Quinta, 1º de dezembro de 2022

(Is 26,1-6; Sl 117[118]; Mt 7,21.24-27) 

1ª Semana do Advento.

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reno dos céus,

mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus” Mt 7,21.

“Poucas coisas repete Jesus com tanta ênfase, no evangelho, como a afirmação de que ele veio para cumprir a vontade do Pai que está nos céus, e que não tem outro alimento nem outra preocupação a não ser cumprir a vontade do seu Pai. Se ‘todo discípulo perfeito será como o seu mestre’ (Lucas 6,40), nós também devemos pôr nosso empenho em imitar Jesus, aceitando e fazendo a vontade do Pai celestial. Mas, no evangelho, Jesus nos ensina que não é suficiente uma superficial ou teórica aceitação da palavra do Pai, e sim que se exige o cumprimento prático e real da vontade divina. Para pertencer ao Reino, não basta invocar o Senhor, mesmo que se faça com fé viva. É preciso cumprir a vontade divina, acomodando nossa vida aos princípios estabelecidos por Jesus Cristo. No Antigo Testamento já encontramos uma página de Jeremias semelhante a esta. Falando do culto autêntico, diz o profeta: ‘Não vos fieis em palavras enganadoras, semelhantes a estas: ‘Templo do Senhor, templo do Senhor, aqui está o templo do Senhor’. Se reformardes vossos costumes e modos de proceder, se verdadeiramente praticardes a justiça; se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão, a viúva (...) permitirei que permaneçais neste lugar, nesta terra que dei a vossos pais por todos os séculos’ (Jeremias 7,4-7). Não basta que você aceite Jesus como Mestre, se você não põe logo em prática seus ensinamentos. Se você não vive a palavra e a verdade do Senhor, Jesus adverte contra um cristianismo simplesmente de fórmulas ou de aceitação superficial de verdades e dogmas, que não chegam, porém a se tornarem vida” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).     

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quarta, 30 de novembro de 2022

(Rm 10,9-18; Sl 18[19A]; Mt 4,18-22) 

Santo André Apóstolo.

“Se, com tua boca, confessares Jesus como Senhor e, no teu coração,

creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” Rm 10,9.

“No credo apostólico nós confessamos crer em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Será que uma vez já paramos para pensar no que então dizemos? Ter Jesus Cristo como Senhor significa confessar que Ele nos salvou, com sua morte e ressurreição, é quem manda em nossas vidas. E, se Ele de fato manda em nossas vidas, isso será demonstrado através do nosso falar, pensar e agir. Vejamos alguns poucos exemplos. Se você é casado(a), será fiel ao seu cônjuge. Se você é solteiro(a), não ‘cairá’ na noite, entregando-se a toda sorte de prazeres só porque assim faz a sociedade. Se você trabalha, não ficará ‘matando’ o serviço. Se você é patrão, não explorará o seu empregado pagando-lhe um salário injusto. Se você é filho, honrará pai e mãe ou seu padrasto ou madrasta. Se você é pai, mãe, padrasto, madrasta, não será pedófilo. Sim, quem confessa Jesus Senhor, busca viver seguindo seus ensinamentos. E se não conseguir cumpri-los na íntegra, ao se dar conta voltará logo arrependido aos braços do Pai Eterno para pedir-lhe que, por causa de Jesus, perdoe-lhe a falta cometida e, a partir de então, novamente colocará como alvo a santidade de vida. Quem confessa com a boca que Jesus é Senhor e quem crê de coração que Deus, o Pai, o ressuscitou depois de ter pago o preço de sua salvação ao morrer na cruz, este será salvo. Nós o confessamos, não é verdade? Nós o cremos de coração, não é mesmo? Pode haver coisa melhor do que nos ser garantida, por presente divino, a salvação? Não, não existe nada melhor. Por isso, que bom saber-se amado e salvo por Deus. Amém. – Bondoso Deus, eu confesso que Jesus é o Senhor de minha vida. Eu também creio que Ele ressuscitou, garantindo a mim e a todos os que nele creem, a vida eterna do céu. Obrigado, Senhor, que Tu criaste em mim esta fé. Mantém-me nela até o fim da minha vida. Amém (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 29 de novembro de 2022

(Is 11,1-10; Sl 71[72]; Lc 10,21-24) 

1ª Semana do Advento.

“Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: ‘Felizes os olhos que veem o que vós vedes!’” Lc 10,23.

“Os discípulos foram declarados felizes por terem visto e reconhecido o Messias Jesus. Esta felicidade foi ansiada, ao longo da história de Israel, por ‘muitos profetas e reis’ que nutriam a esperança de vê-lo. O desejo deles, porém, não foi realizado. Entretanto, a graça de ver o Messias tem dois pressupostos. O primeiro diz respeito à ação divina como propiciadora desta experiência. Só pode reconhecer o Messias, Filho de Deus, aquele a quem o Pai o quiser revelar. A simples iniciativa ou a curiosidade humana são insuficientes. O máximo que se poderá alcançar é a visão da realidade humana do Messias, seu aspecto exterior e suas características secundárias. Sua verdadeira identidade de Filho de Deus só pode ser conhecida por aqueles a quem o Pai revelar. Privado deste dado fundamental, esse conhecimento da pessoa do Messias, Jesus esvazia-se e perde toda a sua relevância. O segundo pressuposto refere-se à postura espiritual de quem recebe a graça de reconhecer o Messias. Somente os simples e pequeninos, os não-contaminados pelo espírito de soberba próprio dos sábios e entendidos deste mundo, é que terão acesso a este conhecimento elevado. O que os sábios em vão buscam conseguir, aos pequeninos é revelado diretamente por Deus. Estes têm a felicidade de ver e ouvir o Messias e predispor-se a acolher o Reino proclamado por ele. – Pai, dá-me um coração de pobre disposto a acolher a revelação de teu Filho Jesus que tu me fazes. Que eu tenha a felicidade de reconhece-lo, com ajuda de tua graça (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano A] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 28 de novembro de 2022

(Is 4,2-6; Sl 121[122]; Mt 8,5-11) 

1ª Semana do Advento.

“Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: ‘Em verdade vos digo,

nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé” Mt 8,10.

“As palavras de Jesus, que recordam neste evangelho, destinam-se a educar a fé dos que nele creem, até que consigam um aprofundamento e uma maturidade que conduzam essa fé a uma maturidade sincera. Por isso, neste evangelho, propõe-se, por um lado, a fé pouca e vacilante da maioria dos judeus e, por outro lado, a fé sincera e profunda de um centurião romano, oficial que comandava uma centena de soldados e que, não obstante não pertencesse ao povo de Deus, foi capaz de confiar no poder de Jesus e humilhou-se, pedindo ao Senhor com uma simplicidade comovedora. A liturgia escolheu estas palavras do centurião, a fim de que sacerdotes e fiéis as repitam, com humildade, antes de receberem a Sagrada Comunhão. Jesus exige sempre a fé, uma fé que seja um impulso de confiança e de abandono, pelo qual a pessoa renuncia escorar-se em si mesma para abandonar-se à palavra e ao poder daquele que crê. Cafarnaum (Kapernaum) é uma cidade situada na margem noroeste do lago de Genesaré, chamado também de lago Tiberíades, ou com o seu nome mais antigo de Kinnereth [= harpa] ou, em geral, mar da Galileia. A oração do centurião está repleta de fé, reverência e humildade; tinha ouvido falar das inúmeras curas realizadas por Jesus e, assim, tem-no em elevado conceito, como o demonstra no título que lhe dá: ‘Senhor’ (João 8,8). Não lhe dirige diretamente nenhuma súplica, e quando Jesus se mostra disposto a ir à casa do centurião, esse oficial romano confessa a Jesus que acredita no poder de sua palavra e que, mesmo à distância, pode operar milagre” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

1º Domingo do Advento – Ano A

(Is 2,1-5; Sl 121[122]; Rm 13,11-14; Mt 24,37-44)

1. Iniciamos com este domingo o ano litúrgico, que representa, em certo sentido, a moldura da vida cristã. O ano litúrgico é a organização cristã do tempo. Como toda a realidade humana, na dimensão do tempo, seguimos os grandes ritmos do dia, da semana e do ano.

2. Esse ritmo não se condiciona ao giro da terra em torno do sol. Mas através desse, numa perspectiva cristã, acompanhamos o desenvolvimento do plano da salvação da humanidade em Jesus. Assim, o ano litúrgico gravita em torno da sua vinda entre nós, da sua morte e ressurreição.

3. O cristão é convidado a percorrer as etapas deste mistério que vem ‘representado’, ou seja, tornado de novo presente, atual, eficaz, operante, durante o ciclo litúrgico. Não numa realidade fechada em si mesma, como uma circunferência, mas de uma parábola, ou seja, uma curva aberta aos dois lados.

4. Estamos começando a etapa do Advento que é caracterizada pela espera humana do Salvador. Mas o nosso evangelho nos coloca brutalmente diante da vinda última do Senhor. Isso pode nos parecer estranho, mas na liturgia é normal essa sobreposição de planos, esse cruzamento de níveis.

5. Os dois acontecimentos – encarnação e vinda final do Filho do Homem – não se colocam em oposição, mas se atraem e se iluminam. O cristão deve viver em estado de espera, orientando o próprio olhar em direção a estas duas vindas. Isto vem sintetizado no verbo ‘vigiar’.

6. Não é possível programar, prever a chegada do Senhor – seja a primeira ou a última – porque essa se dará de forma surpreendente, imprevista, imprevisível. Somente o ‘vigiar’ nos permite ser contemporâneo dessa dupla vinda. O sono nos faz ausente. Representa a indiferença, a inércia.

7. Assim, Jesus nos remete ao tempo de Noé, onde comiam e bebiam, sem se preocuparem da questão fundamental: sua relação com Deus. Assim, despreparados, se viram envolvidos no dilúvio. Um exemplo inquietante. Como se dissesse do nosso tempo que a salvação fosse algo fora de interesse, estranho, algo que não nos diz respeito; que não sabemos bem o que fazer com isso.

8. Esperar o Salvador significa sentir-se interessado, reconhecer-se necessitado de salvação, admitir ser pecador, sentir a exigência e a urgência da conversão. Significa que em meio às nossas preocupações diárias, tomar consciência que é necessário preocupar-se com ‘algo fundamental’.

9. A parábola do servo e do patrão que chega no coração da noite, coloca a espera numa dimensão dinâmica, ativa, criativa. O tempo litúrgico, que falamos anteriormente, não determina uma linha de fuga do tempo ‘profano’ e dos seus riscos, para uma zona franca sagrada, protegido das tempestades e dificuldades da vida comum.

10. Não. Nenhuma fuga. Nenhum tranquilo refúgio no espaço religioso. A espera do Cristo, ao contrário, se traduz numa consciência lúcida dos deveres diários, dos programas ordinários, das responsabilidades terrenas, à luz, porém, das realidades últimas.

11. Vigiar é precisamente o contrário de evadir-se. Vigiar quer dizer romper com as obras das trevas, como diz Paulo, com a mentira, a hipocrisia, a vaidade. O cristão vigia não porque tem medo da chegada do ‘patrão’. Mas porque quer que o ‘Patrão’, quando se apresentar – e será sempre ao improviso – o encontre empenhado na construção de uma cidade terrena mais justa, fraterna, habitável.           

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 26 de novembro de 2022

(Ap 22,1-7; Sl 94[95]; Lc 21,34-36) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez

e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós” Lc 21,34.

“O Senhor Jesus há de vir, mas não nos disse quando. Durante esse tempo de espera, a tentação sempre ameaça o crente da demora da vinda do Senhor; a tentação do comodismo, de fugir da luta, a tentação do prazer, da riqueza. Jesus, ao entrar na paixão, exorta pela última vez os seus a manterem-se alertas, vigiar, orar, pois ninguém está seguro contra todo perigo, só quem está vigilante, ora, não abandona o serviço, será salvo, porque a vida que uma pessoa vive agora determinará como tenha que comparecer diante do Filho do Homem. É preciso perseverar no bem e na prática da virtude. Jesus nos lembra que nossa morte, e, portanto, nosso juízo, virá quando menos pensarmos. Por isso é necessário estar alerta, não descuidar e manter sempre em ordem as contas, para que a sentença que cada um receber seja de salvação. Jesus nos exorta a que nosso coração não se torne pesado pelas preocupações da vida; não é raro nem difícil que isso aconteça; a urgência dos assuntos temporais que, por um lado, não se podem descuidar, mas que têm de ser atendidos com esmero e preocupação, pode incidir no descuido dos assuntos espirituais e de apostolado” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de novembro de 2022

(Ap 20,1-4.11—21,2; Sl 83[84]; Lc 21,29-33) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” Lc 21,33.

“As palavras de Jesus são palavras eternas, pois deram-nos a conhecer a intimidade do Pai e o caminho que devíamos seguir para chegara até Ele. Permanecerão porque foram pronunciadas por Deus para cada homem, para cada mulher que vem a este mundo. ‘Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio do seu Filho’ (Hb 1,1). ‘Estes dias’ são também os nossos. Jesus Cristo continua a falar, e as suas palavras, por serem divinas, são sempre atuais. Toda a Escritura anterior a Cristo adquire o seu sentido exato à luz da figura e da pregação do Senhor. Santo Agostinho, com uma expressão vigorosa, escreve que ‘a Lei estava prenhe de Cristo’. E afirma em outro lugar: ‘Lede os livros proféticos sem ver Cristo neles: não há nada mais insipido, mais insosso. Mas descobri Cristo neles, e isso que ledes torna-se não só saboroso, mas embriagador’. É Cristo que descobre o profundo sentido que se contém em toda a revelação anterior: ‘Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras’ (Lc 24,45).  [...] A Igreja sempre recomendou a leitura e a meditação dos textos sagrados, principalmente do Novo Testamento, em cujas passagens encontramos sempre Cristo que vem ao nosso encontro. Uns poucos minutos diários ajudam-nos a conhecer melhor Jesus, a amá-lo mais, pois só amamos aquilo que conhecemos bem” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 5 – Quadrante)

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de novembro de 2022

(Ap 18,1-2.21-23; 19,1-3.9; Sl 99[100]; Lc 21,20-28) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça,

porque a vossa libertação está próxima” Lc 21,28.

“Também nas leituras bíblicas de hoje ressoa o tema do juízo, embora acompanhado por afirmações que nos confortam e dão esperança, virtude própria do cristão. Falar, no nosso mundo, de esperança, é certamente muito difícil: as dificuldades da vida; a desorientação e a intolerância religiosa dos nossos dias; as angústias quotidianas perante os pequenos e grandes problemas; o sentido de precariedade e de provisoriedade afastam-nos por vezes da esperança. E, no entanto, o anúncio das páginas bíblicas é para nós claro e abrangente: é o anúncio de um Deus que salva e liberta o seu servo Daniel (primeira leitura, anos ímpares), é a proclamação da bem-aventurança (primeira leitura, anos pares), é ainda, e sobretudo, Palavra de libertação (Evangelho). Precisamente nos momentos em que a perturbação e a angústia parecem apoderar-se de nós, manter-nos prisioneiros nas suas cadeias, a página do Evangelho convida-nos à coragem, a erguer a cabeça: a libertação está próxima. É esta a esperança para os cristãos, uma ‘esperança contra toda a esperança’ (Rm 4,18), uma esperança que tem o seu apoio na constância e na esperança, e tem a sua razão de ser em Cristo (aclamação ao Evangelho). Por meio de Cristo, a nossa esperança torna-se atuação da libertação: a nossa vida torna-se vida em liberdade. Liberdade que, no sentido mais profundamente cristão indica, antes de mais nada, libertação de nós mesmos para nos abrir ao amor do próximo. É esta, de fato, a liberdade à qual fomos chamados (cf. Gl 5,13). Nasce do conhecimento da existência de um Deus que vive e dá a vida, para o qual também nós adquirimos uma dignidade particular, que nos permite ultrapassar a nossa condição humana, contingente e provisória, e nos torna filhos de Deus, participantes da Sua glória (cf. Rm 8,19-25). É a esperança da ‘bem-aventurança’” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de novembro de 2022

(Ap 15,1-4; Sl 97[98]; Lc 21,12-19) 

34ª Semana do Tempo Comum. 

“Antes que essas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome” Lc 21,12.

“Jesus quer preparar os discípulos para os últimos tempos e, por isso, adverte que durante o tempo intermediário, que vai da ascensão aos céus até a parusia e que é o tempo de provação, deverão sofrer perseguições de todo gênero. Antes que aconteça a parusia, deve chegar a perseguição, durante a qual os discípulos de Jesus serão acusados e atormentados. A herança que Cristo deixou para os seus foi esta: a perseguição. O sinal de todas as obras de Deus foi sempre o mesmo: a contradição. A perseguição é um meio excelente para a purificação; por isso o Senhor a quer para os seus e por isso não nos devemos assustar demasiado, quando virmos que se levanta a perseguição contra a Igreja e seus fiéis, em diferentes partes do mundo. Por isso, o discípulo de Jesus não deve estranhar por estar sujeito a toda espécie de provações, dissabores, e até maldições e perseguições; a opção que ele fez por Jesus supõe abraçar-se a essa vida cheia de privações, tentações e provações. Jesus insiste e afirma que todas essas perseguições, prisões, calúnias, sofrimentos tão variados e tão numerosos, serão oportunidades de o cristão dar testemunho mais glorioso, irresistível a favor de Jesus, que foi o primeiro perseguido e que continua sendo ainda hoje perseguido em seus discípulos. As perseguições, provenientes do mundo, transformam-se para o discípulo de Cristo em ocasião de confessar Jesus e o evangelho” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de novembro de 2022

(Ap 14,14-19; Sl 95[96]; Lc 21,5-11) 

34ª Semana do Tempo Comum.

“Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” Lc 21,6.

“O discurso sobre o fim do mundo revela a fragilidade das realidades humanas. Nem mesmo o Templo, construído para ser a habitação de Deus no meio do povo, estaria a salvo da destruição. A constatação de Jesus a respeito da destruição do Templo expressa o destino das realidades humanas: ‘Não ficará pedra sobre pedra’. O fim de tudo é a sua ruína. Experiência dolorosa, que será acompanhada de tentativas de engano: muitos se apresentarão como messias, anunciando a chegada do fim. Guerras e revoluções, terremotos e epidemias, prodígios e sinais no céu se revelarão, também, essa chegada. Mas, ao contrário do que diziam os falsos profetas, Jesus afirma que ‘não será o fim’. O Mestre assegura isso, com a linguagem apocalíptica da época. Não lhe interessa, porém, inculcar em seus ouvintes os sentimentos dos quais essa linguagem estava carregada. Ele quer tão-somente conscientizar a comunidade acerca da importância de dedicar-se às coisas impossíveis de serem destruídas: a fé e o amor. Quando tudo tiver chegado ao fim, apenas estas duas realidades subsistirão. Só elas podem oferecer segurança e levar o discípulo a superar o medo terrificante que o confronto com a escatologia provoca. A beleza sólida da fé e do amor permanecerão, mesmo quando tudo o mais tiver reduzido a escombros. Isto porque são obras de Deus. – Espírito de fé e de amor, livra-me de centrar minha vida no que é passível de destruição, e faze-me testemunhar a fé e praticar o amor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de novembro de 2022

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 

Apresentação de Nossa Senhora.

“Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”

Mt 12,50.

“O episódio da apresentação no templo não é narrado nas Sagradas Escrituras, mas em evangelhos apócrifos, em particular no ‘Protoevangelho de são Tiago’, que a Igreja não considera inspirado por Deus. No entanto, a celebração deste dia é antiga. Era celebrada já no século VI em Jerusalém, e a Igreja do Oriente, que acolheu e conservou zelosamente as tradicionais festas marianas, reserva à apresentação de Maria uma memória particular, como um dos mistérios da vida daquela que Deus escolheu para Mãe de seu Unigênito. A Igreja do Ocidente, ao manter essa festividade também com a reforma do calendário litúrgico, entendeu praticar um gesto ‘ecumênico’. Na Liturgia das Horas, lê-se: ‘Neste dia da solene consagração da igreja de Santa Maria Nova, construída junto ao templo de Jerusalém, celebramos com os cristãos do Oriente aquela consagração que Maria fez a Deus de si mesmo desde a infância, movida pelo Espírito Santo, de cuja graça ficará plena na sua imaculada conceição’. Se bem que não se encontre na tradição hebraica a oferta de meninas ao templo (e menos ainda na tenra idade de três anos, como se lê nos apócrifos, segundo os quais ‘Maria morou no templo do Senhor como uma pomba, recebendo o alimento das mãos de um anjo’), os cristãos celebram hoje aquele particular oferecimento de Maria a Deus, feito no segredo de sua alma, que a preparou para a colher o Filho de Deus. Esta menininha – diz são Germano de Constantinopla na homilia sobre a Apresentação – prepara o aposento para acolher a Deus, ‘mas não é o templo que a santifica e purifica, e sim a sua presença que purifica inteiramente o templo’” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Cristo Rei – Ano C

(2Sm 5,1-3; Sl 121[122]; Cl 1,12-20; Lc 23,35-43)

1. Há muito essa linguagem de reinado e de Reis para a nossa sociedade se tornou um tanto alérgica e estranha, apesar de apreciarmos os filmes e séries que nos remetem a esse tempo com as lutas entre reinos e suas intrigas palacianas.

2. Mas para refletirmos sobre a festa de hoje, não podemos perder de vista um conceito fundamental presente na pregação de Jesus: “Reino de Deus”. O termo traduz, essencialmente, o senhorio, o domínio, a soberania de Deus sobre o mundo.

3. Não é um lugar, uma situação ou um grupo de pessoas, mas é o fato que Deus reina e as potências que lhe fazem oposição, o pecado, a morte, Satanás, foram vencidas. Mas na concepção de Israel, o povo da antiga Aliança que recebeu a Lei divina, esse Reino vai ganhando tons nacionalistas e vai se transformando num ideal político.

4. Em sua pregação Jesus retoma o tema do Reino e se percebe um claro contraste com a perspectiva temporal, dominante entre os judeus. Jesus fala de um Reino espiritual, cuja plenitude aponta para o futuro, mas já está presente na sua pessoa e no seu agir (pregação e ação).

5. Um reino que não está atrelado à pertença de um povo, mas que é determinado por uma resposta pessoal: conversão, escolha, decisão, esforço. Os privilegiados aqui são os frágeis, pequenos, pecadores, pobres, estrangeiros, aqueles que não têm privilégios, que não contam.

6. Na perspectiva de Jesus o Reino é determinado pela relação entre Deus e o seres humanos, mais que extensão, pensa-se em profundidade. Lembremos que quando Cristo se proclama Rei, diante de Pilatos, o faz numa circunstância que descarta qualquer dimensão triunfalista e de poder de acordo com os critérios humanos.

7. Ao longo da história cristã sempre nos causou estranheza ver homens da Igreja, pessoas religiosas aceitando e tomando para si honras humanas. E justificam tudo isso como para maior glória de Deus. Esquecem que a glória do Pai se coloca na extrema humilhação do Filho. Infelizmente existe uma certa ‘vaidade eclesial’.

8. A chave de leitura da festa de hoje nos é oferecida por esse companheiro de cruz de Jesus, o chamado ‘bom ladrão’ (o único santo canonizado diretamente por Jesus). De onde a gente menos espera, vem esse reconhecimento de Jesus. Ele descobre Deus escondido nessa imagem de um malfeitor comum sentenciado em meio a dois delinquentes.

9. Assim a festa de hoje não corre o risco de se perder na exterioridade e na retórica de um triunfalismo anti evangélico, mas nos obriga a uma escolha. É fácil seguir o Jesus dos milagres, das revelações excepcionais, procurado pelas multidões.

10. Difícil é seguir o itinerário desse homem que se esconde, que não se defende, se deixa processar e fazer pouco caso. Aceitar essa estrada de humilhação. O paradoxo cristão é saber que a vitória está justamente com este Rei, que segundo a avaliação humana, é um Rei perdedor ou vencido. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de novembro de 2022

(Ap 11,4-12; Sl 143[144]; Lc 20,27-40) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“... e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram” Lc 20,36.

“Os personagens que intervieram neste evangelho foram os saduceus que negavam a ressurreição e eram um povo muito liberal em matéria religiosa e positivista em todas as coisas; não só negavam a ressurreição dos corpos no juízo final, mas também a imortalidade da alma. Nesse momento, não lhes interessa o problema da ressurreição, que para eles já está resolvido negativamente; somente pretendem colocar Jesus no ridículo e desprestigiá-lo diante do povo simples; por isso, propõe-lhe um conto rabínico. Mas Jesus responde-lhes confirmando a fé na ressurreição, visto que Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos, e tão clara e sabiamente deve ter-lhes respondido Jesus à intricada questão, que os saduceus lhe propunham, que ‘alguns dos escribas [adversários dos saduceus] lhes disseram: Mestre, falaste bem’ (v. 39). Jesus disse-lhes que os conceitos que tinham do outro mundo eram muito grosseiros; explica a eles como as condições da outra vida são muito diferentes das atuais; pois, não havendo morte, o matrimônio não tem razão de ser. Nos tempos modernos e atuais, se não se nega a ressurreição teoricamente ou com argumentos, nega-se com as obras e com a vida, uma vez que se vive como se não tivesse que ressuscitar, como se a vida terrena e temporal fosse a última coisa que nos espera, como se depois do que vivemos aqui já não se deva aguardar nenhuma realidade. Segundo esta concepção da vida, desconhece-se todos os valores transcendentais e se atribui ao que é terreno e transitório o valor absoluto” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de novembro de 2022

(Ap 10,8-11; Sl 118[119]; Lc 19,45-48) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus ensinava todos os dias no templo” Lc 19,47a.

“Jerusalém era a meta da longa marcha de Jesus. Aí o Templo constituía seu ponto final. Por que? Porque o Templo, na religião judaica, era o lugar da morada de Deus no meio do povo. Para Jesus, é casa do Pai. E, como Filho, é para a casa do Pai que ele se dirige. O Mestre decepcionou-se com o que viu: o Templo fora transformado num antro de exploradores inescrupulosos, que se serviam do espaço sagrado para enriquecer, lançando mão dos mais vis artifícios de exploração. Na mais total impunidade, e com a cobertura dos sacerdotes, davam a impressão de estar prestando um grande serviço aos peregrinos. Situação, porém, insuportável para Jesus! A expulsão dos vendedores e compradores teve a finalidade de fazer o Templo recobrar sua verdadeira função: ser casa de oração, portanto, lugar de encontro com o Pai e reabastecimento espiritual, espaço de vivência da fraternidade e da igualdade. Enquanto ‘casa’, seria o espaço de encontro dos filhos de Deus. Uma vez purificado, o Templo tornou-se lugar privilegiado da pregação de Jesus. Ao ouvi-lo, o povo ficava extasiado, e se apinhava ao seu redor. Agora sim, voltara a ser casa do Pai, onde o Filho se sente à vontade para falar das coisas de Deus. Os projetos malévolos dos sacerdotes e dos escribas não o intimidavam. Afinal, enquanto Filho, aquele lugar lhe pertencia. – Espírito purificador, tira do meu coração toda sorte de maldade e de egoísmo, que o tornam indigno de ser morada de Deus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de novembro de 2022

(Ap 5,1-10; Sl 149; Lc 19,41-44) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz! Agora, porém, isso está escondido aos teus olhos!” Lc 19,42.

“Jerusalém é a figura de uma alma entregue ao pecado. Aproximando-se das portas da cidade e contemplando-lhe não só a imponência exterior, mas também o interior cheio de injustiças e imoralidades, Jesus fala-lhe amargamente e pronuncia aquela profecia sobre a destruição da cidade. Contudo, agora, mais que meditar nos males que recaíram sobre a pecadora e infiel cidade, convida-nos o evangelho a que pensemos um pouco nas desventuras que sobrevêm à alma infiel, que pelo pecado fica não só feia, mas totalmente arruinada; nada nela fica dos dons da graça que o Senhor tinha derramado, nada das virtudes, nada dos dons do Espírito Santo; estão ausentes dela Deus, seu temor e sua graça, sua bondade e seu amor. A obra do Espírito, na alma cristã, é sempre construtiva e positiva. O Espírito Santo começa purificando a lama de todos os defeitos, dos pecados passados e seus resquícios e, tendo sido concluída essa primeira e imprescindível etapa de purificação, começa o Espírito a erguer o edifício das virtudes positivas, até poder desenvolver nessas almas a obra do amor. E quando, no cristão, a virtude teologal da caridade, ou o amor, chega a transformar-se em raiz e explicação de toda a vida, quando tudo se faz não só com amor, quando se busca não só ter ou sentir o amor, mas vive-lo e vive-lo em tudo e em todos, então a paz inunda nosso interior e ali na intimidade mais profunda do nosso ser escutamos a voz de nosso Pai que nos diz estar contente conosco, que se compraz em nós e em nossa vida. É essa a ‘mensagem de paz’ que o evangelho de hoje nos traz e assim também para nós se pode aplicar aquela exclamação de Jesus: ‘Se também tu (...) conhecesses o que te pode trazer a paz’ (v. 42)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de novembro de 2022

(Ap 4,1-11; Sl 150; Lc 19,11-28) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“Louvai-o com o toque da trombeta, louvai-o com a harpa e a cítara!” Sl 150,3.

“Se o salmo 150 fosse um jogo de futebol, o placar estaria piscando duas palavras: ‘Faça barulho!’ Este último salmo nos chama a fazer certo barulho no louvor ao Senhor. Nem todo culto é barulhento. Alguns dos salmos de lamento chamam à confissão emotiva e ao arrependimento. Os salmos de sabedoria instigam uma reflexão e avaliação tranquilas. Mas este salmo nos convida a novos níveis de celebração nos quais tiramos todas as placas de ‘Pare’ e damos a Deus o louvor que ele merece e deseja. Existem ainda alguns exemplos bíblicos deste louvor radical. Depois que Deus tirou Israel da escravidão do Egito e destruiu o exército do faraó no mar, as mulheres de Israel assumiram a liderança no louvor e dançaram diante do Senhor com tamborins e cânticos de alegria. Quando Davi trouxe a arca da aliança para a cidade de Jerusalém, trombetas soaram e Davi dançou em um estado santo de êxtase diante do Senhor. Quando o povo de Jerusalém louvou a Deus pelo fim da reconstrução dos muros da cidade nos dias de Neemias, os sons (de alegria) das trombetas, dos címbalos, das harpas e dos cânticos foram tão altos que ‘podiam ser ouvidos de longe’ (Neemias 12,43). ‘Deus’, acrescenta Neemias, ‘os encherá de grande alegria’” (Dougla Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de novembro de 2022

 (Ap 3,1-6.14-22; Sl 14[15]; Lc 10,1-10) 33ª Semana do Tempo Comum.

“Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia por causa da multidão, pois era muito baixo” Lc 19,2.

“Lucas não seria um narrador se se contentasse em citar apenas as palavras de Jesus, exortando à conversão. Ele nos narra uma história maravilhosa sobre a conversão de um homem, Zaqueu, chefe dos coletores de impostos (Lc 19,1-10). Zaqueu era muito rico, mas de baixa estatura. Pode-se dizer talvez: exatamente por ser baixinho, e se sentir pequeno, ele tentava compensar seus sentimentos de inferioridade ganhando o máximo possível de dinheiro. Para isso ele espremia o povo, como faziam os publicanos da época, que arrendavam dos romanos uma alfândega, a qual, então, exploravam em seu próprio proveito. A riqueza devia ajudar o próprio Zaqueu a se sentir valorizado. Mas ele não conseguia. Quanto mais dinheiro ele ajuntava, mais os judeus o rejeitavam. É o círculo vicioso em que se encontram muitas pessoas com sentimentos de inferioridade. Quanto mais querem se destacar, para finalmente serem reconhecidas, tanto mais ficam isoladas e são rejeitadas. Zaqueu era chefe dos publicanos. Era só rebaixando os outros que ele podia acreditar na sua própria grandeza. Ele tinha que se colocar acima dos outros, porque ao lado dos outros ele se sentia pequeno demais. Mas o seu próprio esforço não conseguia tirá-lo do círculo vicioso da solidão e da rejeição. Ele estava precisando do encontro com Jesus, para poder viver de outra maneira, para mudar de rumo” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de novembro de 2022

(Ap 1,1-4; 2,1-5; Sl 01; Lc 18,35-43) 

33ª Semana do Tempo Comum.

“’O que queres que eu faça por ti?’ O cego respondeu: ‘Senhor, eu quero enxergar de novo’” Lc 18,41.

“Ao fazer a leitura do profeta Isaías, na sinagoga de Nazaré, Jesus identificou-se com o Messias, ungido pelo Espírito do Senhor, para ‘anunciar aos cegos a recuperação da vista’. De certo modo, todo o seu ministério consistiu em ajudar a humanidade a superar a cegueira de que era vítima. Cegueira do egoísmo, que impede de reconhecer o semelhante como quem merece afeição. Cegueira da idolatria, que leva o ser humano a trocar Deus pela criatura e deixar-se tiranizar por ela. Cegueira do pecado, com suas mais diversas manifestações, cujo resultado é a desumanização da pessoa, reduzindo-a à mais terrível escravidão. A súplica do cego de Jericó pode ser a de todo discípulo: ‘Senhor que eu veja!’ Sim, o discipulado exige a libertação de todo tipo de cegueira. Isto só pode ser a súplica de todo discípulo: ‘Senhor, que eu veja!’ Sim, o discipulado exige a libertação de todo tipo de cegueira. Isto só pode ser obra de Jesus. É de quem possibilita ao discípulo ter visão e discernimento para fazer as escolhas certas e optar pelos caminhos mais condizentes com as exigências do Reino. Contudo, o motor de tudo isto é a fé. No caso do cego de Jericó, foi a fé que o moveu a implorar misericórdia junto a Jesus. E também, pela fé, o discípulo é levado a buscar libertação junto a ele. Quanto mais profunda ela for, tanto mais apurada será a visão do discípulo, ou seja, maior será sua capacidade de ‘ver’ o que Deus deseja dele. – Espírito que faz recobrar a visão, abre meus olhos para que eu possa discernir, com clareza, os caminhos do Reino, e andar por eles, com determinação e segurança (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

33º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ml 3,19-20; Sl 97[98]; 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19)

1. Os judeus convidam Jesus a admirar a majestosa construção do Templo. Os trabalhos de paisagismo e decoração, iniciado por Herodes o Grande, mesmo não ainda finalizados, de um modo geral é algo sensacional. Os judeus, mesmo com a antipatia que têm por Herodes e sua família, sentem-se orgulhosos.

2. Mas Jesus acaba por os surpreender com uma profecia terrível: ‘Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído’. É um terrível golpe contra a segurança dos judeus, baseada sobre a solidez do Templo e sobre a continuidade do culto, garantia inabalável da sobrevivência do povo Judeu.

3. Um autor comentava: “Toda falsa segurança do ser humano, que se baseie sobre obras colossais (também religiosas), é atacada e destruída pelo evangelho”. E assim Jesus começa o célebre e difícil discurso escatológico-apocalíptico, já próximo de sua paixão. É praticamente um adeus oficial à sua cidade e à história de Israel.

4. Escatologia diz respeito às realidades últimas, definitivas. Apocalipse, se estamos lembrados, do grego, revelação. Seja por uma via ou por outra, trata-se de um olhar que vai além da história, ainda que alguns elementos estejam, de algum modo, acontecendo ou no presente.

5. Os temas da destruição de Jerusalém e do fim do mundo, nesta página, se misturam e se confundem, rendendo uma leitura e interpretação bastante árdua. Jesus fala como o profeta da 1ª leitura, que intervém na história em nome de Deus. Seu objetivo é chamar atenção para o momento presente, revelando o plano de Deus.

6. Ele se interessa também pelo futuro, mas somente enquanto este confere sentido ao presente e sustenta a esperança dos que os escutam, recordando a meta do seu caminhar, o ‘dia’ em que Deus estabelecerá definitivamente o seu Reino neste mundo. Mas este dia permanece desconhecido. Um ‘véu’ esconde o fim da história aos olhos humanos.

7. Há tempos de crise particularmente graves e, às vezes, as palavras não bastam para sustentar, consolar e assegurar a fidelidade dos bons. No momento em que os tempos são particularmente dramáticos e parecem, com a sua brutalidade, contradizer os desígnios divinos, é preciso ‘ver’ o fim dos tempos. Como faz Malaquias.

8. O texto de Lucas, ainda que adotando uma linguagem e algumas imagens de caráter apocalípticos (guerras, catástrofes naturais, epidemias, fomes, revoluções...), privilegia a sobriedade e o sentido próprio da escatologia. Não concede nenhuma concessão à curiosidade do ‘quando’ e do ‘como’.

9. Rejeita fixar uma data e um sinal preliminar. Mais que informar, Jesus quer preparar. Preparar os discípulos para os tempos difíceis, tempos intermediários (que ninguém sabe quanto durará) com coragem e fidelidade, com lucidez para não serem enganados e estarem sempre prontos a testemunhar a fé.

10. Jesus não cria ilusões nesse campo da fé. É na perseverança que seremos salvos. Jesus nos projeta para o futuro somente para reconduzir-nos ao nosso hoje, e concentrar a nossa atenção no presente. Escolher um projeto de vida, tomar decisões que correspondam ao fim dos tempos e ao que isso significa.

11. Ao cristão não é consentido negligenciar o tempo, refugiando-se com fantasias sobre o fim dos tempos. A questão se volta a não trair sua fé, não envergonhar-se do Cristo, nem refugiar-se na ociosidade, como diz a 2ª leitura, já que tudo um dia vai acabar-se.

12. O cristão é um construtor, mesmo se tende às realidades últimas, definitivas, não descuida do provisório. Ele sabe que tudo que vem tirado do egoísmo, das forças desagregadoras, da lógica do domínio, da prepotência, da autodestruição, da violência, pode se tornar material para edificar o Reino.

13. O Evangelho não é um livro do fim do mundo. É um manual destinado aos construtores da justiça, do amor, da paz e da fraternidade. Realidades que escapam ao ‘fim dos tempos’, pois elas antecipam ‘um novo céu e a nova terra’.    

Assim canta Pe. Zezinho: “Sonhadores da paz/ Fazedores da paz/ Construtores da paz/ Cristãos de um tempo diferente
Onde a gente tem que lutar/ Se quer fazer alguma coisa pela paz/ A gente tem que lutar/ Tem que arriscar/ Tem que falar/ Tem que dançar/ Tem que levar o pão e a paz”. 
 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de novembro de 2022

(3Jo 5-8; Sl 11[112]; Lc 18,1-8) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?” Lc 18,7.

“Para incentivar seus discípulos a orar sem desanimar, Jesus contou-lhes a Parábola da Viúva e do Juiz. Ele, o juiz, não temia a Deus e nem respeitava as pessoas. A viúva, a todo instante, dirigia-se ao juiz pedindo-lhe que julgasse uma causa sua. Vendo que ela não iria parar tão cedo de pedir, o juiz resolve atende-la. E foi aí que Jesus, através de uma pergunta retórica, mostrou que Deus ouviria o clamor dos seus e faria justiça. Orar é algo que podemos fazer todos os dias desde o instante que acordamos. Não é preciso fechar os olhos, juntar as mãos. Até podemos fazer isso. Contudo, enquanto estamos nos vestindo, tomando nosso café, ou indo ao trabalho, podemos erguer nossos pensamentos a Deus para lhe agradecer e pedir bênçãos para nós próprios e para o nosso semelhante. Mas Deus atende mesmo as nossas orações? Sim, Ele atende. Só que Ele as atende segundo os seus e não os nossos critérios. Aliás, alguém já disse certa vez que Deus atende de três modos diferentes as nossas orações: dizendo sim, não ou espera um pouco. E porque Ele é confiável, porque Ele sempre nos dará aquilo que irá contribuir de fato para o nosso bem, é que nós, confiantes, pedimos que nos atenda segundo o seu querer, como o fazemos no Pai-nosso, onde dizemos: ‘Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu’. Oremos, pois, insistentemente, como aquela viúva. Mas deixemos que Deus decida o que é o melhor para nós. – Senhor, eu reconheço que muitas vezes já fiquei triste por não fazeres o que te pedi. Perdoa-me, Senhor. Ajuda-me para que eu confie em ti de todo o coração e para que eu siga humilde aceitando o teu querer e não impondo o meu. Amém” (Egon Martim Seibert – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).    

Pe. João Bosco Vieira Leite          

Sexta, 11 de novembro de 2022

(2Jo 4-9; Sl 118[119]; Lc 17,26-37) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá nos dias do Filho do Homem” Lc 17,26.

“Esperar é sempre cansativo. Quanto mais a espera de algo cujo dia e hora são desconhecidos. Assim se passa com a segunda vinda de Jesus. Ele mesmo recusou-se a abordar este assunto. Certa vez, dissera: ‘O dia e a hora ninguém sabe, nem os anjos do céu nem sequer o Filho, mas somente o Pai’. Para ele, o importante era entregar-se ao serviço do Reino, deixando de lado as preocupações apocalípticas. Entretanto, a espera prolongada acabou gerando um perigoso torpor no coração dos cristãos. Perigosos por correrem o risco de ser surpreendidos. O desconhecimento do dia e da hora não podia justificar uma vida incompatível com a condição de discípulo do Reino. Dois exemplos do passado serviram de parábola para o presente. Por ocasião do dilúvio, apesar das admoestações divinas, a humanidade insistiu no seu caminho de iniquidade, até que veio o castigo. Fato semelhante aconteceu quando da destruição de Sodoma. Contaminados pelo pecado, seus habitantes viveram na insensata ilusão das orgias. Seu fim foi a destruição pelo fogo. Por nenhum motivo o discípulo de Jesus pode bandear-se para o pecado como se sua atitude fosse sem consequências. Afinal, o julgamento divino antecipa-se, e acontece no dia-a-dia, vivido na fidelidade a Deus e ao seu Reino. Aí, já se constrói a salvação. – Espírito de vigilante alerta, que eu esteja sempre preparado para o advento do Senhor, vivendo, no meu dia-a-dia, a misericórdia que me assemelha ao Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de novembro de 2022

(Fl 7-20; Sl 145[146]; Lc 17,20-25) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós” Lc 17,21.

“O reino de Deus não está somente no meio de nós, mas também dentro de nós. Muitas vezes ficamos como hipnotizados pelas coisas exteriores, pelo mundo que aparece; seduzem-nos o movimento, as luzes, a agitação, os espetáculos, as diversões, o que se olha, o que se ouve, o que se sente, tudo que é de fora. E apesar disso, do viver extrovertidamente, do encher-se com tudo que é fora, com tudo que é alheio, apesar disso e precisamente talvez por isso, você não está satisfeito consigo mesmo, sente a solidão e prova o vazio. No entanto, seu interior é sua verdadeira casa, o que propriamente lhe pertence, o reduto no qual somente você entra com direito próprio; os outros entram nele, mas o fazem usurpando um direito, violentando uma propriedade. Não se esqueça, o Reino de Deus está dentro de você; não procure fora, nem longe de você; o Reino de Deus é você quem o deve instalar no mundo, instaurando-o previamente em seu coração, em suas obras, em sua vida. Para os judeus do templo do Senhor Jesus, o Reino de Deus constituía o centro das esperanças; com ele iniciar-se-ia a época messiânica; para os cristãos de hoje, o Reino de Deus está dentro e no meio de nós; somos nós que devemos consolidá-lo, vivendo da fé e da esperança. E somos nós que devemos propaga-lo nos ambientes em que nos movemos e atuamos, impregnando-os do evangelho, preparando-os para que possam receber o Reino de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 09 de novembro de 2022

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) 

Dedicação da Basílica do Latrão.

“Os judeus disseram: ‘Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário,

e tu o levantarás em três dias?’ Mas Jesus estava falando do templo do seu corpo” Jo 2,20-21.

“A Igreja ‘mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe’ surge nas encostas do Célio, o monte dos luzeiros – uma das sete colinas sobre as quais ocorreram fatos decisivos para a civilização romana. Daí partiram as antigas estradas do Lácio e as vias consulares, como a Regina viarum, a via Ápia. Sobre essa colina tinham-se estabelecidos as ilustres famílias dos Valérios, dos Vetílios e dos Lateranos, posto que o Palatino era reservado à família imperial. Contudo, também as egregiae domum Lateranum foram confiscadas por Nero, quando Pláucio Laterano foi acusado de haver participado da conjura de Pisão. Com Septímio Severo, no fim do século II, parte dos Lateranos voltou aos antigos proprietários e parte continuou com o imperador. É esta parte que Constantino doou ao bispo de Roma para construir precisamente a primeira basílica cristã, fundada pelo papa Melcíades (311-314), ao lado do palácio que até então fora residência imperial. Pouco restou em pé da antiga basílica constantina: o batistério e os muros perimetrais da basílica, cuja consagração é celebrada solenemente a cada ano. É de fato a primeira esplendida domus Dei, embora houvesse anteriormente outros lugares públicos nos quais os cristãos se reuniam para celebrar a eucaristia. Existe um testemunho singular a tal propósito, no início do século III, quando Alexandre Severo foi chamado em causa e deu razão a uma comunidade cristã em um processo contra um hospedeiro que reclamava contra a transformação de uma hospedaria em lugar de culto cristão. De qualquer forma, tratava-se de modestos edifícios. Deve-se aos grandiosos projetos de Constantino a construção da basílica (ou casa do rei) dedicada incialmente ao Salvador e sucessivamente ao Batista e são João apóstolo. A antiga catedral do papa, da qual se conserva a cátedra de mármore no claustro medieval, sofreu várias transformações no decurso dos séculos. O pontificado que deixou maiores obras é o de Inocêncio X (1644-1655), durante o qual Borromini renovou completamente a nave central e laterais” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 08 de novembro de 2022

(Tt 2,1-8.11-14; Sl 36[37]; Lc 17,7-10) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei:

‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’” Lc 17,10.

“Depois de alertar aos discípulos sobre os escândalos, sobre o perdão aos irmãos, e sobre a maneira de viver a fé, a ponto de arrancar árvores e transplantar montanhas, Lucas coloca diante dos ouvintes e leitores a máxima do dever, da obrigação e também do serviço desrespeitoso e desinteressado em favor do Reino. Para Jesus, os apóstolos são chamados a ser simples serventes, servidores do Reino! A proposta é considerar e avaliar não a atitude do Senhor, mas do servo que cumpre seu dever sem esperar recompensa, esperando elogios pela obrigação realizada ou alguma promoção por ter atuado bem. Jesus conhecia bem qual era a condição do servo ou escravo, e por isso sua orientação visa, de certo modo, chegar aos fariseus que tinham na observância da lei a certeza de que, por seus méritos, seriam salvos. Com a alegria de quem foi chamado a viver e transmitir o Evangelho, devemos amadurecer em nossa fé para que possamos dizer: ‘somos servos inúteis!’. Não da inutilidade como vê o mundo de hoje, que não produz, não consome, não conta para nada, mas da inutilidade de quem se crê pequeno, pobre, necessitado, aberto a fazer a vontade de Deus, como Jesus a acolheu e realizou, entregando toda a sua vida ao desejo do Pai. A grandeza do servo, portador de uma fé autêntica, está na humildade com que serve indistintamente aos irmãos, mesmo sabendo que nunca faremos o suficiente para Deus, que tem sido sempre bom e misericordioso para conosco. Esta atitude de humildade e reconhecimento do senhorio de Deus em nossas vidas nos coloca em nosso lugar de criaturas amadas, às quais, um dia, o Senhor se cingirá e nos servirá, como a verdadeiros amigos e amigas (cf. Lc 12,37). – Dá-nos, Senhor, suficientemente humildade para servir-te na alegria sabendo que nada somos, senão servidores inúteis do teu Reino de amor, justiça e paz” (Magda Brasileiro – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 07 de novembro de 2022

(Tt 1,1-9; Sl 23[24]; Lc 17,1-6) 

32ª Semana do Tempo Comum.

“Os apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta-nos a fé!’” Lc 17,5.

“A fé outra coisa não é senão a adesão à pessoa de Jesus, como autor de nossa salvação; ao aceitar o Salvador, aceita-se também a mudança para uma nova vida, com nova escala de valores, com novos critérios. O aumento da fé que os apóstolos pedem refere-se à quantidade e à qualidade da fé, à confiança inquebrantável no poder e na bondade de Deus. A fé vence a todos os obstáculos e dificuldades, supera todos os contratempos; as obras de apostolado são frequentemente difíceis por um lado e infecundas por outro, quando se realizam como fruto do próprio esforço ou inciativa; porém, quando se realizam com verdadeiro espírito de fé e movidos à ação por esse espírito, são não só fáceis de realizar, mas também são eficientes e produtivas. Com quanta frequência deveria pedir o aumento da fé! Senhor, aumenta a minha fé! Esta deve ser sua oração constante, para que não somente você atue pela fé e viva mais da fé, mas atue com mais fé, como diz São Paulo: ‘O justo viverá pela fé’ (Romanos 1,17). ‘Meu justo viverá da fé. Porém, se ele desfalecer, meu coração já não se agradará dele. Não somos, absolutamente, de perder o ânimo para nossa ruína; somos de manter a fé, para nossa salvação!’ (Hebreus 10,38-39)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite