Quinta, 01 de fevereiro de 2024

(1Rs 2,1-4.10-12; Sl 1Cr 29; Mc 6,7-13) 4ª Semana do Tempo Comum.

“Aproximando-se o fim da sua vida, Davi deu estas instruções a seu filho Salomão: ‘Vou seguir o caminho de todos os mortais. Sê corajoso e porta-te como um homem’” 1Rs 2,1-2.

“A narração da morte de Davi – embora muito resumida, como se fosse um dado de arquivo – é precedida pelas recomendações testamentárias ao filho Salomão, um gênero literário que ocorre frequentemente na Bíblia (cf. Js 23,14; e também Gn 49; Dt 33). O estilo e a forte acentuação da obediência à Lei, condição para que se cumpra a promessa de Deus, refletem a teologia da escola deuteronómica que fez a redação dos livros sagrados. [Compreender a Palavra:] Em ponto de morte, tal como Josué e outras personagens bíblicas (Jacó, José, Moisés, Samuel, etc.), Davi dita as suas últimas vontade ao filho Salomão: não se trata da entrega de uma herança material e nem sequer da antecipação profética do futuro, como acontece noutros lugares das Escrituras, mas da transmissão dos princípios fundamentais que guiaram a sua vida. A palavra de Davi é uma só: a obediência a Deus através da observância da Lei de Moisés é a condição para uma vida bem vivida e feliz (reflete-se aqui a preocupação central da teologia deuteronómica, que sintetiza nela a essência do seu ensinamento); a esta obediência está intimamente ligada a palavra de 2Sm 7 que promete a perpetuidade da dinastia. Trata-se do último legado testamentário de Davi àquele que alargará ao máximo o poder do reino de Israel; ao mesmo tempo, esta palavra oferece uma chave de leitura de toda a vida de Salomão” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).

Pe.  João Bosco Vieira Leite   

Quarta, 31 de janeiro de 2024

(2Sm 24,2.9-17; Sl 31[32]; Mc 6,1-6) 4ª Semana do Tempo Comum.

“Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: ‘De onde recebeu ele tudo isso? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos?’” Mc 6,2.

“A sabedoria que Jesus manifestava em seus ensinamentos deixava atônito o povo de sua cidade. Este não podia entender como o filho de um carpinteiro, conhecido de todos, podia falar com tanta segurança a respeito de coisas tão sublimes. Outro argumento: Jesus convivia com eles e seus parentes. Tudo dentro da mais total normalidade, sem nada de extraordinário. Também não constava que o Mestre tivesse sido instruído por algum rabino famosos da época. Resultado: recusaram-se a dar crédito às palavras dele. Antes, puseram-nas sob suspeita. Efetivamente, o povo de Nazaré não podia valorizar a sabedoria de Jesus, por julgá-la a partir de critérios humanos. A fonte da sabedoria do Mestre, porém, radicava-se no Pai, cujas palavras proclamava. Não era uma sabedoria adquirida com os meios humanos, nem tinha como ponto de partida concepções humanas. Suas palavras tinham o Pai como origem. Elas eram palavras que o Pai queria dirigir-se à humanidade. Por isso, era inútil comparar o ensinamento de Jesus com o dos mestres da Lei. Havia entre eles uma enorme diferença. Jesus refez o caminho dos profetas rejeitados em sua própria terra, pelos de sua própria casa. O discípulo arrisca-se a rejeitar Jesus, se não reconhecer a origem divina de suas palavras. – Senhor Jesus, possa eu reconhecer a origem de tuas palavras e acolhê-las como expressão da sabedoria divina (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe.  João Bosco Vieira Leite   

 

Terça, 30 de janeiro de 2024

(2Sm 18,9-10.14.24-25.30—19,1; Sl 85[86]; Mc 5,21-43) 4ª Semana do Tempo Comum.

“Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa”

Mc 5,27.

“No milagre da cura da mulher que sofria de um fluxo de sangue, o que mais sobressai é a confiança plena no poder de Jesus; não somente crê que Jesus pode curá-la, mas vai mais adiante e crê que com um simples toque nas suas vestes ficará curada, e isso não é tudo: a mulher pensa que, mesmo que Jesus não perceba, o simples contato de seu manto lhe vai devolver a saúde perdida. Assim deve ser a nossa fé e nossa confiança; muitas vezes não podemos chegar a ver ou compreender como e de onde nos virá o auxílio de Deus; nesses momentos, devemos avivar nossa fé e aumentar nossa confiança, sabendo que Deus nunca falha” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe.  João Bosco Vieira Leite   

 

Segunda, 29 de janeiro de 2024

(2Sm 15,13-14.14.30; 16,5-13; Sl 03; Mc 5,1-20) 4ª Semana do Tempo Comum.

“Quão numerosos, ó Senhor, os que me atacam; quanta gente se levanta contra mim! Muitos dizem, comentando a meu respeito: ‘Ele não acha a salvação junto de Deus!’” Sl 03,2-3.

“É confortante saber que Davi tinha dias como os meus – dias (às vezes muitos) em que tudo dá errado. No caso dele era muito mais do que um pneu furado ou um arquivo corrompido no computador. O próprio filho de Davi, Absalão, se levantou em revolta militar contra ele. Absalão chamou alguns dos melhores oficias de Davi e prometeu-lhes uma fatia maior do orçamento de defesa, caso se juntassem a ele. Então, Davi começou a fugir. Provavelmente doeu saber que seu próprio filho estava tentando tomar o reino, mas o que doía ainda mais era a acusação de que a mão de Deus não estava mais sobre a vida de Davi. Lá estava um anúncio de página inteira do jornal ‘Jerusalém Hoje’, assinado por muitos cidadãos proeminentes: ‘Deus não ajudará mais a Davi. Absalão é o novo rei escolhido por Deus!’ Agora, enquanto se deparava com o exército de Absalão pronto para atacar o remanescente de seu exército, Davi orou. Ele pediu a Deus exatamente o que seus inimigos disseram que Deus não lhe daria: ajuda. Davi, o guerreiro, percebeu que a ajuda não viria apenas dos escudos carregados por seus guerreiros. Deus era seu escudo era aquele que levantava a cabeça de Davi. Ele fugiu da cidade com a cabeça coberta de vergonha. Curvar a cabeça diante de outro rei era um sinal de submissão e derrota. Mas Deus levantaria a cabeça de Davi diante de seus inimigos. Davi pôde até mesmo dormir um pouco na noite antes da grande batalha – não porque seus soldados o cercavam, mas porque o Senhor o sustentava. No dia seguinte, quando a batalha terminou, o exército de Absalão se dispersou e Absalão, seu filho, estava morto. – Que inimigos você tem enfrentado? Inimigos no trabalho que estão atacando sua integridade? Inimigos espirituais atacando sua fé e confiança em Deus? Inimigos pessoais tentando assumir o controle de sua vida? Salmo 3 é o seu salmo. Ore como Davi orou. Admito que pedir a Deus que quebre os dentes de seu inimigo pode não ser apropriado, mas você pode pedir-lhe que remova o veneno das palavras do seu adversário. Pode ser que Deus não o esbofeteie no rosto, como Davi orou, mas Deus pode frustrar o ataque de seu inimigo. Se você orar e confiar como Davi orou e confiou, talvez consiga dormir hoje à noite como Davi dormiu” (Dougla Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson).

Pe.  João Bosco Vieira Leite   

 

 

4º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dt 18,15-20; Sl 94[95]; 1Cor 7,32-35; Mc 1,21-28)

1. Jesus ensina e age com autoridade. Proclama e age. Palavra e ação, palavras e fatos brotam do seu ministério. Assim acompanhamos essa cena do evangelho onde o ensinamento de Jesus provoca admiração, pois percebem logo a diferença entre o falar de Jesus e dos escribas, mestres autorizados daquele tempo.

2. A autoridade de Jesus não vem de um posto que ocupa, não é profissional ou institucional, ela vem do alto ou melhor, de dentro de si mesmo. Em Cristo a mensagem ‘se faz corpo’ em seu ser. Sua autoridade empalidece a dos demais, porque sua autoridade é sinônimo da sua liberdade.

3. Sua autoridade vem exercitada não somente no ensinamento, mas também na ação, por isso o milagre da libertação do endemoniado. Assim Marcos deixa claro que a Palavra de Jesus é ação e poder. Deixando ainda mais admirada a multidão.

4. Compreendemos que Deus é presente e age no mundo seja através do ensinamento, da pregação, seja através da palavra que cura, que faz acontecer algo. Mas em Marcos, o 1º milagre de Jesus se refere a libertação de um possesso, diferente de João, que transforma água em vinho num casamento (Jo 2,1-11).

5. O leitor atento vai perceber que em Marcos a expulsão de demônios ocupa um posto relevante. E certamente nos sentimos um pouco embaraçados. A mentalidade moderna tem dificuldade de ‘engolir’ tais episódios, pois temos um mínimo de conhecimento científico das coisas.

6. Para a mentalidade primitiva, muitas doenças, especialmente aquelas mentais, vinham atribuídas ao influxo ou a ‘possessão’ de espíritos maus ou demônios. Essa ideia se estendia até mesmo às limitações físicas, como o mutismo, a surdez, a cegueira, a paralisia e a epilepsia.

7. Sobre esses fenômenos não se fala tanto de pecado, nem se faz um juízo moral sobre o indivíduo. São simplesmente vítimas de forças malignas. Hoje, em certos casos, falamos de epilepsia, histeria, crise maníaco-depressiva, esquizofrenia. Invés de ‘endemoniado’ poderíamos dizer ‘paranoico’.

8. Mas Jesus não se dissocia da mentalidade do seu tempo, parece mesmo partilha-la, não adverte de tratar-se de causas naturais. É fato que Jesus não veio abrir estrada à psiquiatria moderna. O ser humano deve fazer seu próprio caminho e conduzir suas pesquisas para estabelecer as causas dos males.

9. Jesus faz uma leitura ‘teológica’, não científica da situação que tem diante de si. Ele se encontra diante de alguém que não é ele mesmo, é desagregado, ocupado abusivamente por um outro. O diagnóstico de Jesus não é de ordem médica, ele não vislumbra as causas, mas o inimigo comum a Deus e ao ser humano.

10. Marcos apresenta Jesus como aquele que caça, expulsa o ocupante abusivo, que age contra as forças do mal, para retomar o território. E o faz com uma palavra simples, diferente da prática de exorcismo de seu tempo. E o espaço antes habitado pelas forças do mal, torna a ser habitado pelo próprio homem, espaço de liberdade, lugar de comunhão.

11. Essa expressão: ‘um homem possuído por um espírito mal’, nos faz refletir, sob a ótica de Cristo, em sua raiz, sobre todas as forças que impedem o ser humano de ser humano. Denunciá-las e exorciza-las. Uma função não só da Igreja, mas de todos nós. Tudo que atenta à dignidade do ser humano constitui uma blasfêmia contra a glória de Deus.

12. Se luta por Deus quando nos colocamos concretamente da parte de sua criatura. O inimigo é comum. Nossa palavra não deve ser clara e intransigente somente quando se trata de ‘salvaguardar’ a doutrina moral. Ainda que alguns achem que não devemos nos meter em determinados assuntos. O que diz respeito ao ser humano, diz respeito ao próprio Deus. Assim age Jesus, em palavras e ações, a favor do ser humano.     

Pe.  João Bosco Vieira Leite   

Sábado, 27 de janeiro de 2024

(2Sm 12,1-7.10-17; Sl 50[51]; Mc 4,35-41) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Davi disse a Natã: ‘Pequei contra o Senhor’. Natã respondeu-lhe: ‘Da sua parte, o Senhor perdoou o teu pecado, de modo que não morrerás’” 2Sm 12,13.

“Natã, o profeta que tinha anunciado a Davi a perpetuidade da descendência, é novamente enviado pelo Senhor ao rei para o tornar consciente da gravidade do pecado que cometera. O texto, construído num esquema repetitivo, é composto por uma parábola (vv. 1-4), pelo juízo de Davi (v. 7) e pela sentença de Deus (vv. 1012). Seguem-se o arrependimento do rei (v. 13a), o perdão de Deus (v.13b), mas também o castigo do pecado (v. 14-17). [Compreender a Palavra:] O juízo sobre os desvios morais dos outros é frequentemente mais lúcido do que o que fazemos sobre nós mesmos. Natã leva Davi a tomar consciência do que cometeu, apelando para o sentido de retidão que, mesmo depois do pecado, continua a existir nele. A natureza fundamentalmente generosa do soberano reage com um sentido instintivo de justiça à palavra profética. Está assim preparado o caminho para que penetre no seu coração a palavra da verdade: ‘Esse homem és tu’ (v. 7) A contrição demonstrada por Davi ao confessar a sua culpa é recebida como sinal para a reconciliação com Deus, mas os dinamismos de morte instaurados com o seu pecado terão de cumprir o seu curso. Entre linhas lê-se o anúncio da história da sucessão ao trono, com todas as suas sombras, incluindo a rebelião de Absalão e a de Adonias (cf. v. 11). Além disso, o menino nascido do adultério com Betsabeia não vai viver, apesar da ascese penitencial do rei: na História, o mal manifesta-se nos seus efeitos morais” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de janeiro de 2024

(2Tm 1,1-8; Sl 95[96]; Lc 10,1-9) Santos Timóteo e Tito.

“Recordo-me da fé sincera que tens, aquela mesma fé que antes tiveram tua avó Loide e tua mãe, Eunice. Sem dúvida é também tua” 2Tm 1,5.

São Timóteo. “’Verdadeiro filho na fé’, como o chama Paulo, o jovem Timóteo viveu próximo ao Apóstolo. Nascido em Listra, são Paulo o conheceu durante a primeira viagem missionária. Também esteve entre os primeiros que se converteram ao Evangelho, ao qual aderiu totalmente, em perfeita consonância com o convite de Cristo: ‘...depois vem e segue-me’. A partir desse momento, Timóteo – discípulos exemplar em virtude da obediência, discrição e coragem – segue ‘pari passu’ a aventura do Apóstolo das gentes, e os encontramos lado a lado em Filipos e Tessalônica, a seguir em Corinto, Éfeso e Roma. Era ele quem mantinha os contatos em ter o mestre e as jovens comunidades cristãs recém-fundadas, às quais pessoalmente entregava as cartas do apóstolo. Paulo incumbira-o de dirigir a Igreja de Éfeso e, como bom pai, enviou-lhe duas magníficas cartas para orientá-lo e encorajá-lo. Numa destas – a segunda, escrita quando estava preso em Roma –, o ‘velho’ apóstolo aconselha o jovem ‘filho’ a usar o manto de lã para resguardar-se do frio... pormenor não destituído de importância para efeito de uma reflexão sobre a autêntica pobreza evangélica. De acordo com uma antiga tradição, Timóteo foi lapidado por haver condenado publicamente o culto a Dionísio.

São Tito. Outro discípulo predileto de são Paulo convertido do paganismo e batizado pelo Apóstolo, e em cuja companhia empreendeu a terceira viagem missionária... Após sair do cárcere, em Roma, na viagem de volta, os dois missionários passaram por Creta, onde Paulo se separou do discípulo, deixando-o à testa dessa comunidade cristã. Também para ele o apóstolo escreveu uma carta, denominada pastoral – importante em razão dos dados informativos que fornece sobre a vida no interior das primeiras comunidades cristãs. Em Creta, Tito reencontra-se novamente com o mestre, de retorno a Roma; é provável que o jovem discípulo tenha sido enviado pelo Apóstolo para evangelizar a Dalmácia, onde seu culto é ainda muito difundido. Segundo uma antiga tradição, Tito teria morrido em Creta, em idade avançada” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 25 de janeiro de 2024

(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) Conversão de São Paulo.

“Eu perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ Ele me respondeu: ‘Eu sou Jesus, o Nazareno,

a quem tu estas perseguindo’” At 22,8.

“Com sua conversão – que a Igreja latina, desde o século VI, comemora conjuntamente com a festa litúrgica deste dia – são Paulo recebeu diretamente de Cristo a missão de evangelizar os povos. O milagroso evento teve profunda repercussão na história da Igreja. Um de seus mais ativos perseguidores tornou-se o mais zeloso e incansável missionário. ‘Não sou digno de ser chamado apóstolo’, escreve sobre si mesmo, recordando à primeira comunidade cristã os tempos de hostilidade de sua juventude. Acrescenta, em seguida, com legítima ufania: ‘mais do que qualquer outro, lutei’. Eis suas credenciais de apóstolo: viu Jesus ressuscitado; pode, pois, testemunhá-lo; foi chamado e enviado para pregar o Evangelho, como os outros apóstolos. ‘Quem és, Senhor?’: está implícita na pergunta de Saulo – caído por terra, por causa da grande luz divina, a caminho de Damasco –, a prova de sua boa-fé. E a resposta é igualmente repleta de significado: ‘Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo’. Foi revelada a Paulo a misteriosa verdade do Corpo místico da Igreja. A sequência também desvenda o segredo dessa alma generosa, intolerante àqueles que reputa traidores e hereges: ‘A ti é difícil recalcitrar contra o aguilhão’. Paulo, de fato, fora atingido pelo ‘aguilhão’ da graça, e aquela profusão de luz, que deixou momentaneamente cego, abriu-lhe os olhos para a obra redentora de Cristo. O milagre da graça condensara naquele raio fulgurante toda a teologia paulina – pão substancioso a ser dividido com os irmãos, oralmente e por escrito.  Cada uma das cartas dirigidas às várias comunidades desenvolve os grandes temas dessa mensagem divina. Em 36, Saulo estava presente quando foi lapidado o primeiro mártir cristão, Estevão, mas ele não tomou parte nisso, pois era ainda ‘muito moço’, dizem os Atos dos Apóstolos. Em 62, Paulo escreve que já era ‘velho’. Daí se pode deduzir que tenha nascido entre 6 e 10 e tenha sido decapitado em 69 – sua atividade apostólica desenvolve-se num período de vinte anos, seis dos quais transcorrido na prisão” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de janeiro de 2024

(2Sm 7,4-17; Sl 88[89]; Mc 4,1-20) São Francisco de Sales.

“Por fim, aqueles que receberam a semente em terreno bom são os que ouvem a Palavra, a recebem

e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um” Mc 4,20.

“’Se erro, prefiro que seja por excesso de bondade que por demasiado rigor’. Nessa afirmação está o segredo da simpatia que são Francisco desfrutava entre os seus contemporâneos. Nasceu em 1567 no castelo Sales (nobre família em Saboia). A extraordinária mansidão que possuía era fruto de muitos esforços e trabalhos e não algo inato como tantos podiam pensar. Certa vez disse: ‘Vocês querem que eu perca num quarto de hora aquele pouco de mansidão que adquiri em vinte anos de luta?’ Laureou-se em jurisprudência pela universidade de Pádua, decepcionou as pretensões do pai, quando aos 26 anos, abraçou a carreira eclesiástica. Queria pregar o Evangelho entre os calvinistas de Genebra. Os resultados das pregações estavam sendo escassos. Resolveu então imprimir volantes e coloca-los debaixo das portas, nos muros e por toda parte. Por isso ele tornou-se o patrono da escrita para difundir as verdades reveladas por Deus. Ainda assim não teve muito sucesso. O duque de Saboia quis ajuda-lo, mas estava por fora dos esquemas do santo, pois era intolerante. Ele preferiu batalhar sozinho com toda a caridade e mansidão. Escreveu dois tratados que lhe deram o título de doutor da Igreja: ‘Introdução à vida devota’ e ‘Tratado do amor de Deus’. O ‘Tratado do amor de Deus’ serviu para muitos hereges voltarem à Igreja. Aos trinta e dois anos era bispo auxiliar e dois anos mais tarde já era bispo titular de Genebra. Introduziu na diocese as reformas do concílio de Trento. Foi diretor espiritual de S. Vicente de Paulo e de S. Francisca de Chantal (com ela fundou a Ordem da Visitação). Morreu em Lião em 28 de dezembro de 1622. Foi canonizado em 1655. Sua festa é celebrada, conforme o novo calendário, no dia 24 de janeiro, dia em que seu corpo foi levado à sepultura definitiva, em Anecy” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de janeiro de 2024

(2Sm 6,12-15.17-19; Sl 23[24]; Mc 3,31-35) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Chegaram a mãe de Jesus e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chama-lo” Mc 3,31.

“É bem possível que, no início do cristianismo, os parentes de Jesus tivessem querido exigir um lugar de destaque no contexto da comunidade. Eles podiam sempre apresentar como argumento o fato de terem o Messias Jesus uma relação especial de parentesco de sangue, donde sua situação privilegiada em relação aos demais discípulos. A comunidade, então, foi buscar, em sua própria experiência, um fato que tornava injustificada esta exigência. Quando, certa vez, foi procurado por sua mãe e alguns outros membros de sua família que desejavam vê-lo, Jesus deixou bem claro que fazia parte da sua família quem se predispusesse a fazer a vontade de Deus. Sim, a submissão à vontade Deus é que estabeleceria laços profundos, como os de parentesco, entre Jesus e seus discípulos. Outros possíveis critérios careciam de sentido, talvez por se fundarem num mero sentimentalismo. As palavras de Jesus não foram desrespeitosas para com sua mãe. Maria foi modelar na submissão à vontade de Deus. Sua figura apagar-se-ia se não fosse pensada a partir de seu enraizamento em Deus. Portanto, também pelo novo critério apresentado por Jesus, ela continuaria a ser sua mãe. E também mãe da nova família, encabeçada por Jesus, cujas relações se definem a partir da vontade do Pai. – Senhor Jesus, concede-me a graça de submeter toda a minha vida à vontade do Pai, para que eu possa participar da nova família que inauguraste (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de janeiro de 2024

(2Sm 5,1-7.10; Sl 88[89]; Mc 3,22-30) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será culpado de um pecado eterno”

Mc 3,29.

“Desde seu batismo e sua confirmação você leva em si mesmo o Espírito Santo; você também pode afirmar que está cheio do Espírito Santo. Talvez você não tenha tomado consciência dessa presença do Espírito Santo de Deus atuando em você. Toda inspiração para o bem é ação do Espírito Santo em você; todo bom desejo de aperfeiçoamento é obra do Espírito; toda ânsia pela própria superação é obra do Espírito Santo; todo arrependimento de suas faltas, todo propósito de corrigir-se delas, todo desejo de ser útil a seus irmãos; se você se sente com espírito de serviço, ou se sente remorso por sua vida cômoda ou egoísta, ou se percebe seu egoísmo...., tudo isso e muitas outras coisas são obra do Espírito Santo. Mas é preciso ter cuidado em não sufocar o Espírito, para não torna-lo infecundo, porque isso seria pecar, blasfemar contra o Espírito Santo, e quem assim age nunca se dispõe para receber o perdão” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

3º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jn 3,1-5.10; Sl 24[25]; 1Cor 7,29-31; Mc 1,14-20)

1. No domingo anterior, nossa ênfase esteve no discipulado; hoje a dinâmica do chamado persiste seja para Jonas, o profeta, seja para André e Pedro, Tiago e João. Mas quero me voltar para esse convite de Jesus que abre o seu ministério no Evangelho de Marcos: “Convertei-vos”.

2. Um convite para todos, mesmo para quem já é discípulo. Todos precisamos de conversão. E no sentido genuinamente evangélico, conversão não é um sinônimo de renúncia, esforço e tristeza, mas de liberdade e de alegria; não é um estado regressivo, mas progressivo.

3. Antes dessa dinâmica dada por Jesus, converter-se era um ‘voltar atrás’, ou seja, inverter a rota, retornar sobre os próprios passos. É como alguém que a certa altura da vida, se dá conta de estar ‘fora do caminho’ e então resolve parar, repensar, mudando de atitude em suas relações, particularmente com Deus. Pode ter um sentido moral ou mesmo religioso.

4. Para Jesus, trata-se de dar um passo adiante e entrar no Reino agarrando essa salvação que Deus oferece em sua livre e soberana inciativa. Não se trata de converter-se para ser salvo, converter-se porque a salvação já se faz presente. É essa alegre notícia que traz Jesus.  

5. Aqui a iniciativa é de Deus, como diz São Paulo: antes de sermos bons, Deus já nos amava. Nesse sentido o cristianismo se distingue das outras religiões: não começa pregando o dever, mas o dom, não começa com a lei, mas com a graça.

6. ‘Converter-se e crê’, na fala de Jesus, não significa duas coisas diversas e sucessivas, mas a mesma ação fundamental: converter-se é crê, converter-se crendo. A 1ª e fundamental conversão é a fé. É por essa porta que se entra no Reino e na salvação.

7. A ninguém é impossível crer porque Deus nos criou livres e inteligentes para tornar possível a ato de fé n’Ele. É no ato de fé que a razão humana realiza plenamente a si mesma; antes, se eleva acima de si mesma. Para muitos a fé pode significar um limite para a racionalidade.

8. Mas poderíamos perguntar-nos se a rejeição em crê não representa, sob outra perspectiva, um limite à própria razão. Pascal dizia que “o ato supremo que a razão pode cumprir é aquele de reconhecer que há infinitas coisas que a ultrapassam”. Mesma a ciência o admite em nossos dias.

9. A fé que aqui tratamos tem um caráter de ‘apropriação’, de tomar para si. Apossar-se desse Reino, antes mesmo de merecê-lo, como um ato de livre arbítrio. É ao mesmo tempo um ato de confiança e de entrega de quem sabe que Deus fará a seu tempo e do jeito que lhe apraz.

10. ‘Converter-se’ não é uma ameaça, algo que nos faz tristes e nos constringe a andar de cabeça baixa e por isso retardamos o máximo possível nossa decisão. Ao contrário, é uma oferta inacreditável, um convite à liberdade e à alegria. É boa notícia de Jesus aos homens e mulheres de todos os tempos.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de janeiro de 2024

(2Sm 1,1-4.11-12.19.23-27; Sl 79[80]; Mc 3,2021) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Tua glória, ó Israel, jaz ferida de morte sobre os teus montes. Como tombaram os fortes!” 2Sm 1,19.

“Com tonalidades diferentes das da narração da morte de Saul (cf. 1Sm 31), o autor evoca o momento em que o mensageiro anuncia a Davi a derrota e a morte do rei e do filho Jônatas. É provável que o arauto pensasse que ia levar ao futuro rei uma boa notícia: Saul, inimigo jurado de tantos anos, morrera. Pelo contrário, o anúncio é recebido com tristeza por Davi o qual, entoando uma esplêndida elegia, chora quer pelo soberano quer por seu filho, o seu amigo íntimo Jônatas. [Compreender a Palavra:] O autor sublinha a profunda dedicação que unia Davi a Saul e a relação afetiva entre Davi e Jônatas. A notícia da morte de ambos suscita no coração do futuro rei sentimentos de angústia, bem evidenciados pelos habituais gestos de luto: rasgar as vestes, jejuar, entoar um cântico fúnebre. Saul, que tinha sido um acérrimo inimigo de Davi, é recordado e celebrado enquanto ungido do Senhor e digno de todo respeito. A elegia de Davi é inteiramente denominada e marcada por um refrão: ‘Como sucumbiram os heróis?’ (vv. 19.22.27). É a pergunta do homem perante a morte, supremo enigma da vida. As estrofes da lamentação são uma verdadeira e própria celebração dos méritos dos defuntos. O rei é representado como um homem rico (note-se o aceno à púrpura e ao ouro) e generoso por excelência (dava joias às filhas de Israel); Jônatas, ao invés, é celebrado por ser amigo de confiança e muito querido, companheiro de muitas aventuras” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 19 de janeiro de 2024

(1Sm 24,3-21; Sl 56[57]; Mc 3,13-19) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer ‘filhos do trovão’”

Mc 3,17.

“Aos dois irmãos Tiago e João, Jesus elegeu para integrar o número dos doze apóstolos; porém, ao elegê-los, marcou-os com o apelativo de ‘filhos do trovão’. Entre os apóstolos atuais e modernos do Senhor não será difícil encontra alguns ‘filhos do trovão’; aqueles que pretendem impor a mensagem, em lugar de expô-la; aqueles que parecem duvidar da força de convicção do evangelho e pretendem fazê-lo aceitar, empregando por isso a violência, a discussão, a força da voz ou das palavras, a força da oratória. Hoje, talvez não se necessite tanto desses ‘filhos do trovão’, mas sim de apóstolos que devem estar convencidos de que a força do evangelho é a força do Espírito e que, consequentemente, é preciso expor a mensagem não com violência, mas com suavidade, não aos gritos, mas como testemunhas, não com a força de argumentação, mas com a força do Espírito, que é a caridade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de janeiro de 2024

(1Sm 18,6-9; 19,1-7; Sl 55[56]; Mc 3,7-12) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés, gritando: ‘Tu és o Filho de Deus!’” Mc 3,11.

“Estranho o fato de os endemoninhados terem gritado que Jesus era o Filho de Deus. Era como se fosse uma confissão de fé. Jesus reconheceu a verdade dessa declaração, mas proibiu-os, severamente, de ficarem dizendo quem ele era. É estranho, também, que a exclamação não tenha sido feita pelas multidões, vindas de tantos lugares diferentes, atraídas pela fama dos milagres realizados por Jesus. Era de se esperar que elas proclamassem sua fé no Mestre. Por que são os possessos os proclamadores da condição divina de Jesus? A teologia do Evangelho quer mostrar que Jesus, ao implantar o Reino na história humana, desbancou as forças do mal. Evidentemente, estas não se contentavam em ver seu poder reduzido, sem protestar. E quando eram vencidas, sabiam muito bem quem as estava vencendo. A proclamação pública da filiação divina de Jesus, posta na boca dos possessos, indica o nível profundo em que Jesus estava atuando. Sua ação a serviço do Reino deu origem a um autêntico combate, em que as forças ocultas do mal foram desmascaradas e confrontadas com um poder muito superior. Não lhes restava senão submeter-se e deixar o senhorio de Jesus acontecer na vida de quem, até então, era oprimido pelo espírito do mal. A presença libertadora do Filho de Deus expulsava toda sorte de espírito imundo instalado no coração humano. – Senhor Jesus, Filho de Deus, que a tua presença purifique meu coração do espírito do mal, que me mantem cativo do egoísmo (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 17 de janeiro de 2024

(1Sm 17,32-33.37.40-51; Sl 143[144]; Mc 3,1-6) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Davi meteu, então, a mão no alforje, apanhou uma pedra e arremessou-a com a funda, atingindo o filisteu na fronte com tanta força, que a pedra se encravou na sua testa e o gigante tombou com o rosto em terra”

1Sm 17,49.

“O episódio coloca em cena, antes do desafio entre o gigante Golias e o jovem Davi, o confronto entre Davi e Saul. Resulta evidente a prudência de Saul e a determinação de Davi. O rei de quem o Espírito do Senhor já havia se retirado (cf. 1Sm 16,14), vê tudo do ponto de vista humano e, com uma certa dose de ceticismo desencantado, deseja ao jovem pelo menos a proteção de Deus. Totalmente diferente é a atitude de Davi que confia no Senhor. [Compreender a Palavra:] O episódio da vitória de Davi sobre Golias é inteiramente construído sobre a desproporção: de um lado, um homem forte e experiente nas armas, e do outro um jovem; de um lado uma madura de combate, do outro, duas mãos vazias. A desigualdade entre os dois parece fazer entender o resultado do desafio. Mas a luta toma outro aspecto. O combate já não é uma luta entre dois soldados, mas sim entre os falsos deuses dos filisteus e o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel. O que acontece no campo de batalha é a imagem do que acontece no céu. Golias avança em nome dos seus ídolos, Davi combate em nome do Senhor. Nesta altura dá-se a reviravolta, e o inesperado sucesso do jovem sem armas demonstra bem o triunfo de Deus. Não é inexperiente Davi, antes é o Senhor que obtém a vitória para Israel. O resultado tem assim não um significado militar, mas teológico: o verdadeiro Deus é JHWH, o Senhor permitiu que Davi vencesse” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de janeiro de 2024

(1Sm 16,1-13; Sl 88[89]; Mc 2,23-28) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Então os fariseus disseram a Jesus: ‘Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?’”

Mc 2,24.

“A observância do sábado era um ponto fundamental na piedade judaica. A tradição rabínica, porém, interpretou esta tradição de maneira tão severa a ponto de transformar o descanso sabático num verdadeiro tormento. Era preciso manter-se muito atento para não dedicar-se, naquele dia, a atividades proibidas. A prática de Jesus foi na contramão da mentalidade em voga. Ele se mostrou perfeitamente livre diante do repouso sabático. Para Jesus, o sábado não se definia por um rosário de ‘não se pode fazer’ ou ‘é proibido fazer’. O tempo sagrado não eximia ninguém de fazer a vontade do Pai. Por isso, mesmo em dia de sábado, ele atuava normalmente, quando se tratava de fazer o bem, ou quando a vida humana corria perigo. O sábado, no horizonte de Jesus, estava em função do ser humano, para quem ele foi instituído. É tempo de repousar e recuperar as forças, tempo de celebrar e louvar a Deus com a comunidade, tempo de cessar o trabalho para conviver. Segundo este princípio, nada existe de inconveniente em providenciar o alimento em dia de sábado, mesmo contrariando as normas em vigor. Se, num dia de sábado, colhe-se espigas para comer e matar a fome, embora seja proibido fazer isso, não importa. Loucura seria morrer de fome, tendo o alimento à mão, só para cumprir o preceito. Jesus não pactuou com uma tal estreiteza de interpretação da Lei. - Senhor Jesus, livra-me de interpretar assim a Lei, e dá-me abertura de mente para, em tudo, adequar meu agir ao querer do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de janeiro de 2024

(1Sm 15,16-23; Sl 49[50]; Mc 2,18-22) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho

e o rasgão fica maior ainda” Mc 2,21.

“Neste evangelho, Jesus fala com suficiente clareza das leis do Antigo Testamento, que com sua chegada perdeu a atualidade para iniciar algo novo, um Novo Testamento, uma nova lei, uma nova vida, algo que exige um novo espírito, que não pode ser captado nem aceito por uma mentalidade anterior à que o próprio Jesus nos propõe. É esse o sentido do vinho novo e do jejum dos amigos do esposo. Com a vinda de Jesus, caducou a lei velha, o Antigo Testamento, e inicia-se a nova lei, um Novo Testamento, que vai requerer um espírito novo; desatualizam-se, pois, as prescrições antigas e surge a nova lei, que deverá ser a lei do amor. Não se pode pertencer à nova lei, querendo conservar o espírito antigo; é necessária uma renovação completa, um espírito novo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(1Sm 3,3b-10.19; Sl 39[40]; 1Cor 6,13c-15a.17-20; Jo 1,35-42)

1. Esse breve evangelho que acabamos de ouvir parece destituído de certa importância para nós, pois trata do chamado dos primeiros seguidores de Jesus.  No entanto, está aqui algo que nos diz respeito. Começa a se delinear aquilo que passamos a chamar: discípulos de Cristo. Diferentemente do chamado de Samuel.

2. Trata-se de uma descoberta ou de um conhecimento que se vai fazendo ao longo do caminho: ‘Cordeiro de Deus’, ‘Mestre’, ‘Messias’. Mas há algo que o texto deixa evidente aqui e em sua continuidade: comunicar o que descobrimos com essa convivência ao longo do caminho.

3. Os discípulos multiplicam aos discípulos. Partilham sua descoberta com os outros. Tomam atitudes que chegam a ser radicais, deixando tudo para segui-Lo.  Assim, vemos ao longo dos evangelhos que eles serão identificados com o título de ‘discípulos de Jesus de Nazaré’. Como uma nova filiação, profissão cada vez mais perigosa e comprometedora.

4. Depois da morte e ressurreição de Jesus, a Igreja nascente identificou o discipulado mais perfeito naqueles que davam a vida pelo evangelho e que se identificavam particularmente com o Mestre. Passada a era das perseguições, o discipulado encontrou a sua expressão forte nos vários modos de viver a vida cristã dentro e fora da Igreja.

5. Em síntese, ser discípulo é primeiramente ‘imitar a Cristo’, que implica uma leitura atenta dos evangelhos associada ao desejo de também fazer a vontade de Deus.

6. O segundo passo é expressar em nosso viver a fé que carregamos em nosso falar e em nosso agir. E são aos de casa que primeiro se comunica plenamente o nosso discipulado. Somos testemunhas enquanto imitadores.

7. Paulo, pensando em Cristo, recomenda aos discípulos suscitados em Corinto, que o seu testemunho seja um domínio de si e do respeito do reto uso da vida sexual.

8. Paulo associa ao espírito daquele que se torna discípulo, o corpo, não só como templo de Deus, mas expressão concreta da fé que não o faz um mero instrumento de prazer em si mesmo.

9. Ao retomarmos nossa caminhada no seguimento de Jesus, a liturgia nos propõe reacender essa consciência de uma pertença: somos discípulos de Jesus.

10. Assim, cada vez que ouvirmos proclamar: ‘disse Jesus aos seus discípulos’, despertemos os ouvidos e o coração, pois estamos sendo chamados pelo nome, fala-se de mim e a mim.

11. Como no passado, os novos tempos podem fazer dos cristãos pessoas a serem boicotadas, marcadas a dedo ou olhados como pessoas de psicologia doentia.

12. Aquele mesmo processo enfrentado por Jesus diante do sinédrio perdura em todos os tempos. E se formos interrogados a respeito de quem somos discípulos, pode acontecer de O negarmos.

13. Como no passado, também não estamos sozinhos. O próprio Jesus é nossa companhia até o fim dos tempos, e também os irmãos que descobrimos ao longo do caminho.

14. Mais do que palavras, nossas atitudes e nosso modo de viver definem quem somos. E como dizia Santo Inácio: ‘É melhor ser cristãos sem dizê-lo do que dizer sem sê-lo’. Que espécie de discípulo sou eu?

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 13 de janeiro de 2024

(1Sm 9,1-4.17-19; 10,1; Mc 2,134-17) 1ª Semana do Tempo Comum.

“E aconteceu que, estando à mesa na casa de Levi, muitos cobradores de impostos e pecadores também estavam à mesa com Jesus e seus discípulos. Com efeito, eram muitos os que o seguiam” Mc 2,15.

“O evangelista Marcos retrata em pormenor o rosto de Jesus. Depois de ter narrado a cena da cura do paralítico, durante a qual o Mestre manifesta ter uma autoridade sobre o pecado igual à de Deus, Marcos descreve-O agora em plena comunhão com os pecadores, comendo com eles. Jesus não é um fariseu, ou seja, um separado (é este o sentido etimológico do termo ‘fariseu’); pelo contrário, demonstra encurtar as distâncias com os últimos mediante a partilha, a proximidade, a misericórdia. Na cena do Evangelho de hoje contemplamos mais profundamente o sentido próprio da Encarnação de Deus em Jesus: Ele é a misericórdia feita carne; é a proximidade de cada homem; é a condescendência para com cada criatura. É belo de recordar um esplêndido texto das ‘Odes de Salomão’: Ó Senhor deu-Se-me a conhecer na Sua simplicidade, na Sua benevolência tornou pequena a Sua grandeza. Tornou-se semelhante a mim para que eu O acolha, fez-Se semelhante a mim para que eu O revista. Não me espantei ao vê-l’O, porque Ele é a misericórdia! Ele tomou a minha natureza para que O possa compreender, a minha figura para que não me afaste d’Ele’. A experiência humana do pecado e da fragilidade encontra a revelação misericordiosa de Jesus que oferece salvação” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).   

Pe. João Bosco Vieira Leite