguntar às pessoas em que votará nas próximas eleições, sem precisar ter nenhuma preferência política para fazer isto.

10. Mas sempre desponta aquele ‘e tu, quem diz que eu sou?’. E não temos escapatória. Diante da nossa consciência, é como se improvisadamente durante essa mesma pesquisa de opinião, um dos nossos entrevistados tomasse o celular e nos perguntasse: ‘e você, em quem vai votar?’. Aí as coisas mudam.

11. Também hoje, são muitos os que silenciam e poucos aceitam responder a essa segunda pergunta de Jesus e de acolher a graça e proclamar: ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!’. Muitos cristãos são como certos edifícios ou estruturas que se atingidas em determinados pontos ou se retira determinado elemento, tudo vem a baixo. Um ponto nevrálgico da fé cristã é a divindade de Jesus. É por essa que um cristão se distingue das outras religiões do mundo.

12. Pois bem, aqui estou eu a colocar de novo a pergunta central de nossa fé: ‘Quem é Jesus de Nazaré para você?’ E talvez queiram me devolver a pergunta. Eu tenho a graça (porque é de graça que se trata e não de mérito) e a alegria de poder dizer, sim, também para mim, como para Pedro, Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de agosto de 2023

(Rt 2,1-3.8-11; 4,13-17; Sl 127[128]; Mt 23,1-12) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações!

Pois eles falam e não praticam” Mt 23,3.

“Estas foram as palavras de Jesus, dirigidas às ‘multidões e aos seus discípulos’, a respeito dos escribas e fariseus. Na medida em que ia se aproximando o desfecho final, aumentava o confronto com as autoridades religiosas. Jesus foi duro com os expoentes da religião, mas muito leal com eles. Quando era o caso, concordava com os fariseus, e sabia respeitar o cargo que possuíam. Sobretudo quando entrava em jogo a Lei de Moisés. Sabia distinguir entre o conteúdo da Lei e a postura contraditória do estilo de vida dos fariseus. Tanto que recomendou às multidões e aos discípulos que seguissem os preceitos vindos da antiga Lei, e que eram urgidos pelos fariseus e doutores da lei. Contanto que tivessem o cuidado para não imitarem suas obras, pois eram incoerentes: ensinavam uma coisa e faziam outra. Quando a Lei era invocada para contrariar a missão recebida do Pai, o próprio Jesus assumia a causa, e questionava severamente os fariseus. Como, por exemplo, no estratagema que os fariseus usavam para não serem obrigados a socorrer os pais. Declaravam que seus bens já estavam empenhados para serem oferecidos a Deus, e assim estavam livres de socorrer os próprios pais. Jesus flagrou a incoerência, dizendo claramente: ‘Vocês anulam o mandamento de Deus com as vossas tradições humanas’. Quando Jesus sentou à mesa com publicanos e pecadores, os fariseus, no seu íntimo, logo começaram a questionar o Mestre. Como estava em jogo sua missão, falou de maneira clara e contundente, dizendo sem rodeios: ‘eu não vim de chamar os justos, mas os pecadores!’ – Senhor, Vós surpreendestes o mundo, revelando-nos a profundidade do vosso amor misericordioso, que não cabe em nenhuma lei humana. Agora queremos olhar para Vós, e convosco aprender a amar de verdade. Assim seja! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes). 

 Pe. João Bosco Viera Leite

Sexta, 25 de agosto de 2023

(Rt 1,1.3-6.14-16.22; Sl 145[146]; Mt 22,34-40) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Rute respondeu: ‘Não insistas comigo para que te deixe e me afaste de ti.

Porque para onde fores, irei contigo; onde pousares, lá pousarei eu também.

Teu povo será meu povo, e o teu Deus será o meu Deus’” Rt 1,16.

“O desamparo é uma atitude de marginalização, de egoísmo, de desumanização, pois leva alguém a excluir outra pessoa abandonando-a e forçando a sair de sua segurança familiar ou do círculo de amigos. Isto ocorre com frequência com idosos, pois são desconsiderados nas suas famílias e colocados em asilos, casas de repouso, etc. Muitos sofrem alguma doença degenerativa, psíquica dentre outras, que na verdade necessitam não só de cuidados médicos, mas também do carinho e cuidado da família. Rute e sua sogra ficaram viúvas (cf. Rt 1,1.3-6.14b-16.22). Um ato de caridade e de misericórdia é demonstrado carinhosamente por Rute, quando decide acompanhar sua sogra até o fim, vivendo com ela, com seu povo e crendo em seu Deus. Rute não abandona aquela senhora, mas se compadece e permanece junto dela, cuidando e amando-a até o fim. Os filhos que hoje demoram para sair da casa dos pais por causa do comodismo deveriam se espelhar em Rute e acolher seus pais ou familiares com filial ternura e assumi-los por toda a vida. Cuidar de quem lhe cuidou é mais que obrigação: é respeito, valorização, desprendimento, retribuição. É assumir na própria vida a dignidade de crescer com as pessoas experimentadas na vida. – Meu Senhor e meu Deus, que a velhice não seja um peso, que a idade avançada não seja um fardo, que a família não se divida, que a ignorância não maltrate a ninguém, que as doenças não causem abandono. Que amemos e sejamos amados, que cuidemos e sejamos cuidados, para que só Vós sejais louvado. Assim seja” (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de agosto de 2023

(Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) São Bartolomeu, apóstolo.

“Filipe encontrou com Natanael e lhe disse: ‘Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei,

e também os profetas: Jesus de Nazaré, o filho de José’” Jo 1,45.

“A Tradição identifica o Apóstolo Bartolomeu com Natanael, aquele a quem o seu amigo Filipe comunicou cheio de alegria de ter encontrado o Messias: ‘Encontramos aquele de quem escreveu Moisés na lei e nos profetas: Jesus de Nazaré, filho de José’. Natanael, como todo o bom israelita, sabia que o Messias devia vir de Belém, do povo de Davi. Assim fora anunciado pelo profeta Miquéias: ‘E tu, Belém Efrata, tu és a menor entre as principais cidade de Judá, mas de ti há de sair aquele que reinará em Israel’. Talvez tenha sido por isso que o futuro apóstolo respondeu num certo tom depreciativo: ‘De Nazaré pode porventura sair coisa que seja boa?’ E Filipe, sem confiar muito nas próprias explicações, convidou-o a conhecer pessoalmente o Mestre: Vem e vê. Filipe sabia muito bem, como nós que Cristo não decepciona ninguém. Foi o próprio Jesus que ‘chamou Natanael por meio de Filipe, como chamou Pedro por meio do seu irmãos André. Essa é amaneira de agir da Providência, que nos chama e nos conduz por meio de outros. Deus não quer trabalhar sozinho; a sua sabedoria e a sua bondade querem que também nós participemos da criação e da ordenação das coisas’ (O. Hopham). Quantas vezes nós mesmos não seremos instrumentos para que nossos amigos ou familiares recebam a chamada do Senhor! Quantas vezes, como Filipe, não diremos: ‘Vem e vê’” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 7 – Quadrante).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de agosto de 2023

(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) Santa Rosa de Lima. 

“O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” Mt 13,46.

“Nem todos se entusiasmavam com o projeto de Jesus. Em muitos surgiram não poucas dúvidas e interrogações. Seria razoável segui-lo? Não era uma loucura? São as perguntas daqueles galileus e de todos que se encontram com Jesus em nível um pouco mais profundo. Jesus contou duas breves parábolas para ‘seduzir’ os que permaneciam indiferentes. Queria semear em todos uma pergunta decisiva: Não haverá na vida um ‘segredo’ que ainda não foi descoberto? Todos entenderam a parábola daquele lavrador pobre que, ao cavar numa terra que não era sua, encontrou um tesouro escondido em algum vaso de barro. E não pensou duas vezes. Era a ocasião da sua vida. Não podia desperdiça-la. Vendeu tudo que tinha e, cheio de alegria, foi comprar o campo e se fez com o tesouro. O mesmo fez um rico comerciante de pérolas quando descobriu uma de valor incalculável. Nunca tinha visto algo semelhante. Vendeu tudo que possuía, comprou-a e se fez com a pérola. As palavras de Jesus eram sedutoras. Será que Deus é assim? Será isto encontrar-se com Ele? Descobrir um ‘tesouro’ mais belo e atrativo, mais sólido e verdadeiro do que tudo que estamos vivendo e desfrutando? Jesus está comunicando sua experiência de Deus: o que transformou por inteiro a sua vida. Terá Ele razão? Será isto segui-lo? Encontrar o essencial, ter a imensa sorte de achar o que o ser humano está desejando desde sempre? Entre nós, muita gente está abandonando a religião sem ter saboreado Deus. Eu entendo essa gente. Eu faria o mesmo. Se uma pessoa não descobriu um pouco a experiência de Deus que Jesus vivia, a religião é um tédio. Não vale a pena. O triste é encontrar tantos cristãos cuja vida não está marcada pela alegria, pelo assombro ou pela surpresa de Deus, e nunca esteve. Vivem encerrados em sua religião, sem ter encontrado nenhum ‘tesouro’. Entre os seguidores de Jesus, cuidar da vida interior não é uma coisa a mais. É imprescindível para viver abertos à surpresa de Deus” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – Mateus – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de agosto de 2023

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) Nossa Senhora Rainha.  

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’” Lc 1,28

“Até a reforma do calendário litúrgico a festividade deste dia (instituída em 1954 por Pio XII) era celebrada em 31 de maio, como conclusão do mês especialmente dedicado à devoção mariana; enquanto isso, a data de 22 de agosto estava reservada para a celebração do Coração Imaculado de Maria. A escolha deste dia para [comemorar] a realeza de Maria - oitavo depois da Festa da Assunção – tem um particular significado. Na Bula ‘Munificentissimus Deus’, Pio XII, ao proclamar a Assunção da Santíssima Virgem, fala explicitamente da estreita ligação que une o Filho e a Mãe; foi o amor filial de Jesus que quis a glorificação corpórea da Mãe. E relendo o Sermão da Montanha à luz de sua aplicação em Maria, compreendemos por que ela tem pleno direito ao ‘reino’ prometido na beatitude. Portanto, cabe-lhe um lugar de preeminência no ‘Reino dos Céus’, junto a Cristo Rei, segundo diz o mesmo papa na encíclica ‘Ad coeli Reginam’, de 11 de outubro de 1954 (Ano Mariana). Por ser Mãe da Cabeça e dos membros do Corpo Místico, participa não somente da realeza de Jesus, mas também do fluxo vital e santificante do Redentor sobre a Igreja. Em Pentecostes, toda a Igreja nascente está recolhida no cenáculo ‘juntamente com Maria, Mãe de Jesus’. Associada ao mistério do nascimento e da redenção, Maria foi, pois, associada à epifania da Igreja. Depois de Belém, o Calvário, o cenáculo, a ressurreição e a ascensão, portanto a Assunção e a glorificação de Maria como ‘termo último de eterno conselho’ – Diz Dante na ‘Divina Comédia’. Nela veneramos os dons da graça extravasado do amor do Filho, dons que ela distribui régia e maternalmente à Igreja, aos filhos conquistados em virtude de sua co-redenção. ‘Da união com Cristo Rei’, lê-se na encíclica ‘Ad coeli Reginam’, ‘deriva uma tal esplêndida sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas; desta mesma união com Cristo nasce aquele real poder, pelo qual ela pode dispensar os tesouros do Reino do Divino Redentor’” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de agosto de 2023

(Jz 2,11-19; Sl 105[106]; Mt 19,16-22) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Então, o Senhor mandou-lhes juízes que os livrassem das mãos dos saqueadores” Jz 2,16

“Depois da morte de Josué tem início o tempo dos Juízes, que terminará com o discurso de Samuel (cf. 1Sm 12). Os juízes não eram aqueles que hoje entendemos por esse nome: eram homens carismáticos, enviados pelo Senhor com a finalidade de salvar Israel da opressão dos vários inimigos que, depois da entrada na Terra Prometida, ameaçavam destruí-lo. O texto de hoje apresenta a oscilação do povo entre fidelidade a JHWH e idolatria, que será a característica de todo o Livro. (Compreender a Palavra:) Segundo a narração bíblica, Israel fez até agora um tipo de experiência de libertação que podemos indicar como uma caminhada de um lugar de escravidão (Egito), através das águas do mar Morto, da aridez e da falta de alimento no deserto, suportando o ataque contínuo dos inimigos, para tomar posse de uma terra onde pode finalmente viver em liberdade. Agora Israel já não é um povo nómada; tornou-se sedentário e tem de aprender a confrontar-se com outros povos que vivem a seu lado. Estes têm estruturas sociais, usos e deuses diversos. O grande desafio será manter a sua identidade e peculiaridade de povo eleito pelo Deus único. Neste período, o povo experimentará um outro tipo de salvação. Antes de mais, os israelitas começaram a abandonar o Deus dos antepassados, servindo os deuses estrangeiros e prostrando-se diante deles. Todas as vezes que esse pecado se repete, o Senhor retira a Sua proteção ao povo, o qual cai assim nas mãos dos inimigos. Numa segunda fase, os israelitas começaram a pedir o auxílio do Alto, de Deus; o Senhor comove-se e intervém enviando um juiz salvador” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Assunção de Nossa Senhora – Ano A

(Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44[55]; 1 Cor 15,20-27; Lc 1,39-56) *

1. Em seu livro “A Cidade de Deus”, Santo Agostinho diz que a História humana é uma luta entre dois amores: o amor a Deus até a perda de si mesmo, até o dom de si próprio, e o amor a si mesmo até ao desprezo de Deus, até o ódio pelos outros. Uma luta entre o amor e o egoísmo. Algo que podemos retirar da 1ª leitura dessa celebração.

2. Aqui, estes dois amores aparecem em duas grandes figuras. Temos primeiramente o dragão, cor de fogo, símbolo do poder sem a Graça, sem o amor, do egoísmo absoluto, do terror, da violência. Para o autor ele personifica o poder dos imperadores romanos anticristãos, de Nero a Domiciano. Um poder que parece ilimitado.

3. Diante desse dragão, a fé, a Igreja, parecia-se com uma mulher inerme, sem possibilidade de sobreviver, e muito menos de vencer. E, no entanto, sabemos que no final venceu a mulher inerme, não venceu o egoísmo, nem o ódio, venceu o amor de Deus e o império romano abriu-se à fé cristã. 

4. As palavras da Sagrada Escritura transcendem sempre o momento histórico. Assim, a imagem do dragão é símbolo das ditaduras anticristãs de todos os tempos. Assim como foi com o nazismo e a ditatura de Stalin. Parecia impossível a fé sobreviver diante deste dragão forte que queria devorar o Deus que se fez Menino, e a mulher, a Igreja. Mas na realidade, também, neste caso no final o amor foi mais forte que o ódio.

5. Também hoje existe o dragão de modos novos, diversos. Existe a ideologia materialista que considera absurdo ocupar-se de Deus. É algo passado. Só valem o consumo, o egoísmo e a diversão. E mais uma vez parece impossível opor-se a essa mentalidade predominante, com toda sua força midiática e propagandista. Mas é verdade também que Deus é mais forte que o dragão, que vence o amor e não o egoísmo.

6. Mas no contexto da nossa celebração é uma outra imagem que nos interessa: a mulher revestida de sol, tendo a lua aos pés. Circundada de doze estrelas. Também esta imagem é multidimensional. Um primeiro significado, sem dúvida, é que é a Virgem Maria, totalmente revestida de sol, ou seja, de Deus; ela vive totalmente em Deus, circundada e penetrada pela luz de Deus.

7. As doze estrelas simbolizam as tribos de Israel, e assim, por todo o povo de Deus, por toda a comunhão dos santos, tendo aos pés a lua, imagem da morte e da imortalidade. Maria deixou atrás de si a morte, está totalmente revestida de vida, elevada à glória dos céus, diz-nos: ânimo, no fim vence o amor.

8. Sua vida de serva de Deus consistia no dom de si mesma, por Deus e pelo próximo. E agora esta vida de serviço chega à verdadeira vida. É o mistério que celebramos. Assim somos chamados a ter confiança e a ter coragem de viver assim também nós, contra todas as ameaças do dragão.

9. A outra imagem da mulher que sofre, que deve fugir, que dá à luz com um brado de dor, é também a Igreja, a Igreja peregrina de todos os tempos. Em todas as gerações, ela deve dar de novo à luz Cristo, leva-lo ao mundo com grande dor. 

10. Em todos os tempos a Igreja, povo de Deus, vive também da luz de Deus. Em toda a tribulação, em todas as diversas situações da Igreja ao longo dos tempos, nas diversas regiões do mundo, sofrendo, vence. E é a presença, a garantia do amor de Deus contra todas as ideologias do ódio e do egoísmo. Ainda que Ele nos pareça frágil como uma criança.

11. A festa da Assunção é o convite a ter confiança em Deus, e é também um convite a imitar Maria naquilo que Ela mesma disse: eu sou a serva do Senhor, e ponho-me a disposição do Senhor. Esta é a lição: percorrer o seu caminho; dar a nossa vida e não tomar a vida. Perder-nos para encontrarmos verdadeiramente a nós mesmos, a verdadeira vida.

12. A fé aparentemente frágil e a verdadeira força do mundo. O amor é mais forte que o ódio. E digamos com Isabel: bendita sois vós entre as mulheres. Pedimos-te juntamente com toda a Igreja: Santa Maria, orai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte! Amém.  

* Pontos retirados da homilia de Bento XVI em agosto de 2007. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de agosto de 2023

(Js 24,14-29; Sl 15[16]; Mt 19,13-15) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Contudo, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” Js 24,15.

“Josué propõe ao povo a escolha entre o Senhor e os deuses, oferecendo o testemunho da sua fé pessoal e o da sua família. A resposta das tribos de Israel, pronta e decidida, consiste na confissão de um só Deus, e, portanto, em abraçar a primeira das dez palavras de vida recebidas por Moisés. É preciso fazer uma escolha entre o Deus dos pais e os deuses, que os herdados do passado, quer os dos povos conhecidos mais recentemente. Servir outras divindades, para Josué, não pode coexistir com a fé só no Senhor é o fato de que Ele prevaleceu sobre os povos e, portanto, sobre os seus deuses. No diálogo com o povo, Josué faz notar a santidade e o ciúme de JHWH, sublinhando a importância do que está a fazer com a referência à ira de Deus, que poderia desencadear-se contra quem transgredisse a Aliança. Além disso, chama o povo como testemunha contra si mesmo. Depois da ereção da pedra-memorial, Josué despede o povo para o seu território: é o cumprimento da conquista da terra e, portanto, da promessa divina feita a Abraão (cf. Gn 12)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de agosto de 2023

 (Js 24,1-13; Sl 135[136]; Mt 19,3-12) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Moisés permitiu despedir a mulher por causa da dureza do vosso coração.

Mas não foi assim desde o início’” Mt 19,8.

“Os judeus, segundo a Lei, podiam repudiar sua mulher, mas era preciso um motivo válido; os rabinos discutiam acerca da gravidade desse motivo; os fariseus procuram atrair Jesus para essas discussões e para seu modo de pensar; declarando-se Jesus por qualquer uma das opiniões em litígio, iria contra aqueles que sustentavam a oposição contrária. Mas Jesus os desorienta, expondo-lhes um caminho diferente, que era o da revelação primitiva. Ao recordar a argumentação, ensina-lhes que se Deus uniu o homem e a mulher a ponto de não formarem senão uma só carne, o homem não tem poder de separá-los. Moisés foi condescendente com os israelitas; mas se Moisés fez isso, foi uma concessão que Deus autorizou, como dispensa temporal, ‘por causa da dureza de vosso coração’ (v. 8) perante as condições ambientais mais ou menos primitivas. Porém, aquele intervalo de concessão terminou, e Jesus Cristo restituiu ao matrimônio a indissolubilidade primitiva. A Lei divina original defende a indissolubilidade do matrimônio, e agora Jesus quer devolver à lei divina o primitivo vigor, dizendo-lhes que a modificação de Moisés carece de todo valor no Reino. Os discípulos de Jesus perceberam que a lei que Jesus acabava de formular era muito mais estrita que toda jurisprudência judaica nesse aspecto; julgam duras as palavras de Jesus e, influenciados pelo ambiente de então, acreditam que o matrimônio nessas condições seria uma carga difícil de carregar. Por isso replicam a Jesus: ‘Se tal é (...) é melhor não se casar’ (v. 10. Jesus não aprova essa conclusão e parte para defesa da castidade perfeita” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de agosto de 2023

(Js 3,7-11.13-17; Sl 113A[114]; Mt 18,21—19,1) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Depois Josué disse aos filhos de Israel: ‘Aproximai-vos para ouvir as palavras do Senhor vosso Deus” Js 3,9.

“Quando Deus fala ao seu povo – Shema Israel – Ele faz um chamado a cada um esperando a mais sincera disponibilidade de seu povo. Que disponibilidade é esta? O primeiro ponto é de que o movimento de ouvir é o de ter atenção e interesse. O segundo ponto é de responder ao chamado colocando em prática o que se ouviu do Senhor e partir em missão sem olhar para trás. O terceiro ponto é de viver intensamente aquilo que abraçou com o chamado de Deus. Existe algo muito importante para que se concretize este movimento de disponibilidade, o aproximar-se. Deus espera que os que foram chamados se aproximem dele, que façam a experiência de amor sem medida, que tenham uma sincera intimidade com Ele e que se deixem conduzir por sua vontade. O aproximar-se passa pela relação com o outro, pois se o ser humano é imagem e semelhança de Deus, então a experiência e a intimidade com o Senhor necessariamente passa pela relação mútua. É preciso enfrentar a realidade da convivência e se despertar para a Palavra de Deus que é dita na vida do outro e avaliar se a sua própria vida está de acordo com aquilo que Deus fala quando lhe chama a viver seu Reino.  Não é fácil viver com o outro, não é simples entender a mente e o coração dos demais, mas não é impossível aprender a cultivar o amor e a vontade de se relacionar na gratuidade, na disponibilidade e em paz. – Deus que sois tão próximo de nós, vinde em nosso auxílio, para que saibamos ouvir sua voz e que vivamos na íntima relação convosco através de nossos irmãos e irmãs, mesmo em meio às diferenças. Assim seja! (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de agosto de 2023

(Dt 34,1-12; Sl 65[66]; Mt 18,15-20) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo!

Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão” Mt 18,15.

“A difusão do Reino depende do testemunho da comunidade cristã. Uma comunidade dividida seria um contratestemunho que leva as pessoas a se afastarem do Reino. Pelo contrário, a comunidade fundada no amor e no perdão atrai as pessoas para Deus. A ofensa que cria divisões, deve ser reparada o mais rápido possível. Por isso, a vítima do ultraje alheio não deve esperar que o seu agressor venha pedir-lhe perdão. Ela mesma deverá tomar a iniciativa de refazer os laços rompidos, dando mostras de ter perdoado e de desejar a reconciliação. O mais importante é ganhar o agressor para o Reino, ajuda-lo a superar sua mentalidade egoísta, que não respeita o próximo, e levá-lo a comportar-se como verdadeiro discípulo do Reino. Se, apesar de mostrar boa-vontade, o ofensor insiste em manter a ruptura, então, é preciso tomar medidas mais sérias, para não ser conivente com esta mentalidade contrária ao Reino, e o ofensor se sinta movido a mudar de atitude. Deve-se chegar até a providência extrema de convocar a comunidade para discernir, em clima de oração, se convém ou não conservar, entre seus membros, essa pessoa que se recusa a viver reconciliada. Não se descarta até mesmo a possibilidade de excomunhão. Contudo, é preciso fazer o possível para que o pecador se converta. – Pai, dispõe-me ao perdão e à reconciliação, e não permitas que eu insista em manter-me afastado de quem me ofendeu ou ao qual eu ofendi (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de agosto de 2023

(Dt 31,1-8; Sl Dt 32; Mt 18,1-5.10.12-14) 19ª Semana do Tempo Comum.

“O Senhor, que é teu guia, marchará à tua frente, estará contigo e não te deixará e não te abandonará.

Por isso, não temas nem te acovardes” Dt 31,8.

“Em meio ao sofrimento, as pessoas dizem que Deus as abandonou, ou que delas se esqueceu e até mesmo que Ele não existe. Mas o Senhor sempre está à frente, pois já conhece a todos desde quando se deita e se levanta e sabe de todas as necessidades e sofrimentos. Ele é quem guia com segurança por onde se deve caminhar, mas, muitas vezes, as próprias pessoas escolhem caminhos por onde o Senhor não aprova e não caminha no erro à frente de ninguém. Quando se assume a missão de viver o projeto de Deus, com certeza é Ele que marcha à frente, está sempre junto e nunca abandona aqueles que correspondem ao seu chamado.  Só é possível viver a ausência de Deus se quiser viver sem Ele, mas isso dentro de si mesmo, pois o Senhor nunca abandona os seus. Não é possível viver longe de Deus quando sua graça é percebida sendo manifestada em cada gesto, palavra, momentos oportunos e até mesmo inoportunos. Quando a vida faz sentido; quando o caminho, mesmo que tenha fardos, é feito dignamente; quando o amor é espontâneo; quando a vida é valorizada, aí sim existe alguém repleto de Deus e crê que Ele passa a sua frente. – Senhor do caminho, ajudai-nos a viver seu chamado e a encontrarmos caminhos favoráveis para nos preencher cada dia mais de seu amor e de sua graça. Assim seja! (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de agosto de 2023

(Dt 10,12-22; Sl 147[147B]; Mt 12,22-27) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Ele faz justiça ao órfão e a viúva, ama o estrangeiro e lhe dá alimento e roupa” Dt 10,18.

“Shemá Israel – Escuta Israel – o Deus que é contemplado neste versículo é um Deus real, verdadeiro e único. Cria por e com amor para que vivam em abundância e justiça de sua parte. Este mesmo Deus não faz distinção entre pessoas. Ama sem medida e sem cobranças, mas espera receber o mesmo amor e de forma gratuita e sincera. Tem em vista que a ação de Deus na vida humana procede embasada no amor e na não distinção de pessoas: Por que será que o ser humano tem tanta dificuldade de amar? Por que existe tanta distinção, discriminação ou racismo, sendo que o próprio Deus não tem esse olhar sobre ninguém? Ou ainda: Será que a vida está sendo vivida conforme a verdade do projeto de Deus? A manifestação do Senhor é clara e eficaz. Ele se faz pequenino, simples e humilde para que todos tenham acesso ao seu infinito e misericordioso amor. Se se fita o olhar no olhar de Jesus, percebe-se um profundo chamado ao serviço. Colocar as ações, que se refletem neste versículo, no próprio Deus, é mostrar que todos devem viver a justiça, o amor e o serviço. Este é o tripé para quem quer responder positivamente as perguntas anteriores e concretizar o projeto da salvação. – Escuta-nos, Senhor, para que, em meio aos labores do dia a dia, possamos ver sua manifestação nos irmãos e irmãs e que nossa ação seja justa, amorosa e de prontidão para servir os mais necessitados. Assim seja! (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

19º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(1Rs 19,9.11-13; Sl 84[85]; Rm 9,1-5; Mt 14,22-33)   

1. A cena evangélica que acabamos de escutar se dá logo após a multiplicação dos pães. Longe de se entreter com os louros daquele episódio, por assim dizer, ‘grandioso’, Jesus pede aos discípulos que entrem na barca e o encontre na outra margem do lago. Enquanto ele mesmo despedia a multidão.

2. Jesus se retira para rezar. Cai a noite. Sobre o lago desponta forte ventania e a barca dos apóstolos se agita entre as ondas que se formam. Jesus vai ao encontro deles caminhando sobre as águas. Querendo ter a certeza de que é Jesus, Pedro pede para ir ao seu encontro caminhando sobre as águas. Jesus o convida. Ele desce da barca e vai em sua direção caminhando sobre as águas.

3. O que vai no coração e na mente de Pedro nesse momento nós não sabemos, mas ao sentir o forte vento, ele começa a sentir medo e a afundar. Prontamente ele pede a Jesus que o salve. Jesus o salva e repreende a sua falta de fé. Diante de tudo aquilo os demais confessam sua fé em Jesus como filho de Deus.

4. Este é o fato. Mas os fatos do evangelho não foram escritos para serem recontados, mas para serem revividos. Cada vez que o escutamos somos convidados a entrar no mesmo e passarmos de mero expectador, a ator. Tomar parte da cena. Essa é a diferença entre o Evangelho e os outros livros. O evangelho é um livro vivo.

5. A própria Igreja em seus primórdios se vê a partir dessa narrativa. Quando Mateus escreveu o seu evangelho, a Igreja já avançava “mar adentro” na história e Jesus já havia subido aos céus, e aqui entendemos esse subir ao monte para rezar. Ele continuava a interceder pelos seus nesse difícil navegar pelo mundo com todas as oposições enfrentadas.

6. Lendo esse evangelho as comunidades sabiam que Jesus não era distante e ausente, que se podia contar com ele. Que ele os convidada a caminhar sobre as águas, isto é, avançar entre as dificuldades apoiando-se na fé.

7. Dito assim parece muito simples, mas nunca o foi. Por vezes fazia-se escuro. Perguntavam-se se tudo aquilo que haviam visto e acreditado sobre Jesus não seria uma ilusão. Mas a experiência e o testemunho de Pedro que culminará em seu martírio para testemunhar que Jesus era verdadeiramente o filho de Deus, ajudou-os a enfrentar esses momentos de dúvida.

8. Nós também somos convidados a aplicar em nossa vida esse quadro que contemplamos. Quantas vezes a nossa vida não se assemelha a essa barca “agitada pelos ventos contrários”? A barca em dificuldade pode ser o próprio matrimônio, as obrigações da vida, a saúde… O “vento contrário” pode ser a hostilidade e incompreensões das pessoas, a dificuldade de encontrar um emprego, certas desventuras…

9. Por um momento tivemos a coragem de enfrentar as dificuldades, sem esmorecer na fé, caminhamos sobre as águas confiando em Deus, mas depois, a própria duração das dificuldades nos dá a sensação de não poder mais, começamos a afundar. Perdemos a coragem.

10. É em momentos assim que recolhemos e sentimos como dirigida a nós a palavra que Jesus dirigi a seus discípulos: coragem, sou eu, não tenhais medo. Quantas vezes não dizemos uns aos outros: “coragem, verás que tudo terminará bem”, mesmo também nós experimentando o medo. As nossas palavras não mudam as coisas, são só palavras.

11. É diferente quando o próprio Jesus nos diz “coragem”. Ele venceu o mundo, teve coragem por nós. Por isso, não diz simplesmente coragem! Mas “coragem, sou eu!”. Ele, o filho de Deus que conheceu a dor, a escuridão, a morte. Nos lábios de Jesus coragem é uma palavra eficaz, que produz aquilo que significa, dá aquilo que exige.

12. Existem situações na vida, bem o sabemos, que humanamente falando, não resta muito a fazer, poderemos apenas gritar como Pedro: “Senhor, salva-me”.

13. Podemos concluir a nossa reflexão com esse texto de Is 40,29-31. Muitos experimentaram a verdade destas palavras. Se somos um desses “cansados e acabrunhados”, experimentemos esperar no Senhor com todas as forças e, quem sabe, despontarão também em nós asas, como de águias. “Mas os que esperam no Senhor...”

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de agosto de 2023

(Dt 6,4-13; Sl 17[18]; Mt 17,14-20) 18ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Porque a vossa fé é demasiado pequena. Em verdade vos digo, se vós tiverdes fé do tamanho de uma semente de mostarda, direis a esta montanha: ‘Vai daqui para lá, e ela irá.

E nada vos será impossível’” Mt 17,20.

“Estas palavras adotam um tom de hipérbole em que contrastam a pequenez do grão de mostarda e a montanha; o que Jesus quer ensinar-nos com isso é que não existe dificuldade que não possa ser vencida por quem tem espírito de fé. Jesus emprega as expressões populares a fim de que a sua lição seja mais facilmente captada pelos discípulos. A essa afirmação tão categórica, o Senhor acrescenta ainda a segunda afirmação não menos lapidar: ‘Nada vos será impossível’. Vivência: Não estranhe se algumas vezes você verifica fracassos em suas atuações apostólicas; ocasionalmente, poderão dever-se à falta de resposta por parte dos destinatários da evangelização; porém, em outros casos, talvez se deva tudo à falta de fé e confiança ou a que talvez sua oração prévia e subsequente não tenha sido realizada com as condições exigidas. Os apóstolos fizeram a oração mas não tiveram fé; consequências: o fracasso; você talvez não tenha nem a fé nem a oração exigidas; como pretender não fracassar?” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de agosto de 2023

(Dt 4,32-40; Sl 76[77]; Mt 16,24-28) 18ª Semana do Tempo Comum.

“Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos,

e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta” Mt 16,27.

“Esta afirmação de Jesus vem precedida do primeiro anúncio de sua paixão, seguido do apelo vocacional dirigido aos discípulos, e, por fim, esta promessa de justo julgamento, feita pelo Filho do Homem. Pela autonomia com que podem ser consideradas, é provável que tenham sido ditas em contextos diferentes. Em todo caso, a referência mais ampla, e mais detalhada, do julgamento feito pelo Filho do Homem, está em Mt 25, onde se descreve simbolicamente o juízo final. Aí podemos relativizar o tom de ameaça, que o próprio assunto suscita, e perceber melhor a dimensão de recompensa, que vem associada ao julgamento. Pois, na verdade, o Evangelho nos instrui, apontando as boas obras em favor dos necessitados, como passaporte seguro para sermos admitidos aos Reino. Com isto, o juízo final deixa de ser visto como uma severa ameaça, para se tornar motivo de alegre esperança, que pode ser assegurada pela prática das boas obras, feitas aos irmãos, mas valorizadas por Cristo como se tivessem sido feitas diretamente para Ele. Assim, o caminho da recompensa final fica simplificado e aplainado. Basta socorrer os irmãos que passam pelas dificuldades cotidianas. Elas se transformam em preciosas oportunidades de expressar amor e gratidão ao nosso Salvador. Pois Ele vai considerar, como feitos a Ele, todos os gestos de bondade que fizermos aos irmãos. Isto faz parte, afinal de contas, do novo mandamento, que Ele faz questão de expressar e clarear: ‘Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei’. Ele nos lembra que amar o irmão é a maneira prática de amar a Deus, e ser amados por Ele, e ser recompensados por toda a eternidade. – Senhor, vosso mandamento de amor aplaina o caminho de nossa salvação. Ajudai-me a cumpri-lo com alegria e generosidade. Assim, Vós sereis glorificado, os irmãos serão amados, e não seremos condenados no juízo final. Amém! (Dom Luís Demétrio Valentini – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite